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OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013
falecomyuri1@hotmail.com
TIL – 1872
José de Alencar




        falecomyuri1@hotmail.com
• Romance: da palavra             Romance/FOLHETIM:
  ROMANÇO/ROMÂNICO (obra          • Publicado nos jornais,
  em linguagem popular, com         diariamente/semanalmente;
  muita imaginação e aventura);   • Diálogo com a leitorFinais felizes,
• Século XVIII - ROMANCE            aventuras, sentimentalismo, moral
  passou a designar o texto em      burguesa
  prosa, normalmente longo,       • Idealização: heróis/heroínas
  com vários núcleos narrativos     “perfeitos”
  em torno de um núcleo central
  – muitos personagens, tempo     Primeiros romances brasileiros:
  longo e espaços diversos ;
                                  O filho do pescador (1843), de
• O romance está ligado a um         Teixeira e Sousa;
  novo público leitor: a          A moreninha, de Joaquim Manuel de
  burguesia.                         Macedo (1844)
José de Alencar
• Considerado o fundador do
  romance nacional
• Obras: Iracema, O Guarani,
  Senhora, Lucíola etc.
• Realidade brasileira: vasto
  retrato de nosso país no
  século XIX
• Projeto de LITERATURA
  NACIONAL (Romantismo)
• Romances urbanos e
  regionalistas
• Romances indianistas e
  históricos
Romances folhetinescos:
• URBANOS – perfis femininos: Lucíola, Diva, Senhora...
• REGIONALISTAS: O sertanejo, Til, O gaúcho...
• INDIANISTAS: O guarani, Iracema, Ubirajara...
• HISTÓRICOS: As minas de prata, A confederação dos
  Tamoios...
“Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza
e da mocidade.
 O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das
faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém
aberta ali com os orvalhos da noite. No fresco sorriso
dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes,
brotava-lhes a seiva d’alma.
          Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa,
saltitava sobre a relva, gárrula e cintilante do prazer de
pular e correr; saciando-se na delícia inefável de se
difundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela
natureza luxuriante.
          Ele, alto, ágil, de talhe robusto e bem
conformado, calcando o chão sob o grosseiro soco da
bota com a bizarria de um príncipe que pisa as ricas
alfombras, seguia de perto a gentil companheira, que
folgava pelo campo, a volutear e fazendo-lhe mil
negaças, como a borboleta que zomba dos esforços
inúteis da criança para a colher. “ (Cap.1)
Tempo psicológico



                                                  Muitos órfãos
    Muitas personagens



                                                      Segredos
     Vários núcleos




Enredo dinâmico, muitos fatos                       Muitas mortes




                Intertextualidade com as tragédias gregas.
Apresentação dos
                        Personagens
                   e tramas 31 Capítulos



DIVISÃO DA OBRA:



                   Revelação e resolução
                       dos conflitos
                      apresentados
Traços gerais:
Publicado em folhetim:
  Jornal A República (1871-
  1872)
Romance regionalista
Retrato dos costumes de
  uma elite rural.
Maniqueísmo (Bem X Mal)
Mistério, suspense,
  aventura, perigos: técnica
  folhetinesca.
• Ambiente
Narrador
                                  • Sociedade rural, escravocrata
• Narrador: 3ª pessoa, onisciente
                                  • interior de São Paulo (Santa
• Linguagem culta, registro         Bárbara, Piracicaba, Campinas –
  elevado.                          Fazenda das Palmas)
                                  • Festas populares:
Temática amorosa                  • São João (festa de origem
• Casais de namorados               europeia/portuguesa/branca)
• Exacerbação sentimental         • X Congada , SAMBA
• Figura feminina:                •
  idealização/bondade,              riqueza: Fazenda das Palmas
  beleza/sensualidade.            • pobreza: casa em ruínas, gruta,
                                    senzala
IV
Monjolo
        Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o
Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das
Palmas.
        Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais
vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e
foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. Daquela que
borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu,
ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.
Heroísmo fantástico:
           De chofre empinou-se o cavalo, arremessando o homem sobre a escarpa da
barranca, donde rolou ao trilho, como um corpo inerte.
           O capanga abatera um olhar de nojo para o cavaleiro que lhe veio rolar aos pés. A faca
brandida com força vibrava ainda no tronco do jequitibá, onde cravara a
cabeça de um urutu, que estorcia-se de fúria e dor.
Fora a negra serpente que espantara o animal, quando enristou-se como uma
lança, fincando a cauda e chofrando o bote. Advertido pelo faro, antes de ver altear-se o negro
colo, o cavalo rodara sobre os pés; e a cobra ameaçada pelos cascos elou-se ao tronco, onde a
alcançara a mão certeira de Jão Fera, que já tinha apunhado a faca...

.         Devorando a distância na corrida veloz, saltando por cima dos magotes que
encontrava em seu caminho, e às vezes fazendo do próprio lombo das feras chão onde pisar, Jão
precipitou-se enfim no lugar onde Berta e o negro velho aguardavam a morte contritos.
Suspendendo a menina com o braço esquerdo, enquanto brandia o direito a longa faca
apunhada, o vigoroso capanga, aproveitando-se do espanto das feras ante sua audácia, arrojou-
se para a árvore mais próxima, onde poderia colocar a menina a salvo de perigo.
Personagens                                           • Luís Galvão: pai de Berta -
                                                        fazendeiro empreendedor
•   Berta, Inhá ou Til: filha bastarda de Luís Galvão • D. Ermelinda: matriarca
    (com Besita, pobre moça assassinada pelo          • Afonso: filho de L. Glavão e
    marido), criada por Nhá Tudinha - modelo            Ermelinda, jovem, bom, gosta de
    feminino dinâmica, ativa, nobreza de caráter        Berta pois não sabe que ela é sua
•   Besita: verdadeira mãe de Berta – moça bonita       meia-irmã.
    e pobre, casa-se com Ribeiro e é assassinada • Linda: gêmea de Afonso, amiga de
    por ele                                             Berta.
•   Ribeiro ou Barroso: marido e assassino de         • Brás: sobrinho de L. Galvão,
    Besita, cruel e vingativo – será morto por Jão
                                                        deficiente mental – O diota -
    Fera/Bugre.
                                                        protegido de Berta (visão
•   Miguel: irmão de criação de Berta – de início,      preconceituosa, inferiorizante)
    apaixonado por ela - herói romântico
    convencional – depois, ficará com Linda
•   Nhá Tudinha: mãe de Miguel e mãe de criação •     Inimigos de L. Galvão: Ribeiro e
    de Berta.                                         Gonçalo
•   Jão Fera ou Bugre: facínora X bondade, código •   Escravos, Pai Quicé, tropeiros,
    de honra, mata Ribeiro e é preso.                 vendeiros.
•   Zana: ex-escrava, vítima de trauma
• Besita (casada com Ribeiro[Barroso])
  origem      • Luís Galvão

              • Besita será morta pela marido
Berta surge   • Jão salvará Berta

              • Luís Galvão
Casamento     • D. Ermelinda
  oficial


         • Afonso e Linda (irmãos gêmeos)
relações • Miguel, irmão de criação de Berta, a deseja.


         • Jão deseja matar Ribeiro, por este ter matado a sua
           amada Besita
vingança • Ribeiro deseja matar Luís Galvão, como não consegue
           tenta matar Til
Besita


 Luís/
                           Berta
Ribeiro




                     Miguel /
      Jão
                     Afonso
Aspectos formais
• Digressões
• falas de personagens: regionalismos
• figuras: comparações (Berta: flor) ,
  personificações
Tempo:
• 1826: Besita e Luís Galvão, Ribeiro, João
  Fera/Bugre
• 1846: Fazenda das Palmas.
Era Brás filho de uma irmã de Luís Galvão, a qual falecera três anos antes, ralada pelos
desgostos que lhe dera o marido, e pelo suplício incessante de ver reduzido ao lastimoso estado
de um sandeu o único fruto de suas entranhas.
Quando morreu, já era de muito viúva a infeliz senhora; e, pois, com a sua perda, ficou Brás sem
outro arrimo, a não ser por Luís Galvão, seu tio e mais próximo parente, que o trouxe
imediatamente para casa e desvelou-se como pode, pela sorte da mísera criança.
Compreende-se quanto devia custar a D. Ermelinda, ciosa em extremo da morigeração de seus
filhos, o receber no íntimo seio da família um menino até certo ponto estranho, e não só baldo
de toda a educação, como incapaz de recebê-la. Mas compenetrara-se a digna senhora que seu
marido, recolhendo o sobrinho órfão e servindo-lhe de pai, cumpria um rigoroso dever; e tanto
bastou para que não suscitasse a menor objeção. Resignada ao mal inevitável, socalcou sua
repugnância.
Somente exigiu de Luís Galvão, e isso o fez com autoridade de mãe, que, recebido Brás e tratado
como filho da casa, se evitasse contudo seu íntimo contato com Afonso e Linda, conservando-os,
quanto possível, alheios à existência do primo, e impedindo o menor trato e convivência com ele.
Consentia D. Ermelinda em ser-lhe mãe e cercá-lo de toda a solicitude, apesar da natural
repulsão que deviam causar à sua índole tão delicada os modos brutais e parvos do idiota. Não
lhe sofria porém o coração que seus filhos vissem nesse menino mal amanhado e grosseiro um
camarada e um parente, quanto mais um irmão.
Veio a tarde: o céu estava sereno, e coava-se no espaço uma aragem tão
doce que Besita encostou-se ao peitoril da janela. Com a fronte descansada à
ombreira, deixando cair para fora as longas tranças de seus lindos cabelos
negros, que a brisa fazia ondular, embebia-se em contemplar a estrela
vespertina, que cintilava no horizonte.
Súbito, no esquecimento dessa cisma, uma estranha idéia despontou-lhe no
espírito.
Pareceu-lhe que, através da cintilação da luz, desenhava-se a imagem de sua
mãe, a sorrir-lhe lá do céu e a chamá-la.
Então ouviu Zana um grito de terror, que se extinguiu em um gemido de
angústia. Fora de si correu à alcova da senhora, onde a esperava um quadro
horrível.
No meio do aposento, o Ribeiro, pálido e medonho como um espectro,
agarrando a mulher pelo pescoço, estrangulava-a com as longas tranças de
cabelos.
ESPAÇOS

IV
Monjolo
          Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem
deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas.
          Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das
que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de
cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda
restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.

          Eram freqüentes os encontros dos dois lindos pares de passeadores no Tanquinho.
Vinham semanas em que se repetiam todas as manhãs, a menos que as chuvas não
permitissem, ou que Berta e Miguel fossem à casa das Palmas, o que sucedia regularmente aos
domingos e dias de festa.
          O amor, tão bonina dos prados, quanto rosa dos salões, quando o orvalham risos da
mocidade; o amor puro e suave, como a cecém daquele prado, tinha já florido os corações que
lhe respiravam pela manhã os agrestes perfumes.
“Como as flores que nascem nos
despenhadeiros e algares, onde não penetram
os esplendores da natureza, a alma de Berta
fora criada para perfumar os abismos da
miséria, que se cavam nas almas, subvertidas
pela desgraça.”
OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013
falecomyuri1@hotmail.com
Memórias de um Sargento de
         Milícias
             Manuel Antonio de Almeida




                         falecomyuri1@hotmail.com
Preliminares
• As Memórias de um Sargento de Milícias são
  um dos livros mais singulares da literatura
  brasileira.

• Trata-se, basicamente, de um romance de
  humor popular, fundado nas aventuras de
  tipos da sociedade carioca do começo do
  século passado.
Preliminares
• O humor explorado por Manuel Antonio de
  Almeida é semelhante ao das peças de
  Martins Pena, autor de O Noviço (encenada
  em 1845, sete anos antes do início das
  Memórias).
• Destinadas às páginas de um jornal, as
  Memórias apresentam capítulos unitários,
  quase todos um episódio completo.
Preliminares
 O conjunto
  desses episódios
  reconstitui a vida
  de Leonardo
  Pataca e de seu
  filho Leonardo,
  em meio a um
  vivo retrato das
  camadas baixas
  do Rio de Janeiro
  de D. João VI.
Preliminares
• O romance dá muita atenção às festas,
  encontros, instituições e profissões populares
  da cidade, cujas ruas são descritas com a
  animação de uma verdadeira narrativa de
  costumes.
• É um romance muito agitado e festivo, não há
  praticamente nenhuma página sem um
  incidente ou surpresa espantosa.
• A linguagem é coloquial.
Preliminares
• As Memórias de um Sargento de Milícias
  foram publicadas em folhetins anônimos entre
  1852 e 1853, no suplemento dominical do
  Correio Mercantil, a Pacotilha.
• Em livro, a obra saiu nos anos de 1854 e 1855,
  em dois volumes.
• Cada volume correspondia a uma das partes
  da obra.
Excentricidade das Memórias
• No final do século XIX, o crítico José Veríssimo
  interpretou as Memórias de um Sargento de
  Milícias como um romance pré-realista.
• Mário de Andrade aproximou-as do romance
  picaresco espanhol.
• Antonio Candido demonstrou que se trata de
  um romance propriamente romântico, com
  particularidade, excentricidade.
Excentricidade das Memórias
• As Memórias distanciam-se da média da
  sensibilidade romântica pelas seguintes razões:
  – A estória não envolve personagens da classe dominante,
    mas sim pessoas de baixa renda.
  – A personagem central não é herói nem vilão, trata-se de
    um anti-herói malandro, de natureza picaresca, isto é,
    próximo do pícaro espanhol.
  – As cenas não são idealizadas, mas reais, e apresentam
    aspectos pouco poéticos da existência.
Excentricidade das Memórias
– Ausência de moralismo e recusa da ideia de que
  as ações humanas se dividem necessariamente
  entre boas e más.
– Troca do sentimentalismo pelo humorismo, do
  estilo elevado e poético pelo estilo tosco e direto,
  sem torneios embelezadores.
– O estilo é oral e descontraído, diretamente
  derivado da conversa ou do estilo jornalístico do
  tempo.
Estilo
   • Apresenta       o estilo
     descontraído do jornal ao
     romance.
   • Todas        as      suas
     personagens pertencem
     às camadas populares.
   • É      simples,    direta,
     praticamente          sem
     metáforas               ou
     refinamentos retóricos.
Estilo
• As descrições da obra apontam para duas
  direções:
  – ora para um retrato vivo da indumentária,
    costumes, logradouros públicos e instituições do
    velho Rio;
  – ora para a exageração dos traços físicos das
    pessoas e das situações.
• O exagero configura as caricaturas, que
  tornam o romance popular.
Técnica do enredo e personagens
                As Memórias de um Sargento
                 de Milícias têm foco narrativo
                 em terceira pessoa.
                O romance possui algumas
                 propriedades de romance
                 histórico: se detém na
                 captação de cenas e costumes
                 do passado.
                Trata-se também de um
                 romance de costumes com
                 propriedades picarescas.
                Sua     ação   é    episódica,
                 parcelada.
Técnica do enredo e personagens
• O romance picaresco, expressão derivada do
  termo pícaro, espécie de personagem
  marginal que vive ao sabor do acaso.
• As personagens são tipos sociais: várias não
  possuem nome no livro, designam-se pela
  profissão ou condição social que possuem: o
  barbeiro, a cigana, a parteira, o fidalgo, o
  mestre-de-cerimônias, etc.
Personagens
• Leonardo: anti-herói, herói às avessas, herói picaresco - desde a
  infância é esperto, vagabundo e mulherengo, assemelha-se ao
  protagonista, Macunaíma.

  Leonardo-Pataca: oficial de justiça, sentimental, sempre
  enroscado em suas paixões.

  Maria-da-Hortaliça: mãe do herói

  Major Vidigal: temido e respeitado por todos.Severo punidor, é,
  ao mesmo tempo, policial e juiz.
• Comadre: protetora de Leonardo, vive tentando livrá-lo dos
  enroscos em que se metia.

  Compadre Barbeiro: outro protetor. Cria o menino como se
  fosse o seu filho, sonhando um próspero futuro para ele; só
  que isso não acontece.

• D. Maria: velha, rica e bondosa. Era apaixonada por causas
  judiciais. Tia e tutora de Luisinha, amiga da comadre e do
  compadre.

  Luisinha: primeiro amor de Leonardo. Suas características
  fogem da idealização dos modelos românticos: era feia, pálida
  e desajeitada.
• José Manuel: caça-dotes, representa uma crítica à burguesia.



• Vidinha: cantora de modinas, segunda paixão de Leonardo.



• Chiquinha: filha de D. Maria e esposa de Leonardo-Pataca.



• Maria-Regalada: amante de Vidigal.
• Além desses, há outros como: A vizinha, a
  cigana, o mestre-de-rezas, Tomás, etc.

  Os personagens encaixam-se na categoria de
  tipos alegóricos, pois não possuem
  profundidade psicológica e são como
  caricatura de uma classe social: o povo, a
  classe média carioca da época.
Um curioso traço compositivo
• Toda vez que o narrador
  das Memórias apresenta
  um episódio da vida de
  Leonardo ou de outra
  personagem, ele traça,
  antes, o painel social do
  cenário em que se
  desenvolverá a
  peripécia.
O cotidiano do povo é registrado com
             bom humor
• Há, no livro, constantes alusões a instrumentos,
  danças e modinhas da época retratada. Chega
  mesmo a transcrever três trechos de modinhas
  populares no tempo: uma cantada por Leonardo,
  durante a festa do batizado do filho; duas outras
  cantadas por Vidinha, numa de suas patuscadas com
  os primos e amigos.
• Em mais de uma passagem, fornece detalhes sobre o
  fado, apresentado como dança típica do Brasil.
Documento linguístico
• Os namorados das Memórias tratam-se por senhor e senhora.
"– A senhora... sabe... uma coisa?
E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola.
Luisinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom:
– Então... a senhora... sabe ou... não sabe?
E tornou a rir-se do mesmo modo. Luisinha conservou-se muda.
– A senhora bem sabe... é porque não quer dizer... Nada de resposta.
– Se a senhora não ficasse zangada... eu dizia... Silêncio.
– Está bom... eu digo sempre... mas a
senhora fica ou não fica zangada?
Luisinha fez um gesto de quem estava impacientada.
– Pois então eu digo... a senhora não sabe... eu... eu lhe quero... muito bem."
Documento linguístico
• A mãe de Vidinha, no capítulo 8 da segunda
  parte, dirige-se informalmente à filha na
  segunda pessoa do plural, dizendo: “Ai,
  criatura, quereis que vos reze um responso
  para cantardes uma modinha?”
• Leonardo age mais do que fala.
Inclusão do leitor
• Um dos importantes traços estilísticos de Memórias
  é a constante referência do narrador ao leitor. Isso
  certamente tem a ver com o propósito de
  estabelecer um suposto diálogo amigável com o
  público do jornal, isto é, esse traço revela o interesse
  de facilitar a recepção da obra, como deixa ver o
  seguinte fragmento:
• “Dadas as explicações do capítulo precedente,
  voltemos ao nosso memorando, de quem por um
  pouco nos esquecemos. Apressemo-nos a dar ao
  leitor uma boa notícia: o menino desempacara do F, e
  já se achava no P, onde por uma infelicidade
  empacou de novo.”
Inclusão do leitor
• Essa é a razão de suas constantes referências
  metalinguísticas, chamando a atenção do
  leitor para acontecimentos apresentados
  anteriormente ou para os que está prestes a
  apresentar.
Contra o romantismo
        • Manuel Antônio faz
          questão de manter o
          equilíbrio emocional,
          primando pela clareza e
          ridicularizando todo e
          qualquer
          transbordamento
          emotivo em suas
          personagens.
Enredo
•   Origens e Infância do Memorando
•   Leonardo Pataca, a Cigana e o Vidigal
•   O Padrinho e a Vizinha
•   O Mestre-de-Cerimônias
•   Luisinha
•   Graves Infortúnios
•   Vidinha em Cena
•   Diaburas do Novo Granadeiro
OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013
falecomyuri1@hotmail.com
Machado de Assis




             falecomyuri1@hotmail.com
Memórias Póstumas de Brás Cubas
       Machado de Assis
Memórias póstumas de Brás Cubas
Publicadas em capítulos na Revista Brasileira, de 15
de março a 15 de dezembro de 1880 (Em livro =
1881), as Memórias póstumas de Brás Cubas revelam
uma narrativa inovadora, revolucionária, que, através
de seu protagonista- narrador “defunto-autor”,
promovia a “viravolta machadiana.”
A “viravolta machadiana”

A perspectiva universal e filosófica
A dedicatória em forma de epitáfio (inscrição
                 tumular)

Ao verme
que
primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver
dedico
como saudosa lembrança
estas Memórias Póstumas
A dedicatória

• Chocante ou irônica pouco importa... Fugindo ao
  senso comum, Brás Cubas dedica suas memórias
  aos vermes, como se não houvesse alguém digno
  de lembrança, deixando em evidência as “tintas” de
  seu pessimismo, através de sua pena carregada de
  humor.
A dedicatória
• O verbo “roeu” (no passado), significa que Brás
  Cubas não é, materialmente, mais nada, não deve
  satisfações a ninguém. É livre, soberano e absoluto
  para pintar a vida, as pessoas, a si próprio: “... estas
  são as memórias de um finado, que pintou a si e aos
  outros, conforme lhe pareceu melhor e mais certo.”
O defunto autor
Um autor defunto ou um defunto autor?



