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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA




             DAIANE DA SILVA FREITAS




A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ASSEMBLEIANOS




           CONCEIÇÃO DO COITÉ
                    2010
DAIANE DA SILVA FREITAS




A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ASSEMBLEIANOS




                     Trabalho apresentado na modalidade de Artigo,
                     como pré-requisito para Conclusão do curso de
                     Licenciatura em História, da Universidade do
                     Estado da Bahia, Campus XIV, Departamento
                     de Educação, sob a orientação do    Professor
                     Aldo José.




         CONCEIÇÃO DO COITÉ
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ASSEMBLEIANOS.



             RESUMO:




             Através das técnicas conceituais da historia cultural, este artigo visa analisar um
grupo pentecostal: Os assembleianos, visualizando sua representação de mundo com base nos
significados que conferem a sua crença, nessa perspectiva tenta-se compreender como a AD
se apropria dos aspectos éticos e morais, configurando uma verdade específica consignando
uma identidade peculiar a partir das articulações existentes, construindo desse modo, uma
realidade contraditória em relação à sociedade mais abrangente.




             Palavras-chave: Identidade, Representação, Ética-comportamental.

                                                                                      *Daiane da Silva Freitas




             ABSTRACT




             Through the conceptual techniques of cultural history, This article aims to analyze
a Pentecostal group: The Assembleianis, viewing your representation of the world based on
the meanings they attach to their belief. this perspective tries to understand how the AD,
appropriates the ethical and moral, setting a specific truth, and determining a particular
identity and determining a particular identity from the existing, thereby building, reality
conflict with the morality of the wider society.




             Key words: identity, representation, ethical and behavioral




*Aluna do VIII semestre de História, da Universidade Estadual da Bahia. Campus XIV.
Introdução:


           Esta pesquisa se propõe a analisar a construção da identidade dos pentecostais
assembleianos através da ética comportamental conservadora que orienta as ações dos seus
fiéis. A exigência por uma ética conservadora desencadeia um processo de disciplinarização
aos prosélitos que devem enquadrar-se nos padrões estabelecidos pela instituição a fim de
resguardar a identidade dessa denominação religiosa. Nesse sentido o presente trabalho pode
vir à desvelar o comportamento peculiar de um grupo que comunga práticas divergentes na
sociedade, que faz parte do cotidiano dos fiéis, e de uma cultura religiosa que mantém um
padrão de separação que enfatiza mudanças na personalidade na formar de agir, nas
vestimentas e no conceber do mundo.
           O objeto de estudo é a Igreja Evangélica Assembléia de Deus que se constitui no
maior grupo pentecostal protestante do Brasil e da América Latina, Pretende-se compreender
a maneira como a AD exerce sua crença, considerando os mecanismos utilizados para
legitimar a identidade dos fiéis, produzindo o ideal de pertencimento entre os membros, Não é
a proposta do trabalho, trazer uma solução definitiva sobre o assunto, pois não temos como
esgotar as questões que permeiam esse universo religioso, uma vez que muita coisa ainda
precisa ser pesquisada, Este artigo é uma contribuição a mais para compreender essa
denominação religiosa.
           As categorias analíticas da história Cultural nortearão o desenvolvimento deste
trabalho já que procura identificar o modo como uma determinada realidade social é
construída. Tomando por base a possibilidade de compreender a leitura de mundo construída
pela Assembléia de Deus, mediante seus sistemas de valores, produzindo uma visão própria
da realidade, visto que cada grupo tem sua forma ímpar de apropriação e uso das formas
culturais. Chartier em sua obra “Práticas e Representações” (1990) analisa a mentalidade
coletiva que rege as representações e juízos dos sujeitos sociais, políticas ou econômicas, que
são historicamente produzidas através de discursos, de práticas articuladas por grupos que se
apropriam de elementos sociais para produzirem uma realidade própria. A Assembléia de
Deus, como objeto de estudo, é um dos grupos que, a partir da apropriação de elementos
sociais e morais, tenta exibir uma maneira peculiar de estar no mundo, de significar um
estatuto e uma posição.
            Entre as varias modalidades de história que se desenvolveram no decurso do
século XX, Algumas primam pela riqueza de possibilidades que abrem aos historiadores. A
história cultural, campo historiográfico que se tornou mais preciso e evidente a partir das
ultimas décadas do século XX é particularmente rica no sentido de abrigar no seu seio
diferentes possibilidades de conhecimento, que tem no historiador Roger Chartier um dos
seus maiores representantes.
           A nova História Cultural tornou-se possível na moderna historiografia a partir de
uma importante expansão de objetos historiográficos que se abrem a estudos variados, como
as representações. As noções de representações aqui são importantes porque através delas
podemos examinar a consolidação de costumes da instituição evangélica assembleiana. Tal
como assevera Chartier (1990), As noções de representações podem incluir os modos de
pensar e sentir, inclusive coletivos. As representações têm possibilitado novas perspectivas
para o estudo historiográfico, dentro do enfoque Histórico-cultural, o qual tem na noção de
representação um dos seus pressupostos.“Que tem por principal objeto identificar o modo
como em diferentes lugares e momentos a identidade é construída, pensada, dada a ler”
(CHARTIER, 1990, p. 17)


Identidade: Uma introdução conceitual


           É necessário um esclarecimento sobre o conceito “identidade” de fundamental
importância para o entendimento das bases utilizadas pela Assembléia de Deus na construção
da sua ideologia cristã. O termo identidade possui diversas definições conforme o enfoque
que se lhe dê e as diversas abordagens têm opiniões diferentes sobre o termo.
           Para Andréia Mendes (2004) O caráter universalizador do conceito “identidade”
supõe, uma função quantitativa em relação ao número e variedade de indivíduos aos quais
unifica e, por outra, uma função disciplinar quanto ao papel das instituições para produzir e
conservar discursos de identidade com as regras de acesso a eles e as posições relacionadas
com o fazer e o representar dos indivíduos nas sociedades. A forma, talvez, mais evidente em
que se mostra a identificação dos indivíduos com uma determinada cultura ou um
determinado elemento é na aceitação dos valores éticos e morais que atuam como suportes
referentes para preservar a ordem da sociedade. Sua aceitação e cumprimento tornam mais
suportáveis as tarefas que os indivíduos devem cumprir, a estrutura simbólica da memória
social se encontra representada nas ideologias que difundem os acontecimentos constitutivos
da identidade das comunidades do que se desprende seu caráter preservador legitimante e
integrador. “O resultado é um ataque deliberado à diversidade, o silenciamento dos discursos
diferentes com a enunciação ideológica de conceitos pseudouniversais para legitimar-se como
autoridade” (MINA, 2004, p.47), criando dessa forma estereótipos e justificando o acionar da
autoridade como garantia de permanência e continuidade dos valores, fato este recorrente nas
comunidades evangélicas que se utiliza de símbolos, discursos, a fim de assegurar que uma
identidade grupal seja legitimada produzindo o ideal de pertencimento.
           Segundo Woodward (2000, p.14)

                       O social e o simbólico referem-se a dois processos diferentes, mas cada um deles é
                       necessário para a construção e a manutenção das identidades. A marcação simbólica
                       é o meio pelo qual damos sentido a práticas e as relações sociais, definindo por
                       exemplo, quem é excluído e quem é incluído. É por meio da diferenciação social que
                       essas classificações da diferença são vividas nas relações sociais.

           Identidade está sempre relacionada à idéia de alteridade, ou seja, é necessário
existir o outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres
pelos quais produz identificação. Woodward afirma que a identidade é relacional, e ressalta
que identidade e diferença são componentes do mesmo processo,construidas através das
representações coletivas. Segundo a autora “A identidade para existir depende de algo fora
dela: a saber, de outra identidade... que fornece as condições para que ela exista... A
identidade é assim marcada pela diferença” (WOODWARD, 2000, p.9).
           Para Pedro Heitor Barros (2001) o homem inicia a construção da sua identidade
através da interação que mantém com o meio em que vive. A construção da identidade
apresenta características diversas em razão das diferenças culturais. Através das experiências
vividas, se está alimentado o processo de construção da identidade. “A construção do sentido
de ser e pertencer a um grupo ocorre nas relações sociais à identidade de qualquer grupo é
construída em determinado tempo e espaço” (BARROS, 2004, p.2) Para o autor no campo
religioso, o fiel particulariza-se com um discurso e liturgias próprias, se apropriando de uma
maneira diferente de agir, Sendo assim, os processos de construção identitária são capazes de
criar indivíduos que agem de forma diferente na esfera social, e para que se forme uma
homogeneidade identitária é necessário que o grupo se diferencie dos outros, e é nesse sentido
que a AD utiliza-se da sua ideologia para proclamar valores éticos e comportamentais a fim
de assegurar que o estereótipo de cristão assembleiano seja mantido, pautado em valores que
afirmam que o fiel deve ser diferente “Ser luz entre as trevas”. O fiel passa a ser alguém
quando descobri o outro porque, desta forma, adquiri termos de comparação que permitem o
destaque das características próprias de cada um.
           O Conceito sobre identidade está associado também às atividades dos indivíduos,
e outras características relativas à pessoa como personalidade, a identidade permite que o
sujeito tome posse de sua realidade singular e única, adquirindo consciência de si próprio. A
identidade como categoria de análise visa apontar a homogeneidade dentro da formação plural
da sociedade. A partir de tal premissa, chega-se a idéia de que a identidade não é algo fruto de
características imanentes dos homens, mas que todas elas são atribuídas pelos homens.
             Segundo Max Weber (2004, p.74).

                        A identidade é o resultado de embates, ambíguos e heterogêneos, entre os grupos
                        numa sociedade. Ela permite distinguir um grupo por seus conflitos internos e
                        externos, em torno dos bens, culturais ou materiais que os distinguem dos demais
                        pela especificidade de suas demandas ou mesmo ações sociais.

                  Dessa forma a igreja Assembléia de Deus, luta para manter a sua identidade
através de traços que são fortes marcas da instituição que permite aos membros se distinguir
na sociedade em razão das características singulares que permeiam esse grupo religioso, A
igreja estabelece um conjunto de valores e uma ética comportamental que marcam sua
história. No intuito de manter seus princípios e dogmas os lideres da instituição primam pelo
ideal da coletividade e por manter aspectos definitivamente reconhecíveis e conhecidos na
sociedade.


