3. • Romance: da palavra Romance/FOLHETIM:
ROMANÇO/ROMÂNICO (obra • Publicado nos jornais,
em linguagem popular, com diariamente/semanalmente;
muita imaginação e aventura); • Diálogo com a leitorFinais felizes,
• Século XVIII - ROMANCE aventuras, sentimentalismo, moral
passou a designar o texto em burguesa
prosa, normalmente longo, • Idealização: heróis/heroínas
com vários núcleos narrativos “perfeitos”
em torno de um núcleo central
– muitos personagens, tempo Primeiros romances brasileiros:
longo e espaços diversos ;
O filho do pescador (1843), de
• O romance está ligado a um Teixeira e Sousa;
novo público leitor: a A moreninha, de Joaquim Manuel de
burguesia. Macedo (1844)
4. José de Alencar
• Considerado o fundador do
romance nacional
• Obras: Iracema, O Guarani,
Senhora, Lucíola etc.
• Realidade brasileira: vasto
retrato de nosso país no
século XIX
• Projeto de LITERATURA
NACIONAL (Romantismo)
• Romances urbanos e
regionalistas
• Romances indianistas e
históricos
5. Romances folhetinescos:
• URBANOS – perfis femininos: Lucíola, Diva, Senhora...
• REGIONALISTAS: O sertanejo, Til, O gaúcho...
• INDIANISTAS: O guarani, Iracema, Ubirajara...
• HISTÓRICOS: As minas de prata, A confederação dos
Tamoios...
6. “Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza
e da mocidade.
O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das
faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém
aberta ali com os orvalhos da noite. No fresco sorriso
dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes,
brotava-lhes a seiva d’alma.
Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa,
saltitava sobre a relva, gárrula e cintilante do prazer de
pular e correr; saciando-se na delícia inefável de se
difundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela
natureza luxuriante.
Ele, alto, ágil, de talhe robusto e bem
conformado, calcando o chão sob o grosseiro soco da
bota com a bizarria de um príncipe que pisa as ricas
alfombras, seguia de perto a gentil companheira, que
folgava pelo campo, a volutear e fazendo-lhe mil
negaças, como a borboleta que zomba dos esforços
inúteis da criança para a colher. “ (Cap.1)
7. Tempo psicológico
Muitos órfãos
Muitas personagens
Segredos
Vários núcleos
Enredo dinâmico, muitos fatos Muitas mortes
Intertextualidade com as tragédias gregas.
8. Apresentação dos
Personagens
e tramas 31 Capítulos
DIVISÃO DA OBRA:
Revelação e resolução
dos conflitos
apresentados
9. Traços gerais:
Publicado em folhetim:
Jornal A República (1871-
1872)
Romance regionalista
Retrato dos costumes de
uma elite rural.
Maniqueísmo (Bem X Mal)
Mistério, suspense,
aventura, perigos: técnica
folhetinesca.
10. • Ambiente
Narrador
• Sociedade rural, escravocrata
• Narrador: 3ª pessoa, onisciente
• interior de São Paulo (Santa
• Linguagem culta, registro Bárbara, Piracicaba, Campinas –
elevado. Fazenda das Palmas)
• Festas populares:
Temática amorosa • São João (festa de origem
• Casais de namorados europeia/portuguesa/branca)
• Exacerbação sentimental • X Congada , SAMBA
• Figura feminina: •
idealização/bondade, riqueza: Fazenda das Palmas
beleza/sensualidade. • pobreza: casa em ruínas, gruta,
senzala
11. IV
Monjolo
Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o
Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das
Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais
vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e
foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. Daquela que
borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu,
ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.
12. Heroísmo fantástico:
De chofre empinou-se o cavalo, arremessando o homem sobre a escarpa da
barranca, donde rolou ao trilho, como um corpo inerte.
O capanga abatera um olhar de nojo para o cavaleiro que lhe veio rolar aos pés. A faca
brandida com força vibrava ainda no tronco do jequitibá, onde cravara a
cabeça de um urutu, que estorcia-se de fúria e dor.
Fora a negra serpente que espantara o animal, quando enristou-se como uma
lança, fincando a cauda e chofrando o bote. Advertido pelo faro, antes de ver altear-se o negro
colo, o cavalo rodara sobre os pés; e a cobra ameaçada pelos cascos elou-se ao tronco, onde a
alcançara a mão certeira de Jão Fera, que já tinha apunhado a faca...
. Devorando a distância na corrida veloz, saltando por cima dos magotes que
encontrava em seu caminho, e às vezes fazendo do próprio lombo das feras chão onde pisar, Jão
precipitou-se enfim no lugar onde Berta e o negro velho aguardavam a morte contritos.
Suspendendo a menina com o braço esquerdo, enquanto brandia o direito a longa faca
apunhada, o vigoroso capanga, aproveitando-se do espanto das feras ante sua audácia, arrojou-
se para a árvore mais próxima, onde poderia colocar a menina a salvo de perigo.
13. Personagens • Luís Galvão: pai de Berta -
fazendeiro empreendedor
• Berta, Inhá ou Til: filha bastarda de Luís Galvão • D. Ermelinda: matriarca
(com Besita, pobre moça assassinada pelo • Afonso: filho de L. Glavão e
marido), criada por Nhá Tudinha - modelo Ermelinda, jovem, bom, gosta de
feminino dinâmica, ativa, nobreza de caráter Berta pois não sabe que ela é sua
• Besita: verdadeira mãe de Berta – moça bonita meia-irmã.
e pobre, casa-se com Ribeiro e é assassinada • Linda: gêmea de Afonso, amiga de
por ele Berta.
• Ribeiro ou Barroso: marido e assassino de • Brás: sobrinho de L. Galvão,
Besita, cruel e vingativo – será morto por Jão
deficiente mental – O diota -
Fera/Bugre.
protegido de Berta (visão
• Miguel: irmão de criação de Berta – de início, preconceituosa, inferiorizante)
apaixonado por ela - herói romântico
convencional – depois, ficará com Linda
• Nhá Tudinha: mãe de Miguel e mãe de criação • Inimigos de L. Galvão: Ribeiro e
de Berta. Gonçalo
• Jão Fera ou Bugre: facínora X bondade, código • Escravos, Pai Quicé, tropeiros,
de honra, mata Ribeiro e é preso. vendeiros.
• Zana: ex-escrava, vítima de trauma
14. • Besita (casada com Ribeiro[Barroso])
origem • Luís Galvão
• Besita será morta pela marido
Berta surge • Jão salvará Berta
• Luís Galvão
Casamento • D. Ermelinda
oficial
• Afonso e Linda (irmãos gêmeos)
relações • Miguel, irmão de criação de Berta, a deseja.
• Jão deseja matar Ribeiro, por este ter matado a sua
amada Besita
vingança • Ribeiro deseja matar Luís Galvão, como não consegue
tenta matar Til
16. Aspectos formais
• Digressões
• falas de personagens: regionalismos
• figuras: comparações (Berta: flor) ,
personificações
Tempo:
• 1826: Besita e Luís Galvão, Ribeiro, João
Fera/Bugre
• 1846: Fazenda das Palmas.
17. Era Brás filho de uma irmã de Luís Galvão, a qual falecera três anos antes, ralada pelos
desgostos que lhe dera o marido, e pelo suplício incessante de ver reduzido ao lastimoso estado
de um sandeu o único fruto de suas entranhas.
Quando morreu, já era de muito viúva a infeliz senhora; e, pois, com a sua perda, ficou Brás sem
outro arrimo, a não ser por Luís Galvão, seu tio e mais próximo parente, que o trouxe
imediatamente para casa e desvelou-se como pode, pela sorte da mísera criança.
Compreende-se quanto devia custar a D. Ermelinda, ciosa em extremo da morigeração de seus
filhos, o receber no íntimo seio da família um menino até certo ponto estranho, e não só baldo
de toda a educação, como incapaz de recebê-la. Mas compenetrara-se a digna senhora que seu
marido, recolhendo o sobrinho órfão e servindo-lhe de pai, cumpria um rigoroso dever; e tanto
bastou para que não suscitasse a menor objeção. Resignada ao mal inevitável, socalcou sua
repugnância.
Somente exigiu de Luís Galvão, e isso o fez com autoridade de mãe, que, recebido Brás e tratado
como filho da casa, se evitasse contudo seu íntimo contato com Afonso e Linda, conservando-os,
quanto possível, alheios à existência do primo, e impedindo o menor trato e convivência com ele.
Consentia D. Ermelinda em ser-lhe mãe e cercá-lo de toda a solicitude, apesar da natural
repulsão que deviam causar à sua índole tão delicada os modos brutais e parvos do idiota. Não
lhe sofria porém o coração que seus filhos vissem nesse menino mal amanhado e grosseiro um
camarada e um parente, quanto mais um irmão.
18. Veio a tarde: o céu estava sereno, e coava-se no espaço uma aragem tão
doce que Besita encostou-se ao peitoril da janela. Com a fronte descansada à
ombreira, deixando cair para fora as longas tranças de seus lindos cabelos
negros, que a brisa fazia ondular, embebia-se em contemplar a estrela
vespertina, que cintilava no horizonte.
Súbito, no esquecimento dessa cisma, uma estranha idéia despontou-lhe no
espírito.
Pareceu-lhe que, através da cintilação da luz, desenhava-se a imagem de sua
mãe, a sorrir-lhe lá do céu e a chamá-la.
Então ouviu Zana um grito de terror, que se extinguiu em um gemido de
angústia. Fora de si correu à alcova da senhora, onde a esperava um quadro
horrível.
No meio do aposento, o Ribeiro, pálido e medonho como um espectro,
agarrando a mulher pelo pescoço, estrangulava-a com as longas tranças de
cabelos.
19. ESPAÇOS
IV
Monjolo
Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem
deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das
que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de
cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda
restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.
Eram freqüentes os encontros dos dois lindos pares de passeadores no Tanquinho.
Vinham semanas em que se repetiam todas as manhãs, a menos que as chuvas não
permitissem, ou que Berta e Miguel fossem à casa das Palmas, o que sucedia regularmente aos
domingos e dias de festa.
O amor, tão bonina dos prados, quanto rosa dos salões, quando o orvalham risos da
mocidade; o amor puro e suave, como a cecém daquele prado, tinha já florido os corações que
lhe respiravam pela manhã os agrestes perfumes.
20. “Como as flores que nascem nos
despenhadeiros e algares, onde não penetram
os esplendores da natureza, a alma de Berta
fora criada para perfumar os abismos da
miséria, que se cavam nas almas, subvertidas
pela desgraça.”
