02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
Construção Chico Buarque
1. Construção
Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a
última
Beijou sua mulher como se fosse a
última
E cada filho seu como se fosse o
único
E atravessou a rua com seu passo
tímido
Subiu a construção como se fosse
máquina
Ergueu no patamar quatro paredes
sólidas
Tijolo com
mágico
tijolo
num
desenho
Sentou pra descansar como se
fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se
fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um
náufrago
Dançou e gargalhou
ouvisse música
como
se
E tropeçou no céu como se fosse
um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um
pássaro
E se acabou no chão feito um
pacote flácido
no
Beijou sua mulher como se fosse a
única
E cada filho seu como se fosse o
pródigo
E atravessou a rua com seu passo
bêbado
Subiu a construção como se fosse
sólido
Ergueu no patamar quatro paredes
mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e
lágrima
Agonizou
público
Amou daquela vez como se fosse o
último
meio
do
passeio
Morreu na contramão atrapalhando
o tráfego
Seus olhos embotados de cimento e
tráfego
Sentou pra descansar como se
fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se
fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse
máquina
Dançou e gargalhou como se fosse
o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse
música
E flutuou no ar como se fosse
sábado
E se acabou no chão feito um
pacote tímido
Agonizou
náufrago
no
meio
do
passeio
Morreu na contramão atrapalhando
o público
2. Amou daquela vez como se fosse
máquina
Por me deixar respirar, por me
deixar existir,
Deus lhe pague
Beijou sua mulher como se fosse
lógico
Pela cachaça de graça que a gente
tem que engolir
Ergueu no patamar quatro paredes
flácidas
Pela fumaça e a desgraça, que a
gente tem que tossir
Sentou pra descansar como se
fosse um pássaro
Pelos andaimes pingentes que a
gente tem que cair,
E flutuou no ar como se fosse um
príncipe
Deus lhe pague
E se acabou no chão feito um
pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando
o sábado
Por esse pão pra comer, por esse
chão prá dormir
Pela mulher carpideira pra nos
louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos
beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai
nos redimir,
Deus lhe pague
A certidão pra nascer e a concessão
pra sorrir
Analise:
Construção é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico
Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo. Junto com "Pedro
Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente
crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso
das relações aviltantes entre o capital e o trabalho".
A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam
numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos,
acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que
compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra. Os arranjos são
do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida
inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais
complexa.
A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar
no Brasil, em meio à censura e à perseguições políticas. Chico Buarque havia
retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969,
ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira.
3. A letra possui um aspecto narrativo, além de um caráter cíclico e
comparativo. As três estrofes são muito semelhantes, em especial as duas
primeiras; a diferença básica pode ser atribuída à última palavra de cada verso,
sempre uma proparoxítona, que torna o ritmo da música bem marcado e
repetitivo.
Os versos “Amou daquela vez como se fosse a última / Beijou sua
mulher como se fosse a última / E cada filho seu como se fosse o único / E
atravessou a rua com seu passo tímido” demonstram que o sujeito da canção é
um homem, pai de família. Existe um grande laço com sua mulher (“como se
fosse a última”) e um indicativo de que possui vários filhos (“e cada filho seu”).
Uma outra idéia sugerida é que um homem de baixa condição social, devido ao
andar tímido, que transparece a submissão aos demais na rua, e também pelo
número de filhos, muitas vezes associado à baixa classe social.
O título da canção, bem como a profissão do homem, fica
evidenciado pelos próximos versos. Em “Subiu a construção como se
fosse máquina”, o desempenho no emprego é comparado a uma
máquina, isto sugere que o homem trabalha sem questionar o que faz,
apenas está condicionado ao seu trabalho, algo tão comum que o faz
automaticamente. Lembrando que a letra foi escrita durante a ditadura
militar, algo que nos remete a pensar na submissão forçada: ou faz aquilo
que mandam, ou é punido. “Relacionado ao Naturalismo, onde o homem
tenta ser melhor que a máquina”.
“Ergueu no patamar quatro paredes sólidas / Tijolo com tijolo num
desenho mágico”, estes dois versos comprovam o emprego do homem, ligado
a construção civil, que também reafirma a ideia de sua baixa classe social.
Talvez uma das partes mais sentimentais da música está em “Seus olhos
embotados de cimento e lágrima”, pois mescla um objeto nem um pouco
emotivo, o cimento, com um símbolo da sensibilidade, a lágrima. O
interessante desse paradoxo é ver que podem coexistir, nos olhos do
trabalhador, a frieza do cimento com a fraqueza das lágrimas, algo que em
muito reflete o sofrimento desta condição social: a rigidez imposta com o
sentimento oprimido.
