SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 9
Construção
Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a
última
Beijou sua mulher como se fosse a
última
E cada filho seu como se fosse o
único
E atravessou a rua com seu passo
tímido
Subiu a construção como se fosse
máquina
Ergueu no patamar quatro paredes
sólidas
Tijolo com
mágico

tijolo

num

desenho

Sentou pra descansar como se
fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se
fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um
náufrago
Dançou e gargalhou
ouvisse música

como

se

E tropeçou no céu como se fosse
um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um
pássaro
E se acabou no chão feito um
pacote flácido
no

Beijou sua mulher como se fosse a
única
E cada filho seu como se fosse o
pródigo
E atravessou a rua com seu passo
bêbado
Subiu a construção como se fosse
sólido
Ergueu no patamar quatro paredes
mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e
lágrima

Agonizou
público

Amou daquela vez como se fosse o
último

meio

do

passeio

Morreu na contramão atrapalhando
o tráfego

Seus olhos embotados de cimento e
tráfego
Sentou pra descansar como se
fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se
fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse
máquina
Dançou e gargalhou como se fosse
o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse
música
E flutuou no ar como se fosse
sábado
E se acabou no chão feito um
pacote tímido
Agonizou
náufrago

no

meio

do

passeio

Morreu na contramão atrapalhando
o público
Amou daquela vez como se fosse
máquina

Por me deixar respirar, por me
deixar existir,
Deus lhe pague

Beijou sua mulher como se fosse
lógico

Pela cachaça de graça que a gente
tem que engolir

Ergueu no patamar quatro paredes
flácidas

Pela fumaça e a desgraça, que a
gente tem que tossir

Sentou pra descansar como se
fosse um pássaro

Pelos andaimes pingentes que a
gente tem que cair,

E flutuou no ar como se fosse um
príncipe

Deus lhe pague

E se acabou no chão feito um
pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando
o sábado

Por esse pão pra comer, por esse
chão prá dormir

Pela mulher carpideira pra nos
louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos
beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai
nos redimir,
Deus lhe pague

A certidão pra nascer e a concessão
pra sorrir
Analise:
Construção é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico
Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo. Junto com "Pedro
Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente
crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso
das relações aviltantes entre o capital e o trabalho".
A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam
numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos,
acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que
compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra. Os arranjos são
do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida
inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais
complexa.
A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar
no Brasil, em meio à censura e à perseguições políticas. Chico Buarque havia
retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969,
ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira.
A letra possui um aspecto narrativo, além de um caráter cíclico e
comparativo. As três estrofes são muito semelhantes, em especial as duas
primeiras; a diferença básica pode ser atribuída à última palavra de cada verso,
sempre uma proparoxítona, que torna o ritmo da música bem marcado e
repetitivo.
Os versos “Amou daquela vez como se fosse a última / Beijou sua
mulher como se fosse a última / E cada filho seu como se fosse o único / E
atravessou a rua com seu passo tímido” demonstram que o sujeito da canção é
um homem, pai de família. Existe um grande laço com sua mulher (“como se
fosse a última”) e um indicativo de que possui vários filhos (“e cada filho seu”).
Uma outra idéia sugerida é que um homem de baixa condição social, devido ao
andar tímido, que transparece a submissão aos demais na rua, e também pelo
número de filhos, muitas vezes associado à baixa classe social.
O título da canção, bem como a profissão do homem, fica
evidenciado pelos próximos versos. Em “Subiu a construção como se
fosse máquina”, o desempenho no emprego é comparado a uma
máquina, isto sugere que o homem trabalha sem questionar o que faz,
apenas está condicionado ao seu trabalho, algo tão comum que o faz
