SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
Baixar para ler offline
SEGURANÇA TOXICOLÓGICA

                          Aprimorando a percepção
                          Medidas de engenharia, coletivas e individuais podem minimizar riscos
                           Helton César Martins Montechesi e Edson Luis Bassetto

                             A manipulação e o uso de agrotóxicos                    e internacional, o que exige uma severa      11 de janeiro de 1990, e as alterações
                          estão entre os trabalhos rurais mais fre-                  adequação das normas gerais aceitas in-      introduzidas pela Lei nº 9.974, de 6 de
                          quentes, no entanto, as orientações quan-                  ternacionalmente e no emprego de tecno-      junho de 2000, regulamentada pelo De-
                          to à escolha do produto e a dose a ser uti-                logias de ponta e mão de obra qualificada.   creto n° 4.074 de 4 de janeiro de 2002.
                          lizada muitas vezes são obtidas de forma                   Atender à legislação vigente acerca dos        Deve-se observar, além das disposições
                          errônea.                                                   agrotóxicos é condição essencial para que    legais que regulamentam o uso de agro-
                             A adoção de novas tecnologias no meio                   a sociedade possa se beneficiar, com se-     tóxicos no país, as Normas Regulamenta-
                          de produção rural e o aumento das mo-                      gurança toxicológica, ambiental e agronô-    doras, particularmente a NR 31, sobre
                          noculturas resultou em um elevado con-                     mica.                                        Segurança e Saúde no Trabalho na Agri-
                          sumo de agrotóxicos e também em um au-                                                                  cultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração
                          mento considerável do número de intoxi-                       LEGISLAÇÃO                                Florestal e Aquicultura, e a NR 6, sobre
                          cações de trabalhadores rurais, relaciona-                    Por serem produtos potencialmente         Equipamentos de Proteção Individual;
                          do a problemas como baixa escolaridade                     perigosos à saúde humana e ao ambien-        que sem dúvida, são as NRs que mais im-
                          e falta de conhecimento técnico sobre os                   te, os agrotóxicos precisaram de uma le-     plicam na atividade rural com aplicação
                          produtos, resultando em não uso de Equi-                   gislação que disciplinasse sua produção,     de agrotóxicos.
                          pamentos de Proteção Individual. Pode-                     comércio, transporte e uso.
                          se considerar que os casos de intoxicação                     O Decreto nº 24.114 de 12 de abril de       RECEITUÁRIO
                          por agrotóxicos são um problema de or-                     1934 foi a primeira legislação sobre pro-      O principal objetivo do receituário agro-
                          dem socioeconômica e origem profissional.                  dutos fitossanitários promulgada no Bra-     nômico é orientar o uso racional dos
                             O Brasil ocupa um relevante papel na                    sil, inalterada até a década de 60. Somen-   agrotóxicos, sendo que o diagnóstico é
                          produção de alimentos em nível nacional                    te em 1989, o país começou a cumprir efe-    pré-requisito essencial para a prescrição
                                                                                     tivamente as exigências internas e inter-    da receita. A recomendação para utilizar
                          Helton César Martins Montechesi - Engenheiro Agrônomo
                          pela UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná)e      nacionais com relação à qualidade dos        o agrotóxico foi conferida pela sociedade
                          Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela
                          UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)         produtos agrícolas com a promulgação da      ao engenheiro agrônomo e aos profissio-
                          heltonmontechesi@hotmail.com
                                                                                     Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989, re-    nais legalmente habilitados que por pre-
                          Edson LuisBasseto - Professor da UTFPR, Mestre em
                          Engenharia, Engenheiro Eletricista e de Segurança do       gulamentada pelo Decreto n° 98.816, de       sunção legal detêm os conhecimentos
                          Trabalho.
                          bassetto@utfpr.edu.br                                                                                   necessários para fazer a análise e decidir
HAMILTON HUMBERTO RAMOS




                          74 REVISTA PROTEÇÃO                                                                                                                    SETEMBRO / 2012
SEGURANÇA TOXICOLÓGICA
                                                                                               e citros (3%). O Mato Grosso é o estado
                                                                                               líder em vendas (20%), seguido por São
                                                                                               Paulo (15%), Paraná (14%), Rio Grande
                                                                                               do Sul (11%), Goiás (10%) e Minas Ge-
                                                                                               rais (9%). A venda deste insumo agrícola
                                                                                               no Brasil, em 2009, foi de R$ 12,9 bilhões.
                                                                                               Segundo dados do Sindag, o país aparece
                                                                                               em 2º lugar no ranking dos 10 principais
pela necessidade do produto.                   alvo não os organismos que trazem danos,        países consumidores, que representam
   O conteúdo da receita agronômica está       mais as áreas, plantas ou animais onde          70% do mercado mundial de agrotóxicos.
previsto no Decreto Federal n° 4.074/          eles se encontram. Mesmo assim a efici-            Quanto à inovação e o desenvolvimen-
2002, artigo 66. Embora possa ser consi-       ência das aplicações ainda é muito ruim,        to científico-tecnológico, para que um
derado um avanço por evidenciar a im-          e a maior parte do produto não atinge o         novo produto seja lançado no mercado são
portância da responsabilidade profissio-       alvo, perdendo-se para o ambiente que           necessários aproximadamente 12 anos de
nal na indicação de agrotóxicos, o recei-      não se deseja contaminar.                       pesquisa. A evolução da pesquisa e da ava-
tuário adquiriu um caráter quase que ex-         A aplicação de agrotóxicos é uma ciên-        liação toxicológica dos agrotóxicos tem
clusivamente de instrumento para vendas        cia multidisciplinar, que se caracteriza por    levado à produção de novas moléculas
de agrotóxicos, e não de orientação fitos-     um considerável desperdício de energia          com toxicidade cada vez menor e alta efi-
sanitária, como se pretendia quando foi        e de produto químico, constituindo-se em        ciência em baixas doses, o que reduz a
inicialmente proposto. Além disso, não         sério risco de acidente para o agricultor e     possibilidade de intoxicações. Comparan-
prevê qualquer especificação em relação        para o meio ambiente.                           do-se os defensivos atuais com os utiliza-
à capacitação do usuário, desconsideran-                                                       dos na década de 60, houve uma redução
do as condições técnicas para o uso do           MERCADO                                       de cerca de 90% na dose; 160 vezes na
produto receitado. Na forma em que se en-        Atualmente existem mais de 80 fabri-          toxicidade aguda, além do surgimento de
contra, ele permite a prescrição de qual-      cantes de agrotóxicos no Brasil. Aproxi-        novos mecanismos de ação e menor im-
quer produto, inclusive os de alta periculo-   madamente 673 produtos estão no mer-            pacto ambiental. Para que um defensivo
sidade, para qualquer pessoa, concentran-      cado (374 genéricos e 299 especialida-          seja utilizado pelo agricultor é necessário
do toda a responsabilidade no profissio-       des); 56% são moderadamente ou pouco            que seja registrado. Trata-se de um rigo-
nal que emite a receita e no usuário, pela     tóxicos (classe III e IV, faixa azul e verde,   roso processo, envolvendo avaliação dos
utilização. Logicamente, há necessidade        respectivamente).                               Ministérios da Agricultura, Pecuária e A-
de se rediscutir a finalidade e a aplicação      Em 2009, foram comercializadas 725            bastecimento (MAPA), Saúde (Anvisa) e
desse instrumento.                             mil toneladas de produtos formulados. As        Meio Ambiente (Ibama).
   Durante a pulverização, o risco de ex-      principais classes são os herbicidas com
posição do trabalhador é bastante depen-       59%, seguido por inseticidas e acaricidas         CARACTERÍSTICAS
dente da tecnologia de aplicação. O ideal      com 21%, fungicidas com 12% e outras              Devido à grande diversidade de produ-
seria atingir, com a quantidade necessá-       classes com 8%. A cultura que mais utili-       tos é importante conhecer a classificação
ria, apenas os organismos que se deseja        za agrotóxicos é a soja (48%), seguida          dos agrotóxicos quanto à sua ação e ao
controlar, mas não há tecnologia que per-      pelo milho (11%), cana (8%), algodão            grupo químico a que pertencem, sendo
mita tal precisão. Assim, se toma como         (7%), hortifrutiflores (4,3%), café (4%)        útil tal conhecimento para o diagnóstico




76 REVISTA PROTEÇÃO                                                                                                           SETEMBRO / 2012
SEGURANÇA TOXICOLÓGICA
                                                                                             tamento técnico no que se refere aos as-
                                                                                             pectos de segurança.
                                                                                                Sob estas condições, as medidas indivi-
                                                                                             duais de proteção, como as práticas de
                                                                                             trabalho e o uso de EPIs, ganham parti-
                                                                                             cular importância, mesmo sendo de difí-
                                                                                             cil aplicação e controle devido às carac-
                                                                                             terísticas sociais, culturais e de relações
                                                                                             e organização do trabalho. Justamente pe-
                                                                                             la dificuldade na aplicação dessas medidas
                                                                                             individuais, as medidas coletivas de con-
                                                                                             trole não podem ser colocadas em segun-
                                                                                             do plano ou ser desconsideradas, como
                                                                                             vem ocorrendo na atividade agrícola.