A formação da identidade dos assembleianos:


             A identidade é marcada por símbolos, existindo uma associação entre a identidade
do pentecostal e as coisas que ele usa, os trajes e as práticas funcionam neste caso como um
significante que é associado ao padrão e modelo de um fiel assembleiano assim a construção
da identidade é tanto simbólica quanto social, a identidade é marcada pela diferença,
envolvendo reivindicações sobre quem pertence e quem não pertence a um determinado
grupo. O afastamento do mundo, das pessoas não protestantes, e uma rígida moral extraída da
Bíblia, com regras de comportamento buscadas no testemunho dos apóstolos, forneceram um
outro significante que possibilitou uma forma própria de socialização. O assembleiano tem
que levar sua identidade para outros âmbitos de sua vida, não somente na igreja, Ser membro
da Assembléia de Deus implica em representar na sociedade um ser cristão, um ser
pentecostal, uma pessoa “separada do mundo”, sua ideologia está baseada no fundamento que
a compensação pelas boas ações serão recompensadas no céu, após a morte do fiel, o sujeito
religioso é um ser que deve estar centrado no sagrado.
             A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por
meio dos quais os significados são produzidos. É por meio dos significados produzidos e
pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos A
representação, compreende um processo cultural, que estabelece identidades individuais e
coletivas. Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais
os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar. “As identidades são
construídas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de práticas discursivas
específicas, por estratégias e iniciativas específicas”. (HALL 1990, p. 109). O significado de
ser e pertencer a AD é produzido através dos discursos dos pastores e líderes, existem os
cultos que são realizados apenas para os fiéis no intuito de fortalecer e incentivar os membros
a serem obedientes ao padrão de um verdadeiro cristão, a fidelidade resultará em bênçãos
alcançadas e no direito e privilégio de morar no céu. Aquele que não se encaixa no modelo de
verdadeiro servo de Cristo, deve moldar-se a fim de torna-se um “cidadão do céu”.
              Utilizando a religião como um modelo em que processos simbólicos funcionam,
as relações sociais são produzidas e reproduzidas por meio de rituais e símbolos, os quais
classificam as coisas em dois grupos, as sagradas e as profanas. Os artefatos e idéias são
sagrados apenas porque são simbolizados e representados como tais. As representações se
encontram presentes desde as religiões primitivas, tais como os fetiches, as máscaras, objetos
rituais, que eram considerados sagrados porque corporificavam as normas e os valores da
sociedade, contribuindo, para ser unificado culturalmente.
              Segundo Durkheim, (1954) é preciso compreender os significados partilhados que
caracterizaram os diferentes aspectos da vida social. Assim, o pão que é comido em casa é
visto simplesmente como em elemento da vida cotidiana, mas, quando especialmente
preparado e partido na mesa da comunhão, torna-se sagrado, podendo simbolizar o corpo de
Cristo para os assembleiano, sendo uma representação do sangue de Jesus Cristo o que torna
para os fies um ato sagrado que deve ser simbolizado como tal. A vida social em geral,
argumenta Durkheim, é estruturada por essas tensões entre o sagrado e o profano e é por meio
de rituais como, por exemplo, as reuniões coletivas dos pentecostais, que o sentido é
produzido. É nesses momentos que idéias e valores são cognitivamente apropriados pelos
indivíduos.
                          “A religião é algo eminentemente social. As representações coletivas que
                         expressam realidades coletivas; os ritos são uma maneira de agir que ocorrem
                         quando os grupos se reúnem, sendo destinados a estimular, manter ou recriar certos
                         estados mentais nesses grupos.” (DURKHEIM, 1954, p.42).


              Para os assembleianos o sagrado está em oposição ao profano, excluindo-o
inteiramente. As formas pelas quais a cultura estabelece fronteiras e distingue a diferença são
cruciais para compreender a identidade. “A diferença é aquilo que separa uma identidade da
outra, estabelecendo distinções, freqüentemente na forma de oposições. A marcação da
diferença é assim o componente chave em qualquer sistema de classificação”.
(WOODWARD, 200, p.15). Segundo a autora “A identidade depende, para existir, de algo
fora dela: a saber, de outra identidade, que fornece condições para que ela exista” (o sagrado e
o profano) (a casa de Deus e o mundo) a identidade é assim marcada pela diferença, a unidade
cristã enfatiza o coletivo “nós somos todos assembleianos”. Cada cultura tem suas próprias e
distintas formas de classificar o mundo. É pela construção de sistemas que a cultura propicia
os meios pelos quais se pode dar sentido ao mundo social e construir significados, a fim de
manter alguma ordem social, os símbolos, rituais é um meio pelo quais os indivíduos podem
fazer afirmações sobre si próprias, as proibições, disciplinas também distinguem as
identidades daqueles que estão incluídos em um sistema particular de crenças daqueles que
estão fora dele. “As culturas fornecem sistemas classificatórios estabelecendo fronteiras
simbólicas entre o que está incluído e o que está excluído, definindo, assim, o que constitui
uma prática culturalmente aceita ou não.” (WOODWARD, 2000, p. 49)
            O contexto social religioso, a linguagem e a cultura dão significados à experiência
que constrói a identidade, Esse conceito tem se destacado como uma questão central nas
discussões contemporâneas assim como os processos envolvidos na produção de significados
por meio de sistemas representacionais, em sua conexão com o posicionamento dos sujeitos e
com a construção de identidades no interior de sistemas simbólicos.
            Os sistemas religiosos e simbólicos produzem as estruturas que dão sentido e
ordem a vida social, entre o incluído e o excluído, entre o sagrado e o profano, entre o
masculino e o feminino, que estão no centro dos sistemas de significação da cultura, que
busca compreender aqueles processos que asseguram o investimento do sujeito na auto –
afirmação e construção da identidade, nas palavras de Stuart Hall: “...As identidades são
construídas dentro de discursos que nós precisamos compreender, produzidas em locais
históricos e institucionais específicos, por estratégias e iniciativas específicas”. (HALL, 2001,
p. 78).
            Sempre é ressaltado nos cultos da denominação a importância de manter a
identidade como forma de respeitar as origens, através de discursos que afirmam que a igreja
de Jesus Cristo não pode mudar, pois a Bíblia a palavra revelada de Deus aos homens é
imutável, cabe aos membros renunciar as “inovações do mundo” para que o grupo mantenha
a sua identidade. O presidente geral das Assembléias de Deus no Brasil José Wellington ao
escrever um artigo na revista impressa e eletrônica denominada Obreiro que pertence à
instituição teceu o seguinte comentário:
Tenho sido um defensor constante da manutenção da identidade assembleiana em
                       uma época em que alguns infelizmente parecem não estar valorizando tanto isso.
                       Como pontos principais valorizo o ensino da Palavra de Deus e a prática da Palavra
                       de Deus no meio do nosso povo. Somos um povo que tem uma origem. Tivemos dos
                       nossos pais uma fôrma dada por Deus e não podemos, de maneira nenhuma, deixar
                       que alguns venham mutilar essa identidade, porque aceitar as inovações que estão
                       querendo trazer para a Assembléia de Deus vai resultar em, dentro de cinco ou dez
                       anos, nos tornarmos um grupo evangélico igual aos demais no Brasil, sem qualquer
                       diferença em relação aos que já existem. (Revista Obreiro, 14/10/2004)

Identidade e Pertecimento:


             A AD é decorrente da Reforma do século XVI, iniciada pelo monge alemão
Martinho Lutero e dos desdobramentos do Protestantismo. O protestantismo ingressou de fato
no Brasil, a partir da transferência da família real portuguesa para o Brasil em 1808, que
resultou na elaboração do artigo 12 que declarava relativa liberdade de culto. É importante
resgatar a história do protestantismo no mundo e no Brasil assim como os princípios éticos e
traduções norteadores dessa instituição, nesse sentido a obra de Elizete Silva (1982) aborda,
as primeiras décadas do século XIX, período em que o protestantismo penetrou, de fato, no
Brasil, Elizete ressalta que os anglicanos e luteranos se constituem como os grupos que
marcam a inserção do protestantismo no Brasil. Em meados de 1862 surgem às primeiras
igrejas nascendo à primeira igreja presbiteriana do Brasil seguindo de núcleos metodistas em
1866 e dos Batistas em 1871, os protestantes históricos, como são chamados, são grupos
vinculados diretamente à reforma que não cresceu tanto quanto o pentecostalismo, que só se
inseriu em território brasileiro na primeira fase da década de XX.
           O pentecostalismo tem suas raízes nos Estados Unidos em 1906, que se deu
através do advento de sete pessoas falando em línguas estranhas o pentecostalismo surge
como um movimento de ênfase no Espírito Santo e no falar em línguas estranhas
(glossolalia), sendo este um dos marcos do movimento pentecostal, o termo pentecostalismo
vem de uma passagem bíblica que diz num dia de Pentecostes a páscoa judaica, o Espírito
Santo desceu aos apóstolos e aconteceram milagres (Atos Cap. 2. Vers. 1). Na expressão de
Claudio José (2003, p.26).
                       É no batismo com o Espírito Santo e no falar línguas estranhas (glossolalia) que o
                       símbolo da comunhão com o sobrenatural se manifesta, é a presença real de Deus na
                       vida do crente que vem para fortalecer no seu dia a dia... O fiel se apossa do
                       transcendente, e o transcendente se apossa do fiel e o resultado é o êxtase, o
                       arrebatamento.

           Segundo Cláudio José, para os pentecostais o batismo com o Espírito Santo, é o
grande marco da igreja Assembléia de Deus por ser a expressão mais íntima das relações que
o homem deve experimentar. O autor ressalta que a pioneira na manifestação da característica
essencial do pentecostalismo foi uma mulher Agnez Ozman, uma aluna do Colégio Bíblico
Betel, experimentou a glossolalia. Em Los Angeles, a Rua Azusa Street ficou conhecida como
o local onde aconteceu um forte pentecostes. As reuniões organizadas por Seymor, em Los
Angeles, eram freqüentados por evangélicos, em sua maioria, negros. O culto em que
manifestações aconteciam, tinha como características os cânticos alegres e informais e
orações em voz altas e simultâneas.
           Foi através dos Suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg que se deu a consolidação
do pentecostalismo no Brasil, ambos chegaram ao Brasil em 1910 e se estabeleceram em uma
igreja batista. Daniel Berg, um dos fundadores da Assembléia de Deus no Brasil, expressou-se
em sua obra:
                        Iniciamos assim as nossas atividades dirigindo cultos e pregando na Igreja Batista. É
                        claro que não fazíamos reservas quanto à doutrina pentecostal que havíamos
                        aceitado. Quando dirigimos nos sentíamos dirigidos a pregar acerca dessas verdades,
                        nós o fazíamos com toda a franqueza. Essas verdades eram novidades para os nossos
                        ouvintes. Eles tinham lido e ouvido falar dessas coisas, mas apenas de forma
                        passageira, sem a ênfase de que podiam ser para eles também (BERG, 1995, p.
                        65).
           Os suecos congregaram em uma igreja batista, até o momento da divergência
teológica relacionada ao batismo com Espírito Santo, ambos saíram da igreja batista levando
consigo dezenove pessoas que compartilhavam com eles os mesmos princípios bíblicos.
           Os suecos fundaram a Missão da fé apostólica em 1911, que posteriormente foi
dominada de Assembléia de Deus a partir de 1918. O desenvolvimento da AD aconteceu no
sentido Norte-Nordeste para o Sudeste-Sul, a ação missionária dos suecos penetrou nas
diversas regiões brasileiras, tendo seu apogeu em 1930, fase que mais de vinte famílias suecas
evangelizam o Brasil.
           As primeiras atividades do trabalho pentecostal no Estado da Bahia começaram na
antiga cidade de Canavieira, no Sul do Estado, através de Joaquina de Souza que anunciava a
mensagem de Cristo. Otton Nelson um missionário americano Foi o responsável pela
implantação da AD em Salvador, se preocupando também com o desenvolvimento do
pentecostalismo no interior do estado, fez viagens ao interior para anunciar o evangelho.
           A AD tem os seus princípios cristãos fundamentos em um estatuto geral de caráter
nacional, no entanto cada igreja também possui estatuto próprio de caráter local, a
denominação, não permite que a mulher participe da hierarquia eclesiástica da igreja, o corpo
ministerial da AD é composto majetoriamente por homens, a mulher na AD, não assume
também o ministério pastoral, função esta outorgada só aos homens, respaldado no fato dos
discípulos de Jesus serem homens. Sempre existiu nas Assembléias de Deus no Brasil,
características que davam uma idéia de certa “identidade nacional”. Destaco aqui quatro
características marcantes: Usos e costumes, liturgia, corpo ministerial e doutrina. Em todo o
Brasil, aonde qualquer individuo chegasse, essas características eram de imediato percebidas,
as pessoas eram facilmente identificados pelo estereótipo como pertencente a denominação
Assembleiana.
            Outra ordenança da AD, que é uma característica da igreja, é o batismo por
imersão nas águas somente para adultos, consumado este feito, o cristão, torna-se membro da
igreja, o que lhe proporciona o direito de participar da Santa Ceia e das reuniões para
membros onde são tomadas as decisões gerais da denominação, e o membro estando em
comunhão pode opinar e votar, assim como ter acesso a atas,livros de registros e
contabilização financeira, nesse contexto, a mulher pode manifestar sua posição, como
membro da igreja.
            Cláudio Jorge (2003) em sua dissertação sobre a Assembléia de Deus faz uma
análise no que tange a doutrina dos usos e costumes da AD, afirmando que é notório este
aspecto da igreja sendo sempre regra de conduta dos crentes, usado como padrão e postura
que diferenciam este grupo de outros. No decorrer de suas evoluções os usos e costumes se
estruturaram como forma de se comportar e se conduzir, fundamentados em uma seleção de
textos sagrados que repetidos no decorrer dos tempos se tornaram impregnados como regra de
conduta e vinculados à obediência a Deus, a identidade de um grupo dá a uma pessoa o
sentimento de pertencimento, que está ligado à inclusão e a adesão dos padrões tradicionais
que foram impostos por autoridade, o fiel é levado a agir dentro de padrões que geram um
comportamento atuante de reprodução da identidade coletiva do grupo a que pertence.
Quando um membro da Assembléia de Deus está andando na rua ou em qualquer lugar pode-
se conhecê-lo pelo traje, pela postura, através de termos utilizados pelos fiéis, ( Glória a Deus,
os costumes caracterizam uma classe ou um grupo social em relação aos outros que não
partilham das mesmas condições sociais.
            Os costumes da instituição permitem aos indivíduos se orientarem em seu espaço
social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social e pode ser
fortalecida pela implantação dos valores espirituais que leva um fiel a andar, a crer que seu
trajar, sua postura e conduta são exigências para agradar a Deus, pois de certa maneira está
ligada ao padrão doutrinário que os líderes procuram vincular para gerar obediência, sendo
que, para muitos grupos pentecostais estas questões dos trajes, jóias, adornos, não pode ser
questionada, pois, é uma identidade fundamental para diferenciar quem é crente de quem não
é. Para Weber (2004) o uso torna-se uma ação social marcada através da regularidade, os
usos e costumes praticados pelos assembleianos, possuem uma finalidade que é o de mostrar
os sinais de conversão,e mais ainda elementos definidores e caracterizadores de um grupo, a
saia, o cabelo grande, o paletó, a gravata, o uso da bíblia, até mesmo as expressões de
saudações entre os membros, “A paz do Senhor, Deus te abençoe” no lugar de termos usais
como “Bom dia e Obrigado” diferencia os membros e produzem o ideal de pertencimento,
como um dos sinais que denotam a identidade assembleiana.
                        Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia de Deus vêm
                        acompanhando este movimento desde seus primórdios e que se fortalece depois da
                        sua experiência e cria um éthos, que para o crente desta igreja deve aparecer a
                        maneira de se conduzir e acima de tudo no trajar, que se mostra como símbolos de
                        que a pessoa é convertida, e prova de regeneração, sinal de santificação. Esta
                        santificação é provada pela forma como o crente obedece estes padrões de
                        identidade que se formou no contexto deste movimento. (COUTO, 2001, p. 29)

