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RAIO LASER

                                        NOVELA DE

                           DAVI VALLERIO E ALEX SPINOLA

                                       CAPÍTULO 01



Escuridão. Surgem na TELA, como se datilografados, os dizeres: BRASIL, 1978.

CENA 01. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE

Breu total. O único ponto de luz, mesmo assim vacilante, emana do neon azul que circula uma
cruz cravada na parte mais alta da construção. LAURO, um belo rapaz de dezenove anos, com
toda a pinta de seu xará famoso, o Corona, olha ao redor.

LAURO: (chama baixinho) Lídia? Lídia?

Um ruído no interior da igreja chama a atenção dele. Lauro percebe que a porta está entreaberta.
Ele entra.

CENA 02. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE

Iluminação precária. RÁDIO LIGADO. Lauro torna a chamar baixinho. Uma sequência de
lâmpadas se acende sobre o altar. Salão enfeitado para cerimônia de casamento. Ele sorri.
ALGUÉM surge às suas costas e fecha a porta de entrada. Lauro se vira abruptamente. Diante
dele, VEMOS EVA, 40 anos, vestida de maneira provocante, maquiagem carregada. O SOM
das inúmeras pulseiras que lhe adornam os pulsos produz um chiado estranho, similar ao guizo
de uma serpente.

EVA: (embriagada) Surpresa, Lauro!

LAURO: Dona Eva? O que a senhora tá fazendo aqui?

EVA: (provocante) Corta esse papo de senhora, garotão.

LAURO: Espera aí, eu recebi um recado da Lídia, foi o Sidney quem levou...

EVA: (ar de deboche) Foi uma brincadeirinha minha. O Sidney, apesar daquele jeitinho lerdo
dele, faz tudo o que a mamãe pede.

LAURO: Como a senhora entrou aqui?

EVA: (rindo maliciosa) Já falei pra você cortar esse papo de senhora, Lauro... Bem, aquela
beata de uma figa, aquela papa hóstias da Sofia Emerenciana teve que desgrudar da chave (olha
ao redor) dessa espelunca por conta do casamento... (morde o lábio) muito a contragosto aquela
vaca me entregou a cópia que o padreco balofo confiou a ela...

LAURO: (cortando) Já chega, eu vou embora daqui!

EVA: Não vai não! Hoje você é meu!
LAURO: O quê? Você tá louca?

EVA: Tô sim, Lauro! Tô louca de amor por você, e você sabe disso!

LAURO: Eu não sei do que você tá falando! Eu vou casar com a sua filha, a Lídia, esqueceu?

EVA: (esfregando-se nele) Foi pra isso que eu armei esse encontro, Lauro: pra pedir que você
não se case, pra te pedir que a gente fuja dessa cidade atrasada! Eu e você podemos dar o fora
daqui! Tenho dinheiro pra isso, você sabe!

Lauro se afasta de Eva, enojado.

LAURO: Que loucura é essa? Eu sei das histórias que falam a seu respeito, que vive dando em
cima dos garotões da cidade, mas comigo não! Ninguém tem coragem de abrir a boca. O povo
tem medo da má fama do seu marido...

EVA: (debochada) E você acha que aquele corno não sabe de nada? É claro que sabe!

LAURO: (esboçando sair) Então chegou a hora da cidade toda também saber!

Num gesto brusco, Eva pega sua bolsa sobre um banco, e a vasculha, rápido. Um pequeno cantil
prateado cai no chão. Eva saca de um revólver, puxa o canhão. O tambor gira.

EVA: Você não vai pra lugar nenhum!

CORTA PARA:

CENA 03. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE

SIDNEY, um rapaz abobalhado, aproxima-se. Olhar apreensivo.

CORTA PARA:

CENA 04. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE

Lauro apavorado diante Eva. Ela continua a assediá-lo.

EVA: (esfrega-se nele, o acaricia com o revólver) Eu quero você, Lauro! Você finge que não
sabe, mas eu sei que você sabe! Eu sei que você sente!

LAURO: (toma coragem, a empurra) Louca varrida! Eu não sinto nada! O que eu tô sentindo
por você agora é pena, é novo! Sabe o que é isso, nojo? Olha pra você! Será que não se
enxerga?

A repulsa de Lauro deixa Eva desnorteada. Ela o encara. Um olhar triste, patético, que depois de
um breve instante se enche de cólera.

EVA: Desgraçado! Quem você tá pensando que eu sou? Uma idiota? Pensa que eu não vejo os
seus olhares pro meu lado desde que começou a namorar a Lídia? Não vem bancar o revoltado
comigo, Lauro! Essas frescuras você pode guardar pro cretino do seu pai!

LAURO: Você enlouqueceu de vez!
EVA: Não, eu não enlouqueci! Essa sou eu, garoto! A Eva de verdade, a Eva que não precisa
fingir o que não é só pra agradar esse bando de caipiras! Eu tô aqui, me abrindo pra você,
falando do meu amor... E você faz pouco, debocha de mim?

A porta de entrada é aberta. Eva percebe a chegada de Sidney. Assustado, ele esboça sair.

EVA: (berrando) O que você tá fazendo aqui, Sidney?

SIDNEY: A senhora me mandou mentir pro Lauro. Eu sabia que era mentira, eu sabia. Toda vez
que a senhora fica desse jeito, a senhora mente.