                                                                                                EXPOSIÇÃO
                                                                                                Por meio da distribuição percentual dos
das intoxicações e a instituição de trata-   dições ergonômicas dos postos de traba-         agrotóxicos registrados no Brasil, em fun-
mento específico. Os agrotóxicos mais co-    lho e outras medidas, no ambiente de pro-       ção da DL50 da formulação nas classes
muns são divididos em inseticidas, fungi-    dução rural, geralmente as atividades de        toxicológicas, é possível observar que o
cidas e herbicidas. São classificados tam-   trabalho se dão a céu aberto, o que não         grupo que apresenta maior risco são os
bém pelo seu poder tóxico, expresso em       permite o controle total das interferênci-      inseticidas, com maior percentagem nas
termos do valor da Dose Letal (DL50) por     as climáticas no ambiente de trabalho, li-      classes I e II. De um modo geral, quase a
via oral, representada por miligramas do     mitando e dificultando a proposição de          metade dos produtos estão inseridos na
produto tóxico por quilo de peso vivo, ne-   medidas de engenharia para o controle di-       classe III (47,3%). Estima-se que sejam
cessários para matar 50% de animais-tes-     reto sobre o ambiente de trabalho.              15 milhões de pessoas expostas a agrotó-
tes. Por determinação legal todos os pro-      Além disso, a aplicação de agrotóxicos        xicos e que ocorram de 150 a 200 mil in-
dutos devem apresentar nos rótulos uma       apresenta uma particularidade muito im-         toxicações agudas por ano.
faixa colorida indicativa de sua classe      portante: é provavelmente a única ativi-           A exposição pode ser definida como o
toxicológica. Observe as cores e doses le-   dade produtiva em que a contaminação            simples contato do produto com qualquer
tais em cada classe na Tabela 1, Classifi-   do ambiente de trabalho é intencional e,        parte do organismo humano, sendo as vias
cação toxicológica e cor dos rótulos.        mais do que isso, é o propósito da ativi-       de exposição mais comuns: ocular, respi-
  A atividade de aplicação de agrotóxicos    dade. Normalmente, as contaminações de          ratória, dérmica e oral. A exposição dire-
no ambiente agrícola é peculiar: diferen-    ambientes de trabalho são indesejáveis e        ta ocorre quando o produto entra em con-
temente de uma unidade de produção fa-       devem ser evitadas e controladas. Mas           tato direto com a pele, olhos, boca ou na-
bril, em que o ambiente de trabalho pode     como proceder quando a contaminação é           riz dos trabalhadores. Já a exposição in-
ser influenciado por técnicas de controle    a finalidade da atividade? É esta contra-       direta ocorre quando as pessoas que não
de ventilação, temperatura, umidade, ilu-    dição que faz da utilização dos agrotóxicos     estão aplicando ou manuseando os agro-
minação, adequação arquitetônica, con-       uma atividade de alto risco e de difícil tra-   tóxicos entram em contato com plantas,




78 REVISTA PROTEÇÃO                                                                                                         SETEMBRO / 2012
SEGURANÇA TOXICOLÓGICA
alimentos, roupas ou qualquer outro obje-     algumas horas após a exposição excessi-       os fatores biológicos relacionados ao pró-
to contaminado.                               va, por curto período, a produtos extrema-    prio indivíduo podemos citar a idade, o
   De acordo com a NR 31, o empregador        mente ou altamente tóxicos, podendo           sexo, o peso, as características genéticas,
rural ou equiparado deve proporcionar         ocorrer de forma leve, moderada ou gra-       o estado de saúde, de nutrição e as condi-
capacitação sobre prevenção de aciden-        ve, dependendo da quantidade absorvida.       ções metabólicas (esforço físico). As defi-
tes com produtos fitossanitários a todos      Já a intoxicação crônica ocorre por expo-     ciências nutricionais como as protéicas,
os trabalhadores expostos diretamente. O      sição pequena ou moderada a produtos          por exemplo, potencializam os efeitos tó-
programa deve ter carga horária mínima        tóxicos ou a múltiplos produtos, em que       xicos de vários agrotóxicos e a desidrata-
de vinte horas, distribuídas em no máxi-      o surgimento dos sinais e sintomas são        ção pode aumentar a susceptibilidade à
mo oito horas diárias, durante o expedien-    tardios, após meses ou anos, acarretando      intoxicação por inibidores de colineste-
te de trabalho, com conteúdo programá-        danos irreversíveis. Veja a Tabela 2, Prin-   rases.
tico definido.                                cipais sinais e sintomas agudos e crôni-         A formulação, concentração, equipa-
                                              cos.                                          mentos de aplicação, métodos de traba-
   EFEITOS                                                                                  lho, medidas de segurança, proteção e
   A intoxicação por agrotóxicos é perce-        FATORES                                    higiene adotadas, condições ambientais e
bida por meio das circunstâncias profis-         A segurança no trabalho com agrotó-        comportamento da substância no ambi-
sionais, do suicídio e das circunstâncias     xicos é avaliada por meio da estimativa       ente são alguns dos diversos fatores que
acidentais, respectivamente. O Ministério     do risco de intoxicação. Alguns fatores       interferem na exposição potencial. Há,
da Saúde calcula que, para cada notifica-     que influenciam são: duração da exposi-       portanto, condições que interferem na
ção de intoxicação por agrotóxico, há cer-    ção, intensidade do vento, atitude do tra-    exposição que extrapolam a ação direta
ca de 50 casos não notificados. De acor-      balhador, frequência das exposições, me-      e, às vezes, fogem à vontade e ao contro-
do com a OMS (Organização Mundial de          didas de segurança de proteção e de higi-     le do aplicador (vento, tipo de terreno,
Saúde), somente um em cada seis aciden-       ene adotadas, além da toxidade do agrotó-     dinâmica do trabalho, etc.).
tes são oficialmente registrados e 70% das    xico. O risco é definido principalmente em       Deve-se considerar ainda que a eficiên-
intoxicações ocorrem em países subde-         função de dois fatores: toxicidade e grau     cia das aplicações é muito ruim e a maior
senvolvidos, sendo que 70% das intoxi-        de exposição ocupacional. O grau de ex-       parte do produto não atinge o alvo, sen-
cações agudas são causadas pelos inseti-      posição se dá em função de duas outras        do perdida para o ambiente. Raramente a
cidas organofosforados.                       variáveis quantitativas: a concentração do    eficiência de coleta do agrotóxico ultra-
   De todas as doenças profissionais noti-    agrotóxico e o tempo de exposição. Sa-        passa 50%, ou seja, pelo menos metade
ficadas, o envenenamento por produtos         bendo-se que não é possível ao usuário        do agrotóxico aplicado estará contami-
químicos, principalmente chumbo e pesti-      alterar a toxicidade do produto, a única      nando o ambiente em que se encontra o
cidas, representam 15% de acordo com          maneira concreta de reduzir o risco é a       aplicador no momento da aplicação, pro-
pesquisa realizada pela OPAS (Organiza-       diminuição da exposição. O controle de        piciando grande potencial de exposição.
ção Pan-Americana de Saúde) em 12 pa-         riscos no emprego de substâncias quími-       Assim, há fatores determinantes da ex-
íses da América Latina e Caribe. Os agro-     cas procura trabalhar sobre esses dois        posição que nem sempre podem ser to-
tóxicos geralmente têm ação deletéria so-     fatores. Diminuindo a toxicidade ou a ex-     talmente controlados. Portanto, o con-
bre a saúde humana, provocando diver-         posição, pode-se diminuir o risco. Elimi-     trole da exposição deve ser prioritaria-
sos agravos. As manifestações podem não       nando um desses fatores, pode-se alcan-       mente exercido no ambiente em que o-
surgir de imediato, apresentando geral-       çar o seu controle total.                     corre o trabalho e não sobre o indivíduo
mente sintomas não específicos presen-           Há fatores presentes no ambiente de        exposto.
tes em diversas patologias.                   trabalho ou inerentes ao próprio indiví-
   Na intoxicação aguda, os sinais e sinto-   duo exposto que podem influenciar na to-         CONTROLE
mas são nítidos e objetivos, aparecendo       xicidade de um produto químico. Entre            Na aplicação das medidas de controle,
                                                                                            três níveis de intervenção são propostos
                                                                                            para minimizar as exposições: na fonte de
                                                                                            emissão do contaminante (age diretamen-
                                                                                            te no processo de produção e nas fontes
                                                                                            de risco existentes no ambiente de traba-
                                                                                            lho); na trajetória do agente entre a fonte
                                                                                            e o trabalhador (limitada pela natureza do
                                                                                            trabalho com agrotóxicos, consiste no uso
                                                                                            de barreiras para eliminar o contato en-
                                                                                            tre o agente e o indivíduo); e no indivíduo
                                                                                            sujeito ao risco (agem sobre o trabalha-
                                                                                            dor exposto a um risco não totalmente
                                                                                            controlado pelos outros dois níveis). Con-
                                                                                            fira a Tabela 3, Métodos de controle. Le-
                                                                                            vando-se em consideração a priorização
                                                                                            das medidas coletivas sobre as indivi-

80 REVISTA PROTEÇÃO                                                                                                        SETEMBRO / 2012
SEGURANÇA TOXICOLÓGICA
                                                                                            ta de demonstrar certo domínio sobre a
                                                                                            situação. Em uma visão parcial e simplista,
                                                                                            é comum responsabilizar o indivíduo fren-
                                                                                            te ao controle dos riscos, especialmente
                                                                                            tendo como causa dos problemas, a falta
                                                                                            de informação por parte do usuário. Tal
                                                                                            entendimento, não raro, leva à proposi-
                                                                                            ção de medidas de intervenção que se re-
                                                                                            sumem à capacitação individual e ao trei-
                                                                                            namento para as tarefas, sem questionar
                                                                                            o conteúdo do trabalho e as condições de
                                                                                            segurança oferecidas nos ambientes. As-
                                                                                            sim, a análise da percepção de risco dos
                                                                                            trabalhadores constitui ferramenta fun-
                                                                                            damental para os que pretendem cons-
                                                                                            truir uma atividade educativa realmente
                                                                                            transformadora junto a esse público.