22. Memórias de um Sargento de
Milícias
Manuel Antonio de Almeida
falecomyuri1@hotmail.com
23. Preliminares
• As Memórias de um Sargento de Milícias são
um dos livros mais singulares da literatura
brasileira.
• Trata-se, basicamente, de um romance de
humor popular, fundado nas aventuras de
tipos da sociedade carioca do começo do
século passado.
24. Preliminares
• O humor explorado por Manuel Antonio de
Almeida é semelhante ao das peças de
Martins Pena, autor de O Noviço (encenada
em 1845, sete anos antes do início das
Memórias).
• Destinadas às páginas de um jornal, as
Memórias apresentam capítulos unitários,
quase todos um episódio completo.
25. Preliminares
O conjunto
desses episódios
reconstitui a vida
de Leonardo
Pataca e de seu
filho Leonardo,
em meio a um
vivo retrato das
camadas baixas
do Rio de Janeiro
de D. João VI.
26. Preliminares
• O romance dá muita atenção às festas,
encontros, instituições e profissões populares
da cidade, cujas ruas são descritas com a
animação de uma verdadeira narrativa de
costumes.
• É um romance muito agitado e festivo, não há
praticamente nenhuma página sem um
incidente ou surpresa espantosa.
• A linguagem é coloquial.
27. Preliminares
• As Memórias de um Sargento de Milícias
foram publicadas em folhetins anônimos entre
1852 e 1853, no suplemento dominical do
Correio Mercantil, a Pacotilha.
• Em livro, a obra saiu nos anos de 1854 e 1855,
em dois volumes.
• Cada volume correspondia a uma das partes
da obra.
28. Excentricidade das Memórias
• No final do século XIX, o crítico José Veríssimo
interpretou as Memórias de um Sargento de
Milícias como um romance pré-realista.
• Mário de Andrade aproximou-as do romance
picaresco espanhol.
• Antonio Candido demonstrou que se trata de
um romance propriamente romântico, com
particularidade, excentricidade.
29. Excentricidade das Memórias
• As Memórias distanciam-se da média da
sensibilidade romântica pelas seguintes razões:
– A estória não envolve personagens da classe dominante,
mas sim pessoas de baixa renda.
– A personagem central não é herói nem vilão, trata-se de
um anti-herói malandro, de natureza picaresca, isto é,
próximo do pícaro espanhol.
– As cenas não são idealizadas, mas reais, e apresentam
aspectos pouco poéticos da existência.
30. Excentricidade das Memórias
– Ausência de moralismo e recusa da ideia de que
as ações humanas se dividem necessariamente
entre boas e más.
– Troca do sentimentalismo pelo humorismo, do
estilo elevado e poético pelo estilo tosco e direto,
sem torneios embelezadores.
– O estilo é oral e descontraído, diretamente
derivado da conversa ou do estilo jornalístico do
tempo.
31. Estilo
• Apresenta o estilo
descontraído do jornal ao
romance.
• Todas as suas
personagens pertencem
às camadas populares.
• É simples, direta,
praticamente sem
metáforas ou
refinamentos retóricos.
32. Estilo
• As descrições da obra apontam para duas
direções:
– ora para um retrato vivo da indumentária,
costumes, logradouros públicos e instituições do
velho Rio;
– ora para a exageração dos traços físicos das
pessoas e das situações.
• O exagero configura as caricaturas, que
tornam o romance popular.
33. Técnica do enredo e personagens
As Memórias de um Sargento
de Milícias têm foco narrativo
em terceira pessoa.
O romance possui algumas
propriedades de romance
histórico: se detém na
captação de cenas e costumes
do passado.
Trata-se também de um
romance de costumes com
propriedades picarescas.
Sua ação é episódica,
parcelada.
34. Técnica do enredo e personagens
• O romance picaresco, expressão derivada do
termo pícaro, espécie de personagem
marginal que vive ao sabor do acaso.
• As personagens são tipos sociais: várias não
possuem nome no livro, designam-se pela
profissão ou condição social que possuem: o
barbeiro, a cigana, a parteira, o fidalgo, o
mestre-de-cerimônias, etc.
35. Personagens
• Leonardo: anti-herói, herói às avessas, herói picaresco - desde a
infância é esperto, vagabundo e mulherengo, assemelha-se ao
protagonista, Macunaíma.
Leonardo-Pataca: oficial de justiça, sentimental, sempre
enroscado em suas paixões.
Maria-da-Hortaliça: mãe do herói
Major Vidigal: temido e respeitado por todos.Severo punidor, é,
ao mesmo tempo, policial e juiz.
36. • Comadre: protetora de Leonardo, vive tentando livrá-lo dos
enroscos em que se metia.
Compadre Barbeiro: outro protetor. Cria o menino como se
fosse o seu filho, sonhando um próspero futuro para ele; só
que isso não acontece.
• D. Maria: velha, rica e bondosa. Era apaixonada por causas
judiciais. Tia e tutora de Luisinha, amiga da comadre e do
compadre.
Luisinha: primeiro amor de Leonardo. Suas características
fogem da idealização dos modelos românticos: era feia, pálida
e desajeitada.
37. • José Manuel: caça-dotes, representa uma crítica à burguesia.
• Vidinha: cantora de modinas, segunda paixão de Leonardo.
• Chiquinha: filha de D. Maria e esposa de Leonardo-Pataca.
• Maria-Regalada: amante de Vidigal.
38. • Além desses, há outros como: A vizinha, a
cigana, o mestre-de-rezas, Tomás, etc.
Os personagens encaixam-se na categoria de
tipos alegóricos, pois não possuem
profundidade psicológica e são como
caricatura de uma classe social: o povo, a
classe média carioca da época.
39. Um curioso traço compositivo
• Toda vez que o narrador
das Memórias apresenta
um episódio da vida de
Leonardo ou de outra
personagem, ele traça,
antes, o painel social do
cenário em que se
desenvolverá a
peripécia.
40. O cotidiano do povo é registrado com
bom humor
• Há, no livro, constantes alusões a instrumentos,
danças e modinhas da época retratada. Chega
mesmo a transcrever três trechos de modinhas
populares no tempo: uma cantada por Leonardo,
durante a festa do batizado do filho; duas outras
cantadas por Vidinha, numa de suas patuscadas com
os primos e amigos.
• Em mais de uma passagem, fornece detalhes sobre o
fado, apresentado como dança típica do Brasil.
41. Documento linguístico
• Os namorados das Memórias tratam-se por senhor e senhora.
"– A senhora... sabe... uma coisa?
E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola.
Luisinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom:
– Então... a senhora... sabe ou... não sabe?
E tornou a rir-se do mesmo modo. Luisinha conservou-se muda.
– A senhora bem sabe... é porque não quer dizer... Nada de resposta.
– Se a senhora não ficasse zangada... eu dizia... Silêncio.
– Está bom... eu digo sempre... mas a
senhora fica ou não fica zangada?
Luisinha fez um gesto de quem estava impacientada.
– Pois então eu digo... a senhora não sabe... eu... eu lhe quero... muito bem."
42. Documento linguístico
• A mãe de Vidinha, no capítulo 8 da segunda
parte, dirige-se informalmente à filha na
segunda pessoa do plural, dizendo: “Ai,
criatura, quereis que vos reze um responso
para cantardes uma modinha?”
• Leonardo age mais do que fala.
43. Inclusão do leitor
• Um dos importantes traços estilísticos de Memórias
é a constante referência do narrador ao leitor. Isso
certamente tem a ver com o propósito de
estabelecer um suposto diálogo amigável com o
público do jornal, isto é, esse traço revela o interesse
de facilitar a recepção da obra, como deixa ver o
seguinte fragmento:
• “Dadas as explicações do capítulo precedente,
voltemos ao nosso memorando, de quem por um
pouco nos esquecemos. Apressemo-nos a dar ao
leitor uma boa notícia: o menino desempacara do F, e
já se achava no P, onde por uma infelicidade
empacou de novo.”
44. Inclusão do leitor
• Essa é a razão de suas constantes referências
metalinguísticas, chamando a atenção do
leitor para acontecimentos apresentados
anteriormente ou para os que está prestes a
apresentar.
45. Contra o romantismo
• Manuel Antônio faz
questão de manter o
equilíbrio emocional,
primando pela clareza e
ridicularizando todo e
qualquer
transbordamento
emotivo em suas
personagens.
46.
47.
48. Enredo
• Origens e Infância do Memorando
• Leonardo Pataca, a Cigana e o Vidigal
• O Padrinho e a Vizinha
• O Mestre-de-Cerimônias
• Luisinha
• Graves Infortúnios
• Vidinha em Cena
• Diaburas do Novo Granadeiro
53. Memórias póstumas de Brás Cubas
Publicadas em capítulos na Revista Brasileira, de 15
de março a 15 de dezembro de 1880 (Em livro =
1881), as Memórias póstumas de Brás Cubas revelam
uma narrativa inovadora, revolucionária, que, através
de seu protagonista- narrador “defunto-autor”,
promovia a “viravolta machadiana.”
55. A dedicatória em forma de epitáfio (inscrição
tumular)
Ao verme
que
primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver
dedico
como saudosa lembrança
estas Memórias Póstumas
56. A dedicatória
• Chocante ou irônica pouco importa... Fugindo ao
senso comum, Brás Cubas dedica suas memórias
aos vermes, como se não houvesse alguém digno
de lembrança, deixando em evidência as “tintas” de
seu pessimismo, através de sua pena carregada de
humor.
57. A dedicatória
• O verbo “roeu” (no passado), significa que Brás
Cubas não é, materialmente, mais nada, não deve
satisfações a ninguém. É livre, soberano e absoluto
para pintar a vida, as pessoas, a si próprio: “... estas
são as memórias de um finado, que pintou a si e aos
outros, conforme lhe pareceu melhor e mais certo.”
59. Um autor defunto ou um defunto autor?
• Do túmulo (campa) um “defunto autor” examina de
forma memorialística sua vida. Apesar de morto,
nada comenta sobre sua existência além-túmulo.
Está interessado apenas em recordar o passado e
submetê-lo à análise e ao julgamento definitivo de
seu significado.
60. Por que um “defunto autor”?
• A) Símbolo do fim da concepção romântica.
• B) Desafio do escritor frente às propostas do Real-
Naturalismo, já que uma fala vinda do túmulo
contrariava os princípios de racionalidade e
verossimilhança.
61. Por que um “defunto autor”?
• C) A idéia machadiana de que só um morto
poderia apresentar os fatos de sua existência
sem escrúpulos, sem fantasias e sem temor da
opinião pública.