automaticamente. Lembrando que a letra foi escrita durante a ditadura
militar, algo que nos remete a pensar na submissão forçada: ou faz aquilo
que mandam, ou é punido. “Relacionado ao Naturalismo, onde o homem
tenta ser melhor que a máquina”.
“Ergueu no patamar quatro paredes sólidas / Tijolo com tijolo num
desenho mágico”, estes dois versos comprovam o emprego do homem, ligado
a construção civil, que também reafirma a ideia de sua baixa classe social.
Talvez uma das partes mais sentimentais da música está em “Seus olhos
embotados de cimento e lágrima”, pois mescla um objeto nem um pouco
emotivo, o cimento, com um símbolo da sensibilidade, a lágrima. O
interessante desse paradoxo é ver que podem coexistir, nos olhos do
trabalhador, a frieza do cimento com a fraqueza das lágrimas, algo que em
muito reflete o sofrimento desta condição social: a rigidez imposta com o
sentimento oprimido.
Nas passagens “Sentou pra descansar como se fosse sábado / Comeu
feijão com arroz como se fosse um príncipe”, fica evidenciado o alívio da hora
do descanso. Sábado é o primeiro dia do fim de semana, aquele dia que vem
logo após a semana atribulada. Quando o intervalo do serviço é comparado a
sábado, a necessidade de descanso é realçada. O ato de almoçar uma comida
tão simples, rotineira, como o feijão e arroz, e se sentir um príncipe, indica um
gosto muito grande por uma combinação cotidiana, como se não se pudesse
escapar desta rotina.
O alcoolismo, muito comum nas camadas inferiores da população, está
claramente desenhado em “Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago /
Dançou e gargalhou como se ouvisse música”. Além do mais, sabe-se que
trabalhadores de construção civil bebem para manter uma força muscular,
relacionada ao trabalho braçal.
Em meio a alegria barata proporcionada pela bebida, ocorre um
acidente: “E tropeçou no céu como se fosse um bêbado / E flutou no ar como
se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido”. Destes
versos podemos retirar que o homem trabalha em um prédio alto, tão alto que
tropeçar de lá é quase como tropeçar do céu. A comparação com um bêbado é
tanto por ter ingerido álcool anteriormente quanto pelo andar trôpego e
descuidado dos embriagados. Ao tropeçar, começa a cair e choca-se ao chão,
num impacto tão forte que seu corpo parece flácido.
Após a queda, “Agonizou no meio do passeio público”, isto é, os últimos
momentos de vida daquele homem. E para fechar: “Morreu na contramão
atrapalhando o tráfego”. O último verso mostra a indiferença da morte daquele
cidadão. Ao cair do prédio e estatelar-se no chão, a única preocupação que
ocorre, por parte do público que ali estava, foi em relação ao trânsito, como se
qualquer objeto tivesse caído, e não um pai de família. A contradição existente
é que, dentro de casa, o homem é o líder, mas na rua é um sujeito qualquer,
um parafuso da engrenagem capitalista, no caso, da construção de imóveis
que vão servir luxuosamente a outras pessoas.
As outras estrofes apenas repetem a história, causando certas
confusões, como em “Ergueu no patamar quatro paredes flácidas”.
Logicamente, daria para estender muito mais a análise das duas últimas
estrofes, mas vou me ater apenas àlguns trechos. A indiferença do homem é
realçada em “Morreu na contramão atrapalhando o público” e, melhor ainda,
em uma das melhores partes da letra: “Morreu na contramão atrapalhando o
sábado”.
Foi uma jogada muito inteligente com o “atrapalhando o sábado”, porque
é como se o descanso do público tivesse sido interrompidoa pela morte do
trabalhador. Enquanto ele estava erguendo paredes, o público passeava; na
hora em que se acidentou e morreu, incomodou os outros.
As estrofes começam com “amou” e terminam com “morreu”, outra
antítese muito interessante da letra que destaca a narrativa, onde as coisas
começam bem e, de uma maneira ou de outra, terminam num fim. Neste caso,
o fim é sua própria morte, deixando para trás o seu lar, onde sua posição como
líder era muito importante; deixa de lado também seu trabalho, onde era
insignificante.
No arranjo da música, percebe-se que a última estrofe é cantada de um
modo mais acelerado, com sons vindo de todos os lados. Este efeito gera uma
confusão, um desnorteamento que ilustra a vida sem rumo daquele
trabalhador. A repetição do mesmo alicerce das estrofes mostra que esta rotina
é comum, acontecendo com vários trabalhadores por aí, todos invisíveis à
sociedade.
Miséria
Titãs
Miséria é miséria em qualquer canto