                                                                                               EPIs
                                                                                               O trabalhador estará exposto a uma
duais, as ações sobre esses três níveis de    têm grande responsabilidade pelos pro-        grande diversidade de substâncias ao lon-
intervenção sugeridos devem dar-se, prin-     blemas de contaminação ambiental e de         go de toda a sua vida laborativa relaciona-
cipalmente, sobre a fonte e a trajetória      exposição de trabalhadores.                   da ao uso de agrotóxicos. Como conside-
do contaminante. As medidas de contro-                                                      rar o dimensionamento do grau de prote-
le individual devem ser consideradas,            PERCEPÇÃO                                  ção necessário a ser oferecido pelos EPIs?
sempre na perspectiva de complementar,           O reconhecimento dos riscos potenci-       Estes devem defender o trabalhador da
e não de substituir, as medidas coleti-       ais à saúde por parte de quem manipula        exposição aos produtos, servindo para
vas.                                          agrotóxico é o ponto inicial que motiva a     proteger as principais rotas de entrada
   Diferentes sistemas de aplicação deter-    atitude de controle individual. A percep-     dessas substâncias no organismo, evitan-
minam diferentes condições de exposição.      ção de risco não depende exclusivamente       do a contaminação e as consequentes in-
É necessário adotar medidas de engenha-       do indivíduo, ela faz parte do desenvolvi-    toxicações.
ria cabíveis ao ambiente de trabalho ru-      mento social; o que limita o controle dos        Sem dúvida, o uso de materiais imper-
ral, para tornar os sistemas de aplicação     riscos em nível individual. Importantes fa-   meáveis, como borrachas naturais ou sin-
mais seguros. Equipamentos mais efici-        tores de ordem cultural, social, econômi-     téticas e polímeros diversos, tem aumen-
entes estão sendo desenvolvidos por meio      ca e psicológica influenciam a percepção      tado o grau de proteção para trabalhado-
de pesquisas. Porém, por motivos de or-       dos indivíduos aos riscos a que estão sub-    res expostos a substâncias químicas peri-
dem técnica e econômica, são poucas as        metidos em suas rotinas de trabalho.          gosas.
inovações tecnológicas que de fato são           O “senso de imunidade subjetiva”, ou a        Nas atividades de trabalho com agrotó-
utilizadas pelos agricultores. Em razão da    minimização da probabilidade de que algo      xicos, a indicação das indumentárias deve
versatilidade e do baixo custo relativo, os   negativo (o acidente) possa ocorrer no        ser feita de acordo com cada ambiente e
pulverizadores costais manuais são os         ambiente de trabalho, seria uma das es-       situação de trabalho, representando um
equipamentos mais utilizados pelos pe-        tratégias que os trabalhadores desenvol-      fator complementar em um plano de ação
quenos agricultores. Os pulverizadores de     vem a fim de fazer frente ao problema do      preventivo de acidentes e doenças rela-
barras tratorizados também são muito          medo no trabalho sob condições de risco       cionados à exposição aos agrotóxicos den-
utilizados por pequenos e médios agricul-     e com alta incerteza. Outros mecanismos       tro de um programa de SST. Confira na
tores.                                        poderiam ser identificados configurando       Tabela 4, Relação entre operação, EPI e
   Adicionar itens de segurança aos equi-     uma espécie de “ideologia ocupacional         exposição. A recomendação genérica de
pamentos agrícolas acarreta em custos         defensiva”, a qual buscaria na negação do     EPIs sem informação quanto à determi-
extras ao agricultor. Entretanto, o custo     perigo, embora conhecido, a possibilida-      nação da necessidade, ocasião e forma
individual e social dos acidentes não pode    de de continuar realizando o trabalho, sem    correta de emprego, pode resultar em no-
ser menosprezado na tomada de decisão         desencadear uma ruptura das defesas psí-      vos riscos, desconforto e falsa sensação
sobre a obrigatoriedade de fabricação de      quicas construídas socialmente para su-       de segurança, provocando o descrédito
equipamentos cada vez mais seguros.           perar este medo.                              quanto à real necessidade desses equipa-
Gasta-se muito no desenvolvimento de             Há também o caso em que, impossibili-      mentos e gerando ainda maiores dificul-
novas moléculas e na regulamentação e         tado de alterar a situação de convívio com    dades para atividades de orientação.
avaliação dos riscos toxicológicos, mas       os agrotóxicos, o trabalhador desenvolve
não se observa o mesmo interesse, empe-       um sistema de negação ou desprezo so-           CAPACITAÇÃO
                                                                                              CAPACIT
                                                                                                   ACITAÇÃO
nho e rigor com relação às máquinas que       bre a existência do risco, inclusive agra-      A preparação de aplicadores habilitados
irão aplicá-las, que certamente também        vando sua exposição, como forma indire-       para a utilização de agrotóxicos indepen-

82 REVISTA PROTEÇÃO                                                                                                        SETEMBRO / 2012
de da sua vinculação à aplicação de pro-
dutos mais perigosos ou de uso restrito.
Mas, neste caso, esses profissionais não
                                               O caso de Palmital/SP
teriam atribuição específica e suas respon-    Estudo revela falhas que comprometem saúde dos trabalhadores
sabilidades seriam exatamente as mesmas
que as de qualquer outro usuário de agro-         Com sua economia agrícola baseada na     masculino, sendo que nove agricultores
tóxicos, apesar de estarem mais capaci-        produção mecanizada de grãos e no setor     têm mais de 60 anos de idade. De acordo
tados. Assim, nem se criaria uma reserva       sucroalcooleiro, Palmital/SP tem como pe-   com o item 31.8.3 da NR 31, “é vedada a
de mercado para estimular a formação           culiaridade a concentração de pequenos      manipulação de quaisquer agrotóxicos,
desse profissional. Nem o intuito de con-      produtores que ocupam área de 49,9 dos      adjuvantes e produtos afins por menores
trolar a ampla disseminação e o uso indis-     54,9 mil hectares do município. Neste es-   de 18 anos, maiores de 60 anos e por ges-
criminado dos produtos mais tóxicos se-        tudo de caso foi aplicada aleatoriamente    tantes”. A maioria dos entrevistados pos-
ria atingido.                                  entrevista direcionada a 30 agricultores    sui ensino fundamental completo e ape-
   A existência de aplicadores capacitados     do município e sócios da Coopermota (Co-    nas três possuem ensino superior. Dez
para o trabalho com agrotóxicos é muito        operativa dos Cafeicultores da Média So-    possuem propriedades com tamanho en-
importante. Afinal, contar com pessoas         rocabana de Cândido Mota), que possui       tre 10 e 30 hectares, confirmando a pre-
preparadas para lidar com esses produ-         cerca de 1.800 cooperados, sendo 70%        dominância de pequenos produtores ru-
tos é fundamental e o treinamento de apli-     pequenos produtores e 30% médios e          rais no município. Apenas quatro agricul-
cadores é essencial. No entanto, a habilita-   grandes produtores rurais.                  tores praticam a monocultura da cana-de-
ção vai além da capacitação, porque im-           Os dados foram obtidos por meio de       açúcar, sendo que os demais cultivam
plica profissionalização, com a respectiva     questionário com 40 perguntas simples e     duas ou mais lavouras. Milho é o produto
necessidade de investimentos na organi-        objetivas, com respostas diretas e de fá-   mais cultivado. Todos os entrevistados
zação de programas de formação, habilita-      cil entendimento. Foram analisados as-      praticam a agricultura há pelo menos uma
ção, reciclagem, fiscalização e controle       pectos como: escolaridade, faixa etária,    década, sendo que 19 entrevistados inici-
profissional e de toda uma estrutura para      tempo de profissão e principalmente as-     aram a prática antes de completar 18 anos
esse fim. Por isso, a vinculação com a res-    pectos relacionados ao comportamento        de idade, e alguns nasceram e viveram no
trição de uso dos agrotóxicos de maior         do trabalho com agrotóxicos. A pesquisa     meio agrícola.
risco é o que melhor justifica a necessi-      de campo foi realizada no período de 28
dade de um aplicador certificado como o        de agosto a 10 de outubro de 2011.            DADOS
profissional habilitado.                          Todos os entrevistados são do sexo         Dos 30 entrevistados, 11 possuem mais




