Três frases ou menos:
1) O autor sonha com um cartaz pedindo ao Papa Bento XVI que acabe com o celibato obrigatório dos padres e permita o sacerdócio feminino.
2) Ele descreve sua experiência assistindo à visita do Papa em Portugal, notando a distância que manteve por princípios de fé e respeito às instituições.
3) O texto também relata encontros da associação Fraternitas e notícias sobre padres dispensados.
Sonho profético sobre o celibato e o sacerdócio feminino
1. espiral da
ANO xi -
fraternitas moviment
ternit
N.º -
vimento
boletim da associação fraternitas movimento
N.º 39-40 SETEMBRO
ABRIL / SETEMBRO de 2010
Tive um sonho… LINDO, talvez profético
ive alv profofético
Serafim de Sousa
Vivia-se a grande azáfama da vinda de Sua actos de culto, e noutras reuniões, a grande maioria
Santidade o Papa Bento XVI a Portugal, de 11 a 14 dos assistentes eram senhoras e no altar apenas havia
de Maio. Numa dessas noites, dormia eu bem homens, com excepção de alguns cantores dos salmos.
sossegadinho, tive um sonho: ia na frente do cortejo É preciso abrir as mentes para estas e outras realidades
papal com um grande cartaz, em que se lia em letras novas, que se impõem com alguma pertinência.
gordas:
DISTÂNCIA E PRESENÇA
Bento fav
«Santidade Bento XVI, por favor:
Acabe com o celibato obrigatório dos padres católicos!
Acabe celibato Não me integrei no cortejo eucarístico, nem fiz
portas Acabe-se
Abra as portas do sacerdócio às mulheres! Acabe-se qualquer esforço, nem pedi a algum responsável da
sexual vez
com a discriminação sexual de uma vez para sempre!» organização para que tal acontecesse, embora alguém,
É claro que isto foi um sonho, mas um sonho lindo, a quem contei o meu sonho, me tivesse incitado para
que traduz o meu sentimento interior a propósito destes o fazer. O meu anonimato, os meus princípios de fé,
e de muitos outros problemas, que nos últimos tempos amor e respeito pelas instituições e pela hierarquia não
muito têm molestado a Igreja de Cristo. Tem-se dito e me permitiram que fosse além do Terreiro do Paço, e
propagado aos quatro ventos que é necessário cá bem atrás, com a vista direccionada para o altar,
reevangelizar, dar novos caminhos de acesso a Deus, participei sempre com atenção e o máximo respeito.
que sejam actuais e não estratificados nos moldes Dos vários discursos que ouvi, uma ideia ressaltou:
medievais, que já pouco dizem às novas gerações. «Cristo está no meio de nós e estará até ao fim dos
O sonho é a minha linha de pensamento. Acredito tempos, e a força da fé consegue eliminar todas as
plenamente que mais tarde ou mais cedo a Igreja tem barreiras.» Ele está nas artes, na cultura, no serviço da
de acabar com a obrigatoriedade do celibato católico e pastoral dos mais pobres e dos mais inteligentes. Ele
admitir o sacerdócio de pleno direito para as mulheres. habita dentro e fora dos corações dos homens e está
Se isso tem de acontecer, por que razão não se avança com eles, mesmo que muitos O rejeitem e esqueçam.
já? Seria uma forma de entrar na Igreja a sensibilidade
VER, LER E INTERPRETAR
feminina, que tanta falta aí faz!
Os sinais dos tempos são muitos e devem ser ob-
PROXIMIDADE E AUSÊNCIA servados, lidos e interpretados, e não podemos olhar
Foi interessante ver as multidões que acorreram a só para aqueles que nos interessam. Argumentar aqui
a favor do celibato dos padres ou do sacerdócio das
saudar o Papa, tentando chegar o mais perto possível
mulheres - porque os dados são bem conhecidos e
de Sua Santidade. Foi extraordinário ver as manifesta- quase todos os movimentos já falaram disso - seria
ções de fé nos lugares onde foi celebrada a Eucaristia. repetição desnecessária e fastidiosa, e os fundamenta-
Com certeza encheram o coração do Papa de satisfa- listas viriam de imediato em defesa das suas verda-
ção e muita alegria. Gostei de tudo o que pude obser- des.
var e admirei a serenidade, a determinação e a con- Um assunto e o outro, no entanto, carecem urgen-
centração do Papa no essencial das suas comunica- temente de ser resolvidos, para que haja unidade na
Igreja e ninguém seja discriminado, como tem acon-
ções: Cristo é a Verdade e Ele está sempre connosco.
tecido até agora. Se isto não ocorrer depressa, para
Esta é a verdade principal do Cristianismo. Dela nun- bem de todos e com a lucidez e a transparência de
ca poderemos fugir. Cristo é modelo para todos. Re- quem manda e sabe olhar em frente, só acontecerá
flecti demorada e profundamente sobre as mensagens. quando a Igreja for forçada a fazê-lo, precipitada e
Notei, no entanto, que nas assistências a todos os atabalhoadamente... Esperemos que não!
2. NOTÌCIAS
2 espiral
ENCONTRO REGIONAL CENTRO Celibato em debate na TV
Vinte e oito pessoas, dez casais e oito singulares, O sócio Jorge Ribeiro esteve no programa «Pontos
assentiram à Fraternitas e reuniram-se em Coimbra, a nos is», de Mário Figueiredo, na RTP Memória, no dia
20 de Março, no Instituto Universitário Justiça e Paz. 8 de Maio. Foi convidado para falar sobre «Celibato».
O convite foi dirigido a todos os associados e não Foi também entrevistado um não-associado.
associados, residentes e/ou ordenados nas dioceses F.J.S.M, não-associado da Fraternitas, viu a entrevista
da Região Centro, e às suas esposas. Não associados e comentou: «De registar a serenidade como cada um
compareceram dois: uma familiar e, apenas, um padre falou do seu caso pessoal e actual relação com os bispos
dispensado. Com o convite para o encontro, foram e colegas em exercício. O jornalista foi bastante cordial,
enviadas 152 cartas pelo correio e três entregues sem evitar as perguntas mais pertinentes. […] Penso
pessoalmente. Os estados de saúde dos próprios, que se tocaram os vários lados do poliedro quanto à
acompanhamento de familiares e outros motivos, dimensão humana e sacerdotal da sexualidade e da
como o de Isidro Rodrigues Pedro, anteriormente conjugalidade, os dois pesos e as duas medidas em
residente em Abrantes, que afirmou ter retomado o relação aos anglicanos e “as excepções” no todo
exercício de funções, encontrando-se agora na diocese nacional […]. Obrigado pela oportunidade.»
de Beja - justificaram muitas ausências.
O tema da palestra, «Pós-modernidade», proferido NO REGAÇO DE DEUS
pelo P.e Dr. Anselmo Borges, foi muito apreciado. É Lucília Amália Rodrigues de Carvalho, esposa
com o mesmo deleite que acompanhamos o que ele de Manuel Tuna, faleceu no dia 2 de Ju-
vai escrevendo, e muitos relêem pelo correio electrónico nho. Nascera em Junho de 1934, na fre-
de Nós Somos Igreja (NSI), a cuja rede pertencemos. guesia de Fornelos, Vila Real. Cada vez
mais debilitada, ia frequentemente ao Por-
ENCONTRO NACIONAL to, e terminou internada devido à dureza
do tratamento. Partilha Joaquim Soares: «A
De 23 a 25 de Abril, 50 associados participaram
partida de uma pessoa enche-nos sempre
no Encontro Nacional da Fraternitas, em Fátima, e na
de emoção. Sabemos que somos peregri-
Assembleia Geral. Compareceram, também, dois ca-
nos, mas é um saber intelectual. A experi-
sais não associados: o casal Marques, residente em
ência de passar pela situação deixa-nos em baixo. A
Marrazes, e João e Sofia Tavares, ele natural de
Fé é um esteio, a Palavra de Jesus é fundamento, mas
Carvalhais, S. Pedro do Sul, ela brasileira. João é o
a nossa sensibilidade também faz parte da natureza.
moderador do e–grupo padrescasados@grupos.com.br,
A oração, a solidariedade dos amigos ajuda a atraves-
do Movimento de Padres Casados (MPC), no Brasil.
sar esta noite. Acreditamos que só temos acesso à ple-
Joaquim e Raquel Palma, casal missionário da Fra-
nitude do Reino depois de se desfazer esta morada
ternidade Missionária Verbum Dei, orientaram o tema
temporária. Que o Pai acolha a nossa irmã Lucília nessa
«Relação Familiar», com dicas e dinâmicas muito gra-
plenitude do Amor Maior Absoluto de que o Pai nos
tificantes para reflexão e oração pessoal e em casal
quis fazer participantes. Para o Tuna e família, a cer-
(ver páginas 8 a 12 deste boletim).
teza de que estamos com eles, e para nós a fé de que
No domingo, alegrámo-nos com a presença do ca-
ela partiu antes para nos ajudar no caminho.»
sal Cristóvão Manuel e Margarida Isabel, de S. Pedro
Maria Fernanda Leal Gonçalves Serra Simão,
da Cova, Gondomar, com os dois filhotes, um bebé.
esposa de João Simão, faleceu no dia 17 de Agosto,
em Azurva, Aveiro. Nascera em Espi-
COLÓQUIO EM LISBOA nhal, Coimbra, em Dezembro de 1928.
