O documento resume os principais conceitos de genética em aves, incluindo:
1) A base genética, com genes localizados no DNA e cromossomos determinando características como cor das penas.
2) Mutações ligadas ao sexo em aves, com machos XX e fêmeas XY, e genes de cor localizados no cromossomo X.
3) Exemplos de combinações genéticas e os fenótipos resultantes em diferentes tipos de calopsitas.
Genética das Calopsitas: Entendendo as Mutações de Cor
1. GENÉTICA
Esse é um tema um tanto espinhoso para quem não se lembra das aulinhas de genética do
colegial, mas a explicação tenta ser clara, apesar da grande quantidade de nomes. Se você não quiser
relembrar genética, vá direto ao item 2.
1) As bases da genética em aves
Todo ser vivo é constituído de células, incluindo os seres humanos e as aves. Nas células, está
contida a informação genética de cada indivíduo. O DNA (que se encontra condensado nos cromossomos)
possui os genes, responsáveis pelas características físicas, como tamanho, cor dos olhos, cor da pele, cor
do cabelo, tamanho dos pés, quantidade de pêlos, formato do nariz e, nas aves, a cor das penas.
Tanto nos seres humanos como nas aves, os cromossomos estão em pares. Isso implica que
os genes também estão em pares (e cada par é chamado alelo; assim, cada gene possui dois alelos).
Assim, para uma criança ter olho azul, ela necessita ter essa informação vinda tanto da mãe quanto do pai,
ainda que nenhum dos dois tenha olho azul. Isso ocorre porque olho azul não é um caráter dominante
(como se pode perceber pela pequena quantidade de pessoas que tem essa característica na população
em geral), e sim recessivo.
Acompanhe o esquema abaixo. Só para facilitar, o caráter castanho nós vamos denominar por
C, enquanto o caráter azul vai ser c. Suponha que tanto a mãe quanto o pai possuem olhos castanhos, mas
eles carregam o alelo que dá o caráter azul. Eles no entanto NÃO possuem olhos azuis porque o caráter
dominante é o castanho, ou seja, basta ter só um alelo para que os olhos sejam castanhos (assim, a pessoa
pode ser CC ou Cc). Para ter olho azul, como esse é um caráter recessivo, a pessoa precisa ter os DOIS
alelos iguais (ou seja, cc).
Na tabela abaixo, estão as possíveis combinações que podem surgir em um filho desse casal
de olhos castanhos. Como se pode perceber, há 4 combinações possíveis: ou o filho é CC, Cc ou cC (nos
três casos vai ter olhos castanhos, pois possui o alelo dominante C) ou cc (nesse caso, vai ter olho azul,
pois possui os dois alelos recessivos c). Há uma coisa que dá para entender nesse momento: a diferença
entre genótipo e fenótipo. O genótipo nesse caso é as 4 combinações possíveis dos alelos, enquanto o
fenótipo é como a característica se expressou no corpo (olhos castanhos ou azuis). Assim, temos 3
genótipos possíveis (CC, Cc e cC) para o mesmo fenótipo (olhos castanhos).
Pai Cc
Alelo C Alelo c
Alelo C CC Cc
Mãe Cc
Alelo c cC cc
É meio complicado, mas lendo umas três vezes dá para entender. O gene original, que na
genética é chamado de selvagem, é o que define a cor castanha. A cor azul é uma mutação desse padrão
selvagem (nada mais que uma mudança qualquer no DNA, que mudou o original para outra coisa). Nas
calopsitas, o padrão selvagem de coloração das penas é aquele que aparece no padrão cinza. Todos os
outros padrões são mutações desse selvagem. Abaixo, serão explicadas como cada mutação ocorre e é
passada para os filhos.
2. 2) As abreviações usadas
Para o texto que vem a seguir, são usadas as seguintes abreviações para cada padrão de cor
das calopsitas (em parêntese, o nome em inglês). Obs: nem todos padrões estão aqui elencados.
Canela (cinnamon) – C
Lutino (lutino) – L
Pérola (pearl) – P
Arlequim (pied) – p
Fulvo (fallow) –f
Prata recessivo (recessive silver) – s
Prata dominante (dominant silver) – S
Cara branca (whiteface) – w
Cara amarela (yellowcheek) – Yc
Pastel (pastel face) – pa
Oliva (spangle) – sp
Não mutado – NN
3) Mutações ligadas ao sexo
Como já discutido acima, os seres vivos possuem cromossomos. Os seres humanos possuem
23 cromossomos; mas, como já dissemos, eles estão em pares. Então, temos um total de 46 cromossomos
(ou 23 pares). Só que há um par que é especial, e que carrega a nossa informação sexual, definindo se
seremos homens ou mulheres. Nas mulheres, esse par é feito de dois cromossomos chamados X. Já nos
homens, há um cromossomo X e outro chamado Y.