• Do túmulo (campa) um “defunto autor” examina de
  forma memorialística sua vida. Apesar de morto,
  nada comenta sobre sua existência além-túmulo.
  Está interessado apenas em recordar o passado e
  submetê-lo à análise e ao julgamento definitivo de
  seu significado.
Por que um “defunto autor”?


• A) Símbolo do fim da concepção romântica.

• B) Desafio do escritor frente às propostas do Real-
  Naturalismo, já que uma fala vinda do túmulo
  contrariava os princípios de racionalidade e
  verossimilhança.
Por que um “defunto autor”?


• C) A idéia machadiana de que só um morto
  poderia apresentar os fatos de sua existência
  sem escrúpulos, sem fantasias e sem temor da
  opinião pública.
Por que um “defunto autor”?



• Enfim: Só um morto – por não ter nada a perder –
  revelaria seus intuitos mesquinhos, seu egoísmo,
  sua impotência para a vida prática e sua
  desesperada sede de glória.
Por que um “defunto autor”?



• Só alguém que ultrapassasse o limite fatal
  seria capaz de apontar a verdade definitiva de
  sua própria condição.
O prólogo: Ao leitor
• Referências:
• Stendhal = (pseudônimo de Henri Beyle) escritor
  francês romântico que abordou, em seus romances,
  paixões violentas e perfis irônicos e psicológicos de
  seus personagens (Obra mais famosa = O vermelho
  e o negro – Sua obra de “cem leitores” = Do Amor)
Prólogo: Ao leitor
• Recepção da obra:
• “... O que não admira, nem provavelmente
  consternará, é se este outro livro não tiver os cem
  leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e
  quando muito, dez. Dez? Talvez cinco... Fica privado
  da estima dos graves e do amor dos frívolos, que
  são as duas colunas máximas da opinião.”
Prólogo: Ao leitor
•   Referências:
•   Sterne = escritor inglês
•   Xavier de Maistre = escritor francês
•   Ambos de estilo digressivo e irônico (autores
    admirados por Machado)

• “Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da
  melancolia” = Visão irônica e pessimista.
Prólogo: Ao leitor
• Diálogo com o leitor = sugestão = que o leitor
  mude sua postura e prefira a reflexão do que a
  anedota, ou...

• “... se te agradar , fino leitor, pago-me da
  tarefa; se te não agradar, pago-te com um
  piparote, e adeus.”
Ironia ao leitor
• O leitor também é parte, além dos personagens e
  seus atos, da “galhofa” do autor.
• Capítulo LXXI(71) O senão do livro

 “Começo a arrepender-me deste livro... é
 enfadonho, cheira a sepulcro... porque o maior
 defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
 envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
 narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente,
 e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
 guinam à direita e à esquerda, andam e param,
 resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu,
 escorregam e caem...”
A estrutura narrativa

• O diálogo constante com o leitor e as interrupções
  na narrativa para digressões, saltos de um assunto
  para o outro, do particular para o geral, do abstrato
  para o concreto e vice-versa, do real para o
  imaginário, as pilhérias, as teorias filosóficas, as
  citações, as teorizações sobre a própria técnica
  narrativa, a metalinguagem...
A estrutura narrativa
• ... constituem inúmeros subterfúgios que tornam a
  história contada por Brás um mosaico de peças,
  aparentemente desconexas, que formam uma
  narrativa de estrutura híbrida (irregular),
  descontínua, com capítulos que se intercalam a
  outros produzindo a quebra da linearidade do
  enredo.
A estrutura narrativa

• Entretanto, todos esses aspectos não deixam
  de estarem ligados a um fio condutor que é a
  própria vida do defunto autor, marcada pelo
  tédio e pelo vazio.
O narrador
• Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma
  obra em que os acontecimentos ou sua
  seqüência são menos importantes do que a
  atmosfera de ambigüidade que perpassa toda
  a narrativa. Se num momento o narrador se
  mostra humilde, noutro se proclamará
  superior a tudo e a todos;...
O narrador
• ... trata-se, portanto, de um “narrador não
  confiável e volúvel” que, com sarcasmo, cinismo e
  tédio, expõe sua mediocridade, como salienta no
  célebre capítulo “Curto, mais alegre”, com a
  saborosa liberdade de quem morreu e já não tem
  platéia para espreitar suas ações e, portanto, pode
  apreciar o “desdém dos finados”, ou seja, sua
  “franqueza de defunto” não teme a opinião pública
  e pode “apresentar os fatos de sua existência sem
  escrúpulos ou fantasias.”
Capítulo XXIV: Curto, mas alegre
• “Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe
  exponho e realço a minha mediocridade; advirta
  que a franqueza é a primeira virtude de um
  defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste
  dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente
  a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e
  os remendos, a não estender ao mundo as
  revelações que faz a consciência;...
• ... e o melhor da obrigação é quando, à força de
  embaçar os outros, embaça-se um homem a si
  mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame,
  que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é
  um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença!
  Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode
  sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas,
  despregar-se, despintar-se, desafeitar-se,
  confessar lisamente o que foi e o que deixou de
  ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem
  amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem
  estranhos; não há platéia...”
A narrativa

• Assim, evidencia-se uma narrativa irônica e
  niilista sobre a precariedade humana que
  emerge da vida, das relações e dos projetos
  fracassados e perecíveis de um típico
  representante de uma elite dominante e
  parasitária.
• Ou seja, Brás Cubas pertence ao mundo dos
  grandes proprietários e, vivendo de rendas que
  herdou de sua família, praticamente durante toda a
  sua vida, foi um indivíduo cheio de caprichos que
  levou sua vazia existência sem perspectivas. E todas
  as suas transgressões e atitudes mesquinhas
  expressam a falta de ética e escrúpulos de uma elite
  escravocrata e tacanha do Brasil do século XIX.
Crítica ao Romantismo
• Capítulo XIV , O primeiro beijo
• Brás Cubas se descreve aos 17 anos:
  “... o corcel das antigas baladas, que o Romantismo
   foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas
   ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal
   ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o
   Realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes e,
   por compaixão, o transportou para os seus livros.”
Crítica ao Romantismo
• No trecho citado, o crítico Machado de Assis opõe a
  crueza da realidade da nova escola (o Realismo) à
  esgotada idealização do Romantismo; como o
  cavalo do herói medieval, os temas da literatura
  realista são colhidos à margem (da sociedade; da
  superada moda literária) e denunciam um estado
  de putrefação = “comido de lazeira e vermes”
Capítulo VII = O delírio
Capítulo VII = O delírio
• Em estado de transe causado pela febre, Brás Cubas
  é arrebatado por um hipopótamo, que o leva à
  origem dos séculos. Surge então uma mulher
  imensa, de contornos indefinidos, que se diz
  chamar Natureza ou Pandora. Quando, por fim,
  Brás vê de perto o rosto da estranha, percebe-lhe a
  impassibilidade egoísta e sua eterna surdez. Ou
  seja, é alguém indiferente ao clamor humano.
Capítulo VII = O delírio


• Ela conduz o defunto-autor ao alto de uma
  montanha e lhe permite contemplar a passagem
  dos séculos e entender o absurdo da existência,
  sempre igual, centrada apenas no egoísmo e na luta
  pela sobrevivência. O personagem vê a História
  como uma eterna repetição:
Capítulo VII = O delírio
• “flagelos, misérias, cobiça, cólera, inveja, ambição,
  fome, vaidade, melancolia, riqueza, agitando o
  homem como um chocalho até destruí-lo como um
  farrapo.” “A regra é egoísmo, conservação e
  satisfação do próprio eu: lei de Brás Cubas e dos
  homens que aparecem no delírio, fantoches
  sacudidos pelas paixões, variedades de um mal que
  devora o homem, a buscar a quimera da felicidade
  que se some na ilusão.”
Capítulo VII = O delírio
• Não há, portanto, um sentido de evolução na
  humanidade. A natureza humana pouco ou
  nada se modifica. O homem procura
  inutilmente a “quimera da felicidade”, e esta,
  sem deixar apanhar-se, apenas “ria, como um
  escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.”
• E Brás Cubas vendo o mundo com “olhar
  enfarado”, implora mais um pouco de vida.
Capítulo VII = O delírio
• Como assinala Augusto Meyer, Brás Cubas
  revela um sentimento ambivalente diante do
  infinito ciclo humano: o de vertigem e
  desamparo diante da inutilidade de todas as
  buscas e, ao mesmo tempo, o de sarcasmo
  consciente contra a fatalidade da existência. A
  ironia é a defesa do personagem contra a
  natureza cega e insensível.
Capítulo VII = O delírio
• Ainda segundo Meyer, ao “passar em revista a
  monotonia da miséria humana”, Brás Cubas
  dá a “impressão de quem vai caindo num
  vazio espantoso e na queda goza a volúpia de
  cair.” Daí a aparente e enigmática maneira
  como Pandora o define: “Grande lascivo,
  espera-te a voluptuosidade do nada”.
O encontro com Quincas Borba
• O primeiro encontro de Brás Cubas com Quincas
  Borba, ocorre no capítulo LIX, Um encontro.

• Amigo de infância de Brás, aparece na condição de
  mendigo, furta-lhe o relógio e depois reaparece
  rico (herdeiro de um parente mineiro) e passa a
  freqüentar a casa do amigo, até sua morte,
  expondo-lhe, sempre, elementos de sua singular
  filosofia: “o Humanitismo”.
Quincas Borba & O Humanitismo
Quincas e o Humanitismo
• O humanitismo é o ponto de contato entre
  Memórias póstumas de Brás Cubas e o Quincas
  Borba. A teoria do Humanitas é uma caricatura
  feroz do positivismo e do cientificismo dominantes
  na época. A personificação da impassibilidade
  egoísta, da eterna surdez, da vontade imóvel é,
  afinal, Humanitas, “o princípio das coisas que não é
  outro senão o mesmo homem repartido por todos
  os homens”.
• Enfim, o “Humanitismo” é, conforme a visão aguda de
  Machado de Assis, uma impiedosa sátira complementar
  das ideias do determinismo social, que constituíam a
  base filosófica do Realismo. O “Humanitismo” é uma
  caricatural doutrina híbrida de Positivismo e Darwinismo
  Social. Ou seja, uma hilariante paródia de todos os
  “ismos”, com a mesma visão fatalista (a supremacia das
  raças = a lei do mais forte) que constituíram as doutrinas
  científicas que dominaram a Europa, no século XIX, e
  chegaram, naturalmente, ao Brasil.
Os amores de Brás Cubas
Os amores de Brás Cubas
• Marcela = a cortesã = seu primeiro amor, que
  lhe amou “durante quinze meses e onze
  contos de réis”.

• Eugênia = a “flor da moita”, coxa e infeliz.

• Eulália = com quem pretendia casar mas que
  morre de febre amarela com apenas 19 anos.
Marcela: a prostituta
• A bela dama espanhola, alegre e sem escrúpulos,
  luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e rapazes, a
  primeira mulher de sua vida, a doce prostituta
  Marcela. Ela o amou “durante quinze meses e onze
  contos de réis; nada menos”. Seu pai, logo que teve
  conhecimento dos onze contos, uma fortuna para a
  época, ficou furioso e o enviou para estudar na
  Europa, receoso do envolvimento profundo do filho
  com uma prostituta.
Eugênia: a “flor da moita” e... coxa...
• Eugênia tem um defeito de nascença: é coxa.
  Todos esses aspectos fazem com que ele confirme
  que não deve envolver-se seriamente com ela, já
  que estava em condição social inferior à sua e não
  lhe era possível esquecer a origem da moça: “uma
  flor que foi gerada na moita”. Além do mais, ela
  era, segundo o seu cinismo e sarcasmo, coxa. E
  pergunta-se: “Por que bonita, se coxa? Por que
  coxa, se bonita?”
• E, assim, quando resolve despedir-se de Eugênia,
  alegando que precisava descer da Tijuca, depara-se
  com a nobreza de caráter da menina que não leva
  em consideração suas hipérboles frias e evasivas e o
  encoraja a partir, pois, assim, escaparia do ridículo
  de casar-se com ela. Ou seja, talvez a “Vênus
  manca” de Brás seja a única personagem dessa
  história que demonstra dignidade e caráter.
Vírgilia, o maior amor de sua vida
• Virgília foi o maior amor de sua vida, com quem
  estabelece uma relação adúltera, já que ela torna-
  se esposa do deputado Lobo Neves.
• Virgília, com seus braços tentadores, nascera para
  ser bela um momento, trair o primeiro noivo com o
  futuro marido, e este com aquele, quase sem
  perceber o que fazia, num amoralismo ingênuo, e
  depois envelhecer e morrer como vivera, sem
  pensar que há, para catalogar as ações humanas,
  um código do bem e do mal.
Eulália, a “flor do pântano”.
• Eulália, com quem pretendia casar, visto que a
  moça comportava-se com altivez, e ele pretendia
  “arrancar aquela flor do pântano em que vivia”,
  morre de febre amarela com apenas 19 anos.
Brás Cubas
BRÁS CUBAS
• Homem de posses, nunca trabalhara,
  dedicando-se, antes, a imaginar estratégias
  pessoais que poderiam torná-lo famoso e
  admirado. Moveu-o sempre o “amor da
  glória”. Falecido aos 64 anos, torna-se claro
  que ele sempre fora um ser destituído de
  vontade e, portanto, incapaz de qualquer ação
  significativa (social ou individual). Trata-se,
  pois, de um homem inútil, entediado, com a
  “volúpia do aborrecimento”, que parece
  expressar o parasitismo e a falta de
  perspectivas da elite escravocrata brasileira.
BRÁS CUBAS

• Possui uma natureza complexa, cheia de
  contradições, ambicioso e retraído, vaidoso e
  displicente, apaixonado e indiferente. Sua
  alma “foi um tablado em que se deram peças
  de todo gênero, o drama sacro, o austero, o
  piegas (ridículo), a comédia louçã, a
  desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias.”
BRÁS CUBAS
• Infância mimada & juventude despreocupada:
• Narrando-lhe a primeira infância, Machado, tão
  acusado de se haver alheado aos grandes
  problemas do seu tempo, traçou, sem rodeios, a
  crítica da organização servil e familiar de então.
  Mostrou o mal que fez a escravidão a brancos e
  negros. Sem o moleque Prudêncio para lhe servir
  de cavalo, sem as pretas para alvos passivos das
  suas judiarias , sem os costumes relaxados que a
  promiscuidade das escravas com os...
BRÁS CUBAS
...sinhô-moços facilitava, o Brás Cubas não teria
   sido o que foi. Também a vaidade do menino era
   cultivada pela beata admiração dos pais. Tudo
   contribuiu para fazer dele um perfeito egoísta.
   Representou o resultado do meio e da educação
   viciada agindo sobre um temperamento
   mórbido.
BRÁS CUBAS
• Rico, conheceu todas as facilidades, todos os
  prazeres. E porque teve tudo, mas não se deixou
  empolgar por coisa alguma, cedo conheceu o tédio,
  “esta flor amarela, solitária e mórbida, de um cheiro
  penetrante e sutil.”
• O TÉDIO, irmão do ceticismo, o tédio do herói e do
  autor, é a personagem central do livro.
“Brás Cubas viajou à roda da vida.”

• UMA VIAGEM À RODA DA VIDA = A vida do
  homem que vive em sociedade, afeito às
  formalidades, às convenções, governado pelo
  onipresente olhar da opinião. A vida marcada por
  egoísmos, atos mesquinhos motivados pela
  incessante necessidade de o homem superar e
  embaçar o seu semelhante.
A morte de Brás Cubas
Morte de Brás Cubas
• Enquanto medita sobre a forma de criar um
  “medicamento sublime” – um emplasto que
  aliviasse a humanidade do tédio e da melancolia –
  e, assim, tornar-se uma personalidade conhecida
  e invejada, Brás recebe um golpe de vento, adoece
  e, obcecado pela idéia fixa de inventar o emplasto
  que levaria seu nome, não trata da pneumonia e
  morre.
Capítulo final = Das negativas
• Visão sarcástica com sabor de escárnio?

• Ironia a pobre humanidade e sua sede de
  permanência e preservação?

• Pessimismo ou uma dor escamoteada?
Capítulo final = Das negativas
• No último capítulo, o narrador Brás Cubas faz um
  último balanço das perdas e dos ganhos de sua
  existência, convicto de ter saído quite com a vida. É
  verdade que não se tornara califa nem ministro, não
  se casara nem criara o emplasto que lhe daria
  acesso à celebridade. Contudo, essa impressão de
  sair da vida sem “míngua nem sobra” se desfaz
  quando Brás dá-se conta de que havia um saldo
  positivo a seu favor: “Não tive filhos, não transmiti
  a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.
O Rio de Janeiro de Brás Cubas
OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013
falecomyuri1@hotmail.com
A CIDADE         e as   serras
RO M A N C E D E E Ç A D E Q U E I R Ó S




                     falecomyuri1@hotmail.com
“o homem só é superiormente feliz quando é
                        superiormente civilizado”
Jacinto de Tormes, “Príncipe da Grã-Ventura”
O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX                           A CIDADE e   as serras

Evolucionismo:
O HOMEM EVOLUI COMO QUALQUER OUTRO SER VIVO E ATRAVÉS DA LEI DA SELEÇÃO
NATURAL

Positivismo:
SÓ O DADO POSITIVO (científico) É VÁLIDO. O DADO NEGATIVO (intuitivo) DEVE SER
DESCARTADO.

Determinismo:
TODAS AS ESCOLHAS DO HOMEM SÃO DEFINIDAS PELO MEIO, PELA RAÇA E PELA
CULTURA.

Socialismo:
TODOS OS MEIOS DE PRODUÇÃO PERTENCEM À COLETIVIDADE.
O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX        A CIDADE e   as serras




   • Gustave Flaubert: Madame Bovary
   • Oposição ao Romantismo: Questão Coimbrã
   • Antero de Quental X Antonio Castilho
   • Anti-burguês, Anti-monárquico, Anti-Clerical
   • Portugal: Geração de 70
   • EÇA DE QUEIRÓS
João Maria Eça de Queirós
     (1845 - 1901)
AS FASES DE EÇA DE QUEIRÓS                                A CIDADE e    as serras

                1ª fase – Romântica (Prosas Bárbaras): temas e idealizações
               Românticas, descrições já Realistas e estilo de feições
               Simbolistas.
               2ª fase – Realista (O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os
               Maias): romance de costumes, com a análise objetiva e crítica
               da sociedade.

               3ª fase - Realista de Transição (A Ilustre Casa de Ramires, A
               Cidade e as Serras, Últimas Páginas): moderação no sarcasmo
               e na ironi, sentimento mais afetivo em relação à Portugal.
A CIDADE E AS SERRAS



Publicado em 1901, depois da morte do autor.




