1. Fogo impõe silêncio, meditação e muita determinação
Incêndio na escola e no dormitório ativa espírito de grupo em toda Ecovila Piracanga
2. Reinava a tranquilidade na tarde ensolarada de domingo em Piracanga quando foi avistada fogo saindo da cozinha do
chalé Siri , no complexo Beija-Flor, onde fica o dormitório.
Três horas depois, o fogo já havia consumido toda esta edificação e três das cinco edificações da escola Inkiri. Mas poderia
ter sido muito piior o desfecho se não fosse o enorme esforço de todas as pessoas da comunidade Piracanga para evitar que
o fogo se alastrasse mais. Pelo início da noite, já com o incêndio totalmente contido nestas quatro construções, a chuva deu
seu sinal e amenizou a preocupação de que novas fagulhas incandescentes pudessem voar com o vento e atingir ainda
outros telhados de piaçava que ficam próximos.
3. Por volta das 15h00 de ontem, ocorreu um
pequeno incidente na cozinha do chalé Siri.
Uma panela que fervia por um bom tempo
em banho-maria foi esquecida por uma
hospede, ocasionando secamento da água
usada para aquecer uma cera de depilação.
Este fato poderia ter gerado uma fagulha e
esta poderia ter atingido o teto de piaçava,
causando um incêndio instantâneo. Porém,
demoraram aproximadamente trinta minutos
entre este fato e o momento em que o fogo foi
visto. Desta forma, provavelmente o calor
acumulado pelo evento acima associado ao
calor do sol intenso do domingo deve ter
gerado uma combustão na palha seca da
piaçava que estava logo acima do fogão. De
toda forma, uma chama se formou
aproximadamente às 15h30 e espalhou-se
por todo o telhado, ardento muito
rapidamente por toda a construção. Por
providência divina, no momento do fogo não
havia mais ninguém dentro dos ambientes.
Porém, o vento que soprava na direção norte
carregou pequenas partículas de piaçava
em chamas que atingiram o teto de uma das
casas da escola. Em muito pouco tempo,
outras duas construções da escola que
estavam na mesma direção do vento foram
também atingidas e sucumbiram às chamas.
Felizmente, por ter ocorrido num Domingo,
não havia ninguém na escola.
Logo as crianças foram orientadas a sair pela ecovila solicitando ajuda a todos e em pouco tempo
havia dezenas de pessoas tentando se organizar para conter o fogo, salvar o que pudessem das
construções que não tinham sido ainda queimadas e evitar que outras fossem atingidas.
4. Apareceram baldes e panelas de todos os lados, mas a água não estava perto e por isso chegava lentamente. As pessoas
enchiam os baldes com areia para abafar o fogo. Foi trazido um gerador para que a água pudesse ser bombeada a partir de
um poço novo da construção que está sendo erguida bem próxima da escola. Mangueiras longas iam chegando e aos
poucos o fornecimento de água ficou mais próximo, aumentando desta forma muito o poder de contenção das chamas.
Solidariamente cada pessoa um assumia uma função, entre encher os baldes, transportar a água e lança-las sobre as
chamas que restavam ou que ofereciam maior perigo em gerar fagulhas voadoras. Muitas vezes até se colocaram em certo
risco ao tomarem a ponta mais perigosa da ação. A forte fumaça dificultava as ações, mas não tiravam a determinação em
conter o incêndio, da mesma forma que o peso dos baldes cheios não impediam que muitas mulheres os carregassem
correndo-os por grandes distâncias. Por horas, foi um árduo trabalho de um grupo unido por um grande propósito.
5. E o grande propósito não ficou por aí. Já no fim das operações e diante da escuridão que permitia enxergar somente alguns
focos de brasas entre os escombros, começou-se a quebrar o silêncio com chamadas para a manhã seguinte, com o intuito
de se formar um mutirão para recomeçar a reconstrução.
A noite toda passou abençoada por uma leve chuva que
prosseguiu pela manhã. Com a luz do dia, da mesma
forma que ela não impediu alguns pequenos focos de
fumaça e fogo, a chuva também não inibia esforços de
todos os voluntários em limpar escombros, recolher
madeira queimada e entulho que se fazia por toda parte. E
logo o cenário ia se transformando, tomando ares de
esperança novamente.
6.
7. Durante o almoço desta segunda-feira, a conversa sobre a reconstrução junto com o Francisco, o empreiteiro de Piracanga,
aliados com a contaminação do belo trabalho coletivo que está ocorrendo, já geravam ingredientes para um astral bem
elevado no restaurante.