EVA: Cala essa boca, retardado! Entra e tranca essa porta, a chave tá aí, senão eu meto bala na
cabeça do seu amiguinho!

Sidney faz que não.

LAURO: (desespero) Corre e chama a polícia, Sidney!

EVA: Obedece a sua mãe, garoto!

Sidney se aproxima. Eva pega o cantil prateado, livra-se da tampa e toma uma boa dose do seu
conteúdo. Lauro perplexo diante o inusitado da situação.

EVA: (ergue o cantil) Uísque puro, legítimo! Quer um trago, Sidney?

SIDNEY: Eu não posso beber, eu tomo remédio.

Eva fica muda. Olha para o cantil, olha para Sidney. Um sorriso maligno brota em seus lábios.

EVA: Seu problema é esse, Sidney: você toma remédio demais pra problemas de menos. Dá
seus remedinhos pra mamãe, dá! Você não precisa deles!

Sidney retira uma cartela de comprimidos do bolso da calça. Eva dá uma gargalhada diabólica.

Agora, rádio toca “Ilegal, Imoral ou Engorda”, de Roberto Carlos. Acompanhamos, em cortes
descontínuos, a loucura crescente de Eva.

EVA: Querem saber de uma coisa: Quero todo mundo muito louco aqui! Você falou de verdade,
Lauro, que todos iriam saber a verdade? Pois eu não acredito em verdade dita de cara limpa!
Ninguém diz a verdade, de cara limpa, garoto. Vai, bebe!!

Lauro se nega. Eva puxa Sidney pelos colarinhos. Aponta seu revólver para a cabeça dele.

EVA: Vai! Bebe!

Lauro vai recuando, tropeça e cai próximo a escadaria que conduz ao altar. Eva entrega-lhe o
cantil. Apavorado, ódio nos olhos, ele bebe.

EVA: Isso! Bebe mais! Bebe tudo!

Eva arremessa Sidney para o lado de Lauro.

EVA: Vai, Sidney, você também! Bebe porque teu mal é esse: falta de diversão!

Apavorado, Sidney obedece.
Eva obriga Lauro e Sidney a engolirem alguns comprimidos.

EVA: É isso aí! Quero tudo mundo bem doido! (gargalha alto) Super doidos, doidinhos! Eu te
falei Sidney que não era pra você estar aqui, mas você é teimoso, seu lerdinho de uma figa!
Lerdinho da mamãe... (gargalha mais alto) lelé da cuca da mamãe!

Os garotos já estão pra lá de Bagdá. Eva rodopia pelo salão, ao som da música. Ela olha para as
imagens sacras, e tem a impressão que elas também a observa, que estão vivas, a chorar
lagrimas de sangue.

EVA: Isso! Bebendo, bebendo tudo! Se acabar, eu pego mais! Sei que o padreco balofo é outro
pinguço! Aquele lá bebe até o vinho da eucaristia, que eu sei!

Ela para por alguns instantes, sorri debochada. Teve uma grande ideia. Desvairada, ela pega
uma garrafa com vinho, quase cheia, que está escondida numa bancada atrás do altar, e deste
modo continua a embebedá-los, ao passo que também os obriga a tirarem as roupas. Ela ri,
rodopia pelo salão da igreja. A música cessa. Aos poucos, Eva parece sair de seu transe. Ela vê
os garotos estirados, nus, aos pés do altar, entra em desespero. Olha ao redor, olha os trajes
extravagantes que está usando. Ela cai, de joelhos. Chora lágrimas negras de rímel.

EVA: O que eu fiz? O que eu fiz? Você precisa resolver isso, Eva Juarez! Precisa! Não, não tem
como voltar atrás, não tem como! Fugir, você precisa fugir, Eva!

CORTA PARA:

CENA 05. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE

Detalhe das mãos trêmulas de Eva tentando acertar a chave no buraco da fechadura. Ela fecha a
porta lentamente, à medida que seu ponto de vista nos revela Lauro e Sidney nus e estirados
diante o altar. Trôpega, Eva se embrenha num bambuzal próximo a igreja. Logo Eva surge
montada num cavalo, em pleno galope. Numa rua próxima, passa ventando por SOFIA
EMERENCIANA, uma senhorinha tísica, com cara de beata fervorosa.

SOFIA: Lá vai o demônio!

CORTA PARA:

CENA 06. FAZENDA DOS JUAREZ. CAMPO ABERTO. EXTERIOR. NOITE

A luminosidade tímida da lua banha o longo campo. Eva em seu cavalo. Ela chora.

CENA 07. FAZENDA DOS JUAREZ. CASA GRANDE. SALA. INT. NOITE

Abrimos na chegada de Eva, trôpega, na varanda da casa grande. Ela ajeita os cabelos, as
roupas. Eva adentra a sala, pé ante pé. Uma voz na escuridão a assusta.

SEBASTIÃO (off) De novo, Eva?

SEBASTIÃO acende a luz, e isso nos revela sua figura: um sujeito abrutalhado, olhar sombrio,
beirando os cinquenta anos.

EVA: Não me enche, Bastião!
SEBASTIÃO: Não grita. Vai acordar a Lídia. Cadê o Sidney? Ele foi atrás de você.

EVA: Eu tava por aí, não sei daquele retardado!