Cores, raças, castas, crenças

Riquezas são diferentes
Índio, mulato, preto, branco

Riquezas são diferenças

Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes

A morte não causa mais espanto

Miséria é miséria em qualquer canto

O Sol não causa mais espanto

Filhos, amigos, amantes, parentes

A morte não causa mais espanto

Riquezas são diferentes

O Sol não causa mais espanto

Ninguém sabe falar esperanto

Miséria é miséria em qualquer canto

Miséria é miséria em qualquer canto

Riquezas são diferentes

Todos sabem usar os dentes

Cores, raças, castas, crenças

Riquezas são diferentes

Riquezas são diferenças

Índio, mulato, preto, branco
Miséria é miséria em qualquer canto

Filhos, amigos, amantes, parentes

Riquezas são diferentes

Fracos, doentes, aflitos, carentes

Miséria é miséria em qualquer canto

Cores, raças, castas, crenças

Fracos, doentes, aflitos, carentes

Em qualquer canto miséria

Riquezas são diferentes

Riquezas são miséria

O Sol não causa mais espanto

Em qualquer canto miséria

Miséria é miséria em qualquer canto

Análise:
A música miséria apresenta os conflitos das classes da sociedade. “A
miséria é sempre igual, mas a riqueza é bastante diversa.” Isso pode ser
relacionado ao naturalismo pelo mesmo conflito que havia entre os
trabalhadores e os burgueses.
Quartos de Despejo
Quarto de despejo: Diário de uma favelada é um livro de 1960 escrito
por Carolina Maria de Jesus.
A autora nasceu no estado de Minas Gerais em 14 de março de 1914,
mudando-se para a cidade de São Paulo em 1947. Segundo consta, desde
nova era interessada em leituras, tendo depois iniciado a escrita de um diário.
Em 1960, um jornalista brasileiro chamado Audálio Dantas teria visitado
a favela do Canindé, local onde vivia Maria de Jesus, e teria ficado encantado
com a autora, que apesar de pobre demonstrava uma grande lucidez critica.
No livro, Maria de Jesus, uma favelada, escreve em seu diário o seu dia
a dia nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Seu texto é
considerado um dos marcos da escrita feminina no Brasil.O livro foi traduzido
em mais de treze línguas e as narrativas do diário ficam entre o ano de 1955 e
1960.
'"15 de julho de 1955. Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu
pretendia comprar um par de sapatos para ela."'
E termina com:
“1.º de janeiro de 1960. Levantei as 5 horas e fui carregar água.”
Em uma favela a beira do rio Tietê, no bairro do Canindé (SP), Carolina Maria
de Jesus registrava em cadernos a história de uma mulher brasileira, negra e
favelada, lutando para sobreviver e sustentar a família. Sua voz, no livro Quarto
de despejo, revela de modo forte e sincero a realidade daqueles que enfrentam
os obstáculos impostos por uma sociedade cruel. A semelhança entre sua vida
e as personagens de O cortiço não é mera coincidência: é o retrato das
injustiças sociais que, ao longo do tempo, só se agravam em nosso país.
O senhor das Moscas
O Senhor das Moscas (LordoftheFlies, em inglês) é um livro de alegoria
escrito por William Golding, vencedor do Prêmio Nobel em 1983. Foi publicado
em 1954. Embora não tenha sido um grande sucesso à época – vendendo
menos de 3000 cópias nos Estados Unidos em 1955 antes de sair de catálogo
– com o tempo tornou-se um grande sucesso, e leitura obrigatória em muitas
escolas e colégios. Foi adaptado para o cinema em 1963 por Peter Brook, e
novamente em 1990, filme estes que também passaram a ser exibidos em
diversas instituições educacionais. O título é uma referência a Belzebu (do
nome hebraico Ba’alZebub, ‫ ,)9841#&בעלזבו‬um sinônimo para o Diabo. É
geralmente lembrado como um clássico da literatura do pós-guerra, ao lado de
A Revolução dos Bichos e O Apanhador no Campo de Centeio.
O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças
inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão
de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra.
“O Senhor das Moscas" traz muito daquele desamparo do pós-guerra,
pois a história começa com aqueda de um avião que havia deixado a Inglaterra
após um bombardeio nuclear. Deste acidente, apenas um grupo de crianças
sobrevive e, para serem resgatadas, elas estabelecem uma frágil sociedade
"democrática". Entretanto, a luta pela liderança divide esta comunidade e
instaura um violento conflito entre as crianças. Esta obra de Golding pode ser
interpretada sob várias perspectivas. Como uma analogia da luta entre a
democracia, na qual todos podem ter voz, mas que, por outro lado, as decisões
são arrastadas e controversas, e a ditadura, na qual um tirano estabelece um
sistema hierárquico baseado na punição e no medo. Entretanto, há uma
mensagem mais profunda em "O Senhor das Moscas", já que ela pode
representar os conflitos dentro da própria "psique" humana. Ralph é a
consciência, porque todos seus esforços são o de manter clareza em sua fala e
ações e de agir da maneira mais correta para serem resgatados; Porquinho é a
racionalidade; Jack, os instintos animalescos e primitivos; Simon, a
contemplação e intuição. No fundo, Golding afirma que estas contradições não
existem somente no interior de uma sociedade, cujo resultado extremo é a
guerra, mas também no interior de um próprio indivíduo.
Outras Analises:
Muitos interpretaram "O Senhor das Moscas " como um trabalho de
filosofia moral. O cenário da ilha, um paraíso com toda a comida e a água
necessários, pode ser visto como uma metáfora para o Jardim do Éden. Assim,
a primeira aparição do “Bicho” seria o surgimento da serpente, como o mal
surge no livro de Gênesis.
Um dos principais temas do livro é a natureza do Mal. Isto pode ser
claramente visto na conversa que Simon mantem com o crânio do porco, que
se refere a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (uma tradução literal do
nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se
refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem
bíblico.
Essa história faz referência de como o naturalismo procura demonstrar
que a influência do meio sobre as personagens, isto é, de que maneira os
indivíduos, quando submetidos a condições de vida sub-humanas, passam por
um processo de desumanização e acabam dominados por seus instintos
animais.
Temas e Simbologias:
“O Senhor das Moscas” contém inúmeros temas e simbolismos.
Qualquer um dos personagens pode representar diferentes papéis na
sociedade.
Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por
escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para
todos.
Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona
controlar a todos na ilha.
Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo
lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores
representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é
melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que
tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu
comportamento imita o doscães.
O "Bicho" representa a propaganda, causando medo por um inimigo
nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações
místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia.
Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza.
A concha representa ordem e democracia na ilha.
Outras interpretações consideram não tanto uma alegoria política, mas uma
alegoria social. Esta linha de pensamento indicaria que:
Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade
Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão
impopular a verdade possa ser
Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade.
A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele
rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno.
O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando
usados de modo incorreto, se torna um fim em si mesmo
O Senhor das Moscas representa o Mal escondido no coração de todos.

Cidade de Deus

Gênero: Drama.
Atores: Matheus Nachtergaele, JeffchanderSuplino, Jonathan Haagensen,
Daniel Zettel, Alexandre Rodrigues, Leandro da Hora, PhellipeHaagensen, Seu
Jorge, Gero Camilo, Babu Santana.
Direção: Fernando Meirelles e Kátia Lund.
Idiomas: Português.
Legendas: Inglês.
Ano de produção: 2002.
País de produção: Brasil.
Duração: 130 min.
Distribuição: Imagem Vídeo.
Região: 4.
Áudio: Dolby Surround.
Vídeo: Widescreen.
Cor: Colorido.
Classificação: 16 anos.