SETEMBRO / 2012                                                                                                   REVISTA PROTEÇÃO 83
SEGURANÇA TOXICOLÓGICA
                                               cos, enquanto 12 (40%) utilizam o EPI de       zo de reentrada bem como o período de
                                               acordo com a atividade específica de apli-     carência. Quanto ao odor dos produtos,
                                               cação.                                         24 (80%) consideram muito incômodo,
                                                  A limpeza e a descontaminação do EPI        enquanto seis (20%) dizem não sentir in-
                                               são realizadas por 19 indivíduos (63%) e       cômodo. Dez pessoas (33%) relataram
                                               não realizadas por 11 (37%). Vários agri-      que sentem ou já sentiram algum tipo de
                                               cultores alegaram não usar o EPI por tra-      mal-estar durante ou após as aplicações
                                               balharem em tratores equipados com cabi-       e 20 pessoas (67%) afirmaram nunca ter
                                               nes e sistema de ar condicionado, ou em        sentido nada; sendo que somente três
                                               pulverizadores automotrizes dotados des-       agricultores (10%) admitiram ter se in-
                                               se sistema. No entanto, deve-se observar       toxicado pelo menos uma vez. Apenas um
                                               que a qualquer momento que este trabalha-      agricultor procurou assistência médica.
                                               dor tenha que sair da cabine irá deparar-se       Mais da metade dos agricultores (16)
                                               com o ambiente contaminado. Portanto,          relatam reaplicar as sobras dos produtos
                                               seria conveniente estar usando o EPI.          geralmente nas bordaduras das áreas que
                                                  Dez trabalhadores admitiram já ter so-      estão sendo tratadas e uma parcela de 12
                                               frido algum acidente de trabalho com           agricultores afirma que não há sobras,
de um equipamento de pulverização. Ape-        agrotóxicos, seja com o produto químico        sendo que a quantidade preparada é sem-
nas um possui somente o pulverizador           propriamente dito ou com os equipamen-         pre exata. Contudo dois agricultores, de
costal e outro não possui sequer um pul-       tos utilizados na aplicação. Cinco (16,67%)    maneira errada, deixam a calda que so-
verizador próprio. Quanto à realização de      afirmaram que não se sentem preparados         bra no pulverizador para aproveitá-la na
manutenção periódica nos equipamentos          e seguros para realizar a atividade de apli-   próxima aplicação. Três agricultores (10%)
de pulverização, 24 (40%) realizam, en-        cação de agrotóxicos.                          não fazem a leitura do receituário agro-
quanto seis (20%) não realizam.                                                               nômico, da bula e do rótulo da embalagem
   Quanto à orientação para realizar a apli-     EXPOSTOS                                     do agrotóxico antes de iniciar a aplicação,
cação dos agrotóxicos, 22 agricultores           Todos os entrevistados dizem estar ci-       sendo que 27 agricultores (90%) realizam.
seguem as orientações de um profissio-         entes sobre os riscos causados à saúde e       Eles afirmam, de modo geral, que o moti-
nal habilitado e oito não seguem nenhu-        ao meio ambiente que os agrotóxicos po-        vo da leitura é para maior conhecimento
ma orientação. Entre os entrevistados, 23      dem proporcionar. Pelo menos 19 pesso-         e orientação a respeito do produto, da do-
pessoas (76,76%) realizam planejamen-          as (63%) dizem tomar banho, trocar de          se, das recomendações do fabricante e do
to antes de iniciarem as atividades de apli-   roupa e providenciar a lavagem da vesti-       uso correto. Esta mesma porcentagem de
cação de agrotóxicos, enquanto que sete        menta contaminada logo após a operação         entrevistados diz saber o significado das
pessoas (23,33%) não realizam nenhum           e 11 pessoas (37%) afirmam que não fa-         cores das embalagens (faixas) e dos picto-
planejamento. Referente à participação         zem este procedimento de imediato (ape-        gramas nelas existentes.
em algum curso ou treinamento sobre uso        nas no final do dia de trabalho).                 Verificou-se que 28 agricultores (93%)
correto de EPI, 21 já participaram en-           Observou-se que 26 entrevistados (87%)       fazem uso somente de produtos registra-
quanto nove nunca participaram. No caso        usam somente a dose do produto reco-           dos no Ministério da Agricultura, Pecuá-
de curso ou treinamento para operação e        mendada e quatro (13%) não seguem as           ria e Abastecimento e de uso permitido
manutenção de pulverizadores, 18 dizem         recomendações descritas. Além disso, 24        no Estado; comercializado por empresas
já terem participado, enquanto 12 nunca        agricultores (80%) seguem as orientações       idôneas, com emissão de nota fiscal e re-
participaram.                                  de profissional habilitado para realizar a     ceituário agronômico. Porém, 11 agricul-
   Os Equipamentos de Proteção Indivi-         mistura dos produtos e respeitam o pra-        tores (37%) afirmam já ter feito uso de
dual são utilizados por 18 pessoas e não       zo de reentrada na área tratada e o perío-     produtos de procedência desconhecida ou
são utilizados por 12 pessoas. Para 26         do de carência, enquanto que seis pesso-       duvidosa, sem a emissão de nota fiscal e
pessoas (87%) o uso é desconfortável,          as (20%) realizam a mistura de produtos        do receituário agronômico.
sendo que apenas quatro pessoas (13%)          por conta própria e não respeitam o pra-
acham o seu uso confortável. Nos questio-                                                       CONSIDERAÇÕES
nários, 23 (77%) dizem saber utilizar os                                                        O simples fornecimento dos EPIs não
EPIs e 7 (23%) afirmam que não sabem                                                          garante a proteção da saúde do trabalha-
utilizá-los. Sendo que 27 indivíduos (90%)                                                    dor e nem evita as contaminações. Incor-
consideram o uso realmente necessário e                                                       retamente utilizados, os EPIs podem com-
sua aquisição relativamente fácil, sendo                                                      prometer ainda mais a Segurança do Tra-
seu custo-benefício bom. Contudo, três                                                        balhador. O desenvolvimento da percep-
indivíduos (10%) consideram o uso desne-                                                      ção do risco aliado a um conjunto de in-
cessário e a aquisição não muito fácil (pela                                                  formações e regras básicas de segurança
dificuldade de encontrar tamanhos maio-                                                       são as ferramentas mais importantes para
res). Na entrevista, 18 trabalhadores                                                         evitar a exposição e assegurar o sucesso
(60%) usam sempre o mesmo EPI para                                                            das medidas individuais de proteção à
todas as atividades com o uso de agrotóxi-                                                    saúde do trabalhador.

84 REVISTA PROTEÇÃO                                                                                                          SETEMBRO / 2012
do de forma criteriosa à legislação vigen-
   O uso correto dos EPIs é um tema que      te acerca dos agrotóxicos para que real-
exige constante atualização dos profissi-    mente todos possam se beneficiar, com
onais que atuam na área de ciências agrá-    segurança toxicológica e ambiental.
rias através de treinamentos e do acesso        De acordo com as informações cedidas
a informações atualizadas, proporcionan-     pela Coopermota, os agricultores mais
do a adoção de medidas cada vez mais e-      antigos apresentam relutância ao uso de
conômicas e eficazes para proteger a saú-    novas tecnologias, porém o departamen-
de dos trabalhadores, além de evitar pro-    to técnico desempenha um importante
blemas trabalhistas. O profissional de SST   papel na sua orientação. Em Palmital, há
tem papel fundamental nestas ações. De-      a peculiaridade de a maioria dos trabalha-
ve desenvolver, elaborar e executar pro-     dores rurais serem pequenos ou médios
jetos e programas que visem a redução,       agricultores, trabalhando geralmente so-
eliminação ou controle dos agentes quími-    zinhos ou em família. Por isso é necessá-
cos presentes no meio ambiente e nos lo-     ria uma ação de conscientização para a-
cais de trabalho, prevenindo os acidentes.   tender a NR 31 para sua própria seguran-
É de fundamental importância que o en-       ça e saúde.
genheiro de Segurança do Trabalho e o           Por fim, sugere-se três pontos conve-
engenheiro agrônomo atuem conjunta-          nientes e estratégicos na tentativa de se
mente para a elaboração de planos de         conseguir melhores resultados na recep-
ação eficazes a fim de evitar os problemas   ção dos agricultores ao entendimento do
com os agrotóxicos.                          tema. O primeiro consiste na mobilização
   O receituário agronômico deveria ser      do Sindicado Patronal Rural, Sindicato
reconsiderado, deixando de ser apenas        dos Trabalhadores Rurais, Secretaria de
um instrumento de comercialização de         Defesa Agropecuária do município, esco-
produtos agrotóxicos. A emissão desse        la de cursos técnicos (Etec Professor Má-
documento deveria ser feita apenas a tra-    rio Antônio Verza – curso de Agronegó-
balhadores rurais capacitados a realizar     cios), Coopermota e demais empresas do
as aplicações, e as vendas de balcão po-     setor agrícola para desenvolvimento de
deriam ser banidas. Conforme estabelece      um estudo mais aprofundado do tema, e
o código de ética profissional, o agrônomo   em seguida criar uma estratégia de divul-
ao receitar o agrotóxico deveria analisar    gação, conscientização e orientação na co-
o local de aplicação e as condições do e-    munidade rural. O segundo ponto é pro-
quipamento e, principalmente, ter certe-     mover um extensionismo rural, divulgan-
za acerca da capacitação do trabalhador      do conceitos de prevenção de acidentes
rural para o desenvolvimento da ativida-     e controle de riscos no trabalho com agro-
de. No entanto, percebe-se que infeliz-      tóxicos, abordando questões de seguran-
mente muitas empresas privadas ofere-        ça do trabalho rural. E, finalmente, o ter-
cem assistência técnica com caráter mais     ceiro é aprimorar os cursos e treinamen-
comercial do que educativo. Deste modo,      tos, para que não enfoquem apenas o uso
os profissionais abrem mão da ética em       correto e seguro dos EPIs e dos agrotóxi-
troca da estabilidade de emprego.            cos, mas que desenvolvam a percepção
                                             de risco dos agricultores.
  APONTAMENTOS
  APONTAMENTOS
  São necessárias ações governamentais
e das entidades de classe dos profissio-
nais para reverter esta situação. Atenden-

SETEMBRO / 2012                                                                            REVISTA PROTEÇÃO 85

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013Agroecologia
 
Lm consea - transgenicos - 8-7-13p (2)
Lm    consea - transgenicos - 8-7-13p (2)Lm    consea - transgenicos - 8-7-13p (2)
Lm consea - transgenicos - 8-7-13p (2)João Siqueira da Mata
 
Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...
Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...
Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...Oxya Agro e Biociências
 
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997ProjetoBr
 
Citros - Manejo integrado de pragas na UFPR
Citros - Manejo integrado de pragas na UFPRCitros - Manejo integrado de pragas na UFPR
Citros - Manejo integrado de pragas na UFPRCarlos Alberto Monteiro
 
Manual de boas práticas agrícolas
Manual de boas práticas agrícolasManual de boas práticas agrícolas
Manual de boas práticas agrícolasRobson Peixoto
 
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.Feab Brasil
 
Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012
Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012
Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012Fonte Comunicação
 
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicosJoão Siqueira da Mata
 
Apostila entomologia
Apostila entomologiaApostila entomologia
Apostila entomologiaJean Marcel
 

Mais procurados (18)

Ppoint.Ogm.Bbei
Ppoint.Ogm.BbeiPpoint.Ogm.Bbei
Ppoint.Ogm.Bbei
 
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013
 
Lm consea - transgenicos - 8-7-13p (2)
Lm    consea - transgenicos - 8-7-13p (2)Lm    consea - transgenicos - 8-7-13p (2)
Lm consea - transgenicos - 8-7-13p (2)
 
Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...
Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...
Dr. Marcus Coelho - Indisponibilidade de produtos registrados para controle d...
 