SEBASTIÃO: Desse jeito, você vai colocar tudo a perder, mulher. Não sei até quando a gente
vai conseguir segurar a língua desse povo. O casamento da nossa filha é amanhã, e você por aí,
caçando assunto...

EVA: Nossa filha, uma ova! Ela é minha filha! Você só prestou pra me dar o retardado do
Sidney, o lerdinho (gargalha alto) o lerdinho da mamãe!

SEBASTIÃO: Vê se te avia, mulher! Vá tomar um banho gelado! Vê se arranca desse lombo
esse cheiro de cachaça!

EVA: (quase murmurando) Casamento, é? Isso é o que você pensa, seu frouxo. Quando o
padreco chegar à igreja... (ri, demente) quero ver só se vai ter alguma merda de casamento.

CORTA PARA:

CENA 08. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE LÍDIA. INTERIOR. NOITE

Um vestido de noiva debruçado sobre um baú. Lídia, uma garota brejeira, na flor da idade,
quase uma sósia da famosa Brondi, está de ouvido colado na porta do quarto. Acabou de ouvir a
conversa que veio da sala. Ela se afasta da porta, olha para seu vestido por alguns instantes e
sorri.

LÍDIA: Nem acredito que vou ficar livre desse hospício!

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 09. CIDADE DE TORRENTES. VÁRIOS PLANOS. EXTERIOR. MANHÃ

Imagens aéreas revelam a pequena cidade, espremida por uma cadeia de montanhas e
serpenteada por um rio. Numa aproximação mais detalhada, percebemos que a cidade de
Torrentes, apesar de jeitosa, parece congelada no tempo. Nenhum sinal de progresso.

CENA 10. PAÇO MUNICIPAL. ENTRADA. EXTERIOR. MANHÃ

ORLANDO VIANNA, um sujeito austero, perto dos 60 anos, se debate para arrancar uma
sequencia de panfletos colados na fachada do prédio.

CORTA PARA:

CENA 11. PRAÇA PRINCIPAL DE TORRENTES. CORETO. EXT. MANHÃ

NECO e BETO de prosa, olhares voltados para o prédio da prefeitura. Ambos são rapazes fortes
e rústicos, porém Neco abusa mais do estilo cowboy: chapelão, cinturão de fivela e botas de
vaqueiro.

BETO: O prefeito tá com a macaca, Neco!

NECO: Também, com o filho fresco que tem. Não sei o que a gatinha da Lídia enxergou
naquele traste. Tudo chama ele de Zé Protesto, você sabe, não sabe?
BETO: Ele tá certo, uai! Tem que protestar mesmo, a cidade vive nesse atraso! O pai dele, como
prefeito, não faz merda nenhuma pra melhorar! As cidades por aqui são tudo melhor que
Torrentes... Todo mundo fala que a gente só tamos a 110 quilômetros de Copacabana!

NECO: Só 110 quilômetros, Beto? Só? Vê se te enxerga, peão! O velho é que tá certo! Tem que
manter tudo no cabresto! Modernidade só traz o que não presta, Beto! Vai por mim!

BETO: Deixa o Lauro escutar essa sua prosa, Neco.

NECO: Falo na cara dele! Aquilo lá não é macho pra me peitar, ô Beto? O que eu quero mesmo
é a gostosinha da Lídia.

BETO: Quer, é? O pai dela te capa, peão! Você bem sabe da fama dele: matador. Chegou lá do
fiofó do mundo, com as malas cheias de grana.

NECO: Matador merda nenhuma! É um picareta, isso sim!

BETO: E mesmo assim você fica de olho espichado pra Lídia? O velho é capaz de roubar o
pouco que te resta.

NECO: Claro que fico! Deixa ela cair na minha mão, dou-lhe um trato. Trato que aquele
afrescalhado do Lauro nunca deu. E tem mais: caso com ela e tiro o pé da lama.

BETO: Pode tirar seu pangaré da chuva. A Lídia é doida pelo Lauro, os dois foram criados na
cidade grande, nunca que ela vai querer ter nada com um caipira igual você.

NECO: Caipira é você, sua besta! Também fui criado fora daqui, estudei na mesma escola que
eles, lá no Rio de Janeiro! Não é de hoje que tô de olho nessa Lídia.

BETO: (provocando) Pois vai morrer cego de tanto olhar, e também vai ter que arrumar outro
jeito de pagar as dívidas que o seu velho deixou, porque daqui a pouco os dois vão tá entrando
lá na igreja!

NECO: E daí? Esse Lauro nunca que vai ser macho pra ela! Tá na boca do povo, e você bem
sabe que esse Lauro não passa de um viadinho, isso sim! Viadinho metido a comunista! O
prefeito nem vai com as fuças da família da Lídia, aliás, ninguém vai. O velho Orlando só
aceitou esse casamento pra calar a boca do povo, e o pilantra do Sebastião aproveitou a chance,
tá de olho na herança do velho!

BETO: Eu não sei de nada.

NECO: A Lídia quer ele é pra brincar de boneca! Macho pra ela, sou eu!

BETO: (gargalha alto) Chega de prosa! Simbora, que daqui a pouco começa o casório!