O cenário é a favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que surgiu no início
dos anos de 1960. Narrada por um dos personagens principais, a história
mostra a vida de dois meninos, Buscapé (Alexandre Rodrigues) e Dadinho
(Leandro Firmino da Hora), que crescem em meio a um universo violento e
sem piedade. Enquanto Buscapé tenta ser reconhecido pelo seu trabalho como
fotógrafo, Dadinho se transforma no bandido mais temido da região. Inovando
na maneira de filmar, o diretor Fernando Meirelles fez uma adaptação do livro
homônimo de Paulo Lins que ganhou prêmios em diversos festivais
internacionais, além de ser indicado ao Globo de Ouro, na categoria Melhor
Filme Estrangeiro. Grande parte do elenco foi escolhida entre os garotos que
vivem em diversas comunidades e favelas cariocas e que não tinham, até
aquele momento, nenhum contato com a arte de atuar.
O filme Marcou época e tem um enredo e interpretações fantásticas. Resgata a
idéia naturalista de que o homem é produto da raça, do meio e do ambiente
(Dadinho, que mais tarde se torna Zé pequeno) e os personagens são
semelhantes entre si (Zé pequeno e Bené), na medida em que apresentam
desequilíbrios característicos de sua condição. O cenário é marcado pela
miséria e a ignorância (a favela Cidade de Deus) e contribui para o
determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de
sua vontade; pode haver imposição do meio, da hereditariedade física e
psicológica, e outros fatores influenciáveis). Sua linguagem é crua, simples,
descritivista e o mais próxima possível da realidade. Não há preocupação
moral e os personagens são, em geral, seres que encontramos no mundo real
(fotógrafos, traficantes, donas de casa, etc.): aparece a linguagem de baixo
calão, os vícios humanos, e outras patologias sociais. Sua fotografia é
primorosa, simbólica, mostra os contrastes das cores, a força das imagens.
São fortes a cena do garoto que leva um tiro no pé e a simbologia do galo que
aparece no início e no fim da história, representando algo como a liberdade do
homem acerca de sua condição. Temos no conjunto (linguagem, visual,
enredo, etc.) uma estrutura extremamente atual e adequada a diversos
gêneros de público. O filme incomoda, como no Naturalismo, pois busca
através do patológico social explícito dar um grito de atenção.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

O PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAX
O PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAXO PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAX
O PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAXAndriane Cursino
 
Cantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumoCantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumoGijasilvelitz 2
 
Teste camões
Teste camõesTeste camões
Teste camõesAna Moura
 
Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01ma.no.el.ne.ves
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126luisprista
 
Jornal literário modernismo
Jornal literário modernismoJornal literário modernismo
Jornal literário modernismoNeena Santos
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96luisprista
 
S. Leonardo da Galafura
S. Leonardo da GalafuraS. Leonardo da Galafura
S. Leonardo da GalafuraVitor Peixoto
 
Atividades sobre figuras
Atividades sobre figurasAtividades sobre figuras
Atividades sobre figurasAline Castro
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18luisprista
 
Revisando o romantismo 03
Revisando o romantismo 03Revisando o romantismo 03
Revisando o romantismo 03ma.no.el.ne.ves
 
Largo Das Palmas Cepra 3 V1
Largo Das Palmas   Cepra   3 V1Largo Das Palmas   Cepra   3 V1
Largo Das Palmas Cepra 3 V1Lúcia Dantas
 

Was ist angesagt? (20)

O PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAX
O PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAXO PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAX
O PARALELISMO COMO RECURSO ESTILÍSTICO DAS CANTIGAS DE MARTIM CODAX
 
As cantigas de amigo
As cantigas de amigoAs cantigas de amigo
As cantigas de amigo
 
Cantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumoCantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumo
 
Teste camões
Teste camõesTeste camões
Teste camões
 
Trovadorismo I inicio
Trovadorismo I  inicioTrovadorismo I  inicio
Trovadorismo I inicio
 
Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01
 
Cantigas
CantigasCantigas
Cantigas
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 125-126
 
Jornal literário modernismo
Jornal literário modernismoJornal literário modernismo
Jornal literário modernismo
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 95-96
 
Revisão especial (i)
Revisão especial (i)Revisão especial (i)
Revisão especial (i)
 
S. Leonardo da Galafura
S. Leonardo da GalafuraS. Leonardo da Galafura
S. Leonardo da Galafura
 
Atividades sobre figuras
Atividades sobre figurasAtividades sobre figuras
Atividades sobre figuras
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18
Apresentação para décimo primeiro ano de 2015 6, aula 17-18
 
Trovadorismo
Trovadorismo Trovadorismo
Trovadorismo
 
Cantigas de amigos
Cantigas de amigosCantigas de amigos
Cantigas de amigos
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Teste Luis de Camões
Teste Luis de CamõesTeste Luis de Camões
Teste Luis de Camões
 
Revisando o romantismo 03
Revisando o romantismo 03Revisando o romantismo 03
Revisando o romantismo 03
 
Largo Das Palmas Cepra 3 V1
Largo Das Palmas   Cepra   3 V1Largo Das Palmas   Cepra   3 V1
Largo Das Palmas Cepra 3 V1
 

Andere mochten auch (9)

Naturalismo - Professora Vivian Trombini
Naturalismo - Professora Vivian TrombiniNaturalismo - Professora Vivian Trombini
Naturalismo - Professora Vivian Trombini
 
Citologia
CitologiaCitologia
Citologia
 
Naturalismo
NaturalismoNaturalismo
Naturalismo
 
Caracteristicas básicas dos seres vivos
Caracteristicas básicas dos seres vivosCaracteristicas básicas dos seres vivos
Caracteristicas básicas dos seres vivos
 