           Clari Couto enfatiza que a identidade assembleiana é construída, sobretudo nas
vestimentas, o que permite a associação da imagem e estereótipo do fiel a instituição. A
mulher é reconhecida pelo uso de saias, blusas com mangas, cabelos longos, os homens pelo
uso de calças, paletós, de maneira que acontece uma distinção notória em que o membro é
visualizado como pertencente a         denominação pentecostal assembleiana. Os membros
precisam ser diferentes do “mundo”, pois os pentecostais repudiam o que denominam
convencionalmente de “mundo” ou “mundanismo”. Na linguagem cristã escrita, a palavra
“mundo” adquiriu conotação pejorativa, o que para os pentecostais e principalmente para os
componentes da Assembléia de Deus, mundanismo é imitar a prática que a sociedade impõe
como valores e que muitas vezes contradiz aos padrões que esta igreja considera como
bíblicos e que afetam os padrões ensinados pelos pioneiros desde a fundação desta igreja.
            Para o pentecostal mostrar-se santificado é preciso exteriorizar em sinais e por
meio de comportamentos ensinados e exigidos pela comunidade religiosa, assim a igreja
pentecostal separa os seus membros do mundo com a condição de criar para eles um mundo
separado, não só do ponto de vista ético (não beber, não fumar, etc.) como do ponto de vista
de uma rotina de vida. O fiel, na busca da salvação, deve resistir às tentações e ser radical na
rejeição às tentações ao mundanismo e obedecer aos mandamentos divinos. Deve ser virtuoso,
ter autodeterminação e possuir rigidez para não sucumbir ao mundanismo e ser arrastado pelo
caminho largo dos prazeres da carne e da paixão do mundo. Sendo o mundo tentador como é
viver nele é negar seus prazeres, exigindo do fiel grande força e resistência moral.
            É na eficácia dos símbolos que se criam outra modalidade de influência social,
que serve para concretizar, tornar visível e tangível a realidade religiosa, mantendo o
sentimento de pertencimento assegurando assim a participação adequada de acordo com o
papel de cada fiel. Neste sentido, os símbolos não só ajudam a representar concretamente a
coletividade, como podem também alimentar o sentimento de pertencimento, reproduzindo
conduta e padrões que estão sendo ensinados, como forma de obediência e compromisso.
           A capacidade do fiel de aceitar e incorporar um padrão de valores, símbolos e
linguagem, o faz reprodutor de uma concepção cristã e um representante destes valores
símbolos, o que produz no indivíduo uma identidade de pertencer a este grupo, o que faz com
que o fiel assuma responsabilidade e uma identidade religiosa que o identifique como membro
desta instituição, o fiel se sente integrado ao relacionamento com este sagrado e comungará
essa inclusão experimentando essa relação na vivência da igreja. É indispensável para o fiel
assembleiano aceitar os símbolos e valores da denominação, manter o sentimento de pertença,
assegura a participação adequada dos membros de acordo com o papel de cada um, nesse
sentido, a relação de valores é profundamente simbólica. Chartier considera as práticas de
apropriação cultural como formas diferenciadas de interpretação do real. “As práticas que
visam reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo,
significa simbolicamente um estatuto e uma posição” (CHARTIER, 1990.p.13)
           Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia de Deus vêm
acompanhando este movimento desde seus primórdios e que se fortaleceu depois da sua
experiência no Brasil o crente desta igreja deve ser diferente na maneira de se conduzir e
acima de tudo no trajar, que mostra como símbolos de que a pessoa é convertida, é prova de
regeneração, sinal de santificação. Esta santificação é provada pela forma como o crente
obedece estes padrões de identidade que se formaram no contexto deste movimento. É na
religião que se sustenta o vínculo com o sagrado, o que vale dizer que ela tem que responder a
necessidade do indivíduo e garantir através do ritual e de seus símbolos o equilíbrio do fiel
com o transcendente e ajudá-lo no comportamento que reproduzirá na relação social.
           Porém, esta forma de “identidade Assembleiana” está sendo pouco a pouco com
algumas exceções, flexibilizada ou adaptada aos novos valores, nesse aspecto, como diz
Ricardo Gondim.
                       “A maior luta da Assembléia de Deus é preservação de suas tradições, de seus usos e
                       costumes. A igreja tenta preservar o que havia em 1930, 35, e fechou os olhos para o
                       fato de que, de 35 para cá, não só o mundo mudou como os próprios membros e as
                       pessoas dentro da igreja”. (GONDIM, 1995. p. 127).



            Outro elemento que caracteriza e diferencia os assembleianos de outros grupos
religiosos é a questão do batismo com Espírito Santo, fenômeno intrinsecamente ligado a essa
denominação religiosa. O pentecostalismo surgiu com a motivação explicita de recuperar a
atitude da experiência cristã. E para o pentecostal, o batismo com o Espírito Santo é
fundamental para dar uma identidade diferencial, que desde seu início causou uma ruptura
com os batistas. A inauguração da Assembléia de Deus demarca como princípio fundante para
uma adesão ao pentecostalismo esta experiência. Com sua mensagem sobre o fervor a
experiência com Deus, a ação do Espírito Santo e o entusiasmo religioso com suas
reivindicações diretas do conhecimento divino, e isto gerou no seio do protestantismo uma
ruptura com os batistas que levou ao surgimento da Assembléia de Deus, os fundadores, da
AD Gunnar Vingren e Daniel Berg, depois de se declararem pentecostais e estimularem os
fiéis a aderirem esta nova maneira de ser, foram excluídos da igreja Batista por
incompatibilidade doutrinária. As principais lideranças da AD enfatizam ainda hoje que não
se deve perder de vista o modelo deixado pelos missionários. Por isto, em 1979 criou-se o
Conselho de Doutrina da Convenção Geral para cuidar dos assuntos correspondentes a ética
comportamental da igreja, a fim de manter a identidade dos assembleianos, que é forjada
sobre tudo no estereotipo.
           A doutrina dos usos e costumes é visto como regra de obediência aos padrões
bíblicos para guiar o comportamento dos crentes. O processo de contínuas repetições dos usos
e costumes vem sendo exigido por muito tempo como regra de obediência e santidade, onde
através da separação os crentes procuram agradar a Deus e que por contínuas repetições
ocorre um costume. Para Josep “Costume é um padrão de comportamento exteriorizado e
difundido e que são considerados como comportamento desejado”. (FICHETER, 1996, p.121)
           Dessa forma a identidade permite aos indivíduos se orientarem em seu espaço
social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social, e pode ser
fortalecida pela implantação dos valores espirituais que levam um fiel a andar e crer que seu
trajar, sua postura e conduta é exigência para agradar a Deus, este processo se torna tão bem
instalado que provavelmente ninguém se perguntará por que determinadas coisas são feitas
desta ou daquela maneira, como por exemplo: usar cabelos longos para as mulheres, saias,
etc., que começou como um costume inicial e com a contínua repetição do grupo ao passar do
tempo constituiu-se como um padrão de comportamento repetido e institucionalizado, neste
sentido, a permanência destas contínuas repetições são práticas reguladas por regras táticas
que são abertamente aceitas, caso contrário o fiel não é considerado um assembleiano, a
identidade é constituída mediante valores rituais ou simbólicos que irão inculcar normas de
comportamento através desse modelo que é reproduzido pelo grupo, o que postula uma
identidade grupal.
A construção da identidade religiosa dentro da Assembléia de Deus, como ponte
de ligação entre a Europa reformista e o Brasil contemporâneo segue a mesma fórmula de
qualquer outro elemento aglutinador do sentido da identidade religiosa. Segundo a Folha de
São Paulo:
                        (…) nos últimos 25 anos, ao mesmo tempo em que a situação econômica se
                        deteriorava e que o número de excluídos aumentava, as novas seitas e superstições
                        se espalharam na Europa. É como se, no movimento lento das mentalidades, entre o
                        terreno conquistado pela racionalidade técnica e aquele perdido, pelas religiões
                        tradicionais. Sobrado uma terra de ninguém que está sendo ocupada por novas
                        crenças ou formas de religiosidade arcaicas. Com os tempos difíceis as pessoas
                        voltam a depositar suas esperanças na divina providencia e a acreditar em milagres.
                        (Folha de São Paulo, 26/12/1990).