62. Por que um “defunto autor”?
• Enfim: Só um morto – por não ter nada a perder –
revelaria seus intuitos mesquinhos, seu egoísmo,
sua impotência para a vida prática e sua
desesperada sede de glória.
63. Por que um “defunto autor”?
• Só alguém que ultrapassasse o limite fatal
seria capaz de apontar a verdade definitiva de
sua própria condição.
64. O prólogo: Ao leitor
• Referências:
• Stendhal = (pseudônimo de Henri Beyle) escritor
francês romântico que abordou, em seus romances,
paixões violentas e perfis irônicos e psicológicos de
seus personagens (Obra mais famosa = O vermelho
e o negro – Sua obra de “cem leitores” = Do Amor)
65. Prólogo: Ao leitor
• Recepção da obra:
• “... O que não admira, nem provavelmente
consternará, é se este outro livro não tiver os cem
leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e
quando muito, dez. Dez? Talvez cinco... Fica privado
da estima dos graves e do amor dos frívolos, que
são as duas colunas máximas da opinião.”
66. Prólogo: Ao leitor
• Referências:
• Sterne = escritor inglês
• Xavier de Maistre = escritor francês
• Ambos de estilo digressivo e irônico (autores
admirados por Machado)
• “Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da
melancolia” = Visão irônica e pessimista.
67. Prólogo: Ao leitor
• Diálogo com o leitor = sugestão = que o leitor
mude sua postura e prefira a reflexão do que a
anedota, ou...
• “... se te agradar , fino leitor, pago-me da
tarefa; se te não agradar, pago-te com um
piparote, e adeus.”
68. Ironia ao leitor
• O leitor também é parte, além dos personagens e
seus atos, da “galhofa” do autor.
69. • Capítulo LXXI(71) O senão do livro
“Começo a arrepender-me deste livro... é
enfadonho, cheira a sepulcro... porque o maior
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente,
e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
guinam à direita e à esquerda, andam e param,
resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu,
escorregam e caem...”
70. A estrutura narrativa
• O diálogo constante com o leitor e as interrupções
na narrativa para digressões, saltos de um assunto
para o outro, do particular para o geral, do abstrato
para o concreto e vice-versa, do real para o
imaginário, as pilhérias, as teorias filosóficas, as
citações, as teorizações sobre a própria técnica
narrativa, a metalinguagem...
71. A estrutura narrativa
• ... constituem inúmeros subterfúgios que tornam a
história contada por Brás um mosaico de peças,
aparentemente desconexas, que formam uma
narrativa de estrutura híbrida (irregular),
descontínua, com capítulos que se intercalam a
outros produzindo a quebra da linearidade do
enredo.
72. A estrutura narrativa
• Entretanto, todos esses aspectos não deixam
de estarem ligados a um fio condutor que é a
própria vida do defunto autor, marcada pelo
tédio e pelo vazio.
73. O narrador
• Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma
obra em que os acontecimentos ou sua
seqüência são menos importantes do que a
atmosfera de ambigüidade que perpassa toda
a narrativa. Se num momento o narrador se
mostra humilde, noutro se proclamará
superior a tudo e a todos;...
74. O narrador
• ... trata-se, portanto, de um “narrador não
confiável e volúvel” que, com sarcasmo, cinismo e
tédio, expõe sua mediocridade, como salienta no
célebre capítulo “Curto, mais alegre”, com a
saborosa liberdade de quem morreu e já não tem
platéia para espreitar suas ações e, portanto, pode
apreciar o “desdém dos finados”, ou seja, sua
“franqueza de defunto” não teme a opinião pública
e pode “apresentar os fatos de sua existência sem
escrúpulos ou fantasias.”
75. Capítulo XXIV: Curto, mas alegre
• “Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe
exponho e realço a minha mediocridade; advirta
que a franqueza é a primeira virtude de um
defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste
dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente
a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e
os remendos, a não estender ao mundo as
revelações que faz a consciência;...
76. • ... e o melhor da obrigação é quando, à força de
embaçar os outros, embaça-se um homem a si
mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame,
que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é
um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença!
Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode
sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas,
despregar-se, despintar-se, desafeitar-se,
confessar lisamente o que foi e o que deixou de
ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem
amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem
estranhos; não há platéia...”
77. A narrativa
• Assim, evidencia-se uma narrativa irônica e
niilista sobre a precariedade humana que
emerge da vida, das relações e dos projetos
fracassados e perecíveis de um típico
representante de uma elite dominante e
parasitária.
78. • Ou seja, Brás Cubas pertence ao mundo dos
grandes proprietários e, vivendo de rendas que
herdou de sua família, praticamente durante toda a
sua vida, foi um indivíduo cheio de caprichos que
levou sua vazia existência sem perspectivas. E todas
as suas transgressões e atitudes mesquinhas
expressam a falta de ética e escrúpulos de uma elite
escravocrata e tacanha do Brasil do século XIX.
79. Crítica ao Romantismo
• Capítulo XIV , O primeiro beijo
• Brás Cubas se descreve aos 17 anos:
“... o corcel das antigas baladas, que o Romantismo
foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas
ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal
ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o
Realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes e,
por compaixão, o transportou para os seus livros.”
80. Crítica ao Romantismo
• No trecho citado, o crítico Machado de Assis opõe a
crueza da realidade da nova escola (o Realismo) à
esgotada idealização do Romantismo; como o
cavalo do herói medieval, os temas da literatura
realista são colhidos à margem (da sociedade; da
superada moda literária) e denunciam um estado
de putrefação = “comido de lazeira e vermes”
82. Capítulo VII = O delírio
• Em estado de transe causado pela febre, Brás Cubas
é arrebatado por um hipopótamo, que o leva à
origem dos séculos. Surge então uma mulher
imensa, de contornos indefinidos, que se diz
chamar Natureza ou Pandora. Quando, por fim,
Brás vê de perto o rosto da estranha, percebe-lhe a
impassibilidade egoísta e sua eterna surdez. Ou
seja, é alguém indiferente ao clamor humano.
83. Capítulo VII = O delírio
• Ela conduz o defunto-autor ao alto de uma
montanha e lhe permite contemplar a passagem
dos séculos e entender o absurdo da existência,
sempre igual, centrada apenas no egoísmo e na luta
pela sobrevivência. O personagem vê a História
como uma eterna repetição:
84. Capítulo VII = O delírio
• “flagelos, misérias, cobiça, cólera, inveja, ambição,
fome, vaidade, melancolia, riqueza, agitando o
homem como um chocalho até destruí-lo como um
farrapo.” “A regra é egoísmo, conservação e
satisfação do próprio eu: lei de Brás Cubas e dos
homens que aparecem no delírio, fantoches
sacudidos pelas paixões, variedades de um mal que
devora o homem, a buscar a quimera da felicidade
que se some na ilusão.”
85. Capítulo VII = O delírio
• Não há, portanto, um sentido de evolução na
humanidade. A natureza humana pouco ou
nada se modifica. O homem procura
inutilmente a “quimera da felicidade”, e esta,
sem deixar apanhar-se, apenas “ria, como um
escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.”
• E Brás Cubas vendo o mundo com “olhar
enfarado”, implora mais um pouco de vida.
86. Capítulo VII = O delírio
• Como assinala Augusto Meyer, Brás Cubas
revela um sentimento ambivalente diante do
infinito ciclo humano: o de vertigem e
desamparo diante da inutilidade de todas as
buscas e, ao mesmo tempo, o de sarcasmo
consciente contra a fatalidade da existência. A
ironia é a defesa do personagem contra a
natureza cega e insensível.
87. Capítulo VII = O delírio
• Ainda segundo Meyer, ao “passar em revista a
monotonia da miséria humana”, Brás Cubas
dá a “impressão de quem vai caindo num
vazio espantoso e na queda goza a volúpia de
cair.” Daí a aparente e enigmática maneira
como Pandora o define: “Grande lascivo,
espera-te a voluptuosidade do nada”.
89. • O primeiro encontro de Brás Cubas com Quincas
Borba, ocorre no capítulo LIX, Um encontro.
• Amigo de infância de Brás, aparece na condição de
mendigo, furta-lhe o relógio e depois reaparece
rico (herdeiro de um parente mineiro) e passa a
freqüentar a casa do amigo, até sua morte,
expondo-lhe, sempre, elementos de sua singular
filosofia: “o Humanitismo”.
91. Quincas e o Humanitismo
• O humanitismo é o ponto de contato entre
Memórias póstumas de Brás Cubas e o Quincas
Borba. A teoria do Humanitas é uma caricatura
feroz do positivismo e do cientificismo dominantes
na época. A personificação da impassibilidade
egoísta, da eterna surdez, da vontade imóvel é,
afinal, Humanitas, “o princípio das coisas que não é
outro senão o mesmo homem repartido por todos
os homens”.
92. • Enfim, o “Humanitismo” é, conforme a visão aguda de
Machado de Assis, uma impiedosa sátira complementar
das ideias do determinismo social, que constituíam a
base filosófica do Realismo. O “Humanitismo” é uma
caricatural doutrina híbrida de Positivismo e Darwinismo
Social. Ou seja, uma hilariante paródia de todos os
“ismos”, com a mesma visão fatalista (a supremacia das
raças = a lei do mais forte) que constituíram as doutrinas
científicas que dominaram a Europa, no século XIX, e
chegaram, naturalmente, ao Brasil.
94. Os amores de Brás Cubas
• Marcela = a cortesã = seu primeiro amor, que
lhe amou “durante quinze meses e onze
contos de réis”.
• Eugênia = a “flor da moita”, coxa e infeliz.
• Eulália = com quem pretendia casar mas que
morre de febre amarela com apenas 19 anos.
96. • A bela dama espanhola, alegre e sem escrúpulos,
luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e rapazes, a
primeira mulher de sua vida, a doce prostituta
Marcela. Ela o amou “durante quinze meses e onze
contos de réis; nada menos”. Seu pai, logo que teve
conhecimento dos onze contos, uma fortuna para a
época, ficou furioso e o enviou para estudar na
Europa, receoso do envolvimento profundo do filho
com uma prostituta.
98. • Eugênia tem um defeito de nascença: é coxa.
Todos esses aspectos fazem com que ele confirme
que não deve envolver-se seriamente com ela, já
que estava em condição social inferior à sua e não
lhe era possível esquecer a origem da moça: “uma
flor que foi gerada na moita”. Além do mais, ela
era, segundo o seu cinismo e sarcasmo, coxa. E
pergunta-se: “Por que bonita, se coxa? Por que
coxa, se bonita?”
