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A comunidade microbiana de um biofilme dental maduro envolve interações
  microbianas intra e inter espécies e gêneros, as quais são relativamente estáveis. A matriz
 extracelular do biofilme apresenta canais por onde atravessam fluídos contendo nutrientes,
            metabólitos secretados, enzimas, oxigênio, sais e compostos orgânicos.
    As bactérias que formam o biofilme apresentam mecanismos de comunicação através
    de sinais químicos. Estes sinais estimulam as bactérias a produzir proteínas e enzimas
 importantes para a adaptação fisiológica bacteriana às diferentes condições ambientais, às
quais o biofilme está exposto. Assim, os biofilmes se comportam como um tecido organizado,
 sendo capazes de se adaptar mais facilmente a diferentes condições de estresse ambiental




                  Costerton, J. W., P. S. Stewart, and E. P. Greenberg. 1999. Bacterial biofilms: a
                         common cause of persistent infections. Science 284:1318-1322.
•   1) Fase de aderência inicial: envolve mecanismos inespecíficos e específicos de
•   adesão à película adquirida do esmalte e outras superfícies dentárias expostas (Ex.
•   superfícies radiculares). Os microrganismos com maior capacidade de se aderir aos
•   dentes nestas fases iniciais são definidos como colonizadores primários.
•   2) Fase de acúmulo: envolvem mecanismos de interação bacteriana e a produção de
•   uma matriz extracelular. Muitos microrganismos não se aderem inicialmente aos
•   dentes, mas são capazes de se aderir (co-adesão) a microrganismos primários que se
•   estabelecem na fase inicial. Estes são denominados de colonizadores secundários.
•   3) Fase da comunidade “clímax”: atinge um estágio de equilíbrio dinâmico, onde os
•   diversos microrgarnismos que compõem o biofilme estão em constante adaptação às
•   alterações ambientais. Após a adesão e acúmulo, diversas modificações ambientais
•   ocorrem de forma que os diferentes gêneros e espécies microbianas vão variar em
•   proporção até atingir uma fase de equilíbrio. Este equilíbrio é dinâmico, pois envolvem
•   constantes modificações fisiológicas, para que a comunidade sobreviva no nicho
•   colonizado. Variações na composição e proporção das espécies são menores, a não ser
•   que grandes variações ambientais ocorram, como por exemplo, alterações acentudas da
•   dieta e/ou da saúde geral do hospedeiro. A microbiota clímax apresenta
•   microrganismos colonizadores primários e secundários, e também os microrganismos
•   colonizadores tardios, isto é, aqueles que aumentam em proporção como
•   conseqüência de variações ambientais decorrentes do acúmulo microbiano no biofilme
•   dentário.
2.1 Fase de aderência inicial.
Esta fase é formada basicamente pela interação dos colonizadores primários com a
película adquirida do esmalte, por meio de interações inespecíficas ou específicas.
Interações inespecíficas ocorrem da seguinte forma: o esmalte dentário possui uma
força de atração predominantemente negativa, devido aos grupos fosfatos que formam a
hidroxiapatita. Sobre esta superfície, se forma uma camada composta, na sua maioria, por íons
cálcio (com carga positiva), denominada camada de hidratação. Sobre esta camada, se
adsorvem diversos componentes salivares e microbianos através de ligações não covalentes
fracas, como as ligações de van der Waals, interações hidrofóbicas, pontes de hidrogênio e
pontes iônicas (13). Esta camada, formada predominantemente de glicoproteínas e proteínas
ricas em aminoácidos prolina é denominada de película adquirida do esmalte (PA) (Figura
1A). A adesão dos colonizadores primários ao dente ocorre através de ligações ao
componentes da PA. Estas ligações podem ser de dois tipos:
1) ligações inespecíficas: envolvem interações fracas por carga (por exemplo, interações
de van der Waals);
2) ligações específicas: envolvem interações estáveis de “encaixe” entre proteínas da PA
e proteínas
Thylstrup, A. and O. Fejerskov. 1995.