             Entra nos meios de comunicação um novo personagem religioso, um novo tipo de
crente diferente dos tradicionais mais ligados ao sobrenatural, a emocionalidade, que tem um
estilo de culto diferente e que faz um enorme barulho, são eles os pentecostais assembleianos.
             É necessário um esclarecimento maior sobre o protestantismo inicial, de
fundamental importância para o entendimento das bases teóricas utilizadas pela AD na
construção de sua ideologia, que por sua vez é a aglutinadora social da identidade religiosa de
seus praticantes, utilizando a análise sobre o calvinismo, o metodismo, e as igrejas Batistas.
Estes movimentos enfatizavam o ascetismo no mundo e valorizavam o conjunto de regras que
orientavam a conduta dos fiéis.
             De acordo com Weber, (1999) Calvino teria sido o mais radical. Através da sua
doutrina da predestinação onde parte da humanidade já nascia condenada por Deus e a outra
parte já nascia salva, vemos um mundo estático, imóvel, onde os homens não podiam
questionar os desígnios de Deus, nem lutar por mudanças. Tal coisa seria vista como
presunção do homem. Percebe-se esta rigidez com mais ênfase no Calvinismo.
             As outras denominações já admitiam alguma possibilidade de arrependimento
visando à purificação, os Metodistas, mesmo sendo ascéticos valorizavam bastante o lado
emocional da religião, embora pregassem uma ética racional e ascética justificando o seu
próprio nome, isto é, tenham um método de conduta e o momento do arrependimento, seguido
da conversão que envolva intenso componente emocional.
             Os Batistas, com seu forte componente racional, tinham também em seu interior a
possibilidade de redenção do homem pelo arrependimento, já não havia a idéia de
predestinação, o homem poderia se tornar um dos eleitos através da ascese no mundo, sua
conduta correta o levaria a Deus, admitindo que o contato com o sobrenatural (Deus) através
do arrependimento pode ter contato com a “luz divina” e intuir que é um eleito, ou que ainda
pode, através de sua conduta correta, provar sua condição de eleito perante Deus.
No Brasil, os protestantes tradicionais ou históricos também se caracterizavam
pelo ascetismo acentuado e pela pouca importância que davam às manifestações emocionais
em oposição ao pentecostalismo e principalmente ao neopentencostalismo. As igrejas
protestantes tradicionais seriam aquelas que tentam se manter fiéis aos ideais reformistas
puritanos. Segundo Elizete Silva (1982), esses grupos protestantes foram organizados por
missionários a partir da última década da primeira metade do século XII. Essa era missionária
teria percorrido todo o século XIX e teria chegado por aqui antes da primeira guerra mundial.
           A primeira onda, chamada de pentecostalismo clássico, inicia-se em 1910, com a
fundação da Congregação Cristã no Brasil (SP) e da Assembléia de Deus (em 1911, no Pará).
Essa ênfase no dom de línguas (glossolalia) radical seitarismo e ascetismo de rejeição do
mundo. Na realidade os assembleianos acreditam que a liberdade está primeiro na aceitação
de Jesus, os que não crêem, precisam de ajuda para encontrar a salvação, sendo, portanto, uma
obrigação de todos assembleianos auxiliar na conversão “daqueles que estão perdidos”. Ao
assumirem a Palavra de Deus, assumem também o combate ao demônio (maligno) quanto nas
doenças, na desagregação da família.
           A AD desencadeia esta guerra e continua empenhada em levá-la adiante. É a
guerra cósmica entre Deus e o Diabo, os seres humanos conscientes disso ou não, participam
ativamente dessas batalhas denominada “Guerra espiritual”, entre os desejos da carne e o
espírito. É necessário partir do princípio de que na concepção assembleiana, o sobrenatural é
presente e constante na sociedade cristã. Para o fiel, bem e mal são categorias concretas, da
realidade empírica de seu cotidiano, arraigada a identidade religiosa dos assembleianos,
possuindo uma linguagem simbólico – religiosa pelo qual interpreta e reconhece com o
sobrenatural, os fiéis desta igreja em momento algum negam a crença no poder e na existência
dos espíritos, embora evitem estabelecer uma relação de reciprocidade, os assembleianos
deixam bastante clara que esta relação é indesejada.
           Para os assembleianos “não há qualquer possibilidade de convivência entre Jesus
e o Diabo”. A reciprocidade só pode ser admitida entre o fiel e o Senhor, por intermédio do
Espírito Santo, que estaria dentro de cada um de nós, através da fé. Desse modo cria-se uma
identidade de valores e se estabelece a confiança e principalmente na fé, a identidade religiosa
do crente AD é trabalhada no imaginário e na realidade da vida do indivíduo, em suas
categorias mentais enraizada. O significado do pentecostalismo, do ponto de vista
sociológico, pode ser entendido em função de suas repercussões sociais, ou seja, de uma
determinada visão religiosa do mundo que gera um comportamento concreto na sociedade,
visando atender a determinadas necessidades.
Na AD existem categorias de valor, como o leve e o pesado, o puro e impuro. É
possível afirmar que existe uma taxionomia das coisas que classifica e hierarquiza os homens.
As categorias existem uma em relação à outra e o valor é distribuído diferentemente na
classificação. Privilegia-se à uma leitura que toma a construção do sagrado e do profano como
categorias, idéias construídas socialmente           na identidade dos cristãos. Utilizando tais
categorias, pode-se falar da sacralização de pessoas e objetos e de atitudes ligadas à ordem e à
desordem.


Legitimação da Identidade:


            É necessário ao fiel demonstrar uma prova objetiva da fé, ou seja, os atos
externos, que se da por intermédio, do cumprimento de um código de conduta, a identidade
grupal prevalece sobre a individual. “De certa forma as regras e o cumprimento delas, servem
para ligar um grupo de pessoas e criar uma identidade que faz os seus membros perceberem
sua existência dentro de uma sociedade” (Couto, 2001. p. 75). O cumprimento dessas regras é
imprescindível para manter a identidade dos fies, de modo que deve ser obedecida. Os fiéis da
igreja compactuam práticas e atitudes, e sabem que existem normas claras e definidas como
referencial para suas vidas, e que o descumprimento dessas regras resultará em sanções
disciplinares, como forma de assegurar que a identidade será mantida, para que os valores não
se percam em meio a mudanças e inovações.
                        É na cultura que se vai encontrar padrões de valores que será significativo para cada
                        grupo, este é construído pelas contínuas repetições de valores que para este grupo ou
                        sociedade... É no padrão de comportamento de um grupo, que se define uma
                        uniformidade, na maneira de agir, de pensar, que se produz regularmente entre uma
                        pluralidade de pessoas. (NIDA, 1985. p. 77).

            Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia têm sido mantidos
até os dias atuais devido ao fato de que os primeiros crentes, ainda estão vivos,
acompanhando o crescimento da igreja desde os primórdios. Esses anciões diferentes da nova
geração presente na igreja acreditam que a igreja deve se conduzir de maneira diferente.
Sobretudo no trajar, que uma pessoa é convertida como um sinal de regeneração e
santificação. Esta santificação é demonstrada através da maneira como um cristão obedece a
padrões de identidade consolidadas no movimento, as vestes, os cabelos e a estética dos
padrões assembleianos. A AD criou seu próprio código de conduta cristã e hoje perdura
devido ao medo dos remanescentes de perder o controle sobre um sistema normativo
racionalizado.
O grupo predomina sobre o indivíduo, as normas se elevam sobre a coletividade
para legitimar a identidade, as regras são assimiladas como se fossem algo que pertence à
ordem natural das coisas e ganham na comunidade um significado espiritual. O processo de
continuas repetições dos usos e costumes na Assembléia de Deus vem sendo exigido por
muito tempo como regra de obediência e santidade, onde através da separação os crentes
procuram agradar a Deus por continuas repetições, ocorre um costume na comunidade cristã,
e essa experiência repetida pelo grupo se tornou institucionalizado. Os valores e o padrão
doutrinário pregado pelos lideres leva o fiel a crer que seu trajar, sua postura e conduta é
exigência para agradar a Deus. Este processo se torna tão bem instalado que ninguém
questiona por que determinadas coisas são feitas desta ou daquela maneira. Exemplo, usar
cabelos longos para as mulheres, calça para os homens e nunca bermudas. Com a continua
repetição do grupo se transformou num hábito e com o tempo constitui-se um padrão de
comportamento repetido e visto como correto.
            A Bíblia é a expressão escrita da tradição que se vincula tão estreitamente a
assembléia que ambas tornaram-se inseparáveis. A Bíblia é para os líderes da igreja como um
rio portador de experiência do passado, servindo de riqueza e alimento para a posteridade,
pois não há como desenvolver uma regra sobre indumentária sem levar em conta as
manifestações e citações presente no livro sagrado. É com base nos versículos bíblicos que os
líderes constroem seus discursos de modo que os fieis possam trilhar pelos caminhos da
verdade.


Conclusão:


            Com uma nova visão de mundo desde sua fundação, a Assembléia de Deus com
seu desenvolvimento histórico e religioso no seio do Brasil é por natureza um movimento
pentecostal, que se diferencia dos grupos protestantes históricos e do neopentecostalismo.
Com ênfase na glossolalia além da Doutrina dos usos e costumes que se tornou modo de ser
para esta igreja, utilizando- se dos relatos bíblicos para legitimar a identidade assembleiana a
fim de manter o estereotipo de cristão, a resistência as mudanças consiste em uma atitude de
preservação da identidade resistindo as criticas e aos apelos visuais.
            A concepção de santidade e de separação do mundo e o modo de ser formou neste
grupo uma identidade própria, utilizando textos da Bíblia criou no campo religioso uma forma
simbólica de valores, padrões éticos e a postura de afastamento de tudo o que é mundano.
Nesse sentido, organiza-se e move-se sobre padrões constituídos para servir como modelo ou
guia de comportamento de cada pessoa dentro do grupo. Os padrões cristalizam-se como
forma de costume, e que se tornam princípios de certo e errado, de sagrado e profano, sendo
dessa forma postulada a identidade dos assembleianos. Os usos e costumes e a ética
comportamental da Assembléia de Deus, constituem uma tradição desta igreja, assim como
seu rígido código de conduta.
           A Assembléia de Deus sustenta sua doutrina, afirma que o crente deve ser
submisso e obediente aos padrões que os conduzam a aproximação á Deus afim dos fies
serem santos em toda maneira de viver, Nesse sentido os usos e costumes são vistos como
conduta fundamental para comungar com o sagrado e separar-se do profano, as regras não
devem ser questionadas ou burladas, já que constitui-se um fator fundamental para sustentar
uma unidade básica irredutível dos papeis sociais. Os usos e costumes é reconhecido como
símbolo da conversão, prova de regeneração e sinal de santificação, diferenciando quem é
crente de quem não é.
           Ser membro da Assembléia de Deus implica em separação, em troca do conforto
espiritual, da certeza da salvação, da cura e da participação na comunidade dos eleitos a morar
no céu, o cristão deve renunciar os prazeres da carne a fim de adquirir a vida eterna. O crente
deverá observar toda uma serie de proibições, prescrições e regras comportamentais,
separando-se do mundo com suas tentações.
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BERG, Daniel. Enviado por Deus. Memórias. Rio de Janeiro:CPAD, 1973.

CHARTIER. Roger. A história Cultural: entre práticas e representações, memória e
sociedade. São Paulo: Difel, Bertrand Brasil, 1990.

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CONDE, Emilio. História das Assembléias de Deus no Brasil. Belém: CPAD, 2000.

DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. Londres: Allen e Unwin, 1954.