 Duas concepções de vida: vida no campo
           e a vida na cidade.
A CIDADE E AS SERRAS:
       UM OUTRO EÇA
             DE 1875 até 1900:
Eça crítico dos excessos, dos vícios e desvios
   da sociedade burguesa. Eça pessimista,
 irônico, descrente na mudança do homem.
              EÇA SOCIALISTA
       EM A CIDADE E AS SERRAS:
  Eça crente na redenção de Portugal. Eça
    moderado, otimista. EÇA HUMANO.
visão
• Visão mais livre e mais humanitária, pois o autor supera o
  esteticismo cientificista.
• Reflexão madura do significado da existência do homem à
  face da terra.
• Acentuada idealização da natureza, entendida como remédio
  para os males gerados pela civilização urbana.
• Valorização de uma aristocracia rural degradada pela adoção
  de modelos inautênticos.
• O homem só é verdadeiramente feliz, longe da civilização, da
  máquina, do progresso.
• Culto à Natureza e à simplicidade.
GÊNERO
• Alegórico: felicidade se encontra na vida
  simples e laboriosa do meio rural e não na
  civilização.
• É preciso se despir dos valores artificiais da
  cidade/civilização.
tempo
• 1820- 1893
linguagem
• Primeira e segundas fases: definidora, cheia
  de pormenores psicológicos e patólogicos.
• Terceira fase: aproxima-se do lirismo    (
  principalmente no campo)
REALISMO/NATURALISMO
ROMANCE DE TESE:
Tese inicial: só a tecnologia (CIDADE)
traz felicidade
Antítese: só a simplicidade (SERRAS)
traz felicidade
Síntese: uma vida equilibrada traz
felicidade.
(alguma tecnologia + simplicidade)
estrutura
• Advertência: a obra é póstuma.
- Capítulo 1 ao 8 : cidade de Paris, 202.
          urbano, tédio irresistível,
          ironia,pessimismo atroz.
          Natureza é a bestialidade.Civilização é produto
          da cidade
          Suma Potência + Suma Ciência=
               Suma Felicidade.
- Capítulo 8 ao16:Antítese:Campo,Natureza
          rural, idílio campestre, lirismo, cores
          da Natureza. Renovação.
narrador
. Primeira pessoa.
• Não é onisciente.
• Contamina o texto com sua visão de mundo:
  subjetividade. Por meio dele, nota-se a tese. José
  Fernandes – narrador e personagem secundário,
  amigo de Jacinto, culto, viajado, afetuoso,
  compassivo, compreensivo, raízes rurais.
• È o duplo de Jacinto, pois acredita na superioridade
  da natureza e na regeneração por meio do campo.
• Avô Jacinto Galeão
Dom Miguel   • D, Angelina Fafes

             • Cintinho
Ida para a
  frança
             • Filha de um desembargador, Teresinha


 Na frança
             • Jacinto Tormes
  nasce
Personagem- Jacinto: metáfora de
                 Portugal.
• Jacinto- mitologia grega- flor: Jovem de notável beleza, morto,
  acidentalmente pelo deus Apolo. Para imortalizar Jacinto,
  Apolo, deus da cultura e da civilização, transforma-o em uma
  flor.
• . Representa a elite ultraconservadora.
• Até os trinta anos: inteligente, sortudo, entusiasta do
  progresso, acumula conhecimentos. Príncipe da grã-ventura.
  Acreditava que o homem “só é superiormente feliz quando é
  superiormente civilizado”.
• Depois dos trinta: inteligente, chique, culto, cheio de
  prestígio,   mas      não     é     feliz: triste,   decadente
  fisica/mentalmente.Sofre com a fartura. Lia os pessimistas,
  principalmente Schopenhauer.
• No campo: reaprende a simplicidade,
  aproxima-se de suas raízes, renova-se pelo
  contato com a natureza. Lia Virgílio, As
  Geórgicas.
 - Torna-se um benfeitor dos pobres. Afirma
  não ser migueleista, mas socialista: “ser pelos
  pobres”.
Personagens- tipo/caricatura
• Avô Jacinto: gordíssimo e riquíssimo fidalgo,
  casado com dona Angelina de Fafes, morava
  em Portugal e era devoto do infante dom
  Miguel. Quando dom Miguel é exilado para a
  França, Jacinto muda-se com a esposa e o
  filho Jacinto (Cintinho) para a França e compra
  o 202.
• Cintinho – pai de Jacinto, o protagonista da
  história. Seco, chupado, encurvado e
  tuberculoso. Casa-se com Teresinha Velho. Ela
  engravida, mas Cintinho morre (1851), antes
  do filho nascer.
• D. Miguel – filho de Dom João VI, herdeiro ao
  trono de Portugal.
• 1828- Constituição. Dom Miguel é aclamado
  rei de Portugal: estabeleceu o absolutismo no
  país.
• 1832/1834- Dom Miguel entra em guerra
  contra D. Pedro, que tem o apoio dos liberais.
• Dom Miguel é exilado.
Personagens do campo: simplicidade,
                 amizade.
• Tio Alfonso.
• Tia Vicença.
• Silvério, o caseiro.
• Joana, esposa de Jacinto: casamento,
  equilibrio.
• Jacintinho e Teresinha: filhos de Jacinto.
Personagens da cidade: frivolidade,
    aparência, hipocrisia, vaidade, lisonja,
     falsidade, elegância, traje sedutores.
• Madame de Verghane.
• Princesa de Carman.
• Grã-duque Casemiro
• Madame Joana de Oriol: amante de Jacinto. Vivia das
  aparências.
• Condessa de Tréves.
• Duque de Marizac
• Efraim
Sexo, mecanicismo, instinto: naturalismo

• Diana, cocote.
• Madame Colombe, por quem Zé Fernandes
  tem uma “infecção sentimental”.
outros
• Grilo- criado de Jacinto:
        Seu Jacinto sofre de fartura.
        Seu Jacinto brotou.
- Marício de Mayole- amigo de Jacinto. Por meio
  da conversa, nota-se que Jacinto já conhecia
  vária teorias: Nietzschianismo, culto ao eu...
Espaço
• França, Campos Elíseos, 202: microcosmo
  social: cheio de prodígios da tecnologia,
  desejo de acumular: 30 mil livros, elevadores,
  eletricidade, encanamento... Inutilidade da
  parafernália mecânica.
• Portugal, Solar em Tormes:
  rústico, calmo, renovador, idílico.
  Obs: fome no campo, desigualdade social.
França
Portugal e França
Portugal
características
•   Realismo.
•   Impressionismo.
•   Zoomorfismo.
•   Naturalismo.
•   Estética do feio.
•   Ironia
•   Humor.
•   Caricatura.
•   intertextualidade.
Por fim
• 1- negar o campo, elogio ao progresso e à
  civilização.
• 2 – afirmação do campo, regeneração das
  virtudes humanas.
• 3 – equilíbrio: campo e cidade se reconciliam,
  sob o domínio da natureza: fonte de felicidade
  e paz.
A CIDADE e   as serras

O texto é uma ampliação de um conto intitulado
"Civilização" (1892). Conta-se a história de Jacinto,
neto de D. Galião. Órfão de pai, Jacinto nasceu e
cresceu em Paris, ficando desde cedo maravilhado
com a cidade e com todas as invenções e tecnologia
da época (é o período conhecido como Belle
Époque). Formulou então uma teoria, segundo a
qual, para um indivíduo tornar-se feliz deveria ser
"superiormente civilizado". Assim, reúne em seu
palacete tudo o que a civilização industrial produzira
até então: elevadores, telefones, engenhocas as
mais diversas, além de uma biblioteca de mais de 30
mil volumes.
“Com estes olhos que recebemos da Madre Natureza, lestos e
sãos, nós podemos apenas distinguir além, através da Avenida,
naquela loja, uma vidraça alumiada. Nada mais! Se eu porém aos
meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de
corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões
de geléia e caixas de ameixa seca. Concluo, portanto, que é uma
mercearia. Obtive uma noção: tenho sobre ti, que com os olhos
desarmados vês só o luzir da vidraça, uma vantagem positiva. Se
agora, em vez destes vidros simples, eu usasse os de meu
telescópio, de composição mais científica, poderia avistar além, no
planeta Marte, os mares, as neves, os canais, o recorte dos golfos,
toda a geografia de um astro que circula a milhares de léguas dos
Campos Elísios. É outra noção, e tremenda! Tens aqui, pois, o olho
primitivo, o da natureza, elevado pela Civilização à sua máxima
potência da visão. E desde já, pelo lado do olho, portanto, eu,
civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque descubro
realidades do universo que ele não suspeita e de que está privado.
Aplica esta prova a todos os órgãos e compreende o meu
princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se tira
pela incansável acumulação das noções, só te peço que compares
Renan e o Grilo... Claro é, portanto, que nos devemos cercar de
Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas
proporções a vantagem de viver.”
A CIDADE e   as serras
A história é narrada por José Fernandes, melhor amigo
de Jacinto, que viera de uma propriedade rural localizada
em Guiães, Portugal, e fora a Paris estudar. José
Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior
atenção o amigo; suas intensas atividades o
desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que
Jacinto foi perdendo a credulidade, percebendo a
futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade
de muitas coisas da sua tão decantada civilização. Nos
raros momentos em que conseguiam passear,
confessava ao amigo que o barulho das ruas o
incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um
período de nítido desencanto. Alguns incidentes
contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo
de Jacinto: o rompimento de um dos tubos da sala de
banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto,
inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma
pilha de telegramas, alguns inclusive com um riso
sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que
não mais apareceria pelo 202 sem que tivesse uma bóia
de salvação.
A CIDADE e   as serras
As reuniões sociais estavam ficando maçantes. Em uma
recepção ao Grão-Duque, Jacinto já não agüentava o
farfalhar das sedas das mulheres quando lhes explicava o
uso dos diferentes aparelhos, o tetrafone, o numerador de
páginas, o microfone... O criado veio lhe informar que o
peixe a ser servido ficara preso no elevador e os
convidados puseram-se a pescá-lo, inutilmente, porque o
peixe acabou não indo para a mesa, fato que deixou ainda
mais aborrecido o anfitrião.
A CIDADE e   as serras
“ Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessava uma
densa névoa de tédio, tão densa, e ele tão afundado na sua
mole densidade, que as glórias ou os tormentos de um
camarada não o comoviam, como muito remotas, inatingíveis,
separadas da sua sensibilidade por imensas camadas de
algodão. Pobre Príncipe Grã-Ventura, tombado para o sofá de
inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso
fastio caíra, depois de renovar tão brava mente todo o recheio
mecânico e erudito do 202, na sua luta contra a força e a
matéria!”
A CIDADE e   as serras


Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel criado Grilo
sobre o que está ocorrendo com Jacinto. O homem
respondeu com tamanho conhecimento de causa que
espantou o narrador. Uma simples palavra poderia
definir todo o tédio de que era acometido: o patrão sofria
de “fartura”.
“ Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a
fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de
cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava,
iluminado) o homem do século XIX nunca poderia
saborear plenamente a "delícia de viver", ele não
encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que
o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta
numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! (...) Não se ocupara mais
das suas sociedades e companhias, nem dos telefones de
Constantinopla, nem das religiões esotéricas, nem do
bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam
sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as varria
tristemente como o lixo de uma vida finda. Também
lentamente se despegava de todas as sua convivências.
(...) Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem
cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo,
seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio
202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização,
não lhe desse uma sesação dolorosa de abafamento, de
atulhamento!”
A CIDADE e   as serras
Do maquinário instalado no palacete de Jacinto, nada
funciona adequadamente. Os livros são, na verdade,
reduzidos a objetos de ostentação, uma vez que o
"Príncipe da Grã Ventura" (alcunha pela qual o narrador
se refere a Jacinto) não os lê, sintoma entre outros do
desânimo e descrença na civilização que abraçara com
tanto ímpeto. Atira-se então à leitura do livro bíblico
Eclesiastes, segundo o qual "tudo é vaidade", e à filosofia
pessimista de Schopenhauer, para quem a vida é um
pêndulo que oscila entre o tédio e o sofrimento.
A CIDADE e   as serras
Em um passeio que fazem os dois amigos pelos
arredores de Paris, na colina da Basílica do Sacré-Coeur,
José diz ao amigo:

"o homem pensa que tem na cidade a base de toda a sua
grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria", e Jacinto
concorda: "sim, é talvez tudo uma ilusão... e a cidade a maior
ilusão!“

Zé Fernandes, nesse passeio, continuou a filosofar,
acrescentando preocupações de caráter pessoal,
indagando a posição dos pequenos que, como vermes, se
arrastavam pelo chão, enquanto os poderosos os
massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando
aos pobres não mais que algumas migalhas.
Religiosamente, acreditava ser necessário um novo
Messias que ensinasse às multidões a humildade e a
mansidão.
Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade e os gozos
especiais que ele a cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela
sofre, e com sofrimento especiais, que só nela existem! (...) A tua
Civilização reclama incansavelmente regalos e pompas, que só
obterá, nesta amarga desarmonia social, se o capital der ao
trabalho, por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada.
Irremediável é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe
pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da
Cidade. (...)
Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da
Cidade, estendida na planície, fosse escandalosa. E caminhamos
devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando -
considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana,
trazida pelo esforço humano. Ah, os Efrains, os Trèves, os vorazes
e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou
afrouxarão a exploração das plebes, se uma influência celeste, por
milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as
almas! O burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado
- e contra ele são impotentes os prantos dos humanitários, os
raciocínios dos lógicos, as bombas dos anarquistas. Para amolecer
tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a esperança da
Terra novamente posta num Messias!...
Por motivos familiares, Jacinto muda-se para sua
propriedade rural em Tormes, vizinha à de José Fernandes;
antes, envia para lá uma série de aparelhos e livros.
Partem os dois amigos de volta a Portugal. José Fernandes
estava feliz em rever a pátria; Jacinto, aborrecido e
enfadado principalmente porque, em Medina (Espanha), as
malas ficaram em compartimentos errados quando foi feita
a baldeação. O narrador, com o intuito de aclamar o amigo,
diz-lhe que a Companhia cuidaria de tudo. E ficaram os
dois só com a roupa do corpo. Enfim, chegaram a Tormes.
A CIDADE e   as serras


...e ambos em pé, às janelas, esperamos com alvoroço a
pequenina estação de Tormes, termo ditodoso das nossas
provações. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio,
entre rochas, com sues vistoso girassóis enchendo um
jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o
pátio, e por trás, a serra coberta de velho e denso arvoredo.
Do mesmo modo que idealizara a vida urbana, Jacinto
passa a idealizar a vida campesina. Aos poucos,
porém, percebe que o ideal é unir o que a sociedade
urbana tem de melhor e útil, como por exemplo o
telefone, com a simplicidade dos camponeses. Casa-
se com Joaninha, uma prima de Zé Fernandes, e tem
com ela dois filhos, Jacinto e Teresa. Sua vida atinge o
equilíbrio, sem idealizações exageradas.
A Cidade e as Serras mostra uma relação
entre as elites e as classes subalternas na
qual aquelas promovessem estas socialmente,
como faz Jacinto ao reformar sua propriedade
no campo e melhorar as condições vida dos
trabalhadores. Por meio do personagem
central, Jacinto de Tormes, que representa a
elite portuguesa, a obra critica-lhe o estilo de
vida afrancesado e desprovido de
autenticidade, que enaltece o progresso
urbano e industrial e se desenraiza do solo e
da cultura do país. Na obra, a apologia da
natureza não pode ser confundida com o
elogio da mesmice e da mediocridade da vida
campestre de Portugal. Ao contrário, trata-se
de agigantar o espírito lusitano, em seu
caráter ativo e trabalhador.
Foco narrativo
Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as
Serras, como a maioria dos romances de
Eça de Queirós, há um narrador-
personagem, José Fernandes, o qual não se
confunde com o protagonista da obra,
Jacinto de Tormes. Este narrador coloca-se
como menos importante do que o
protagonista, como podemos perceber, por
exemplo, no início da obra. Nos primeiros
parágrafos do livro o narrador, em vez de
apresentar-se ao leitor, coloca-se em
segundo plano para apresentar toda a
descendência dos de Tormes, até aparecer a
figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe
tratamento diferenciado, parecendo idealizar
Jacinto, na medida em que o chama de
"Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido
estudantil do protagonista.
Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade,
empreendeu uma viagem que o reencontrou
consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem,
que é exterior e interior, inclui a pátria
portuguesa e se reveste de uma significação
particular, pode ser lida como um processo de
auto-conhecimento:
um novo Portugal e um novo português se
percebem nas serras que querem utilizam da
cidade o necessário para se civilizarem sem se
corromperem.
A Cidade e as Serras é um romance no
qual se destaca a categoria espaço, na
medida em que os ambientes são
fundamentais para a compreensão da
história, destacando-se os contrastes por
meio dos quais se contrapõem. Assim, a
amplidão da quinta de Tormes contrasta
com a estreiteza do universo tecnológico
do 202, o que aponta para a oposição
entre o espaço civilizado e o espaço
natural, presente em todo o romance.
Um registro importante a se fazer é que a
tese defendida no romance remete o
leitor ao Arcadismo (século XVIII), época
exatamente do início da Idade
Contemporânea, com as Revoluções
Industrial e Francesa. Nesse período, os
poetas propunham a fuga da cidade,
fugure urbem, e idealizam a vida
bucólica, tendo frequentemente a poesia
pastoral como tema e transformado o
campo numa espécie de território perdido
evocado em versos como os do nosso
Cláudio Manuel da Costa:

Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado!
Saudade de Minha Terra
(Goia e Belmonte)                         Que saudade imensa do campo e do mato
                                          Do nosso regato que corta as campina
De que me adianta viver na cidade         Aos domingo eu ia passear de canoa
Se a felicidade não me acompanhar         Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Adeus paulistinha do meu coração          Que doce lembrança daquela festança
Lá pro meu sertão eu quero voltar         Onde tinha dança e muitas meninas
Ver a madrugada quando a passarada        Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
Fazendo a alvorada começa a cantar        O mundo judia mas também me ensina
Com satisfação, eu arreio o burrão        Eu tô contrariado, mas não derrotado
Cortando o estradão, eu saio a galopar    Eu sou bem guiado pelas mãos divinas
E vou escutando o galo berrando
Sabiá cantando no jequitibá               Pra minha mãezinha já telegrafei
                                          E já me cansei de tanto sofrer
Por Nossa Senhora, meu sertão querido     Essa madrugada estarei de partida
Vivo arrependido por ter te deixado       Pra terra querida que me viu nascer
Essa nova vida aqui na cidade             Já ouço sonhando o galo cantando
De tanta saudade eu tenho chorado         O inhambu piando no escurecer
Aqui tem alguém, diz que me quer bem      A lua prateada clareando as estradas
Mas não me convém, eu tenho pensado       A relva molhada desde o anoitecer
Eu vivo com pena, pois essa morena        Eu preciso ir pra ver tudo ali
Não sabe o sistema que eu fui criado      Foi lá que eu nasci, lá quero morrer
Tô aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando com o rádio ligado
OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013
falecomyuri1@hotmail.com
falecomyuri1@hotmail.com
Viagens na Minha Terra
Obra da autoria de Almeida Garrett, publicada em folhetins
  entre 1845 e 1846 na Revista Universal Lisbonense (que já
  dera a conhecer alguns fragmentos em 1843) e editada em volume
     em 1846. Livro "inclassificável", representa uma                obra
  única do Romantismo português e da literatura portuguesa, constit
  uindo-se como ponto de arranque da                    moderna prosa
  literária                                                  portuguesa,
  quer pela estrutura aparentemente desconexa e inovadoramente c
  ompósita,              quer                pela              linguagem
  (ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando
  a           vivacidade            de             expressões           e
  imagens, pelo tom oral usado pelo autor, que desta forma libertou
  o discurso da pesada tradição clássica).
Diálogo instaurado com o leitor
Conduz o leitor a fazer parte de sua viagem; tornando-o um viajante também
        e guia-o na interpretação do comportamento dos personagens,
     preocupando-se com o bom entendimento de sua narrativa. Explica
     sentidos, estabelece relações intratextuais, faz flashback dentro da
   própria estória, ou seja, transforma – a partir de sua produção ficcional e
   de seus modernos recursos de interatividade –, o leitor em um co-autor,
    ou ainda, o leitor em um co-personagem de sua narrativa.São aspectos
      semânticos e estilísticos da linguagem de, a passagem do discurso
  narrativo para o discurso narrativo-digressivo; a apresentação de aspectos
              de natureza temática e de natureza técnico-literária.


          Uma influência para Mémorias Póstumas de Brás Cubas.
INTRODUÇÃO
 A obra fundamenta-se numa viagem realmente efetuada por
      Garrett em 1843, a convite do político Passos Manuel,
       morador de Santarém. Nos dez primeiros narram as
     peripécias da viagem desde Lisboa até aquela cidade, de
    vapor, a cavalo, de carruagem. De permeio, o narrador vai
  tecendo comentários e divagações acerca de vários assuntos
  associados com o que vê e pensa durante o trajeto: a riqueza,
   o progresso, a literatura, a política, a modéstia, a guerra, o
    clero, o amor etc. Chegado a Santarém, o escritor ouve do
  companheiro de viagem a narração dos amores de Joaninha,
   “a menina dos rouxinóis”, e Carlos, entremeada de reflexões
                        do herói da viagem.
Resuminho do romance
Os jovens enamoram-se, mas Carlos vive dilacerado pelo amor
  que ainda julga sentir por Georgina, que ficara na Inglaterra.
  Envolve-se na trama Frei Dinis, que assassinara o marido da
 amante e o pai de Joaninha, tomara hábito e era o verdadeiro
  pai de Carlos. Com a vinda de Georgina (novo amor Inglês) a
     Santarém, dá-se o reconhecimento e o perdão, mas não a
      concretização do amor com Joaninha, que abandonada
    enlouquece e morre. Como toda boa tragédia, não há final
   feliz em relação ao amor, Georgina entra para o convento e
    torna-se abadessa, na Inglaterra; Carlos “é barão, e vai ser
                     deputado qualquer dia”.
         MOISÉS, Massaud. “Literatura portuguesa”, São Paulo: Cultrix. P. 132.
FOCO NARRATIVO

Em “Viagens na minha terra”, Garrett assume também o papel de narrador. Isto
   nos ministra informações importantes sobre sua biografia, e dá ao livro um
                  caráter de depoimento e observação histórica.