CORTA PARA:

CENA 12. IGREJA DA SALVAÇÃO. ENTRADA. EXTERIOR. MANHÃ

Sol já a pino. Eva, agora vestida com todo o recato que a situação pede, acompanha o marido,
Sebastião Juarez. Ela está tensa, finge estar ali, no papel de esposa, mãe e mulher direita, mas na
verdade não está. Convidados para a cerimônia ciscando por ali, impacientes, entre eles, a beata
Sofia Emerenciana. Lídia, vestida de noiva, salta de um carro, acompanhada por sua amiga
AMANDA, uma jovenzinha meio brega, caipira. Lídia tensa, olhos marejados.

EVA: (nervosa) Volta pro carro, Lídia!

LÍDIA: Que história é essa de igreja fechada, mãe? Cadê o padre Manoel? (olha ao redor) Será
que ninguém ais tem as chaves dessa igreja? Cadê a cópia que a senhora pegou com a dona
Sofia Emerenciana?

EVA: Sei lá de chaves! Não deixei com você, pra arrumação da igreja?

LÍDIA: Não sei, não lembro! Não entreguei pra senhora?

EVA: Já falei que não estou com raio de chave nenhuma, Lídia!

SEBASTIÃO: (carinhoso) Lídia, o padre não é desta paróquia, deve tá atrasado. Fica calma!

AMANDA: (sotaque puxado) Como ficar calma, seu Sebastião? Igreja fechada, Lauro que não
aparece! Já vi noiva atrasada, mas noivo sumido é a primeira vez!

Lídia se debulha em lágrimas.

EVA: (agarrando Amanda pelo braço) Vê se não piora as coisas, Amanda! Cala essa boca!
Sebastião, dá um jeito nisso! Cadê o pai do Lauro? Vai atrás do prefeito!

AMANDA: (que não se emenda) É mesmo, cadê o pai do noivo, cadê o prefeito?

Beto e Neco chegam. Percebem a confusão.

BETO: O seu Orlando tava arrancando uns papel lá das paredes da prefeitura!

NECO: (maldoso) O quê que tá acontecendo por aqui? Não vai ter mais casório, é?

LÍDIA: Cala essa boca, seu cretino cafona!

Orlando Vianna, pai de Lauro, chega. Todo esbaforido. Alguns panfletos na mão. Um deles
escapa e vi parar aos pés de Lídia. Amanda, sempre curiosa, o recolhe. Passa os olhos pelos
dizeres: “FORA A DITADURA CAPENGA DO PREFEITO. FORA A CARETICE. VOU
COMEÇAR UMA GRANDE REVOLUÇÃO. AGUARDEM!”. Ela tem dificuldades com a
leitura. Mostra o panfleto para Lídia, que sorri.

AMANDA: O que é caretice?

LÍDIA: (aponta para Orlando) É isso aí! O Lauro nem na véspera do nosso casamento, para de
aprontar.

AMANDA: Parece que tem o bicho carpinteiro no fiofó! Ave Maria!

ORLANDO: Que algazarra é essa?

SEBASTIÃO: E é que pergunto, seu Orlando! Cadê seu filho? E o senhor também só chega
agora?
ORLANDO: E eu lá sei daquele moleque! Desde ontem à noite que não vejo. Olha pra isso
(mostra um dos panfletos) acho que passou a noite pregando essas merdas por aí. Duvido que
apareça pra esse casamento. Duvido! Aquele infeliz faz de tudo pra me afrontar! Deve tá
planejando alguma coisa... Espera aí, eu pensei que ele estivesse lá pelas bandas da sua casa!

Lídia apreensiva diante a sentença de Orlando Vianna.

EVA: O que, prefeito? Alto lá, que a minha casa é de respeito!

Sofia Emerenciana emite uma tossida seca, irônica. Um dos CONVIDADOS, já meio de porre,
resolve se manifestar.

CONVIDADO: Alguém dê um jeito nisso! A gente não pode ficar aqui, debaixo desse pampeiro
de sol, esperando! Ou arrumem um lugar pra gente ficar ou arrombe a desgraça dessa porta.

Orlando e Sebastião o fulminam com um olhar.

OUTRO CONVIDADO: Não precisa arrombá mais não! (aponta) O padre Manoel chegou, óia
lá!

CORTA PARA:

CENA 13. RUA PRÓXIMA À IGREJA DA SALVAÇÃO. EXT. DIA

Um fusca todo cacarecado se aproxima, levantando uma nuvem de poeira. Ao volante o PADRE
MANOEL, um sujeito gordo, 60 anos, com um cigarro pendurado no beiço. Rosto vermelho,
suor a escorrer.

CORTA PARA:

CENA 14. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. DIA

Padre Manoel por ali, a acalmar os ânimos, vasculhando os bolsos da batina, a procura de sua
chave, a encontra. Os CONVIDADOS comemoram.

CORTA PARA:

CENA 15. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. DIA

A porta se abre com um ranger sinistro. Sebastião é o primeiro a entrar. Dá alguns passos e
empaca no meio do salão. Não vai nem para frente, nem para trás. Seus olhos se arregalam.

SEBASTIÃO: (berra) Sangue de Jesus tem poder!

Eva também entra. Fica ainda mais tensa. Esboça dizer algo, não consegue. Então, para
disfarçar, geme:

EVA: Blasfêmia.

