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PARTE I
A INTERAÇÃO ENTRE PESSOAS
ORGANIZAÇÕES

E

A PARTE I trata da estreita e íntima interação entre pessoas e organizações e
como elas intercambiam seus respectivos recursos. Está constituída de três capítulos:

A s o r g a n iz a ç õ e s e s u a
c o m p le x id a d e . O r g a n iz a ç õ e s
s ã o s is t e m a s a b e r t o s e s o c ia is .
R a c io n a lid a d e e n ív e is .
A m b ie n t e , s u a d in â m ic a e
c o m p le x id a d e a m b ie n ta l.

C a p ítu lo 1
As
o r g a n iza ç õ e s

PA R T E I
A in te r a ç ã o
e n tr e p e sso a s
e o r g a n iza ç õ e s

V a r ia b ilid a d e e c o g n iç ã o
h u m a n a . M o t iv a ç ã o .
C o m u n ic a ç ã o . C o m p o r t a m e n t o
h u m a n o n a s o r g a n iz a ç õ e s .
C o n c e it o d e h o m e m c o m p le x o .

C a p ítu lo 2
As
p essoas

C a p ítu lo 3
As p esso as e
a s o r g a n iza ç õ e s

11

R e c ip r o c id a d e e n t r e p e s s o a s e
o r g a n iz a ç õ e s . R e la ç õ e s d e
in t e r c â m b io . C o n c e ito d e
in c e n t iv o s e c o n t r ib u iç õ e s .
C lim a o r g a n iz a c io n a l.
1
12
AS ORGANIZAÇÕES

VISÃO GERAL DO CAPÍTULO
Vivemos em um mundo de organizações. As organizações precisam ser
administradas para serem eficientes e eficazes. Este capítulo é uma introdução à
natureza e características das organizações, como sistemas abertos e sociais. Aborda
os seguintes temas:
1. Conceito de organização. Complexidade das organizações. As diferentes eras das
organizações.
2. As organizações como sistemas abertos e como sistemas sociais: abordagem de
Katz e Kahn e a abordagem de Tavistock.
3. Os participantes das organizações.
4. Os objetivos organizacionais e a racionalidade das organizações. Os níveis
organizacionais.
5. As organizações e o ambiente: ambiente geral (macroambiente) e ambiente de
tarefa (microambiente). Dinâmica ambiental e complexidade ambiental.
6. Conceito de eficácia organizacional. Capital intelectual.

TEMAS PARA REFLEXÃO
Uma nova organização para os novos tempos
A sociedade moderna é uma sociedade de organizações. Nascemos em
organizações, criamo-nos dentro delas, somos educados e curados por organizações,
trabalhamos em organizações e, até para morrer, dependemos das organizações. À
medida que as organizações crescem e se desenvolvem, tornam-se gradativamente
mais complexas pelo aumento da divisão do trabalho, da diferenciação e da
necessidade de integração de suas várias atividades. A tendência natural é o aumento
de áreas distintas para lidar com os diversos aspectos ambientais (como
13
departamentos ou divisões) e o aumento de níveis hierárquicos para garantir o
controle interno das atividades. Daí, a crescente burocratização. A burocratização
envolve os seguintes aspectos principais:
•

divisão do trabalho e fragmentação das atividades, com a criação de
departamentos (departamentalização) e de cargos especializados;

•

hierarquização da autoridade, com a criação de níveis hierárquicos na
organização;

•

caráter legal, ou seja, criação de normas e regulamentos que ditam como
as tarefas deverão ser executadas por meio de rotinas e programas de
trabalho;

•

caráter formal, ou seja, toda comunicação deve ser escrita e documentada;

•

impessoalidade no relacionamento, ou seja, as pessoas tornam-se
ocupantes de cargos e relacionam-se como tais, despersonalizando seu
relacionamento dentro da organização;

•

rotinas e procedimentos, para garantir que as atividades sejam executadas
de acordo com as normas e regulamentos da organização;

•

competência técnica e mérito profissional, que são os critérios de seleção e
promoção dos participantes;

•

especialização da administração, ou seja, separação entre propriedade e
governança da organização: os donos ou acionistas do negócio deixam de
ser os dirigentes para delegar a gerência a profissionais especializados.

A burocratização foi uma magnífica invenção humana dos tempos da
industrialização clássica, cujas características principais eram permanência,
estabilidade e previsibilidade. Assim se construíam as organizações daquela época.
Hoje, em plena Era da Informação – ou pós-industrial –, o modelo burocrático já não
faz mais sentido, pois não apresenta condições de mudança e ajustamento rápido
necessários para um mundo de transformação, instabilidade e imprevisibilidade. Em
uma era de mudanças rápidas e profundas como as que estamos enfrentando hoje em
dia, o modelo burocrático está sendo substituído pelo modelo adhocrático: flexível,
mutável, efêmero e maleável. E quais são as diferenças? Radicais.
Quanto à estrutura organizacional, no modelo adhocrático, o velho
organograma funcional foi parar no museu. Em vez de hierarquia verticalizada, o
downsizing trouxe uma organização achatada e com pouquíssimos níveis
hierárquicos. No lugar de divisões ou departamentos, equipes integradas e

14
multifuncionais, com características de autogerenciamento. Em vez de cargos
individualizados, trabalho em grupos de pessoas ou em células de atividades. Para o
bom entendedor, em vez de separar e dividir (o trabalho), os novos modelos
adhocráticos estão tentando juntá-lo e integrá-lo. É a busca da sinergia.
Quanto à cultura organizacional, o modelo adhocrático está enterrando o
estilo autocrático e impositivo de gerenciar pessoas pelo estilo democrático e
participativo. Ou seja, o velho comando militar pela participação espontânea das
pessoas. Isso significa substituir a obediência ao superior pela colaboração e
cooperação espontâneas das pessoas. E o que há de importante nisso? Simples.
Quando as pessoas participam, colaboram e cooperam, elas estão proporcionando o
impulso básico que conduz a organização ao sucesso. Sinal dos novos tempos.

CASOS
O projeto supersônico de Araraquara1
A fábrica nem existe ainda. Há uma desapropriação para se consumar nos
próximos dias e a previsão de uma disputa jurídica entre o governo de São Paulo e os
plantadores de laranja que tiveram suas áreas declaradas de utilidade pública. Mas
Araraquara já trata como se fosse seu o pólo aeroespacial da Embraer, que será
instalado em Gavião Peixoto.
Gavião Peixoto é um município com 4,5 mil habitantes, emancipado há
poucos anos, e com pouca, quase nenhuma, estrutura para atender às levas de
técnicos e executivos que migrarão para a região. É em Araraquara que se
concentrará a maior parte dos três mil funcionários da fábrica. É por ali que escoa-rá
o dinheiro movimentado na região por conta da chegada da Embraer.
Os aviões, não à toa, começam a substituir as laranjas nos sonhos de
prosperidade da população da cidade. Novos projetos residenciais e comer-ciais, que
envolvem hipermercados e shopping centers, foram acelerados. Redes hoteleiras,
como Meliá e Accor, tratam de marcar posições no município. E jovens ficam
irrequietos com a possibilidade de encontrar um lugar ao sol no mundo da alta
tecnologia e dos testes supersônicos. A cidade vive a expectativa da definitiva
conversão econômica da agricultura para a produção de bens de altíssimo valor
agregado.
1

VAILARDAGA, Vicente. O Projeto Supersônico de Araraquara. Gazeta Mercantil,
11 set. 2000, p. A-6.

15
Até a população de Hortênsia, bairro da periferia mais distante de Araraquara,
recebeu um golpe na imaginação com a notícia da Embraer. Sonha-se em Hortênsia
com o fim da sazonalidade do emprego nos laranjais. Os colheiteiros trabalham seis
ou sete meses por ano, com salários mensais de R$ 300. No resto do tempo, vivem de
trabalhos eventuais. Suas chances na disputa por vagas na Embraer são remotas, por
causa da baixa qualificação. Mas há muitos empregos indiretos à vista, entre 1,5 mil e
três mil.
O comércio, por exemplo, começa a fazer contas. Quando a Embraer estiver
operando a plena capacidade, em 2004 ou 2005, sua folha de pagamento somará cerca
de R$ 70 milhões por ano, considerando o salário médio da empresa em São José dos
Campos. Se um quarto do bolo ficar no varejo da cidade, o movimento das lojas
crescerá 15%. É um impacto muito superior ao que o setor agrícola pode
proporcionar.
O modelo de empreendimento da citricultura é concentrador e não distribui
riqueza, afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Araraquara. O
desenvolvimento da região depende, agora, do avanço tecnológico e da melhoria do
nível da mão-de-obra. Estima-se que cerca de cinco mil pessoas trabalhem na colheita
de laranjas em Araraquara e Gavião Peixoto. A indústria, representada por empresas
como Inepar, Nestlé, Lupo, Kaiser e Cutrale, é a principal empregadora do município,
com 33% das vagas.
Outro setor que se agita é o imobiliário. Parte dos salários da Embraer será
utilizada em gastos com moradia. Uma das principais construtoras de Araraquara, a
Vivenda Nobre, ergue três prédios de padrão médio e um flat e planeja um prédio de
alto padrão. Vários projetos que estavam nas gavetas ou vinham sendo tocados com
lentidão foram acelerados. A Embraer criou uma expectativa positiva na cidade,
aumentando, inclusive, a auto-estima da população. A Prefeitura estuda a criação de
um novo distrito industrial do município, que se somará aos oito existentes. A idéia é
abrigar o máximo de fornecedores da Embraer. Alguns deles, porém, como a
Kawazaki, ficarão mesmo em Gavião Peixoto.
Os produtores de laranja estão longe das melhores safras. O preço
internacional do fruto atingiu o nível mais baixo dos últimos anos e o preço da caixa
no mercado interno também caiu. Há muita oferta de laranja. Assim, não existe
qualquer foco de oposição à instalação da fábrica. O governo de São Paulo, com base
em perícias técnicas, depositou R$ 9,18 milhões para a desapropriação do terreno, a
um preço médio de R$ 13 mil por alqueire. As fazendas envolvidas na desapropriação
pretendem fazer contra-ofertas superiores. E um dos temas que devem ganhar fôlego
é o do lucro cessante das propriedades. O lucro cessante é aquele que as empresas
deixam de computar por causa da interrupção forçada de sua produção durante um
16
determinado período. Os laranjais que serão substituídos pela fábrica e pela pista de
provas da Embraer estão em plena maturidade. Na negociação, a Embraer não
desocupará as plantações de laranja rapidamente. De cara, a empresa necessita apenas
de 13% dos 736 alqueires para instalar sua pista. A totalidade da área só será ocupada
em um prazo de quatro anos.

