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Pine Flash Note: Impacto do reajuste da gasolina no IPCA

17 de agosto de 2012
       Trouxe muita repercussão nos últimos dias a possibilidade de novo aumento na gasolina
       vendida pela Petrobras para as distribuidoras de combustíveis, em função tanto do prejuízo
       contábil apresentado pela empresa na sua última divulgação de resultado quanto pelos
       potenciais efeitos sobre a inflação. A polêmica passou inclusive por pronunciamentos
       (conflitantes) de dois ministros do governo, da presidente da empresa e de outros agentes
       importantes como técnicos e analistas financeiros. Contudo, ainda há muita indefinição sobre
       o tema.

       A controvérsia se deve essencialmente a dois pontos pertinentes ao nosso mercado de
       combustíveis: o aumento observado nas importações de gasolina e a diferença entre os preços
       nacionais e internacionais. Importante lembrar que, nos últimos anos, o Brasil passou de
       exportador líquido para importador líquido de gasolina; além disso, a conta da diferença
       entre os preços de mercado foi crescente, tornando-se cada vez mais evidente nas contas da
       companhia. No entanto, o objetivo desse texto não é discutir a validade dessa política, mas
       calcular o impacto de um possível aumento de preços dos combustíveis sobre o IPCA.

       As alternativas para a variação nos preços sugeridas na mídia são muito variadas, desde
       poucos pontos percentuais até 25%, que equipararia o preço da gasolina local com o mercado
       internacional (acrescido dos custos de frete e internalização do produto). Aqui, escolhemos
       entre os dois cenários mais coerentes tanto política, quanto economicamente (a saber,
       aumento de 10% e 15% nos preços cobrados pelas refinarias).



                                       Preço da gasolina na refinaria: Brasil e EUA

                              Preço de gasolina (R$/litro)
                       1.75


                       1.50


                       1.25


                       1.00


                       0.75


                       0.50
                              jan-06



                                                jan-07



                                                                   jan-08



                                                                                     jan-09



                                                                                                       jan-10



                                                                                                                         jan-11



                                                                                                                                           jan-12
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                                                                            jul-08



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                                                                                                                                                    jul-12




                                                                  EUA                                           Brasil

                              Fonte: ICE, Bloomberg e Petrobras ; elaboração: Pine Research




                                                                                                                                                             1
Exportações líquidas mensais de gasolina

                                                 Exportações líquidas de gasolina (mil m³)
                                      600
                                                                                                                  Exportador líquido
                                      400


                                      200


                                           0


                                      -200


                                      -400
                                                         Importador líquido
                                      -600
                                               jan-05


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                                                                    jan-07


                                                                                    jan-08


                                                                                             jan-09


                                                                                                                   jan-10


                                                                                                                            jan-11


                                                                                                                                     jan-12
                                                           Fonte: Secex; elaboração: Pine Research


Transmissão de preços das distribuidoras para os postos
                   A cadeia dos combustíveis no Brasil é centralizada, em seu início, pelas plantas de refino da
                   Petrobras pelo lado da gasolina e diesel e pelas centenas de usinas sucro-energéticas pelo
                   lado do etanol (hidratado e anidro); sua distribuição depende de poucas empresas
                   distribuidoras e milhares de postos (com milhares de donos) que atendem milhões de
                   consumidores. Claramente, as decisões e o desenvolvimento da cadeia de combustíveis
                   passam pela Petrobras, especialmente no que se refere à política de preços da gasolina,
                   definida “estrategicamente” pelo governo federal. Assim as alterações importantes no preço
                   do combustível fóssil vendido pelas refinarias são raras e motivadas também por objetivos
                   políticos, fato que diminui a aderência dos movimentos à lógica econômica. Desta forma,
                   consideramos que mensurar a transmissões de preços por meio de cálculos simplificados de
                   formação dos mesmos é preferível aos modelos econométricos.
                   Podemos observar nos dois exemplos abaixo a influência do aumento (à direita) frente ao
                   preço atual, R$ 1,25 / litro na refinaria (à esquerda). Nos quadros estão explicitados apenas
                   os principais itens na formação de preços da gasolina; porém, outros gastos também foram
                   considerados, tais como o custo de frete e a margem de lucro.