99. • E, assim, quando resolve despedir-se de Eugênia,
alegando que precisava descer da Tijuca, depara-se
com a nobreza de caráter da menina que não leva
em consideração suas hipérboles frias e evasivas e o
encoraja a partir, pois, assim, escaparia do ridículo
de casar-se com ela. Ou seja, talvez a “Vênus
manca” de Brás seja a única personagem dessa
história que demonstra dignidade e caráter.
101. • Virgília foi o maior amor de sua vida, com quem
estabelece uma relação adúltera, já que ela torna-
se esposa do deputado Lobo Neves.
• Virgília, com seus braços tentadores, nascera para
ser bela um momento, trair o primeiro noivo com o
futuro marido, e este com aquele, quase sem
perceber o que fazia, num amoralismo ingênuo, e
depois envelhecer e morrer como vivera, sem
pensar que há, para catalogar as ações humanas,
um código do bem e do mal.
103. • Eulália, com quem pretendia casar, visto que a
moça comportava-se com altivez, e ele pretendia
“arrancar aquela flor do pântano em que vivia”,
morre de febre amarela com apenas 19 anos.
105. BRÁS CUBAS
• Homem de posses, nunca trabalhara,
dedicando-se, antes, a imaginar estratégias
pessoais que poderiam torná-lo famoso e
admirado. Moveu-o sempre o “amor da
glória”. Falecido aos 64 anos, torna-se claro
que ele sempre fora um ser destituído de
vontade e, portanto, incapaz de qualquer ação
significativa (social ou individual). Trata-se,
pois, de um homem inútil, entediado, com a
“volúpia do aborrecimento”, que parece
expressar o parasitismo e a falta de
perspectivas da elite escravocrata brasileira.
106. BRÁS CUBAS
• Possui uma natureza complexa, cheia de
contradições, ambicioso e retraído, vaidoso e
displicente, apaixonado e indiferente. Sua
alma “foi um tablado em que se deram peças
de todo gênero, o drama sacro, o austero, o
piegas (ridículo), a comédia louçã, a
desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias.”
107. BRÁS CUBAS
• Infância mimada & juventude despreocupada:
• Narrando-lhe a primeira infância, Machado, tão
acusado de se haver alheado aos grandes
problemas do seu tempo, traçou, sem rodeios, a
crítica da organização servil e familiar de então.
Mostrou o mal que fez a escravidão a brancos e
negros. Sem o moleque Prudêncio para lhe servir
de cavalo, sem as pretas para alvos passivos das
suas judiarias , sem os costumes relaxados que a
promiscuidade das escravas com os...
108. BRÁS CUBAS
...sinhô-moços facilitava, o Brás Cubas não teria
sido o que foi. Também a vaidade do menino era
cultivada pela beata admiração dos pais. Tudo
contribuiu para fazer dele um perfeito egoísta.
Representou o resultado do meio e da educação
viciada agindo sobre um temperamento
mórbido.
109. BRÁS CUBAS
• Rico, conheceu todas as facilidades, todos os
prazeres. E porque teve tudo, mas não se deixou
empolgar por coisa alguma, cedo conheceu o tédio,
“esta flor amarela, solitária e mórbida, de um cheiro
penetrante e sutil.”
• O TÉDIO, irmão do ceticismo, o tédio do herói e do
autor, é a personagem central do livro.
110. “Brás Cubas viajou à roda da vida.”
• UMA VIAGEM À RODA DA VIDA = A vida do
homem que vive em sociedade, afeito às
formalidades, às convenções, governado pelo
onipresente olhar da opinião. A vida marcada por
egoísmos, atos mesquinhos motivados pela
incessante necessidade de o homem superar e
embaçar o seu semelhante.
112. Morte de Brás Cubas
• Enquanto medita sobre a forma de criar um
“medicamento sublime” – um emplasto que
aliviasse a humanidade do tédio e da melancolia –
e, assim, tornar-se uma personalidade conhecida
e invejada, Brás recebe um golpe de vento, adoece
e, obcecado pela idéia fixa de inventar o emplasto
que levaria seu nome, não trata da pneumonia e
morre.
113. Capítulo final = Das negativas
• Visão sarcástica com sabor de escárnio?
• Ironia a pobre humanidade e sua sede de
permanência e preservação?
• Pessimismo ou uma dor escamoteada?
114. Capítulo final = Das negativas
• No último capítulo, o narrador Brás Cubas faz um
último balanço das perdas e dos ganhos de sua
existência, convicto de ter saído quite com a vida. É
verdade que não se tornara califa nem ministro, não
se casara nem criara o emplasto que lhe daria
acesso à celebridade. Contudo, essa impressão de
sair da vida sem “míngua nem sobra” se desfaz
quando Brás dá-se conta de que havia um saldo
positivo a seu favor: “Não tive filhos, não transmiti
a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.
117. A CIDADE e as serras
RO M A N C E D E E Ç A D E Q U E I R Ó S
falecomyuri1@hotmail.com
118. “o homem só é superiormente feliz quando é
superiormente civilizado”
Jacinto de Tormes, “Príncipe da Grã-Ventura”
119. O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras
Evolucionismo:
O HOMEM EVOLUI COMO QUALQUER OUTRO SER VIVO E ATRAVÉS DA LEI DA SELEÇÃO
NATURAL
Positivismo:
SÓ O DADO POSITIVO (científico) É VÁLIDO. O DADO NEGATIVO (intuitivo) DEVE SER
DESCARTADO.
Determinismo:
TODAS AS ESCOLHAS DO HOMEM SÃO DEFINIDAS PELO MEIO, PELA RAÇA E PELA
CULTURA.
Socialismo:
TODOS OS MEIOS DE PRODUÇÃO PERTENCEM À COLETIVIDADE.
120. O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras
• Gustave Flaubert: Madame Bovary
• Oposição ao Romantismo: Questão Coimbrã
• Antero de Quental X Antonio Castilho
• Anti-burguês, Anti-monárquico, Anti-Clerical
• Portugal: Geração de 70
• EÇA DE QUEIRÓS
122. AS FASES DE EÇA DE QUEIRÓS A CIDADE e as serras
1ª fase – Romântica (Prosas Bárbaras): temas e idealizações
Românticas, descrições já Realistas e estilo de feições
Simbolistas.
2ª fase – Realista (O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os
Maias): romance de costumes, com a análise objetiva e crítica
da sociedade.
3ª fase - Realista de Transição (A Ilustre Casa de Ramires, A
Cidade e as Serras, Últimas Páginas): moderação no sarcasmo
e na ironi, sentimento mais afetivo em relação à Portugal.
123. A CIDADE E AS SERRAS
Publicado em 1901, depois da morte do autor.
Duas concepções de vida: vida no campo
e a vida na cidade.
124. A CIDADE E AS SERRAS:
UM OUTRO EÇA
DE 1875 até 1900:
Eça crítico dos excessos, dos vícios e desvios
da sociedade burguesa. Eça pessimista,
irônico, descrente na mudança do homem.
EÇA SOCIALISTA
EM A CIDADE E AS SERRAS:
Eça crente na redenção de Portugal. Eça
moderado, otimista. EÇA HUMANO.
125. visão
• Visão mais livre e mais humanitária, pois o autor supera o
esteticismo cientificista.
• Reflexão madura do significado da existência do homem à
face da terra.
• Acentuada idealização da natureza, entendida como remédio
para os males gerados pela civilização urbana.
• Valorização de uma aristocracia rural degradada pela adoção
de modelos inautênticos.
• O homem só é verdadeiramente feliz, longe da civilização, da
máquina, do progresso.
• Culto à Natureza e à simplicidade.
126. GÊNERO
• Alegórico: felicidade se encontra na vida
simples e laboriosa do meio rural e não na
civilização.
• É preciso se despir dos valores artificiais da
cidade/civilização.
128. linguagem
• Primeira e segundas fases: definidora, cheia
de pormenores psicológicos e patólogicos.
• Terceira fase: aproxima-se do lirismo (
principalmente no campo)
129. REALISMO/NATURALISMO
ROMANCE DE TESE:
Tese inicial: só a tecnologia (CIDADE)
traz felicidade
Antítese: só a simplicidade (SERRAS)
traz felicidade
Síntese: uma vida equilibrada traz
felicidade.
(alguma tecnologia + simplicidade)
130. estrutura
• Advertência: a obra é póstuma.
- Capítulo 1 ao 8 : cidade de Paris, 202.
urbano, tédio irresistível,
ironia,pessimismo atroz.
Natureza é a bestialidade.Civilização é produto
da cidade
Suma Potência + Suma Ciência=
Suma Felicidade.
- Capítulo 8 ao16:Antítese:Campo,Natureza
rural, idílio campestre, lirismo, cores
da Natureza. Renovação.
131. narrador
. Primeira pessoa.
• Não é onisciente.
• Contamina o texto com sua visão de mundo:
subjetividade. Por meio dele, nota-se a tese. José
Fernandes – narrador e personagem secundário,
amigo de Jacinto, culto, viajado, afetuoso,
compassivo, compreensivo, raízes rurais.
• È o duplo de Jacinto, pois acredita na superioridade
da natureza e na regeneração por meio do campo.
132. • Avô Jacinto Galeão
Dom Miguel • D, Angelina Fafes
• Cintinho
Ida para a
frança
• Filha de um desembargador, Teresinha
Na frança
• Jacinto Tormes
nasce
133. Personagem- Jacinto: metáfora de
Portugal.
• Jacinto- mitologia grega- flor: Jovem de notável beleza, morto,
acidentalmente pelo deus Apolo. Para imortalizar Jacinto,
Apolo, deus da cultura e da civilização, transforma-o em uma
flor.
• . Representa a elite ultraconservadora.
• Até os trinta anos: inteligente, sortudo, entusiasta do
progresso, acumula conhecimentos. Príncipe da grã-ventura.
Acreditava que o homem “só é superiormente feliz quando é
superiormente civilizado”.
• Depois dos trinta: inteligente, chique, culto, cheio de
prestígio, mas não é feliz: triste, decadente
fisica/mentalmente.Sofre com a fartura. Lia os pessimistas,
principalmente Schopenhauer.
134. • No campo: reaprende a simplicidade,
aproxima-se de suas raízes, renova-se pelo
contato com a natureza. Lia Virgílio, As
Geórgicas.
- Torna-se um benfeitor dos pobres. Afirma
não ser migueleista, mas socialista: “ser pelos
pobres”.