2
AS PESSOAS

17
VISÃO GERAL DO CAPÍTULO
As pessoas constituem o começo e o fim da ARH: o homem é a medida de
todas as coisas. Este é um capítulo introdutório sobre a natureza e características das
pessoas. Aborda os seguintes itens:
1.

A variabilidade humana. As diferenças individuais das pessoas.

2.

A cognição humana: teoria de campo e da dissonância cognitiva.

3.

A complexa natureza do homem.

4.

Motivação humana: ciclo motivacional; hierarquia das necessidades;
teoria dos dois fatores; modelo contingencial de motivação; teoria da
expectação.

5.

Comunicação. Barreiras à comunicação.

6.

O comportamento humano nas organizações.

7.

Conceito de homem complexo. O homo digitalis.

TEMAS PARA REFLEXÃO
O espírito empreendedor1
Quais são as duas qualidades mais marcantes de um empreendedor? Sem
dúvida, o apetite pelo risco e um desejo insaciável de ação. No passado, as
condições nos negócios funcionavam contra o espírito empreendedor. O tamanho da
empresa, a estabilidade do ambiente e a experiência acumulada eram os únicos bens
considerados valiosos no mundo empresarial. Sem eles, era inútil pensar em provocar
algum impacto.
Tudo isso está mudando rapidamente. O cenário do mundo empresarial no
século XXI será mais hospitaleiro para o empreendedor. A volatilidade e a
imprevisibilidade da hiperconcorrência global desvalorizaram completamente a
maioria das virtudes e o curso das organizações existentes. De que serve o tamanho
organizacional se a empresa é lenta demais para capitalizar em novas oportunidades
com rapidez? De que serve realizar exaustivas pesquisas de mercado se o mercado
muda tão rápido que elas estarão obsoletas antes mesmo que você consiga analisá1

KIERNAN, Matthew J. The eleven commandments of 21 st. Century Management.
Englewood Cliffs, NJ: Pratice-Hall, 1996. p. 101-102.

18
las? De que serve a longa experiência no mercado se o concorrente tende a abordá-lo
por um caminho completamente diferente e inovador?
Sob tais condições, o que mais conta é a vontade e a capacidade de correr
riscos, obter retroação do mundo real e reagir rapidamente. Em resumo, a capacidade
de ser empreendedor. Enquanto organismo comercial, o autêntico empreendedor deve
provar-se absolutamente adaptado aos crescentes imperativos do ambiente
competitivo do século XXI. Inspirado por sua dinâmica competitiva radicalmente
diversa e liberado pelas novas tecnologias de informação/comunicações, a hora do
empreendedor finalmente está chegando.

O trabalhador do conhecimento2
Peter Drucker faz um comparativo entre a Revolução Industrial e a
Revolução da Informação. Para ele, o comércio eletrônico, filho tardio do
computador, terá um impacto semelhante ao que teve a ferrovia, filha da máquina a
vapor, sobre as empresas, trabalho e economia. Aquilo a que chamamos de
Revolução da Informação é, na realidade, uma revolução do conhecimento. A
rotinização de processos não foi possibilitada por máquinas. O computador, na
verdade, é apenas o gatilho que a desencadeou. O software é a reorganização do
trabalho tradicional, baseado em séculos de experiência, por meio da aplicação do
conhecimento e, especialmente, da análise lógica e sistemática. A chave não é a
eletrônica, mas sim a ciência cognitiva.
Tudo isso significa que a chave para manter a liderança na economia e na
tecnologia que estão prestes a emergir provavelmente será a posição social dos
trabalhadores do conhecimento e a aceitação social de seus valores. Se eles
continuassem sendo funcionários tradicionais e tratados como tais, isso equivaleria ao
tratamento que a velha Inglaterra deu a seus tecnólogos. E as conseqüências
provavelmente seriam semelhantes.
Hoje, porém, estamos tentando ficar em cima do muro: manter a mentalidade
tradicional – na qual o recurso-chave é o capital e quem manda é o financista – e, ao
2

2

Extraído de DRUCKER, Peter F. O futuro já chegou. Exame. no 710, p. 113-126, 22
mar. 2000.

19
mesmo tempo, subornar os trabalhadores do conhecimento, com bônus e opções de
compra de ações – para que se contentem em conti-nuar sendo meros empregados.
Mas isso vai funcionar, se é que vai funcionar, apenas enquanto as indústrias
emergentes desfrutarem da explosão no mercado acionário, como vem sendo o caso
das empresas ligadas à Internet. As próximas indústrias de grande porte
provavelmente irão-se comportar muito mais como as tradicionais. Ou seja, crescerão
de maneira lenta, dolorosa e à custa de muito esforço.
As primeiras indústrias da Revolução Industrial – têxteis de algodão,
siderurgia e ferrovias – eram indústrias explosivas. Elas geraram milionários da noite
para o dia, como os banqueiros de investimentos ou os donos de fundições. As
indústrias que surgiram depois de 1830 também geraram milionários, mas levaram 20 anos para fazê-lo. Foram 20 anos de trabalho duro, lutas,
decepções, fracassos e poupança. É provável que a mesma coisa se aplique às
indústrias que vão surgir daqui para a frente. Isso já está acontecendo com a
biotecnologia.
Está claro, portanto, que subornar os trabalhadores do conhecimento – de
quem dependem essas indústrias – simplesmente não vai funcionar. Os trabalhadoreschave do conhecimento certamente vão continuar tendo a expectativa de poder
compartilhar financeiramente os frutos de seu trabalho. Mas é provável que esses
frutos financeiros levem muito mais tempo para amadurecer, se é que vão
amadurecer. Então, provavelmente, dentro de uns dez anos, administrar um negócio
que tenha como sua primeira (quando não única) meta e justificativa para o valor para
o acionista (valor de curto prazo) passará a ser contraproducente. Cada vez mais, o
desempenho dessas novas indústrias baseadas no conhecimento vai depender de as
instituições serem administradas de maneira a atrair, reter e motivar os trabalhadores
do conhecimento. Quando satisfazer a cobiça de tais trabalhadores, como hoje
estamos tentando fazer, deixar de ser suficiente, será preciso atender a seus valores e
oferecer-lhes reconhecimento e poder social. Para isso, será preciso transformá-los de
subordinados em colegas executivos. De empregados, por mais bem pagos que
possam ser, em sócios. A Revolução da Informação representa uma nítida
transferência de poder de quem detém o capital para quem detém o conhecimento.

20
As mudanças individuais como base das mudanças
organizacionais3
Covey, autor consagrado e especialista em liderança, afirma que, para que as
organizações possam ser transformadas, torna-se necessário antes fazer o mesmo com
cada pessoa que delas faz parte. É o mesmo que imaginar que uma cultura pudesse ser
transformada sem que os indivíduos que a compõem se transformassem primeiro. É
isso que gera o seguinte tipo de pensamento: tudo nesta organização precisa mudar;
menos eu. Se todas as pessoas fizerem o mesmo, esqueça a transformação – ela
simplesmente não vai acontecer nunca. Nem a pauladas. A transformação tem
início no momento em que cada
pessoa se compromete intimamente a mudar. A transformação individual deve
acompanhar a transformação organizacional sob pena de haver duplicidade e cinismo.
Tentar mudar uma cultura ou um estilo de direção sem primeiro transformar os
próprios padrões de hábito é como tentar melhorar seu tênis sem primeiro
desenvolver os músculos que permitem jogar melhor. Algumas coisas devem
preceder a outras. Não se pode aprender a correr sem antes ter aprendido a andar, e
não se aprende a andar sem antes ter aprendido a engatinhar. Covey acrescenta que
nada vai mudar do jeito que gostaríamos que mudasse em nossas nações,
organizações e famílias até que nós mesmos mudemos e nos tornemos parte da
solução que buscamos. Fazer parte da solução e não parte do problema. Assim, Covey
propõe 10 chaves mestras para a transformação em qualquer lugar e a qualquer
momento, a saber:
1.

2.

3

Conscientização: a transformação somente tem seu início com a clara
consciência da necessidade de mudar. Precisamos ter perfeita noção de
onde estamos em relação a onde queremos estar. O primeiro passo é
fazer a cabeça das pessoas a respeito da necessidade e da direção da
mudança.
Envolvimento: o passo seguinte é entrar num processo de missões
conjuntas, alinhando a missão pessoal e individual com a missão da
organização. Esse processo é realizado por meio do envolvimento e da
participação. As pessoas têm de decidir por si sós qual o impacto que as
transformações exercerão sobre elas e sua esfera de influência. Quando
as pessoas compartilham a mesma missão, haverá um reforço na cultura

COVEY, Stephen. As dez chaves para uma era de mudanças. Exame. no 609, p. 6466, 8 maio 1996.