 Quando Garrett usa a primeira pessoa, “eu”, produz considerações cheias de
             humor, não longe de uma atmosfera de prosa lírica.


Quando usa a terceira pessoa, “ele”, e se esquece um pouco de si, passa ao tom
  mais grave, mais revelador, mais dramático, que ocorre, sobretudo, quando
    nos conta a história dos amores de Carlos e Joaninha, ou quando fala do
                       cenário da guerra civil em Portugal.
CRÍTICA

 “neste livro – misto de diário, literatura de viagens, reportagem e ficção, o
  escritor português narra a história de um rapaz (Carlos) que se apaixona
 de um modo sucessivo e intenso por várias mulheres e se sente incapaz de
  estancar este constante fluir da vida amorosa, de fixar e estabilizar a sua
        personalidade afetiva. (...) Ninguém, antes de Garrett, na ficção
 portuguesa, entrara tão sutilmente na análise do que há de convencional,
    fictício ou autêntico na vida sentimental, na confusão da verdade e da
    mentira, de vida atual e de sobrevivência que é o todo afetivo de cada
  indivíduo; e ninguém pôs em termos agudos o problema do desgarrar da
     personalidade na mudança de tudo, ligando-o, ao mesmo tempo, ao
     ceticismo superveniente a uma causa generosa que degenera: Carlos
        descrê de um amor verdadeiro, ao mesmo tempo que descrê da
                                   revolução...”

                   Antonio José Saraiva e Oscar Lopes
CARACTERÍSTICAS

      O romance “Viagens na minha terra” foi composto sob a forma de
    folhetim, bem ao gosto romântico da época. Sua narrativa, apesar de
 grande base descritiva, dos adjetivos em excesso, é saborosa, envolvente e
     apresenta temas essencialmente românticos como: natureza ativa e
       confessional; heroísmo; nacionalismo; lirismo amoroso e morte.

 Há em Garrett um observador minucioso de fatos, excluindo-se o tom
  melodramático tornando-se um antecipador de Eça de Queirós. O autor
 usa um estilo extremamente vivo, com giros e expressões coloquiais – um
  estilo que se molda ao pensamento no seu fazer-se, apto a sugerir leves
  emoções, associações fugidias, estados de devaneio, os meandros duma
                           nova sensibilidade.
Linguagem
   A riqueza de sua linguagem nos fazem perceber o
    dinâmica é a obra. Identificam-se o uso de formas
   modernas e coloquiais, os gêneros textuais mesclam-
       se em narração, diálogo, resumo, comentário,
  descrição à moda clássica ou à maneira romântica. Ao
     mesmo tempo adianta-se à forma característica
      de sua época e permeia momentos de tradição
literária do passado, sua contemporaneidade e avança
                  na sua escola literária
Estrutura da Obra
Na obra, entrelaçam e dois níveis narrativos: o relato de uma
      viagem entre Lisboa e Santarém, entremeado de
         reflexões e divagações do narrador acerca da
                   realidade portuguesa,
    e a novela da "Menina dos rouxinóis", a narração da
               história de amor entre dois primos,
                     Carlos e Joaninha,
            situada na época das lutas civis entre
                 absolutistas e liberais.
            Além do relato da viagem Tejo acima.
AS TRÊS HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS
“Viagens na Minha Terra” é um livro difícil de enquadrar em
  gênero literário, pelo hibridismo que apresenta.

  “O que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas,
  peripécias, situações e incidentes raros, é uma história simples e singela,
  sinceramente contada e sem pretensão. Acabemos aqui o capítulo em
  forma de prólogo e a matéria do meu conto para o seguinte.” (CAP. X)

É com ternura que Garrett se lembra de algumas paisagens de
   sua terra, das velhas histórias ligadas ao folclore ou que ele
   nos fala de poetas prediletos, como Homero, Virgílio, Dante,
   Camões, Goethe e outros. Mas é com pessimismo político que
   ele vê as últimas gerações de portugueses, envolvidos pela
   mentalidade voltada para a busca do lucro.
AS TRÊS HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS

  Nesse romance, é perceptível a técnica de suspensão da
   narrativa, em favor de comentários e opiniões variados, sob
  o ritmo da emoção crítica e da fineza intelectual, denomina-se
                              digressão.

Desse modo, relata assuntos sobre economia, geografia, política,
    literatura, arquitetura, justiça, filosofia, religião, história ou
    costumes sociais, sem, no entanto, tirar a unidade do livro.
  Pois eles convergem para dois tipos de emoção alternantes: a
     da observação terna e enlevada, e a do ceticismo cultural,
               tratado geralmente com humor crítico.
Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel I disputando a coroa portuguesa,
por Honoré Daumier, 1833.
Histórias, interligadas pelas circunstâncias e pelo
     tempo (contexto da Guerra Civil) e espaço físico
                         (PORTUGAL).

HISTÓRIA 1: é a da própria viagem que o narrador faz de Lisboa a
    Santarém de comboio, com a intenção de conhecer as ricas
    várzeas desse Ribatejo, e assim saudar do alto cume a mais
          histórica e monumental das vilas de Portugal.

    HISTÓRIA 2: refere-se a dos amores de Carlos e Joaninha.

HISTÓRIA 3: Guerra civil: Pano-de-fundo histórico, que é a guerra civil que
          abalou Portugal, e que dividiu os contendores em realistas e
    constitucionalistas. Os primeiros, conservadores, queriam a monarquia
   absoluta. Os segundos, liberais, desejavam uma política nacional pautada
     pelos ideais da Revolução Francesa, e, com isso, uma monarquia mais
                                     branda.
PERSONAGENS:
Personagens Principais:
Joaninha e Carlos: protagonistas da história de amor.

Personagens Secundárias: A avó de Joaninha – D.
  Francisca, Frei Dinis, Georgina, Laura e Júlia.

A. Garret: autor e narrador.



                     Personagem? NÃO.
A VIAGEM DE GARRETT:

Garrett afirma que há muito tempo sentia desejo de
 conhecer “as ricas várzeas desse Ribatejo”, coisa que
  a mexeriquice de um jornal entendeu como viagem
 política. Partiu em dezessete de julho de 1843. Como
 o tempo lhe sobra, vai fazendo também uma viagem
      por dentro de si mesmo, uma viagem a suas
  recordações, suscitadas por tudo o que está vendo.
Vê-se, portanto, que as “Viagens na minha terra” poderiam ser
   interpretadas como uma costura do que vai “lá fora” com o
  que desperta “cá dentro”. O que vai “lá fora”, e é visto com o
   olhar do corpo, é o panorama que se descortina Tejo acima,
     as vilas, as pessoas. O que vai “cá dentro”, e é visto com o
 olhar da memória, constituiria a viagem imaginária de Garrett.
     E assim, o fato de fumar a bordo lhe lembra o poeta Lord
  Byron; as pessoas no navio lhe inspiram um comentário sobre
    os portugueses, e assim a digressão vai tecendo o livro. Em
   seguida, passa ao argumento de que a marcha da civilização
   obedece a dois impulsos, o do espiritualismo, calcado em D.
    Quixote, e o do materialismo, em Sancho Pança. A viagem,
  assim, vai simbolizando ironicamente a marcha do progresso
                                social.
Espiritual x Materialista
“Descobriu ele que há dois princípios no mundo: o
espiritualista, que marcha sem atender à parte
material e terrena desta vida, com os olhos fitos em
suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro,
inflexível, e que pode bem personalizar-se,
simbolizar-se pelo famoso mito do cavaleiro da
mancha, D. Quixote; - o materialista, que, sem fazer
caso nem cabedal dessas teorias, em que não crê, e
cujas impossíveis aplicações declara todas utopias,
pode bem representar-se pela rotunda e anafada
presença do nosso amigo velho, Sancho Pança”.
(cap. II)
Chegada a Santarém
No vale de Santarém, o autor surpreende uma habitação antiga,
  com janela larga e baixa. Lá, imagina “um vulto feminino que
  viesse sentar-se àquele balcão – vestido de branco...”, de
  olhos...pretos? Uma voz – que é a voz de um companheiro de
  viagem – corrige para “verdes”. Dessa forma que Garrett
  entrou em contato pela primeira vez com a história da
  “menina dos rouxinóis”.

  A história da “menina dos rouxinóis”, a Joaninha e seu amor
  por Carlos, é datada por volta de 1832, e o narrador começa a
  relatar efetivamente no Capítulo II.
  No Capítulo III, Garrett faz insinuante observação sobre os
  frades, mal vistos pela apressada opinião moderna.
  No Capítulo XXVII, os viajantes chegam a Santarém, passam
  pelo convento de S. Francisco, cujo último guardião fora Frei
  Dinis.
A HISTÓRIA DE CARLOS E JOANINHA:

“Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no
   sentido popular e expressivo que a palavra tem em
    português, mas era o tipo da gentileza, o ideal da
    espiritualidade. Naquele rosto, naquele corpo de
    dezesseis anos, havia por dom natural e por uma
   admirável simetria de proporções toda a elegância
      nobre, todo o desembaraço modesto, toda a
       flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a
  conversação da corte e da mais escolhida companhia
   vêm a dar a algumas raras e privilegiadas criaturas
                   do mundo.” (CAP. XII)
- Filho, meu filho! – arrancou a velha, com estertor, do peito, - é teu
      pai, meu filho. Este homem é teu pai, Carlos.” (CAP. XXXV)
Clímax do romance
_Carlos e frei Dinis
_Carlos rumo à nova vida


Carlos representante do novo Portugal: Capitalismo
Morte de Joaninha: morte da Pureza
Dilema familiar: Dilema de Portugal
Desfecho
Carlos deixara uma carta para sua prima Joaninha. É
  uma carta de despedida definitiva, que lançará
  também alguma luz sobre a psicologia dessa
  personagem algo estranha, que devota sincero amor
  a duas mulheres simultaneamente, e que se afasta
  do pai tão logo o reconhece. Carlos, enfim, não quis
  recompor a vida com os seus.
CONCLUSÃO

  Em geral, as tragédias clássicas terminam com uma solução
  violenta do destino e Garrett tinha muita sensibilidade para o
   gênero trágico, É preciso que os protagonistas desapareçam,
                ou mudem completamente de vida.

    Garrett acena com uma explicação cabível. É que os
  acontecimentos haviam rompido algo no coração de Carlos.
     Haviam feito que ele não apenas quisesse esquecê-lo
   totalmente, mas também quisesse converter sua vida em
     outra coisa, bem contrária ao que fora até então, por
     exemplo, tornar-se barão (novamente Garrett utiliza a
  oposição entre frades, que representam o Portugal antigo, e
   barões, que o representam o capitalismo moderno e sem
                          escrúpulos).
CONCLUSÃO

         O narrador se despede, e procura reencontrar seus
                      companheiros de viagem.
    A obra “Viagens na minha terra” retrata a conexão entre a
     vida íntima e a vida pública do herói, entre o seu cansaço
  sentimental e a sua descrença política. Além de valer-se pela
  análise da situação política e social do país e pela simbologia
   que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o
   que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho,
  absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito
    renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em
  grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra
      civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros
  passos duma vivência social e política em moldes modernos.
GUERRA CIVIL

-1807- Invasão napoleônica : vinda da Família Real para o Brasil
- Retirada das tropas napoleônicas : Retorno de D. João VI
-1822 – D. Pedro I (IV em Portugal) : Independência do Brasil
- 1823 D. Miguel - golpe : retorno do Absolutismo
-1824 – D. Miguel - Golpe contra D. João VI
         (Expulso)
-1826 – Morte de D. João VI
- Retorno de D. Pedro I (rei por uma semana) – D. Maria (7 anos) :
casamento com D. Miguel
- Regresso de D. Miguel e Partida de D. Pedro I
- Traição de D. Miguel : reinstala o Absolutismo
- 1831- D. Pedro I abdica do trono – D. Pedro II
- 8/7/1832 – 7.500 homens comandados por D. Pedro I – Porto (Guerra
Civil)
- 1834 – forças liberais(CONSTITUCIONALISTAS) derrotam os
absolutistas (Realistas)
- 1836 – Passos Manuel - estabilidade
- Após 6 anos- floresce o Absolutismo (ascensão dos financeiros, dos
barões (classe média endinheirada), da corrupção...
OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013
falecomyuri1@hotmail.com
O CORTIÇO
                           Aluísio Azevedo




falecomyuri1@hotmail.com
O cortiço e        L´Assommoir (Émile Zola)

 - Lavadeiras e seu trabalho (brigas)
 - Encontro de amantes
 - Policial (espécie de caricatura da lei)
 - Drama de trabalhadores pobres
 - Trabalhadores amontoados numa habitação
 coletiva
 - Degradação devido à vida promíscua
EIXO NARRATIVO: coexistência íntima entre
trabalhador e explorador econômico

Meio utilizado: ”exploração direta e predatória do
trabalho muscular” (Antônio Cândido)


  Regime de servidão, exploração da renda
  imobilária, da usura e prática do roubo


           Primitivismo econômico
“Para o asno forragem, chicote e carga; para o
        servo pão, correção e trabalho” (Eclesistes,
        33:25)

“No Brasil, costumam dizer que para o escravo são
necessários três P.P.P., a saber, Pau, Pão e Pano”
(começo do sec XVIII)

   “Para português, negro e burro, três pês: pão para
   comer, pano para vestir, pau para trabalhar” (fim
   do sec XIX)
Mais-valia crioula
Para
português negro e burro
três pês:
pão para comer
pano para vestir
pau para trabalhar.
                   (Oswald de Andrade)
EQUIPARAÇÃO DO HOMEM AO ANIMAL

                                João Romão = vence o meio

1º - PORTUGUÊS :                Miranda = vence o meio

                                Jerônimo = vencido pelo meio

2º - NEGRO + MESTIÇO : Firmo, a mulata Rita Baiana ,
população do cortiço (pobres)


3º - ANIMAL : brancos e negros = vistos como animal
(redução biológica do indivíduo : “o prazer animal de existir”)
1º - O EXPLORADOR CAPITALISTA
2º - O TRABALHADOR SOB À CONDIÇÃO
DE ESCRAVO
3º - O HOMEM SOCIALMENTE ALIENADO
E REBAIXADO AO NÍVEL DA
ANIMALIDADE
CORTIÇO

       Início               Depois




Regido por lei             Regido por João
biológica :                Romão :
ESPONTANEIDADE             MECÂNICO
Cortiço Velho (“Carapicus”) =
aglomerado espontâneo

Cortiço novo (“Vila São Romão”) =
estabelecimento da ordem / Sobrado
de J. Romão
                  X

Cortiço rival (“Cabeça-de-gato”) =
manutenção da “espontaneidade
caótica”
CORTIÇO

Espaço físico : habitação coletiva
Espaço social : mistura de “raças”,
choque entre elas.
Espaço simbólico : ALEGORIA do
Brasil (“matéria-prima de lucro para o
capitalismo”)
NATUREZA BRASILEIRA
   Sedutora, poderosa e transformadora
          (à luz do Naturalismo)


      Rita Baiana = força perigosa
“Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das
impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas
da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a
palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma
outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o
sapoti mais doce que o mel e era a castanha
do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a
cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca
doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do
corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as
fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as
artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha
daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita
de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e
espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.




         Mudança de Jerônimo
                   “abrasileirou-se”
Ordeiro,               Perda de valores
comedido,              anteriores, alegre,
econômico, sério,      sentidos aguçados,
forte, honrado         hábitos de asseio


“...lá o seu homem não seria anavalhado pelo
ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o
mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o
mesmo lavrador triste e contemplativo, como o
gado que à tarde levanta para o céu de opala o
seu olhar humilde, compungido e bíblico.”
“E Jerônimo não aparecia.
Ela ergueu-se finalmente, foi lá fora ao capinzal,
pôs-se a andar agitada, falando sozinha, a
gesticular forte. E nos seus movimentos de
desespero, quando levantava para o céu os
punhos fechados, dir-se-ia que não era contra o
marido que se revoltava, mas sim contra aquela
amaldiçoada luz alucinadora, contra aquele sol
crapuloso, que fazia ferver o sangue aos homens
e metia-lhes no corpo luxúrias de bode. Parecia
rebelar-se contra aquela natureza alcoviteira, que
lhe roubara o seu homem para dá-lo a outra,
porque a outra era gente do seu peito e ela não.”
SOL = “manifestação da natureza tropical e
princípio masculino de fertilidade”
Pombinha :
“...até formar-se em torno dela uma floresta vermelha, cor
de sangue, onde largos tinhorões rubros se agitavam
lentamente.
E viu-se nua, toda nua, exposta ao céu, sob a tépida luz de
um sol embriagador, que lhe batia de chapa sobre os
seios.
(...)
Lá do alto o sol a fitava obstinadamente, enamorado das
suas mimosas formas de menina.
(...)
A natureza sorriu-se comovida. Um sino, ao longe, batia
alegre as doze badaladas do meio-dia. O sol, vitorioso,
estava a pino e,(...), abençoando a nova mulher que se
formava para o mundo.”
Til = “bela flor do campo” = seduz todos os
homens ao seu redor
                          X

RITA = “luz ardente do meio-dia” + café = seduz
Jerônimo


“E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena
fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a
mensageira dos seus amores; assentou-se ao rebordo
da cama e, segurando com uma das mãos o pires, e
com a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por gole,
enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de
impaciência no antegozo daquele primeiro enlace.”
Busca pela “RAÇA SUPERIOR”

       Bertoleza :
       “...porque, como toda cafuza (...) não queria sujeitar-se a
       negros e procurava instintivamente o homem numa raça
       superior.”
       Rita:
       “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de
       apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça
       superior.”