Com o tema «A situação dos padres dispensados», Ramos Mendes lembra-a com fé: «Cris-
realizou-se no Centro Nacional de Cultura, em Lis- to disse: “Quem acredita em mim, ain-
boa, no dia 27 de Abril, um colóquio promovido pelo da que venha a morrer, viverá para sem-
movimento Nós Somos Igreja e que teve na mesa dois pre.” Assim o acreditamos e anuncia-
movimentos congéneres: a Fraternitas e o MPC/Asso- mos. A nossa irmã Fernanda não dei-
ciação Rumos, do Brasil. A comunicação social fez-se xou de viver. Vive, agora, para sempre
presente: TSF, JN, DN e um canal de TV da Espanha, a Vida que não tem fim, junto do Pai que nos ama,
que entrevistou o casal Tavares. nos criou e para Ele nos chama.»
3. Reflexão
l
espiral 3
Três ecos do Ano Sacerdotal Salvé, Maria, Mãe
UM ASSOCIADO, em Maio, escreveu: «A grande Maria, que lindo nome! Todos os nomes são
missão dos padres casados é terem presente, numa bonitos, embora gostemos e nos soem mais agradáveis
união à VIDE, aqueles que foram escolhidos pelo uns que outros. Mesmo neste mundo, quando encontro
sacerdócio da Ordem, para testemunharem “pelo o nome Maria, parece que me soa como um nome mais
coração e pela palavra” que o Amor Salvador actua nobre do que quando é acompanhado ou composto
no meio dos homens”.» […] E passados alguns dias: de outros nomes igualmente nobres, bonitos e
«Concordo plenamente com uma Igreja de simbolicamente ricos. Para mim, quando leio ou chamo
simplicidade […] – a Igreja do Mandamento Novo e por simplesmente «Maria», parece que sinto uma
do Lava-pés. Eu também sou (…) desse Povo de Deus espécie de «magia», um encanto, uma sinfonia, um coro
peregrinante. […] Há sempre nestas mensagens (refe- algo especial. Quando encontro simplesmente Maria,
ria-se às notícias sobre os escândalos no seio da Igreja logo me soa a Aleluia (com que rima) bem como poesia,
em exercício ministerial) um convite pertinente a olhar Pia, sabedoria, e produz em mim um pequeno estado
para mim. Quando o faço, a vergonha torna-se vergo- de contemplação, um sentimento de êxtase, a sensação
nha na minha pessoa […]. Um abraço sempre comun- de que nele estão contidos todos os nomes femininos.
gante do Lúcio (Cuba/Alentejo).» Quando me ressoa o celestial nome de Maria, fico
a pensar, na minha mística solidão: será que este nome
UM NÃO ASSOCIADO, em 26 de Agosto de Maria é mais luzente que um puro diamante, mais belo
2001, partilhou: «(…) É verdade que em criança, por que uma pérola colhida do fundo do mar, mais luzidio
volta dos 8 anos, senti o apelo de Deus para a vocação que qualquer brilhante ou um outro objecto precioso?!
sacerdotal, mas o handicap de que sofro foi o maior
obstáculo: sofro de paraplegia, consequência de uma Maria é o nome mais comum, historicamente
poliomielite contraída durante a infância, nos de há séculos, em todo o mundo. A composição ou
membros inferiores. […] Resta-me partilhar convos- anexação com outros nomes, em Portugal, é infinita,
co que somos muito felizes como casal, apesar de não como primeiro ou segundo nome. O dicionário
termos tido filhos. E já lá vão 14 anos. F.A.S.C.M.» antropológico diz que «Maria é uma mulher hábil e
No passado 31 de Maio, telefonei. Atendeu a afectiva, terna, criativa e agradável. Maria é a expressão
esposa. Estavam de saída para a fisioterapia que o da feminilidade; alegre, simples, sabe armar uma roda
marido faz regularmente. Deixaram saudações cordiais. de amigos, recebê-los quase ritualmente, entendê-
los… pondo-os a gravitar ao seu redor. Ela tem sentido
NÃO ASSOCIADO, em 11 de Junho prático e infatigável; tem êxito nos pequenos (e
(encerramento do Ano Sacerdotal): «Agradecido estou grandes) empreendimentos. É uma boa esposa e
a todos pela imensidão de orações e pelo poder melhor mãe».
grandioso transmitido por Ele a mim e minha família.
Estamos fortes, confiantes que a Carina Ferreira - cujo MARIA, MÃE DA REDENÇÃO
acidente ocorreu na véspera do Dia da Mãe - levava Maria é Mãe de Jesus. Como Jesus é Deus, Ele é
no carro a prenda que comprara para oferecer à sua em tudo igual às outras duas Pessoas da Trindade, só
mãe, e minha irmã, mas creio que ofereceu à nossa que «encarnou». A Cristo coube ser o «Mediador» entre
Mãe do Céu. O funeral esteve lindo. Concelebraram a Humanidade e Deus. Fez-se Homem para ter um
15 padres, um grupo de jovens cantou melodias ao corpo para morrer e para «ressuscitar»; subiu ao Céu
Pai do Céu, e uma multidão acompanhou-a à última onde «está sentado à direita do Pai»; ensinou à
morada, num chegar de raios de sol! Abraço amigo, Humanidade o «caminho» para nos salvar: o Amor.
Manuel Catarino.»
SENHORA DO ROSÁRIO PELA PAZ
PARA ASSOCIADOS E NÃO ASSOCIADOS, Em Fátima, Maria não só avisou que devemos rezar
e seus familiares em estado problemático de saúde, como apelou à nossa caridade através dos sacrifícios,
assim como para os seus cuidadores, suplicamos a a fim de conseguir a paz, conversão dos pecadores e a
FORÇA de Deus em Jesus e Maria de Nazaré. santificação da Igreja.
Urtélia Silva José Silva Pinto
4. Reflexão
4 espiral
Celibato Sacerdotal, hoje:
Motiva este artigo e nela se
fundamenta, a erudita palestra os pés aos apóstolos, acrescento ménico”, “O Presbiterado e o Epis-
intitulada “O Sacerdócio à Luz do eu; e o palestrante – «fermento do copado – Corpo Sacerdotal”.
Concílio Vaticano ll, Sob este último título, destaco,
«Sacerdotalis Caelibatus» (Paulo
Novo Reino, do Novo Povo».
VI) e o «Codex Iuris Canonici»”, Nesta ordem de ideias, continua por muito oportuna, a conclusão:
que António Moreira pronunciou com vários tópicos: “Igreja «Daí que será uma traição qualquer
no 2.º Encontro, promovido por Comunidade Sacerdotal”, “Os distanciamento ou menos apreço
D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, Leigos – Sacerdócio Comum”, “O efectivo, ou afectivo, de todos os
para padres dispensados do membros entre si e de um modo
exercício do ministério
Povo Santo de Deus Guarda
ordenado, em que participavam Infalível da Fé e dos Costumes”, muito particular entre os detentores
também alguns padres em “O Matrimónio, Restauração do do Sacerdócio Ordenado e do
exercício, palestra que o seu Plano Criador de Deus”, “O Sacerdócio Comum: terão de
autor facultou à Associação Sacramento da Ordem, Sacramento escutar-se! Para que haja um só
Fraternitas Movimento e Rebanho e um só Pastor, Jesus
autorizou a difundir
da Hierarquização da Comunidade
integralmente entre os seus Eclesial”, “O Episcopado – Cristo. A mesma raiz – Jesus Cristo,
associados, o que foi feito via Colégio dos Bispos e Concílio Ecu- o mesmo fruto – o Reino de Deus.»
Internet. O encontro está
relatado, neste boletim, na
2.ª voz – O Celibato
página 16.