21
para ajudar a solidificar as transformações. O segundo passo é envolver
as pessoas no processo de mudança.
3.

Segurança interior: o terceiro passo é construir um senso de segurança
interior com relação à mudança. Quanto menos segurança interior as
pessoas têm, tanto menos elas conseguem adaptar-se à realidade externa.
As pessoas não irão mudar por conta própria, a não ser que tenham
segurança de que o tapete não será puxado. Se aquilo que lhes dá
segurança é algo que está fora delas, elas enxergarão as mudanças como
ameaças. É necessário um profundo sentimento de permanência e de
segurança. O terceiro passo é assegurar segurança às pessoas.

4. Legitimação: o passo seguinte é procurar legitimar as transformações no
âmbito pessoal. As pessoas precisam reconhecer a necessidade da
mudança e o preço a pagar pela sua satisfação. É preciso proceder a uma
mudança de mentalidade e de habilidades e para consegui-lo as pessoas
devem pagar o preço em termos de desenvolvimento. Toda mudança
envolve certo custo pessoal e as pes-soas devem sentir que vale a pena
pagá-lo. O quarto passo é legitimar as mudanças na mente de cada
pessoa.
5. Responsabilidade pelos resultados: Isso deve caber à organização ou ao
indivíduo? A resposta: as pessoas precisam assumir a responsabilidade
pessoal pelos resultados a alcançar. Cabe a cada indivíduo ser
competente. Cada pessoa deveria considerar a organização co-mo um
recurso, um meio, uma ferramenta para desenvolver suas competências
pessoais. A organização, não mais como reguladora, fiscalizadora e
coercitiva, mas como provedora, orientadora e incentivadora do
desenvolvimento humano. Para conseguir isso, a organização deve
oferecer o ambiente adequado que dê apoio e impulso às pessoas para
que elas adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para seu
sucesso, bem como as oportunidades para que ponham em prática as
novas habilidades e conhecimentos. O quinto passo é incentivar,
desenvolver e dar oportunidades às pessoas.
6.

Enterre o velho: a rejeição ao obsoleto deve ser acompanhada da
construção do novo. Simbolicamente, enterra-se um e batiza-se o outro.
Descongela-se o arcaico e recongela-se o novo. Desaprende-se um para
aprender o outro. Essa transição – que deve ser constante – é que
conduz à mudança e à transformação. A aprendizagem representa o
abandono dos velhos hábitos e a incorporação de novos hábitos mais
adequados.
22
7.

Abrace o novo caminho com espírito de aventura: o próprio processo de
transformação também precisa transformar-se constantemente. Em
primeiro lugar, a organização precisa ser centrada em leis naturais e em
princípios duradouros. Caso contrário, não se terá o fundamento
necessário para dar suporte às iniciativas de reforma e de mudança. Os
líderes centrados em princípios criam uma visão comum e reduzem as
forças limitadoras.

8.

Espírito aberto: é necessário que se esteja sempre aberto e receptivo a
novas opções, com imunidade para a rigidez. Ter em mente uma meta
final e buscar uma solução sempre melhor do que a atual e partir sempre
para novas alternativas e soluções criativas. A melhoria contínua é
decorrência dessa abertura mental.

9.

Sinergia: busque sinergia com outros interessados no processo. Quando
as pessoas se sentem compreendidas e valorizadas, elas podem
transformar-se a seu próprio modo em vez de mudar seguindo alguma
norma, clone, ordem ou mandato. Quando se aceita a diversidade, surge
lugar para a sinergia e a sinergia reforça tremendamente as
transformações. Uma verdadeira bola-de-neve.

10. Propósito transcendental: os interesses gerais devem sempre prevalecer
aos individuais e particulares. Quando as pessoas enxergam o mundo em
termos de “nós contra eles”, elas entram em um processo de transações
pessoais e não de transformações sociais.
Para Covey, os líderes eficazes são aqueles que “transformam” pessoas e
organizações. Promovem mudanças em suas mentes e em seus corações, ampliam a
sua visão e sua compreensão, esclarecem as metas, tornam os comportamentos
congruentes e consonantes com as crenças, os princípios e os valores e implementam
transformações permanentes, que se auto-perpetuam e cujo ímpeto e intensidade é
cada vez maior. Uma verdadeira bola-de-neve.

23
CASOS
Bosch: o modelo de competências4
Fala-se muito em competências. Gestão por competências, treinamento por
competências, remuneração por competências, e coisas assim. A busca pela
competência – seja pessoal ou organizacional – é perseguida pelas pessoas e
organizações como meio de garantir um lugar ao sol. Afinal, talento humano é uma
questão de sobrevivência e de sucesso das organizações em um mundo em mudança e
transformação e carregado de competitividade. Competência significa um repertório
de comportamentos que certas pessoas ou empresas dominam melhor que outras e
que as torna eficazes e competitivas em face de determinada situação. Na verdade, a
competência constitui um conjunto de conhecimentos, práticas, comportamentos e
tipos de raciocínio adquirido em função do aprendizado. Um conjunto de
conhecimentos, habilidades, atitu- des e interesses que diferenciam pessoas ou
organizações. Assim, as competências são observáveis em situações do cotidiano do
trabalho ou em situações de teste.
A Robert Bosch Limitada, com unidades em Curitiba (PR), Aratu (BA), São
Paulo (SP) e Campinas (SP), iniciou a implantação do modelo de competências em
meados de 1998, quando se percebeu a necessidade de um programa de competências
capaz de identificar as necessidades de desenvolvimento, utilizando um processo
objetivo para verificação de desempenhos individuais. O foco inicial era preparar
pessoas para carreira e sucessão na empresa. O projeto, porém, também seria o
alavancador para um programa de retenção de talentos por meio do banco de talentos.
A formatação do modelo foi baseada nos seguintes fatores:
1.
2.

a estrutura organizacional da empresa: níveis hierárquicos, necessidades
futuras, cargos e carreiras-chave;

3.

o perfil profissional desejado para atender às demandas do negócio;

4.

o modo de avaliação do perfil já existente na empresa;

5.

4

a cultura da empresa;

a filosofia da organização que prevê o processo de identificação e
avaliação de competências como uma fonte de referência para o
desenvolvimento e aproveitamento de potenciais e não a eliminação de
pessoas do processo;

FARES, José Antonio; VICENTINI, Antonio Marcos. Relato Bosch. revistadivulgar.com.br,
set. 2000/mat06/index/htm

24
6.

a escolha de uma metodologia de avaliação de potenciais que atendesse à
organização, dentro de seus padrões de qualidade.

A estratégia de implantação
Foi projetado um banco de talentos para suprir a necessidade de
redimensionamento de pessoas em função dos cargos e carreiras-chave, com a
participação dos gestores das áreas, que se responsabilizaram pela identificação dos
candidatos. Os critérios de escolha foram baseados na avaliação do desempenho
existente na ocasião, comparando-a com as competências demonstradas no cotidiano.
A área de RH fez o papel de facilitadora do processo, contando com a parceria de
todas as áreas da empresa.
O primeiro passo foi selecionar um grupo de pessoas-chave para iniciar as
primeiras discussões sobre as competências importantes para o negócio da empresa.
Em um elenco provisório, cada competência foi conceituada e desdobrada em
conhecimentos básicos, habilidades necessárias e atitudes desejáveis.
O segundo passo foi obter consenso sobre o elenco de competências. O
terceiro passo foi apresentar o projeto formal e angariar o comprometimento e
participação da diretoria. A seguir, o projeto foi apresentado a toda a organização em
uma reunião inaugural para conhecimento geral.

Como funciona o projeto
Cada profissional pode participar ou não e deve solicitar sua inclusão no
banco de talentos. É feita uma análise do histórico funcional do candidato e procedese a uma entrevista individual para obter-se um perfil de cada participante do
programa.
Os candidatos são submetidos a um seminário de dois dias, em turmas com
até 12 participantes, no qual constam atividades simuladas com base em jogos e
dinâmica de grupo. Além das atividades vivenciais, são utilizados instrumentos e
recursos técnicos com o objetivo de avaliar como as pessoas se comportam em face
do perfil de competências profissionais da Bosch. Faz parte do seminário a entrevista
individual de realimentação para verificar o estágio de desenvolvimento do
funcionário em cada competência e buscar seu comprometimento com o
autodesenvolvimento. Este processo não é eliminatório, mas aponta as competências
que podem ser desenvolvidas e as que estão dentro do desempenho esperado. Esta
fase proporciona os dados para elaboração de projetos de treinamento e

25
desenvolvimento para ampliar as competências desejáveis. É o chamado mapeamento
de competências internas.

Perfil de competências da Bosch
Todas as unidades da Bosch no Brasil assumem o seguinte perfil de três
competências básicas: as estratégicas, as técnicas e as de gestão.
As 10 competências privilegiadas pela Bosch são:
1.

Visão do negócio:
•

está atualizado sobre mercado e clientes;

•

conhece os produtos que fornece;

•

domina missão, objetivos e recursos internos e externos existentes;

•

2.

acompanha mudanças e tendências amplas e focadas no negócio;

•

pesquisa e detecta oportunidades com foco no cliente.

Profit Oriented:
•
•

faz planejamento
periodicamente;

•

divulga e operacionaliza amplamente seus objetivos;

•

decide por meio de análise do que agrega valor e relação
custo/benefício;

•

3.

administra por resultados efetivos (dono do negócio);

aprende e melhora com os resultados obtidos.

estratégico,

avaliando

redirecionando

Espírito empreendedor:
•

possui clareza de propósito e de meios;

•

tem iniciativa própria com parcerias (autonomia);

•

cria alternativas novas e eficazes de solução;

•

age proativa e rapidamente;

•

4.

e

corre e assume riscos.