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: 1988-1997
 
Citros - Manejo integrado de pragas na UFPR
Citros - Manejo integrado de pragas na UFPRCitros - Manejo integrado de pragas na UFPR
Citros - Manejo integrado de pragas na UFPR
 
Manual de boas práticas agrícolas
Manual de boas práticas agrícolasManual de boas práticas agrícolas
Manual de boas práticas agrícolas
 
Segurança Alimentar
Segurança AlimentarSegurança Alimentar
Segurança Alimentar
 
Engenharia Agronômica
Engenharia AgronômicaEngenharia Agronômica
Engenharia Agronômica
 
A quarentena e a fitossanidade 2008
A quarentena e a fitossanidade 2008A quarentena e a fitossanidade 2008
A quarentena e a fitossanidade 2008
 
Livrobiocontrole
LivrobiocontroleLivrobiocontrole
Livrobiocontrole
 
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
 
Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012
Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012
Croda: Mercado, Tendências e Desafios 2012
 
Mod vi fitofarmalogogia
Mod vi fitofarmalogogiaMod vi fitofarmalogogia
Mod vi fitofarmalogogia
 
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
 
Aula 9.2
Aula 9.2Aula 9.2
Aula 9.2
 
Paraiso dos agrotóxicos
Paraiso dos agrotóxicosParaiso dos agrotóxicos
Paraiso dos agrotóxicos
 
Apostila entomologia
Apostila entomologiaApostila entomologia
Apostila entomologia
 

Semelhante a SEGURANÇA E USO DE AGROTÓXICOS

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORES
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORESSEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORES
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORESRocha Neto
 
417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx
417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx
417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptxSidney31113
 
Nota tecnica mpt
Nota tecnica mptNota tecnica mpt
Nota tecnica mptPaulo Souza
 
Agrotóxicos e consumo humano
Agrotóxicos e consumo humanoAgrotóxicos e consumo humano
Agrotóxicos e consumo humanoVanlisaPinheiro
 
Enfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos Depois
Enfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos DepoisEnfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos Depois
Enfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos DepoisOxya Agro e Biociências
 
Treinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsx
Treinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsxTreinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsx
Treinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsxAlexandre Pacheco
 
Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...
Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...
Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...Oxya Agro e Biociências
 
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12João Siqueira da Mata
 
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.pptApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.pptQUIMICAJAURU
 
Se é pro bem, que mal tem?
Se é pro bem, que mal tem?Se é pro bem, que mal tem?
Se é pro bem, que mal tem?Matheus Roscoe
 
toxicologia texto 3 2018.pdf
toxicologia texto 3 2018.pdftoxicologia texto 3 2018.pdf
toxicologia texto 3 2018.pdfMarciaDelaneSilva
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoAgricultura Sao Paulo
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoAgricultura Sao Paulo
 
Se é para o bem, que mal tem?
Se é para o bem, que mal tem?Se é para o bem, que mal tem?
Se é para o bem, que mal tem?Matheus Roscoe
 
Cartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_webCartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_webMaria Da Penha Silva
 

Semelhante a SEGURANÇA E USO DE AGROTÓXICOS (20)

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORES
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORESSEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORES
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA PRODUÇÃO DE PLANTAS E FLORES
 
Agrotoxicos
AgrotoxicosAgrotoxicos
Agrotoxicos
 
Contiero_2018.pdf
Contiero_2018.pdfContiero_2018.pdf
Contiero_2018.pdf
 
Agrotóxicos e as suas consequências
Agrotóxicos e as suas consequênciasAgrotóxicos e as suas consequências
Agrotóxicos e as suas consequências
 
Ciencia hoje-Agrotoxicos
Ciencia hoje-AgrotoxicosCiencia hoje-Agrotoxicos
Ciencia hoje-Agrotoxicos
 
417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx
417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx
417566683-treinamento-nr-31-pptx.pptx
 
Nota tecnica mpt
Nota tecnica mptNota tecnica mpt
Nota tecnica mpt
 
Agrotóxicos e consumo humano
Agrotóxicos e consumo humanoAgrotóxicos e consumo humano
Agrotóxicos e consumo humano
 
Enfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos Depois
Enfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos DepoisEnfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos Depois
Enfisa 2014 - Lei Federal de Agrotóxicos, 25 Anos Depois
 
Treinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsx
Treinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsxTreinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsx
Treinamento de Agrotoxicos Adjuvantes e Produtos Afins.ppsx
 
Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...
Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...
Dra. Mônica Andrade - Assistência Técnica e Extensão Rural - impacto sobre o ...
 
Assuntos de Interesse - Julho 2019
Assuntos de Interesse - Julho 2019Assuntos de Interesse - Julho 2019
Assuntos de Interesse - Julho 2019
 
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
 
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.pptApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
 
Se é pro bem, que mal tem?
Se é pro bem, que mal tem?Se é pro bem, que mal tem?
Se é pro bem, que mal tem?
 
toxicologia texto 3 2018.pdf
toxicologia texto 3 2018.pdftoxicologia texto 3 2018.pdf
toxicologia texto 3 2018.pdf
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
 
Se é para o bem, que mal tem?
Se é para o bem, que mal tem?Se é para o bem, que mal tem?
Se é para o bem, que mal tem?
 
Cartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_webCartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_web
 