BRANCO=EUROPEU        X   MESTIÇO/NEGRO=BRASILEIRO
“invasor econômico”       “natural explorado pelo europeu”
O REINO ANIMAL (Zoomorfismo)

NA HABITAÇÃO COLETIVA: “aglomeração tumultuosa de
machos e fêmeas” / “o prazer animal de existir” / “as
mulheres iam despejando crianças com uma regularidade de
gado procriador” / “o tremular das redondas tetas à larga”
 DEPRECIAÇÃO DE PERSONAGENS: “estalavam todos por
saber quem a tinha emprenhado” / “o mugido lúgubre
daquela pobre criatura”
NA DESCRIÇÃO: “a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e
abundante como a das éguas selvagens”
CENAS DE SEXO


MIRANDA E ESTELA:
“Miranda nunca a tivera, nem nunca a vira, assim
tão violenta no prazer. Estranhou-a. Afigurou-se-
lhe estar nos braços de uma amante apaixonada:
descobriu nela o capitoso encanto com que nos
embebedam as cortesãs amestradas na ciência do
gozo venéreo.(...) E gozou-a, gozou-a loucamente,
com delírio, com verdadeira satisfação de animal
no cio.”
POMBINHA E LÉONIE:

“Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas
grossas pomas irrequietas sobre seu mesquinho peito de
donzela impúbere e o roçar vertiginoso daqueles cabelos
ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua
feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do
sangue, desertando-lhe a razão ao rebate dos sentidos.
Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes,
fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo; ao
passo que a outra, por cima, doida de luxúria, irracional,
feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e
relinchando.”
CORTIÇO             X   SOBRADO

HORIZONTALIDADE            VERTICALIDADE
                       M    Ascensão social
Estagnação social

    SIMPLES
                       U    COMPLEXO
                           Regras definidas
Ausência de regras     R
                             CULTURA
      ANIMAL           O
Natureza fisiológica       Organização social
                           regida por leis
INSTINTO   M       RAZÃO


RESOLUÇÃO DE   U    RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS           CONFLITOS


    Insultos   R   Troca de favores

    Brigas         Jogo de interesses

    Morte      O
PERSONAGENS
                                     Ascensão social

JOÃO ROMÃO
                                      Degradação moral



             Posição aristocrática         Baronato
MIRANDA
Contramestre




                 Quebrador
JERÔNIMO         de pedras
                                         Miséria


BERTOLEZA E ZULMIRA = Mulher-objeto – objetos de
troca

ESTELA E RITA = Mulher-sujeito-objeto – aceitação
das regras do sistema

LÉONIE, POMBINHA E SENHORINHA = Mulher-
sujeito – desprezo pelas regras impostas
PERSONAGENS: TIPOS / ALEGORIAS