Gerador de mudanças:
•

influencia a organização/pessoas com suas idéias (missionário);

•

provoca novas reflexões sobre assuntos conhecidos;
26
•
•

enfrenta a dúvidas e erros decorrentes de novos desafios;

•

5.

persiste na concretização de mudanças;
rompe paradigmas e experimenta soluções inovadoras.

Líder coaching:
•
•

escala o melhor time;

•

desenvolve a equipe para os desafios (treina, orienta, prepara,
informa);

•

aproveita o melhor de cada pessoa;

•

6.

é modelo de princípios éticos e de confiança para a equipe;

atinge resultados com a equipe num clima de motivação e de
comprometimento.

Facilitador:
•
•

fornece constantemente retroação (feedback) à equipe (positivo ou
negativo);

•

descentraliza objetivos, decisões e tarefas;

•

assume os resultados da equipe como sendo dele próprio;

•

7.

modera e apóia os processos/atividades da equipe;

contribui e coopera em equipes multidisciplinares.

Motivador:
•
•

coloca desafios à equipe perante os objetivos organizacionais;

•

oferece oportunidades de crescimento/aprendizado;

•

cuida do ambiente e das necessidades tanto profissionais como
pessoais;

•

8.

é automotivado e entusiasta;

reconhece e recompensa explicitamente e com justiça.

Comunicador:
•

mantém a equipe atualizada e envolvida com os negócios, do
estratégico ao operacional;

•

compartilha informações e idéias em todos os níveis;

•

utiliza-se de transparência, credibilidade e rapidez na troca de dados e
informações em geral;
27
•

9.

confere o grau de compreensão ao interlocutor.

Negociador:
•

utiliza seu poder pessoal para influenciar o poder institucional;

•

é assertivo e convincente, mas flexível;

•

usa a diversidade de estilos/opiniões a favor dos objetivos
organizacionais;

•

desenvolve sua intuição;

•

sabe ouvir.

10. Objetivo e veloz:
•

organiza e agiliza as informações;

•

utiliza metodologias específicas de análise de problemas e tomada de
decisões;

•

apresenta com clareza, simplicidade e poder de síntese seus pontos de
vista;

•

administra bem seu tempo e conseqüentemente os de outrem;

•

encaminha suas atividades com dinamismo.

Projeto de sucessão Bosch
Está fundamentado no banco de talentos, a fim de desenvolver potenciais e
suprir eventuais necessidades de promoções, remanejamentos e atender ao
crescimento da organização. Trata-se de um investimento que se fundamenta em 12
competências (como bússola), que constituem o foco dos programas de treinamento e
desenvolvimento, a saber:
1.

Capacidade empreendedora;

2.

Capacidade de trabalhar sob pressão;

3.

Comunicação;

4.

Criatividade;

5.

Cultura de qualidade;

6.

Flexibilidade;

7.

Liderança;

8.

Negociação;
28
9.

Planejamento;

10. Relacionamento interpessoal;
11. Tomada de decisão;
12. Visão sistêmica.
O próximo passo será utilizar o banco de talentos na implantação da
remuneração variável por competência.

3
AS PESSOAS

E AS

ORGANIZAÇÕES

VISÃO GERAL DO CAPÍTULO
Sem pessoas e sem organizações certamente não haveria a ARH. Este
capítulo trata do estreito relacionamento entre pessoas e organizações. Seus principais
itens são:
1.

Reciprocidade entre pessoas e organização. As relações de intercâmbio.

2.

Conceito de incentivos e de contribuições.

3.

Clima organizacional.

29
TEMAS PARA REFLEXÃO
Procura-se um gerente com perfil de diretor1
Esqueça aquele executivo que vivia repassando a cobrança do diretor para a
equipe, preocupado demais com o dia-a-dia do seu departamento e que não se perdia
em divagações estratégicas. O médio e o alto gerentes dos sonhos das organizações já
vêm com estampa de diretor. O mercado em geral – especialmente as empresas de
telecomunicações, informática e o setor financeiro –,
recuperou o fôlego das contratações com a estabilidade da economia. Consultorias
como Stiebler e Arthur D. Little viram sua demanda aumentar de 30% a 50% no ano,
enquanto triplicou o número de gerentes contratados pela Fesa, especializada no
mercado financeiro. Até a francesa Michael Page, líder no recrutamento gerencial na
Europa, desembarcou no país impressionada com o mercado nacional.
Havia uma demanda reprimida, que só agora está sendo observada, diz o
sócio da Fesa. Esta empresa – que tem como maiores clientes os bancos Chase
Manhattan, BankBoston e BBVA – percebeu que a procura pelo médio e alto gerente
aumentou mais de 200% no último ano. Além da sólida formação acadêmica e a
fluência em mais de uma língua estrangeira, o MBA – de preferência no exterior – é
essencial para o profissional do setor financeiro. Quem entra para concorrer no
mercado de hoje com um MBA brasileiro já está em desvantagem, diz ele.
Depois de passada a onda mais forte das fusões e aquisições, que degolou
vários níveis gerenciais dentro das empresas na segunda metade da década passada,
as organizações voltaram ao mercado para recrutar profissionais que estejam
preparados para mudanças contínuas, sejam capazes de tomar iniciativas e assumir
riscos, sem medo de testar a capacidade empreendedora, além de ter uma visão global
do negócio da empresa. Ele pode até pensar que trabalha em uma empresa local, mas
na verdade seu desempenho pode refletir na multinacional como um todo, afirma o
presidente da Arthur D. Little.
Na Gessy Lever, esta prática é tomada ao pé da letra. Principalmente na área
de marketing, queremos executivos dispostos a explorar novos mercados e correr
riscos, diz o diretor de RH. Nos últimos três anos, a empresa adotou um sistema
global de competências, para avaliar os candidatos aos cargos gerenciais. Entre os
destaques, está a capacidade empreendedora do executivo, que também precisa
1

MADUREIRA, Daniele. Procura-se gerente com perfil de diretor. Gazeta Mercantil, 5 set.
2000. p. C-2.

30
confiar na própria intuição. O MBA, neste caso, cai até para segundo plano. Se o
profissional passou por outras grandes companhias, ele já agregou experiências
relevantes ao seu currículo. A multinacional conta com 600 gerentes de nível médio e
alto: 70% vieram do programa de trainees ou conquistaram o cargo galgando
posições internas; outros 20% foram captados no mercado, e 10% são expatriados
(vindos do exterior).

O perfil do gerente ideal
•

Idade entre 28 e 35 anos

•

MBA no exterior

•

Domínio de uma segunda língua estrangeira, além do inglês

•

Exposição internacional no currículo

•

Conhecimento básico de informática, para vislumbrar novos negócios no
comércio virtual

•

Mobilizar pessoas e liderar pelo exemplo

•

Saber identificar parceiros e envolvê-los

•

Ter competência para “vender” a própria empresa: ao governo, aos
parceiros e ao mercado de capitais

•

Disposição para mudanças

•

Estar pronto para assumir riscos e explorar novos mercados

A possibilidade de fazer com que um profissional conquiste a gerência dentro
da própria empresa é bem vista pelo mercado, desde que o plano de carreiras não seja
fechado. O Bradesco, por exemplo, que sempre manteve uma cultura de promoções
internas, já está partindo para o mercado, em busca de novas contratações. Valorizar a
prata da casa é importante para garantir um bom clima organizacional. Mas nem
sempre a empresa pode se dar ao luxo de treinar pessoal próprio – o que demanda

31
tempo –, e os gerentes recrutados no mercado podem agregar ainda mais valor à
organização, por trazer novas experiências e idéias.
Na Vésper, que conta com 250 gerentes, mais 50 profissionais devem ser
contratados até o final do ano. A empresa valoriza principalmente o rela-cionamento
interpessoal. O gerente precisa ser um bom negociador, manter uma comunicação
fluente com todas as divisões da empresa para garantir que a tomada de decisões seja
rápida, como o mercado exige, diz o diretor de RH da empresa, que também aponta a
disposição em entender profundamente do negócio da empresa como fator
fundamental para a seleção do executivo.
No Chase Manhattan, o foco nas atividades principais do banco também é
levado em conta. Muitos candidatos não têm em mente, de maneira clara, que a
companhia é um banco de atacado de investimento, que não vai concorrer
diretamente com instituições como BankBoston ou Citibank. Parece óbvio, mas nem
todos trazem esta qualidade e dispensam energia em áreas que não nos interessam, diz
o diretor de RH e comunicação corporativa. Por se tratar de uma empresa que tem
poucos níveis hierárquicos, o gerente também é incentivado a ser um empreendedor.
Este requisito já faz parte de uma exigência global, segundo o diretor regional
da Michael Page, gigante francesa de recrutamento de executivos, que tem mais de
2,5 mil consultores em todo o mundo. Com faturamento global de US$ 800 milhões,
a empresa decidiu vir para o Brasil, acompanhando os grandes clientes já instalados
no país – como Renault, Coca-Cola, IBM e Carrefour – para quem a Michael Page
recruta, só na França, entre 100 a 200 gerentes a cada ano. No Brasil, a empresa já
conquistou empresas de porte de Cartier, VisaNet e ClubMed. Outra condição do
mercado nacional é a experiência em sistemas de gestão, como Oracle e SAP. É um
requisito solicitado por 90% dos clientes.

CASOS
O HP Way2
Desde que iniciaram sua empresa em uma pequena garagem, William
Hewlett e David Packard definiram os valores corporativos que deveriam guiar o
comportamento da Hewlett-Packard (HP) e que até hoje orientam o comportamento
da organização. O HP Way pode ter várias interpretações, mas pode ser sumarizado
da seguinte maneira:
2

WIND, Jerry Yoram; MAIN, Jeremy. Driving change: how the best companies are
preparing for the 21st century. New York: The Free Press, 1998. p. 103-104.