SEGURANÇA E USO DE AGROTÓXICOS

  • 1. SEGURANÇA TOXICOLÓGICA Aprimorando a percepção Medidas de engenharia, coletivas e individuais podem minimizar riscos Helton César Martins Montechesi e Edson Luis Bassetto A manipulação e o uso de agrotóxicos e internacional, o que exige uma severa 11 de janeiro de 1990, e as alterações estão entre os trabalhos rurais mais fre- adequação das normas gerais aceitas in- introduzidas pela Lei nº 9.974, de 6 de quentes, no entanto, as orientações quan- ternacionalmente e no emprego de tecno- junho de 2000, regulamentada pelo De- to à escolha do produto e a dose a ser uti- logias de ponta e mão de obra qualificada. creto n° 4.074 de 4 de janeiro de 2002. lizada muitas vezes são obtidas de forma Atender à legislação vigente acerca dos Deve-se observar, além das disposições errônea. agrotóxicos é condição essencial para que legais que regulamentam o uso de agro- A adoção de novas tecnologias no meio a sociedade possa se beneficiar, com se- tóxicos no país, as Normas Regulamenta- de produção rural e o aumento das mo- gurança toxicológica, ambiental e agronô- doras, particularmente a NR 31, sobre noculturas resultou em um elevado con- mica. Segurança e Saúde no Trabalho na Agri- sumo de agrotóxicos e também em um au- cultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração mento considerável do número de intoxi- LEGISLAÇÃO Florestal e Aquicultura, e a NR 6, sobre cações de trabalhadores rurais, relaciona- Por serem produtos potencialmente Equipamentos de Proteção Individual; do a problemas como baixa escolaridade perigosos à saúde humana e ao ambien- que sem dúvida, são as NRs que mais im- e falta de conhecimento técnico sobre os te, os agrotóxicos precisaram de uma le- plicam na atividade rural com aplicação produtos, resultando em não uso de Equi- gislação que disciplinasse sua produção, de agrotóxicos. pamentos de Proteção Individual. Pode- comércio, transporte e uso. se considerar que os casos de intoxicação O Decreto nº 24.114 de 12 de abril de RECEITUÁRIO por agrotóxicos são um problema de or- 1934 foi a primeira legislação sobre pro- O principal objetivo do receituário agro- dem socioeconômica e origem profissional. dutos fitossanitários promulgada no Bra- nômico é orientar o uso racional dos O Brasil ocupa um relevante papel na sil, inalterada até a década de 60. Somen- agrotóxicos, sendo que o diagnóstico é produção de alimentos em nível nacional te em 1989, o país começou a cumprir efe- pré-requisito essencial para a prescrição tivamente as exigências internas e inter- da receita. A recomendação para utilizar Helton César Martins Montechesi - Engenheiro Agrônomo pela UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná)e nacionais com relação à qualidade dos o agrotóxico foi conferida pela sociedade Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) produtos agrícolas com a promulgação da ao engenheiro agrônomo e aos profissio- heltonmontechesi@hotmail.com Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989, re- nais legalmente habilitados que por pre- Edson LuisBasseto - Professor da UTFPR, Mestre em Engenharia, Engenheiro Eletricista e de Segurança do gulamentada pelo Decreto n° 98.816, de sunção legal detêm os conhecimentos Trabalho. bassetto@utfpr.edu.br necessários para fazer a análise e decidir HAMILTON HUMBERTO RAMOS 74 REVISTA PROTEÇÃO SETEMBRO / 2012
  • 2. SEGURANÇA TOXICOLÓGICA e citros (3%). O Mato Grosso é o estado líder em vendas (20%), seguido por São Paulo (15%), Paraná (14%), Rio Grande do Sul (11%), Goiás (10%) e Minas Ge- rais (9%). A venda deste insumo agrícola no Brasil, em 2009, foi de R$ 12,9 bilhões. Segundo dados do Sindag, o país aparece em 2º lugar no ranking dos 10 principais pela necessidade do produto. alvo não os organismos que trazem danos, países consumidores, que representam O conteúdo da receita agronômica está mais as áreas, plantas ou animais onde 70% do mercado mundial de agrotóxicos. previsto no Decreto Federal n° 4.074/ eles se encontram. Mesmo assim a efici- Quanto à inovação e o desenvolvimen- 2002, artigo 66. Embora possa ser consi- ência das aplicações ainda é muito ruim, to científico-tecnológico, para que um derado um avanço por evidenciar a im- e a maior parte do produto não atinge o novo produto seja lançado no mercado são portância da responsabilidade profissio- alvo, perdendo-se para o ambiente que necessários aproximadamente 12 anos de nal na indicação de agrotóxicos, o recei- não se deseja contaminar. pesquisa. A evolução da pesquisa e da ava- tuário adquiriu um caráter quase que ex- A aplicação de agrotóxicos é uma ciên- liação toxicológica dos agrotóxicos tem clusivamente de instrumento para vendas cia multidisciplinar, que se caracteriza por levado à produção de novas moléculas de agrotóxicos, e não de orientação fitos- um considerável desperdício de energia com toxicidade cada vez menor e alta efi- sanitária, como se pretendia quando foi e de produto químico, constituindo-se em ciência em baixas doses, o que reduz a inicialmente proposto. Além disso, não sério risco de acidente para o agricultor e possibilidade de intoxicações. Comparan- prevê qualquer especificação em relação para o meio ambiente. do-se os defensivos atuais com os utiliza- à capacitação do usuário, desconsideran- dos na década de 60, houve uma redução do as condições técnicas para o uso do MERCADO de cerca de 90% na dose; 160 vezes na produto receitado. Na forma em que se en- Atualmente existem mais de 80 fabri- toxicidade aguda, além do surgimento de contra, ele permite a prescrição de qual- cantes de agrotóxicos no Brasil. Aproxi- novos mecanismos de ação e menor im- quer produto, inclusive os de alta periculo- madamente 673 produtos estão no mer- pacto ambiental. Para que um defensivo sidade, para qualquer pessoa, concentran- cado (374 genéricos e 299 especialida- seja utilizado pelo agricultor é necessário do toda a responsabilidade no profissio- des); 56% são moderadamente ou pouco que seja registrado. Trata-se de um rigo- nal que emite a receita e no usuário, pela tóxicos (classe III e IV, faixa azul e verde, roso processo, envolvendo avaliação dos utilização. Logicamente, há necessidade respectivamente). Ministérios da Agricultura, Pecuária e A- de se rediscutir a finalidade e a aplicação Em 2009, foram comercializadas 725 bastecimento (MAPA), Saúde (Anvisa) e desse instrumento. mil toneladas de produtos formulados. As Meio Ambiente (Ibama). Durante a pulverização, o risco de ex- principais classes são os herbicidas com posição do trabalhador é bastante depen- 59%, seguido por inseticidas e acaricidas CARACTERÍSTICAS dente da tecnologia de aplicação. O ideal com 21%, fungicidas com 12% e outras Devido à grande diversidade de produ- seria atingir, com a quantidade necessá- classes com 8%. A cultura que mais utili- tos é importante conhecer a classificação ria, apenas os organismos que se deseja za agrotóxicos é a soja (48%), seguida dos agrotóxicos quanto à sua ação e ao controlar, mas não há tecnologia que per- pelo milho (11%), cana (8%), algodão grupo químico a que pertencem, sendo mita tal precisão. Assim, se toma como (7%), hortifrutiflores (4,3%), café (4%) útil tal conhecimento para o diagnóstico 76 REVISTA PROTEÇÃO SETEMBRO / 2012
  • 3. SEGURANÇA TOXICOLÓGICA tamento técnico no que se refere aos as- pectos de segurança. Sob estas condições, as medidas indivi- duais de proteção, como as práticas de trabalho e o uso de EPIs, ganham parti- cular importância, mesmo sendo de difí- cil aplicação e controle devido às carac- terísticas sociais, culturais e de relações e organização do trabalho. Justamente pe- la dificuldade na aplicação dessas medidas individuais, as medidas coletivas de con- trole não podem ser colocadas em segun- do plano ou ser desconsideradas, como vem ocorrendo na atividade agrícola. EXPOSIÇÃO Por meio da distribuição percentual dos das intoxicações e a instituição de trata- dições ergonômicas dos postos de traba- agrotóxicos registrados no Brasil, em fun- mento específico. Os agrotóxicos mais co- lho e outras medidas, no ambiente de pro- ção da DL50 da formulação nas classes muns são divididos em inseticidas, fungi- dução rural, geralmente as atividades de toxicológicas, é possível observar que o cidas e herbicidas. São classificados tam- trabalho se dão a céu aberto, o que não grupo que apresenta maior risco são os bém pelo seu poder tóxico, expresso em permite o controle total das interferênci- inseticidas, com maior percentagem nas termos do valor da Dose Letal (DL50) por as climáticas no ambiente de trabalho, li- classes I e II. De um modo geral, quase a via oral, representada por miligramas do mitando e dificultando a proposição de metade dos produtos estão inseridos na produto tóxico por quilo de peso vivo, ne- medidas de engenharia para o controle di- classe III (47,3%). Estima-se que sejam cessários para matar 50% de animais-tes- reto sobre o ambiente de trabalho. 15 milhões de pessoas expostas a agrotó- tes. Por determinação legal todos os pro- Além disso, a aplicação de agrotóxicos xicos e que ocorram de 150 a 200 mil in- dutos devem apresentar nos rótulos uma apresenta uma particularidade muito im- toxicações agudas por ano. faixa colorida indicativa de sua classe portante: é provavelmente a única ativi- A exposição pode ser definida como o toxicológica. Observe as cores e doses le- dade produtiva em que a contaminação simples contato do produto com qualquer tais em cada classe na Tabela 1, Classifi- do ambiente de trabalho é intencional e, parte do organismo humano, sendo as vias cação toxicológica e cor dos rótulos. mais do que isso, é o propósito da ativi- de exposição mais comuns: ocular, respi- A atividade de aplicação de agrotóxicos dade. Normalmente, as contaminações de ratória, dérmica e oral. A exposição dire- no ambiente agrícola é peculiar: diferen- ambientes de trabalho são indesejáveis e ta ocorre quando o produto entra em con- temente de uma unidade de produção fa- devem ser evitadas e controladas. Mas tato direto com a pele, olhos, boca ou na- bril, em que o ambiente de trabalho pode como proceder quando a contaminação é riz dos trabalhadores. Já a exposição in- ser influenciado por técnicas de controle a finalidade da atividade? É esta contra- direta ocorre quando as pessoas que não de ventilação, temperatura, umidade, ilu- dição que faz da utilização dos agrotóxicos estão aplicando ou manuseando os agro- minação, adequação arquitetônica, con- uma atividade de alto risco e de difícil tra- tóxicos entram em contato com plantas, 78 REVISTA PROTEÇÃO SETEMBRO / 2012