Assustada, Lídia aproxima-se de Sebastião. Seu PONTO DE VISTA nos revela uma imagem
chocante: Lauro e Sidney, nus como vieram ao mundo, abraçados e adormecidos diante o altar.

LÍDIA: (desesperada) Não!!!!!
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 01

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Cap 01 raio laser

  • 1. RAIO LASER NOVELA DE DAVI VALLERIO E ALEX SPINOLA CAPÍTULO 01 Escuridão. Surgem na TELA, como se datilografados, os dizeres: BRASIL, 1978. CENA 01. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE Breu total. O único ponto de luz, mesmo assim vacilante, emana do neon azul que circula uma cruz cravada na parte mais alta da construção. LAURO, um belo rapaz de dezenove anos, com toda a pinta de seu xará famoso, o Corona, olha ao redor. LAURO: (chama baixinho) Lídia? Lídia? Um ruído no interior da igreja chama a atenção dele. Lauro percebe que a porta está entreaberta. Ele entra. CENA 02. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE Iluminação precária. RÁDIO LIGADO. Lauro torna a chamar baixinho. Uma sequência de lâmpadas se acende sobre o altar. Salão enfeitado para cerimônia de casamento. Ele sorri. ALGUÉM surge às suas costas e fecha a porta de entrada. Lauro se vira abruptamente. Diante dele, VEMOS EVA, 40 anos, vestida de maneira provocante, maquiagem carregada. O SOM das inúmeras pulseiras que lhe adornam os pulsos produz um chiado estranho, similar ao guizo de uma serpente. EVA: (embriagada) Surpresa, Lauro! LAURO: Dona Eva? O que a senhora tá fazendo aqui? EVA: (provocante) Corta esse papo de senhora, garotão. LAURO: Espera aí, eu recebi um recado da Lídia, foi o Sidney quem levou... EVA: (ar de deboche) Foi uma brincadeirinha minha. O Sidney, apesar daquele jeitinho lerdo dele, faz tudo o que a mamãe pede. LAURO: Como a senhora entrou aqui? EVA: (rindo maliciosa) Já falei pra você cortar esse papo de senhora, Lauro... Bem, aquela beata de uma figa, aquela papa hóstias da Sofia Emerenciana teve que desgrudar da chave (olha ao redor) dessa espelunca por conta do casamento... (morde o lábio) muito a contragosto aquela vaca me entregou a cópia que o padreco balofo confiou a ela... LAURO: (cortando) Já chega, eu vou embora daqui! EVA: Não vai não! Hoje você é meu!
  • 2. LAURO: O quê? Você tá louca? EVA: Tô sim, Lauro! Tô louca de amor por você, e você sabe disso! LAURO: Eu não sei do que você tá falando! Eu vou casar com a sua filha, a Lídia, esqueceu? EVA: (esfregando-se nele) Foi pra isso que eu armei esse encontro, Lauro: pra pedir que você não se case, pra te pedir que a gente fuja dessa cidade atrasada! Eu e você podemos dar o fora daqui! Tenho dinheiro pra isso, você sabe! Lauro se afasta de Eva, enojado. LAURO: Que loucura é essa? Eu sei das histórias que falam a seu respeito, que vive dando em cima dos garotões da cidade, mas comigo não! Ninguém tem coragem de abrir a boca. O povo tem medo da má fama do seu marido... EVA: (debochada) E você acha que aquele corno não sabe de nada? É claro que sabe! LAURO: (esboçando sair) Então chegou a hora da cidade toda também saber! Num gesto brusco, Eva pega sua bolsa sobre um banco, e a vasculha, rápido. Um pequeno cantil prateado cai no chão. Eva saca de um revólver, puxa o canhão. O tambor gira. EVA: Você não vai pra lugar nenhum! CORTA PARA: CENA 03. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE SIDNEY, um rapaz abobalhado, aproxima-se. Olhar apreensivo. CORTA PARA: CENA 04. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE Lauro apavorado diante Eva. Ela continua a assediá-lo. EVA: (esfrega-se nele, o acaricia com o revólver) Eu quero você, Lauro! Você finge que não sabe, mas eu sei que você sabe! Eu sei que você sente! LAURO: (toma coragem, a empurra) Louca varrida! Eu não sinto nada! O que eu tô sentindo por você agora é pena, é novo! Sabe o que é isso, nojo? Olha pra você! Será que não se enxerga? A repulsa de Lauro deixa Eva desnorteada. Ela o encara. Um olhar triste, patético, que depois de um breve instante se enche de cólera. EVA: Desgraçado! Quem você tá pensando que eu sou? Uma idiota? Pensa que eu não vejo os seus olhares pro meu lado desde que começou a namorar a Lídia? Não vem bancar o revoltado comigo, Lauro! Essas frescuras você pode guardar pro cretino do seu pai! LAURO: Você enlouqueceu de vez!