Cariologia clínica. Editora Santos, São Paulo.
Biofilme
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  • 1. A comunidade microbiana de um biofilme dental maduro envolve interações microbianas intra e inter espécies e gêneros, as quais são relativamente estáveis. A matriz extracelular do biofilme apresenta canais por onde atravessam fluídos contendo nutrientes, metabólitos secretados, enzimas, oxigênio, sais e compostos orgânicos. As bactérias que formam o biofilme apresentam mecanismos de comunicação através de sinais químicos. Estes sinais estimulam as bactérias a produzir proteínas e enzimas importantes para a adaptação fisiológica bacteriana às diferentes condições ambientais, às quais o biofilme está exposto. Assim, os biofilmes se comportam como um tecido organizado, sendo capazes de se adaptar mais facilmente a diferentes condições de estresse ambiental Costerton, J. W., P. S. Stewart, and E. P. Greenberg. 1999. Bacterial biofilms: a common cause of persistent infections. Science 284:1318-1322.
  • 2. 1) Fase de aderência inicial: envolve mecanismos inespecíficos e específicos de • adesão à película adquirida do esmalte e outras superfícies dentárias expostas (Ex. • superfícies radiculares). Os microrganismos com maior capacidade de se aderir aos • dentes nestas fases iniciais são definidos como colonizadores primários. • 2) Fase de acúmulo: envolvem mecanismos de interação bacteriana e a produção de • uma matriz extracelular. Muitos microrganismos não se aderem inicialmente aos • dentes, mas são capazes de se aderir (co-adesão) a microrganismos primários que se • estabelecem na fase inicial. Estes são denominados de colonizadores secundários. • 3) Fase da comunidade “clímax”: atinge um estágio de equilíbrio dinâmico, onde os • diversos microrgarnismos que compõem o biofilme estão em constante adaptação às • alterações ambientais. Após a adesão e acúmulo, diversas modificações ambientais • ocorrem de forma que os diferentes gêneros e espécies microbianas vão variar em • proporção até atingir uma fase de equilíbrio. Este equilíbrio é dinâmico, pois envolvem • constantes modificações fisiológicas, para que a comunidade sobreviva no nicho • colonizado. Variações na composição e proporção das espécies são menores, a não ser • que grandes variações ambientais ocorram, como por exemplo, alterações acentudas da • dieta e/ou da saúde geral do hospedeiro. A microbiota clímax apresenta • microrganismos colonizadores primários e secundários, e também os microrganismos • colonizadores tardios, isto é, aqueles que aumentam em proporção como • conseqüência de variações ambientais decorrentes do acúmulo microbiano no biofilme • dentário.
  • 3. 2.1 Fase de aderência inicial. Esta fase é formada basicamente pela interação dos colonizadores primários com a película adquirida do esmalte, por meio de interações inespecíficas ou específicas. Interações inespecíficas ocorrem da seguinte forma: o esmalte dentário possui uma força de atração predominantemente negativa, devido aos grupos fosfatos que formam a hidroxiapatita. Sobre esta superfície, se forma uma camada composta, na sua maioria, por íons cálcio (com carga positiva), denominada camada de hidratação. Sobre esta camada, se adsorvem diversos componentes salivares e microbianos através de ligações não covalentes fracas, como as ligações de van der Waals, interações hidrofóbicas, pontes de hidrogênio e pontes iônicas (13). Esta camada, formada predominantemente de glicoproteínas e proteínas ricas em aminoácidos prolina é denominada de película adquirida do esmalte (PA) (Figura 1A). A adesão dos colonizadores primários ao dente ocorre através de ligações ao componentes da PA. Estas ligações podem ser de dois tipos: 1) ligações inespecíficas: envolvem interações fracas por carga (por exemplo, interações de van der Waals); 2) ligações específicas: envolvem interações estáveis de “encaixe” entre proteínas da PA e proteínas Thylstrup, A. and O. Fejerskov. 1995. Cariologia clínica. Editora Santos, São Paulo.