Nas passagens “Sentou pra descansar como se fosse sábado / Comeu
feijão com arroz como se fosse um príncipe”, fica evidenciado o alívio da hora
do descanso. Sábado é o primeiro dia do fim de semana, aquele dia que vem
logo após a semana atribulada. Quando o intervalo do serviço é comparado a
sábado, a necessidade de descanso é realçada. O ato de almoçar uma comida
tão simples, rotineira, como o feijão e arroz, e se sentir um príncipe, indica um
gosto muito grande por uma combinação cotidiana, como se não se pudesse
escapar desta rotina.
O alcoolismo, muito comum nas camadas inferiores da população, está
claramente desenhado em “Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago /
Dançou e gargalhou como se ouvisse música”. Além do mais, sabe-se que
4. trabalhadores de construção civil bebem para manter uma força muscular,
relacionada ao trabalho braçal.
Em meio a alegria barata proporcionada pela bebida, ocorre um
acidente: “E tropeçou no céu como se fosse um bêbado / E flutou no ar como
se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido”. Destes
versos podemos retirar que o homem trabalha em um prédio alto, tão alto que
tropeçar de lá é quase como tropeçar do céu. A comparação com um bêbado é
tanto por ter ingerido álcool anteriormente quanto pelo andar trôpego e
descuidado dos embriagados. Ao tropeçar, começa a cair e choca-se ao chão,
num impacto tão forte que seu corpo parece flácido.
Após a queda, “Agonizou no meio do passeio público”, isto é, os últimos
momentos de vida daquele homem. E para fechar: “Morreu na contramão
atrapalhando o tráfego”. O último verso mostra a indiferença da morte daquele
cidadão. Ao cair do prédio e estatelar-se no chão, a única preocupação que
ocorre, por parte do público que ali estava, foi em relação ao trânsito, como se
qualquer objeto tivesse caído, e não um pai de família. A contradição existente
é que, dentro de casa, o homem é o líder, mas na rua é um sujeito qualquer,
um parafuso da engrenagem capitalista, no caso, da construção de imóveis
que vão servir luxuosamente a outras pessoas.
As outras estrofes apenas repetem a história, causando certas
confusões, como em “Ergueu no patamar quatro paredes flácidas”.
Logicamente, daria para estender muito mais a análise das duas últimas
estrofes, mas vou me ater apenas àlguns trechos. A indiferença do homem é
realçada em “Morreu na contramão atrapalhando o público” e, melhor ainda,
em uma das melhores partes da letra: “Morreu na contramão atrapalhando o
sábado”.
Foi uma jogada muito inteligente com o “atrapalhando o sábado”, porque
é como se o descanso do público tivesse sido interrompidoa pela morte do
trabalhador. Enquanto ele estava erguendo paredes, o público passeava; na
hora em que se acidentou e morreu, incomodou os outros.
As estrofes começam com “amou” e terminam com “morreu”, outra
antítese muito interessante da letra que destaca a narrativa, onde as coisas
começam bem e, de uma maneira ou de outra, terminam num fim. Neste caso,
o fim é sua própria morte, deixando para trás o seu lar, onde sua posição como
líder era muito importante; deixa de lado também seu trabalho, onde era
insignificante.
No arranjo da música, percebe-se que a última estrofe é cantada de um
modo mais acelerado, com sons vindo de todos os lados. Este efeito gera uma
confusão, um desnorteamento que ilustra a vida sem rumo daquele
trabalhador. A repetição do mesmo alicerce das estrofes mostra que esta rotina
é comum, acontecendo com vários trabalhadores por aí, todos invisíveis à
sociedade.
Miséria
5. Titãs
Miséria é miséria em qualquer canto
Cores, raças, castas, crenças
Riquezas são diferentes
Índio, mulato, preto, branco
Riquezas são diferenças
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
A morte não causa mais espanto
Miséria é miséria em qualquer canto
O Sol não causa mais espanto
Filhos, amigos, amantes, parentes
A morte não causa mais espanto
Riquezas são diferentes
O Sol não causa mais espanto
Ninguém sabe falar esperanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Todos sabem usar os dentes
Cores, raças, castas, crenças
Riquezas são diferentes
Riquezas são diferenças
Índio, mulato, preto, branco
Miséria é miséria em qualquer canto
Filhos, amigos, amantes, parentes
Riquezas são diferentes
Fracos, doentes, aflitos, carentes
Miséria é miséria em qualquer canto
Cores, raças, castas, crenças
Fracos, doentes, aflitos, carentes
Em qualquer canto miséria
Riquezas são diferentes
Riquezas são miséria
O Sol não causa mais espanto
Em qualquer canto miséria
Miséria é miséria em qualquer canto
Análise:
A música miséria apresenta os conflitos das classes da sociedade. “A
miséria é sempre igual, mas a riqueza é bastante diversa.” Isso pode ser
relacionado ao naturalismo pelo mesmo conflito que havia entre os
trabalhadores e os burgueses.