  • 3. EVA: Não, eu não enlouqueci! Essa sou eu, garoto! A Eva de verdade, a Eva que não precisa fingir o que não é só pra agradar esse bando de caipiras! Eu tô aqui, me abrindo pra você, falando do meu amor... E você faz pouco, debocha de mim? A porta de entrada é aberta. Eva percebe a chegada de Sidney. Assustado, ele esboça sair. EVA: (berrando) O que você tá fazendo aqui, Sidney? SIDNEY: A senhora me mandou mentir pro Lauro. Eu sabia que era mentira, eu sabia. Toda vez que a senhora fica desse jeito, a senhora mente. EVA: Cala essa boca, retardado! Entra e tranca essa porta, a chave tá aí, senão eu meto bala na cabeça do seu amiguinho! Sidney faz que não. LAURO: (desespero) Corre e chama a polícia, Sidney! EVA: Obedece a sua mãe, garoto! Sidney se aproxima. Eva pega o cantil prateado, livra-se da tampa e toma uma boa dose do seu conteúdo. Lauro perplexo diante o inusitado da situação. EVA: (ergue o cantil) Uísque puro, legítimo! Quer um trago, Sidney? SIDNEY: Eu não posso beber, eu tomo remédio. Eva fica muda. Olha para o cantil, olha para Sidney. Um sorriso maligno brota em seus lábios. EVA: Seu problema é esse, Sidney: você toma remédio demais pra problemas de menos. Dá seus remedinhos pra mamãe, dá! Você não precisa deles! Sidney retira uma cartela de comprimidos do bolso da calça. Eva dá uma gargalhada diabólica. Agora, rádio toca “Ilegal, Imoral ou Engorda”, de Roberto Carlos. Acompanhamos, em cortes descontínuos, a loucura crescente de Eva. EVA: Querem saber de uma coisa: Quero todo mundo muito louco aqui! Você falou de verdade, Lauro, que todos iriam saber a verdade? Pois eu não acredito em verdade dita de cara limpa! Ninguém diz a verdade, de cara limpa, garoto. Vai, bebe!! Lauro se nega. Eva puxa Sidney pelos colarinhos. Aponta seu revólver para a cabeça dele. EVA: Vai! Bebe! Lauro vai recuando, tropeça e cai próximo a escadaria que conduz ao altar. Eva entrega-lhe o cantil. Apavorado, ódio nos olhos, ele bebe. EVA: Isso! Bebe mais! Bebe tudo! Eva arremessa Sidney para o lado de Lauro. EVA: Vai, Sidney, você também! Bebe porque teu mal é esse: falta de diversão! Apavorado, Sidney obedece.
  • 4. Eva obriga Lauro e Sidney a engolirem alguns comprimidos. EVA: É isso aí! Quero tudo mundo bem doido! (gargalha alto) Super doidos, doidinhos! Eu te falei Sidney que não era pra você estar aqui, mas você é teimoso, seu lerdinho de uma figa! Lerdinho da mamãe... (gargalha mais alto) lelé da cuca da mamãe! Os garotos já estão pra lá de Bagdá. Eva rodopia pelo salão, ao som da música. Ela olha para as imagens sacras, e tem a impressão que elas também a observa, que estão vivas, a chorar lagrimas de sangue. EVA: Isso! Bebendo, bebendo tudo! Se acabar, eu pego mais! Sei que o padreco balofo é outro pinguço! Aquele lá bebe até o vinho da eucaristia, que eu sei! Ela para por alguns instantes, sorri debochada. Teve uma grande ideia. Desvairada, ela pega uma garrafa com vinho, quase cheia, que está escondida numa bancada atrás do altar, e deste modo continua a embebedá-los, ao passo que também os obriga a tirarem as roupas. Ela ri, rodopia pelo salão da igreja. A música cessa. Aos poucos, Eva parece sair de seu transe. Ela vê os garotos estirados, nus, aos pés do altar, entra em desespero. Olha ao redor, olha os trajes extravagantes que está usando. Ela cai, de joelhos. Chora lágrimas negras de rímel. EVA: O que eu fiz? O que eu fiz? Você precisa resolver isso, Eva Juarez! Precisa! Não, não tem como voltar atrás, não tem como! Fugir, você precisa fugir, Eva! CORTA PARA: CENA 05. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE Detalhe das mãos trêmulas de Eva tentando acertar a chave no buraco da fechadura. Ela fecha a porta lentamente, à medida que seu ponto de vista nos revela Lauro e Sidney nus e estirados diante o altar. Trôpega, Eva se embrenha num bambuzal próximo a igreja. Logo Eva surge montada num cavalo, em pleno galope. Numa rua próxima, passa ventando por SOFIA EMERENCIANA, uma senhorinha tísica, com cara de beata fervorosa. SOFIA: Lá vai o demônio! CORTA PARA: CENA 06. FAZENDA DOS JUAREZ. CAMPO ABERTO. EXTERIOR. NOITE A luminosidade tímida da lua banha o longo campo. Eva em seu cavalo. Ela chora. CENA 07. FAZENDA DOS JUAREZ. CASA GRANDE. SALA. INT. NOITE Abrimos na chegada de Eva, trôpega, na varanda da casa grande. Ela ajeita os cabelos, as roupas. Eva adentra a sala, pé ante pé. Uma voz na escuridão a assusta. SEBASTIÃO (off) De novo, Eva? SEBASTIÃO acende a luz, e isso nos revela sua figura: um sujeito abrutalhado, olhar sombrio, beirando os cinquenta anos. EVA: Não me enche, Bastião!