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A construção da identidade assembleiana

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DAIANE DA SILVA FREITAS A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ASSEMBLEIANOS CONCEIÇÃO DO COITÉ 2010
  • 2. DAIANE DA SILVA FREITAS A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ASSEMBLEIANOS Trabalho apresentado na modalidade de Artigo, como pré-requisito para Conclusão do curso de Licenciatura em História, da Universidade do Estado da Bahia, Campus XIV, Departamento de Educação, sob a orientação do Professor Aldo José. CONCEIÇÃO DO COITÉ
  • 3. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ASSEMBLEIANOS. RESUMO: Através das técnicas conceituais da historia cultural, este artigo visa analisar um grupo pentecostal: Os assembleianos, visualizando sua representação de mundo com base nos significados que conferem a sua crença, nessa perspectiva tenta-se compreender como a AD se apropria dos aspectos éticos e morais, configurando uma verdade específica consignando uma identidade peculiar a partir das articulações existentes, construindo desse modo, uma realidade contraditória em relação à sociedade mais abrangente. Palavras-chave: Identidade, Representação, Ética-comportamental. *Daiane da Silva Freitas ABSTRACT Through the conceptual techniques of cultural history, This article aims to analyze a Pentecostal group: The Assembleianis, viewing your representation of the world based on the meanings they attach to their belief. this perspective tries to understand how the AD, appropriates the ethical and moral, setting a specific truth, and determining a particular identity and determining a particular identity from the existing, thereby building, reality conflict with the morality of the wider society. Key words: identity, representation, ethical and behavioral *Aluna do VIII semestre de História, da Universidade Estadual da Bahia. Campus XIV.
  • 4. Introdução: Esta pesquisa se propõe a analisar a construção da identidade dos pentecostais assembleianos através da ética comportamental conservadora que orienta as ações dos seus fiéis. A exigência por uma ética conservadora desencadeia um processo de disciplinarização aos prosélitos que devem enquadrar-se nos padrões estabelecidos pela instituição a fim de resguardar a identidade dessa denominação religiosa. Nesse sentido o presente trabalho pode vir à desvelar o comportamento peculiar de um grupo que comunga práticas divergentes na sociedade, que faz parte do cotidiano dos fiéis, e de uma cultura religiosa que mantém um padrão de separação que enfatiza mudanças na personalidade na formar de agir, nas vestimentas e no conceber do mundo. O objeto de estudo é a Igreja Evangélica Assembléia de Deus que se constitui no maior grupo pentecostal protestante do Brasil e da América Latina, Pretende-se compreender a maneira como a AD exerce sua crença, considerando os mecanismos utilizados para legitimar a identidade dos fiéis, produzindo o ideal de pertencimento entre os membros, Não é a proposta do trabalho, trazer uma solução definitiva sobre o assunto, pois não temos como esgotar as questões que permeiam esse universo religioso, uma vez que muita coisa ainda precisa ser pesquisada, Este artigo é uma contribuição a mais para compreender essa denominação religiosa. As categorias analíticas da história Cultural nortearão o desenvolvimento deste trabalho já que procura identificar o modo como uma determinada realidade social é construída. Tomando por base a possibilidade de compreender a leitura de mundo construída pela Assembléia de Deus, mediante seus sistemas de valores, produzindo uma visão própria da realidade, visto que cada grupo tem sua forma ímpar de apropriação e uso das formas culturais. Chartier em sua obra “Práticas e Representações” (1990) analisa a mentalidade coletiva que rege as representações e juízos dos sujeitos sociais, políticas ou econômicas, que são historicamente produzidas através de discursos, de práticas articuladas por grupos que se apropriam de elementos sociais para produzirem uma realidade própria. A Assembléia de Deus, como objeto de estudo, é um dos grupos que, a partir da apropriação de elementos sociais e morais, tenta exibir uma maneira peculiar de estar no mundo, de significar um estatuto e uma posição. Entre as varias modalidades de história que se desenvolveram no decurso do século XX, Algumas primam pela riqueza de possibilidades que abrem aos historiadores. A história cultural, campo historiográfico que se tornou mais preciso e evidente a partir das
  • 5. ultimas décadas do século XX é particularmente rica no sentido de abrigar no seu seio diferentes possibilidades de conhecimento, que tem no historiador Roger Chartier um dos seus maiores representantes. A nova História Cultural tornou-se possível na moderna historiografia a partir de uma importante expansão de objetos historiográficos que se abrem a estudos variados, como as representações. As noções de representações aqui são importantes porque através delas podemos examinar a consolidação de costumes da instituição evangélica assembleiana. Tal como assevera Chartier (1990), As noções de representações podem incluir os modos de pensar e sentir, inclusive coletivos. As representações têm possibilitado novas perspectivas para o estudo historiográfico, dentro do enfoque Histórico-cultural, o qual tem na noção de representação um dos seus pressupostos.“Que tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos a identidade é construída, pensada, dada a ler” (CHARTIER, 1990, p. 17) Identidade: Uma introdução conceitual É necessário um esclarecimento sobre o conceito “identidade” de fundamental importância para o entendimento das bases utilizadas pela Assembléia de Deus na construção da sua ideologia cristã. O termo identidade possui diversas definições conforme o enfoque que se lhe dê e as diversas abordagens têm opiniões diferentes sobre o termo. Para Andréia Mendes (2004) O caráter universalizador do conceito “identidade” supõe, uma função quantitativa em relação ao número e variedade de indivíduos aos quais unifica e, por outra, uma função disciplinar quanto ao papel das instituições para produzir e conservar discursos de identidade com as regras de acesso a eles e as posições relacionadas com o fazer e o representar dos indivíduos nas sociedades. A forma, talvez, mais evidente em que se mostra a identificação dos indivíduos com uma determinada cultura ou um determinado elemento é na aceitação dos valores éticos e morais que atuam como suportes referentes para preservar a ordem da sociedade. Sua aceitação e cumprimento tornam mais suportáveis as tarefas que os indivíduos devem cumprir, a estrutura simbólica da memória social se encontra representada nas ideologias que difundem os acontecimentos constitutivos da identidade das comunidades do que se desprende seu caráter preservador legitimante e integrador. “O resultado é um ataque deliberado à diversidade, o silenciamento dos discursos diferentes com a enunciação ideológica de conceitos pseudouniversais para legitimar-se como autoridade” (MINA, 2004, p.47), criando dessa forma estereótipos e justificando o acionar da
  • 6. autoridade como garantia de permanência e continuidade dos valores, fato este recorrente nas comunidades evangélicas que se utiliza de símbolos, discursos, a fim de assegurar que uma identidade grupal seja legitimada produzindo o ideal de pertencimento. Segundo Woodward (2000, p.14) O social e o simbólico referem-se a dois processos diferentes, mas cada um deles é necessário para a construção e a manutenção das identidades. A marcação simbólica é o meio pelo qual damos sentido a práticas e as relações sociais, definindo por exemplo, quem é excluído e quem é incluído. É por meio da diferenciação social que essas classificações da diferença são vividas nas relações sociais. Identidade está sempre relacionada à idéia de alteridade, ou seja, é necessário existir o outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres pelos quais produz identificação. Woodward afirma que a identidade é relacional, e ressalta que identidade e diferença são componentes do mesmo processo,construidas através das representações coletivas. Segundo a autora “A identidade para existir depende de algo fora dela: a saber, de outra identidade... que fornece as condições para que ela exista... A identidade é assim marcada pela diferença” (WOODWARD, 2000, p.9). Para Pedro Heitor Barros (2001) o homem inicia a construção da sua identidade através da interação que mantém com o meio em que vive. A construção da identidade apresenta características diversas em razão das diferenças culturais. Através das experiências vividas, se está alimentado o processo de construção da identidade. “A construção do sentido de ser e pertencer a um grupo ocorre nas relações sociais à identidade de qualquer grupo é construída em determinado tempo e espaço” (BARROS, 2004, p.2) Para o autor no campo religioso, o fiel particulariza-se com um discurso e liturgias próprias, se apropriando de uma maneira diferente de agir, Sendo assim, os processos de construção identitária são capazes de criar indivíduos que agem de forma diferente na esfera social, e para que se forme uma homogeneidade identitária é necessário que o grupo se diferencie dos outros, e é nesse sentido que a AD utiliza-se da sua ideologia para proclamar valores éticos e comportamentais a fim de assegurar que o estereótipo de cristão assembleiano seja mantido, pautado em valores que afirmam que o fiel deve ser diferente “Ser luz entre as trevas”. O fiel passa a ser alguém quando descobri o outro porque, desta forma, adquiri termos de comparação que permitem o destaque das características próprias de cada um. O Conceito sobre identidade está associado também às atividades dos indivíduos, e outras características relativas à pessoa como personalidade, a identidade permite que o sujeito tome posse de sua realidade singular e única, adquirindo consciência de si próprio. A identidade como categoria de análise visa apontar a homogeneidade dentro da formação plural
  • 7. da sociedade. A partir de tal premissa, chega-se a idéia de que a identidade não é algo fruto de características imanentes dos homens, mas que todas elas são atribuídas pelos homens. Segundo Max Weber (2004, p.74). A identidade é o resultado de embates, ambíguos e heterogêneos, entre os grupos numa sociedade. Ela permite distinguir um grupo por seus conflitos internos e externos, em torno dos bens, culturais ou materiais que os distinguem dos demais pela especificidade de suas demandas ou mesmo ações sociais. Dessa forma a igreja Assembléia de Deus, luta para manter a sua identidade através de traços que são fortes marcas da instituição que permite aos membros se distinguir na sociedade em razão das características singulares que permeiam esse grupo religioso, A igreja estabelece um conjunto de valores e uma ética comportamental que marcam sua história. No intuito de manter seus princípios e dogmas os lideres da instituição primam pelo ideal da coletividade e por manter aspectos definitivamente reconhecíveis e conhecidos na sociedade. A formação da identidade dos assembleianos: A identidade é marcada por símbolos, existindo uma associação entre a identidade do pentecostal e as coisas que ele usa, os trajes e as práticas funcionam neste caso como um significante que é associado ao padrão e modelo de um fiel assembleiano assim a construção da identidade é tanto simbólica quanto social, a identidade é marcada pela diferença, envolvendo reivindicações sobre quem pertence e quem não pertence a um determinado grupo. O afastamento do mundo, das pessoas não protestantes, e uma rígida moral extraída da Bíblia, com regras de comportamento buscadas no testemunho dos apóstolos, forneceram um outro significante que possibilitou uma forma própria de socialização. O assembleiano tem que levar sua identidade para outros âmbitos de sua vida, não somente na igreja, Ser membro da Assembléia de Deus implica em representar na sociedade um ser cristão, um ser pentecostal, uma pessoa “separada do mundo”, sua ideologia está baseada no fundamento que a compensação pelas boas ações serão recompensadas no céu, após a morte do fiel, o sujeito religioso é um ser que deve estar centrado no sagrado. A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos. É por meio dos significados produzidos e pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos A representação, compreende um processo cultural, que estabelece identidades individuais e