               • João Romão: imigrante
                 português, avaro e
                 ambicioso, explorador,
                 comerciante, especulador
                 imobiliário, agiota.
               • Constrói seu império por
                 meio de mentiras e
                 explorações, com atitudes
                 torpes e deploráveis,
                 tornando-se um
                 representante do modelo
                 capitalista que a sociedade
                 do Rio de Janeiro tanto
                 prestigiou.
• Bertoleza: inicialmente supõe
  haver superado sua condição
  de escrava e negra,
  amasiando-se com um branco
  e trabalhando com
  perseverança.
• Maltratada, resigna-se com a
  condição de mulher
  duplamente submissa, a
  quem não é dado o direito de
  falar e muito menos de
  questionar.
• Ela morre, derrotada pela lei
  selvagem e impiedosa de uma
  seleção social que só valoriza
  os vitoriosos e bem-
  sucedidos.
• Miranda: comerciante
  português, que
  representa a alta
  burguesia aristocratizada,
  status que se confirma
  quando ele recebe a
  comenda de Barão.
• Cínico e mau-caráter,
  casa-se pelo dote da
  esposa Estela (fútil).
  Aceita a o adultério da
  esposa por conveniência.
• Jerônimo / Piedade: típicos imigrantes
  portugueses empenhados em formar um
  pecúlio, como resultado natural da capacidade
  de trabalho. Tais valores dissipam-se pela
  influência mesológica. Jerônimo separare-se
  de Piedade, ambos atolam-se no pântano do
  vício.
• Rita Baiana / Firmo: alegorias do Brasil. Ela é
  a sensualidade – metaforizada como perigosa
  serpente – responsável pela degradação de
  Jerônimo. Ele, capoeira valente, brigador,
  violeiro e improdutivo
• Pombinha / Léonie: o nome da personagem
  (Pombinha) evoca, de início, pureza de sentimento,
  alma boa, ela a é a enfermeira, escrevente/leitora
  de cartas. No entanto, ao ser seduzida por Léonie
  (prostituta de elite, transita a vontade no mundo
  dos poderosos e também no universo carente do
  cortiço), entra em contato com que há de mais
  espúrio. Menstrua-se, casa-se. Abandona o marido.
  Torna-se prostituta , uma espécie de anti-dama da
  Camélias. Responsabiliza-se pela educação de
  Senhorinha. Proporciona à menina o mesmo que
  recebera de Léonie.
• Bruno/Leocádia: Ele ferreiro; ela, lavadeira –
  representam o estereótipo dos moradores do
  cortiço.
• Leandra, a “Machona”: era o protótipo da
  portuguesa feroz, berradora, sempre disposta
  à briga.
• Paula, a “Bruxa”: Cabocla velha,
  mandigueira,sabia receitas caseiras com que
  preparava remédios e chás. Mística, sabia
  preparar feitiços para os que solicitavam seus
  préstimos.
• Libório: personagem emblemática de certas
  deformações provocadas pelo capitalismo.
  Junta dinheiro em garrafas e submete-se a
  viver de esmola.
• Botelho: Ladino e espertalhão – simboliza os
  parasitas que sugam todos que estão
  próximos para obter vantagens materiais.
• Albino: Era lavadeiro: “sujeito afeminado,
  fraco, cor de espargo cozido e com um
  cabelinho castanho, deslavado e pobre, que
  lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole
  e fino”.
TRAÇOS TEMÁTICOS:
• Determinismo:
• Os pares João Romão/Bertoleza, Miranda
  /Estela, Jerônimo/Piedade, são os que,
  principalmente, vêm focalizados sob o crivo
  do determinismo. Os homens simbolizam o
  estágio por que passa o imigrante português.
  As mulheres apenas sofrem as consequencias
  dessa integração, bem ou mal sucedida.
• Antropomorfismo:
• “Eram cinco horas da manhã e o cortiço
  acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua
  infinidade de portas e janelas alinhadas.
  Um acordar alegre e farto de quem dormiu de
  uma assentada sete horas de chumbo. Como que
  se sentiam ainda na indolência de neblina as
  derradeiras notas da ultima guitarra da noite
  antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da
  aurora, que nem um suspiro de saudade perdido
  em terra alheia.” (cap. III)
• Zoomorfismo: “Daí a pouco, em volta das bicas era um
  zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de
  machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
  incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da
  altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As
  mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas
  para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços
  e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo
  para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam
  em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem
  debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as
  barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”
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  • 1. OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013 falecomyuri1@hotmail.com
  • 2. TIL – 1872 José de Alencar falecomyuri1@hotmail.com
  • 3. • Romance: da palavra Romance/FOLHETIM: ROMANÇO/ROMÂNICO (obra • Publicado nos jornais, em linguagem popular, com diariamente/semanalmente; muita imaginação e aventura); • Diálogo com a leitorFinais felizes, • Século XVIII - ROMANCE aventuras, sentimentalismo, moral passou a designar o texto em burguesa prosa, normalmente longo, • Idealização: heróis/heroínas com vários núcleos narrativos “perfeitos” em torno de um núcleo central – muitos personagens, tempo Primeiros romances brasileiros: longo e espaços diversos ; O filho do pescador (1843), de • O romance está ligado a um Teixeira e Sousa; novo público leitor: a A moreninha, de Joaquim Manuel de burguesia. Macedo (1844)
  • 4. José de Alencar • Considerado o fundador do romance nacional • Obras: Iracema, O Guarani, Senhora, Lucíola etc. • Realidade brasileira: vasto retrato de nosso país no século XIX • Projeto de LITERATURA NACIONAL (Romantismo) • Romances urbanos e regionalistas • Romances indianistas e históricos
  • 5. Romances folhetinescos: • URBANOS – perfis femininos: Lucíola, Diva, Senhora... • REGIONALISTAS: O sertanejo, Til, O gaúcho... • INDIANISTAS: O guarani, Iracema, Ubirajara... • HISTÓRICOS: As minas de prata, A confederação dos Tamoios...
  • 6. “Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém aberta ali com os orvalhos da noite. No fresco sorriso dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes, brotava-lhes a seiva d’alma. Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, saltitava sobre a relva, gárrula e cintilante do prazer de pular e correr; saciando-se na delícia inefável de se difundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela natureza luxuriante. Ele, alto, ágil, de talhe robusto e bem conformado, calcando o chão sob o grosseiro soco da bota com a bizarria de um príncipe que pisa as ricas alfombras, seguia de perto a gentil companheira, que folgava pelo campo, a volutear e fazendo-lhe mil negaças, como a borboleta que zomba dos esforços inúteis da criança para a colher. “ (Cap.1)
  • 7. Tempo psicológico Muitos órfãos Muitas personagens Segredos Vários núcleos Enredo dinâmico, muitos fatos Muitas mortes Intertextualidade com as tragédias gregas.
  • 8. Apresentação dos Personagens e tramas 31 Capítulos DIVISÃO DA OBRA: Revelação e resolução dos conflitos apresentados
  • 9. Traços gerais: Publicado em folhetim: Jornal A República (1871- 1872) Romance regionalista Retrato dos costumes de uma elite rural. Maniqueísmo (Bem X Mal) Mistério, suspense, aventura, perigos: técnica folhetinesca.
  • 10. • Ambiente Narrador • Sociedade rural, escravocrata • Narrador: 3ª pessoa, onisciente • interior de São Paulo (Santa • Linguagem culta, registro Bárbara, Piracicaba, Campinas – elevado. Fazenda das Palmas) • Festas populares: Temática amorosa • São João (festa de origem • Casais de namorados europeia/portuguesa/branca) • Exacerbação sentimental • X Congada , SAMBA • Figura feminina: • idealização/bondade, riqueza: Fazenda das Palmas beleza/sensualidade. • pobreza: casa em ruínas, gruta, senzala
  • 11. IV Monjolo Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas. Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.
  • 12. Heroísmo fantástico: De chofre empinou-se o cavalo, arremessando o homem sobre a escarpa da barranca, donde rolou ao trilho, como um corpo inerte. O capanga abatera um olhar de nojo para o cavaleiro que lhe veio rolar aos pés. A faca brandida com força vibrava ainda no tronco do jequitibá, onde cravara a cabeça de um urutu, que estorcia-se de fúria e dor. Fora a negra serpente que espantara o animal, quando enristou-se como uma lança, fincando a cauda e chofrando o bote. Advertido pelo faro, antes de ver altear-se o negro colo, o cavalo rodara sobre os pés; e a cobra ameaçada pelos cascos elou-se ao tronco, onde a alcançara a mão certeira de Jão Fera, que já tinha apunhado a faca... . Devorando a distância na corrida veloz, saltando por cima dos magotes que encontrava em seu caminho, e às vezes fazendo do próprio lombo das feras chão onde pisar, Jão precipitou-se enfim no lugar onde Berta e o negro velho aguardavam a morte contritos. Suspendendo a menina com o braço esquerdo, enquanto brandia o direito a longa faca apunhada, o vigoroso capanga, aproveitando-se do espanto das feras ante sua audácia, arrojou- se para a árvore mais próxima, onde poderia colocar a menina a salvo de perigo.
  • 13. Personagens • Luís Galvão: pai de Berta - fazendeiro empreendedor • Berta, Inhá ou Til: filha bastarda de Luís Galvão • D. Ermelinda: matriarca (com Besita, pobre moça assassinada pelo • Afonso: filho de L. Glavão e marido), criada por Nhá Tudinha - modelo Ermelinda, jovem, bom, gosta de feminino dinâmica, ativa, nobreza de caráter Berta pois não sabe que ela é sua • Besita: verdadeira mãe de Berta – moça bonita meia-irmã. e pobre, casa-se com Ribeiro e é assassinada • Linda: gêmea de Afonso, amiga de por ele Berta. • Ribeiro ou Barroso: marido e assassino de • Brás: sobrinho de L. Galvão, Besita, cruel e vingativo – será morto por Jão deficiente mental – O diota - Fera/Bugre. protegido de Berta (visão • Miguel: irmão de criação de Berta – de início, preconceituosa, inferiorizante) apaixonado por ela - herói romântico convencional – depois, ficará com Linda • Nhá Tudinha: mãe de Miguel e mãe de criação • Inimigos de L. Galvão: Ribeiro e de Berta. Gonçalo • Jão Fera ou Bugre: facínora X bondade, código • Escravos, Pai Quicé, tropeiros, de honra, mata Ribeiro e é preso. vendeiros. • Zana: ex-escrava, vítima de trauma
  • 14. • Besita (casada com Ribeiro[Barroso]) origem • Luís Galvão • Besita será morta pela marido Berta surge • Jão salvará Berta • Luís Galvão Casamento • D. Ermelinda oficial • Afonso e Linda (irmãos gêmeos) relações • Miguel, irmão de criação de Berta, a deseja. • Jão deseja matar Ribeiro, por este ter matado a sua amada Besita vingança • Ribeiro deseja matar Luís Galvão, como não consegue tenta matar Til
  • 15. Besita Luís/ Berta Ribeiro Miguel / Jão Afonso
  • 16. Aspectos formais • Digressões • falas de personagens: regionalismos • figuras: comparações (Berta: flor) , personificações Tempo: • 1826: Besita e Luís Galvão, Ribeiro, João Fera/Bugre • 1846: Fazenda das Palmas.
  • 17. Era Brás filho de uma irmã de Luís Galvão, a qual falecera três anos antes, ralada pelos desgostos que lhe dera o marido, e pelo suplício incessante de ver reduzido ao lastimoso estado de um sandeu o único fruto de suas entranhas. Quando morreu, já era de muito viúva a infeliz senhora; e, pois, com a sua perda, ficou Brás sem outro arrimo, a não ser por Luís Galvão, seu tio e mais próximo parente, que o trouxe imediatamente para casa e desvelou-se como pode, pela sorte da mísera criança. Compreende-se quanto devia custar a D. Ermelinda, ciosa em extremo da morigeração de seus filhos, o receber no íntimo seio da família um menino até certo ponto estranho, e não só baldo de toda a educação, como incapaz de recebê-la. Mas compenetrara-se a digna senhora que seu marido, recolhendo o sobrinho órfão e servindo-lhe de pai, cumpria um rigoroso dever; e tanto bastou para que não suscitasse a menor objeção. Resignada ao mal inevitável, socalcou sua repugnância. Somente exigiu de Luís Galvão, e isso o fez com autoridade de mãe, que, recebido Brás e tratado como filho da casa, se evitasse contudo seu íntimo contato com Afonso e Linda, conservando-os, quanto possível, alheios à existência do primo, e impedindo o menor trato e convivência com ele. Consentia D. Ermelinda em ser-lhe mãe e cercá-lo de toda a solicitude, apesar da natural repulsão que deviam causar à sua índole tão delicada os modos brutais e parvos do idiota. Não lhe sofria porém o coração que seus filhos vissem nesse menino mal amanhado e grosseiro um camarada e um parente, quanto mais um irmão.
  • 18. Veio a tarde: o céu estava sereno, e coava-se no espaço uma aragem tão doce que Besita encostou-se ao peitoril da janela. Com a fronte descansada à ombreira, deixando cair para fora as longas tranças de seus lindos cabelos negros, que a brisa fazia ondular, embebia-se em contemplar a estrela vespertina, que cintilava no horizonte. Súbito, no esquecimento dessa cisma, uma estranha idéia despontou-lhe no espírito. Pareceu-lhe que, através da cintilação da luz, desenhava-se a imagem de sua mãe, a sorrir-lhe lá do céu e a chamá-la. Então ouviu Zana um grito de terror, que se extinguiu em um gemido de angústia. Fora de si correu à alcova da senhora, onde a esperava um quadro horrível. No meio do aposento, o Ribeiro, pálido e medonho como um espectro, agarrando a mulher pelo pescoço, estrangulava-a com as longas tranças de cabelos.
  • 19. ESPAÇOS IV Monjolo Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas. Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais. Eram freqüentes os encontros dos dois lindos pares de passeadores no Tanquinho. Vinham semanas em que se repetiam todas as manhãs, a menos que as chuvas não permitissem, ou que Berta e Miguel fossem à casa das Palmas, o que sucedia regularmente aos domingos e dias de festa. O amor, tão bonina dos prados, quanto rosa dos salões, quando o orvalham risos da mocidade; o amor puro e suave, como a cecém daquele prado, tinha já florido os corações que lhe respiravam pela manhã os agrestes perfumes.
  • 20. “Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça.”
  • 21. OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013 falecomyuri1@hotmail.com
  • 22. Memórias de um Sargento de Milícias Manuel Antonio de Almeida falecomyuri1@hotmail.com
  • 23. Preliminares • As Memórias de um Sargento de Milícias são um dos livros mais singulares da literatura brasileira. • Trata-se, basicamente, de um romance de humor popular, fundado nas aventuras de tipos da sociedade carioca do começo do século passado.
  • 24. Preliminares • O humor explorado por Manuel Antonio de Almeida é semelhante ao das peças de Martins Pena, autor de O Noviço (encenada em 1845, sete anos antes do início das Memórias). • Destinadas às páginas de um jornal, as Memórias apresentam capítulos unitários, quase todos um episódio completo.
  • 25. Preliminares  O conjunto desses episódios reconstitui a vida de Leonardo Pataca e de seu filho Leonardo, em meio a um vivo retrato das camadas baixas do Rio de Janeiro de D. João VI.
  • 26. Preliminares • O romance dá muita atenção às festas, encontros, instituições e profissões populares da cidade, cujas ruas são descritas com a animação de uma verdadeira narrativa de costumes. • É um romance muito agitado e festivo, não há praticamente nenhuma página sem um incidente ou surpresa espantosa. • A linguagem é coloquial.
  • 27. Preliminares • As Memórias de um Sargento de Milícias foram publicadas em folhetins anônimos entre 1852 e 1853, no suplemento dominical do Correio Mercantil, a Pacotilha. • Em livro, a obra saiu nos anos de 1854 e 1855, em dois volumes. • Cada volume correspondia a uma das partes da obra.
  • 28. Excentricidade das Memórias • No final do século XIX, o crítico José Veríssimo interpretou as Memórias de um Sargento de Milícias como um romance pré-realista. • Mário de Andrade aproximou-as do romance picaresco espanhol. • Antonio Candido demonstrou que se trata de um romance propriamente romântico, com particularidade, excentricidade.
  • 29. Excentricidade das Memórias • As Memórias distanciam-se da média da sensibilidade romântica pelas seguintes razões: – A estória não envolve personagens da classe dominante, mas sim pessoas de baixa renda. – A personagem central não é herói nem vilão, trata-se de um anti-herói malandro, de natureza picaresca, isto é, próximo do pícaro espanhol. – As cenas não são idealizadas, mas reais, e apresentam aspectos pouco poéticos da existência.
  • 30. Excentricidade das Memórias – Ausência de moralismo e recusa da ideia de que as ações humanas se dividem necessariamente entre boas e más. – Troca do sentimentalismo pelo humorismo, do estilo elevado e poético pelo estilo tosco e direto, sem torneios embelezadores. – O estilo é oral e descontraído, diretamente derivado da conversa ou do estilo jornalístico do tempo.
  • 31. Estilo • Apresenta o estilo descontraído do jornal ao romance. • Todas as suas personagens pertencem às camadas populares. • É simples, direta, praticamente sem metáforas ou refinamentos retóricos.
  • 32. Estilo • As descrições da obra apontam para duas direções: – ora para um retrato vivo da indumentária, costumes, logradouros públicos e instituições do velho Rio; – ora para a exageração dos traços físicos das pessoas e das situações. • O exagero configura as caricaturas, que tornam o romance popular.
  • 33. Técnica do enredo e personagens  As Memórias de um Sargento de Milícias têm foco narrativo em terceira pessoa.  O romance possui algumas propriedades de romance histórico: se detém na captação de cenas e costumes do passado.  Trata-se também de um romance de costumes com propriedades picarescas.  Sua ação é episódica, parcelada.
  • 34. Técnica do enredo e personagens • O romance picaresco, expressão derivada do termo pícaro, espécie de personagem marginal que vive ao sabor do acaso. • As personagens são tipos sociais: várias não possuem nome no livro, designam-se pela profissão ou condição social que possuem: o barbeiro, a cigana, a parteira, o fidalgo, o mestre-de-cerimônias, etc.
  • 35. Personagens • Leonardo: anti-herói, herói às avessas, herói picaresco - desde a infância é esperto, vagabundo e mulherengo, assemelha-se ao protagonista, Macunaíma. Leonardo-Pataca: oficial de justiça, sentimental, sempre enroscado em suas paixões. Maria-da-Hortaliça: mãe do herói Major Vidigal: temido e respeitado por todos.Severo punidor, é, ao mesmo tempo, policial e juiz.
  • 36. • Comadre: protetora de Leonardo, vive tentando livrá-lo dos enroscos em que se metia. Compadre Barbeiro: outro protetor. Cria o menino como se fosse o seu filho, sonhando um próspero futuro para ele; só que isso não acontece. • D. Maria: velha, rica e bondosa. Era apaixonada por causas judiciais. Tia e tutora de Luisinha, amiga da comadre e do compadre. Luisinha: primeiro amor de Leonardo. Suas características fogem da idealização dos modelos românticos: era feia, pálida e desajeitada.
  • 37. • José Manuel: caça-dotes, representa uma crítica à burguesia. • Vidinha: cantora de modinas, segunda paixão de Leonardo. • Chiquinha: filha de D. Maria e esposa de Leonardo-Pataca. • Maria-Regalada: amante de Vidigal.
  • 38. • Além desses, há outros como: A vizinha, a cigana, o mestre-de-rezas, Tomás, etc. Os personagens encaixam-se na categoria de tipos alegóricos, pois não possuem profundidade psicológica e são como caricatura de uma classe social: o povo, a classe média carioca da época.
  • 39. Um curioso traço compositivo • Toda vez que o narrador das Memórias apresenta um episódio da vida de Leonardo ou de outra personagem, ele traça, antes, o painel social do cenário em que se desenvolverá a peripécia.
  • 40. O cotidiano do povo é registrado com bom humor • Há, no livro, constantes alusões a instrumentos, danças e modinhas da época retratada. Chega mesmo a transcrever três trechos de modinhas populares no tempo: uma cantada por Leonardo, durante a festa do batizado do filho; duas outras cantadas por Vidinha, numa de suas patuscadas com os primos e amigos. • Em mais de uma passagem, fornece detalhes sobre o fado, apresentado como dança típica do Brasil.
  • 41. Documento linguístico • Os namorados das Memórias tratam-se por senhor e senhora. "– A senhora... sabe... uma coisa? E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola. Luisinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom: – Então... a senhora... sabe ou... não sabe? E tornou a rir-se do mesmo modo. Luisinha conservou-se muda. – A senhora bem sabe... é porque não quer dizer... Nada de resposta. – Se a senhora não ficasse zangada... eu dizia... Silêncio. – Está bom... eu digo sempre... mas a senhora fica ou não fica zangada? Luisinha fez um gesto de quem estava impacientada. – Pois então eu digo... a senhora não sabe... eu... eu lhe quero... muito bem."
  • 42. Documento linguístico • A mãe de Vidinha, no capítulo 8 da segunda parte, dirige-se informalmente à filha na segunda pessoa do plural, dizendo: “Ai, criatura, quereis que vos reze um responso para cantardes uma modinha?” • Leonardo age mais do que fala.
  • 43. Inclusão do leitor • Um dos importantes traços estilísticos de Memórias é a constante referência do narrador ao leitor. Isso certamente tem a ver com o propósito de estabelecer um suposto diálogo amigável com o público do jornal, isto é, esse traço revela o interesse de facilitar a recepção da obra, como deixa ver o seguinte fragmento: • “Dadas as explicações do capítulo precedente, voltemos ao nosso memorando, de quem por um pouco nos esquecemos. Apressemo-nos a dar ao leitor uma boa notícia: o menino desempacara do F, e já se achava no P, onde por uma infelicidade empacou de novo.”
  • 44. Inclusão do leitor • Essa é a razão de suas constantes referências metalinguísticas, chamando a atenção do leitor para acontecimentos apresentados anteriormente ou para os que está prestes a apresentar.
  • 45. Contra o romantismo • Manuel Antônio faz questão de manter o equilíbrio emocional, primando pela clareza e ridicularizando todo e qualquer transbordamento emotivo em suas personagens.
  • 46.
  • 47.
  • 48. Enredo • Origens e Infância do Memorando • Leonardo Pataca, a Cigana e o Vidigal • O Padrinho e a Vizinha • O Mestre-de-Cerimônias • Luisinha • Graves Infortúnios • Vidinha em Cena • Diaburas do Novo Granadeiro
  • 49.
  • 50. OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013 falecomyuri1@hotmail.com
  • 51. Machado de Assis falecomyuri1@hotmail.com
  • 52. Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis
  • 53. Memórias póstumas de Brás Cubas Publicadas em capítulos na Revista Brasileira, de 15 de março a 15 de dezembro de 1880 (Em livro = 1881), as Memórias póstumas de Brás Cubas revelam uma narrativa inovadora, revolucionária, que, através de seu protagonista- narrador “defunto-autor”, promovia a “viravolta machadiana.”
  • 54. A “viravolta machadiana” A perspectiva universal e filosófica
  • 55. A dedicatória em forma de epitáfio (inscrição tumular) Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas
  • 56. A dedicatória • Chocante ou irônica pouco importa... Fugindo ao senso comum, Brás Cubas dedica suas memórias aos vermes, como se não houvesse alguém digno de lembrança, deixando em evidência as “tintas” de seu pessimismo, através de sua pena carregada de humor.
  • 57. A dedicatória • O verbo “roeu” (no passado), significa que Brás Cubas não é, materialmente, mais nada, não deve satisfações a ninguém. É livre, soberano e absoluto para pintar a vida, as pessoas, a si próprio: “... estas são as memórias de um finado, que pintou a si e aos outros, conforme lhe pareceu melhor e mais certo.”
  • 59. Um autor defunto ou um defunto autor? • Do túmulo (campa) um “defunto autor” examina de forma memorialística sua vida. Apesar de morto, nada comenta sobre sua existência além-túmulo. Está interessado apenas em recordar o passado e submetê-lo à análise e ao julgamento definitivo de seu significado.
  • 60. Por que um “defunto autor”? • A) Símbolo do fim da concepção romântica. • B) Desafio do escritor frente às propostas do Real- Naturalismo, já que uma fala vinda do túmulo contrariava os princípios de racionalidade e verossimilhança.
  • 61. Por que um “defunto autor”? • C) A idéia machadiana de que só um morto poderia apresentar os fatos de sua existência sem escrúpulos, sem fantasias e sem temor da opinião pública.
  • 62. Por que um “defunto autor”? • Enfim: Só um morto – por não ter nada a perder – revelaria seus intuitos mesquinhos, seu egoísmo, sua impotência para a vida prática e sua desesperada sede de glória.
  • 63. Por que um “defunto autor”? • Só alguém que ultrapassasse o limite fatal seria capaz de apontar a verdade definitiva de sua própria condição.
  • 64. O prólogo: Ao leitor • Referências: • Stendhal = (pseudônimo de Henri Beyle) escritor francês romântico que abordou, em seus romances, paixões violentas e perfis irônicos e psicológicos de seus personagens (Obra mais famosa = O vermelho e o negro – Sua obra de “cem leitores” = Do Amor)
  • 65. Prólogo: Ao leitor • Recepção da obra: • “... O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco... Fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.”
  • 66. Prólogo: Ao leitor • Referências: • Sterne = escritor inglês • Xavier de Maistre = escritor francês • Ambos de estilo digressivo e irônico (autores admirados por Machado) • “Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia” = Visão irônica e pessimista.
  • 67. Prólogo: Ao leitor • Diálogo com o leitor = sugestão = que o leitor mude sua postura e prefira a reflexão do que a anedota, ou... • “... se te agradar , fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.”
  • 68. Ironia ao leitor • O leitor também é parte, além dos personagens e seus atos, da “galhofa” do autor.
  • 69. • Capítulo LXXI(71) O senão do livro “Começo a arrepender-me deste livro... é enfadonho, cheira a sepulcro... porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...”
  • 70. A estrutura narrativa • O diálogo constante com o leitor e as interrupções na narrativa para digressões, saltos de um assunto para o outro, do particular para o geral, do abstrato para o concreto e vice-versa, do real para o imaginário, as pilhérias, as teorias filosóficas, as citações, as teorizações sobre a própria técnica narrativa, a metalinguagem...
  • 71. A estrutura narrativa • ... constituem inúmeros subterfúgios que tornam a história contada por Brás um mosaico de peças, aparentemente desconexas, que formam uma narrativa de estrutura híbrida (irregular), descontínua, com capítulos que se intercalam a outros produzindo a quebra da linearidade do enredo.
  • 72. A estrutura narrativa • Entretanto, todos esses aspectos não deixam de estarem ligados a um fio condutor que é a própria vida do defunto autor, marcada pelo tédio e pelo vazio.
  • 73. O narrador • Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra em que os acontecimentos ou sua seqüência são menos importantes do que a atmosfera de ambigüidade que perpassa toda a narrativa. Se num momento o narrador se mostra humilde, noutro se proclamará superior a tudo e a todos;...
  • 74. O narrador • ... trata-se, portanto, de um “narrador não confiável e volúvel” que, com sarcasmo, cinismo e tédio, expõe sua mediocridade, como salienta no célebre capítulo “Curto, mais alegre”, com a saborosa liberdade de quem morreu e já não tem platéia para espreitar suas ações e, portanto, pode apreciar o “desdém dos finados”, ou seja, sua “franqueza de defunto” não teme a opinião pública e pode “apresentar os fatos de sua existência sem escrúpulos ou fantasias.”
  • 75. Capítulo XXIV: Curto, mas alegre • “Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz a consciência;...
  • 76. • ... e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia...”