32
•

Temos profundo respeito e confiança nas pessoas.

•

Focamos um alto nível de desempenho e de contribuição das pessoas.

•

Conduzimos nossos negócios com integridade descompromissada.

•

Alcançamos nossos objetivos comuns por meio de equipes.

•

Encorajamos a flexibilidade e a inovação.

Na HP, os valores acima são fundamentais para seu sucesso. O presidente,
Lewis Platt, diz que passa a maior parte de seu tempo falando mais sobre valores da
companhia do que sobre estratégias de negócios.

33

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  • 1. PARTE I A INTERAÇÃO ENTRE PESSOAS ORGANIZAÇÕES E A PARTE I trata da estreita e íntima interação entre pessoas e organizações e como elas intercambiam seus respectivos recursos. Está constituída de três capítulos: A s o r g a n iz a ç õ e s e s u a c o m p le x id a d e . O r g a n iz a ç õ e s s ã o s is t e m a s a b e r t o s e s o c ia is . R a c io n a lid a d e e n ív e is . A m b ie n t e , s u a d in â m ic a e c o m p le x id a d e a m b ie n ta l. C a p ítu lo 1 As o r g a n iza ç õ e s PA R T E I A in te r a ç ã o e n tr e p e sso a s e o r g a n iza ç õ e s V a r ia b ilid a d e e c o g n iç ã o h u m a n a . M o t iv a ç ã o . C o m u n ic a ç ã o . C o m p o r t a m e n t o h u m a n o n a s o r g a n iz a ç õ e s . C o n c e it o d e h o m e m c o m p le x o . C a p ítu lo 2 As p essoas C a p ítu lo 3 As p esso as e a s o r g a n iza ç õ e s 11 R e c ip r o c id a d e e n t r e p e s s o a s e o r g a n iz a ç õ e s . R e la ç õ e s d e in t e r c â m b io . C o n c e ito d e in c e n t iv o s e c o n t r ib u iç õ e s . C lim a o r g a n iz a c io n a l.
  • 3. AS ORGANIZAÇÕES VISÃO GERAL DO CAPÍTULO Vivemos em um mundo de organizações. As organizações precisam ser administradas para serem eficientes e eficazes. Este capítulo é uma introdução à natureza e características das organizações, como sistemas abertos e sociais. Aborda os seguintes temas: 1. Conceito de organização. Complexidade das organizações. As diferentes eras das organizações. 2. As organizações como sistemas abertos e como sistemas sociais: abordagem de Katz e Kahn e a abordagem de Tavistock. 3. Os participantes das organizações. 4. Os objetivos organizacionais e a racionalidade das organizações. Os níveis organizacionais. 5. As organizações e o ambiente: ambiente geral (macroambiente) e ambiente de tarefa (microambiente). Dinâmica ambiental e complexidade ambiental. 6. Conceito de eficácia organizacional. Capital intelectual. TEMAS PARA REFLEXÃO Uma nova organização para os novos tempos A sociedade moderna é uma sociedade de organizações. Nascemos em organizações, criamo-nos dentro delas, somos educados e curados por organizações, trabalhamos em organizações e, até para morrer, dependemos das organizações. À medida que as organizações crescem e se desenvolvem, tornam-se gradativamente mais complexas pelo aumento da divisão do trabalho, da diferenciação e da necessidade de integração de suas várias atividades. A tendência natural é o aumento de áreas distintas para lidar com os diversos aspectos ambientais (como 13
  • 4. departamentos ou divisões) e o aumento de níveis hierárquicos para garantir o controle interno das atividades. Daí, a crescente burocratização. A burocratização envolve os seguintes aspectos principais: • divisão do trabalho e fragmentação das atividades, com a criação de departamentos (departamentalização) e de cargos especializados; • hierarquização da autoridade, com a criação de níveis hierárquicos na organização; • caráter legal, ou seja, criação de normas e regulamentos que ditam como as tarefas deverão ser executadas por meio de rotinas e programas de trabalho; • caráter formal, ou seja, toda comunicação deve ser escrita e documentada; • impessoalidade no relacionamento, ou seja, as pessoas tornam-se ocupantes de cargos e relacionam-se como tais, despersonalizando seu relacionamento dentro da organização; • rotinas e procedimentos, para garantir que as atividades sejam executadas de acordo com as normas e regulamentos da organização; • competência técnica e mérito profissional, que são os critérios de seleção e promoção dos participantes; • especialização da administração, ou seja, separação entre propriedade e governança da organização: os donos ou acionistas do negócio deixam de ser os dirigentes para delegar a gerência a profissionais especializados. A burocratização foi uma magnífica invenção humana dos tempos da industrialização clássica, cujas características principais eram permanência, estabilidade e previsibilidade. Assim se construíam as organizações daquela época. Hoje, em plena Era da Informação – ou pós-industrial –, o modelo burocrático já não faz mais sentido, pois não apresenta condições de mudança e ajustamento rápido necessários para um mundo de transformação, instabilidade e imprevisibilidade. Em uma era de mudanças rápidas e profundas como as que estamos enfrentando hoje em dia, o modelo burocrático está sendo substituído pelo modelo adhocrático: flexível, mutável, efêmero e maleável. E quais são as diferenças? Radicais. Quanto à estrutura organizacional, no modelo adhocrático, o velho organograma funcional foi parar no museu. Em vez de hierarquia verticalizada, o downsizing trouxe uma organização achatada e com pouquíssimos níveis hierárquicos. No lugar de divisões ou departamentos, equipes integradas e 14
  • 5. multifuncionais, com características de autogerenciamento. Em vez de cargos individualizados, trabalho em grupos de pessoas ou em células de atividades. Para o bom entendedor, em vez de separar e dividir (o trabalho), os novos modelos adhocráticos estão tentando juntá-lo e integrá-lo. É a busca da sinergia. Quanto à cultura organizacional, o modelo adhocrático está enterrando o estilo autocrático e impositivo de gerenciar pessoas pelo estilo democrático e participativo. Ou seja, o velho comando militar pela participação espontânea das pessoas. Isso significa substituir a obediência ao superior pela colaboração e cooperação espontâneas das pessoas. E o que há de importante nisso? Simples. Quando as pessoas participam, colaboram e cooperam, elas estão proporcionando o impulso básico que conduz a organização ao sucesso. Sinal dos novos tempos. CASOS O projeto supersônico de Araraquara1 A fábrica nem existe ainda. Há uma desapropriação para se consumar nos próximos dias e a previsão de uma disputa jurídica entre o governo de São Paulo e os plantadores de laranja que tiveram suas áreas declaradas de utilidade pública. Mas Araraquara já trata como se fosse seu o pólo aeroespacial da Embraer, que será instalado em Gavião Peixoto. Gavião Peixoto é um município com 4,5 mil habitantes, emancipado há poucos anos, e com pouca, quase nenhuma, estrutura para atender às levas de técnicos e executivos que migrarão para a região. É em Araraquara que se concentrará a maior parte dos três mil funcionários da fábrica. É por ali que escoa-rá o dinheiro movimentado na região por conta da chegada da Embraer. Os aviões, não à toa, começam a substituir as laranjas nos sonhos de prosperidade da população da cidade. Novos projetos residenciais e comer-ciais, que envolvem hipermercados e shopping centers, foram acelerados. Redes hoteleiras, como Meliá e Accor, tratam de marcar posições no município. E jovens ficam irrequietos com a possibilidade de encontrar um lugar ao sol no mundo da alta tecnologia e dos testes supersônicos. A cidade vive a expectativa da definitiva conversão econômica da agricultura para a produção de bens de altíssimo valor agregado. 1 VAILARDAGA, Vicente. O Projeto Supersônico de Araraquara. Gazeta Mercantil, 11 set. 2000, p. A-6. 15
  • 6. Até a população de Hortênsia, bairro da periferia mais distante de Araraquara, recebeu um golpe na imaginação com a notícia da Embraer. Sonha-se em Hortênsia com o fim da sazonalidade do emprego nos laranjais. Os colheiteiros trabalham seis ou sete meses por ano, com salários mensais de R$ 300. No resto do tempo, vivem de trabalhos eventuais. Suas chances na disputa por vagas na Embraer são remotas, por causa da baixa qualificação. Mas há muitos empregos indiretos à vista, entre 1,5 mil e três mil. O comércio, por exemplo, começa a fazer contas. Quando a Embraer estiver operando a plena capacidade, em 2004 ou 2005, sua folha de pagamento somará cerca de R$ 70 milhões por ano, considerando o salário médio da empresa em São José dos Campos. Se um quarto do bolo ficar no varejo da cidade, o movimento das lojas crescerá 15%. É um impacto muito superior ao que o setor agrícola pode proporcionar. O modelo de empreendimento da citricultura é concentrador e não distribui riqueza, afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Araraquara. O desenvolvimento da região depende, agora, do avanço tecnológico e da melhoria do nível da mão-de-obra. Estima-se que cerca de cinco mil pessoas trabalhem na colheita de laranjas em Araraquara e Gavião Peixoto. A indústria, representada por empresas como Inepar, Nestlé, Lupo, Kaiser e Cutrale, é a principal empregadora do município, com 33% das vagas. Outro setor que se agita é o imobiliário. Parte dos salários da Embraer será utilizada em gastos com moradia. Uma das principais construtoras de Araraquara, a Vivenda Nobre, ergue três prédios de padrão médio e um flat e planeja um prédio de alto padrão. Vários projetos que estavam nas gavetas ou vinham sendo tocados com lentidão foram acelerados. A Embraer criou uma expectativa positiva na cidade, aumentando, inclusive, a auto-estima da população. A Prefeitura estuda a criação de um novo distrito industrial do município, que se somará aos oito existentes. A idéia é abrigar o máximo de fornecedores da Embraer. Alguns deles, porém, como a Kawazaki, ficarão mesmo em Gavião Peixoto. Os produtores de laranja estão longe das melhores safras. O preço internacional do fruto atingiu o nível mais baixo dos últimos anos e o preço da caixa no mercado interno também caiu. Há muita oferta de laranja. Assim, não existe qualquer foco de oposição à instalação da fábrica. O governo de São Paulo, com base em perícias técnicas, depositou R$ 9,18 milhões para a desapropriação do terreno, a um preço médio de R$ 13 mil por alqueire. As fazendas envolvidas na desapropriação pretendem fazer contra-ofertas superiores. E um dos temas que devem ganhar fôlego é o do lucro cessante das propriedades. O lucro cessante é aquele que as empresas deixam de computar por causa da interrupção forçada de sua produção durante um 16