  • 8. coletivas. Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar. “As identidades são construídas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas”. (HALL 1990, p. 109). O significado de ser e pertencer a AD é produzido através dos discursos dos pastores e líderes, existem os cultos que são realizados apenas para os fiéis no intuito de fortalecer e incentivar os membros a serem obedientes ao padrão de um verdadeiro cristão, a fidelidade resultará em bênçãos alcançadas e no direito e privilégio de morar no céu. Aquele que não se encaixa no modelo de verdadeiro servo de Cristo, deve moldar-se a fim de torna-se um “cidadão do céu”. Utilizando a religião como um modelo em que processos simbólicos funcionam, as relações sociais são produzidas e reproduzidas por meio de rituais e símbolos, os quais classificam as coisas em dois grupos, as sagradas e as profanas. Os artefatos e idéias são sagrados apenas porque são simbolizados e representados como tais. As representações se encontram presentes desde as religiões primitivas, tais como os fetiches, as máscaras, objetos rituais, que eram considerados sagrados porque corporificavam as normas e os valores da sociedade, contribuindo, para ser unificado culturalmente. Segundo Durkheim, (1954) é preciso compreender os significados partilhados que caracterizaram os diferentes aspectos da vida social. Assim, o pão que é comido em casa é visto simplesmente como em elemento da vida cotidiana, mas, quando especialmente preparado e partido na mesa da comunhão, torna-se sagrado, podendo simbolizar o corpo de Cristo para os assembleiano, sendo uma representação do sangue de Jesus Cristo o que torna para os fies um ato sagrado que deve ser simbolizado como tal. A vida social em geral, argumenta Durkheim, é estruturada por essas tensões entre o sagrado e o profano e é por meio de rituais como, por exemplo, as reuniões coletivas dos pentecostais, que o sentido é produzido. É nesses momentos que idéias e valores são cognitivamente apropriados pelos indivíduos. “A religião é algo eminentemente social. As representações coletivas que expressam realidades coletivas; os ritos são uma maneira de agir que ocorrem quando os grupos se reúnem, sendo destinados a estimular, manter ou recriar certos estados mentais nesses grupos.” (DURKHEIM, 1954, p.42). Para os assembleianos o sagrado está em oposição ao profano, excluindo-o inteiramente. As formas pelas quais a cultura estabelece fronteiras e distingue a diferença são cruciais para compreender a identidade. “A diferença é aquilo que separa uma identidade da outra, estabelecendo distinções, freqüentemente na forma de oposições. A marcação da
  • 9. diferença é assim o componente chave em qualquer sistema de classificação”. (WOODWARD, 200, p.15). Segundo a autora “A identidade depende, para existir, de algo fora dela: a saber, de outra identidade, que fornece condições para que ela exista” (o sagrado e o profano) (a casa de Deus e o mundo) a identidade é assim marcada pela diferença, a unidade cristã enfatiza o coletivo “nós somos todos assembleianos”. Cada cultura tem suas próprias e distintas formas de classificar o mundo. É pela construção de sistemas que a cultura propicia os meios pelos quais se pode dar sentido ao mundo social e construir significados, a fim de manter alguma ordem social, os símbolos, rituais é um meio pelo quais os indivíduos podem fazer afirmações sobre si próprias, as proibições, disciplinas também distinguem as identidades daqueles que estão incluídos em um sistema particular de crenças daqueles que estão fora dele. “As culturas fornecem sistemas classificatórios estabelecendo fronteiras simbólicas entre o que está incluído e o que está excluído, definindo, assim, o que constitui uma prática culturalmente aceita ou não.” (WOODWARD, 2000, p. 49) O contexto social religioso, a linguagem e a cultura dão significados à experiência que constrói a identidade, Esse conceito tem se destacado como uma questão central nas discussões contemporâneas assim como os processos envolvidos na produção de significados por meio de sistemas representacionais, em sua conexão com o posicionamento dos sujeitos e com a construção de identidades no interior de sistemas simbólicos. Os sistemas religiosos e simbólicos produzem as estruturas que dão sentido e ordem a vida social, entre o incluído e o excluído, entre o sagrado e o profano, entre o masculino e o feminino, que estão no centro dos sistemas de significação da cultura, que busca compreender aqueles processos que asseguram o investimento do sujeito na auto – afirmação e construção da identidade, nas palavras de Stuart Hall: “...As identidades são construídas dentro de discursos que nós precisamos compreender, produzidas em locais históricos e institucionais específicos, por estratégias e iniciativas específicas”. (HALL, 2001, p. 78). Sempre é ressaltado nos cultos da denominação a importância de manter a identidade como forma de respeitar as origens, através de discursos que afirmam que a igreja de Jesus Cristo não pode mudar, pois a Bíblia a palavra revelada de Deus aos homens é imutável, cabe aos membros renunciar as “inovações do mundo” para que o grupo mantenha a sua identidade. O presidente geral das Assembléias de Deus no Brasil José Wellington ao escrever um artigo na revista impressa e eletrônica denominada Obreiro que pertence à instituição teceu o seguinte comentário:
  • 10. Tenho sido um defensor constante da manutenção da identidade assembleiana em uma época em que alguns infelizmente parecem não estar valorizando tanto isso. Como pontos principais valorizo o ensino da Palavra de Deus e a prática da Palavra de Deus no meio do nosso povo. Somos um povo que tem uma origem. Tivemos dos nossos pais uma fôrma dada por Deus e não podemos, de maneira nenhuma, deixar que alguns venham mutilar essa identidade, porque aceitar as inovações que estão querendo trazer para a Assembléia de Deus vai resultar em, dentro de cinco ou dez anos, nos tornarmos um grupo evangélico igual aos demais no Brasil, sem qualquer diferença em relação aos que já existem. (Revista Obreiro, 14/10/2004) Identidade e Pertecimento: A AD é decorrente da Reforma do século XVI, iniciada pelo monge alemão Martinho Lutero e dos desdobramentos do Protestantismo. O protestantismo ingressou de fato no Brasil, a partir da transferência da família real portuguesa para o Brasil em 1808, que resultou na elaboração do artigo 12 que declarava relativa liberdade de culto. É importante resgatar a história do protestantismo no mundo e no Brasil assim como os princípios éticos e traduções norteadores dessa instituição, nesse sentido a obra de Elizete Silva (1982) aborda, as primeiras décadas do século XIX, período em que o protestantismo penetrou, de fato, no Brasil, Elizete ressalta que os anglicanos e luteranos se constituem como os grupos que marcam a inserção do protestantismo no Brasil. Em meados de 1862 surgem às primeiras igrejas nascendo à primeira igreja presbiteriana do Brasil seguindo de núcleos metodistas em 1866 e dos Batistas em 1871, os protestantes históricos, como são chamados, são grupos vinculados diretamente à reforma que não cresceu tanto quanto o pentecostalismo, que só se inseriu em território brasileiro na primeira fase da década de XX. O pentecostalismo tem suas raízes nos Estados Unidos em 1906, que se deu através do advento de sete pessoas falando em línguas estranhas o pentecostalismo surge como um movimento de ênfase no Espírito Santo e no falar em línguas estranhas (glossolalia), sendo este um dos marcos do movimento pentecostal, o termo pentecostalismo vem de uma passagem bíblica que diz num dia de Pentecostes a páscoa judaica, o Espírito Santo desceu aos apóstolos e aconteceram milagres (Atos Cap. 2. Vers. 1). Na expressão de Claudio José (2003, p.26). É no batismo com o Espírito Santo e no falar línguas estranhas (glossolalia) que o símbolo da comunhão com o sobrenatural se manifesta, é a presença real de Deus na vida do crente que vem para fortalecer no seu dia a dia... O fiel se apossa do transcendente, e o transcendente se apossa do fiel e o resultado é o êxtase, o arrebatamento. Segundo Cláudio José, para os pentecostais o batismo com o Espírito Santo, é o grande marco da igreja Assembléia de Deus por ser a expressão mais íntima das relações que o homem deve experimentar. O autor ressalta que a pioneira na manifestação da característica
  • 11. essencial do pentecostalismo foi uma mulher Agnez Ozman, uma aluna do Colégio Bíblico Betel, experimentou a glossolalia. Em Los Angeles, a Rua Azusa Street ficou conhecida como o local onde aconteceu um forte pentecostes. As reuniões organizadas por Seymor, em Los Angeles, eram freqüentados por evangélicos, em sua maioria, negros. O culto em que manifestações aconteciam, tinha como características os cânticos alegres e informais e orações em voz altas e simultâneas. Foi através dos Suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg que se deu a consolidação do pentecostalismo no Brasil, ambos chegaram ao Brasil em 1910 e se estabeleceram em uma igreja batista. Daniel Berg, um dos fundadores da Assembléia de Deus no Brasil, expressou-se em sua obra: Iniciamos assim as nossas atividades dirigindo cultos e pregando na Igreja Batista. É claro que não fazíamos reservas quanto à doutrina pentecostal que havíamos aceitado. Quando dirigimos nos sentíamos dirigidos a pregar acerca dessas verdades, nós o fazíamos com toda a franqueza. Essas verdades eram novidades para os nossos ouvintes. Eles tinham lido e ouvido falar dessas coisas, mas apenas de forma passageira, sem a ênfase de que podiam ser para eles também (BERG, 1995, p. 65). Os suecos congregaram em uma igreja batista, até o momento da divergência teológica relacionada ao batismo com Espírito Santo, ambos saíram da igreja batista levando consigo dezenove pessoas que compartilhavam com eles os mesmos princípios bíblicos. Os suecos fundaram a Missão da fé apostólica em 1911, que posteriormente foi dominada de Assembléia de Deus a partir de 1918. O desenvolvimento da AD aconteceu no sentido Norte-Nordeste para o Sudeste-Sul, a ação missionária dos suecos penetrou nas diversas regiões brasileiras, tendo seu apogeu em 1930, fase que mais de vinte famílias suecas evangelizam o Brasil. As primeiras atividades do trabalho pentecostal no Estado da Bahia começaram na antiga cidade de Canavieira, no Sul do Estado, através de Joaquina de Souza que anunciava a mensagem de Cristo. Otton Nelson um missionário americano Foi o responsável pela implantação da AD em Salvador, se preocupando também com o desenvolvimento do pentecostalismo no interior do estado, fez viagens ao interior para anunciar o evangelho. A AD tem os seus princípios cristãos fundamentos em um estatuto geral de caráter nacional, no entanto cada igreja também possui estatuto próprio de caráter local, a denominação, não permite que a mulher participe da hierarquia eclesiástica da igreja, o corpo ministerial da AD é composto majetoriamente por homens, a mulher na AD, não assume também o ministério pastoral, função esta outorgada só aos homens, respaldado no fato dos discípulos de Jesus serem homens. Sempre existiu nas Assembléias de Deus no Brasil,