  • 77. A narrativa • Assim, evidencia-se uma narrativa irônica e niilista sobre a precariedade humana que emerge da vida, das relações e dos projetos fracassados e perecíveis de um típico representante de uma elite dominante e parasitária.
  • 78. • Ou seja, Brás Cubas pertence ao mundo dos grandes proprietários e, vivendo de rendas que herdou de sua família, praticamente durante toda a sua vida, foi um indivíduo cheio de caprichos que levou sua vazia existência sem perspectivas. E todas as suas transgressões e atitudes mesquinhas expressam a falta de ética e escrúpulos de uma elite escravocrata e tacanha do Brasil do século XIX.
  • 79. Crítica ao Romantismo • Capítulo XIV , O primeiro beijo • Brás Cubas se descreve aos 17 anos: “... o corcel das antigas baladas, que o Romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o Realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes e, por compaixão, o transportou para os seus livros.”
  • 80. Crítica ao Romantismo • No trecho citado, o crítico Machado de Assis opõe a crueza da realidade da nova escola (o Realismo) à esgotada idealização do Romantismo; como o cavalo do herói medieval, os temas da literatura realista são colhidos à margem (da sociedade; da superada moda literária) e denunciam um estado de putrefação = “comido de lazeira e vermes”
  • 81. Capítulo VII = O delírio
  • 82. Capítulo VII = O delírio • Em estado de transe causado pela febre, Brás Cubas é arrebatado por um hipopótamo, que o leva à origem dos séculos. Surge então uma mulher imensa, de contornos indefinidos, que se diz chamar Natureza ou Pandora. Quando, por fim, Brás vê de perto o rosto da estranha, percebe-lhe a impassibilidade egoísta e sua eterna surdez. Ou seja, é alguém indiferente ao clamor humano.
  • 83. Capítulo VII = O delírio • Ela conduz o defunto-autor ao alto de uma montanha e lhe permite contemplar a passagem dos séculos e entender o absurdo da existência, sempre igual, centrada apenas no egoísmo e na luta pela sobrevivência. O personagem vê a História como uma eterna repetição:
  • 84. Capítulo VII = O delírio • “flagelos, misérias, cobiça, cólera, inveja, ambição, fome, vaidade, melancolia, riqueza, agitando o homem como um chocalho até destruí-lo como um farrapo.” “A regra é egoísmo, conservação e satisfação do próprio eu: lei de Brás Cubas e dos homens que aparecem no delírio, fantoches sacudidos pelas paixões, variedades de um mal que devora o homem, a buscar a quimera da felicidade que se some na ilusão.”
  • 85. Capítulo VII = O delírio • Não há, portanto, um sentido de evolução na humanidade. A natureza humana pouco ou nada se modifica. O homem procura inutilmente a “quimera da felicidade”, e esta, sem deixar apanhar-se, apenas “ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.” • E Brás Cubas vendo o mundo com “olhar enfarado”, implora mais um pouco de vida.
  • 86. Capítulo VII = O delírio • Como assinala Augusto Meyer, Brás Cubas revela um sentimento ambivalente diante do infinito ciclo humano: o de vertigem e desamparo diante da inutilidade de todas as buscas e, ao mesmo tempo, o de sarcasmo consciente contra a fatalidade da existência. A ironia é a defesa do personagem contra a natureza cega e insensível.
  • 87. Capítulo VII = O delírio • Ainda segundo Meyer, ao “passar em revista a monotonia da miséria humana”, Brás Cubas dá a “impressão de quem vai caindo num vazio espantoso e na queda goza a volúpia de cair.” Daí a aparente e enigmática maneira como Pandora o define: “Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada”.
  • 88. O encontro com Quincas Borba
  • 89. • O primeiro encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, ocorre no capítulo LIX, Um encontro. • Amigo de infância de Brás, aparece na condição de mendigo, furta-lhe o relógio e depois reaparece rico (herdeiro de um parente mineiro) e passa a freqüentar a casa do amigo, até sua morte, expondo-lhe, sempre, elementos de sua singular filosofia: “o Humanitismo”.
  • 90. Quincas Borba & O Humanitismo
  • 91. Quincas e o Humanitismo • O humanitismo é o ponto de contato entre Memórias póstumas de Brás Cubas e o Quincas Borba. A teoria do Humanitas é uma caricatura feroz do positivismo e do cientificismo dominantes na época. A personificação da impassibilidade egoísta, da eterna surdez, da vontade imóvel é, afinal, Humanitas, “o princípio das coisas que não é outro senão o mesmo homem repartido por todos os homens”.
  • 92. • Enfim, o “Humanitismo” é, conforme a visão aguda de Machado de Assis, uma impiedosa sátira complementar das ideias do determinismo social, que constituíam a base filosófica do Realismo. O “Humanitismo” é uma caricatural doutrina híbrida de Positivismo e Darwinismo Social. Ou seja, uma hilariante paródia de todos os “ismos”, com a mesma visão fatalista (a supremacia das raças = a lei do mais forte) que constituíram as doutrinas científicas que dominaram a Europa, no século XIX, e chegaram, naturalmente, ao Brasil.
  • 93. Os amores de Brás Cubas
  • 94. Os amores de Brás Cubas • Marcela = a cortesã = seu primeiro amor, que lhe amou “durante quinze meses e onze contos de réis”. • Eugênia = a “flor da moita”, coxa e infeliz. • Eulália = com quem pretendia casar mas que morre de febre amarela com apenas 19 anos.
  • 96. • A bela dama espanhola, alegre e sem escrúpulos, luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e rapazes, a primeira mulher de sua vida, a doce prostituta Marcela. Ela o amou “durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos”. Seu pai, logo que teve conhecimento dos onze contos, uma fortuna para a época, ficou furioso e o enviou para estudar na Europa, receoso do envolvimento profundo do filho com uma prostituta.
  • 97. Eugênia: a “flor da moita” e... coxa...
  • 98. • Eugênia tem um defeito de nascença: é coxa. Todos esses aspectos fazem com que ele confirme que não deve envolver-se seriamente com ela, já que estava em condição social inferior à sua e não lhe era possível esquecer a origem da moça: “uma flor que foi gerada na moita”. Além do mais, ela era, segundo o seu cinismo e sarcasmo, coxa. E pergunta-se: “Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?”
  • 99. • E, assim, quando resolve despedir-se de Eugênia, alegando que precisava descer da Tijuca, depara-se com a nobreza de caráter da menina que não leva em consideração suas hipérboles frias e evasivas e o encoraja a partir, pois, assim, escaparia do ridículo de casar-se com ela. Ou seja, talvez a “Vênus manca” de Brás seja a única personagem dessa história que demonstra dignidade e caráter.
  • 100. Vírgilia, o maior amor de sua vida
  • 101. • Virgília foi o maior amor de sua vida, com quem estabelece uma relação adúltera, já que ela torna- se esposa do deputado Lobo Neves. • Virgília, com seus braços tentadores, nascera para ser bela um momento, trair o primeiro noivo com o futuro marido, e este com aquele, quase sem perceber o que fazia, num amoralismo ingênuo, e depois envelhecer e morrer como vivera, sem pensar que há, para catalogar as ações humanas, um código do bem e do mal.
  • 102. Eulália, a “flor do pântano”.
  • 103. • Eulália, com quem pretendia casar, visto que a moça comportava-se com altivez, e ele pretendia “arrancar aquela flor do pântano em que vivia”, morre de febre amarela com apenas 19 anos.
  • 105. BRÁS CUBAS • Homem de posses, nunca trabalhara, dedicando-se, antes, a imaginar estratégias pessoais que poderiam torná-lo famoso e admirado. Moveu-o sempre o “amor da glória”. Falecido aos 64 anos, torna-se claro que ele sempre fora um ser destituído de vontade e, portanto, incapaz de qualquer ação significativa (social ou individual). Trata-se, pois, de um homem inútil, entediado, com a “volúpia do aborrecimento”, que parece expressar o parasitismo e a falta de perspectivas da elite escravocrata brasileira.
  • 106. BRÁS CUBAS • Possui uma natureza complexa, cheia de contradições, ambicioso e retraído, vaidoso e displicente, apaixonado e indiferente. Sua alma “foi um tablado em que se deram peças de todo gênero, o drama sacro, o austero, o piegas (ridículo), a comédia louçã, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias.”
  • 107. BRÁS CUBAS • Infância mimada & juventude despreocupada: • Narrando-lhe a primeira infância, Machado, tão acusado de se haver alheado aos grandes problemas do seu tempo, traçou, sem rodeios, a crítica da organização servil e familiar de então. Mostrou o mal que fez a escravidão a brancos e negros. Sem o moleque Prudêncio para lhe servir de cavalo, sem as pretas para alvos passivos das suas judiarias , sem os costumes relaxados que a promiscuidade das escravas com os...
  • 108. BRÁS CUBAS ...sinhô-moços facilitava, o Brás Cubas não teria sido o que foi. Também a vaidade do menino era cultivada pela beata admiração dos pais. Tudo contribuiu para fazer dele um perfeito egoísta. Representou o resultado do meio e da educação viciada agindo sobre um temperamento mórbido.
  • 109. BRÁS CUBAS • Rico, conheceu todas as facilidades, todos os prazeres. E porque teve tudo, mas não se deixou empolgar por coisa alguma, cedo conheceu o tédio, “esta flor amarela, solitária e mórbida, de um cheiro penetrante e sutil.” • O TÉDIO, irmão do ceticismo, o tédio do herói e do autor, é a personagem central do livro.
  • 110. “Brás Cubas viajou à roda da vida.” • UMA VIAGEM À RODA DA VIDA = A vida do homem que vive em sociedade, afeito às formalidades, às convenções, governado pelo onipresente olhar da opinião. A vida marcada por egoísmos, atos mesquinhos motivados pela incessante necessidade de o homem superar e embaçar o seu semelhante.
  • 111. A morte de Brás Cubas
  • 112. Morte de Brás Cubas • Enquanto medita sobre a forma de criar um “medicamento sublime” – um emplasto que aliviasse a humanidade do tédio e da melancolia – e, assim, tornar-se uma personalidade conhecida e invejada, Brás recebe um golpe de vento, adoece e, obcecado pela idéia fixa de inventar o emplasto que levaria seu nome, não trata da pneumonia e morre.
  • 113. Capítulo final = Das negativas • Visão sarcástica com sabor de escárnio? • Ironia a pobre humanidade e sua sede de permanência e preservação? • Pessimismo ou uma dor escamoteada?
  • 114. Capítulo final = Das negativas • No último capítulo, o narrador Brás Cubas faz um último balanço das perdas e dos ganhos de sua existência, convicto de ter saído quite com a vida. É verdade que não se tornara califa nem ministro, não se casara nem criara o emplasto que lhe daria acesso à celebridade. Contudo, essa impressão de sair da vida sem “míngua nem sobra” se desfaz quando Brás dá-se conta de que havia um saldo positivo a seu favor: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.
  • 115. O Rio de Janeiro de Brás Cubas
  • 116. OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013 falecomyuri1@hotmail.com
  • 117. A CIDADE e as serras RO M A N C E D E E Ç A D E Q U E I R Ó S falecomyuri1@hotmail.com
  • 118. “o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado” Jacinto de Tormes, “Príncipe da Grã-Ventura”
  • 119. O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras Evolucionismo: O HOMEM EVOLUI COMO QUALQUER OUTRO SER VIVO E ATRAVÉS DA LEI DA SELEÇÃO NATURAL Positivismo: SÓ O DADO POSITIVO (científico) É VÁLIDO. O DADO NEGATIVO (intuitivo) DEVE SER DESCARTADO. Determinismo: TODAS AS ESCOLHAS DO HOMEM SÃO DEFINIDAS PELO MEIO, PELA RAÇA E PELA CULTURA. Socialismo: TODOS OS MEIOS DE PRODUÇÃO PERTENCEM À COLETIVIDADE.
  • 120. O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras • Gustave Flaubert: Madame Bovary • Oposição ao Romantismo: Questão Coimbrã • Antero de Quental X Antonio Castilho • Anti-burguês, Anti-monárquico, Anti-Clerical • Portugal: Geração de 70 • EÇA DE QUEIRÓS
  • 121. João Maria Eça de Queirós (1845 - 1901)
  • 122. AS FASES DE EÇA DE QUEIRÓS A CIDADE e as serras 1ª fase – Romântica (Prosas Bárbaras): temas e idealizações Românticas, descrições já Realistas e estilo de feições Simbolistas. 2ª fase – Realista (O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias): romance de costumes, com a análise objetiva e crítica da sociedade. 3ª fase - Realista de Transição (A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras, Últimas Páginas): moderação no sarcasmo e na ironi, sentimento mais afetivo em relação à Portugal.
  • 123. A CIDADE E AS SERRAS Publicado em 1901, depois da morte do autor. Duas concepções de vida: vida no campo e a vida na cidade.
  • 124. A CIDADE E AS SERRAS: UM OUTRO EÇA DE 1875 até 1900: Eça crítico dos excessos, dos vícios e desvios da sociedade burguesa. Eça pessimista, irônico, descrente na mudança do homem. EÇA SOCIALISTA EM A CIDADE E AS SERRAS: Eça crente na redenção de Portugal. Eça moderado, otimista. EÇA HUMANO.
  • 125. visão • Visão mais livre e mais humanitária, pois o autor supera o esteticismo cientificista. • Reflexão madura do significado da existência do homem à face da terra. • Acentuada idealização da natureza, entendida como remédio para os males gerados pela civilização urbana. • Valorização de uma aristocracia rural degradada pela adoção de modelos inautênticos. • O homem só é verdadeiramente feliz, longe da civilização, da máquina, do progresso. • Culto à Natureza e à simplicidade.
  • 126. GÊNERO • Alegórico: felicidade se encontra na vida simples e laboriosa do meio rural e não na civilização. • É preciso se despir dos valores artificiais da cidade/civilização.
  • 128. linguagem • Primeira e segundas fases: definidora, cheia de pormenores psicológicos e patólogicos. • Terceira fase: aproxima-se do lirismo ( principalmente no campo)
  • 129. REALISMO/NATURALISMO ROMANCE DE TESE: Tese inicial: só a tecnologia (CIDADE) traz felicidade Antítese: só a simplicidade (SERRAS) traz felicidade Síntese: uma vida equilibrada traz felicidade. (alguma tecnologia + simplicidade)
  • 130. estrutura • Advertência: a obra é póstuma. - Capítulo 1 ao 8 : cidade de Paris, 202. urbano, tédio irresistível, ironia,pessimismo atroz. Natureza é a bestialidade.Civilização é produto da cidade Suma Potência + Suma Ciência= Suma Felicidade. - Capítulo 8 ao16:Antítese:Campo,Natureza rural, idílio campestre, lirismo, cores da Natureza. Renovação.
  • 131. narrador . Primeira pessoa. • Não é onisciente. • Contamina o texto com sua visão de mundo: subjetividade. Por meio dele, nota-se a tese. José Fernandes – narrador e personagem secundário, amigo de Jacinto, culto, viajado, afetuoso, compassivo, compreensivo, raízes rurais. • È o duplo de Jacinto, pois acredita na superioridade da natureza e na regeneração por meio do campo.
  • 132. • Avô Jacinto Galeão Dom Miguel • D, Angelina Fafes • Cintinho Ida para a frança • Filha de um desembargador, Teresinha Na frança • Jacinto Tormes nasce
  • 133. Personagem- Jacinto: metáfora de Portugal. • Jacinto- mitologia grega- flor: Jovem de notável beleza, morto, acidentalmente pelo deus Apolo. Para imortalizar Jacinto, Apolo, deus da cultura e da civilização, transforma-o em uma flor. • . Representa a elite ultraconservadora. • Até os trinta anos: inteligente, sortudo, entusiasta do progresso, acumula conhecimentos. Príncipe da grã-ventura. Acreditava que o homem “só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. • Depois dos trinta: inteligente, chique, culto, cheio de prestígio, mas não é feliz: triste, decadente fisica/mentalmente.Sofre com a fartura. Lia os pessimistas, principalmente Schopenhauer.
  • 134. • No campo: reaprende a simplicidade, aproxima-se de suas raízes, renova-se pelo contato com a natureza. Lia Virgílio, As Geórgicas. - Torna-se um benfeitor dos pobres. Afirma não ser migueleista, mas socialista: “ser pelos pobres”.
  • 135. Personagens- tipo/caricatura • Avô Jacinto: gordíssimo e riquíssimo fidalgo, casado com dona Angelina de Fafes, morava em Portugal e era devoto do infante dom Miguel. Quando dom Miguel é exilado para a França, Jacinto muda-se com a esposa e o filho Jacinto (Cintinho) para a França e compra o 202.
  • 136. • Cintinho – pai de Jacinto, o protagonista da história. Seco, chupado, encurvado e tuberculoso. Casa-se com Teresinha Velho. Ela engravida, mas Cintinho morre (1851), antes do filho nascer.
  • 137. • D. Miguel – filho de Dom João VI, herdeiro ao trono de Portugal. • 1828- Constituição. Dom Miguel é aclamado rei de Portugal: estabeleceu o absolutismo no país. • 1832/1834- Dom Miguel entra em guerra contra D. Pedro, que tem o apoio dos liberais. • Dom Miguel é exilado.
  • 138. Personagens do campo: simplicidade, amizade. • Tio Alfonso. • Tia Vicença. • Silvério, o caseiro. • Joana, esposa de Jacinto: casamento, equilibrio. • Jacintinho e Teresinha: filhos de Jacinto.
  • 139. Personagens da cidade: frivolidade, aparência, hipocrisia, vaidade, lisonja, falsidade, elegância, traje sedutores. • Madame de Verghane. • Princesa de Carman. • Grã-duque Casemiro • Madame Joana de Oriol: amante de Jacinto. Vivia das aparências. • Condessa de Tréves. • Duque de Marizac • Efraim
  • 140. Sexo, mecanicismo, instinto: naturalismo • Diana, cocote. • Madame Colombe, por quem Zé Fernandes tem uma “infecção sentimental”.
  • 141. outros • Grilo- criado de Jacinto: Seu Jacinto sofre de fartura. Seu Jacinto brotou. - Marício de Mayole- amigo de Jacinto. Por meio da conversa, nota-se que Jacinto já conhecia vária teorias: Nietzschianismo, culto ao eu...
  • 142. Espaço • França, Campos Elíseos, 202: microcosmo social: cheio de prodígios da tecnologia, desejo de acumular: 30 mil livros, elevadores, eletricidade, encanamento... Inutilidade da parafernália mecânica. • Portugal, Solar em Tormes: rústico, calmo, renovador, idílico. Obs: fome no campo, desigualdade social.
  • 146. características • Realismo. • Impressionismo. • Zoomorfismo. • Naturalismo. • Estética do feio. • Ironia • Humor. • Caricatura. • intertextualidade.
  • 147. Por fim • 1- negar o campo, elogio ao progresso e à civilização. • 2 – afirmação do campo, regeneração das virtudes humanas. • 3 – equilíbrio: campo e cidade se reconciliam, sob o domínio da natureza: fonte de felicidade e paz.
  • 148. A CIDADE e as serras O texto é uma ampliação de um conto intitulado "Civilização" (1892). Conta-se a história de Jacinto, neto de D. Galião. Órfão de pai, Jacinto nasceu e cresceu em Paris, ficando desde cedo maravilhado com a cidade e com todas as invenções e tecnologia da época (é o período conhecido como Belle Époque). Formulou então uma teoria, segundo a qual, para um indivíduo tornar-se feliz deveria ser "superiormente civilizado". Assim, reúne em seu palacete tudo o que a civilização industrial produzira até então: elevadores, telefones, engenhocas as mais diversas, além de uma biblioteca de mais de 30 mil volumes.
  • 149. “Com estes olhos que recebemos da Madre Natureza, lestos e sãos, nós podemos apenas distinguir além, através da Avenida, naquela loja, uma vidraça alumiada. Nada mais! Se eu porém aos meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões de geléia e caixas de ameixa seca. Concluo, portanto, que é uma mercearia. Obtive uma noção: tenho sobre ti, que com os olhos desarmados vês só o luzir da vidraça, uma vantagem positiva. Se agora, em vez destes vidros simples, eu usasse os de meu telescópio, de composição mais científica, poderia avistar além, no planeta Marte, os mares, as neves, os canais, o recorte dos golfos, toda a geografia de um astro que circula a milhares de léguas dos Campos Elísios. É outra noção, e tremenda! Tens aqui, pois, o olho primitivo, o da natureza, elevado pela Civilização à sua máxima potência da visão. E desde já, pelo lado do olho, portanto, eu, civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque descubro realidades do universo que ele não suspeita e de que está privado. Aplica esta prova a todos os órgãos e compreende o meu princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se tira pela incansável acumulação das noções, só te peço que compares Renan e o Grilo... Claro é, portanto, que nos devemos cercar de Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas proporções a vantagem de viver.”
  • 150. A CIDADE e as serras A história é narrada por José Fernandes, melhor amigo de Jacinto, que viera de uma propriedade rural localizada em Guiães, Portugal, e fora a Paris estudar. José Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior atenção o amigo; suas intensas atividades o desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que Jacinto foi perdendo a credulidade, percebendo a futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade de muitas coisas da sua tão decantada civilização. Nos raros momentos em que conseguiam passear, confessava ao amigo que o barulho das ruas o incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um período de nítido desencanto. Alguns incidentes contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo de Jacinto: o rompimento de um dos tubos da sala de banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto, inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma pilha de telegramas, alguns inclusive com um riso sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que não mais apareceria pelo 202 sem que tivesse uma bóia de salvação.
  • 151. A CIDADE e as serras As reuniões sociais estavam ficando maçantes. Em uma recepção ao Grão-Duque, Jacinto já não agüentava o farfalhar das sedas das mulheres quando lhes explicava o uso dos diferentes aparelhos, o tetrafone, o numerador de páginas, o microfone... O criado veio lhe informar que o peixe a ser servido ficara preso no elevador e os convidados puseram-se a pescá-lo, inutilmente, porque o peixe acabou não indo para a mesa, fato que deixou ainda mais aborrecido o anfitrião.
  • 152. A CIDADE e as serras “ Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessava uma densa névoa de tédio, tão densa, e ele tão afundado na sua mole densidade, que as glórias ou os tormentos de um camarada não o comoviam, como muito remotas, inatingíveis, separadas da sua sensibilidade por imensas camadas de algodão. Pobre Príncipe Grã-Ventura, tombado para o sofá de inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso fastio caíra, depois de renovar tão brava mente todo o recheio mecânico e erudito do 202, na sua luta contra a força e a matéria!”
  • 153. A CIDADE e as serras Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel criado Grilo sobre o que está ocorrendo com Jacinto. O homem respondeu com tamanho conhecimento de causa que espantou o narrador. Uma simples palavra poderia definir todo o tédio de que era acometido: o patrão sofria de “fartura”.
  • 154. “ Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear plenamente a "delícia de viver", ele não encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! (...) Não se ocupara mais das suas sociedades e companhias, nem dos telefones de Constantinopla, nem das religiões esotéricas, nem do bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as varria tristemente como o lixo de uma vida finda. Também lentamente se despegava de todas as sua convivências. (...) Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo, seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio 202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização, não lhe desse uma sesação dolorosa de abafamento, de atulhamento!”
  • 155. A CIDADE e as serras Do maquinário instalado no palacete de Jacinto, nada funciona adequadamente. Os livros são, na verdade, reduzidos a objetos de ostentação, uma vez que o "Príncipe da Grã Ventura" (alcunha pela qual o narrador se refere a Jacinto) não os lê, sintoma entre outros do desânimo e descrença na civilização que abraçara com tanto ímpeto. Atira-se então à leitura do livro bíblico Eclesiastes, segundo o qual "tudo é vaidade", e à filosofia pessimista de Schopenhauer, para quem a vida é um pêndulo que oscila entre o tédio e o sofrimento.
  • 156. A CIDADE e as serras Em um passeio que fazem os dois amigos pelos arredores de Paris, na colina da Basílica do Sacré-Coeur, José diz ao amigo: "o homem pensa que tem na cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria", e Jacinto concorda: "sim, é talvez tudo uma ilusão... e a cidade a maior ilusão!“ Zé Fernandes, nesse passeio, continuou a filosofar, acrescentando preocupações de caráter pessoal, indagando a posição dos pequenos que, como vermes, se arrastavam pelo chão, enquanto os poderosos os massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando aos pobres não mais que algumas migalhas. Religiosamente, acreditava ser necessário um novo Messias que ensinasse às multidões a humildade e a mansidão.
  • 157. Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade e os gozos especiais que ele a cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela sofre, e com sofrimento especiais, que só nela existem! (...) A tua Civilização reclama incansavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o capital der ao trabalho, por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade. (...) Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da Cidade, estendida na planície, fosse escandalosa. E caminhamos devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando - considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana, trazida pelo esforço humano. Ah, os Efrains, os Trèves, os vorazes e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou afrouxarão a exploração das plebes, se uma influência celeste, por milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as almas! O burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado - e contra ele são impotentes os prantos dos humanitários, os raciocínios dos lógicos, as bombas dos anarquistas. Para amolecer tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a esperança da Terra novamente posta num Messias!...
  • 158. Por motivos familiares, Jacinto muda-se para sua propriedade rural em Tormes, vizinha à de José Fernandes; antes, envia para lá uma série de aparelhos e livros. Partem os dois amigos de volta a Portugal. José Fernandes estava feliz em rever a pátria; Jacinto, aborrecido e enfadado principalmente porque, em Medina (Espanha), as malas ficaram em compartimentos errados quando foi feita a baldeação. O narrador, com o intuito de aclamar o amigo, diz-lhe que a Companhia cuidaria de tudo. E ficaram os dois só com a roupa do corpo. Enfim, chegaram a Tormes.
  • 159. A CIDADE e as serras ...e ambos em pé, às janelas, esperamos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditodoso das nossas provações. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com sues vistoso girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio, e por trás, a serra coberta de velho e denso arvoredo.
  • 160. Do mesmo modo que idealizara a vida urbana, Jacinto passa a idealizar a vida campesina. Aos poucos, porém, percebe que o ideal é unir o que a sociedade urbana tem de melhor e útil, como por exemplo o telefone, com a simplicidade dos camponeses. Casa- se com Joaninha, uma prima de Zé Fernandes, e tem com ela dois filhos, Jacinto e Teresa. Sua vida atinge o equilíbrio, sem idealizações exageradas.
  • 161. A Cidade e as Serras mostra uma relação entre as elites e as classes subalternas na qual aquelas promovessem estas socialmente, como faz Jacinto ao reformar sua propriedade no campo e melhorar as condições vida dos trabalhadores. Por meio do personagem central, Jacinto de Tormes, que representa a elite portuguesa, a obra critica-lhe o estilo de vida afrancesado e desprovido de autenticidade, que enaltece o progresso urbano e industrial e se desenraiza do solo e da cultura do país. Na obra, a apologia da natureza não pode ser confundida com o elogio da mesmice e da mediocridade da vida campestre de Portugal. Ao contrário, trata-se de agigantar o espírito lusitano, em seu caráter ativo e trabalhador.