  • 7. determinado período. Os laranjais que serão substituídos pela fábrica e pela pista de provas da Embraer estão em plena maturidade. Na negociação, a Embraer não desocupará as plantações de laranja rapidamente. De cara, a empresa necessita apenas de 13% dos 736 alqueires para instalar sua pista. A totalidade da área só será ocupada em um prazo de quatro anos. 2 AS PESSOAS 17
  • 8. VISÃO GERAL DO CAPÍTULO As pessoas constituem o começo e o fim da ARH: o homem é a medida de todas as coisas. Este é um capítulo introdutório sobre a natureza e características das pessoas. Aborda os seguintes itens: 1. A variabilidade humana. As diferenças individuais das pessoas. 2. A cognição humana: teoria de campo e da dissonância cognitiva. 3. A complexa natureza do homem. 4. Motivação humana: ciclo motivacional; hierarquia das necessidades; teoria dos dois fatores; modelo contingencial de motivação; teoria da expectação. 5. Comunicação. Barreiras à comunicação. 6. O comportamento humano nas organizações. 7. Conceito de homem complexo. O homo digitalis. TEMAS PARA REFLEXÃO O espírito empreendedor1 Quais são as duas qualidades mais marcantes de um empreendedor? Sem dúvida, o apetite pelo risco e um desejo insaciável de ação. No passado, as condições nos negócios funcionavam contra o espírito empreendedor. O tamanho da empresa, a estabilidade do ambiente e a experiência acumulada eram os únicos bens considerados valiosos no mundo empresarial. Sem eles, era inútil pensar em provocar algum impacto. Tudo isso está mudando rapidamente. O cenário do mundo empresarial no século XXI será mais hospitaleiro para o empreendedor. A volatilidade e a imprevisibilidade da hiperconcorrência global desvalorizaram completamente a maioria das virtudes e o curso das organizações existentes. De que serve o tamanho organizacional se a empresa é lenta demais para capitalizar em novas oportunidades com rapidez? De que serve realizar exaustivas pesquisas de mercado se o mercado muda tão rápido que elas estarão obsoletas antes mesmo que você consiga analisá1 KIERNAN, Matthew J. The eleven commandments of 21 st. Century Management. Englewood Cliffs, NJ: Pratice-Hall, 1996. p. 101-102. 18
  • 9. las? De que serve a longa experiência no mercado se o concorrente tende a abordá-lo por um caminho completamente diferente e inovador? Sob tais condições, o que mais conta é a vontade e a capacidade de correr riscos, obter retroação do mundo real e reagir rapidamente. Em resumo, a capacidade de ser empreendedor. Enquanto organismo comercial, o autêntico empreendedor deve provar-se absolutamente adaptado aos crescentes imperativos do ambiente competitivo do século XXI. Inspirado por sua dinâmica competitiva radicalmente diversa e liberado pelas novas tecnologias de informação/comunicações, a hora do empreendedor finalmente está chegando. O trabalhador do conhecimento2 Peter Drucker faz um comparativo entre a Revolução Industrial e a Revolução da Informação. Para ele, o comércio eletrônico, filho tardio do computador, terá um impacto semelhante ao que teve a ferrovia, filha da máquina a vapor, sobre as empresas, trabalho e economia. Aquilo a que chamamos de Revolução da Informação é, na realidade, uma revolução do conhecimento. A rotinização de processos não foi possibilitada por máquinas. O computador, na verdade, é apenas o gatilho que a desencadeou. O software é a reorganização do trabalho tradicional, baseado em séculos de experiência, por meio da aplicação do conhecimento e, especialmente, da análise lógica e sistemática. A chave não é a eletrônica, mas sim a ciência cognitiva. Tudo isso significa que a chave para manter a liderança na economia e na tecnologia que estão prestes a emergir provavelmente será a posição social dos trabalhadores do conhecimento e a aceitação social de seus valores. Se eles continuassem sendo funcionários tradicionais e tratados como tais, isso equivaleria ao tratamento que a velha Inglaterra deu a seus tecnólogos. E as conseqüências provavelmente seriam semelhantes. Hoje, porém, estamos tentando ficar em cima do muro: manter a mentalidade tradicional – na qual o recurso-chave é o capital e quem manda é o financista – e, ao 2 2 Extraído de DRUCKER, Peter F. O futuro já chegou. Exame. no 710, p. 113-126, 22 mar. 2000. 19
  • 10. mesmo tempo, subornar os trabalhadores do conhecimento, com bônus e opções de compra de ações – para que se contentem em conti-nuar sendo meros empregados. Mas isso vai funcionar, se é que vai funcionar, apenas enquanto as indústrias emergentes desfrutarem da explosão no mercado acionário, como vem sendo o caso das empresas ligadas à Internet. As próximas indústrias de grande porte provavelmente irão-se comportar muito mais como as tradicionais. Ou seja, crescerão de maneira lenta, dolorosa e à custa de muito esforço. As primeiras indústrias da Revolução Industrial – têxteis de algodão, siderurgia e ferrovias – eram indústrias explosivas. Elas geraram milionários da noite para o dia, como os banqueiros de investimentos ou os donos de fundições. As indústrias que surgiram depois de 1830 também geraram milionários, mas levaram 20 anos para fazê-lo. Foram 20 anos de trabalho duro, lutas, decepções, fracassos e poupança. É provável que a mesma coisa se aplique às indústrias que vão surgir daqui para a frente. Isso já está acontecendo com a biotecnologia. Está claro, portanto, que subornar os trabalhadores do conhecimento – de quem dependem essas indústrias – simplesmente não vai funcionar. Os trabalhadoreschave do conhecimento certamente vão continuar tendo a expectativa de poder compartilhar financeiramente os frutos de seu trabalho. Mas é provável que esses frutos financeiros levem muito mais tempo para amadurecer, se é que vão amadurecer. Então, provavelmente, dentro de uns dez anos, administrar um negócio que tenha como sua primeira (quando não única) meta e justificativa para o valor para o acionista (valor de curto prazo) passará a ser contraproducente. Cada vez mais, o desempenho dessas novas indústrias baseadas no conhecimento vai depender de as instituições serem administradas de maneira a atrair, reter e motivar os trabalhadores do conhecimento. Quando satisfazer a cobiça de tais trabalhadores, como hoje estamos tentando fazer, deixar de ser suficiente, será preciso atender a seus valores e oferecer-lhes reconhecimento e poder social. Para isso, será preciso transformá-los de subordinados em colegas executivos. De empregados, por mais bem pagos que possam ser, em sócios. A Revolução da Informação representa uma nítida transferência de poder de quem detém o capital para quem detém o conhecimento. 20
  • 11. As mudanças individuais como base das mudanças organizacionais3 Covey, autor consagrado e especialista em liderança, afirma que, para que as organizações possam ser transformadas, torna-se necessário antes fazer o mesmo com cada pessoa que delas faz parte. É o mesmo que imaginar que uma cultura pudesse ser transformada sem que os indivíduos que a compõem se transformassem primeiro. É isso que gera o seguinte tipo de pensamento: tudo nesta organização precisa mudar; menos eu. Se todas as pessoas fizerem o mesmo, esqueça a transformação – ela simplesmente não vai acontecer nunca. Nem a pauladas. A transformação tem início no momento em que cada pessoa se compromete intimamente a mudar. A transformação individual deve acompanhar a transformação organizacional sob pena de haver duplicidade e cinismo. Tentar mudar uma cultura ou um estilo de direção sem primeiro transformar os próprios padrões de hábito é como tentar melhorar seu tênis sem primeiro desenvolver os músculos que permitem jogar melhor. Algumas coisas devem preceder a outras. Não se pode aprender a correr sem antes ter aprendido a andar, e não se aprende a andar sem antes ter aprendido a engatinhar. Covey acrescenta que nada vai mudar do jeito que gostaríamos que mudasse em nossas nações, organizações e famílias até que nós mesmos mudemos e nos tornemos parte da solução que buscamos. Fazer parte da solução e não parte do problema. Assim, Covey propõe 10 chaves mestras para a transformação em qualquer lugar e a qualquer momento, a saber: 1. 2. 3 Conscientização: a transformação somente tem seu início com a clara consciência da necessidade de mudar. Precisamos ter perfeita noção de onde estamos em relação a onde queremos estar. O primeiro passo é fazer a cabeça das pessoas a respeito da necessidade e da direção da mudança. Envolvimento: o passo seguinte é entrar num processo de missões conjuntas, alinhando a missão pessoal e individual com a missão da organização. Esse processo é realizado por meio do envolvimento e da participação. As pessoas têm de decidir por si sós qual o impacto que as transformações exercerão sobre elas e sua esfera de influência. Quando as pessoas compartilham a mesma missão, haverá um reforço na cultura COVEY, Stephen. As dez chaves para uma era de mudanças. Exame. no 609, p. 6466, 8 maio 1996. 21