Luís Cunha
António Moreira relaciona o decreto conciliar «Presbyterorum Ordinis»,
promulgado por Paulo VI, com a encíclica «Sacerdotalis Caelibatus», do
A palestra: 1.ª voz - Dignidade mesmo papa, e o último «Código de Direito Canónico», promulgado por
Fundamental João Paulo II. Perante as incoerências constatadas entre a «liberdade radi-
Fundamentou-se o palestrante, cal pela Criação e Restauração e a liberdade pela lei», aponta, com algu-
além de passagens bíblicas, em três ma ironia, «os perigos da perfeita imperfeição», a propósito da conduta
documentos do Concílio Vaticano por parte do sacerdote e, sobretudo, no concernente ao celibato. «Esta
ll - «Lumen Gentium», «Gaudium recomendação [proposta do celibato] insere-se no apelo feito a todos os
et Spes» e «Presbyterorum Ordinis» crentes no âmbito dos conselhos evangélicos», mas «a proposta mobiliza,
- para desenvolver ideias fundamen- a imposição quebra toda a iniciativa e […] facilmente a rotiniza e lhe
tais acerca da criação do Homem corta toda a frescura, tornando-se um contra-testemunho do tal Reino de
no Éden e do Novo Homem (Cris- Deus». Não será difícil entender que tal assunto mal tenha sido aflorado
to), evidenciando a dignidade radi- no Concílio (aberto ao Espírito Santo?!...), porque «tratava-se de satisfa-
cal da pessoa humana, quer no pri- zer um compromisso» tomado por carta de Paulo VI ao cardeal Tisserant.
meiro momento (o da Criação), Será de questionar, quanto às «dolorosas deserções», «aqueles infelizes»,
quer no segundo (o da Restaura- «desgraçadamente infiéis às obrigações contraídas», se estas expressões
ção): «O Homem, por natureza, no ofensivas contidas na encíclica estiveram implícitas no corajoso pedido
plano da criação, é Sacerdote, tem de perdão, de João Paulo ll, para os pecados da Igreja. Incluiria ainda,
o dom de […] sacralizar […] a cria- neste pedido, a também infeliz expressão «redução ao estado laical»,
tura, a começar por si próprio. […] inconsequente para os visados e ofensiva até para os leigos, o que foi
Agora, o Homem em Jesus Cristo, corrigido, no novo Código, para «perda do estado clerical», mas ainda
assume, com toda a propriedade, a inconsequente, se, de facto, o Sacerdócio imprime carácter? Nesta
sua natural condição de mediador. convicção, o subscritor destas linhas já deu a absolvição penitencial…
[…] A natureza sacerdotal do Ho- Entretanto, o palestrante foca a incongruência que é o ter de pedir a “graça”
mem é restaurada, elevada para da dispensa do exercício do ministério ordenado até para aceder a um
além dos limites da primitiva cria- sacramento, o Matrimónio. Pergunta, então, a propósito do Cânone 976,
ção.» É que «pelo Batismo (que encerra «o dilema existencial do sacerdote: ter a obrigação de
configuramo-nos com Cristo» - o manifestar o que é, mas de tal ser proibido por uma lei administrativa», ou
revolucionário do Amor, o que lava “ditadura”): «Será uma lei justa?»
5. Reflexão
l
espiral 5
«jóia da coroa» ou pechisbeque
3.ª voz – Eagora (Ecclesia
Hac Hora)
Celibato opcional é joia
Nesta pós-modernidade, em que D. Ilídio Leandro, após referir templo de Jerusalém e vinda de
convivemos na globalização, a prá- o contributo do conferencista, Cristo (Mt 24, 8); da própria criação
tica do celibato e os seus proble- convidou os participantes a uma que geme (Rm 8,22); de Paulo, per-
mas deixaram de ser tabus e de po- reflexão e a partilhá-la, alertando plexo (Gl 4,19); Sião, a Mulher e o
derem ser manipulados. Se a fé não que «o que alguém pensa sobre a Menino, o Messias, a Igreja (Ap 12).
alicerçasse a nossa esperança, tal- organização da Igreja não é De maneira nenhuma terá de ser só
vez julgássemos que a Igreja não infalível» e, sagazmente, advertiu: o Papa a suportar tamanho solavan-
ultrapassará esta geração, como, no «Opção pelo casamento…, co e a senti-las, mas também sem o
passado, outros julgaram, porém, fidelidade dos celibatários… não doentio unanimismo (se Paulo não
em tantos séculos e tantas crises, a é fácil a uns e a outros.» O diálogo, tivesse contrariado Pedro, hoje to-
Igreja sobreviveu. O «Eu estarei as achegas foram aparecendo, uma dos os homens cristãos seríamos
sempre convosco» de Jesus, garan- vez que está em causa a verdade, circuncidados).
tindo a presença salvífica nos por- possivelmente com alguma Como D. Ilídio reconheceu em
tadores da Boa Nova, não falha. subjectividade, e a felicidade quase entrevista ao «Jornal de Notícias»,
Como as leis desumanas e anti- nunca está na facilidade. Um padre em 8 de Maio de 2009, há o funda-
-evangélicas - mesmo da Igreja - são no activo reconhece que o Povo de mentalismo de muitos a dificultar
de homens caminhantes e de bar- Deus aceita os padres casados. Um as reformas.
ro, sujeitos a muitas armadilhas, padre casado refere a «vida dupla, A mentalidade em Portugal
podem e devem mudar quando se senão tripla, de muitos que não dão acerca do celibato evoluiu, é
descobre a sua malignidade ou falta testemunho sacerdotal verdadeiro favorável ao casamento dos padres,
de qualidade, como têm mudado os com um celibato autêntico», o que a cuja causa a nossa Associação
códigos de direito canónico e ele quis evitar em si e casou. Fraternitas Movimento tem dado
outras nor mas disciplinares. Jóia da coroa é como Paulo Vl, algum contributo. Sem quebrar a
Ficamos à espera, com «desinteres- na «Sacerdotalis Caelibatus», vê o unidade com Roma, parece-nos
se, egoísmo, falta de responsabi- celibato sacerdotal na Igreja. que a Conferência Episcopal
lidade cívico-eclesial? Não será Comentou-se: «Sim, “jóia” quando Portuguesa, única no mundo que
uma desobediência aos princípios o celibato for opcional, sem ser aprovou – julga-se – os Estatutos
da racionalidade, da corresponsa- condição para nada, fonte de de uma associação de padres
bilidade, da liberdade? Queremos felicidade para quem quer e pode casados, que tanto tem sido
a Igreja presente nesta Hora?» O seguir o conselho evangélico; de apoiada pela quase totalidade dos
conferencista interroga e, com olhar contrário, celibato obrigatório, com seus bispos e secretários (ou não
abrangente, vê os milhares de tanta mentira, encobrimento e fosse ela da iniciativa de um
enamorados da Igreja, «que um dia descrédito, não é “ jóia”, mas “santo” cónego Filipe de
os fascinou e fascina e que nem os pechisbeque; com a generaliza- Figueiredo), deve continuar
amores do tempo presente faz ção consequente, todos sofrem exemplar (seria porta aberta para
esquecer. Esperam. E se é uma com o ridículo do falso adorno.» outras conferências episcopais
espera no amor, também o é na A espera «no amor» e «na procederem de igual modo) e não
dor». António Moreira, padre dor» evocou a figura bíblica das pode deixar de assumir também as
dispensado, e a maior parte dos “dores de parto”. Daí, o regozijo “dores de parto”, para, no seu
presentes, reconhecendo em si a de que a situação crítica que a campo jurisdicional, abolir o
vocação sacerdotal, concluiram Igreja enfrenta seja de «dores de celibato obrigatório e fazer nascer
que não foram vocacionados para parto», indício de aproximação de a nova criatura, bela e refulgente,
o celibato como condição para a vida nova, como os sinais do celibato opcional, com verdade,
Ordem, mas «a dor está presente». precursores da destruição do a autêntica «jóia da coroa».
6. Reflexão
6 espiral
Celibato e Matrimónio
No número anterior do «Espiral», o n.º 38, New American Bible (NAB), com Imprimatur de 11
Fernando Neves analisa os textos bíblicos em que de Outubro de 1991, apresenta o texto seguinte: «Do
se fundamenta a Igreja para defender o celibato
dos padres. Continua a reflexão neste número.
we not have de right to take along a Christian wife, as do the
rest of the apostles, and the brothers of the Lord, and
Em Fátima, numa das suas livrarias, demo-nos ao Kephas?/Não temos nós (Paulo e Barnabé) o direito de
trabalho de ver como estava traduzido 1 Cor 9,5, em levar connosco uma esposa cristã, como fazem os restantes
Bíblias católicas, com aprovação eclesiástica: “Nihil apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Kephas?»
obstat”, “Imprimi potest” e “Imprimatur”. Tivemos A Bíblia Sagrada, traduzida da Vulgata e anotada
algumas surpresas, confir mando a tradução pelo P.e Matos Soares, primeira edição de 1933, e que
apresentada no «Espiral» n.º 38. pode ser considerada como a primeira Bíblia popular
CORRECÇÃO: O «Espiral» pede desculpa pelas dos católicos romanos de Portugal, apresenta uma
incorrecções de pontuação e pela referência à tradução tradução literal do citado versículo de 1 Cor 9:
da Vulgata por Ambrósio quando, na verdade, como «Porventura não temos nós direito de levar por toda a parte
todos sabemos, foi por Jerónimo. Deparámo-nos com uma mulher irmã, como também os outros Apóstolos, e os
uma primeira versão e não com a definitiva, em que já irmãos do Senhor, e Cefas?»
tinham sido introduzidas as referidas correcções. Curioso é que, servindo este capítulo também como
S. Jerónimo e Santo Ambrósio, Padres e Doutores justificação para o direito do ministro ordenado
da Igreja, coexistindo temporalmente em grande parte receber, da comunidade que serve, a côngrua
da sua vida, tinham a paixão pelas Sagradas Escrituras: sustentação (no dizer de S. Paulo, esse direito era
Ambrósio, conhecendo-a e comentando-a, a partir do mesmo extensivo à esposa que acompanhava o
seu mestre Orígenes; Jerónimo, refugiado na sua apóstolo), ele seja dos muito poucos que não
“tebaida”, fazendo esse trabalho ciclópico da tradução mereceram qualquer anotação a este tradutor.
da mesma, dos originais grego ou hebraico, para a Porquê? Talvez para ser honesto e não faltar à
língua latina, a pedido do papa Dâmaso I, santo. Foi, verdade. E, assim, terá achado preferível omitir e não
talvez, a primeira grande tentativa de tornar acessível dizer aquilo que seria chocante para a comunidade
e dar a conhecer ao maior número possível de crente, no contexto eclesial absolutamente tridentino
sacerdotes e pessoas a Palavra de Deus contida nas em que, então, ainda se vivia.