  • 4. SEGURANÇA TOXICOLÓGICA alimentos, roupas ou qualquer outro obje- algumas horas após a exposição excessi- os fatores biológicos relacionados ao pró- to contaminado. va, por curto período, a produtos extrema- prio indivíduo podemos citar a idade, o De acordo com a NR 31, o empregador mente ou altamente tóxicos, podendo sexo, o peso, as características genéticas, rural ou equiparado deve proporcionar ocorrer de forma leve, moderada ou gra- o estado de saúde, de nutrição e as condi- capacitação sobre prevenção de aciden- ve, dependendo da quantidade absorvida. ções metabólicas (esforço físico). As defi- tes com produtos fitossanitários a todos Já a intoxicação crônica ocorre por expo- ciências nutricionais como as protéicas, os trabalhadores expostos diretamente. O sição pequena ou moderada a produtos por exemplo, potencializam os efeitos tó- programa deve ter carga horária mínima tóxicos ou a múltiplos produtos, em que xicos de vários agrotóxicos e a desidrata- de vinte horas, distribuídas em no máxi- o surgimento dos sinais e sintomas são ção pode aumentar a susceptibilidade à mo oito horas diárias, durante o expedien- tardios, após meses ou anos, acarretando intoxicação por inibidores de colineste- te de trabalho, com conteúdo programá- danos irreversíveis. Veja a Tabela 2, Prin- rases. tico definido. cipais sinais e sintomas agudos e crôni- A formulação, concentração, equipa- cos. mentos de aplicação, métodos de traba- EFEITOS lho, medidas de segurança, proteção e A intoxicação por agrotóxicos é perce- FATORES higiene adotadas, condições ambientais e bida por meio das circunstâncias profis- A segurança no trabalho com agrotó- comportamento da substância no ambi- sionais, do suicídio e das circunstâncias xicos é avaliada por meio da estimativa ente são alguns dos diversos fatores que acidentais, respectivamente. O Ministério do risco de intoxicação. Alguns fatores interferem na exposição potencial. Há, da Saúde calcula que, para cada notifica- que influenciam são: duração da exposi- portanto, condições que interferem na ção de intoxicação por agrotóxico, há cer- ção, intensidade do vento, atitude do tra- exposição que extrapolam a ação direta ca de 50 casos não notificados. De acor- balhador, frequência das exposições, me- e, às vezes, fogem à vontade e ao contro- do com a OMS (Organização Mundial de didas de segurança de proteção e de higi- le do aplicador (vento, tipo de terreno, Saúde), somente um em cada seis aciden- ene adotadas, além da toxidade do agrotó- dinâmica do trabalho, etc.). tes são oficialmente registrados e 70% das xico. O risco é definido principalmente em Deve-se considerar ainda que a eficiên- intoxicações ocorrem em países subde- função de dois fatores: toxicidade e grau cia das aplicações é muito ruim e a maior senvolvidos, sendo que 70% das intoxi- de exposição ocupacional. O grau de ex- parte do produto não atinge o alvo, sen- cações agudas são causadas pelos inseti- posição se dá em função de duas outras do perdida para o ambiente. Raramente a cidas organofosforados. variáveis quantitativas: a concentração do eficiência de coleta do agrotóxico ultra- De todas as doenças profissionais noti- agrotóxico e o tempo de exposição. Sa- passa 50%, ou seja, pelo menos metade ficadas, o envenenamento por produtos bendo-se que não é possível ao usuário do agrotóxico aplicado estará contami- químicos, principalmente chumbo e pesti- alterar a toxicidade do produto, a única nando o ambiente em que se encontra o cidas, representam 15% de acordo com maneira concreta de reduzir o risco é a aplicador no momento da aplicação, pro- pesquisa realizada pela OPAS (Organiza- diminuição da exposição. O controle de piciando grande potencial de exposição. ção Pan-Americana de Saúde) em 12 pa- riscos no emprego de substâncias quími- Assim, há fatores determinantes da ex- íses da América Latina e Caribe. Os agro- cas procura trabalhar sobre esses dois posição que nem sempre podem ser to- tóxicos geralmente têm ação deletéria so- fatores. Diminuindo a toxicidade ou a ex- talmente controlados. Portanto, o con- bre a saúde humana, provocando diver- posição, pode-se diminuir o risco. Elimi- trole da exposição deve ser prioritaria- sos agravos. As manifestações podem não nando um desses fatores, pode-se alcan- mente exercido no ambiente em que o- surgir de imediato, apresentando geral- çar o seu controle total. corre o trabalho e não sobre o indivíduo mente sintomas não específicos presen- Há fatores presentes no ambiente de exposto. tes em diversas patologias. trabalho ou inerentes ao próprio indiví- Na intoxicação aguda, os sinais e sinto- duo exposto que podem influenciar na to- CONTROLE mas são nítidos e objetivos, aparecendo xicidade de um produto químico. Entre Na aplicação das medidas de controle, três níveis de intervenção são propostos para minimizar as exposições: na fonte de emissão do contaminante (age diretamen- te no processo de produção e nas fontes de risco existentes no ambiente de traba- lho); na trajetória do agente entre a fonte e o trabalhador (limitada pela natureza do trabalho com agrotóxicos, consiste no uso de barreiras para eliminar o contato en- tre o agente e o indivíduo); e no indivíduo sujeito ao risco (agem sobre o trabalha- dor exposto a um risco não totalmente controlado pelos outros dois níveis). Con- fira a Tabela 3, Métodos de controle. Le- vando-se em consideração a priorização das medidas coletivas sobre as indivi- 80 REVISTA PROTEÇÃO SETEMBRO / 2012
  • 5. SEGURANÇA TOXICOLÓGICA ta de demonstrar certo domínio sobre a situação. Em uma visão parcial e simplista, é comum responsabilizar o indivíduo fren- te ao controle dos riscos, especialmente tendo como causa dos problemas, a falta de informação por parte do usuário. Tal entendimento, não raro, leva à proposi- ção de medidas de intervenção que se re- sumem à capacitação individual e ao trei- namento para as tarefas, sem questionar o conteúdo do trabalho e as condições de segurança oferecidas nos ambientes. As- sim, a análise da percepção de risco dos trabalhadores constitui ferramenta fun- damental para os que pretendem cons- truir uma atividade educativa realmente transformadora junto a esse público. EPIs O trabalhador estará exposto a uma duais, as ações sobre esses três níveis de têm grande responsabilidade pelos pro- grande diversidade de substâncias ao lon- intervenção sugeridos devem dar-se, prin- blemas de contaminação ambiental e de go de toda a sua vida laborativa relaciona- cipalmente, sobre a fonte e a trajetória exposição de trabalhadores. da ao uso de agrotóxicos. Como conside- do contaminante. As medidas de contro- rar o dimensionamento do grau de prote- le individual devem ser consideradas, PERCEPÇÃO ção necessário a ser oferecido pelos EPIs? sempre na perspectiva de complementar, O reconhecimento dos riscos potenci- Estes devem defender o trabalhador da e não de substituir, as medidas coleti- ais à saúde por parte de quem manipula exposição aos produtos, servindo para vas. agrotóxico é o ponto inicial que motiva a proteger as principais rotas de entrada Diferentes sistemas de aplicação deter- atitude de controle individual. A percep- dessas substâncias no organismo, evitan- minam diferentes condições de exposição. ção de risco não depende exclusivamente do a contaminação e as consequentes in- É necessário adotar medidas de engenha- do indivíduo, ela faz parte do desenvolvi- toxicações. ria cabíveis ao ambiente de trabalho ru- mento social; o que limita o controle dos Sem dúvida, o uso de materiais imper- ral, para tornar os sistemas de aplicação riscos em nível individual. Importantes fa- meáveis, como borrachas naturais ou sin- mais seguros. Equipamentos mais efici- tores de ordem cultural, social, econômi- téticas e polímeros diversos, tem aumen- entes estão sendo desenvolvidos por meio ca e psicológica influenciam a percepção tado o grau de proteção para trabalhado- de pesquisas. Porém, por motivos de or- dos indivíduos aos riscos a que estão sub- res expostos a substâncias químicas peri- dem técnica e econômica, são poucas as metidos em suas rotinas de trabalho. gosas. inovações tecnológicas que de fato são O “senso de imunidade subjetiva”, ou a Nas atividades de trabalho com agrotó- utilizadas pelos agricultores. Em razão da minimização da probabilidade de que algo xicos, a indicação das indumentárias deve versatilidade e do baixo custo relativo, os negativo (o acidente) possa ocorrer no ser feita de acordo com cada ambiente e pulverizadores costais manuais são os ambiente de trabalho, seria uma das es- situação de trabalho, representando um equipamentos mais utilizados pelos pe- tratégias que os trabalhadores desenvol- fator complementar em um plano de ação quenos agricultores. Os pulverizadores de vem a fim de fazer frente ao problema do preventivo de acidentes e doenças rela- barras tratorizados também são muito medo no trabalho sob condições de risco cionados à exposição aos agrotóxicos den- utilizados por pequenos e médios agricul- e com alta incerteza. Outros mecanismos tro de um programa de SST. Confira na tores. poderiam ser identificados configurando Tabela 4, Relação entre operação, EPI e Adicionar itens de segurança aos equi- uma espécie de “ideologia ocupacional exposição. A recomendação genérica de pamentos agrícolas acarreta em custos defensiva”, a qual buscaria na negação do EPIs sem informação quanto à determi- extras ao agricultor. Entretanto, o custo perigo, embora conhecido, a possibilida- nação da necessidade, ocasião e forma individual e social dos acidentes não pode de de continuar realizando o trabalho, sem correta de emprego, pode resultar em no- ser menosprezado na tomada de decisão desencadear uma ruptura das defesas psí- vos riscos, desconforto e falsa sensação sobre a obrigatoriedade de fabricação de quicas construídas socialmente para su- de segurança, provocando o descrédito equipamentos cada vez mais seguros. perar este medo. quanto à real necessidade desses equipa- Gasta-se muito no desenvolvimento de Há também o caso em que, impossibili- mentos e gerando ainda maiores dificul- novas moléculas e na regulamentação e tado de alterar a situação de convívio com dades para atividades de orientação. avaliação dos riscos toxicológicos, mas os agrotóxicos, o trabalhador desenvolve não se observa o mesmo interesse, empe- um sistema de negação ou desprezo so- CAPACITAÇÃO CAPACIT ACITAÇÃO nho e rigor com relação às máquinas que bre a existência do risco, inclusive agra- A preparação de aplicadores habilitados irão aplicá-las, que certamente também vando sua exposição, como forma indire- para a utilização de agrotóxicos indepen- 82 REVISTA PROTEÇÃO SETEMBRO / 2012