  • 5. SEBASTIÃO: Não grita. Vai acordar a Lídia. Cadê o Sidney? Ele foi atrás de você. EVA: Eu tava por aí, não sei daquele retardado! SEBASTIÃO: Desse jeito, você vai colocar tudo a perder, mulher. Não sei até quando a gente vai conseguir segurar a língua desse povo. O casamento da nossa filha é amanhã, e você por aí, caçando assunto... EVA: Nossa filha, uma ova! Ela é minha filha! Você só prestou pra me dar o retardado do Sidney, o lerdinho (gargalha alto) o lerdinho da mamãe! SEBASTIÃO: Vê se te avia, mulher! Vá tomar um banho gelado! Vê se arranca desse lombo esse cheiro de cachaça! EVA: (quase murmurando) Casamento, é? Isso é o que você pensa, seu frouxo. Quando o padreco chegar à igreja... (ri, demente) quero ver só se vai ter alguma merda de casamento. CORTA PARA: CENA 08. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE LÍDIA. INTERIOR. NOITE Um vestido de noiva debruçado sobre um baú. Lídia, uma garota brejeira, na flor da idade, quase uma sósia da famosa Brondi, está de ouvido colado na porta do quarto. Acabou de ouvir a conversa que veio da sala. Ela se afasta da porta, olha para seu vestido por alguns instantes e sorri. LÍDIA: Nem acredito que vou ficar livre desse hospício! CORTA RÁPIDO PARA: CENA 09. CIDADE DE TORRENTES. VÁRIOS PLANOS. EXTERIOR. MANHÃ Imagens aéreas revelam a pequena cidade, espremida por uma cadeia de montanhas e serpenteada por um rio. Numa aproximação mais detalhada, percebemos que a cidade de Torrentes, apesar de jeitosa, parece congelada no tempo. Nenhum sinal de progresso. CENA 10. PAÇO MUNICIPAL. ENTRADA. EXTERIOR. MANHÃ ORLANDO VIANNA, um sujeito austero, perto dos 60 anos, se debate para arrancar uma sequencia de panfletos colados na fachada do prédio. CORTA PARA: CENA 11. PRAÇA PRINCIPAL DE TORRENTES. CORETO. EXT. MANHÃ NECO e BETO de prosa, olhares voltados para o prédio da prefeitura. Ambos são rapazes fortes e rústicos, porém Neco abusa mais do estilo cowboy: chapelão, cinturão de fivela e botas de vaqueiro. BETO: O prefeito tá com a macaca, Neco! NECO: Também, com o filho fresco que tem. Não sei o que a gatinha da Lídia enxergou naquele traste. Tudo chama ele de Zé Protesto, você sabe, não sabe?
  • 6. BETO: Ele tá certo, uai! Tem que protestar mesmo, a cidade vive nesse atraso! O pai dele, como prefeito, não faz merda nenhuma pra melhorar! As cidades por aqui são tudo melhor que Torrentes... Todo mundo fala que a gente só tamos a 110 quilômetros de Copacabana! NECO: Só 110 quilômetros, Beto? Só? Vê se te enxerga, peão! O velho é que tá certo! Tem que manter tudo no cabresto! Modernidade só traz o que não presta, Beto! Vai por mim! BETO: Deixa o Lauro escutar essa sua prosa, Neco. NECO: Falo na cara dele! Aquilo lá não é macho pra me peitar, ô Beto? O que eu quero mesmo é a gostosinha da Lídia. BETO: Quer, é? O pai dela te capa, peão! Você bem sabe da fama dele: matador. Chegou lá do fiofó do mundo, com as malas cheias de grana. NECO: Matador merda nenhuma! É um picareta, isso sim! BETO: E mesmo assim você fica de olho espichado pra Lídia? O velho é capaz de roubar o pouco que te resta. NECO: Claro que fico! Deixa ela cair na minha mão, dou-lhe um trato. Trato que aquele afrescalhado do Lauro nunca deu. E tem mais: caso com ela e tiro o pé da lama. BETO: Pode tirar seu pangaré da chuva. A Lídia é doida pelo Lauro, os dois foram criados na cidade grande, nunca que ela vai querer ter nada com um caipira igual você. NECO: Caipira é você, sua besta! Também fui criado fora daqui, estudei na mesma escola que eles, lá no Rio de Janeiro! Não é de hoje que tô de olho nessa Lídia. BETO: (provocando) Pois vai morrer cego de tanto olhar, e também vai ter que arrumar outro jeito de pagar as dívidas que o seu velho deixou, porque daqui a pouco os dois vão tá entrando lá na igreja! NECO: E daí? Esse Lauro nunca que vai ser macho pra ela! Tá na boca do povo, e você bem sabe que esse Lauro não passa de um viadinho, isso sim! Viadinho metido a comunista! O prefeito nem vai com as fuças da família da Lídia, aliás, ninguém vai. O velho Orlando só aceitou esse casamento pra calar a boca do povo, e o pilantra do Sebastião aproveitou a chance, tá de olho na herança do velho! BETO: Eu não sei de nada. NECO: A Lídia quer ele é pra brincar de boneca! Macho pra ela, sou eu! BETO: (gargalha alto) Chega de prosa! Simbora, que daqui a pouco começa o casório! CORTA PARA: CENA 12. IGREJA DA SALVAÇÃO. ENTRADA. EXTERIOR. MANHÃ Sol já a pino. Eva, agora vestida com todo o recato que a situação pede, acompanha o marido, Sebastião Juarez. Ela está tensa, finge estar ali, no papel de esposa, mãe e mulher direita, mas na verdade não está. Convidados para a cerimônia ciscando por ali, impacientes, entre eles, a beata
