4. MÚSICA: Cariocas - Adriana Calcanhoto
Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Cariocas são diretos
Cariocas não gostam de dias nublados
Cariocas nascem bambas / Cariocas nascem craques
Cariocas têm sotaque / Cariocas são alegres
Cariocas são atentos / Cariocas são tão sexys
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam de sinal fechado...
5. As palavras: bonitos, bacanas, sacanas, dourados,
modernos, espertos, diretos, craques, alegres, atentos,
sexys foram utilizadas na música, referindo-se aos
cariocas.
Responda:
1. Qual a função dessas palavras no texto?
2. Com qual finalidade o autor empregou essas palavras?
3. Essas palavras estão dispostas no texto, de forma
aleatória ou juntas montam um retrato dos cariocas?
8. Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
9. Esse é um poema descritivo, pois produz o retrato
do eu-lírico. Os adjetivos utilizados revelam os
estados interiores. Através da conotação, o poema
aproveita o sentido renovado das palavras,
privilegiando a emoção, possibilitando assim
observarmos o processo de mudança íntima do eu-
poético (1).
10. Ao falar sobre si mesmo, o eu-lírico utiliza palavras que
lhe atribuem características. Essas palavras são
ADJETIVOS.
Os adjetivos não devem ser compreendidos como
palavras que têm uma mera função de caracterizar um
lugar, um objeto ou uma pessoa. Essas palavras
apresentam relevante função na construção de
sentidos no texto, possibilitando ao leitor fazer uma
leitura imagética do que está escrito com palavras.
12. Palavras não são más
Palavras não são quentes
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas
Palavras eu preciso
Preciso com urgência
Palavras que se usem
Em casos de emergência
Dizer o que se sente
Cumprir uma sentença
Palavras que se diz
Se diz e não se pensa
Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
13. Palavras de amor
Pra pedir desculpas
Palavras doentias
Palavras rasgadas
Palavras que se curam
Certas ou erradas
Palavras são sombras
As sombras viram jogos
Palavras pra brincar
Brinquedos quebram logo
Palavras pra esquecer
Versos que repito
Palavras pra dizer
De novo o que foi dito
Todas as folhas em branco
Todos os livros fechados
Tudo com todas as letras
Nada de novo debaixo do sol.
14. O autor utilizou-se da própria palavra para defini-la e
caracterizá-la.
Os adjetivos são palavras poderosas. Podem exaltar,
mas podem humilhar; podem enriquecer e empobrecer.
Portanto, exercem um papel fundamental na construção
de sentidos no texto.
16. O texto descritivo caracteriza-se por ser um “retrato verbal” de pessoas,
objetos, animais, sentimentos, cenas ou ambientes. Entretanto, uma
descrição não se resume à enumeração pura e simples de
características. O essencial é saber captar o traço distintivo, particular, o
que diferencia aquele elemento descrito de todos os demais de sua
espécie (2).
Os elementos mais importantes no processo de caracterização são os
adjetivos e locuções adjetivas. Desta maneira, é possível construir a
caracterização tanto no sentido denotativo quanto no conotativo, como
forma de enriquecimento do texto (3).
17. A descrição pode ser subjetiva ou objetiva:
objetiva - dispensa impressões do observador, busca uma maior proximidade com
o real
subjetiva - envolve a visão do observador através de juízos de valor
No terreno objetivo, temos as informações (dados do conhecimento do autor do
texto: livro comprado em Lisboa, por exemplo), as caracterizações (dados que
estão no objeto de descrição: livro vermelho, por exemplo). Já no subjetivo,
estão as qualificações (impressões subjetivas sobre o ser ou objeto: livro
interessante, por exemplo). O ideal é que uma descrição possa fundir a
objetividade, necessária para a “pintura” ser a mais verídica possível, e a
subjetividade que torna o texto bem mais interessante e agradável. Sendo assim,
a descrição deve ir além do simples “retrato”, deve apresentar também uma
interpretação do autor a respeito daquilo que descreve (4).
18. “Ela não era feia; amorenada, com os seus traços acanhados, o narizinho malfeito, mas
galante, não muito baixa nem muito magra e a sua aparência de bondade passiva, de indolência
de corpo, de ideia e de sentidos”. Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma, cap. III.
Em algumas descrições, o aspecto psicológico é promovido pelos dados físicos. Geralmente,
o observador instiga o leitor a perceber o interior do personagem, apenas pela utilização da
descrição física. Esse efeito é perfeitamente usado por Machado de Assis no trecho abaixo:
“Chegando à rua, arrependi-me de ter saído. A baronesa era uma das pessoas que mais
desconfiavam de nós. Cinquenta e cinco anos, que pareciam quarenta, macia, risonha, vestígios
de beleza, porte elegante e maneiras finas. Não falava muito nem sempre; possuía a grande arte
de escutar os outros, espiando-os; reclinava-se então na cadeira, desembainhava um olhar
afiado e comprido, e deixava-se estar. Os outros, não sabendo o que era, falavam, olhavam,
gesticulavam, ao tempo em que ela olhava só, ora fixa, ora móbil, levando a astúcia ao ponto de
olhar ás vezes para dentro de si, porque deixava cair as pálpebras; mas, como as pestanas eram
rótulas, o olhar continuava o seu ofício, remexendo a alma e a vida dos outros”.
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, cap. LXV.