  • 162. Foco narrativo Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as Serras, como a maioria dos romances de Eça de Queirós, há um narrador- personagem, José Fernandes, o qual não se confunde com o protagonista da obra, Jacinto de Tormes. Este narrador coloca-se como menos importante do que o protagonista, como podemos perceber, por exemplo, no início da obra. Nos primeiros parágrafos do livro o narrador, em vez de apresentar-se ao leitor, coloca-se em segundo plano para apresentar toda a descendência dos de Tormes, até aparecer a figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe tratamento diferenciado, parecendo idealizar Jacinto, na medida em que o chama de "Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido estudantil do protagonista.
  • 163. Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade, empreendeu uma viagem que o reencontrou consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem, que é exterior e interior, inclui a pátria portuguesa e se reveste de uma significação particular, pode ser lida como um processo de auto-conhecimento: um novo Portugal e um novo português se percebem nas serras que querem utilizam da cidade o necessário para se civilizarem sem se corromperem.
  • 164. A Cidade e as Serras é um romance no qual se destaca a categoria espaço, na medida em que os ambientes são fundamentais para a compreensão da história, destacando-se os contrastes por meio dos quais se contrapõem. Assim, a amplidão da quinta de Tormes contrasta com a estreiteza do universo tecnológico do 202, o que aponta para a oposição entre o espaço civilizado e o espaço natural, presente em todo o romance.
  • 165. Um registro importante a se fazer é que a tese defendida no romance remete o leitor ao Arcadismo (século XVIII), época exatamente do início da Idade Contemporânea, com as Revoluções Industrial e Francesa. Nesse período, os poetas propunham a fuga da cidade, fugure urbem, e idealizam a vida bucólica, tendo frequentemente a poesia pastoral como tema e transformado o campo numa espécie de território perdido evocado em versos como os do nosso Cláudio Manuel da Costa: Quem deixa o trato pastoril amado Pela ingrata civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado!
  • 166. Saudade de Minha Terra (Goia e Belmonte) Que saudade imensa do campo e do mato Do nosso regato que corta as campina De que me adianta viver na cidade Aos domingo eu ia passear de canoa Se a felicidade não me acompanhar Nas lindas lagoas de águas cristalinas Adeus paulistinha do meu coração Que doce lembrança daquela festança Lá pro meu sertão eu quero voltar Onde tinha dança e muitas meninas Ver a madrugada quando a passarada Eu vivo hoje em dia sem ter alegria Fazendo a alvorada começa a cantar O mundo judia mas também me ensina Com satisfação, eu arreio o burrão Eu tô contrariado, mas não derrotado Cortando o estradão, eu saio a galopar Eu sou bem guiado pelas mãos divinas E vou escutando o galo berrando Sabiá cantando no jequitibá Pra minha mãezinha já telegrafei E já me cansei de tanto sofrer Por Nossa Senhora, meu sertão querido Essa madrugada estarei de partida Vivo arrependido por ter te deixado Pra terra querida que me viu nascer Essa nova vida aqui na cidade Já ouço sonhando o galo cantando De tanta saudade eu tenho chorado O inhambu piando no escurecer Aqui tem alguém, diz que me quer bem A lua prateada clareando as estradas Mas não me convém, eu tenho pensado A relva molhada desde o anoitecer Eu vivo com pena, pois essa morena Eu preciso ir pra ver tudo ali Não sabe o sistema que eu fui criado Foi lá que eu nasci, lá quero morrer Tô aqui cantando, de longe escutando Alguém está chorando com o rádio ligado
  • 167. OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013 falecomyuri1@hotmail.com
  • 169. Viagens na Minha Terra Obra da autoria de Almeida Garrett, publicada em folhetins entre 1845 e 1846 na Revista Universal Lisbonense (que já dera a conhecer alguns fragmentos em 1843) e editada em volume em 1846. Livro "inclassificável", representa uma obra única do Romantismo português e da literatura portuguesa, constit uindo-se como ponto de arranque da moderna prosa literária portuguesa, quer pela estrutura aparentemente desconexa e inovadoramente c ompósita, quer pela linguagem (ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando a vivacidade de expressões e imagens, pelo tom oral usado pelo autor, que desta forma libertou o discurso da pesada tradição clássica).
  • 170. Diálogo instaurado com o leitor Conduz o leitor a fazer parte de sua viagem; tornando-o um viajante também e guia-o na interpretação do comportamento dos personagens, preocupando-se com o bom entendimento de sua narrativa. Explica sentidos, estabelece relações intratextuais, faz flashback dentro da própria estória, ou seja, transforma – a partir de sua produção ficcional e de seus modernos recursos de interatividade –, o leitor em um co-autor, ou ainda, o leitor em um co-personagem de sua narrativa.São aspectos semânticos e estilísticos da linguagem de, a passagem do discurso narrativo para o discurso narrativo-digressivo; a apresentação de aspectos de natureza temática e de natureza técnico-literária. Uma influência para Mémorias Póstumas de Brás Cubas.
  • 171. INTRODUÇÃO A obra fundamenta-se numa viagem realmente efetuada por Garrett em 1843, a convite do político Passos Manuel, morador de Santarém. Nos dez primeiros narram as peripécias da viagem desde Lisboa até aquela cidade, de vapor, a cavalo, de carruagem. De permeio, o narrador vai tecendo comentários e divagações acerca de vários assuntos associados com o que vê e pensa durante o trajeto: a riqueza, o progresso, a literatura, a política, a modéstia, a guerra, o clero, o amor etc. Chegado a Santarém, o escritor ouve do companheiro de viagem a narração dos amores de Joaninha, “a menina dos rouxinóis”, e Carlos, entremeada de reflexões do herói da viagem.
  • 172. Resuminho do romance Os jovens enamoram-se, mas Carlos vive dilacerado pelo amor que ainda julga sentir por Georgina, que ficara na Inglaterra. Envolve-se na trama Frei Dinis, que assassinara o marido da amante e o pai de Joaninha, tomara hábito e era o verdadeiro pai de Carlos. Com a vinda de Georgina (novo amor Inglês) a Santarém, dá-se o reconhecimento e o perdão, mas não a concretização do amor com Joaninha, que abandonada enlouquece e morre. Como toda boa tragédia, não há final feliz em relação ao amor, Georgina entra para o convento e torna-se abadessa, na Inglaterra; Carlos “é barão, e vai ser deputado qualquer dia”. MOISÉS, Massaud. “Literatura portuguesa”, São Paulo: Cultrix. P. 132.
  • 173. FOCO NARRATIVO Em “Viagens na minha terra”, Garrett assume também o papel de narrador. Isto nos ministra informações importantes sobre sua biografia, e dá ao livro um caráter de depoimento e observação histórica. Quando Garrett usa a primeira pessoa, “eu”, produz considerações cheias de humor, não longe de uma atmosfera de prosa lírica. Quando usa a terceira pessoa, “ele”, e se esquece um pouco de si, passa ao tom mais grave, mais revelador, mais dramático, que ocorre, sobretudo, quando nos conta a história dos amores de Carlos e Joaninha, ou quando fala do cenário da guerra civil em Portugal.
  • 174. CRÍTICA “neste livro – misto de diário, literatura de viagens, reportagem e ficção, o escritor português narra a história de um rapaz (Carlos) que se apaixona de um modo sucessivo e intenso por várias mulheres e se sente incapaz de estancar este constante fluir da vida amorosa, de fixar e estabilizar a sua personalidade afetiva. (...) Ninguém, antes de Garrett, na ficção portuguesa, entrara tão sutilmente na análise do que há de convencional, fictício ou autêntico na vida sentimental, na confusão da verdade e da mentira, de vida atual e de sobrevivência que é o todo afetivo de cada indivíduo; e ninguém pôs em termos agudos o problema do desgarrar da personalidade na mudança de tudo, ligando-o, ao mesmo tempo, ao ceticismo superveniente a uma causa generosa que degenera: Carlos descrê de um amor verdadeiro, ao mesmo tempo que descrê da revolução...” Antonio José Saraiva e Oscar Lopes
  • 175. CARACTERÍSTICAS O romance “Viagens na minha terra” foi composto sob a forma de folhetim, bem ao gosto romântico da época. Sua narrativa, apesar de grande base descritiva, dos adjetivos em excesso, é saborosa, envolvente e apresenta temas essencialmente românticos como: natureza ativa e confessional; heroísmo; nacionalismo; lirismo amoroso e morte. Há em Garrett um observador minucioso de fatos, excluindo-se o tom melodramático tornando-se um antecipador de Eça de Queirós. O autor usa um estilo extremamente vivo, com giros e expressões coloquiais – um estilo que se molda ao pensamento no seu fazer-se, apto a sugerir leves emoções, associações fugidias, estados de devaneio, os meandros duma nova sensibilidade.
  • 176. Linguagem A riqueza de sua linguagem nos fazem perceber o dinâmica é a obra. Identificam-se o uso de formas modernas e coloquiais, os gêneros textuais mesclam- se em narração, diálogo, resumo, comentário, descrição à moda clássica ou à maneira romântica. Ao mesmo tempo adianta-se à forma característica de sua época e permeia momentos de tradição literária do passado, sua contemporaneidade e avança na sua escola literária
  • 177. Estrutura da Obra Na obra, entrelaçam e dois níveis narrativos: o relato de uma viagem entre Lisboa e Santarém, entremeado de reflexões e divagações do narrador acerca da realidade portuguesa, e a novela da "Menina dos rouxinóis", a narração da história de amor entre dois primos, Carlos e Joaninha, situada na época das lutas civis entre absolutistas e liberais. Além do relato da viagem Tejo acima.
  • 178. AS TRÊS HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS “Viagens na Minha Terra” é um livro difícil de enquadrar em gênero literário, pelo hibridismo que apresenta. “O que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros, é uma história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão. Acabemos aqui o capítulo em forma de prólogo e a matéria do meu conto para o seguinte.” (CAP. X) É com ternura que Garrett se lembra de algumas paisagens de sua terra, das velhas histórias ligadas ao folclore ou que ele nos fala de poetas prediletos, como Homero, Virgílio, Dante, Camões, Goethe e outros. Mas é com pessimismo político que ele vê as últimas gerações de portugueses, envolvidos pela mentalidade voltada para a busca do lucro.
  • 179. AS TRÊS HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS Nesse romance, é perceptível a técnica de suspensão da narrativa, em favor de comentários e opiniões variados, sob o ritmo da emoção crítica e da fineza intelectual, denomina-se digressão. Desse modo, relata assuntos sobre economia, geografia, política, literatura, arquitetura, justiça, filosofia, religião, história ou costumes sociais, sem, no entanto, tirar a unidade do livro. Pois eles convergem para dois tipos de emoção alternantes: a da observação terna e enlevada, e a do ceticismo cultural, tratado geralmente com humor crítico.
  • 180. Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel I disputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier, 1833.
  • 181. Histórias, interligadas pelas circunstâncias e pelo tempo (contexto da Guerra Civil) e espaço físico (PORTUGAL). HISTÓRIA 1: é a da própria viagem que o narrador faz de Lisboa a Santarém de comboio, com a intenção de conhecer as ricas várzeas desse Ribatejo, e assim saudar do alto cume a mais histórica e monumental das vilas de Portugal. HISTÓRIA 2: refere-se a dos amores de Carlos e Joaninha. HISTÓRIA 3: Guerra civil: Pano-de-fundo histórico, que é a guerra civil que abalou Portugal, e que dividiu os contendores em realistas e constitucionalistas. Os primeiros, conservadores, queriam a monarquia absoluta. Os segundos, liberais, desejavam uma política nacional pautada pelos ideais da Revolução Francesa, e, com isso, uma monarquia mais branda.
  • 182. PERSONAGENS: Personagens Principais: Joaninha e Carlos: protagonistas da história de amor. Personagens Secundárias: A avó de Joaninha – D. Francisca, Frei Dinis, Georgina, Laura e Júlia. A. Garret: autor e narrador. Personagem? NÃO.
  • 183. A VIAGEM DE GARRETT: Garrett afirma que há muito tempo sentia desejo de conhecer “as ricas várzeas desse Ribatejo”, coisa que a mexeriquice de um jornal entendeu como viagem política. Partiu em dezessete de julho de 1843. Como o tempo lhe sobra, vai fazendo também uma viagem por dentro de si mesmo, uma viagem a suas recordações, suscitadas por tudo o que está vendo.
  • 184.
  • 185. Vê-se, portanto, que as “Viagens na minha terra” poderiam ser interpretadas como uma costura do que vai “lá fora” com o que desperta “cá dentro”. O que vai “lá fora”, e é visto com o olhar do corpo, é o panorama que se descortina Tejo acima, as vilas, as pessoas. O que vai “cá dentro”, e é visto com o olhar da memória, constituiria a viagem imaginária de Garrett. E assim, o fato de fumar a bordo lhe lembra o poeta Lord Byron; as pessoas no navio lhe inspiram um comentário sobre os portugueses, e assim a digressão vai tecendo o livro. Em seguida, passa ao argumento de que a marcha da civilização obedece a dois impulsos, o do espiritualismo, calcado em D. Quixote, e o do materialismo, em Sancho Pança. A viagem, assim, vai simbolizando ironicamente a marcha do progresso social.
  • 186. Espiritual x Materialista “Descobriu ele que há dois princípios no mundo: o espiritualista, que marcha sem atender à parte material e terrena desta vida, com os olhos fitos em suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro, inflexível, e que pode bem personalizar-se, simbolizar-se pelo famoso mito do cavaleiro da mancha, D. Quixote; - o materialista, que, sem fazer caso nem cabedal dessas teorias, em que não crê, e cujas impossíveis aplicações declara todas utopias, pode bem representar-se pela rotunda e anafada presença do nosso amigo velho, Sancho Pança”. (cap. II)
  • 188. No vale de Santarém, o autor surpreende uma habitação antiga, com janela larga e baixa. Lá, imagina “um vulto feminino que viesse sentar-se àquele balcão – vestido de branco...”, de olhos...pretos? Uma voz – que é a voz de um companheiro de viagem – corrige para “verdes”. Dessa forma que Garrett entrou em contato pela primeira vez com a história da “menina dos rouxinóis”. A história da “menina dos rouxinóis”, a Joaninha e seu amor por Carlos, é datada por volta de 1832, e o narrador começa a relatar efetivamente no Capítulo II. No Capítulo III, Garrett faz insinuante observação sobre os frades, mal vistos pela apressada opinião moderna. No Capítulo XXVII, os viajantes chegam a Santarém, passam pelo convento de S. Francisco, cujo último guardião fora Frei Dinis.
  • 189. A HISTÓRIA DE CARLOS E JOANINHA: “Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no sentido popular e expressivo que a palavra tem em português, mas era o tipo da gentileza, o ideal da espiritualidade. Naquele rosto, naquele corpo de dezesseis anos, havia por dom natural e por uma admirável simetria de proporções toda a elegância nobre, todo o desembaraço modesto, toda a flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a conversação da corte e da mais escolhida companhia vêm a dar a algumas raras e privilegiadas criaturas do mundo.” (CAP. XII)
  • 190. - Filho, meu filho! – arrancou a velha, com estertor, do peito, - é teu pai, meu filho. Este homem é teu pai, Carlos.” (CAP. XXXV)
  • 191. Clímax do romance _Carlos e frei Dinis _Carlos rumo à nova vida Carlos representante do novo Portugal: Capitalismo Morte de Joaninha: morte da Pureza Dilema familiar: Dilema de Portugal
  • 192. Desfecho Carlos deixara uma carta para sua prima Joaninha. É uma carta de despedida definitiva, que lançará também alguma luz sobre a psicologia dessa personagem algo estranha, que devota sincero amor a duas mulheres simultaneamente, e que se afasta do pai tão logo o reconhece. Carlos, enfim, não quis recompor a vida com os seus.
  • 193. CONCLUSÃO Em geral, as tragédias clássicas terminam com uma solução violenta do destino e Garrett tinha muita sensibilidade para o gênero trágico, É preciso que os protagonistas desapareçam, ou mudem completamente de vida. Garrett acena com uma explicação cabível. É que os acontecimentos haviam rompido algo no coração de Carlos. Haviam feito que ele não apenas quisesse esquecê-lo totalmente, mas também quisesse converter sua vida em outra coisa, bem contrária ao que fora até então, por exemplo, tornar-se barão (novamente Garrett utiliza a oposição entre frades, que representam o Portugal antigo, e barões, que o representam o capitalismo moderno e sem escrúpulos).
  • 194. CONCLUSÃO O narrador se despede, e procura reencontrar seus companheiros de viagem. A obra “Viagens na minha terra” retrata a conexão entre a vida íntima e a vida pública do herói, entre o seu cansaço sentimental e a sua descrença política. Além de valer-se pela análise da situação política e social do país e pela simbologia que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho, absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.
  • 195. GUERRA CIVIL -1807- Invasão napoleônica : vinda da Família Real para o Brasil - Retirada das tropas napoleônicas : Retorno de D. João VI -1822 – D. Pedro I (IV em Portugal) : Independência do Brasil - 1823 D. Miguel - golpe : retorno do Absolutismo -1824 – D. Miguel - Golpe contra D. João VI (Expulso) -1826 – Morte de D. João VI - Retorno de D. Pedro I (rei por uma semana) – D. Maria (7 anos) : casamento com D. Miguel - Regresso de D. Miguel e Partida de D. Pedro I - Traição de D. Miguel : reinstala o Absolutismo - 1831- D. Pedro I abdica do trono – D. Pedro II - 8/7/1832 – 7.500 homens comandados por D. Pedro I – Porto (Guerra Civil) - 1834 – forças liberais(CONSTITUCIONALISTAS) derrotam os absolutistas (Realistas) - 1836 – Passos Manuel - estabilidade - Após 6 anos- floresce o Absolutismo (ascensão dos financeiros, dos barões (classe média endinheirada), da corrupção...
  • 196. OBRAS FUVEST/ UNICAMP 2013 falecomyuri1@hotmail.com
  • 197. O CORTIÇO Aluísio Azevedo falecomyuri1@hotmail.com
  • 198. O cortiço e L´Assommoir (Émile Zola) - Lavadeiras e seu trabalho (brigas) - Encontro de amantes - Policial (espécie de caricatura da lei) - Drama de trabalhadores pobres - Trabalhadores amontoados numa habitação coletiva - Degradação devido à vida promíscua
  • 199. EIXO NARRATIVO: coexistência íntima entre trabalhador e explorador econômico Meio utilizado: ”exploração direta e predatória do trabalho muscular” (Antônio Cândido) Regime de servidão, exploração da renda imobilária, da usura e prática do roubo Primitivismo econômico
  • 200. “Para o asno forragem, chicote e carga; para o servo pão, correção e trabalho” (Eclesistes, 33:25) “No Brasil, costumam dizer que para o escravo são necessários três P.P.P., a saber, Pau, Pão e Pano” (começo do sec XVIII) “Para português, negro e burro, três pês: pão para comer, pano para vestir, pau para trabalhar” (fim do sec XIX)
  • 201. Mais-valia crioula Para português negro e burro três pês: pão para comer pano para vestir pau para trabalhar. (Oswald de Andrade)
  • 202. EQUIPARAÇÃO DO HOMEM AO ANIMAL João Romão = vence o meio 1º - PORTUGUÊS : Miranda = vence o meio Jerônimo = vencido pelo meio 2º - NEGRO + MESTIÇO : Firmo, a mulata Rita Baiana , população do cortiço (pobres) 3º - ANIMAL : brancos e negros = vistos como animal (redução biológica do indivíduo : “o prazer animal de existir”)
  • 203. 1º - O EXPLORADOR CAPITALISTA 2º - O TRABALHADOR SOB À CONDIÇÃO DE ESCRAVO 3º - O HOMEM SOCIALMENTE ALIENADO E REBAIXADO AO NÍVEL DA ANIMALIDADE
  • 204. CORTIÇO Início Depois Regido por lei Regido por João biológica : Romão : ESPONTANEIDADE MECÂNICO
  • 205. Cortiço Velho (“Carapicus”) = aglomerado espontâneo Cortiço novo (“Vila São Romão”) = estabelecimento da ordem / Sobrado de J. Romão X Cortiço rival (“Cabeça-de-gato”) = manutenção da “espontaneidade caótica”
  • 206. CORTIÇO Espaço físico : habitação coletiva Espaço social : mistura de “raças”, choque entre elas. Espaço simbólico : ALEGORIA do Brasil (“matéria-prima de lucro para o capitalismo”)
  • 207. NATUREZA BRASILEIRA Sedutora, poderosa e transformadora (à luz do Naturalismo) Rita Baiana = força perigosa “Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha
  • 208. do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. Mudança de Jerônimo “abrasileirou-se”
  • 209. Ordeiro, Perda de valores comedido, anteriores, alegre, econômico, sério, sentidos aguçados, forte, honrado hábitos de asseio “...lá o seu homem não seria anavalhado pelo ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador triste e contemplativo, como o gado que à tarde levanta para o céu de opala o seu olhar humilde, compungido e bíblico.”
  • 210. “E Jerônimo não aparecia. Ela ergueu-se finalmente, foi lá fora ao capinzal, pôs-se a andar agitada, falando sozinha, a gesticular forte. E nos seus movimentos de desespero, quando levantava para o céu os punhos fechados, dir-se-ia que não era contra o marido que se revoltava, mas sim contra aquela amaldiçoada luz alucinadora, contra aquele sol crapuloso, que fazia ferver o sangue aos homens e metia-lhes no corpo luxúrias de bode. Parecia rebelar-se contra aquela natureza alcoviteira, que lhe roubara o seu homem para dá-lo a outra, porque a outra era gente do seu peito e ela não.”
  • 211. SOL = “manifestação da natureza tropical e princípio masculino de fertilidade” Pombinha : “...até formar-se em torno dela uma floresta vermelha, cor de sangue, onde largos tinhorões rubros se agitavam lentamente. E viu-se nua, toda nua, exposta ao céu, sob a tépida luz de um sol embriagador, que lhe batia de chapa sobre os seios. (...) Lá do alto o sol a fitava obstinadamente, enamorado das suas mimosas formas de menina. (...) A natureza sorriu-se comovida. Um sino, ao longe, batia alegre as doze badaladas do meio-dia. O sol, vitorioso, estava a pino e,(...), abençoando a nova mulher que se formava para o mundo.”
  • 212. Til = “bela flor do campo” = seduz todos os homens ao seu redor X RITA = “luz ardente do meio-dia” + café = seduz Jerônimo “E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores; assentou-se ao rebordo da cama e, segurando com uma das mãos o pires, e com a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por gole, enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de impaciência no antegozo daquele primeiro enlace.”
  • 213. Busca pela “RAÇA SUPERIOR” Bertoleza : “...porque, como toda cafuza (...) não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior.” Rita: “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.” BRANCO=EUROPEU X MESTIÇO/NEGRO=BRASILEIRO “invasor econômico” “natural explorado pelo europeu”
  • 214. O REINO ANIMAL (Zoomorfismo) NA HABITAÇÃO COLETIVA: “aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas” / “o prazer animal de existir” / “as mulheres iam despejando crianças com uma regularidade de gado procriador” / “o tremular das redondas tetas à larga” DEPRECIAÇÃO DE PERSONAGENS: “estalavam todos por saber quem a tinha emprenhado” / “o mugido lúgubre daquela pobre criatura” NA DESCRIÇÃO: “a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como a das éguas selvagens”
  • 215. CENAS DE SEXO MIRANDA E ESTELA: “Miranda nunca a tivera, nem nunca a vira, assim tão violenta no prazer. Estranhou-a. Afigurou-se- lhe estar nos braços de uma amante apaixonada: descobriu nela o capitoso encanto com que nos embebedam as cortesãs amestradas na ciência do gozo venéreo.(...) E gozou-a, gozou-a loucamente, com delírio, com verdadeira satisfação de animal no cio.”
  • 216. POMBINHA E LÉONIE: “Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas grossas pomas irrequietas sobre seu mesquinho peito de donzela impúbere e o roçar vertiginoso daqueles cabelos ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do sangue, desertando-lhe a razão ao rebate dos sentidos. Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo; ao passo que a outra, por cima, doida de luxúria, irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e relinchando.”
  • 217. CORTIÇO X SOBRADO HORIZONTALIDADE VERTICALIDADE M Ascensão social Estagnação social SIMPLES U COMPLEXO Regras definidas Ausência de regras R CULTURA ANIMAL O Natureza fisiológica Organização social regida por leis
  • 218. INSTINTO M RAZÃO RESOLUÇÃO DE U RESOLUÇÃO DE CONFLITOS CONFLITOS Insultos R Troca de favores Brigas Jogo de interesses Morte O
  • 219. PERSONAGENS Ascensão social JOÃO ROMÃO Degradação moral Posição aristocrática Baronato MIRANDA
  • 220. Contramestre Quebrador JERÔNIMO de pedras Miséria BERTOLEZA E ZULMIRA = Mulher-objeto – objetos de troca ESTELA E RITA = Mulher-sujeito-objeto – aceitação das regras do sistema LÉONIE, POMBINHA E SENHORINHA = Mulher- sujeito – desprezo pelas regras impostas
  • 221. PERSONAGENS: TIPOS / ALEGORIAS • João Romão: imigrante português, avaro e ambicioso, explorador, comerciante, especulador imobiliário, agiota. • Constrói seu império por meio de mentiras e explorações, com atitudes torpes e deploráveis, tornando-se um representante do modelo capitalista que a sociedade do Rio de Janeiro tanto prestigiou.
  • 222. • Bertoleza: inicialmente supõe haver superado sua condição de escrava e negra, amasiando-se com um branco e trabalhando com perseverança. • Maltratada, resigna-se com a condição de mulher duplamente submissa, a quem não é dado o direito de falar e muito menos de questionar. • Ela morre, derrotada pela lei selvagem e impiedosa de uma seleção social que só valoriza os vitoriosos e bem- sucedidos.
  • 223. • Miranda: comerciante português, que representa a alta burguesia aristocratizada, status que se confirma quando ele recebe a comenda de Barão. • Cínico e mau-caráter, casa-se pelo dote da esposa Estela (fútil). Aceita a o adultério da esposa por conveniência.
  • 224. • Jerônimo / Piedade: típicos imigrantes portugueses empenhados em formar um pecúlio, como resultado natural da capacidade de trabalho. Tais valores dissipam-se pela influência mesológica. Jerônimo separare-se de Piedade, ambos atolam-se no pântano do vício. • Rita Baiana / Firmo: alegorias do Brasil. Ela é a sensualidade – metaforizada como perigosa serpente – responsável pela degradação de Jerônimo. Ele, capoeira valente, brigador, violeiro e improdutivo
  • 225. • Pombinha / Léonie: o nome da personagem (Pombinha) evoca, de início, pureza de sentimento, alma boa, ela a é a enfermeira, escrevente/leitora de cartas. No entanto, ao ser seduzida por Léonie (prostituta de elite, transita a vontade no mundo dos poderosos e também no universo carente do cortiço), entra em contato com que há de mais espúrio. Menstrua-se, casa-se. Abandona o marido. Torna-se prostituta , uma espécie de anti-dama da Camélias. Responsabiliza-se pela educação de Senhorinha. Proporciona à menina o mesmo que recebera de Léonie.
  • 226. • Bruno/Leocádia: Ele ferreiro; ela, lavadeira – representam o estereótipo dos moradores do cortiço. • Leandra, a “Machona”: era o protótipo da portuguesa feroz, berradora, sempre disposta à briga. • Paula, a “Bruxa”: Cabocla velha, mandigueira,sabia receitas caseiras com que preparava remédios e chás. Mística, sabia preparar feitiços para os que solicitavam seus préstimos.
  • 227. • Libório: personagem emblemática de certas deformações provocadas pelo capitalismo. Junta dinheiro em garrafas e submete-se a viver de esmola. • Botelho: Ladino e espertalhão – simboliza os parasitas que sugam todos que estão próximos para obter vantagens materiais. • Albino: Era lavadeiro: “sujeito afeminado, fraco, cor de espargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino”.
  • 228. TRAÇOS TEMÁTICOS: • Determinismo: • Os pares João Romão/Bertoleza, Miranda /Estela, Jerônimo/Piedade, são os que, principalmente, vêm focalizados sob o crivo do determinismo. Os homens simbolizam o estágio por que passa o imigrante português. As mulheres apenas sofrem as consequencias dessa integração, bem ou mal sucedida.
  • 229. • Antropomorfismo: • “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.” (cap. III)
  • 230. • Zoomorfismo: “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”