  • 12. para ajudar a solidificar as transformações. O segundo passo é envolver as pessoas no processo de mudança. 3. Segurança interior: o terceiro passo é construir um senso de segurança interior com relação à mudança. Quanto menos segurança interior as pessoas têm, tanto menos elas conseguem adaptar-se à realidade externa. As pessoas não irão mudar por conta própria, a não ser que tenham segurança de que o tapete não será puxado. Se aquilo que lhes dá segurança é algo que está fora delas, elas enxergarão as mudanças como ameaças. É necessário um profundo sentimento de permanência e de segurança. O terceiro passo é assegurar segurança às pessoas. 4. Legitimação: o passo seguinte é procurar legitimar as transformações no âmbito pessoal. As pessoas precisam reconhecer a necessidade da mudança e o preço a pagar pela sua satisfação. É preciso proceder a uma mudança de mentalidade e de habilidades e para consegui-lo as pessoas devem pagar o preço em termos de desenvolvimento. Toda mudança envolve certo custo pessoal e as pes-soas devem sentir que vale a pena pagá-lo. O quarto passo é legitimar as mudanças na mente de cada pessoa. 5. Responsabilidade pelos resultados: Isso deve caber à organização ou ao indivíduo? A resposta: as pessoas precisam assumir a responsabilidade pessoal pelos resultados a alcançar. Cabe a cada indivíduo ser competente. Cada pessoa deveria considerar a organização co-mo um recurso, um meio, uma ferramenta para desenvolver suas competências pessoais. A organização, não mais como reguladora, fiscalizadora e coercitiva, mas como provedora, orientadora e incentivadora do desenvolvimento humano. Para conseguir isso, a organização deve oferecer o ambiente adequado que dê apoio e impulso às pessoas para que elas adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para seu sucesso, bem como as oportunidades para que ponham em prática as novas habilidades e conhecimentos. O quinto passo é incentivar, desenvolver e dar oportunidades às pessoas. 6. Enterre o velho: a rejeição ao obsoleto deve ser acompanhada da construção do novo. Simbolicamente, enterra-se um e batiza-se o outro. Descongela-se o arcaico e recongela-se o novo. Desaprende-se um para aprender o outro. Essa transição – que deve ser constante – é que conduz à mudança e à transformação. A aprendizagem representa o abandono dos velhos hábitos e a incorporação de novos hábitos mais adequados. 22
  • 13. 7. Abrace o novo caminho com espírito de aventura: o próprio processo de transformação também precisa transformar-se constantemente. Em primeiro lugar, a organização precisa ser centrada em leis naturais e em princípios duradouros. Caso contrário, não se terá o fundamento necessário para dar suporte às iniciativas de reforma e de mudança. Os líderes centrados em princípios criam uma visão comum e reduzem as forças limitadoras. 8. Espírito aberto: é necessário que se esteja sempre aberto e receptivo a novas opções, com imunidade para a rigidez. Ter em mente uma meta final e buscar uma solução sempre melhor do que a atual e partir sempre para novas alternativas e soluções criativas. A melhoria contínua é decorrência dessa abertura mental. 9. Sinergia: busque sinergia com outros interessados no processo. Quando as pessoas se sentem compreendidas e valorizadas, elas podem transformar-se a seu próprio modo em vez de mudar seguindo alguma norma, clone, ordem ou mandato. Quando se aceita a diversidade, surge lugar para a sinergia e a sinergia reforça tremendamente as transformações. Uma verdadeira bola-de-neve. 10. Propósito transcendental: os interesses gerais devem sempre prevalecer aos individuais e particulares. Quando as pessoas enxergam o mundo em termos de “nós contra eles”, elas entram em um processo de transações pessoais e não de transformações sociais. Para Covey, os líderes eficazes são aqueles que “transformam” pessoas e organizações. Promovem mudanças em suas mentes e em seus corações, ampliam a sua visão e sua compreensão, esclarecem as metas, tornam os comportamentos congruentes e consonantes com as crenças, os princípios e os valores e implementam transformações permanentes, que se auto-perpetuam e cujo ímpeto e intensidade é cada vez maior. Uma verdadeira bola-de-neve. 23
  • 14. CASOS Bosch: o modelo de competências4 Fala-se muito em competências. Gestão por competências, treinamento por competências, remuneração por competências, e coisas assim. A busca pela competência – seja pessoal ou organizacional – é perseguida pelas pessoas e organizações como meio de garantir um lugar ao sol. Afinal, talento humano é uma questão de sobrevivência e de sucesso das organizações em um mundo em mudança e transformação e carregado de competitividade. Competência significa um repertório de comportamentos que certas pessoas ou empresas dominam melhor que outras e que as torna eficazes e competitivas em face de determinada situação. Na verdade, a competência constitui um conjunto de conhecimentos, práticas, comportamentos e tipos de raciocínio adquirido em função do aprendizado. Um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitu- des e interesses que diferenciam pessoas ou organizações. Assim, as competências são observáveis em situações do cotidiano do trabalho ou em situações de teste. A Robert Bosch Limitada, com unidades em Curitiba (PR), Aratu (BA), São Paulo (SP) e Campinas (SP), iniciou a implantação do modelo de competências em meados de 1998, quando se percebeu a necessidade de um programa de competências capaz de identificar as necessidades de desenvolvimento, utilizando um processo objetivo para verificação de desempenhos individuais. O foco inicial era preparar pessoas para carreira e sucessão na empresa. O projeto, porém, também seria o alavancador para um programa de retenção de talentos por meio do banco de talentos. A formatação do modelo foi baseada nos seguintes fatores: 1. 2. a estrutura organizacional da empresa: níveis hierárquicos, necessidades futuras, cargos e carreiras-chave; 3. o perfil profissional desejado para atender às demandas do negócio; 4. o modo de avaliação do perfil já existente na empresa; 5. 4 a cultura da empresa; a filosofia da organização que prevê o processo de identificação e avaliação de competências como uma fonte de referência para o desenvolvimento e aproveitamento de potenciais e não a eliminação de pessoas do processo; FARES, José Antonio; VICENTINI, Antonio Marcos. Relato Bosch. revistadivulgar.com.br, set. 2000/mat06/index/htm 24
  • 15. 6. a escolha de uma metodologia de avaliação de potenciais que atendesse à organização, dentro de seus padrões de qualidade. A estratégia de implantação Foi projetado um banco de talentos para suprir a necessidade de redimensionamento de pessoas em função dos cargos e carreiras-chave, com a participação dos gestores das áreas, que se responsabilizaram pela identificação dos candidatos. Os critérios de escolha foram baseados na avaliação do desempenho existente na ocasião, comparando-a com as competências demonstradas no cotidiano. A área de RH fez o papel de facilitadora do processo, contando com a parceria de todas as áreas da empresa. O primeiro passo foi selecionar um grupo de pessoas-chave para iniciar as primeiras discussões sobre as competências importantes para o negócio da empresa. Em um elenco provisório, cada competência foi conceituada e desdobrada em conhecimentos básicos, habilidades necessárias e atitudes desejáveis. O segundo passo foi obter consenso sobre o elenco de competências. O terceiro passo foi apresentar o projeto formal e angariar o comprometimento e participação da diretoria. A seguir, o projeto foi apresentado a toda a organização em uma reunião inaugural para conhecimento geral. Como funciona o projeto Cada profissional pode participar ou não e deve solicitar sua inclusão no banco de talentos. É feita uma análise do histórico funcional do candidato e procedese a uma entrevista individual para obter-se um perfil de cada participante do programa. Os candidatos são submetidos a um seminário de dois dias, em turmas com até 12 participantes, no qual constam atividades simuladas com base em jogos e dinâmica de grupo. Além das atividades vivenciais, são utilizados instrumentos e recursos técnicos com o objetivo de avaliar como as pessoas se comportam em face do perfil de competências profissionais da Bosch. Faz parte do seminário a entrevista individual de realimentação para verificar o estágio de desenvolvimento do funcionário em cada competência e buscar seu comprometimento com o autodesenvolvimento. Este processo não é eliminatório, mas aponta as competências que podem ser desenvolvidas e as que estão dentro do desempenho esperado. Esta fase proporciona os dados para elaboração de projetos de treinamento e 25
  • 16. desenvolvimento para ampliar as competências desejáveis. É o chamado mapeamento de competências internas. Perfil de competências da Bosch Todas as unidades da Bosch no Brasil assumem o seguinte perfil de três competências básicas: as estratégicas, as técnicas e as de gestão. As 10 competências privilegiadas pela Bosch são: 1. Visão do negócio: • está atualizado sobre mercado e clientes; • conhece os produtos que fornece; • domina missão, objetivos e recursos internos e externos existentes; • 2. acompanha mudanças e tendências amplas e focadas no negócio; • pesquisa e detecta oportunidades com foco no cliente. Profit Oriented: • • faz planejamento periodicamente; • divulga e operacionaliza amplamente seus objetivos; • decide por meio de análise do que agrega valor e relação custo/benefício; • 3. administra por resultados efetivos (dono do negócio); aprende e melhora com os resultados obtidos. estratégico, avaliando redirecionando Espírito empreendedor: • possui clareza de propósito e de meios; • tem iniciativa própria com parcerias (autonomia); • cria alternativas novas e eficazes de solução; • age proativa e rapidamente; • 4. e corre e assume riscos. Gerador de mudanças: • influencia a organização/pessoas com suas idéias (missionário); • provoca novas reflexões sobre assuntos conhecidos; 26