Naturalismo
NaturalismoNaturalismo
Naturalismo
 
Naturalismo
NaturalismoNaturalismo
Naturalismo
 
Naturalismo
NaturalismoNaturalismo
Naturalismo
 
Naturalismo
Naturalismo Naturalismo
Naturalismo
 
Naturalismo
Naturalismo Naturalismo
Naturalismo
 

Ähnlich wie Construção Chico Buarque

Tropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano velosoTropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano velosoNome Sobrenome
 
Tropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano velosoTropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano velosoElvis Live
 
Gˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.ppt
Gˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.pptGˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.ppt
Gˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.pptSagitta Ramos
 
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxPabloGabrielKdabra
 
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxPabloGabrielKdabra
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poemaionasilva
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poemaionasilva
 
Construção chico buarque
Construção  chico buarqueConstrução  chico buarque
Construção chico buarqueMárcia Farias
 
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Madga Silva
 
Modernismo poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo   poesia - 2.a fase - OseModernismo   poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo poesia - 2.a fase - OseAndré Damázio
 
Roberto carlos em_detalhes
Roberto carlos em_detalhesRoberto carlos em_detalhes
Roberto carlos em_detalhesElvis Reis
 

Ähnlich wie Construção Chico Buarque (20)

Chico Buarque
Chico BuarqueChico Buarque
Chico Buarque
 
Revist'A Barata - 01
Revist'A Barata - 01Revist'A Barata - 01
Revist'A Barata - 01
 
Tropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano velosoTropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano veloso
 
Tropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano velosoTropicalia caetano veloso
Tropicalia caetano veloso
 
Gˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.ppt
Gˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.pptGˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.ppt
Gˆnero L¡rico- primeiro ano- CHICO BUARQUE.ppt
 
Caetano Veloso: "Língua"
Caetano Veloso: "Língua"Caetano Veloso: "Língua"
Caetano Veloso: "Língua"
 
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
 
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
 
Naturalismo
Naturalismo Naturalismo
Naturalismo
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poema
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poema
 
6º ano reda cem - 6.31
6º ano   reda cem - 6.316º ano   reda cem - 6.31
6º ano reda cem - 6.31
 
Ameopoema 0029 julho 2014
Ameopoema 0029 julho 2014Ameopoema 0029 julho 2014
Ameopoema 0029 julho 2014
 
Ameopoema 0029 julho 2014
Ameopoema 0029 julho 2014Ameopoema 0029 julho 2014
Ameopoema 0029 julho 2014
 
Construção chico buarque
Construção  chico buarqueConstrução  chico buarque
Construção chico buarque
 
Gêneros literários
Gêneros literáriosGêneros literários
Gêneros literários
 
De tarde - Cesário Verde
De tarde - Cesário VerdeDe tarde - Cesário Verde
De tarde - Cesário Verde
 
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
 
Modernismo poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo   poesia - 2.a fase - OseModernismo   poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo poesia - 2.a fase - Ose
 
Roberto carlos em_detalhes
Roberto carlos em_detalhesRoberto carlos em_detalhes
Roberto carlos em_detalhes
 

Mehr von Wesley Germano Otávio

Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesleyZoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesleyWesley Germano Otávio
 
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos CelestesCosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos CelestesWesley Germano Otávio
 
Cosmologia sistema solar - os planetas
Cosmologia   sistema solar - os planetasCosmologia   sistema solar - os planetas
Cosmologia sistema solar - os planetasWesley Germano Otávio
 
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas característicasCosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas característicasWesley Germano Otávio
 
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízosRaios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízosWesley Germano Otávio
 

Mehr von Wesley Germano Otávio (20)

Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesleyZoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
 
Revisão Zoologia - Professor Wesley
Revisão Zoologia - Professor WesleyRevisão Zoologia - Professor Wesley
Revisão Zoologia - Professor Wesley
 
Ascaridíase
AscaridíaseAscaridíase
Ascaridíase
 
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos CelestesCosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
 
Cosmologia sistema solar - os planetas
Cosmologia   sistema solar - os planetasCosmologia   sistema solar - os planetas
Cosmologia sistema solar - os planetas
 
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas característicasCosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
 
Cosmologia - o Universo
Cosmologia - o UniversoCosmologia - o Universo
Cosmologia - o Universo
 
Origem da vida
Origem da vidaOrigem da vida
Origem da vida
 
Método científico
Método científicoMétodo científico
Método científico
 
O que é biologia?
O que é biologia?O que é biologia?
O que é biologia?
 
Criminalização da sobrevivência
Criminalização da sobrevivênciaCriminalização da sobrevivência
Criminalização da sobrevivência
 
Energia solar
Energia solarEnergia solar
Energia solar
 
Musica popular brasileira - MPB
Musica popular brasileira - MPBMusica popular brasileira - MPB
Musica popular brasileira - MPB
 
Mario quintana
Mario quintanaMario quintana
Mario quintana
 
Risco de acidentes
Risco de acidentesRisco de acidentes
Risco de acidentes
 
Clonagem
ClonagemClonagem
Clonagem
 
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízosRaios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
 
Jogo x Esporte
Jogo x EsporteJogo x Esporte
Jogo x Esporte
 
Teorias evolucionistas
Teorias evolucionistasTeorias evolucionistas
Teorias evolucionistas
 
Musica contemporanea anos 80
Musica contemporanea anos 80Musica contemporanea anos 80
Musica contemporanea anos 80
 