135. Personagens- tipo/caricatura
• Avô Jacinto: gordíssimo e riquíssimo fidalgo,
casado com dona Angelina de Fafes, morava
em Portugal e era devoto do infante dom
Miguel. Quando dom Miguel é exilado para a
França, Jacinto muda-se com a esposa e o
filho Jacinto (Cintinho) para a França e compra
o 202.
136. • Cintinho – pai de Jacinto, o protagonista da
história. Seco, chupado, encurvado e
tuberculoso. Casa-se com Teresinha Velho. Ela
engravida, mas Cintinho morre (1851), antes
do filho nascer.
137. • D. Miguel – filho de Dom João VI, herdeiro ao
trono de Portugal.
• 1828- Constituição. Dom Miguel é aclamado
rei de Portugal: estabeleceu o absolutismo no
país.
• 1832/1834- Dom Miguel entra em guerra
contra D. Pedro, que tem o apoio dos liberais.
• Dom Miguel é exilado.
138. Personagens do campo: simplicidade,
amizade.
• Tio Alfonso.
• Tia Vicença.
• Silvério, o caseiro.
• Joana, esposa de Jacinto: casamento,
equilibrio.
• Jacintinho e Teresinha: filhos de Jacinto.
139. Personagens da cidade: frivolidade,
aparência, hipocrisia, vaidade, lisonja,
falsidade, elegância, traje sedutores.
• Madame de Verghane.
• Princesa de Carman.
• Grã-duque Casemiro
• Madame Joana de Oriol: amante de Jacinto. Vivia das
aparências.
• Condessa de Tréves.
• Duque de Marizac
• Efraim
140. Sexo, mecanicismo, instinto: naturalismo
• Diana, cocote.
• Madame Colombe, por quem Zé Fernandes
tem uma “infecção sentimental”.
141. outros
• Grilo- criado de Jacinto:
Seu Jacinto sofre de fartura.
Seu Jacinto brotou.
- Marício de Mayole- amigo de Jacinto. Por meio
da conversa, nota-se que Jacinto já conhecia
vária teorias: Nietzschianismo, culto ao eu...
142. Espaço
• França, Campos Elíseos, 202: microcosmo
social: cheio de prodígios da tecnologia,
desejo de acumular: 30 mil livros, elevadores,
eletricidade, encanamento... Inutilidade da
parafernália mecânica.
• Portugal, Solar em Tormes:
rústico, calmo, renovador, idílico.
Obs: fome no campo, desigualdade social.
147. Por fim
• 1- negar o campo, elogio ao progresso e à
civilização.
• 2 – afirmação do campo, regeneração das
virtudes humanas.
• 3 – equilíbrio: campo e cidade se reconciliam,
sob o domínio da natureza: fonte de felicidade
e paz.
148. A CIDADE e as serras
O texto é uma ampliação de um conto intitulado
"Civilização" (1892). Conta-se a história de Jacinto,
neto de D. Galião. Órfão de pai, Jacinto nasceu e
cresceu em Paris, ficando desde cedo maravilhado
com a cidade e com todas as invenções e tecnologia
da época (é o período conhecido como Belle
Époque). Formulou então uma teoria, segundo a
qual, para um indivíduo tornar-se feliz deveria ser
"superiormente civilizado". Assim, reúne em seu
palacete tudo o que a civilização industrial produzira
até então: elevadores, telefones, engenhocas as
mais diversas, além de uma biblioteca de mais de 30
mil volumes.
149. “Com estes olhos que recebemos da Madre Natureza, lestos e
sãos, nós podemos apenas distinguir além, através da Avenida,
naquela loja, uma vidraça alumiada. Nada mais! Se eu porém aos
meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de
corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões
de geléia e caixas de ameixa seca. Concluo, portanto, que é uma
mercearia. Obtive uma noção: tenho sobre ti, que com os olhos
desarmados vês só o luzir da vidraça, uma vantagem positiva. Se
agora, em vez destes vidros simples, eu usasse os de meu
telescópio, de composição mais científica, poderia avistar além, no
planeta Marte, os mares, as neves, os canais, o recorte dos golfos,
toda a geografia de um astro que circula a milhares de léguas dos
Campos Elísios. É outra noção, e tremenda! Tens aqui, pois, o olho
primitivo, o da natureza, elevado pela Civilização à sua máxima
potência da visão. E desde já, pelo lado do olho, portanto, eu,
civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque descubro
realidades do universo que ele não suspeita e de que está privado.
Aplica esta prova a todos os órgãos e compreende o meu
princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se tira
pela incansável acumulação das noções, só te peço que compares
Renan e o Grilo... Claro é, portanto, que nos devemos cercar de
Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas
proporções a vantagem de viver.”
150. A CIDADE e as serras
A história é narrada por José Fernandes, melhor amigo
de Jacinto, que viera de uma propriedade rural localizada
em Guiães, Portugal, e fora a Paris estudar. José
Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior
atenção o amigo; suas intensas atividades o
desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que
Jacinto foi perdendo a credulidade, percebendo a
futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade
de muitas coisas da sua tão decantada civilização. Nos
raros momentos em que conseguiam passear,
confessava ao amigo que o barulho das ruas o
incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um
período de nítido desencanto. Alguns incidentes
contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo
de Jacinto: o rompimento de um dos tubos da sala de
banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto,
inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma
pilha de telegramas, alguns inclusive com um riso
sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que
não mais apareceria pelo 202 sem que tivesse uma bóia
de salvação.
151. A CIDADE e as serras
As reuniões sociais estavam ficando maçantes. Em uma
recepção ao Grão-Duque, Jacinto já não agüentava o
farfalhar das sedas das mulheres quando lhes explicava o
uso dos diferentes aparelhos, o tetrafone, o numerador de
páginas, o microfone... O criado veio lhe informar que o
peixe a ser servido ficara preso no elevador e os
convidados puseram-se a pescá-lo, inutilmente, porque o
peixe acabou não indo para a mesa, fato que deixou ainda
mais aborrecido o anfitrião.
152. A CIDADE e as serras
“ Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessava uma
densa névoa de tédio, tão densa, e ele tão afundado na sua
mole densidade, que as glórias ou os tormentos de um
camarada não o comoviam, como muito remotas, inatingíveis,
separadas da sua sensibilidade por imensas camadas de
algodão. Pobre Príncipe Grã-Ventura, tombado para o sofá de
inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso
fastio caíra, depois de renovar tão brava mente todo o recheio
mecânico e erudito do 202, na sua luta contra a força e a
matéria!”
153. A CIDADE e as serras
Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel criado Grilo
sobre o que está ocorrendo com Jacinto. O homem
respondeu com tamanho conhecimento de causa que
espantou o narrador. Uma simples palavra poderia
definir todo o tédio de que era acometido: o patrão sofria
de “fartura”.
154. “ Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a
fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de
cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava,
iluminado) o homem do século XIX nunca poderia
saborear plenamente a "delícia de viver", ele não
encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que
o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta
numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! (...) Não se ocupara mais
das suas sociedades e companhias, nem dos telefones de
Constantinopla, nem das religiões esotéricas, nem do
bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam
sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as varria
tristemente como o lixo de uma vida finda. Também
lentamente se despegava de todas as sua convivências.
(...) Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem
cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo,
seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio
202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização,
não lhe desse uma sesação dolorosa de abafamento, de
atulhamento!”
155. A CIDADE e as serras
Do maquinário instalado no palacete de Jacinto, nada
funciona adequadamente. Os livros são, na verdade,
reduzidos a objetos de ostentação, uma vez que o
"Príncipe da Grã Ventura" (alcunha pela qual o narrador
se refere a Jacinto) não os lê, sintoma entre outros do
desânimo e descrença na civilização que abraçara com
tanto ímpeto. Atira-se então à leitura do livro bíblico
Eclesiastes, segundo o qual "tudo é vaidade", e à filosofia
pessimista de Schopenhauer, para quem a vida é um
pêndulo que oscila entre o tédio e o sofrimento.
156. A CIDADE e as serras
Em um passeio que fazem os dois amigos pelos
arredores de Paris, na colina da Basílica do Sacré-Coeur,
José diz ao amigo:
"o homem pensa que tem na cidade a base de toda a sua
grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria", e Jacinto
concorda: "sim, é talvez tudo uma ilusão... e a cidade a maior
ilusão!“
Zé Fernandes, nesse passeio, continuou a filosofar,
acrescentando preocupações de caráter pessoal,
indagando a posição dos pequenos que, como vermes, se
arrastavam pelo chão, enquanto os poderosos os
massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando
aos pobres não mais que algumas migalhas.
Religiosamente, acreditava ser necessário um novo
Messias que ensinasse às multidões a humildade e a
mansidão.
157. Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade e os gozos
especiais que ele a cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela
sofre, e com sofrimento especiais, que só nela existem! (...) A tua
Civilização reclama incansavelmente regalos e pompas, que só
obterá, nesta amarga desarmonia social, se o capital der ao
trabalho, por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada.
Irremediável é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe
pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da
Cidade. (...)
Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da
Cidade, estendida na planície, fosse escandalosa. E caminhamos
devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando -
considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana,
trazida pelo esforço humano. Ah, os Efrains, os Trèves, os vorazes
e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou
afrouxarão a exploração das plebes, se uma influência celeste, por
milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as
almas! O burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado
- e contra ele são impotentes os prantos dos humanitários, os
raciocínios dos lógicos, as bombas dos anarquistas. Para amolecer
tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a esperança da
Terra novamente posta num Messias!...
158. Por motivos familiares, Jacinto muda-se para sua
propriedade rural em Tormes, vizinha à de José Fernandes;
antes, envia para lá uma série de aparelhos e livros.
Partem os dois amigos de volta a Portugal. José Fernandes
estava feliz em rever a pátria; Jacinto, aborrecido e
enfadado principalmente porque, em Medina (Espanha), as
malas ficaram em compartimentos errados quando foi feita
a baldeação. O narrador, com o intuito de aclamar o amigo,
diz-lhe que a Companhia cuidaria de tudo. E ficaram os
dois só com a roupa do corpo. Enfim, chegaram a Tormes.
159. A CIDADE e as serras
...e ambos em pé, às janelas, esperamos com alvoroço a
pequenina estação de Tormes, termo ditodoso das nossas
provações. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio,
entre rochas, com sues vistoso girassóis enchendo um
jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o
pátio, e por trás, a serra coberta de velho e denso arvoredo.