  • 17. • • enfrenta a dúvidas e erros decorrentes de novos desafios; • 5. persiste na concretização de mudanças; rompe paradigmas e experimenta soluções inovadoras. Líder coaching: • • escala o melhor time; • desenvolve a equipe para os desafios (treina, orienta, prepara, informa); • aproveita o melhor de cada pessoa; • 6. é modelo de princípios éticos e de confiança para a equipe; atinge resultados com a equipe num clima de motivação e de comprometimento. Facilitador: • • fornece constantemente retroação (feedback) à equipe (positivo ou negativo); • descentraliza objetivos, decisões e tarefas; • assume os resultados da equipe como sendo dele próprio; • 7. modera e apóia os processos/atividades da equipe; contribui e coopera em equipes multidisciplinares. Motivador: • • coloca desafios à equipe perante os objetivos organizacionais; • oferece oportunidades de crescimento/aprendizado; • cuida do ambiente e das necessidades tanto profissionais como pessoais; • 8. é automotivado e entusiasta; reconhece e recompensa explicitamente e com justiça. Comunicador: • mantém a equipe atualizada e envolvida com os negócios, do estratégico ao operacional; • compartilha informações e idéias em todos os níveis; • utiliza-se de transparência, credibilidade e rapidez na troca de dados e informações em geral; 27
  • 18. • 9. confere o grau de compreensão ao interlocutor. Negociador: • utiliza seu poder pessoal para influenciar o poder institucional; • é assertivo e convincente, mas flexível; • usa a diversidade de estilos/opiniões a favor dos objetivos organizacionais; • desenvolve sua intuição; • sabe ouvir. 10. Objetivo e veloz: • organiza e agiliza as informações; • utiliza metodologias específicas de análise de problemas e tomada de decisões; • apresenta com clareza, simplicidade e poder de síntese seus pontos de vista; • administra bem seu tempo e conseqüentemente os de outrem; • encaminha suas atividades com dinamismo. Projeto de sucessão Bosch Está fundamentado no banco de talentos, a fim de desenvolver potenciais e suprir eventuais necessidades de promoções, remanejamentos e atender ao crescimento da organização. Trata-se de um investimento que se fundamenta em 12 competências (como bússola), que constituem o foco dos programas de treinamento e desenvolvimento, a saber: 1. Capacidade empreendedora; 2. Capacidade de trabalhar sob pressão; 3. Comunicação; 4. Criatividade; 5. Cultura de qualidade; 6. Flexibilidade; 7. Liderança; 8. Negociação; 28
  • 19. 9. Planejamento; 10. Relacionamento interpessoal; 11. Tomada de decisão; 12. Visão sistêmica. O próximo passo será utilizar o banco de talentos na implantação da remuneração variável por competência. 3 AS PESSOAS E AS ORGANIZAÇÕES VISÃO GERAL DO CAPÍTULO Sem pessoas e sem organizações certamente não haveria a ARH. Este capítulo trata do estreito relacionamento entre pessoas e organizações. Seus principais itens são: 1. Reciprocidade entre pessoas e organização. As relações de intercâmbio. 2. Conceito de incentivos e de contribuições. 3. Clima organizacional. 29
  • 20. TEMAS PARA REFLEXÃO Procura-se um gerente com perfil de diretor1 Esqueça aquele executivo que vivia repassando a cobrança do diretor para a equipe, preocupado demais com o dia-a-dia do seu departamento e que não se perdia em divagações estratégicas. O médio e o alto gerentes dos sonhos das organizações já vêm com estampa de diretor. O mercado em geral – especialmente as empresas de telecomunicações, informática e o setor financeiro –, recuperou o fôlego das contratações com a estabilidade da economia. Consultorias como Stiebler e Arthur D. Little viram sua demanda aumentar de 30% a 50% no ano, enquanto triplicou o número de gerentes contratados pela Fesa, especializada no mercado financeiro. Até a francesa Michael Page, líder no recrutamento gerencial na Europa, desembarcou no país impressionada com o mercado nacional. Havia uma demanda reprimida, que só agora está sendo observada, diz o sócio da Fesa. Esta empresa – que tem como maiores clientes os bancos Chase Manhattan, BankBoston e BBVA – percebeu que a procura pelo médio e alto gerente aumentou mais de 200% no último ano. Além da sólida formação acadêmica e a fluência em mais de uma língua estrangeira, o MBA – de preferência no exterior – é essencial para o profissional do setor financeiro. Quem entra para concorrer no mercado de hoje com um MBA brasileiro já está em desvantagem, diz ele. Depois de passada a onda mais forte das fusões e aquisições, que degolou vários níveis gerenciais dentro das empresas na segunda metade da década passada, as organizações voltaram ao mercado para recrutar profissionais que estejam preparados para mudanças contínuas, sejam capazes de tomar iniciativas e assumir riscos, sem medo de testar a capacidade empreendedora, além de ter uma visão global do negócio da empresa. Ele pode até pensar que trabalha em uma empresa local, mas na verdade seu desempenho pode refletir na multinacional como um todo, afirma o presidente da Arthur D. Little. Na Gessy Lever, esta prática é tomada ao pé da letra. Principalmente na área de marketing, queremos executivos dispostos a explorar novos mercados e correr riscos, diz o diretor de RH. Nos últimos três anos, a empresa adotou um sistema global de competências, para avaliar os candidatos aos cargos gerenciais. Entre os destaques, está a capacidade empreendedora do executivo, que também precisa 1 MADUREIRA, Daniele. Procura-se gerente com perfil de diretor. Gazeta Mercantil, 5 set. 2000. p. C-2. 30
  • 21. confiar na própria intuição. O MBA, neste caso, cai até para segundo plano. Se o profissional passou por outras grandes companhias, ele já agregou experiências relevantes ao seu currículo. A multinacional conta com 600 gerentes de nível médio e alto: 70% vieram do programa de trainees ou conquistaram o cargo galgando posições internas; outros 20% foram captados no mercado, e 10% são expatriados (vindos do exterior). O perfil do gerente ideal • Idade entre 28 e 35 anos • MBA no exterior • Domínio de uma segunda língua estrangeira, além do inglês • Exposição internacional no currículo • Conhecimento básico de informática, para vislumbrar novos negócios no comércio virtual • Mobilizar pessoas e liderar pelo exemplo • Saber identificar parceiros e envolvê-los • Ter competência para “vender” a própria empresa: ao governo, aos parceiros e ao mercado de capitais • Disposição para mudanças • Estar pronto para assumir riscos e explorar novos mercados A possibilidade de fazer com que um profissional conquiste a gerência dentro da própria empresa é bem vista pelo mercado, desde que o plano de carreiras não seja fechado. O Bradesco, por exemplo, que sempre manteve uma cultura de promoções internas, já está partindo para o mercado, em busca de novas contratações. Valorizar a prata da casa é importante para garantir um bom clima organizacional. Mas nem sempre a empresa pode se dar ao luxo de treinar pessoal próprio – o que demanda 31
  • 22. tempo –, e os gerentes recrutados no mercado podem agregar ainda mais valor à organização, por trazer novas experiências e idéias. Na Vésper, que conta com 250 gerentes, mais 50 profissionais devem ser contratados até o final do ano. A empresa valoriza principalmente o rela-cionamento interpessoal. O gerente precisa ser um bom negociador, manter uma comunicação fluente com todas as divisões da empresa para garantir que a tomada de decisões seja rápida, como o mercado exige, diz o diretor de RH da empresa, que também aponta a disposição em entender profundamente do negócio da empresa como fator fundamental para a seleção do executivo. No Chase Manhattan, o foco nas atividades principais do banco também é levado em conta. Muitos candidatos não têm em mente, de maneira clara, que a companhia é um banco de atacado de investimento, que não vai concorrer diretamente com instituições como BankBoston ou Citibank. Parece óbvio, mas nem todos trazem esta qualidade e dispensam energia em áreas que não nos interessam, diz o diretor de RH e comunicação corporativa. Por se tratar de uma empresa que tem poucos níveis hierárquicos, o gerente também é incentivado a ser um empreendedor. Este requisito já faz parte de uma exigência global, segundo o diretor regional da Michael Page, gigante francesa de recrutamento de executivos, que tem mais de 2,5 mil consultores em todo o mundo. Com faturamento global de US$ 800 milhões, a empresa decidiu vir para o Brasil, acompanhando os grandes clientes já instalados no país – como Renault, Coca-Cola, IBM e Carrefour – para quem a Michael Page recruta, só na França, entre 100 a 200 gerentes a cada ano. No Brasil, a empresa já conquistou empresas de porte de Cartier, VisaNet e ClubMed. Outra condição do mercado nacional é a experiência em sistemas de gestão, como Oracle e SAP. É um requisito solicitado por 90% dos clientes. CASOS O HP Way2 Desde que iniciaram sua empresa em uma pequena garagem, William Hewlett e David Packard definiram os valores corporativos que deveriam guiar o comportamento da Hewlett-Packard (HP) e que até hoje orientam o comportamento da organização. O HP Way pode ter várias interpretações, mas pode ser sumarizado da seguinte maneira: 2 WIND, Jerry Yoram; MAIN, Jeremy. Driving change: how the best companies are preparing for the 21st century. New York: The Free Press, 1998. p. 103-104. 32
  • 23. • Temos profundo respeito e confiança nas pessoas. • Focamos um alto nível de desempenho e de contribuição das pessoas. • Conduzimos nossos negócios com integridade descompromissada. • Alcançamos nossos objetivos comuns por meio de equipes. • Encorajamos a flexibilidade e a inovação. Na HP, os valores acima são fundamentais para seu sucesso. O presidente, Lewis Platt, diz que passa a maior parte de seu tempo falando mais sobre valores da companhia do que sobre estratégias de negócios. 33