  • 12. características que davam uma idéia de certa “identidade nacional”. Destaco aqui quatro características marcantes: Usos e costumes, liturgia, corpo ministerial e doutrina. Em todo o Brasil, aonde qualquer individuo chegasse, essas características eram de imediato percebidas, as pessoas eram facilmente identificados pelo estereótipo como pertencente a denominação Assembleiana. Outra ordenança da AD, que é uma característica da igreja, é o batismo por imersão nas águas somente para adultos, consumado este feito, o cristão, torna-se membro da igreja, o que lhe proporciona o direito de participar da Santa Ceia e das reuniões para membros onde são tomadas as decisões gerais da denominação, e o membro estando em comunhão pode opinar e votar, assim como ter acesso a atas,livros de registros e contabilização financeira, nesse contexto, a mulher pode manifestar sua posição, como membro da igreja. Cláudio Jorge (2003) em sua dissertação sobre a Assembléia de Deus faz uma análise no que tange a doutrina dos usos e costumes da AD, afirmando que é notório este aspecto da igreja sendo sempre regra de conduta dos crentes, usado como padrão e postura que diferenciam este grupo de outros. No decorrer de suas evoluções os usos e costumes se estruturaram como forma de se comportar e se conduzir, fundamentados em uma seleção de textos sagrados que repetidos no decorrer dos tempos se tornaram impregnados como regra de conduta e vinculados à obediência a Deus, a identidade de um grupo dá a uma pessoa o sentimento de pertencimento, que está ligado à inclusão e a adesão dos padrões tradicionais que foram impostos por autoridade, o fiel é levado a agir dentro de padrões que geram um comportamento atuante de reprodução da identidade coletiva do grupo a que pertence. Quando um membro da Assembléia de Deus está andando na rua ou em qualquer lugar pode- se conhecê-lo pelo traje, pela postura, através de termos utilizados pelos fiéis, ( Glória a Deus, os costumes caracterizam uma classe ou um grupo social em relação aos outros que não partilham das mesmas condições sociais. Os costumes da instituição permitem aos indivíduos se orientarem em seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social e pode ser fortalecida pela implantação dos valores espirituais que leva um fiel a andar, a crer que seu trajar, sua postura e conduta são exigências para agradar a Deus, pois de certa maneira está ligada ao padrão doutrinário que os líderes procuram vincular para gerar obediência, sendo que, para muitos grupos pentecostais estas questões dos trajes, jóias, adornos, não pode ser questionada, pois, é uma identidade fundamental para diferenciar quem é crente de quem não é. Para Weber (2004) o uso torna-se uma ação social marcada através da regularidade, os
  • 13. usos e costumes praticados pelos assembleianos, possuem uma finalidade que é o de mostrar os sinais de conversão,e mais ainda elementos definidores e caracterizadores de um grupo, a saia, o cabelo grande, o paletó, a gravata, o uso da bíblia, até mesmo as expressões de saudações entre os membros, “A paz do Senhor, Deus te abençoe” no lugar de termos usais como “Bom dia e Obrigado” diferencia os membros e produzem o ideal de pertencimento, como um dos sinais que denotam a identidade assembleiana. Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia de Deus vêm acompanhando este movimento desde seus primórdios e que se fortalece depois da sua experiência e cria um éthos, que para o crente desta igreja deve aparecer a maneira de se conduzir e acima de tudo no trajar, que se mostra como símbolos de que a pessoa é convertida, e prova de regeneração, sinal de santificação. Esta santificação é provada pela forma como o crente obedece estes padrões de identidade que se formou no contexto deste movimento. (COUTO, 2001, p. 29) Clari Couto enfatiza que a identidade assembleiana é construída, sobretudo nas vestimentas, o que permite a associação da imagem e estereótipo do fiel a instituição. A mulher é reconhecida pelo uso de saias, blusas com mangas, cabelos longos, os homens pelo uso de calças, paletós, de maneira que acontece uma distinção notória em que o membro é visualizado como pertencente a denominação pentecostal assembleiana. Os membros precisam ser diferentes do “mundo”, pois os pentecostais repudiam o que denominam convencionalmente de “mundo” ou “mundanismo”. Na linguagem cristã escrita, a palavra “mundo” adquiriu conotação pejorativa, o que para os pentecostais e principalmente para os componentes da Assembléia de Deus, mundanismo é imitar a prática que a sociedade impõe como valores e que muitas vezes contradiz aos padrões que esta igreja considera como bíblicos e que afetam os padrões ensinados pelos pioneiros desde a fundação desta igreja. Para o pentecostal mostrar-se santificado é preciso exteriorizar em sinais e por meio de comportamentos ensinados e exigidos pela comunidade religiosa, assim a igreja pentecostal separa os seus membros do mundo com a condição de criar para eles um mundo separado, não só do ponto de vista ético (não beber, não fumar, etc.) como do ponto de vista de uma rotina de vida. O fiel, na busca da salvação, deve resistir às tentações e ser radical na rejeição às tentações ao mundanismo e obedecer aos mandamentos divinos. Deve ser virtuoso, ter autodeterminação e possuir rigidez para não sucumbir ao mundanismo e ser arrastado pelo caminho largo dos prazeres da carne e da paixão do mundo. Sendo o mundo tentador como é viver nele é negar seus prazeres, exigindo do fiel grande força e resistência moral. É na eficácia dos símbolos que se criam outra modalidade de influência social, que serve para concretizar, tornar visível e tangível a realidade religiosa, mantendo o sentimento de pertencimento assegurando assim a participação adequada de acordo com o
  • 14. papel de cada fiel. Neste sentido, os símbolos não só ajudam a representar concretamente a coletividade, como podem também alimentar o sentimento de pertencimento, reproduzindo conduta e padrões que estão sendo ensinados, como forma de obediência e compromisso. A capacidade do fiel de aceitar e incorporar um padrão de valores, símbolos e linguagem, o faz reprodutor de uma concepção cristã e um representante destes valores símbolos, o que produz no indivíduo uma identidade de pertencer a este grupo, o que faz com que o fiel assuma responsabilidade e uma identidade religiosa que o identifique como membro desta instituição, o fiel se sente integrado ao relacionamento com este sagrado e comungará essa inclusão experimentando essa relação na vivência da igreja. É indispensável para o fiel assembleiano aceitar os símbolos e valores da denominação, manter o sentimento de pertença, assegura a participação adequada dos membros de acordo com o papel de cada um, nesse sentido, a relação de valores é profundamente simbólica. Chartier considera as práticas de apropriação cultural como formas diferenciadas de interpretação do real. “As práticas que visam reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo, significa simbolicamente um estatuto e uma posição” (CHARTIER, 1990.p.13) Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia de Deus vêm acompanhando este movimento desde seus primórdios e que se fortaleceu depois da sua experiência no Brasil o crente desta igreja deve ser diferente na maneira de se conduzir e acima de tudo no trajar, que mostra como símbolos de que a pessoa é convertida, é prova de regeneração, sinal de santificação. Esta santificação é provada pela forma como o crente obedece estes padrões de identidade que se formaram no contexto deste movimento. É na religião que se sustenta o vínculo com o sagrado, o que vale dizer que ela tem que responder a necessidade do indivíduo e garantir através do ritual e de seus símbolos o equilíbrio do fiel com o transcendente e ajudá-lo no comportamento que reproduzirá na relação social. Porém, esta forma de “identidade Assembleiana” está sendo pouco a pouco com algumas exceções, flexibilizada ou adaptada aos novos valores, nesse aspecto, como diz Ricardo Gondim. “A maior luta da Assembléia de Deus é preservação de suas tradições, de seus usos e costumes. A igreja tenta preservar o que havia em 1930, 35, e fechou os olhos para o fato de que, de 35 para cá, não só o mundo mudou como os próprios membros e as pessoas dentro da igreja”. (GONDIM, 1995. p. 127). Outro elemento que caracteriza e diferencia os assembleianos de outros grupos religiosos é a questão do batismo com Espírito Santo, fenômeno intrinsecamente ligado a essa denominação religiosa. O pentecostalismo surgiu com a motivação explicita de recuperar a
  • 15. atitude da experiência cristã. E para o pentecostal, o batismo com o Espírito Santo é fundamental para dar uma identidade diferencial, que desde seu início causou uma ruptura com os batistas. A inauguração da Assembléia de Deus demarca como princípio fundante para uma adesão ao pentecostalismo esta experiência. Com sua mensagem sobre o fervor a experiência com Deus, a ação do Espírito Santo e o entusiasmo religioso com suas reivindicações diretas do conhecimento divino, e isto gerou no seio do protestantismo uma ruptura com os batistas que levou ao surgimento da Assembléia de Deus, os fundadores, da AD Gunnar Vingren e Daniel Berg, depois de se declararem pentecostais e estimularem os fiéis a aderirem esta nova maneira de ser, foram excluídos da igreja Batista por incompatibilidade doutrinária. As principais lideranças da AD enfatizam ainda hoje que não se deve perder de vista o modelo deixado pelos missionários. Por isto, em 1979 criou-se o Conselho de Doutrina da Convenção Geral para cuidar dos assuntos correspondentes a ética comportamental da igreja, a fim de manter a identidade dos assembleianos, que é forjada sobre tudo no estereotipo. A doutrina dos usos e costumes é visto como regra de obediência aos padrões bíblicos para guiar o comportamento dos crentes. O processo de contínuas repetições dos usos e costumes vem sendo exigido por muito tempo como regra de obediência e santidade, onde através da separação os crentes procuram agradar a Deus e que por contínuas repetições ocorre um costume. Para Josep “Costume é um padrão de comportamento exteriorizado e difundido e que são considerados como comportamento desejado”. (FICHETER, 1996, p.121) Dessa forma a identidade permite aos indivíduos se orientarem em seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social, e pode ser fortalecida pela implantação dos valores espirituais que levam um fiel a andar e crer que seu trajar, sua postura e conduta é exigência para agradar a Deus, este processo se torna tão bem instalado que provavelmente ninguém se perguntará por que determinadas coisas são feitas desta ou daquela maneira, como por exemplo: usar cabelos longos para as mulheres, saias, etc., que começou como um costume inicial e com a contínua repetição do grupo ao passar do tempo constituiu-se como um padrão de comportamento repetido e institucionalizado, neste sentido, a permanência destas contínuas repetições são práticas reguladas por regras táticas que são abertamente aceitas, caso contrário o fiel não é considerado um assembleiano, a identidade é constituída mediante valores rituais ou simbólicos que irão inculcar normas de comportamento através desse modelo que é reproduzido pelo grupo, o que postula uma identidade grupal.
  • 16. A construção da identidade religiosa dentro da Assembléia de Deus, como ponte de ligação entre a Europa reformista e o Brasil contemporâneo segue a mesma fórmula de qualquer outro elemento aglutinador do sentido da identidade religiosa. Segundo a Folha de São Paulo: (…) nos últimos 25 anos, ao mesmo tempo em que a situação econômica se deteriorava e que o número de excluídos aumentava, as novas seitas e superstições se espalharam na Europa. É como se, no movimento lento das mentalidades, entre o terreno conquistado pela racionalidade técnica e aquele perdido, pelas religiões tradicionais. Sobrado uma terra de ninguém que está sendo ocupada por novas crenças ou formas de religiosidade arcaicas. Com os tempos difíceis as pessoas voltam a depositar suas esperanças na divina providencia e a acreditar em milagres. (Folha de São Paulo, 26/12/1990). Entra nos meios de comunicação um novo personagem religioso, um novo tipo de crente diferente dos tradicionais mais ligados ao sobrenatural, a emocionalidade, que tem um estilo de culto diferente e que faz um enorme barulho, são eles os pentecostais assembleianos. É necessário um esclarecimento maior sobre o protestantismo inicial, de fundamental importância para o entendimento das bases teóricas utilizadas pela AD na construção de sua ideologia, que por sua vez é a aglutinadora social da identidade religiosa de seus praticantes, utilizando a análise sobre o calvinismo, o metodismo, e as igrejas Batistas. Estes movimentos enfatizavam o ascetismo no mundo e valorizavam o conjunto de regras que orientavam a conduta dos fiéis. De acordo com Weber, (1999) Calvino teria sido o mais radical. Através da sua doutrina da predestinação onde parte da humanidade já nascia condenada por Deus e a outra parte já nascia salva, vemos um mundo estático, imóvel, onde os homens não podiam questionar os desígnios de Deus, nem lutar por mudanças. Tal coisa seria vista como presunção do homem. Percebe-se esta rigidez com mais ênfase no Calvinismo. As outras denominações já admitiam alguma possibilidade de arrependimento visando à purificação, os Metodistas, mesmo sendo ascéticos valorizavam bastante o lado emocional da religião, embora pregassem uma ética racional e ascética justificando o seu próprio nome, isto é, tenham um método de conduta e o momento do arrependimento, seguido da conversão que envolva intenso componente emocional. Os Batistas, com seu forte componente racional, tinham também em seu interior a possibilidade de redenção do homem pelo arrependimento, já não havia a idéia de predestinação, o homem poderia se tornar um dos eleitos através da ascese no mundo, sua conduta correta o levaria a Deus, admitindo que o contato com o sobrenatural (Deus) através do arrependimento pode ter contato com a “luz divina” e intuir que é um eleito, ou que ainda pode, através de sua conduta correta, provar sua condição de eleito perante Deus.