160. Do mesmo modo que idealizara a vida urbana, Jacinto
passa a idealizar a vida campesina. Aos poucos,
porém, percebe que o ideal é unir o que a sociedade
urbana tem de melhor e útil, como por exemplo o
telefone, com a simplicidade dos camponeses. Casa-
se com Joaninha, uma prima de Zé Fernandes, e tem
com ela dois filhos, Jacinto e Teresa. Sua vida atinge o
equilíbrio, sem idealizações exageradas.
161. A Cidade e as Serras mostra uma relação
entre as elites e as classes subalternas na
qual aquelas promovessem estas socialmente,
como faz Jacinto ao reformar sua propriedade
no campo e melhorar as condições vida dos
trabalhadores. Por meio do personagem
central, Jacinto de Tormes, que representa a
elite portuguesa, a obra critica-lhe o estilo de
vida afrancesado e desprovido de
autenticidade, que enaltece o progresso
urbano e industrial e se desenraiza do solo e
da cultura do país. Na obra, a apologia da
natureza não pode ser confundida com o
elogio da mesmice e da mediocridade da vida
campestre de Portugal. Ao contrário, trata-se
de agigantar o espírito lusitano, em seu
caráter ativo e trabalhador.
162. Foco narrativo
Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as
Serras, como a maioria dos romances de
Eça de Queirós, há um narrador-
personagem, José Fernandes, o qual não se
confunde com o protagonista da obra,
Jacinto de Tormes. Este narrador coloca-se
como menos importante do que o
protagonista, como podemos perceber, por
exemplo, no início da obra. Nos primeiros
parágrafos do livro o narrador, em vez de
apresentar-se ao leitor, coloca-se em
segundo plano para apresentar toda a
descendência dos de Tormes, até aparecer a
figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe
tratamento diferenciado, parecendo idealizar
Jacinto, na medida em que o chama de
"Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido
estudantil do protagonista.
163. Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade,
empreendeu uma viagem que o reencontrou
consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem,
que é exterior e interior, inclui a pátria
portuguesa e se reveste de uma significação
particular, pode ser lida como um processo de
auto-conhecimento:
um novo Portugal e um novo português se
percebem nas serras que querem utilizam da
cidade o necessário para se civilizarem sem se
corromperem.
164. A Cidade e as Serras é um romance no
qual se destaca a categoria espaço, na
medida em que os ambientes são
fundamentais para a compreensão da
história, destacando-se os contrastes por
meio dos quais se contrapõem. Assim, a
amplidão da quinta de Tormes contrasta
com a estreiteza do universo tecnológico
do 202, o que aponta para a oposição
entre o espaço civilizado e o espaço
natural, presente em todo o romance.
165. Um registro importante a se fazer é que a
tese defendida no romance remete o
leitor ao Arcadismo (século XVIII), época
exatamente do início da Idade
Contemporânea, com as Revoluções
Industrial e Francesa. Nesse período, os
poetas propunham a fuga da cidade,
fugure urbem, e idealizam a vida
bucólica, tendo frequentemente a poesia
pastoral como tema e transformado o
campo numa espécie de território perdido
evocado em versos como os do nosso
Cláudio Manuel da Costa:
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado!
166. Saudade de Minha Terra
(Goia e Belmonte) Que saudade imensa do campo e do mato
Do nosso regato que corta as campina
De que me adianta viver na cidade Aos domingo eu ia passear de canoa
Se a felicidade não me acompanhar Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Adeus paulistinha do meu coração Que doce lembrança daquela festança
Lá pro meu sertão eu quero voltar Onde tinha dança e muitas meninas
Ver a madrugada quando a passarada Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
Fazendo a alvorada começa a cantar O mundo judia mas também me ensina
Com satisfação, eu arreio o burrão Eu tô contrariado, mas não derrotado
Cortando o estradão, eu saio a galopar Eu sou bem guiado pelas mãos divinas
E vou escutando o galo berrando
Sabiá cantando no jequitibá Pra minha mãezinha já telegrafei
E já me cansei de tanto sofrer
Por Nossa Senhora, meu sertão querido Essa madrugada estarei de partida
Vivo arrependido por ter te deixado Pra terra querida que me viu nascer
Essa nova vida aqui na cidade Já ouço sonhando o galo cantando
De tanta saudade eu tenho chorado O inhambu piando no escurecer
Aqui tem alguém, diz que me quer bem A lua prateada clareando as estradas
Mas não me convém, eu tenho pensado A relva molhada desde o anoitecer
Eu vivo com pena, pois essa morena Eu preciso ir pra ver tudo ali
Não sabe o sistema que eu fui criado Foi lá que eu nasci, lá quero morrer
Tô aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando com o rádio ligado
169. Viagens na Minha Terra
Obra da autoria de Almeida Garrett, publicada em folhetins
entre 1845 e 1846 na Revista Universal Lisbonense (que já
dera a conhecer alguns fragmentos em 1843) e editada em volume
em 1846. Livro "inclassificável", representa uma obra
única do Romantismo português e da literatura portuguesa, constit
uindo-se como ponto de arranque da moderna prosa
literária portuguesa,
quer pela estrutura aparentemente desconexa e inovadoramente c
ompósita, quer pela linguagem
(ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando
a vivacidade de expressões e
imagens, pelo tom oral usado pelo autor, que desta forma libertou
o discurso da pesada tradição clássica).
170. Diálogo instaurado com o leitor
Conduz o leitor a fazer parte de sua viagem; tornando-o um viajante também
e guia-o na interpretação do comportamento dos personagens,
preocupando-se com o bom entendimento de sua narrativa. Explica
sentidos, estabelece relações intratextuais, faz flashback dentro da
própria estória, ou seja, transforma – a partir de sua produção ficcional e
de seus modernos recursos de interatividade –, o leitor em um co-autor,
ou ainda, o leitor em um co-personagem de sua narrativa.São aspectos
semânticos e estilísticos da linguagem de, a passagem do discurso
narrativo para o discurso narrativo-digressivo; a apresentação de aspectos
de natureza temática e de natureza técnico-literária.
Uma influência para Mémorias Póstumas de Brás Cubas.
171. INTRODUÇÃO
A obra fundamenta-se numa viagem realmente efetuada por
Garrett em 1843, a convite do político Passos Manuel,
morador de Santarém. Nos dez primeiros narram as
peripécias da viagem desde Lisboa até aquela cidade, de
vapor, a cavalo, de carruagem. De permeio, o narrador vai
tecendo comentários e divagações acerca de vários assuntos
associados com o que vê e pensa durante o trajeto: a riqueza,
o progresso, a literatura, a política, a modéstia, a guerra, o
clero, o amor etc. Chegado a Santarém, o escritor ouve do
companheiro de viagem a narração dos amores de Joaninha,
“a menina dos rouxinóis”, e Carlos, entremeada de reflexões
do herói da viagem.
172. Resuminho do romance
Os jovens enamoram-se, mas Carlos vive dilacerado pelo amor
que ainda julga sentir por Georgina, que ficara na Inglaterra.
Envolve-se na trama Frei Dinis, que assassinara o marido da
amante e o pai de Joaninha, tomara hábito e era o verdadeiro
pai de Carlos. Com a vinda de Georgina (novo amor Inglês) a
Santarém, dá-se o reconhecimento e o perdão, mas não a
concretização do amor com Joaninha, que abandonada
enlouquece e morre. Como toda boa tragédia, não há final
feliz em relação ao amor, Georgina entra para o convento e
torna-se abadessa, na Inglaterra; Carlos “é barão, e vai ser
deputado qualquer dia”.
MOISÉS, Massaud. “Literatura portuguesa”, São Paulo: Cultrix. P. 132.
173. FOCO NARRATIVO
Em “Viagens na minha terra”, Garrett assume também o papel de narrador. Isto
nos ministra informações importantes sobre sua biografia, e dá ao livro um
caráter de depoimento e observação histórica.
Quando Garrett usa a primeira pessoa, “eu”, produz considerações cheias de
humor, não longe de uma atmosfera de prosa lírica.
Quando usa a terceira pessoa, “ele”, e se esquece um pouco de si, passa ao tom
mais grave, mais revelador, mais dramático, que ocorre, sobretudo, quando
nos conta a história dos amores de Carlos e Joaninha, ou quando fala do
cenário da guerra civil em Portugal.
174. CRÍTICA
“neste livro – misto de diário, literatura de viagens, reportagem e ficção, o
escritor português narra a história de um rapaz (Carlos) que se apaixona
de um modo sucessivo e intenso por várias mulheres e se sente incapaz de
estancar este constante fluir da vida amorosa, de fixar e estabilizar a sua
personalidade afetiva. (...) Ninguém, antes de Garrett, na ficção
portuguesa, entrara tão sutilmente na análise do que há de convencional,
fictício ou autêntico na vida sentimental, na confusão da verdade e da
mentira, de vida atual e de sobrevivência que é o todo afetivo de cada
indivíduo; e ninguém pôs em termos agudos o problema do desgarrar da
personalidade na mudança de tudo, ligando-o, ao mesmo tempo, ao
ceticismo superveniente a uma causa generosa que degenera: Carlos
descrê de um amor verdadeiro, ao mesmo tempo que descrê da
revolução...”
Antonio José Saraiva e Oscar Lopes
175. CARACTERÍSTICAS
O romance “Viagens na minha terra” foi composto sob a forma de
folhetim, bem ao gosto romântico da época. Sua narrativa, apesar de
grande base descritiva, dos adjetivos em excesso, é saborosa, envolvente e
apresenta temas essencialmente românticos como: natureza ativa e
confessional; heroísmo; nacionalismo; lirismo amoroso e morte.
Há em Garrett um observador minucioso de fatos, excluindo-se o tom
melodramático tornando-se um antecipador de Eça de Queirós. O autor
usa um estilo extremamente vivo, com giros e expressões coloquiais – um
estilo que se molda ao pensamento no seu fazer-se, apto a sugerir leves
emoções, associações fugidias, estados de devaneio, os meandros duma
nova sensibilidade.
176. Linguagem
A riqueza de sua linguagem nos fazem perceber o
dinâmica é a obra. Identificam-se o uso de formas
modernas e coloquiais, os gêneros textuais mesclam-
se em narração, diálogo, resumo, comentário,
descrição à moda clássica ou à maneira romântica. Ao
mesmo tempo adianta-se à forma característica
de sua época e permeia momentos de tradição
literária do passado, sua contemporaneidade e avança
na sua escola literária
177. Estrutura da Obra
Na obra, entrelaçam e dois níveis narrativos: o relato de uma
viagem entre Lisboa e Santarém, entremeado de
reflexões e divagações do narrador acerca da
realidade portuguesa,
e a novela da "Menina dos rouxinóis", a narração da
história de amor entre dois primos,
Carlos e Joaninha,
situada na época das lutas civis entre
absolutistas e liberais.