Quartos de Despejo
Quarto de despejo: Diário de uma favelada é um livro de 1960 escrito
por Carolina Maria de Jesus.
6. A autora nasceu no estado de Minas Gerais em 14 de março de 1914,
mudando-se para a cidade de São Paulo em 1947. Segundo consta, desde
nova era interessada em leituras, tendo depois iniciado a escrita de um diário.
Em 1960, um jornalista brasileiro chamado Audálio Dantas teria visitado
a favela do Canindé, local onde vivia Maria de Jesus, e teria ficado encantado
com a autora, que apesar de pobre demonstrava uma grande lucidez critica.
No livro, Maria de Jesus, uma favelada, escreve em seu diário o seu dia
a dia nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Seu texto é
considerado um dos marcos da escrita feminina no Brasil.O livro foi traduzido
em mais de treze línguas e as narrativas do diário ficam entre o ano de 1955 e
1960.
'"15 de julho de 1955. Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu
pretendia comprar um par de sapatos para ela."'
E termina com:
“1.º de janeiro de 1960. Levantei as 5 horas e fui carregar água.”
Em uma favela a beira do rio Tietê, no bairro do Canindé (SP), Carolina Maria
de Jesus registrava em cadernos a história de uma mulher brasileira, negra e
favelada, lutando para sobreviver e sustentar a família. Sua voz, no livro Quarto
de despejo, revela de modo forte e sincero a realidade daqueles que enfrentam
os obstáculos impostos por uma sociedade cruel. A semelhança entre sua vida
e as personagens de O cortiço não é mera coincidência: é o retrato das
injustiças sociais que, ao longo do tempo, só se agravam em nosso país.
O senhor das Moscas
O Senhor das Moscas (LordoftheFlies, em inglês) é um livro de alegoria
escrito por William Golding, vencedor do Prêmio Nobel em 1983. Foi publicado
em 1954. Embora não tenha sido um grande sucesso à época – vendendo
menos de 3000 cópias nos Estados Unidos em 1955 antes de sair de catálogo
– com o tempo tornou-se um grande sucesso, e leitura obrigatória em muitas
escolas e colégios. Foi adaptado para o cinema em 1963 por Peter Brook, e
novamente em 1990, filme estes que também passaram a ser exibidos em
diversas instituições educacionais. O título é uma referência a Belzebu (do
nome hebraico Ba’alZebub, ,)9841#&בעלזבוum sinônimo para o Diabo. É
geralmente lembrado como um clássico da literatura do pós-guerra, ao lado de
A Revolução dos Bichos e O Apanhador no Campo de Centeio.
O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças
inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão
de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra.
“O Senhor das Moscas" traz muito daquele desamparo do pós-guerra,
pois a história começa com aqueda de um avião que havia deixado a Inglaterra
após um bombardeio nuclear. Deste acidente, apenas um grupo de crianças
sobrevive e, para serem resgatadas, elas estabelecem uma frágil sociedade
7. "democrática". Entretanto, a luta pela liderança divide esta comunidade e
instaura um violento conflito entre as crianças. Esta obra de Golding pode ser
interpretada sob várias perspectivas. Como uma analogia da luta entre a
democracia, na qual todos podem ter voz, mas que, por outro lado, as decisões
são arrastadas e controversas, e a ditadura, na qual um tirano estabelece um
sistema hierárquico baseado na punição e no medo. Entretanto, há uma
mensagem mais profunda em "O Senhor das Moscas", já que ela pode
representar os conflitos dentro da própria "psique" humana. Ralph é a
consciência, porque todos seus esforços são o de manter clareza em sua fala e
ações e de agir da maneira mais correta para serem resgatados; Porquinho é a
racionalidade; Jack, os instintos animalescos e primitivos; Simon, a
contemplação e intuição. No fundo, Golding afirma que estas contradições não
existem somente no interior de uma sociedade, cujo resultado extremo é a
guerra, mas também no interior de um próprio indivíduo.