                               Efeito da variação de 10% do preço da gasolina vendido na refinaria


                     Recebido pela Refinaria                                 1.25                                 Recebido pela Refinaria        1.37
   Refinaria




                                                                                                  Refinaria




                           CIDE                                               -                                             CIDE                  -
                           PIS/PASEP e COFINS                                0.26                                           PIS/PASEP e COFINS   0.26
                           ICMS                                              0.77                                           ICMS                 0.83
                     Venda pela Refinaria                                    2.28                                 Venda pela Refinaria           2.46


                     Compra Gasolina A                                       2.34                                 Compra Gasolina A              2.55
   Distribuidora




                                                                                                  Distribuidora




                     Compra Anidro                                           1.30                                 Compra Anidro                  1.30
                     Mix de Anidro                                            20%                                 Mix de Anidro                   20%
                     Venda de Gasolina C                                     2.33                                 Venda de Gasolina C            2.48
   Posto




                                                                                                  Posto




                     Preço de venda                                          2.71                                 Preço de venda                 2.90


                                                                                                                                                        2
A variação de 10% do preço na refinaria causa uma variação de 6,4% nos preços de venda da
                 distribuidora, considerando todos os gastos com etanol anidro, frete e margens de lucro
                 constantes. Já a variação do preço de venda dos postos de combustíveis tem uma elasticidade
                 de 104,6% do seu preço de compra (estimada por modelos econométricos), assim a variação
                 no preço de venda da gasolina para o consumidor final será de 6,7%. Possivelmente, a razão
                 da variação do preço de venda nos postos ser maior do que a variação do seu custo é que ele
                 tenta manter constante sua taxa de markup.


                              Efeito da variação de 15% do preço da gasolina vendido na refinaria



                 Recebido pela Refinaria              1.25                           Recebido pela Refinaria      1.43
 Refinaria




                                                                     Refinaria
                       CIDE                            -                                   CIDE                    -
                       PIS/PASEP e COFINS             0.26                                 PIS/PASEP e COFINS     0.26
                       ICMS                           0.77                                 ICMS                   0.86
                 Venda pela Refinaria                 2.28                           Venda pela Refinaria         2.56


                 Compra Gasolina A                    2.34                           Compra Gasolina A            2.65
 Distribuidora




                                                                     Distribuidora
                 Compra Anidro                        1.30                           Compra Anidro                1.30
                 Mix de Anidro                         20%                           Mix de Anidro                 20%
                 Venda de Gasolina C                  2.33                           Venda de Gasolina C          2.56
 Posto




                                                                     Posto




                 Preço de venda                       2.71                           Preço de venda               2.99


                 Enquanto a variação de 15% no preço aos distribuidores causa uma variação positiva de 9,7%
                 nos preços de venda da distribuidora, novamente, considerando todos os gastos com etanol
                 anidro, frete e margens de lucro permanecendo constantes. Neste caso, a variação no preço
                 de venda da gasolina na bomba será de 10,1%.



Elasticidades cruzadas: gasolina e etanol
                 Da mesma forma que o preço da gasolina ao consumidor se altera em função da variação da
                 gasolina vendida pelas refinadoras, o etanol no posto também se altera pelo aumento de
                 preço (porém em uma proporção bem menor). Esse é o principio da elasticidade cruzada
                 entre os bens, no qual o aumento do preço de um bem influencia o preço do outro, no caso da
                 gasolina e do etanol hidratado a elasticidade de preço é positiva. Segundo nossas estimativas,
                 o aumento do preço de venda da gasolina na distribuidora irá causar um aumento de 65% da
                 intensidade da variação no preço do etanol no posto (valor esse muito próximo do famoso 70%
                 de paridade energética entre os combustíveis). A totalidade do aumento no preço do etanol
                 ocorre no mesmo mês do da gasolina, sendo que no longo prazo a tendência é de arrefecer
                 esse efeito.
                 Nos nossos exemplos a variação do preço do etanol hidratado é de 4,23% no primeiro cenário
                 e de 6,35% no segundo. Além disso, acreditamos que uma vez atingidos os novos patamares os
                 preços não deveriam se desvalorizar (no médio prazo) pela apertada situação da oferta do
                 bio-combustível. Da mesma forma, nos encontramos no período no qual os preços mantém a
                 trajetória de ascendência até março do próximo ano.




                                                                                                                         3
Efeito sobre o IPCA
     O efeito da política de um novo reajuste de preço dos combustíveis com menor espaço para
     reduzir impostos como contrapartida – assim como não existe a possibilidade de corte na
     CIDE, já zerada, a redução de ICMS dependeria de difícil negociação com os governos locais -
     poderá claramente afetar a inflação ao consumidor. Utilizando as ponderações do índice de
     preços ao consumidor amplo (IPCA) do IBGE do mês de junho de 2012, chegamos à conclusão
     de que um aumento de 10% no preço da gasolina na refinaria deve causar um aumento
     adicional de 0,3% no IPCA. Da mesma forma, o aumento de 15% no preço no início da cadeia
     levaria a um aumento de 0,5% no índice de inflação.
     O timing desta decisão, sendo política e permeada de objetivos contrários dentro do próprio
     governo, não é trivial. De qualquer forma, nosso cenário-base para o IPCA não considera
     nenhum aumento adicional por parte da Petrobras. Assim, ponderando a piora recente nos
     preços ao produtor, mantemos nossa estimativa de 5,0% em 2012 e 5,3% em 2013. Ainda,
     reforçamos nossa visão de que o cenário inflacionário não preocupa ao Banco Central
     enquanto persistir a fraca perspectiva de crescimento mundial.