  • 17. No Brasil, os protestantes tradicionais ou históricos também se caracterizavam pelo ascetismo acentuado e pela pouca importância que davam às manifestações emocionais em oposição ao pentecostalismo e principalmente ao neopentencostalismo. As igrejas protestantes tradicionais seriam aquelas que tentam se manter fiéis aos ideais reformistas puritanos. Segundo Elizete Silva (1982), esses grupos protestantes foram organizados por missionários a partir da última década da primeira metade do século XII. Essa era missionária teria percorrido todo o século XIX e teria chegado por aqui antes da primeira guerra mundial. A primeira onda, chamada de pentecostalismo clássico, inicia-se em 1910, com a fundação da Congregação Cristã no Brasil (SP) e da Assembléia de Deus (em 1911, no Pará). Essa ênfase no dom de línguas (glossolalia) radical seitarismo e ascetismo de rejeição do mundo. Na realidade os assembleianos acreditam que a liberdade está primeiro na aceitação de Jesus, os que não crêem, precisam de ajuda para encontrar a salvação, sendo, portanto, uma obrigação de todos assembleianos auxiliar na conversão “daqueles que estão perdidos”. Ao assumirem a Palavra de Deus, assumem também o combate ao demônio (maligno) quanto nas doenças, na desagregação da família. A AD desencadeia esta guerra e continua empenhada em levá-la adiante. É a guerra cósmica entre Deus e o Diabo, os seres humanos conscientes disso ou não, participam ativamente dessas batalhas denominada “Guerra espiritual”, entre os desejos da carne e o espírito. É necessário partir do princípio de que na concepção assembleiana, o sobrenatural é presente e constante na sociedade cristã. Para o fiel, bem e mal são categorias concretas, da realidade empírica de seu cotidiano, arraigada a identidade religiosa dos assembleianos, possuindo uma linguagem simbólico – religiosa pelo qual interpreta e reconhece com o sobrenatural, os fiéis desta igreja em momento algum negam a crença no poder e na existência dos espíritos, embora evitem estabelecer uma relação de reciprocidade, os assembleianos deixam bastante clara que esta relação é indesejada. Para os assembleianos “não há qualquer possibilidade de convivência entre Jesus e o Diabo”. A reciprocidade só pode ser admitida entre o fiel e o Senhor, por intermédio do Espírito Santo, que estaria dentro de cada um de nós, através da fé. Desse modo cria-se uma identidade de valores e se estabelece a confiança e principalmente na fé, a identidade religiosa do crente AD é trabalhada no imaginário e na realidade da vida do indivíduo, em suas categorias mentais enraizada. O significado do pentecostalismo, do ponto de vista sociológico, pode ser entendido em função de suas repercussões sociais, ou seja, de uma determinada visão religiosa do mundo que gera um comportamento concreto na sociedade, visando atender a determinadas necessidades.
  • 18. Na AD existem categorias de valor, como o leve e o pesado, o puro e impuro. É possível afirmar que existe uma taxionomia das coisas que classifica e hierarquiza os homens. As categorias existem uma em relação à outra e o valor é distribuído diferentemente na classificação. Privilegia-se à uma leitura que toma a construção do sagrado e do profano como categorias, idéias construídas socialmente na identidade dos cristãos. Utilizando tais categorias, pode-se falar da sacralização de pessoas e objetos e de atitudes ligadas à ordem e à desordem. Legitimação da Identidade: É necessário ao fiel demonstrar uma prova objetiva da fé, ou seja, os atos externos, que se da por intermédio, do cumprimento de um código de conduta, a identidade grupal prevalece sobre a individual. “De certa forma as regras e o cumprimento delas, servem para ligar um grupo de pessoas e criar uma identidade que faz os seus membros perceberem sua existência dentro de uma sociedade” (Couto, 2001. p. 75). O cumprimento dessas regras é imprescindível para manter a identidade dos fies, de modo que deve ser obedecida. Os fiéis da igreja compactuam práticas e atitudes, e sabem que existem normas claras e definidas como referencial para suas vidas, e que o descumprimento dessas regras resultará em sanções disciplinares, como forma de assegurar que a identidade será mantida, para que os valores não se percam em meio a mudanças e inovações. É na cultura que se vai encontrar padrões de valores que será significativo para cada grupo, este é construído pelas contínuas repetições de valores que para este grupo ou sociedade... É no padrão de comportamento de um grupo, que se define uma uniformidade, na maneira de agir, de pensar, que se produz regularmente entre uma pluralidade de pessoas. (NIDA, 1985. p. 77). Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia têm sido mantidos até os dias atuais devido ao fato de que os primeiros crentes, ainda estão vivos, acompanhando o crescimento da igreja desde os primórdios. Esses anciões diferentes da nova geração presente na igreja acreditam que a igreja deve se conduzir de maneira diferente. Sobretudo no trajar, que uma pessoa é convertida como um sinal de regeneração e santificação. Esta santificação é demonstrada através da maneira como um cristão obedece a padrões de identidade consolidadas no movimento, as vestes, os cabelos e a estética dos padrões assembleianos. A AD criou seu próprio código de conduta cristã e hoje perdura devido ao medo dos remanescentes de perder o controle sobre um sistema normativo racionalizado.
  • 19. O grupo predomina sobre o indivíduo, as normas se elevam sobre a coletividade para legitimar a identidade, as regras são assimiladas como se fossem algo que pertence à ordem natural das coisas e ganham na comunidade um significado espiritual. O processo de continuas repetições dos usos e costumes na Assembléia de Deus vem sendo exigido por muito tempo como regra de obediência e santidade, onde através da separação os crentes procuram agradar a Deus por continuas repetições, ocorre um costume na comunidade cristã, e essa experiência repetida pelo grupo se tornou institucionalizado. Os valores e o padrão doutrinário pregado pelos lideres leva o fiel a crer que seu trajar, sua postura e conduta é exigência para agradar a Deus. Este processo se torna tão bem instalado que ninguém questiona por que determinadas coisas são feitas desta ou daquela maneira. Exemplo, usar cabelos longos para as mulheres, calça para os homens e nunca bermudas. Com a continua repetição do grupo se transformou num hábito e com o tempo constitui-se um padrão de comportamento repetido e visto como correto. A Bíblia é a expressão escrita da tradição que se vincula tão estreitamente a assembléia que ambas tornaram-se inseparáveis. A Bíblia é para os líderes da igreja como um rio portador de experiência do passado, servindo de riqueza e alimento para a posteridade, pois não há como desenvolver uma regra sobre indumentária sem levar em conta as manifestações e citações presente no livro sagrado. É com base nos versículos bíblicos que os líderes constroem seus discursos de modo que os fieis possam trilhar pelos caminhos da verdade. Conclusão: Com uma nova visão de mundo desde sua fundação, a Assembléia de Deus com seu desenvolvimento histórico e religioso no seio do Brasil é por natureza um movimento pentecostal, que se diferencia dos grupos protestantes históricos e do neopentecostalismo. Com ênfase na glossolalia além da Doutrina dos usos e costumes que se tornou modo de ser para esta igreja, utilizando- se dos relatos bíblicos para legitimar a identidade assembleiana a fim de manter o estereotipo de cristão, a resistência as mudanças consiste em uma atitude de preservação da identidade resistindo as criticas e aos apelos visuais. A concepção de santidade e de separação do mundo e o modo de ser formou neste grupo uma identidade própria, utilizando textos da Bíblia criou no campo religioso uma forma simbólica de valores, padrões éticos e a postura de afastamento de tudo o que é mundano. Nesse sentido, organiza-se e move-se sobre padrões constituídos para servir como modelo ou
  • 20. guia de comportamento de cada pessoa dentro do grupo. Os padrões cristalizam-se como forma de costume, e que se tornam princípios de certo e errado, de sagrado e profano, sendo dessa forma postulada a identidade dos assembleianos. Os usos e costumes e a ética comportamental da Assembléia de Deus, constituem uma tradição desta igreja, assim como seu rígido código de conduta. A Assembléia de Deus sustenta sua doutrina, afirma que o crente deve ser submisso e obediente aos padrões que os conduzam a aproximação á Deus afim dos fies serem santos em toda maneira de viver, Nesse sentido os usos e costumes são vistos como conduta fundamental para comungar com o sagrado e separar-se do profano, as regras não devem ser questionadas ou burladas, já que constitui-se um fator fundamental para sustentar uma unidade básica irredutível dos papeis sociais. Os usos e costumes é reconhecido como símbolo da conversão, prova de regeneração e sinal de santificação, diferenciando quem é crente de quem não é. Ser membro da Assembléia de Deus implica em separação, em troca do conforto espiritual, da certeza da salvação, da cura e da participação na comunidade dos eleitos a morar no céu, o cristão deve renunciar os prazeres da carne a fim de adquirir a vida eterna. O crente deverá observar toda uma serie de proibições, prescrições e regras comportamentais, separando-se do mundo com suas tentações.
  • 21. Bibliografia: BERG, Daniel. Enviado por Deus. Memórias. Rio de Janeiro:CPAD, 1973. CHARTIER. Roger. A história Cultural: entre práticas e representações, memória e sociedade. São Paulo: Difel, Bertrand Brasil, 1990. COUTO, Clari Alves Ferreira. Orar e Vigiar: O poder disciplinar da Religião. 2001. 142p. Dissertação (Pós- Graduação). Departamento de Ciências Humanas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana.2001. CONDE, Emilio. História das Assembléias de Deus no Brasil. Belém: CPAD, 2000. DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. Londres: Allen e Unwin, 1954. FICHETER, Josep. Sociologia. São Paulo: Herder, 1996. GONDIM, Ricardo. É Proibido: O que a Bíblia permite e a igreja proíbe. São Paulo: Mundo Cristão, 1999. GERALDO, Pedro Heitor Barros. A construção da identidade: a participação de Crivella nas eleições municipais do Rio de Janeiro. Dissertação, 2001. (Pós- Graduação) Departamento de Sociologia; Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais.2001. MINA, Andréia Mendes de Souza. Nós e o mundo. A construção do “outro”: Alteridade e pertencimento. Florianópolis, 2004.129 p. Dissertação (Mestrado em História Cultural) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.2004. SILVA, Tomaz Tadeu da; HAAL, Stuart; WOODWARD; Katryn. Identidade e Diferença: A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis. RJ: Vozes, 2000. SILVA, Cláudio José da. A doutrina dos Usos e Costumes na Assembléia de Deus. Goiânia, 2003.130 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Universidade Católica de Goiás, Goiânia. 2003. SILVA, Elizete da. A missão Batista Independente – Uma alternativa nacional. Salvador, 1982. 120 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal da Bahia, Salvador.1982. NIDA, E A. Costumes e Culturas: São Paulo: Ed. Vida, 1985. WEBER, Max. Ciência e Política, duas vocações. Trad, Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. 14 ed. São Paulo: Cultrix, 2004. ________. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 13 ed. São Paulo: Pioneira, 1999. WELLINGTON, José Bezerra. Identidade da AD. Net, São Paulo, Out. 2004. Revista Obreiro. Disponível em: <http://pjw.pastorjosewellington.com.br> pretextual. Artigo. Acesso em: 08 de dez. 2009.
  • 22. WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teorica e conceitual. In: e diferença: A Perspectiva dos Estudos Culturais(org). Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.