  • 7. Sofia Emerenciana. Lídia, vestida de noiva, salta de um carro, acompanhada por sua amiga AMANDA, uma jovenzinha meio brega, caipira. Lídia tensa, olhos marejados. EVA: (nervosa) Volta pro carro, Lídia! LÍDIA: Que história é essa de igreja fechada, mãe? Cadê o padre Manoel? (olha ao redor) Será que ninguém ais tem as chaves dessa igreja? Cadê a cópia que a senhora pegou com a dona Sofia Emerenciana? EVA: Sei lá de chaves! Não deixei com você, pra arrumação da igreja? LÍDIA: Não sei, não lembro! Não entreguei pra senhora? EVA: Já falei que não estou com raio de chave nenhuma, Lídia! SEBASTIÃO: (carinhoso) Lídia, o padre não é desta paróquia, deve tá atrasado. Fica calma! AMANDA: (sotaque puxado) Como ficar calma, seu Sebastião? Igreja fechada, Lauro que não aparece! Já vi noiva atrasada, mas noivo sumido é a primeira vez! Lídia se debulha em lágrimas. EVA: (agarrando Amanda pelo braço) Vê se não piora as coisas, Amanda! Cala essa boca! Sebastião, dá um jeito nisso! Cadê o pai do Lauro? Vai atrás do prefeito! AMANDA: (que não se emenda) É mesmo, cadê o pai do noivo, cadê o prefeito? Beto e Neco chegam. Percebem a confusão. BETO: O seu Orlando tava arrancando uns papel lá das paredes da prefeitura! NECO: (maldoso) O quê que tá acontecendo por aqui? Não vai ter mais casório, é? LÍDIA: Cala essa boca, seu cretino cafona! Orlando Vianna, pai de Lauro, chega. Todo esbaforido. Alguns panfletos na mão. Um deles escapa e vi parar aos pés de Lídia. Amanda, sempre curiosa, o recolhe. Passa os olhos pelos dizeres: “FORA A DITADURA CAPENGA DO PREFEITO. FORA A CARETICE. VOU COMEÇAR UMA GRANDE REVOLUÇÃO. AGUARDEM!”. Ela tem dificuldades com a leitura. Mostra o panfleto para Lídia, que sorri. AMANDA: O que é caretice? LÍDIA: (aponta para Orlando) É isso aí! O Lauro nem na véspera do nosso casamento, para de aprontar. AMANDA: Parece que tem o bicho carpinteiro no fiofó! Ave Maria! ORLANDO: Que algazarra é essa? SEBASTIÃO: E é que pergunto, seu Orlando! Cadê seu filho? E o senhor também só chega agora?
  • 8. ORLANDO: E eu lá sei daquele moleque! Desde ontem à noite que não vejo. Olha pra isso (mostra um dos panfletos) acho que passou a noite pregando essas merdas por aí. Duvido que apareça pra esse casamento. Duvido! Aquele infeliz faz de tudo pra me afrontar! Deve tá planejando alguma coisa... Espera aí, eu pensei que ele estivesse lá pelas bandas da sua casa! Lídia apreensiva diante a sentença de Orlando Vianna. EVA: O que, prefeito? Alto lá, que a minha casa é de respeito! Sofia Emerenciana emite uma tossida seca, irônica. Um dos CONVIDADOS, já meio de porre, resolve se manifestar. CONVIDADO: Alguém dê um jeito nisso! A gente não pode ficar aqui, debaixo desse pampeiro de sol, esperando! Ou arrumem um lugar pra gente ficar ou arrombe a desgraça dessa porta. Orlando e Sebastião o fulminam com um olhar. OUTRO CONVIDADO: Não precisa arrombá mais não! (aponta) O padre Manoel chegou, óia lá! CORTA PARA: CENA 13. RUA PRÓXIMA À IGREJA DA SALVAÇÃO. EXT. DIA Um fusca todo cacarecado se aproxima, levantando uma nuvem de poeira. Ao volante o PADRE MANOEL, um sujeito gordo, 60 anos, com um cigarro pendurado no beiço. Rosto vermelho, suor a escorrer. CORTA PARA: CENA 14. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. DIA Padre Manoel por ali, a acalmar os ânimos, vasculhando os bolsos da batina, a procura de sua chave, a encontra. Os CONVIDADOS comemoram. CORTA PARA: CENA 15. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. DIA A porta se abre com um ranger sinistro. Sebastião é o primeiro a entrar. Dá alguns passos e empaca no meio do salão. Não vai nem para frente, nem para trás. Seus olhos se arregalam. SEBASTIÃO: (berra) Sangue de Jesus tem poder! Eva também entra. Fica ainda mais tensa. Esboça dizer algo, não consegue. Então, para disfarçar, geme: EVA: Blasfêmia. Assustada, Lídia aproxima-se de Sebastião. Seu PONTO DE VISTA nos revela uma imagem chocante: Lauro e Sidney, nus como vieram ao mundo, abraçados e adormecidos diante o altar. LÍDIA: (desesperada) Não!!!!!
  • 9. CORTA PARA: FIM DO CAPÍTULO 01