     Lucas Brunetti                                     Marco Antonio Maciel
     Economia e commodities                             Economista-chefe
     Banco Pine                                         Banco Pine




   Disclaimer: Esta matéria é de caráter estritamente informativo. O Pine não se responsabiliza por quaisquer decisões
   tomadas tendo como base os dados e comentários contidos neste material.




                                                                                                                         4

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Impacto gasolina IPCA 10-15

  • 1. Pine Flash Note: Impacto do reajuste da gasolina no IPCA 17 de agosto de 2012 Trouxe muita repercussão nos últimos dias a possibilidade de novo aumento na gasolina vendida pela Petrobras para as distribuidoras de combustíveis, em função tanto do prejuízo contábil apresentado pela empresa na sua última divulgação de resultado quanto pelos potenciais efeitos sobre a inflação. A polêmica passou inclusive por pronunciamentos (conflitantes) de dois ministros do governo, da presidente da empresa e de outros agentes importantes como técnicos e analistas financeiros. Contudo, ainda há muita indefinição sobre o tema. A controvérsia se deve essencialmente a dois pontos pertinentes ao nosso mercado de combustíveis: o aumento observado nas importações de gasolina e a diferença entre os preços nacionais e internacionais. Importante lembrar que, nos últimos anos, o Brasil passou de exportador líquido para importador líquido de gasolina; além disso, a conta da diferença entre os preços de mercado foi crescente, tornando-se cada vez mais evidente nas contas da companhia. No entanto, o objetivo desse texto não é discutir a validade dessa política, mas calcular o impacto de um possível aumento de preços dos combustíveis sobre o IPCA. As alternativas para a variação nos preços sugeridas na mídia são muito variadas, desde poucos pontos percentuais até 25%, que equipararia o preço da gasolina local com o mercado internacional (acrescido dos custos de frete e internalização do produto). Aqui, escolhemos entre os dois cenários mais coerentes tanto política, quanto economicamente (a saber, aumento de 10% e 15% nos preços cobrados pelas refinarias). Preço da gasolina na refinaria: Brasil e EUA Preço de gasolina (R$/litro) 1.75 1.50 1.25 1.00 0.75 0.50 jan-06 jan-07 jan-08 jan-09 jan-10 jan-11 jan-12 jul-06 jul-07 jul-08 jul-09 jul-10 jul-11 jul-12 EUA Brasil Fonte: ICE, Bloomberg e Petrobras ; elaboração: Pine Research 1
  • 2. Exportações líquidas mensais de gasolina Exportações líquidas de gasolina (mil m³) 600 Exportador líquido 400 200 0 -200 -400 Importador líquido -600 jan-05 jan-06 jan-07 jan-08 jan-09 jan-10 jan-11 jan-12 Fonte: Secex; elaboração: Pine Research Transmissão de preços das distribuidoras para os postos A cadeia dos combustíveis no Brasil é centralizada, em seu início, pelas plantas de refino da Petrobras pelo lado da gasolina e diesel e pelas centenas de usinas sucro-energéticas pelo lado do etanol (hidratado e anidro); sua distribuição depende de poucas empresas distribuidoras e milhares de postos (com milhares de donos) que atendem milhões de consumidores. Claramente, as decisões e o desenvolvimento da cadeia de combustíveis passam pela Petrobras, especialmente no que se refere à política de preços da gasolina, definida “estrategicamente” pelo governo federal. Assim as alterações importantes no preço do combustível fóssil vendido pelas refinarias são raras e motivadas também por objetivos políticos, fato que diminui a aderência dos movimentos à lógica econômica. Desta forma, consideramos que mensurar a transmissões de preços por meio de cálculos simplificados de formação dos mesmos é preferível aos modelos econométricos. Podemos observar nos dois exemplos abaixo a influência do aumento (à direita) frente ao preço atual, R$ 1,25 / litro na refinaria (à esquerda). Nos quadros estão explicitados apenas os principais itens na formação de preços da gasolina; porém, outros gastos também foram considerados, tais como o custo de frete e a margem de lucro. Efeito da variação de 10% do preço da gasolina vendido na refinaria Recebido pela Refinaria 1.25 Recebido pela Refinaria 1.37 Refinaria Refinaria CIDE - CIDE - PIS/PASEP e COFINS 0.26 PIS/PASEP e COFINS 0.26 ICMS 0.77 ICMS 0.83 Venda pela Refinaria 2.28 Venda pela Refinaria 2.46 Compra Gasolina A 2.34 Compra Gasolina A 2.55 Distribuidora Distribuidora Compra Anidro 1.30 Compra Anidro 1.30 Mix de Anidro 20% Mix de Anidro 20% Venda de Gasolina C 2.33 Venda de Gasolina C 2.48 Posto Posto Preço de venda 2.71 Preço de venda 2.90 2