Além do relato da viagem Tejo acima.
178. AS TRÊS HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS
“Viagens na Minha Terra” é um livro difícil de enquadrar em
gênero literário, pelo hibridismo que apresenta.
“O que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas,
peripécias, situações e incidentes raros, é uma história simples e singela,
sinceramente contada e sem pretensão. Acabemos aqui o capítulo em
forma de prólogo e a matéria do meu conto para o seguinte.” (CAP. X)
É com ternura que Garrett se lembra de algumas paisagens de
sua terra, das velhas histórias ligadas ao folclore ou que ele
nos fala de poetas prediletos, como Homero, Virgílio, Dante,
Camões, Goethe e outros. Mas é com pessimismo político que
ele vê as últimas gerações de portugueses, envolvidos pela
mentalidade voltada para a busca do lucro.
179. AS TRÊS HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS
Nesse romance, é perceptível a técnica de suspensão da
narrativa, em favor de comentários e opiniões variados, sob
o ritmo da emoção crítica e da fineza intelectual, denomina-se
digressão.
Desse modo, relata assuntos sobre economia, geografia, política,
literatura, arquitetura, justiça, filosofia, religião, história ou
costumes sociais, sem, no entanto, tirar a unidade do livro.
Pois eles convergem para dois tipos de emoção alternantes: a
da observação terna e enlevada, e a do ceticismo cultural,
tratado geralmente com humor crítico.
180. Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel I disputando a coroa portuguesa,
por Honoré Daumier, 1833.
181. Histórias, interligadas pelas circunstâncias e pelo
tempo (contexto da Guerra Civil) e espaço físico
(PORTUGAL).
HISTÓRIA 1: é a da própria viagem que o narrador faz de Lisboa a
Santarém de comboio, com a intenção de conhecer as ricas
várzeas desse Ribatejo, e assim saudar do alto cume a mais
histórica e monumental das vilas de Portugal.
HISTÓRIA 2: refere-se a dos amores de Carlos e Joaninha.
HISTÓRIA 3: Guerra civil: Pano-de-fundo histórico, que é a guerra civil que
abalou Portugal, e que dividiu os contendores em realistas e
constitucionalistas. Os primeiros, conservadores, queriam a monarquia
absoluta. Os segundos, liberais, desejavam uma política nacional pautada
pelos ideais da Revolução Francesa, e, com isso, uma monarquia mais
branda.
182. PERSONAGENS:
Personagens Principais:
Joaninha e Carlos: protagonistas da história de amor.
Personagens Secundárias: A avó de Joaninha – D.
Francisca, Frei Dinis, Georgina, Laura e Júlia.
A. Garret: autor e narrador.
Personagem? NÃO.
183. A VIAGEM DE GARRETT:
Garrett afirma que há muito tempo sentia desejo de
conhecer “as ricas várzeas desse Ribatejo”, coisa que
a mexeriquice de um jornal entendeu como viagem
política. Partiu em dezessete de julho de 1843. Como
o tempo lhe sobra, vai fazendo também uma viagem
por dentro de si mesmo, uma viagem a suas
recordações, suscitadas por tudo o que está vendo.
184.
185. Vê-se, portanto, que as “Viagens na minha terra” poderiam ser
interpretadas como uma costura do que vai “lá fora” com o
que desperta “cá dentro”. O que vai “lá fora”, e é visto com o
olhar do corpo, é o panorama que se descortina Tejo acima,
as vilas, as pessoas. O que vai “cá dentro”, e é visto com o
olhar da memória, constituiria a viagem imaginária de Garrett.
E assim, o fato de fumar a bordo lhe lembra o poeta Lord
Byron; as pessoas no navio lhe inspiram um comentário sobre
os portugueses, e assim a digressão vai tecendo o livro. Em
seguida, passa ao argumento de que a marcha da civilização
obedece a dois impulsos, o do espiritualismo, calcado em D.
Quixote, e o do materialismo, em Sancho Pança. A viagem,
assim, vai simbolizando ironicamente a marcha do progresso
social.
186. Espiritual x Materialista
“Descobriu ele que há dois princípios no mundo: o
espiritualista, que marcha sem atender à parte
material e terrena desta vida, com os olhos fitos em
suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro,
inflexível, e que pode bem personalizar-se,
simbolizar-se pelo famoso mito do cavaleiro da
mancha, D. Quixote; - o materialista, que, sem fazer
caso nem cabedal dessas teorias, em que não crê, e
cujas impossíveis aplicações declara todas utopias,
pode bem representar-se pela rotunda e anafada
presença do nosso amigo velho, Sancho Pança”.
(cap. II)
188. No vale de Santarém, o autor surpreende uma habitação antiga,
com janela larga e baixa. Lá, imagina “um vulto feminino que
viesse sentar-se àquele balcão – vestido de branco...”, de
olhos...pretos? Uma voz – que é a voz de um companheiro de
viagem – corrige para “verdes”. Dessa forma que Garrett
entrou em contato pela primeira vez com a história da
“menina dos rouxinóis”.
A história da “menina dos rouxinóis”, a Joaninha e seu amor
por Carlos, é datada por volta de 1832, e o narrador começa a
relatar efetivamente no Capítulo II.
No Capítulo III, Garrett faz insinuante observação sobre os
frades, mal vistos pela apressada opinião moderna.
No Capítulo XXVII, os viajantes chegam a Santarém, passam
pelo convento de S. Francisco, cujo último guardião fora Frei
Dinis.
189. A HISTÓRIA DE CARLOS E JOANINHA:
“Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no
sentido popular e expressivo que a palavra tem em
português, mas era o tipo da gentileza, o ideal da
espiritualidade. Naquele rosto, naquele corpo de
dezesseis anos, havia por dom natural e por uma
admirável simetria de proporções toda a elegância
nobre, todo o desembaraço modesto, toda a
flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a
conversação da corte e da mais escolhida companhia
vêm a dar a algumas raras e privilegiadas criaturas
do mundo.” (CAP. XII)
190. - Filho, meu filho! – arrancou a velha, com estertor, do peito, - é teu
pai, meu filho. Este homem é teu pai, Carlos.” (CAP. XXXV)
191. Clímax do romance
_Carlos e frei Dinis
_Carlos rumo à nova vida
Carlos representante do novo Portugal: Capitalismo
Morte de Joaninha: morte da Pureza
Dilema familiar: Dilema de Portugal
192. Desfecho
Carlos deixara uma carta para sua prima Joaninha. É
uma carta de despedida definitiva, que lançará
também alguma luz sobre a psicologia dessa
personagem algo estranha, que devota sincero amor
a duas mulheres simultaneamente, e que se afasta
do pai tão logo o reconhece. Carlos, enfim, não quis
recompor a vida com os seus.
193. CONCLUSÃO
Em geral, as tragédias clássicas terminam com uma solução
violenta do destino e Garrett tinha muita sensibilidade para o
gênero trágico, É preciso que os protagonistas desapareçam,
ou mudem completamente de vida.
Garrett acena com uma explicação cabível. É que os
acontecimentos haviam rompido algo no coração de Carlos.
Haviam feito que ele não apenas quisesse esquecê-lo
totalmente, mas também quisesse converter sua vida em
outra coisa, bem contrária ao que fora até então, por
exemplo, tornar-se barão (novamente Garrett utiliza a
oposição entre frades, que representam o Portugal antigo, e
barões, que o representam o capitalismo moderno e sem
escrúpulos).
194. CONCLUSÃO
O narrador se despede, e procura reencontrar seus
companheiros de viagem.
A obra “Viagens na minha terra” retrata a conexão entre a
vida íntima e a vida pública do herói, entre o seu cansaço
sentimental e a sua descrença política. Além de valer-se pela
análise da situação política e social do país e pela simbologia
que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o
que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho,
absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito
renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em
grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra
civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros
passos duma vivência social e política em moldes modernos.
195. GUERRA CIVIL
-1807- Invasão napoleônica : vinda da Família Real para o Brasil
- Retirada das tropas napoleônicas : Retorno de D. João VI
-1822 – D. Pedro I (IV em Portugal) : Independência do Brasil
- 1823 D. Miguel - golpe : retorno do Absolutismo
-1824 – D. Miguel - Golpe contra D. João VI
(Expulso)
-1826 – Morte de D. João VI
- Retorno de D. Pedro I (rei por uma semana) – D. Maria (7 anos) :
casamento com D. Miguel
- Regresso de D. Miguel e Partida de D. Pedro I
- Traição de D. Miguel : reinstala o Absolutismo
- 1831- D. Pedro I abdica do trono – D. Pedro II
- 8/7/1832 – 7.500 homens comandados por D. Pedro I – Porto (Guerra
Civil)
- 1834 – forças liberais(CONSTITUCIONALISTAS) derrotam os
absolutistas (Realistas)
- 1836 – Passos Manuel - estabilidade
- Após 6 anos- floresce o Absolutismo (ascensão dos financeiros, dos
barões (classe média endinheirada), da corrupção...
197. O CORTIÇO
Aluísio Azevedo
falecomyuri1@hotmail.com
198. O cortiço e L´Assommoir (Émile Zola)
- Lavadeiras e seu trabalho (brigas)
- Encontro de amantes
- Policial (espécie de caricatura da lei)
- Drama de trabalhadores pobres
- Trabalhadores amontoados numa habitação
coletiva
- Degradação devido à vida promíscua
199. EIXO NARRATIVO: coexistência íntima entre
trabalhador e explorador econômico
Meio utilizado: ”exploração direta e predatória do
trabalho muscular” (Antônio Cândido)
Regime de servidão, exploração da renda
imobilária, da usura e prática do roubo
Primitivismo econômico
200. “Para o asno forragem, chicote e carga; para o
servo pão, correção e trabalho” (Eclesistes,
33:25)
“No Brasil, costumam dizer que para o escravo são
necessários três P.P.P., a saber, Pau, Pão e Pano”
(começo do sec XVIII)
“Para português, negro e burro, três pês: pão para
comer, pano para vestir, pau para trabalhar” (fim
do sec XIX)
202. EQUIPARAÇÃO DO HOMEM AO ANIMAL
João Romão = vence o meio
1º - PORTUGUÊS : Miranda = vence o meio
Jerônimo = vencido pelo meio
2º - NEGRO + MESTIÇO : Firmo, a mulata Rita Baiana ,
população do cortiço (pobres)
3º - ANIMAL : brancos e negros = vistos como animal
(redução biológica do indivíduo : “o prazer animal de existir”)
203. 1º - O EXPLORADOR CAPITALISTA
2º - O TRABALHADOR SOB À CONDIÇÃO
DE ESCRAVO
3º - O HOMEM SOCIALMENTE ALIENADO
E REBAIXADO AO NÍVEL DA
ANIMALIDADE
204. CORTIÇO
Início Depois
Regido por lei Regido por João
biológica : Romão :
ESPONTANEIDADE MECÂNICO
205. Cortiço Velho (“Carapicus”) =
aglomerado espontâneo
Cortiço novo (“Vila São Romão”) =
estabelecimento da ordem / Sobrado
de J. Romão
X
Cortiço rival (“Cabeça-de-gato”) =
manutenção da “espontaneidade
caótica”
206. CORTIÇO
Espaço físico : habitação coletiva
Espaço social : mistura de “raças”,
choque entre elas.