Para complicar nossa história, acontece o mesmo nas aves, só que a situação é invertida. Os
machos é que são XX, enquanto as fêmeas são XY. E por que isso é importante para nós? Porque há
certas cores (vamos chamar agora pelo nome certo: mutações) que estão justamente no cromossomo X, ou
seja, os genes que carregam essas mutações estão nesse cromossomo. O gene Y, por sua vez, não
carrega nenhum gene que define coloração de pena.
Novamente: por que isso é importante? Aí nos temos que voltar naquela explicação de cima
sobre os olhos castanhos e azuis. Quando um macho e uma fêmea são cruzados, metade da prole (filhotes)
vai ser fêmea (XY) e a outra metade vai ser macho (XX). E para que uma mutação apareça (como no caso
dos olhos azuis), ela precisa estar nos dois cromossomos X (no caso do macho) ou apenas no único X da
fêmea.
Macho XX
Cromossomo X Cromossomo X
Cromossomo X XX (macho) XX (macho)
Fêmea XY
Cromossomo Y XY (fêmea) XY (fêmea)
Nas calopsitas, há cinco mutações ligadas ao sexo: canela, lutino, pérola, cara amarela e
platinum. Assim, se uma fêmea é lutino, ela carrega o gene L no cromossomo X. Já o macho, para ser
lutino, deve carregar o mesmo gene L nos DOIS cromossomos X. Se ele só tiver o gene L em um dos
3. cromossomos, aí ele vai ser padrão normal, apesar de carregar o gene lutino (em inglês, eles chamam isso
de uma ave split para lutino). Se você estiver acompanhando o raciocínio, vai perceber que as fêmeas não
podem ser split para esses fatores, porque ou elas são ou não são da cor que o gene X carrega.
Mas por que o macho, mesmo tendo um gene L, é padrão selvagem cinza? Por que, como já
dito lá em cima, esse é o padrão dominante, e basta ter um gene dele (não precisa dos dois, como no caso
do lutino).
Vamos complicar um pouco mais. E se um macho é XCXP, ou seja, possui o gene C (canela)
em um cromossomo e o gene P (pérola) no outro? Nesse caso, ele vai ser cinza também, pois ele não tem
nenhum gene em dobro. Mas ele vai ser split para esses dois fatores (ou seja, ele carrega os dois genes).
Por fim, por que nos interessa todo esse negócio de split? Porque isso é vital para quem quer
reproduzir calopsitas. Vamos voltar àquela nossa tabelinha, mas com outra situação.
Macho XNXL
Cromossomo XN Cromossomo XL
Cromossomo XN XNXN XNXL
Fêmea XNY
Cromossomo Y XNY XLY
Pelo esquema, podemos ver que teremos dois machos cinzas, sendo que um deles carrega o
gene L (XNXL) e outro não (XNXN), e duas fêmeas, sendo uma cinza (XNY) e outra lutino (XLY). Assim,
mesmo um macho cinza (XNXL) cruzado com uma fêmea cinza (XNY) pode gerar filhotes lutinos,
justamente porque o pai é split para o gene lutino (ou seja, ele carrega o gene L).
Nesse tópico, há uma última pergunta: porque vemos calopsitas que são pérola-canelas, ou
lutino-pérolas? Isso ocorre quando os genes que definem as mutações ocorrem NO MESMO cromossomo
X. Assim, uma fêmea pérola-canela é XCPY. Já um macho, para ser pérola-canela, deve ser XCPXCP. Se
ele for apenas XNXCP, ele será cinza, mas split para pérola-canela.
Na tabela abaixo, há alguns exemplos dessas combinações.
Genótipo Fenótipo
XNXL Normal split Lutino Cinza
XCXP Normal split canela e pérola Cinza
Machos
XNXCP Normal split canela-pérola (dupla mutação) Cinza
XLXLP Lutino split pérola Lutino
XLY Lutino Lutino
Fêmeas XCPY Canela-pérola Canela-pérola
XYcY Cara amarela Cara amarela
4) Mutações recessivas
Se você chegou até aqui, vai ser recompensado pela coragem. A parte mais difícil já passou.