Escrituras Sagradas. Daí o nome de Vulgata, ou seja Outra atitude tiveram - como já foi dito - os autores
uma tradução para divulgar a Palavra de Deus, na do compêndio, com todas as aprovações canónicas e
língua vulgar, então, de maior uso, no ocidente: o latim. adoptado por alguns Seminários na década de 1960,
que interpretam do seguinte modo 1 Cor 9,5: «Una
Assim, a Bíblia de Jerusalém, no seu original francês, mujer hermana: una cristiana. Mujer...: puede tomarse
apresenta o seguinte texto: «N’avons-nous pas le droit en sentido próprio de esposa o de mujer en general.
d’emmener avec nous une épouse croyante, comme les autres En el contexto cuadra mejor el primer sentido. Paulo
apôtres, et les frères du Seigneur, et Céphas?/Não temos nós podria haberse casado y llevar consigo su mujer…»
(Paulo e Barnabé) o direito de levar connosco uma esposa ( LEAL, Juan e outros, La Sagrada Escritura, Nuevo
crente, como os outros apóstolos, e os irmãos do Senhor, e testamento II. Hechos de los Apóstoles y Cartas de S. Pablo,
Céphas?» (Estes e os próximos sublinhados são nossos.) p. 405, segunda edicion, B.A.C. Madrid 1965).
A edição brasileira da Bíblia de Jerusalém é fiel na São, pois, estes autores da opinião de que todos os
tradução, utilizando também a palavra esposa. apóstolos não só eram casados, mas até de que viviam
Os Capuchinhos, nas últimas edições da Difusora e eram acompanhados pelas suas esposas.
Bíblica, traduzem de forma literal (uma mulher cristã) E entende-se bem por quê. É que, se não se
mas, em nota de rodapé, dizem que, gramaticalmente entender a mulher irmã/cristã como a própria esposa
(?!), se deve entender como esposa cristã. Cada um que que acompanhava cada apóstolo, ficaria, moralmen-
faça os comentários que quiser ao gramaticalmente! te, uma bota para descalçar. Efectivamente, para a
A Holy Bible, Dove of Peace, Catholic Edition da mentalidade semítica, seria totalmente escandaloso um
7. Reflexão
l
espiral 7
O NOSSO ESPÍRITO
«É “um coração que vê”. Este coração vê onde há necessidade
de amor e actua em consequência»
No passado 13 de Maio, o Papa Bento XVI
Sogra de Pedro encontrou-se com representantes da Pastoral Social
homem ser acompanhado, dia e noite, por uma mu- de Portugal, na igreja da Santíssima Trindade. Foi um
lher qualquer, embora irmã, entenda-se cristã. Acom- momento cheio de vivacidade, humanidade e de afecto.
panhado pela esposa já seria uma situação de norma- O espaço estava repleto com mais de 9000 pessoas
lidade. De resto, isto não será novidade, pelas quali- ligadas aos diversos organismos e serviços que a Igreja
dades a ter em conta na escolha dos bispos, presbíteros disponibiliza para o serviço aos que mais precisam.
e diáconos, para as primeiras comunidades cristãs, E, enquanto aguardávamos o papa, fomos
onde segundo S. Paulo, em 1 Tm 3 e Tt 1, se recomen- presenteados com um concerto pelo grupo “Figo
da para todos eles que sejam casados e homens de uma Maduro” (mãe e quatro filhos!) e com a apresentação
só esposa. dos bispos diocesanos e auxiliares ligados a esta área.
A exortação de Bento XVI foi profundíssima e
A TENTAÇÃO DO CARREIRISMO transbordante de “sumo”. O papa partiu do texto do
Bento XVI, na homilia da ordenação de presbíteros, Evangelho proclamado imediatamente antes, a
em Roma, no passado mês de Junho, referiu-se à parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37), e iniciou
possível queda em tentação de alguns ministros a sua reflexão desta forma: «Ouvistes Jesus dizer: “Vai
ordenados se exibirem para conseguir fazer carreira e faz o mesmo.” Recomenda-nos que façamos nosso
eclesiástica. E uma das coisas que condenou foi que o estilo do bom samaritano, ao aproximar-nos das
alguém, para ser considerado e promovido, pratique a situações carentes de ajuda fraterna.» E desenvolveu
adulação ou tenha de dizer aquilo que os seus o seu pensamento concentrando-nos no “distintivo”,
superiores querem e gostam de ouvir (!). a marca do agir cristão, nomeadamente dos que servem
Ora, na realidade, muita da hierarquia eclesial os seus irmãos, em nome do Senhor Jesus, em serviços,
revela ainda alguma falta de poder de encaixe para organizações, instituições eclesiais da pastoral social.
temas candentes e vitais, mesmo que não ligados ao Da homilia, cheia de grande densidade e
dogma mas só a puras práticas disciplinares, profundidade e, simultaneamente, de uma cristalina
ocasionais, como é, por exemplo, o caso da ainda actual clareza, permito-me sublinhar um parágrafo: «No meio
exigência do celibato obrigatório sacerdotal. de tantas instituições sociais que servem o bem
Que nem sempre assim foi revelam-no, à saciedade, comum, próximas de populações carenciadas, contam-
os Evangelhos (Jesus cura a sogra de Pedro), as referidas -se as da Igreja Católica. Importa que seja clara a sua
Cartas de S. Paulo, a História da Igreja e mesmo a do orientação de modo a assumirem uma identidade bem
próprio papado. patente: na inspiração dos seus objectivos, na escolha
E, com tudo isto, quem sofre é o Povo de Deus, dos seus recursos humanos, nos métodos de actuação,
pois o número de ministros ordenados não é suficiente na qualidade dos seus serviços, na gestão séria e eficaz
para acorrer às suas necessidades. dos meios. A firmeza da identidade das instituições é
Não diz o Vaticano II que o sacrifício eucarístico de um serviço real, com grandes vantagens para os que
Cristo é fonte e centro da vida cristã? (LG 11) Porquê, pois, dele beneficiam. Passo fundamental, além da
devido à simples norma disciplinar do celibato identidade e unido a ela, é conceder à actividade
eclesiástico, privar uma grande parte dos fiéis do seu caritativa cristã autonomia e independência da política
direito de haurirem das riquezas desta fonte? Não será e das ideologias, ainda que em cooperação com
que o Espírito, que sempre faz tudo de novo, esteja a organismos do Estado para atingir fins comuns.»
querer dizer algo de muito vital para a Igreja-Povo de Eis um programa para a nossa actuação, uma marca
Deus, mas que a hierarquia, por carreirismo, se recusa que se nos pede: que tenhamos “um coração que vê”.
a receber e concretizar, porque não gosta de ouvir? Albert o
Albert Osório
8. Especial
8 espiral
Chamados à Vida,
«Há festa no Céu! Não há nada melhor para os pais do que ra q uel
raq palma
palma
ter os seus filhos em casa, do que estarmos na casa do Pai.
Estamos com Deus com todo o nosso passado e com todo o Estamos mortos quando não amamos. Desde sem-
nosso presente, para parar, para nos encontrarmos, para pre fomos chamados ao Amor, a um amor com quali-
nos re-situarmos.» Foi com estas e muitas outras palavras
que o casal Joaquim e Raquel Palma ajudaram os
dade divina. E o problema é que muitas vezes vive-
membros da «Fraternitas» a rezar, reflectir e crescer na mos esta chamada não como uma ALEGRIA, uma
«Relação Familiar», nos dias 23 e 24 de Abril, em Fátima. BOA NOVA, mas como um peso, um fardo, uma má
notícia. Porquê?