Espaço simbólico : ALEGORIA do
Brasil (“matéria-prima de lucro para o
capitalismo”)
207. NATUREZA BRASILEIRA
Sedutora, poderosa e transformadora
(à luz do Naturalismo)
Rita Baiana = força perigosa
“Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das
impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas
da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a
palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma
outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o
sapoti mais doce que o mel e era a castanha
208. do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a
cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca
doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do
corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as
fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as
artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha
daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita
de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e
espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
Mudança de Jerônimo
“abrasileirou-se”
209. Ordeiro, Perda de valores
comedido, anteriores, alegre,
econômico, sério, sentidos aguçados,
forte, honrado hábitos de asseio
“...lá o seu homem não seria anavalhado pelo
ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o
mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o
mesmo lavrador triste e contemplativo, como o
gado que à tarde levanta para o céu de opala o
seu olhar humilde, compungido e bíblico.”
210. “E Jerônimo não aparecia.
Ela ergueu-se finalmente, foi lá fora ao capinzal,
pôs-se a andar agitada, falando sozinha, a
gesticular forte. E nos seus movimentos de
desespero, quando levantava para o céu os
punhos fechados, dir-se-ia que não era contra o
marido que se revoltava, mas sim contra aquela
amaldiçoada luz alucinadora, contra aquele sol
crapuloso, que fazia ferver o sangue aos homens
e metia-lhes no corpo luxúrias de bode. Parecia
rebelar-se contra aquela natureza alcoviteira, que
lhe roubara o seu homem para dá-lo a outra,
porque a outra era gente do seu peito e ela não.”
211. SOL = “manifestação da natureza tropical e
princípio masculino de fertilidade”
Pombinha :
“...até formar-se em torno dela uma floresta vermelha, cor
de sangue, onde largos tinhorões rubros se agitavam
lentamente.
E viu-se nua, toda nua, exposta ao céu, sob a tépida luz de
um sol embriagador, que lhe batia de chapa sobre os
seios.
(...)
Lá do alto o sol a fitava obstinadamente, enamorado das
suas mimosas formas de menina.
(...)
A natureza sorriu-se comovida. Um sino, ao longe, batia
alegre as doze badaladas do meio-dia. O sol, vitorioso,
estava a pino e,(...), abençoando a nova mulher que se
formava para o mundo.”
212. Til = “bela flor do campo” = seduz todos os
homens ao seu redor
X
RITA = “luz ardente do meio-dia” + café = seduz
Jerônimo
“E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena
fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a
mensageira dos seus amores; assentou-se ao rebordo
da cama e, segurando com uma das mãos o pires, e
com a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por gole,
enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de
impaciência no antegozo daquele primeiro enlace.”
213. Busca pela “RAÇA SUPERIOR”
Bertoleza :
“...porque, como toda cafuza (...) não queria sujeitar-se a
negros e procurava instintivamente o homem numa raça
superior.”
Rita:
“o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de
apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça
superior.”
BRANCO=EUROPEU X MESTIÇO/NEGRO=BRASILEIRO
“invasor econômico” “natural explorado pelo europeu”
214. O REINO ANIMAL (Zoomorfismo)
NA HABITAÇÃO COLETIVA: “aglomeração tumultuosa de
machos e fêmeas” / “o prazer animal de existir” / “as
mulheres iam despejando crianças com uma regularidade de
gado procriador” / “o tremular das redondas tetas à larga”
DEPRECIAÇÃO DE PERSONAGENS: “estalavam todos por
saber quem a tinha emprenhado” / “o mugido lúgubre
daquela pobre criatura”
NA DESCRIÇÃO: “a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e
abundante como a das éguas selvagens”
215. CENAS DE SEXO
MIRANDA E ESTELA:
“Miranda nunca a tivera, nem nunca a vira, assim
tão violenta no prazer. Estranhou-a. Afigurou-se-
lhe estar nos braços de uma amante apaixonada:
descobriu nela o capitoso encanto com que nos
embebedam as cortesãs amestradas na ciência do
gozo venéreo.(...) E gozou-a, gozou-a loucamente,
com delírio, com verdadeira satisfação de animal
no cio.”
216. POMBINHA E LÉONIE:
“Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas
grossas pomas irrequietas sobre seu mesquinho peito de
donzela impúbere e o roçar vertiginoso daqueles cabelos
ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua
feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do
sangue, desertando-lhe a razão ao rebate dos sentidos.
Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes,
fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo; ao
passo que a outra, por cima, doida de luxúria, irracional,
feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e
relinchando.”
217. CORTIÇO X SOBRADO
HORIZONTALIDADE VERTICALIDADE
M Ascensão social
Estagnação social
SIMPLES
U COMPLEXO
Regras definidas
Ausência de regras R
CULTURA
ANIMAL O
Natureza fisiológica Organização social
regida por leis
218. INSTINTO M RAZÃO
RESOLUÇÃO DE U RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS CONFLITOS
Insultos R Troca de favores
Brigas Jogo de interesses
Morte O
219. PERSONAGENS
Ascensão social
JOÃO ROMÃO
Degradação moral
Posição aristocrática Baronato
MIRANDA
220. Contramestre
Quebrador
JERÔNIMO de pedras
Miséria
BERTOLEZA E ZULMIRA = Mulher-objeto – objetos de
troca
ESTELA E RITA = Mulher-sujeito-objeto – aceitação
das regras do sistema
LÉONIE, POMBINHA E SENHORINHA = Mulher-
sujeito – desprezo pelas regras impostas
221. PERSONAGENS: TIPOS / ALEGORIAS
• João Romão: imigrante
português, avaro e
ambicioso, explorador,
comerciante, especulador
imobiliário, agiota.
• Constrói seu império por
meio de mentiras e
explorações, com atitudes
torpes e deploráveis,
tornando-se um
representante do modelo
capitalista que a sociedade
do Rio de Janeiro tanto
prestigiou.
222. • Bertoleza: inicialmente supõe
haver superado sua condição
de escrava e negra,
amasiando-se com um branco
e trabalhando com
perseverança.
• Maltratada, resigna-se com a
condição de mulher
duplamente submissa, a
quem não é dado o direito de
falar e muito menos de
questionar.
• Ela morre, derrotada pela lei
selvagem e impiedosa de uma
seleção social que só valoriza
os vitoriosos e bem-
sucedidos.
223. • Miranda: comerciante
português, que
representa a alta
burguesia aristocratizada,
status que se confirma
quando ele recebe a
comenda de Barão.
• Cínico e mau-caráter,
casa-se pelo dote da
esposa Estela (fútil).
Aceita a o adultério da
esposa por conveniência.
224. • Jerônimo / Piedade: típicos imigrantes
portugueses empenhados em formar um
pecúlio, como resultado natural da capacidade
de trabalho. Tais valores dissipam-se pela
influência mesológica. Jerônimo separare-se
de Piedade, ambos atolam-se no pântano do
vício.
• Rita Baiana / Firmo: alegorias do Brasil. Ela é
a sensualidade – metaforizada como perigosa
serpente – responsável pela degradação de
Jerônimo. Ele, capoeira valente, brigador,
violeiro e improdutivo
225. • Pombinha / Léonie: o nome da personagem
(Pombinha) evoca, de início, pureza de sentimento,
alma boa, ela a é a enfermeira, escrevente/leitora
de cartas. No entanto, ao ser seduzida por Léonie
(prostituta de elite, transita a vontade no mundo
dos poderosos e também no universo carente do
cortiço), entra em contato com que há de mais
espúrio. Menstrua-se, casa-se. Abandona o marido.
Torna-se prostituta , uma espécie de anti-dama da
Camélias. Responsabiliza-se pela educação de
Senhorinha. Proporciona à menina o mesmo que
recebera de Léonie.
226. • Bruno/Leocádia: Ele ferreiro; ela, lavadeira –
representam o estereótipo dos moradores do
cortiço.
• Leandra, a “Machona”: era o protótipo da
portuguesa feroz, berradora, sempre disposta
à briga.
• Paula, a “Bruxa”: Cabocla velha,
mandigueira,sabia receitas caseiras com que
preparava remédios e chás. Mística, sabia
preparar feitiços para os que solicitavam seus
préstimos.
227. • Libório: personagem emblemática de certas
deformações provocadas pelo capitalismo.
Junta dinheiro em garrafas e submete-se a
viver de esmola.
• Botelho: Ladino e espertalhão – simboliza os
parasitas que sugam todos que estão
próximos para obter vantagens materiais.
• Albino: Era lavadeiro: “sujeito afeminado,
fraco, cor de espargo cozido e com um
cabelinho castanho, deslavado e pobre, que
lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole
e fino”.
228. TRAÇOS TEMÁTICOS:
• Determinismo:
• Os pares João Romão/Bertoleza, Miranda
/Estela, Jerônimo/Piedade, são os que,
principalmente, vêm focalizados sob o crivo
do determinismo. Os homens simbolizam o
estágio por que passa o imigrante português.
As mulheres apenas sofrem as consequencias
dessa integração, bem ou mal sucedida.
229. • Antropomorfismo:
• “Eram cinco horas da manhã e o cortiço
acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua
infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de
uma assentada sete horas de chumbo. Como que
se sentiam ainda na indolência de neblina as
derradeiras notas da ultima guitarra da noite
antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da
aurora, que nem um suspiro de saudade perdido
em terra alheia.” (cap. III)
230. • Zoomorfismo: “Daí a pouco, em volta das bicas era um
zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de
machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da
altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As
mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas
para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços
e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo
para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam
em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem
debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as
barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”