Kürzlich hochgeladen

Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERDeiciane Chaves
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasillucasp132400
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Orações subordinadas substantivas (andamento).pptx
Orações subordinadas substantivas (andamento).pptxOrações subordinadas substantivas (andamento).pptx
Orações subordinadas substantivas (andamento).pptxKtiaOliveira68
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdfJorge Andrade
 

Kürzlich hochgeladen (20)

Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Orações subordinadas substantivas (andamento).pptx
Orações subordinadas substantivas (andamento).pptxOrações subordinadas substantivas (andamento).pptx
Orações subordinadas substantivas (andamento).pptx
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
 

Construção Chico Buarque

  • 1. Construção Chico Buarque Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com mágico tijolo num desenho Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou ouvisse música como se E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido no Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Agonizou público Amou daquela vez como se fosse o último meio do passeio Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Bebeu e soluçou como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou náufrago no meio do passeio Morreu na contramão atrapalhando o público
  • 2. Amou daquela vez como se fosse máquina Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague Beijou sua mulher como se fosse lógico Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir Sentou pra descansar como se fosse um pássaro Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, E flutuou no ar como se fosse um príncipe Deus lhe pague E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, Deus lhe pague A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir Analise: Construção é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo. Junto com "Pedro Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho". A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos, acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra. Os arranjos são do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais complexa. A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar no Brasil, em meio à censura e à perseguições políticas. Chico Buarque havia retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969, ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira.
  • 3. A letra possui um aspecto narrativo, além de um caráter cíclico e comparativo. As três estrofes são muito semelhantes, em especial as duas primeiras; a diferença básica pode ser atribuída à última palavra de cada verso, sempre uma proparoxítona, que torna o ritmo da música bem marcado e repetitivo. Os versos “Amou daquela vez como se fosse a última / Beijou sua mulher como se fosse a última / E cada filho seu como se fosse o único / E atravessou a rua com seu passo tímido” demonstram que o sujeito da canção é um homem, pai de família. Existe um grande laço com sua mulher (“como se fosse a última”) e um indicativo de que possui vários filhos (“e cada filho seu”). Uma outra idéia sugerida é que um homem de baixa condição social, devido ao andar tímido, que transparece a submissão aos demais na rua, e também pelo número de filhos, muitas vezes associado à baixa classe social. O título da canção, bem como a profissão do homem, fica evidenciado pelos próximos versos. Em “Subiu a construção como se fosse máquina”, o desempenho no emprego é comparado a uma máquina, isto sugere que o homem trabalha sem questionar o que faz, apenas está condicionado ao seu trabalho, algo tão comum que o faz automaticamente. Lembrando que a letra foi escrita durante a ditadura militar, algo que nos remete a pensar na submissão forçada: ou faz aquilo que mandam, ou é punido. “Relacionado ao Naturalismo, onde o homem tenta ser melhor que a máquina”. “Ergueu no patamar quatro paredes sólidas / Tijolo com tijolo num desenho mágico”, estes dois versos comprovam o emprego do homem, ligado a construção civil, que também reafirma a ideia de sua baixa classe social. Talvez uma das partes mais sentimentais da música está em “Seus olhos embotados de cimento e lágrima”, pois mescla um objeto nem um pouco emotivo, o cimento, com um símbolo da sensibilidade, a lágrima. O interessante desse paradoxo é ver que podem coexistir, nos olhos do trabalhador, a frieza do cimento com a fraqueza das lágrimas, algo que em muito reflete o sofrimento desta condição social: a rigidez imposta com o sentimento oprimido. Nas passagens “Sentou pra descansar como se fosse sábado / Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe”, fica evidenciado o alívio da hora do descanso. Sábado é o primeiro dia do fim de semana, aquele dia que vem logo após a semana atribulada. Quando o intervalo do serviço é comparado a sábado, a necessidade de descanso é realçada. O ato de almoçar uma comida tão simples, rotineira, como o feijão e arroz, e se sentir um príncipe, indica um gosto muito grande por uma combinação cotidiana, como se não se pudesse escapar desta rotina. O alcoolismo, muito comum nas camadas inferiores da população, está claramente desenhado em “Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago / Dançou e gargalhou como se ouvisse música”. Além do mais, sabe-se que