1.º REFLEXÃO da manhã do dia 24: Quando Não será porque assumimos esta chamada como
nos retiramos com Deus, não vamos para nos funcionários de Deus e não como amigos, como fi-
evadirmos da vida mais ou menos complicada que lhos?
cada um tem, nem para esquecer, mas para olhar de Qual é a diferença?
frente, para olhar acompanhados, para olhar O funcionário conta com as suas forças, muitas
profundamente, para olhar a partir dos olhos de Deus vezes não entende o valor, o significado das ordens
– que é Pai Bom, que é Misericórdia, que vê que lhe são dadas, não comunga com elas…
possibilidades onde nós só vemos entraves, que vê O filho, ao contrário do funcionário, deixa-se amar,
Luz onde nós só vemos trevas, que tem o poder de acolhe esse amor e deixa que o “amor derramado” no
fazer nascer a Vida onde nós só encontramos morte. seu coração transborde para os que vivem ao seu
Deus não nos convida a situarmo-nos como redor.
“espectadores que já viram o filme”, mas chama-nos Qual é a BOA NOVA do Evangelho de Jesus? Da
a agarrar a oportunidade de, mais uma vez, Sua Vida?
ressuscitarmos com Ele. De olhar com Ele para as Podemos tentar encontrar a resposta no lema que
nossas mortes, para os túmulos da nossa vida, daqueles escolhemos para o encontro: «Aspirai, porém aos
a quem amamos, e de deixar que Jesus retire a “pedra” melhores dons… Se não tiver amor, nada sou».
que nos impede de viver. Poder Amar é um DOM; não é uma conquista
De facto, estamos mortos quando não amamos! pessoal. Às vezes gastamos tantos esforços em tentar
Estamos mortos quando não vivemos aquilo para amar… e são necessários. Mas, a ênfase deve ser pos-
que fomos criados. ta em DEIXAR-ME AMAR PRIMEIRO.
Certezas e drama
Nos primeiros capítulos dos Génesis expressa-se com a CERTEZA, desde o princípio, de que o nosso
muito bem aquilo para que Deus nos criou, a essência Deus e Criador: - tem o poder de simplificar o que é
da existência humana, o seu sentido e os seus dramas: complexo em nós;
a) Fomos criados para a COMUNHÃO (Gn 1 e - tem o poder de ordenar o que em nós é
Gn 2): desordenado e caótico;
- para uma vida de comunhão com Deus, de - tem o poder de separar a luz das trevas e de nos
amizade, de familiaridade; ajudar a ver o que convém e não convém, o que nos
- para uma vida de comunhão com os irmãos, de faz viver e nos dá a morte (Gn 1, 1-4; Gn 2, 16-18).
entreajuda, de caminhar juntos, de caminhar com…; c) O nosso drama existencial, o nosso maior pecado,
- em harmonia com a Natureza e com todos os se assim lhe quisermos chamar, é-nos relatado no
bens da Terra. capítulo 3, é a SOBERBA - a não aceitação da
Os capítulos 1 e 2 do Génesis mostram-nos que realidade de ser criatura e não Deus. Como Eva,
estamos no Paraíso quando vivemos em comunhão, gostávamos de ser “deuses”, perfeitos, acabados. E
quando há harmonia nas nossas relações. dava-nos tanto jeito que os outros à nossa volta
b) Fomos criados para viver com a CONFIANÇA, também o fossem! (cf. Gn 3, 2-6).
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9. Especial
l
espiral 9
ao Amor
HOJE É O DIA DA NOSSA SALVAÇÃO.
Somos convidados a ressuscitar. Somos convidados a
fazer a experiência de que a vida, a morte e a
ressurreição de Jesus vencem aquilo que mais nos mata
como ser humanos, aquilo que mais compromete a
nossa felicidade, que mais compromete a qualidade
das nossas relações - a SOBERBA:
- a não aceitação da realidade de ser criatura e não
Deus;
- a não aceitação da fragilidade pessoal e do outro,
dos limites;
- a não aceitação da realidade de filhos, porque não
se confia, porque não se quer ser dependentes.
Jesus, ao encarnar, assume a condição humana e
mostra-nos que não há que ter medo de ser criaturas,
mostra-nos que como criaturas também temos uma
grandeza: fomos criados à imagem e semelhança de PARA A ORAÇÃO PESSOAL
PESSOAL
Deus (Gn 1, 26-27), somos amados e temos em nós
uma semente de Deus, do Seu ser divino, do Seu Amor; FAMÍLIA
E EM FAMÍLIA
temos em nós a capacidade de amar com uma
qualidade de amor divino e não apenas humano. Que cada um pegue numa das leituras sugeridas e peça o
Jesus, com a Sua vida, morte e ressurreição, mos- dom de se deixar amar hoje, na circunstância real em que está,
tra-nos que, mais do que criaturas, somos FILHOS na etapa concreta da vida, tal como está, com as feridas que
AMADOS do Pai e ensina-nos a confiar na tem.
SABEDORIA do Pai, ensina-nos a acreditar, a Hoje somos convidados a deixar que o Senhor nos
descobrir que a Sua obra está bem feita e a viver agra- faça renovar a experiência que temos do Seu amor,
decidos em vez de zangados! (cf. Gn 1,31). que nos faça saborear, que nos faça conhecer… Como
poderei amar com um amor de qualidade divina se
todas as experiências de amor que faço ao longo da
vida são pequenas e limitadas? Como posso exigir ao
outro um amor perfeito, se, como eu, é limitado? Já
Santa Teresa dizia: «Mendigamos amor em casa de
gente pobre.»
Hoje, agora, neste tempo de silêncio: pedir o dom
de deixar-me amar por um amor que é:
- prestável, que não busca o seu interesse... 1 Cor
13, 4-8;
- incondicional - Sl 103(102);
- poderoso, faz impossíveis - Mt 9, 20-22
(hemorroíssa) e Jo 11 (ressurreição de Lázaro);
- esbanjador, exagerado no dar, que vê muito mais
além - Mt 26,6-10 (unção de Betânia); Jo 13 (lava-
pés);
- que não condena - Jo 8, 1-11 (mulher adúltera).
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10. Especial
10 espiral
DETALHES da RELAÇÃO FAMILIAR
Ao preparar estas pistas para o momento de oração, pedia
ajuda a Deus para saber viver tantos papéis e tantas tare-
fas que desempenhamos. Papéis que são essenciais: ser
pai, ser marido, ser bom profissional, ser cristão, ser casal
apostólico, caritativo, líder...
2.º REFLEXÃO da manhã do dia 24: O Senhor
fez-me entender que a nossa natureza humana é viver
nesta tensão: procuramos abraçar inúmeras tarefas,
sentimo-nos criados/feitos para desejar muito, para
procurar o eterno, o infinito, o perfeito, mas esbarra-
mos nos nossos limites, na nossa imperfeição, nos
assuntos imediatos. Experimentamos constantemen-
te esta contradição na nossa vida:
- Somos corpo e somos alma.
- Somos interioridade e exterioridade.
- Experimentamos a infinitude e os limites,
a tensão entre amar e ser amados, ser e fazer,
presente e passado, o absoluto e o relativo que cer-
tas coisas são.
- Experimentamos a contradição entre os ideais e Jesus também propõe que uma vida nova não
a realidade, a nossa inteligência e os sentidos, seja colocada nos mesmos moldes da vida velha: Vi-
entre o que queremos fazer e o que fazemos, nho novo em odres novos (Mc 2, 21-22).
entre a vida que queremos e a que se vai... Nesta vida nova que queremos acolher, o primeiro
E a contradição mais radical é entre a vida e a morte, fruto é o Amor – por isso a primeira análise que
entre as muitas vidas e as mortes que experimentamos; temos de fazer é ao estado do nosso Amor, à qua-
e o que ainda é mais difícil é que não experimentamos lidade do Amor com que amamos.
isto só uma vez, mas muitas, desde que nascemos. É muito importante conhecer como amamos. Se
Viver nesta contradição é a nossa natureza - Deus não amo no Amor de Deus, o meu amor é limitado,
fez Adão do pó e sobre ele soprou o Seu Espírito. dependente de todas as minhas contradições, procura
Esquecer que somos esta contradição mais o meu bem-estar que o do outro, não «suporta
- pó e Espírito de Deus - tudo, não é sempre paciente, etc. (cf. 1 Cor 13). O
é o pecado de Adão e Eva; meu amor humano é pequeno e não constrói a pessoa
é romper a relação com DEUS, a quem digo que amo: Se eu não tiver amor, eu nada sou.
não aceitar que Deus é Deus E qual é a melhor forma de eu conhecer a qua-
e não aceitar que somos criaturas. lidade do meu Amor? É pelo exame do meu amor
Em relação a estas contradições que ao próximo. Não existe forma mais simples e efi-
experimentamos, e muitas outras que cada um pode caz que perguntar a quem está ao meu lado
encontrar na sua vida, a nossa atitude não deve ser de COMO ESTOU A AMAR?
perder a esperança, porque é próprio da nossa natureza E o outro, com toda a certeza, não deixará de nos
viver nesta tensão entre Homem novo e Homem ajudar a ver como é a qualidade do nosso amor.
velho. A qualidade com que amamos tem a ver com aquilo
A atitude construtora é a que Jesus propõe a que pretendemos quando estamos com o outro, com
Nicodemos (Jo 3) – voltar a nascer para uma vida o que procuramos e oferecemos quando amamos.
nova: «O que nasceu da carne é carne, o que nasceu Uma leitura que nos pode ajudar a verificar o estado
do Espírito é Espírito, quem não nascer da água e do do nosso amor é esta checklist de características do amor:
Espírito não pode entrar no Reino de Deus.» de 1 Cor 13.