Se você entendeu até aqui, vai ser fácil o resto.
Há cinco outras mutações que não estão ligadas ao cromossomo sexual X, mas a qualquer
outro cromossomo autossômico (é só mais um nome: é só para indicar aqueles cromossomos que não o
sexual). Essas mutações são arlequim, cara branca, fulvo, prata recessivo e oliva.
4. Mas qual é a diferença de ser ou não ligado ao X? A diferença é que todos os outros
cromossomos podem carregar caracteres que atribuem cor, coisa que o Y não faz. Desse modo, mesmo as
fêmeas precisam ter os dois alelos de um gene para apresentar a mutação visualmente, um em cada
cromossomo (no caso ligado ao sexo, bastava a elas ter o gene em um só cromossomo, no X). Outra
decorrência disso é que agora as fêmeas também são split para essas mutações.
Nesse caso, nossa tabela vai mudar. Não precisamos mais indicar os genes junto com o
cromossomo. Se tivermos um macho e uma fêmea normal split para cara branca, teremos três filhotes
normais (NN, Nw w wN) e um cara branca (ww). Nesse caso, não é possível definir qual será macho ou
fêmea, pois essas cores não estão ligadas ao fato do filhote ser macho (XX) ou fêmea (XY).
Macho Nw
Alelo N Alelo w
Alelo N NN Nw
Mãe Nw
Alelo w wN ww
Se você estiver afim, vamos continuar e juntar as duas informações até agora. E se
misturarmos mutações recessivas e ligadas ao sexo? Vamos ver: cruzamos um macho normal split para
canela lutino e arlequim e uma fêmea pérola split para arlequim.
Macho XCXL Np
XC N XC p XL N XL p
XP N XCXP NN XCXP Np XLXP NN XLXP Np
Fêmea XPY XP p XCXP Np XCXP pp XLXP Np XLXP pp
Np YN XCY NN XCY Np XLY NN XLY Np
Yp XCY Np XCY pp XLY Np XLY pp
O que temos dessas 16 possíveis combinações?
Genótipo Fenótipo
XCXP NN Normal split canela e pérola Cinza
XCXP Np Normal split canela, pérola e arlequim Cinza
XCXP pp Arlequim split canela e pérola Arlequim
Machos
XLXP NN Normal split lutino e pérola Cinza
XLXP Np Normal split lutino, pérola e arlequim Cinza
XLXP pp Arlequim split lutino e pérola Arlequim
XCY NN Canela Canela
XCY Np Canela split arlequim Canela
XCY pp Canela e arlequim Canela e arlequim
Fêmeas
XLY NN Lutino Lutino
XLY Np Lutino split arlequim Lutino
XLY pp Lutino e arlequim Lutino e arlequim
Há uma sexta mutação também recessiva, a pastel face. Em termos de coloração, ela é
idêntica à cara amarela, mas em termos de genética não (a mutação cara amarela é ligada ao sexo). Só
que essa mutação tem uma característica diferente das outras recessivas: ela é dominante sobre a mutação
cara-branca. Isso quer dizer que, se você tiver um pássaro cara branca e pastel, ele irá aparecer
visualmente com a coloração pastel, mas não cara-branca.
5. 5) Mutações dominantes
Há três mutações que, assim como o padrão selvagem cinza, é dominante sobre as outras
mutações: são elas a prata dominante, pastel dominante e cara amarela dominante. Como você deve estar
lembrado, uma característica dominante precisa conter apenas um alelo para aparecer visualmente.
No caso da mutação prata dominante, quando há apenas 1 alelo S, é denominado prata single-
factor (SF, ou fator simples) ou prata dominante diluído. Nesse caso, a calopsita possui uma cor prata
diluída pelo cinza comum; acaba sendo uma calopsita cinza-prateada. Quando estão presentes os dois
alelos S, então é denominado prata double-factor (DF, ou fator duplo). Nesse caso, o prata é muito mais
visível, e as asas e rabo possuem coloração branco-amarelada. È muito fácil confundir essa mutação com a
prata recessiva, mas a diferença está na cor dos olhos. Na dominante, os olhos são pretos e, na recessiva,
vermelhos.
6) Albinos
Um albino não é resultado de apenas uma mutação, e sim de duas: lutino com cara branca.
Como a mutação lutino resulta na ausência de melanina e a mutação cara-branca na de lipocromos, há
como resultado um pássaro sem pigmentação alguma. Assim, geneticamente, o termo correto não é
calopsita albina, e sim lutino-cara branca.