Outras Analises:
Muitos interpretaram "O Senhor das Moscas " como um trabalho de
filosofia moral. O cenário da ilha, um paraíso com toda a comida e a água
necessários, pode ser visto como uma metáfora para o Jardim do Éden. Assim,
a primeira aparição do “Bicho” seria o surgimento da serpente, como o mal
surge no livro de Gênesis.
Um dos principais temas do livro é a natureza do Mal. Isto pode ser
claramente visto na conversa que Simon mantem com o crânio do porco, que
se refere a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (uma tradução literal do
nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se
refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem
bíblico.
Essa história faz referência de como o naturalismo procura demonstrar
que a influência do meio sobre as personagens, isto é, de que maneira os
indivíduos, quando submetidos a condições de vida sub-humanas, passam por
um processo de desumanização e acabam dominados por seus instintos
animais.
Temas e Simbologias:
“O Senhor das Moscas” contém inúmeros temas e simbolismos.
Qualquer um dos personagens pode representar diferentes papéis na
sociedade.
Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por
escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para
todos.
Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona
controlar a todos na ilha.
Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo
lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
8. O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores
representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é
melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que
tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu
comportamento imita o doscães.
O "Bicho" representa a propaganda, causando medo por um inimigo
nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações
místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia.
Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza.
A concha representa ordem e democracia na ilha.
Outras interpretações consideram não tanto uma alegoria política, mas uma
alegoria social. Esta linha de pensamento indicaria que:
Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade
Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão
impopular a verdade possa ser
Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade.
A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele
rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno.
O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando
usados de modo incorreto, se torna um fim em si mesmo
O Senhor das Moscas representa o Mal escondido no coração de todos.
Cidade de Deus
Gênero: Drama.
Atores: Matheus Nachtergaele, JeffchanderSuplino, Jonathan Haagensen,
Daniel Zettel, Alexandre Rodrigues, Leandro da Hora, PhellipeHaagensen, Seu
Jorge, Gero Camilo, Babu Santana.
Direção: Fernando Meirelles e Kátia Lund.
Idiomas: Português.
Legendas: Inglês.
Ano de produção: 2002.
País de produção: Brasil.
9. Duração: 130 min.
Distribuição: Imagem Vídeo.
Região: 4.
Áudio: Dolby Surround.
Vídeo: Widescreen.
Cor: Colorido.
Classificação: 16 anos.
O cenário é a favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que surgiu no início
dos anos de 1960. Narrada por um dos personagens principais, a história
mostra a vida de dois meninos, Buscapé (Alexandre Rodrigues) e Dadinho
(Leandro Firmino da Hora), que crescem em meio a um universo violento e
sem piedade. Enquanto Buscapé tenta ser reconhecido pelo seu trabalho como
fotógrafo, Dadinho se transforma no bandido mais temido da região. Inovando
na maneira de filmar, o diretor Fernando Meirelles fez uma adaptação do livro
homônimo de Paulo Lins que ganhou prêmios em diversos festivais
internacionais, além de ser indicado ao Globo de Ouro, na categoria Melhor
Filme Estrangeiro. Grande parte do elenco foi escolhida entre os garotos que
vivem em diversas comunidades e favelas cariocas e que não tinham, até
aquele momento, nenhum contato com a arte de atuar.
O filme Marcou época e tem um enredo e interpretações fantásticas. Resgata a
idéia naturalista de que o homem é produto da raça, do meio e do ambiente
(Dadinho, que mais tarde se torna Zé pequeno) e os personagens são
semelhantes entre si (Zé pequeno e Bené), na medida em que apresentam
desequilíbrios característicos de sua condição. O cenário é marcado pela
miséria e a ignorância (a favela Cidade de Deus) e contribui para o
determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de
sua vontade; pode haver imposição do meio, da hereditariedade física e
psicológica, e outros fatores influenciáveis). Sua linguagem é crua, simples,
descritivista e o mais próxima possível da realidade. Não há preocupação
moral e os personagens são, em geral, seres que encontramos no mundo real
(fotógrafos, traficantes, donas de casa, etc.): aparece a linguagem de baixo
calão, os vícios humanos, e outras patologias sociais. Sua fotografia é
primorosa, simbólica, mostra os contrastes das cores, a força das imagens.
São fortes a cena do garoto que leva um tiro no pé e a simbologia do galo que
aparece no início e no fim da história, representando algo como a liberdade do
homem acerca de sua condição. Temos no conjunto (linguagem, visual,
enredo, etc.) uma estrutura extremamente atual e adequada a diversos
gêneros de público. O filme incomoda, como no Naturalismo, pois busca
através do patológico social explícito dar um grito de atenção.