11. Especial
l
espiral 11
Alguns aspectos a cuidar podem ser estes: qual é o
melhor momento para dialogar, como começar o
dialogo e como acabar, onde dialogar - em casa, no
Joa q uim
Joa Palma
Palma restaurante, no jardim, parados ou a andar...? E hoje
pode ser de uma forma e daqui a 10 anos pode ser
melhor de outra forma. Para isso precisamos sempre
de actualizar o conhecimento que temos do outro.
Depois, como somos humanos, precisamos de es-
PRESTAR ATENÇÃO AOS DETALHES tar atentos às necessidades humanas individuais de:
É no âmbito das relações familiares que, de facto, Tempo - para pensar e assimilar antes de falar; para
se identifica a qualidade de amor com que amamos. descansar, dormir, comer - muitas vezes colocamos
A nossa realidade é que não sabemos amar ou muito stress na vida diária por não cuidarmos das ne-
amamos muito pouco o outro, e sobretudo os que es- cessidades físicas e psicológicas de descanso, comida,
tão próximos, mais próximos - a esposa, a companhei- sono, silêncio...
ra, os filhos, os pais, etc. E o normal é que não o sai- Espaço - reservado, individual, pois, por mais pró-
bamos fazer - por isso a atitude fundamental é reco- ximos que estejamos, existe um espaço em nós que
nhecer que precisamos aprender. ninguém consegue preencher. Esse lugar solitário que
Na relação de Jesus com os seus discípulos, ve- temos também precisa de ser cuidado. E precisamos
mos como Ele utiliza uma pedagogia muito cuidado- deixar Deus entrar nesses pensamentos reservados (os
sa e uma atenção muito especial a aspectos muito hu- outros nunca conseguirão entrar aí). No livro «O
manos. Jesus: Profeta», Khalil-Gibran tem um poema sobre o casa-
- dedica muito tempo aos seus amigos, e está aten- mento em que diz que precisamos cultivar um espaço
to a que comam, a que durmam, a que tenham tem- afastado entre os dois, pois as colunas do templo cres-
pos só para eles sem estarem sempre no meio da mul- cem afastadas para melhor suportar o peso dele.
tidão; Uma vida a dois, a três, a quatro..., próxima, intensa,
- ressuscitado, não se cansa de repetir e de recordar diária, não pode apenas ser stress, trabalho,
o que já havia dito em vida; organização, rigidez... Ninguém aguenta isso. As
- não se cansa de voltar por causa de Tomé; próprias empresas reconhecem a necessidade de
- vai ao encontro dos apóstolos quando voltam à espaços lúdicos para fortalecer o trabalho em equipa.
pesca, come com eles, etc. Em casal, é importante avaliar o tempo e o
Ou seja, Jesus sabe que nós precisamos de tempo, cuidado que temos dado às relações dentro da
que precisamos de sinais, que precisamos de repetição, família - à relação conjugal, aos filhos, etc. Por
que precisamos de momentos fortes... exemplo, avaliar quando foi a última vez que planea-
Por vezes, nas relações mais importantes es- ram uma saída só a dois, de todos, quando foi a última
quecemos disto. vez que houve tempo para sentar e dialogar...
Não nos podemos esquecer que precisamos de
cuidar dos detalhes, dos tempos de encontro e, de uma Algumas atitudes que constroem a amizade
forma muito particular, do diálogo. A relação não Na história de Saint–Exupéry, no encontro do
sobrevive sem o diálogo - mas as palavras podem principezinho com a raposa, constrói-se uma amiza-
aproximar ou afastar o coração, consoante o modo e o de, em que são importantes pequenos detalhes:
tom com que se digam, o momento em que se digam, - O local onde se encontram. A raposa associa o
etc. É vital ouvir o outro, dizer o que se gosta e não se campo de trigo no local onde se encontram com a cor
gosta, conhecer o que o outro está a viver e como está dos cabelos do principezinho e assim o próprio local
a viver, e actualizar o conhecimento que temos evoca a presença do amigo.
do outro, porque nós mudamos e se não dialogamos - O tempo que se “gasta” a cuidar a preparação do
deixamos de conhecer as pessoas que estão connosco. encontro e os rituais em redor desse encontro são muito
Não podemos é esquecer que dialogar é uma arte importantes. A raposa pede ao seu amigo para que
(e constantemente esquecemos isto), não é chegue sempre à mesma hora, para que o seu coração
espontânea, precisa de ser aprendida, trabalhada. se comece a preparar antes do encontro.
12. Especial
12 espiral
A VOCAÇÃO ao AMOR
O chamamento a amar ao longo da vida não só assume Acreditamos que a Palavra de Deus é um dos
muitas formas (casal, pais, avós…), cada uma com os alimentos mais adequados para a caminhada, longa,
seus desafios e dificuldades, como nem sempre é um
“mar de rosas”. Muitas vezes a opção pelo amor não é o
complexa, que é a nossa vida.
caminho imediato mais fácil, ainda que compense a Hoje, como no tempo de Elias, o convite forte que
longo prazo. Deus nos faz é: «Levanta-te e come, pois tens ainda
um longo caminho a percorrer.»
REFLEXÃO da tarde do dia 24: É diferente:
O contacto com a Palavra de Deus, a oração com
- Amar na saúde e na doença.
a Palavra, é um dos meios privilegiados através do
- Amar o lado positivo ou o lado frágil do outro.
qual Deus vem ao nosso encontro e nos alimenta
- Amar quando me sinto cheio de forças ou quando
no caminho, e nos capacita para amar, amar com
estou no limite.
gozo profundo, amar totalmente convencidos de que
- Amar “quando tenho razão de queixa” ou quando
vai valer a pena, de que a seu tempo dará fruto!
surge em resposta ao amor do outro.
Onde está a força da Palavra? Onde está a sua
magia, o seu poder? Como é que actua em nós? Qual
a experiência de Maria, de Jesus, dos Apóstolos?
A Palavra não é morta, é «viva e eficaz». Deus não
só está vivo na Palavra, com Se dá a Si mesmo atra-
vés da Palavra. Precisamos, por isso, de renovar cada
dia a esperança! Precisamos de renovar cada dia a fé.
E a confiança no Amor, que é o método do Deus de
Jesus. Se não o fizermos, facilmente vivemos com a
lógica do mundo e não com a de Deus - como Pedro
- a quem Jesus chegou a dizer: «Afasta-te de Mim Sa-
ESPERAR O QUE NÃO SE VÊ
tanás, porque os teus critérios não são os de Deus.»
O Sr. Luís fez uma cova na terra, depositou uma
Deus oferece-se na Sua Palavra diária – liturgia de
semente e regou.
cada dia, em que podemos pegar e parar nem que seja
Voltou no dia seguinte, e não havia sinais da planta.
10 minutos apenas, como alimento diário para:
Lá no interior da terra, o caule saía da semente.
- discernir nas encruzilhadas da vida;
O Sr. Luís voltou ao segundo dia. Ainda não havia
- fortalecer nas opções tomadas;
nenhuma pontinha verde da planta.
- aceitar fragilidades e fracassos, pessoais e sociais;
Lá na terra, o caule rasgava o solo.
- renovar esperança e convicções;
Ao terceiro dia, o Sr. Luís desconfiou que nenhuma
- recomeçar: «Amas-Me? Apascenta!» (Jo 21)
planta iria nascer.
Mas a planta estava prestes a germinar.
A ESTÓRIA E AS NOSSAS VIDAS
Ao quarto dia, o Sr. Luís não foi ver a terra que
O Sr. Luís não conhecia os tempos e os modos/
plantou. Mas a planta germinou. E um pássaro
sinais de crescimento do que semeou. Eles são
observou.
diferentes para cada caso. É preciso não ver só as
Ao quinto dia, a planta deu uma flor, e o pássaro
aparências; é preciso estar atentos e procurar sinais
colheu-a.
da mudança que está a ocorrer. É preciso acreditar na
Diante da complexidade da vida, do facto de tantas mudança, na fecundidade das entregas, nos frutos da
vezes não vermos quaisquer frutos da nossa entre- dedicação, do cuidar. Se não se acredita, pode não se
ga... de semearmos e nada... como o Sr Luís da histó- facilitar o nascimento ou, pior ainda, pode ocorrer e
ria, apetece-nos desistir e ir por outras vias que não a já não estarmos para ver. E é também importante
do Amor, mas da impaciência, da falta de esperança... cuidar, regar, preparar-se para colher… O pássaro
Apetece-nos dizer “Basta, Senhor!”, como Elias colheu e alegrou-se!