  • 4. trabalhadores de construção civil bebem para manter uma força muscular, relacionada ao trabalho braçal. Em meio a alegria barata proporcionada pela bebida, ocorre um acidente: “E tropeçou no céu como se fosse um bêbado / E flutou no ar como se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido”. Destes versos podemos retirar que o homem trabalha em um prédio alto, tão alto que tropeçar de lá é quase como tropeçar do céu. A comparação com um bêbado é tanto por ter ingerido álcool anteriormente quanto pelo andar trôpego e descuidado dos embriagados. Ao tropeçar, começa a cair e choca-se ao chão, num impacto tão forte que seu corpo parece flácido. Após a queda, “Agonizou no meio do passeio público”, isto é, os últimos momentos de vida daquele homem. E para fechar: “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”. O último verso mostra a indiferença da morte daquele cidadão. Ao cair do prédio e estatelar-se no chão, a única preocupação que ocorre, por parte do público que ali estava, foi em relação ao trânsito, como se qualquer objeto tivesse caído, e não um pai de família. A contradição existente é que, dentro de casa, o homem é o líder, mas na rua é um sujeito qualquer, um parafuso da engrenagem capitalista, no caso, da construção de imóveis que vão servir luxuosamente a outras pessoas. As outras estrofes apenas repetem a história, causando certas confusões, como em “Ergueu no patamar quatro paredes flácidas”. Logicamente, daria para estender muito mais a análise das duas últimas estrofes, mas vou me ater apenas àlguns trechos. A indiferença do homem é realçada em “Morreu na contramão atrapalhando o público” e, melhor ainda, em uma das melhores partes da letra: “Morreu na contramão atrapalhando o sábado”. Foi uma jogada muito inteligente com o “atrapalhando o sábado”, porque é como se o descanso do público tivesse sido interrompidoa pela morte do trabalhador. Enquanto ele estava erguendo paredes, o público passeava; na hora em que se acidentou e morreu, incomodou os outros. As estrofes começam com “amou” e terminam com “morreu”, outra antítese muito interessante da letra que destaca a narrativa, onde as coisas começam bem e, de uma maneira ou de outra, terminam num fim. Neste caso, o fim é sua própria morte, deixando para trás o seu lar, onde sua posição como líder era muito importante; deixa de lado também seu trabalho, onde era insignificante. No arranjo da música, percebe-se que a última estrofe é cantada de um modo mais acelerado, com sons vindo de todos os lados. Este efeito gera uma confusão, um desnorteamento que ilustra a vida sem rumo daquele trabalhador. A repetição do mesmo alicerce das estrofes mostra que esta rotina é comum, acontecendo com vários trabalhadores por aí, todos invisíveis à sociedade. Miséria
  • 5. Titãs Miséria é miséria em qualquer canto Cores, raças, castas, crenças Riquezas são diferentes Índio, mulato, preto, branco Riquezas são diferenças Miséria é miséria em qualquer canto Riquezas são diferentes A morte não causa mais espanto Miséria é miséria em qualquer canto O Sol não causa mais espanto Filhos, amigos, amantes, parentes A morte não causa mais espanto Riquezas são diferentes O Sol não causa mais espanto Ninguém sabe falar esperanto Miséria é miséria em qualquer canto Miséria é miséria em qualquer canto Riquezas são diferentes Todos sabem usar os dentes Cores, raças, castas, crenças Riquezas são diferentes Riquezas são diferenças Índio, mulato, preto, branco Miséria é miséria em qualquer canto Filhos, amigos, amantes, parentes Riquezas são diferentes Fracos, doentes, aflitos, carentes Miséria é miséria em qualquer canto Cores, raças, castas, crenças Fracos, doentes, aflitos, carentes Em qualquer canto miséria Riquezas são diferentes Riquezas são miséria O Sol não causa mais espanto Em qualquer canto miséria Miséria é miséria em qualquer canto Análise: A música miséria apresenta os conflitos das classes da sociedade. “A miséria é sempre igual, mas a riqueza é bastante diversa.” Isso pode ser relacionado ao naturalismo pelo mesmo conflito que havia entre os trabalhadores e os burgueses. Quartos de Despejo Quarto de despejo: Diário de uma favelada é um livro de 1960 escrito por Carolina Maria de Jesus.
  • 6. A autora nasceu no estado de Minas Gerais em 14 de março de 1914, mudando-se para a cidade de São Paulo em 1947. Segundo consta, desde nova era interessada em leituras, tendo depois iniciado a escrita de um diário. Em 1960, um jornalista brasileiro chamado Audálio Dantas teria visitado a favela do Canindé, local onde vivia Maria de Jesus, e teria ficado encantado com a autora, que apesar de pobre demonstrava uma grande lucidez critica. No livro, Maria de Jesus, uma favelada, escreve em seu diário o seu dia a dia nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Seu texto é considerado um dos marcos da escrita feminina no Brasil.O livro foi traduzido em mais de treze línguas e as narrativas do diário ficam entre o ano de 1955 e 1960. '"15 de julho de 1955. Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela."' E termina com: “1.º de janeiro de 1960. Levantei as 5 horas e fui carregar água.” Em uma favela a beira do rio Tietê, no bairro do Canindé (SP), Carolina Maria de Jesus registrava em cadernos a história de uma mulher brasileira, negra e favelada, lutando para sobreviver e sustentar a família. Sua voz, no livro Quarto de despejo, revela de modo forte e sincero a realidade daqueles que enfrentam os obstáculos impostos por uma sociedade cruel. A semelhança entre sua vida e as personagens de O cortiço não é mera coincidência: é o retrato das injustiças sociais que, ao longo do tempo, só se agravam em nosso país. O senhor das Moscas O Senhor das Moscas (LordoftheFlies, em inglês) é um livro de alegoria escrito por William Golding, vencedor do Prêmio Nobel em 1983. Foi publicado em 1954. Embora não tenha sido um grande sucesso à época – vendendo menos de 3000 cópias nos Estados Unidos em 1955 antes de sair de catálogo – com o tempo tornou-se um grande sucesso, e leitura obrigatória em muitas escolas e colégios. Foi adaptado para o cinema em 1963 por Peter Brook, e novamente em 1990, filme estes que também passaram a ser exibidos em diversas instituições educacionais. O título é uma referência a Belzebu (do nome hebraico Ba’alZebub, ‫ ,)9841#&בעלזבו‬um sinônimo para o Diabo. É geralmente lembrado como um clássico da literatura do pós-guerra, ao lado de A Revolução dos Bichos e O Apanhador no Campo de Centeio. O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. “O Senhor das Moscas" traz muito daquele desamparo do pós-guerra, pois a história começa com aqueda de um avião que havia deixado a Inglaterra após um bombardeio nuclear. Deste acidente, apenas um grupo de crianças sobrevive e, para serem resgatadas, elas estabelecem uma frágil sociedade