  • 6. de da sua vinculação à aplicação de pro- dutos mais perigosos ou de uso restrito. Mas, neste caso, esses profissionais não O caso de Palmital/SP teriam atribuição específica e suas respon- Estudo revela falhas que comprometem saúde dos trabalhadores sabilidades seriam exatamente as mesmas que as de qualquer outro usuário de agro- Com sua economia agrícola baseada na masculino, sendo que nove agricultores tóxicos, apesar de estarem mais capaci- produção mecanizada de grãos e no setor têm mais de 60 anos de idade. De acordo tados. Assim, nem se criaria uma reserva sucroalcooleiro, Palmital/SP tem como pe- com o item 31.8.3 da NR 31, “é vedada a de mercado para estimular a formação culiaridade a concentração de pequenos manipulação de quaisquer agrotóxicos, desse profissional. Nem o intuito de con- produtores que ocupam área de 49,9 dos adjuvantes e produtos afins por menores trolar a ampla disseminação e o uso indis- 54,9 mil hectares do município. Neste es- de 18 anos, maiores de 60 anos e por ges- criminado dos produtos mais tóxicos se- tudo de caso foi aplicada aleatoriamente tantes”. A maioria dos entrevistados pos- ria atingido. entrevista direcionada a 30 agricultores sui ensino fundamental completo e ape- A existência de aplicadores capacitados do município e sócios da Coopermota (Co- nas três possuem ensino superior. Dez para o trabalho com agrotóxicos é muito operativa dos Cafeicultores da Média So- possuem propriedades com tamanho en- importante. Afinal, contar com pessoas rocabana de Cândido Mota), que possui tre 10 e 30 hectares, confirmando a pre- preparadas para lidar com esses produ- cerca de 1.800 cooperados, sendo 70% dominância de pequenos produtores ru- tos é fundamental e o treinamento de apli- pequenos produtores e 30% médios e rais no município. Apenas quatro agricul- cadores é essencial. No entanto, a habilita- grandes produtores rurais. tores praticam a monocultura da cana-de- ção vai além da capacitação, porque im- Os dados foram obtidos por meio de açúcar, sendo que os demais cultivam plica profissionalização, com a respectiva questionário com 40 perguntas simples e duas ou mais lavouras. Milho é o produto necessidade de investimentos na organi- objetivas, com respostas diretas e de fá- mais cultivado. Todos os entrevistados zação de programas de formação, habilita- cil entendimento. Foram analisados as- praticam a agricultura há pelo menos uma ção, reciclagem, fiscalização e controle pectos como: escolaridade, faixa etária, década, sendo que 19 entrevistados inici- profissional e de toda uma estrutura para tempo de profissão e principalmente as- aram a prática antes de completar 18 anos esse fim. Por isso, a vinculação com a res- pectos relacionados ao comportamento de idade, e alguns nasceram e viveram no trição de uso dos agrotóxicos de maior do trabalho com agrotóxicos. A pesquisa meio agrícola. risco é o que melhor justifica a necessi- de campo foi realizada no período de 28 dade de um aplicador certificado como o de agosto a 10 de outubro de 2011. DADOS profissional habilitado. Todos os entrevistados são do sexo Dos 30 entrevistados, 11 possuem mais SETEMBRO / 2012 REVISTA PROTEÇÃO 83
  • 7. SEGURANÇA TOXICOLÓGICA cos, enquanto 12 (40%) utilizam o EPI de zo de reentrada bem como o período de acordo com a atividade específica de apli- carência. Quanto ao odor dos produtos, cação. 24 (80%) consideram muito incômodo, A limpeza e a descontaminação do EPI enquanto seis (20%) dizem não sentir in- são realizadas por 19 indivíduos (63%) e cômodo. Dez pessoas (33%) relataram não realizadas por 11 (37%). Vários agri- que sentem ou já sentiram algum tipo de cultores alegaram não usar o EPI por tra- mal-estar durante ou após as aplicações balharem em tratores equipados com cabi- e 20 pessoas (67%) afirmaram nunca ter nes e sistema de ar condicionado, ou em sentido nada; sendo que somente três pulverizadores automotrizes dotados des- agricultores (10%) admitiram ter se in- se sistema. No entanto, deve-se observar toxicado pelo menos uma vez. Apenas um que a qualquer momento que este trabalha- agricultor procurou assistência médica. dor tenha que sair da cabine irá deparar-se Mais da metade dos agricultores (16) com o ambiente contaminado. Portanto, relatam reaplicar as sobras dos produtos seria conveniente estar usando o EPI. geralmente nas bordaduras das áreas que Dez trabalhadores admitiram já ter so- estão sendo tratadas e uma parcela de 12 frido algum acidente de trabalho com agricultores afirma que não há sobras, de um equipamento de pulverização. Ape- agrotóxicos, seja com o produto químico sendo que a quantidade preparada é sem- nas um possui somente o pulverizador propriamente dito ou com os equipamen- pre exata. Contudo dois agricultores, de costal e outro não possui sequer um pul- tos utilizados na aplicação. Cinco (16,67%) maneira errada, deixam a calda que so- verizador próprio. Quanto à realização de afirmaram que não se sentem preparados bra no pulverizador para aproveitá-la na manutenção periódica nos equipamentos e seguros para realizar a atividade de apli- próxima aplicação. Três agricultores (10%) de pulverização, 24 (40%) realizam, en- cação de agrotóxicos. não fazem a leitura do receituário agro- quanto seis (20%) não realizam. nômico, da bula e do rótulo da embalagem Quanto à orientação para realizar a apli- EXPOSTOS do agrotóxico antes de iniciar a aplicação, cação dos agrotóxicos, 22 agricultores Todos os entrevistados dizem estar ci- sendo que 27 agricultores (90%) realizam. seguem as orientações de um profissio- entes sobre os riscos causados à saúde e Eles afirmam, de modo geral, que o moti- nal habilitado e oito não seguem nenhu- ao meio ambiente que os agrotóxicos po- vo da leitura é para maior conhecimento ma orientação. Entre os entrevistados, 23 dem proporcionar. Pelo menos 19 pesso- e orientação a respeito do produto, da do- pessoas (76,76%) realizam planejamen- as (63%) dizem tomar banho, trocar de se, das recomendações do fabricante e do to antes de iniciarem as atividades de apli- roupa e providenciar a lavagem da vesti- uso correto. Esta mesma porcentagem de cação de agrotóxicos, enquanto que sete menta contaminada logo após a operação entrevistados diz saber o significado das pessoas (23,33%) não realizam nenhum e 11 pessoas (37%) afirmam que não fa- cores das embalagens (faixas) e dos picto- planejamento. Referente à participação zem este procedimento de imediato (ape- gramas nelas existentes. em algum curso ou treinamento sobre uso nas no final do dia de trabalho). Verificou-se que 28 agricultores (93%) correto de EPI, 21 já participaram en- Observou-se que 26 entrevistados (87%) fazem uso somente de produtos registra- quanto nove nunca participaram. No caso usam somente a dose do produto reco- dos no Ministério da Agricultura, Pecuá- de curso ou treinamento para operação e mendada e quatro (13%) não seguem as ria e Abastecimento e de uso permitido manutenção de pulverizadores, 18 dizem recomendações descritas. Além disso, 24 no Estado; comercializado por empresas já terem participado, enquanto 12 nunca agricultores (80%) seguem as orientações idôneas, com emissão de nota fiscal e re- participaram. de profissional habilitado para realizar a ceituário agronômico. Porém, 11 agricul- Os Equipamentos de Proteção Indivi- mistura dos produtos e respeitam o pra- tores (37%) afirmam já ter feito uso de dual são utilizados por 18 pessoas e não zo de reentrada na área tratada e o perío- produtos de procedência desconhecida ou são utilizados por 12 pessoas. Para 26 do de carência, enquanto que seis pesso- duvidosa, sem a emissão de nota fiscal e pessoas (87%) o uso é desconfortável, as (20%) realizam a mistura de produtos do receituário agronômico. sendo que apenas quatro pessoas (13%) por conta própria e não respeitam o pra- acham o seu uso confortável. Nos questio- CONSIDERAÇÕES nários, 23 (77%) dizem saber utilizar os O simples fornecimento dos EPIs não EPIs e 7 (23%) afirmam que não sabem garante a proteção da saúde do trabalha- utilizá-los. Sendo que 27 indivíduos (90%) dor e nem evita as contaminações. Incor- consideram o uso realmente necessário e retamente utilizados, os EPIs podem com- sua aquisição relativamente fácil, sendo prometer ainda mais a Segurança do Tra- seu custo-benefício bom. Contudo, três balhador. O desenvolvimento da percep- indivíduos (10%) consideram o uso desne- ção do risco aliado a um conjunto de in- cessário e a aquisição não muito fácil (pela formações e regras básicas de segurança dificuldade de encontrar tamanhos maio- são as ferramentas mais importantes para res). Na entrevista, 18 trabalhadores evitar a exposição e assegurar o sucesso (60%) usam sempre o mesmo EPI para das medidas individuais de proteção à todas as atividades com o uso de agrotóxi- saúde do trabalhador. 84 REVISTA PROTEÇÃO SETEMBRO / 2012
  • 8. do de forma criteriosa à legislação vigen- O uso correto dos EPIs é um tema que te acerca dos agrotóxicos para que real- exige constante atualização dos profissi- mente todos possam se beneficiar, com onais que atuam na área de ciências agrá- segurança toxicológica e ambiental. rias através de treinamentos e do acesso De acordo com as informações cedidas a informações atualizadas, proporcionan- pela Coopermota, os agricultores mais do a adoção de medidas cada vez mais e- antigos apresentam relutância ao uso de conômicas e eficazes para proteger a saú- novas tecnologias, porém o departamen- de dos trabalhadores, além de evitar pro- to técnico desempenha um importante blemas trabalhistas. O profissional de SST papel na sua orientação. Em Palmital, há tem papel fundamental nestas ações. De- a peculiaridade de a maioria dos trabalha- ve desenvolver, elaborar e executar pro- dores rurais serem pequenos ou médios jetos e programas que visem a redução, agricultores, trabalhando geralmente so- eliminação ou controle dos agentes quími- zinhos ou em família. Por isso é necessá- cos presentes no meio ambiente e nos lo- ria uma ação de conscientização para a- cais de trabalho, prevenindo os acidentes. tender a NR 31 para sua própria seguran- É de fundamental importância que o en- ça e saúde. genheiro de Segurança do Trabalho e o Por fim, sugere-se três pontos conve- engenheiro agrônomo atuem conjunta- nientes e estratégicos na tentativa de se mente para a elaboração de planos de conseguir melhores resultados na recep- ação eficazes a fim de evitar os problemas ção dos agricultores ao entendimento do com os agrotóxicos. tema. O primeiro consiste na mobilização O receituário agronômico deveria ser do Sindicado Patronal Rural, Sindicato reconsiderado, deixando de ser apenas dos Trabalhadores Rurais, Secretaria de um instrumento de comercialização de Defesa Agropecuária do município, esco- produtos agrotóxicos. A emissão desse la de cursos técnicos (Etec Professor Má- documento deveria ser feita apenas a tra- rio Antônio Verza – curso de Agronegó- balhadores rurais capacitados a realizar cios), Coopermota e demais empresas do as aplicações, e as vendas de balcão po- setor agrícola para desenvolvimento de deriam ser banidas. Conforme estabelece um estudo mais aprofundado do tema, e o código de ética profissional, o agrônomo em seguida criar uma estratégia de divul- ao receitar o agrotóxico deveria analisar gação, conscientização e orientação na co- o local de aplicação e as condições do e- munidade rural. O segundo ponto é pro- quipamento e, principalmente, ter certe- mover um extensionismo rural, divulgan- za acerca da capacitação do trabalhador do conceitos de prevenção de acidentes rural para o desenvolvimento da ativida- e controle de riscos no trabalho com agro- de. No entanto, percebe-se que infeliz- tóxicos, abordando questões de seguran- mente muitas empresas privadas ofere- ça do trabalho rural. E, finalmente, o ter- cem assistência técnica com caráter mais ceiro é aprimorar os cursos e treinamen- comercial do que educativo. Deste modo, tos, para que não enfoquem apenas o uso os profissionais abrem mão da ética em correto e seguro dos EPIs e dos agrotóxi- troca da estabilidade de emprego. cos, mas que desenvolvam a percepção de risco dos agricultores. APONTAMENTOS APONTAMENTOS São necessárias ações governamentais e das entidades de classe dos profissio- nais para reverter esta situação. Atenden- SETEMBRO / 2012 REVISTA PROTEÇÃO 85