(1 Rs 19). ra q uel E JOA Q UIM palma
raq JOA palma
13. IGREJA
l
espiral 13
REPENSAR JUNTOS Com os Movimentos na Igreja
A PASTORAL DA IGREJA D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu
Leandro
Os movimentos na Igreja podem ler-se e interpre-
A Conferência Episcopal Portuguesa está a tar--se à luz do capítulo 12 da 1.ª Carta de S. Paulo
promover um caminho para «repensar a pastoral da aos Coríntios. Procedem do Espírito Santo; orientam-
Igreja em Portugal», de modo a adequá-la melhor ao se para o bem da Igreja; estão na Igreja como os mem-
mandato recebido de Jesus e às circunstâncias actuais. bros no corpo humano. Estes são critérios que aju-
Foi elaborado o documento «Formação para a missão dam ao seu discernimento - missão dos pastores nas
– formação na missão». Nele se aponta este objectivo: comunidades cristãs. Aliás, o Papa Bento XVI, aquan-
«Encontrar uma compreensão comum a todas as do da sua visita a Portugal, no dia 13 de Maio passa-
Igrejas de Portugal dos caminhos da missão e enunciar do, aponta aos bispos uma nota importantíssima: «Os
prioridades de opções e dinâmicas de acção com as portadores de um carisma particular devem sentir-se
quais todas as dioceses se comprometam.» E refere- fundamentalmente responsáveis pela comunhão, pela
se como método a leitura dos “sinais dos tempos”, fé comum da Igreja e devem submeter-se à guia dos
segundo a perspectiva do Concílio Vaticano II (cf. GS pastores. São estes que devem garantir a eclesialidade
4 e 11). Recentemente, foi apresentado um instrumen- dos movimentos. Os pastores não são apenas pessoas
to de trabalho que dá continuidade prática ao citado que ocupam um cargo, mas eles próprios são
documento, em ordem a determinar o caminho e os carismáticos, são responsáveis pela abertura da Igreja
modos de a Igreja em Portugal cumprir de modo mais à acção do Espírito Santo».
frutuoso a sua missão. Todos, de alguma forma, sabíamos isto: os bispos
Neste esforço para repensar a pastoral, pretende- e os responsáveis e seguidores de um movimento.
se envolver num caminho sinodal, em comunhão e Penso que, nem uns nem outros temos tido coragem e
colaboração, a nível diocesano e nacional, os múltiplos consciência para reconhecer e, sobretudo, actuar de
agentes pastorais (bispos, sacerdotes, religiosos e que é nesta abertura, nesta clareza e nesta confiança
religiosas, movimentos, associações de fiéis e outras que, para bem e fidelidade ao Espírito e à Igreja deve-
obras eclesiais). O itinerário percorrerá várias etapas. mos agir. Tudo isto, numa docilidade, simples e obe-
1.º - A Assembleia Plenária da Conferência diente, ao Espírito Santo.
Episcopal Portuguesa (CEP) apreciou o instrumento Bento XVI dizia: «Graças aos carismas, a
de trabalho (Abril de 2010). radicalidade do Evangelho, o conteúdo objectivo da
2.º - Nas Jornadas Pastorais do Episcopado, a CEP fé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persu-
reviu experiências e ouviu o contributo de peritos em asivamente e são acolhidos como experiência pesso-
teologia e pastoral e de figuras da sociedade civil e da al, como adesão da liberdade ao evento presente de
cultura (Junho de 2010). Cristo.» Está aqui, no meu entendimento, a doutrina
3.º Entre Julho de 2010 e Março de 2011, nas fundamental sobre a importância, o lugar e a missão
dioceses (conselhos pastorais ou outras dos movimentos na Igreja. Creio firmemente que,
instâncias), nas conferências ou direcções enquanto manifestação do Espírito em cada tem-
nacionais dos institutos de vida consagrada e dos po, os movimentos são indispensáveis à vida da
movimentos e associações de fiéis far-se-á o Igreja e têm um lugar insubstituível na iniciação
trabalho de discernimento pastoral. cristã de muitos baptizados, levando-os ao encon-
4.º - O resultado deste trabalho é recolhido e tro pessoal com Jesus Cristo.
sintetizado no Gabinete de Estudos Pastorais da CEP. João Paulo II já falava da necessidade que a Igreja
5. As conclusões recolhidas são depois reflectidas tem de «grandes correntes, movimentos e testemunhos
pelo grupo representativo das dioceses, congregações de santidade entre os fiéis», sobretudo nos meios hu-
e movimentos e devolvidas à CEP. (Maio de 2011). manos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo,
6. Nas jornadas pastorais, estudam-se as formas atraindo para a graça de Cristo dando testemunho
de pôr em prática as orientações comuns nas dioceses d’Ele.
e nas diferentes instâncias da Igreja (Junho de 2011). No presente caminho de «repensar a Igreja em Por-
7. A CEP define as orientações pastorais comuns tugal», os movimentos e as novas comunidades ecle-
para a Igreja em Portugal (Novembro de 2011). siais têm um lugar muito importante.
14. IGREJA
14 espiral
Antigos alunos dos seminários voltam à cena
Há cerca de um ano, realizou-se o 1.º Congresso Nacional
dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses. O professor
Este ano criou-se a União das Associações dos Antigos César das Neves abordou o tema
Alunos dos Seminários Portugueses – UASP. “Um novo sentido de responsabi-
Matias
L uís Matias lidade para o desenvolvimento so-
cioeconómico” sob duas perspec-
Já ninguém tem dúvidas de que os seminários tivas principais: uma visão sobre
desempenharam um papel absolutamente relevante, o actual cenário do mundo na
diremos fundamental, no ensino e na transformação questão económica – de crise –
da sociedade do século passado. Foi reconhecido que e o impacto social que ela acar-
o trabalho realizado e a investigação efectuada no reta, colocando-lhe contudo
âmbito do 1.º Congresso Nacional dos Antigos Alunos uma visão e perspectiva posi-
dos Seminários Portugueses teria de ter continuação e tiva e de esperança, con-
radicar-se com uma estrutura per manente de victo de que o mun-
polarização, de difusão de ideias, de representação, de do teve outras crises
promoção de actividades e valores, radicados no parecidas, piores
fundamento da educação e dos princípios emanados até, e que sempre
desta riquíssima experiência de formação num dos foram superadas.
muitos seminários em Portugal. Crê que as crises são
Com este objectivo, constituiu-se um núcleo de também uma grande oportuni-
trabalho de âmbito nacional, sediado no Seminário dade de repensar os processos,
Diocesano de Leiria, por razões de centralidade, das de os ajustar para o futuro. De-
excelentes condições oferecidas e do incondicional pois, pegou na encíclica papal
apoio dos seus responsáveis. Aqui se deram os «Caritas in Veritate» e
primeiros passos para a formação de uma “União das escalpelizou o fundamento da sua posição, dizendo
Associações dos Antigos Alunos dos Seminários que já quase tudo está ali expresso, e que o pensamen-
Portugueses – UASP”, sendo concebida pelas diversas to e o papel da Igreja são fundamentais para encarar o
associações intervenientes como uma estrutura futuro com esperança, para cada pessoa e para a Hu-
polarizadora e de representação, que não intervirá na manidade.
dinâmica interna das diversas associações que a
constituem. Este grupo de trabalho criou, com reflexão
e discussão, os estatutos da UASP, que foram A Dr.a Marta Brites, investigadora do Instituto de
publicamente apresentados em 12 de Junho passado. Bioética da UCP – Porto, desenvolveu o tema das “Pos-
A sessão de apresentação rodeou-se de um bem sibilidades e limites das tecnologias no cuidar da vida
recheado programa, que desde já é augúrio do elevado humana”, contextualizando esta nova e fundamental
nível que os responsáveis pretendem dar a todas as disciplina da Bioética no contexto da moralização e
realizações deste organismo nascente. Nela propôs-se dos princípios, nos limites das tecnologias aplicadas à
reflectir genericamente sobre «ética e responsabilidade vida humana. A massificação, o afrouxamento dos prin-
na gestão do bem comum». É um assunto sério e cípios morais e éticos das sociedades contemporâne-
emergente, não só em Portugal, mas em todo o mundo, as, a fácil cedência ao utilitarismo, conjugado com o
considerando a actual conjuntura económica, social e espantoso desenvolvimento dos conhecimentos cien-
técnico-científica. Realizaram-se duas conferências, tíficos e tecnológicos, podem levar à instrumentaliza-
uma de manhã, pelo professor Doutor João César das ção destes por aqueles, situação inaceitável e de alto
Neves, outra de tarde, pela Dr.a. Marta Brites. risco para o nosso presente e para as sociedades futu-
Este riquíssimo evento contou ainda com a Euca- ras. A Bioética coloca-se neste meio como moderado-
ristia presidida por D. António Marto, bispo de Leiria- ra do cada vez mais complicado diálogo entre estas
Fátima, e um almoço convívio entre os participantes. duas partes.
15. BÍBLIA
l
espiral 15
O dilúvio, a Aliança, a reconciliação universal
O «Dilúvio” foi tema de estudo na Universidade Sénior de Castelo de Paiva. O orientador desafiou
os participantes a apreciarem o texto e a descobrirem uma interpretação. Joaquim Soares partilha-o.