  • 3. A variação de 10% do preço na refinaria causa uma variação de 6,4% nos preços de venda da distribuidora, considerando todos os gastos com etanol anidro, frete e margens de lucro constantes. Já a variação do preço de venda dos postos de combustíveis tem uma elasticidade de 104,6% do seu preço de compra (estimada por modelos econométricos), assim a variação no preço de venda da gasolina para o consumidor final será de 6,7%. Possivelmente, a razão da variação do preço de venda nos postos ser maior do que a variação do seu custo é que ele tenta manter constante sua taxa de markup. Efeito da variação de 15% do preço da gasolina vendido na refinaria Recebido pela Refinaria 1.25 Recebido pela Refinaria 1.43 Refinaria Refinaria CIDE - CIDE - PIS/PASEP e COFINS 0.26 PIS/PASEP e COFINS 0.26 ICMS 0.77 ICMS 0.86 Venda pela Refinaria 2.28 Venda pela Refinaria 2.56 Compra Gasolina A 2.34 Compra Gasolina A 2.65 Distribuidora Distribuidora Compra Anidro 1.30 Compra Anidro 1.30 Mix de Anidro 20% Mix de Anidro 20% Venda de Gasolina C 2.33 Venda de Gasolina C 2.56 Posto Posto Preço de venda 2.71 Preço de venda 2.99 Enquanto a variação de 15% no preço aos distribuidores causa uma variação positiva de 9,7% nos preços de venda da distribuidora, novamente, considerando todos os gastos com etanol anidro, frete e margens de lucro permanecendo constantes. Neste caso, a variação no preço de venda da gasolina na bomba será de 10,1%. Elasticidades cruzadas: gasolina e etanol Da mesma forma que o preço da gasolina ao consumidor se altera em função da variação da gasolina vendida pelas refinadoras, o etanol no posto também se altera pelo aumento de preço (porém em uma proporção bem menor). Esse é o principio da elasticidade cruzada entre os bens, no qual o aumento do preço de um bem influencia o preço do outro, no caso da gasolina e do etanol hidratado a elasticidade de preço é positiva. Segundo nossas estimativas, o aumento do preço de venda da gasolina na distribuidora irá causar um aumento de 65% da intensidade da variação no preço do etanol no posto (valor esse muito próximo do famoso 70% de paridade energética entre os combustíveis). A totalidade do aumento no preço do etanol ocorre no mesmo mês do da gasolina, sendo que no longo prazo a tendência é de arrefecer esse efeito. Nos nossos exemplos a variação do preço do etanol hidratado é de 4,23% no primeiro cenário e de 6,35% no segundo. Além disso, acreditamos que uma vez atingidos os novos patamares os preços não deveriam se desvalorizar (no médio prazo) pela apertada situação da oferta do bio-combustível. Da mesma forma, nos encontramos no período no qual os preços mantém a trajetória de ascendência até março do próximo ano. 3
  • 4. Efeito sobre o IPCA O efeito da política de um novo reajuste de preço dos combustíveis com menor espaço para reduzir impostos como contrapartida – assim como não existe a possibilidade de corte na CIDE, já zerada, a redução de ICMS dependeria de difícil negociação com os governos locais - poderá claramente afetar a inflação ao consumidor. Utilizando as ponderações do índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) do IBGE do mês de junho de 2012, chegamos à conclusão de que um aumento de 10% no preço da gasolina na refinaria deve causar um aumento adicional de 0,3% no IPCA. Da mesma forma, o aumento de 15% no preço no início da cadeia levaria a um aumento de 0,5% no índice de inflação. O timing desta decisão, sendo política e permeada de objetivos contrários dentro do próprio governo, não é trivial. De qualquer forma, nosso cenário-base para o IPCA não considera nenhum aumento adicional por parte da Petrobras. Assim, ponderando a piora recente nos preços ao produtor, mantemos nossa estimativa de 5,0% em 2012 e 5,3% em 2013. Ainda, reforçamos nossa visão de que o cenário inflacionário não preocupa ao Banco Central enquanto persistir a fraca perspectiva de crescimento mundial. Lucas Brunetti Marco Antonio Maciel Economia e commodities Economista-chefe Banco Pine Banco Pine Disclaimer: Esta matéria é de caráter estritamente informativo. O Pine não se responsabiliza por quaisquer decisões tomadas tendo como base os dados e comentários contidos neste material. 4