  • 7. "democrática". Entretanto, a luta pela liderança divide esta comunidade e instaura um violento conflito entre as crianças. Esta obra de Golding pode ser interpretada sob várias perspectivas. Como uma analogia da luta entre a democracia, na qual todos podem ter voz, mas que, por outro lado, as decisões são arrastadas e controversas, e a ditadura, na qual um tirano estabelece um sistema hierárquico baseado na punição e no medo. Entretanto, há uma mensagem mais profunda em "O Senhor das Moscas", já que ela pode representar os conflitos dentro da própria "psique" humana. Ralph é a consciência, porque todos seus esforços são o de manter clareza em sua fala e ações e de agir da maneira mais correta para serem resgatados; Porquinho é a racionalidade; Jack, os instintos animalescos e primitivos; Simon, a contemplação e intuição. No fundo, Golding afirma que estas contradições não existem somente no interior de uma sociedade, cujo resultado extremo é a guerra, mas também no interior de um próprio indivíduo. Outras Analises: Muitos interpretaram "O Senhor das Moscas " como um trabalho de filosofia moral. O cenário da ilha, um paraíso com toda a comida e a água necessários, pode ser visto como uma metáfora para o Jardim do Éden. Assim, a primeira aparição do “Bicho” seria o surgimento da serpente, como o mal surge no livro de Gênesis. Um dos principais temas do livro é a natureza do Mal. Isto pode ser claramente visto na conversa que Simon mantem com o crânio do porco, que se refere a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (uma tradução literal do nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem bíblico. Essa história faz referência de como o naturalismo procura demonstrar que a influência do meio sobre as personagens, isto é, de que maneira os indivíduos, quando submetidos a condições de vida sub-humanas, passam por um processo de desumanização e acabam dominados por seus instintos animais. Temas e Simbologias: “O Senhor das Moscas” contém inúmeros temas e simbolismos. Qualquer um dos personagens pode representar diferentes papéis na sociedade. Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para todos. Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona controlar a todos na ilha. Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
  • 8. O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele. Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu comportamento imita o doscães. O "Bicho" representa a propaganda, causando medo por um inimigo nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack. Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia. Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza. A concha representa ordem e democracia na ilha. Outras interpretações consideram não tanto uma alegoria política, mas uma alegoria social. Esta linha de pensamento indicaria que: Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão impopular a verdade possa ser Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade. A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno. O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando usados de modo incorreto, se torna um fim em si mesmo O Senhor das Moscas representa o Mal escondido no coração de todos. Cidade de Deus Gênero: Drama. Atores: Matheus Nachtergaele, JeffchanderSuplino, Jonathan Haagensen, Daniel Zettel, Alexandre Rodrigues, Leandro da Hora, PhellipeHaagensen, Seu Jorge, Gero Camilo, Babu Santana. Direção: Fernando Meirelles e Kátia Lund. Idiomas: Português. Legendas: Inglês. Ano de produção: 2002. País de produção: Brasil.
  • 9. Duração: 130 min. Distribuição: Imagem Vídeo. Região: 4. Áudio: Dolby Surround. Vídeo: Widescreen. Cor: Colorido. Classificação: 16 anos. O cenário é a favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que surgiu no início dos anos de 1960. Narrada por um dos personagens principais, a história mostra a vida de dois meninos, Buscapé (Alexandre Rodrigues) e Dadinho (Leandro Firmino da Hora), que crescem em meio a um universo violento e sem piedade. Enquanto Buscapé tenta ser reconhecido pelo seu trabalho como fotógrafo, Dadinho se transforma no bandido mais temido da região. Inovando na maneira de filmar, o diretor Fernando Meirelles fez uma adaptação do livro homônimo de Paulo Lins que ganhou prêmios em diversos festivais internacionais, além de ser indicado ao Globo de Ouro, na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Grande parte do elenco foi escolhida entre os garotos que vivem em diversas comunidades e favelas cariocas e que não tinham, até aquele momento, nenhum contato com a arte de atuar. O filme Marcou época e tem um enredo e interpretações fantásticas. Resgata a idéia naturalista de que o homem é produto da raça, do meio e do ambiente (Dadinho, que mais tarde se torna Zé pequeno) e os personagens são semelhantes entre si (Zé pequeno e Bené), na medida em que apresentam desequilíbrios característicos de sua condição. O cenário é marcado pela miséria e a ignorância (a favela Cidade de Deus) e contribui para o determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de sua vontade; pode haver imposição do meio, da hereditariedade física e psicológica, e outros fatores influenciáveis). Sua linguagem é crua, simples, descritivista e o mais próxima possível da realidade. Não há preocupação moral e os personagens são, em geral, seres que encontramos no mundo real (fotógrafos, traficantes, donas de casa, etc.): aparece a linguagem de baixo calão, os vícios humanos, e outras patologias sociais. Sua fotografia é primorosa, simbólica, mostra os contrastes das cores, a força das imagens. São fortes a cena do garoto que leva um tiro no pé e a simbologia do galo que aparece no início e no fim da história, representando algo como a liberdade do homem acerca de sua condição. Temos no conjunto (linguagem, visual, enredo, etc.) uma estrutura extremamente atual e adequada a diversos gêneros de público. O filme incomoda, como no Naturalismo, pois busca através do patológico social explícito dar um grito de atenção.