Capítulos 6, 7 e 8 do Génesis. Impressionante este analfabetos espezinhados, os famintos abundam por
texto! Deslumbram os pormenores da Arca, a todos os lados, os explorados não param de crescer. E
meticulosidade das dimensões, os cuidados com a sua os responsáveis e entendidos entretêm-se com cimeiras
vedação, a atenção de Noé sobre os pormenores da e outras reuniões de altos desígnios, infindáveis, que
sua construção, o cuidado na selecção dos animais e servem para elogios mútuos, mas adiam as soluções.
das aves. Há de facto uma preocupação desta A desilusão, a frustração... Os povos vivem uma
personagem em corresponder à vontade de Deus. esperança que não vêem concretizada.
Todavia, sente-se a frustração do autor da narrativa:
o Homem não corresponde aos objectivos do Criador. Que solução se pode esperar
. Noé não tem solução. Será que o homem aprendeu
Profissão de fé alguma coisa com a sua experiência? Apenas lhe surge
A doutrina da Igreja e a sua interpretação é assunto como solução para uma sociedade justa a aniquilação
que não se questiona. A presente reflexão vai na linha da Humanidade e o seu recomeço em parâmetros
de encontrar um fio condutor que se ajuste ao tempo novos, valores novos - fazer tudo de novo!
presente. Terá esta passagem algo a dizer ao homem Temos ouvido muitas vezes a gente simples dizer:
do século XXI? Poderemos transpor para o presente a «Deus não pode com tanto!», fazer uma nova
personagem Noé? Será actual esta personagem? Humanidade em que os homens sejam irmãos, se
Partimos do texto: a corrupção estendeu-se por toda respeitem nas diferenças, superem as dificuldades…
a Terra, sob as mais diversas formas. O Senhor Outros, mais radicais, talvez garantam que só uma
arrependeu-Se de ter criado o homem e o Seu coração bomba… A resposta de Noé foi construir uma arca
sofreu amargamente. Noé, homem justo e perfeito, grandiosa. Lá abrigou alguns animais e a sua família.
encontrou graça diante do Senhor. O Senhor comuni- Assim começou o repovoamento do mundo, cujos ho-
ca a Noé a Sua decisão de exterminar os homens e a mens e mulheres seriam a Humanidade nova.
Terra. O Senhor faz o convite da construção da arca.
Este texto é muito belo. Seria abuso considerá-lo Erro de Noé
ultrapassado. Noé imaginou que só uma destruição, o
aniquilamento, dos homens e dos animais existentes
Se Noé fosse dos nossos dias acabaria com o mal, toda a espécie de mal que o afligia.
Comparemos as circunstâncias: a corrupção ganhou Noé vem a descobrir que foi erro. Como é que ele
dimensão que a todos surpreende; a exploração do descobriu essa verdade, não sabemos. Mas o autor põe
homem; o desemprego forjado; salários em atraso; a na boca de Deus palavras claras (vv. 8, 21 e 22) quan-
avidez insaciável de lucro; a guerra; a violência; a to ao futuro da Humanidade.
mentira; as conveniências; o jogo do poder; a política
suja… um nunca mais acabar. Aliança
Noé, um resistente! Não cede ao facilitismo, não A aliança com Noé é cosmológica: Noé, os
se vende ao consumismo. Resiste! Insatisfeito com o descendentes e os demais seres vivos… E será Deus
que observa, considera que o seu Deus não pode que, ao ver o arco-íris nas nuvens, Se recordará desta
concordar com esta situação. Que pode fazer? Sente- aliança, e o dilúvio não voltará a acontecer.
-se impotente para enfrentar os grandes deste mundo. Noé foi, no seu tempo, um salvador da
Hoje, a realidade é idêntica. Admira-se que os mais Humanidade. Poderemos concluir que a salvação de
esclarecidos, os mais conscientes dos cidadãos vários está dependente do esforço de alguns. E, em
embarquem adormecidos e colaborem nesta farsa: os Jesus Cristo, pela Aliança no Seu Sangue, Deus recon-
pobres e os idosos são esquecidos, os simples e os cilia o Homem consigo mesmo. Admirável!
16. Em redor do bispo D. Ilídio
| P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816
A convite do bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, normais de formação; os padres casados falarem da
como previsto, realizou-se o 2.º Encontro dos padres da sua experiência aos padres em exercício; criar uma
dispensados do exercício do ministério ordenado, que, comissão ou secretariado composto por padres do
por sua vez, tinham convidado alguns sacerdotes no Conselho Presbiteral e padres casados, para aprofun-
exercício desse ministério. Foi acontecimento damento de temas de mútuo interesse; o bispo ou os
marcante no dia 28 de Maio passado, prolongado por seus órgãos representativos convidarem os padres
umas sete horas, com o almoço incluído, tudo no casados a participar na vida da diocese, quando o en-
Centro Sócio-Pastoral da diocese. Compareceram 14 tenderem, bem como na oração de uma das Horas
padres dispensados (um deles vindo do Brasil, com (talvez Vésperas) do Ofício Divino, possivelmente à
sua esposa, João Tavares e Sofia, única senhora quinta-feira…
presente por deferência de D. Ilídio) e 7 padres no O próximo Encontro - o terceiro - ficou marcado
exercício. Assinale-se que a teóloga Sofia, no seu para 4 de Dezembro, aberto às esposas dos sacerdores
testemunho, referiu que, nos primeiros encontros de casados e a todos os sacerdotes da diocese que quei-
P.Ta
padres casados no Brasil, sobressaía o saudosismo; ram participar. Questionados quanto ao tema a tratar,
«hoje, estão felizes com o seu estado de vida». sugeriram-se tópicos: a prática das obras de miseri-
Pessoalmente, dedica-se «ao anúncio da Palavra, a córdia/obras sociais, tendo ficado encarregados de o
Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix
tornar Jesus Cristo conhecido». fazer Fernando Vale (padre casado) e Ricardo Cardo-
so (padre em exercício). Antes ainda, D. Ilídio irá con-
O próximo Encontro - o terceiro - ficou vidar os padres dispensados do exercício do ministé-
marcado para 4 de Dezembro, e será rio ordenado residentes na diocese, a fim de, em Se-
aberto às esposas dos padres tembro, tratarem do sínodo diocesano que, então, se
dispensados e a todos os sacerdotes da iniciará, porque, repete o que já dissera no 1.º Encon-
diocese que queiram participar. Terá tro: «Gostaria de contar muito convosco no sínodo
como tema diocesano. Vamos acordar quais as participações a ter.»
as obras de misericórdia/obras sociais António Moreira, do grupo dos padres casados, já
conhecido da Fraternitas Movimento, pois participou
D. Ilídio começou por referir os ausentes, um que com sua esposa num dos Encontros da Associação,
tinha falecido na Suíça e outros que haviam em Fátima, tinha-se incumbido de preparar o tema
justificado, seguindo-se a apresentação dos restantes. que apresentou, intitulado «O Sacerdócio à Luz do
Foi evidenciada ao nosso querido bispo a satisfação Vaticano II, ‘Sacerdotalis Caelibatus’ (Paulo VI) e o
por esta sua iniciativa de congregar ao seu redor ‘Codex Iuris Canonici’». Acerca da sua magistral e
elementos dos dois estados no sacerdócio, em que as oportuna dissertação e diálogo que se seguiu, ver o
QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com
relações nem sempre foram as mais fraternas. Um padre artigo «Celibato Sacerdotal, hoje: “jóia da coroa” ou
no exercício considerou-a como um «desafio», pechisbeque», nas páginas 4 e 5 deste boletim.
passando-se a sugestões: abertura mútua em encontros Luís Cunha
RETIRO/ENCONTRO FRATERNITAS em FÁTIMA
Tema: Como caminhar com Cristo e com a Igreja, - Refeição – Almoço ou jantar: 10 euros; na meia-
num mundo que tenta afastar-se da fé. diária: 5,50 euros.
Orientador: P.e Rocha Monteiro (salesiano) - 1 dormida com pequeno-almoço: 17,50 euros;
Data: de 26 (jantar) a 28 (almoço) de Novembro na meia-diária: 10,50 euros.
Local: Casa Nossa Senhora do Carmo, em Fátima Informações e inscrições - Secretariado:
Preço: INSCRIÇÃO: Sócios: gratuita Urtélia Silva | Telemóvel: 914 754 706
Não Sócios: 5 euros/por pessoa. Telefone: 239 001 605
Diária por pessoa: E-Mail: secretariado@fraternitas.pt
- 35 euros (quarto individual/duplo ou triplo) Data limite de inscrições: 15 de Novembro
O pagamento far-se-á durante a estadia ao
espi ral
- Gratuito – até aos 3 anos (exclusive)
- Meia diária (17,50 euros) – 3 aos 12 anos tesoureiro, Luís Cunha.
(exclusive) Que ninguém deixe de participar por
dificuldades financeiras.