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L i t e r a t u r
a
P r o f ª
V i v i a n
T r o m b i n i
Curso: () Extensivo ( x)Semiextensivo ( )Específica
Aluno(a): Data: 12/11/2015
MATERIAL COMPLEMENTAR
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS – MACHADO DE ASSIS
PRÓLOGO
O autor compara-se a outros escritores que trabalhavam com a ironia e o humor em seus textos (Stendhal, Sterne e Xavier de
Maistre), assumindo que sua obra provavelmente não agradará a muitos leitores.
Quanto à forma que ele escreveu o livro – depois de morto – afirma que não dará maiores explicações, pois isto não seria
necessário ao entendimento da história.
Capítulo 1 – Óbito do autor
Contrariando a maioria das biografias, o autor decide começar sua história pela sua morte, afinal, ele não é um autor defunto,
mas um defunto que virou autor – sua sepultura foi seu berço.
Morto em 1869, com 64 anos, numa chácara em Catumbi, o autor era um solteirão.
Seu funeral foi acompanhado por apenas onze amigos – ele justifica esse número pela falta de anúncios de sua morte e pela
chuva fina que caía na ocasião. No entanto, com ironia afirma que um dos seus amigos, um que lhe faz um belo discurso no momento
do enterro, recebera dele algumas de suas apólices – uma amizade comprada.
Descreve mais alguns dos personagens do funeral: sua irmã Sabina, casada com Cotrim, e uma senhora que ele ainda não
revela o nome, mas explica que não era sua parenta, apesar de lamentar muito sua morte.
Explica que foi diagnosticado com pneumonia, mas acredita que morreu mesmo por uma ideia, que em breve explicará.
Capítulo 2 – O emplasto
No trapézio* que Brás Cubas trazia em seu cérebro, saltou uma ideia que começou a chamar-lhe a atenção, fazer
cambalhotas, espernear… Era a criação de um medicamento extraordinário que serviria para aliviar a melancolia da humanidade, iria
chamar-se “Emplasto Brás Cubas”.
Admitindo que além de ajudar as pessoas o medicamento lhe traria vantagens financeiras, o autor esclarece que seu maior
objetivo era ter seu nome divulgado pela marca, fazer fama, ter o “amor da glória”.
Lembra-se de dois tios seus: um religioso que dizia que o “amor da glória” era uma grande perdição; outro militar que
considerava o “amor da glória” a coisa mais humana no homem. Convida o leitor a escolher qual tem mais razão.
*O “trapézio”, aqui, trata-se de uma figura de linguagem, uma metáfora.
Capítulo 3 – Genealogia
Tendo citado seus tios, o autor decide traçar sua genealogia.
O fundador de sua família era Damião Cubas, que tinha esse nome, “Cubas”, devido ao seu trabalho com tonéis. Damião teria
juntado alguns bens por ter se desdobrado como lavrador, além das atividades como tanoeiro (quem trabalha com tonéis, com cubas).
Com esse dinheiro seu filho, Luís Cubas, teve boas condições de estudo. No entanto a família do autor desprezava Damião, por ter um
trabalho simples, e considerava apenas Luís, formado em Coimbra, como origem genealógica.
O pai do autor, que era bisneto de Damião, foi ainda mais longe na reescrita da história da família: alegava que “Cubas” era um
apelido herdado de um cavaleiro que, lutando contra os mouros na África, teria quebrado trezentas de suas cubas. Antes de inventar
essa versão, ele ainda teria tentado associar o nome de seu filho, Brás Cubas, autor deste livro, ao personagem histórico fundador da
vila de São Vicente*, que tinha o mesmo nome, mas a família do capitão-mor Brás Cubas teria se oposto a esta história.
Cita o que resta de sua família: sua sobrinha Valência, filha de Cotrim.
*Na realidade Brás Cubas foi fundador de Santos.
Capítulo 4 – A ideia fixa
Voltando ao Emplasto Brás Cubas, o autor reconhece que tal projeto tornou-se uma ideia fixa, o que considera terrível: é algo
que pode levar homens à morte, à loucura ou, quem sabe, à grandiosidade – e justifica essas possibilidades citando personagens
históricos que tiveram suas “ideias fixas”.
O autor brinca com o leitor, pelo fato de a narrativa não se desenrolar, mas prender-se a questões filosóficas. Já avisa que
assim será por todo o livro, tratando assuntos ora de forma seria, ora brincalhona.
Capítulo 5 – Em que aparece a orelha de uma senhora
O autor estava ocupado na invenção de seu emplasto quando recebeu um golpe de ar que o deixou doente. Não se tratou
corretamente e morreu numa sexta-feira, dia de azar. Ele ressalta a ironia do destino: quando se empenhava num grande feito, vem
uma corrente de ar e acaba com tudo!
Sobre esse fato ele havia conversado com a senhora anônima citada no Capítulo 1, logo antes de sua morte. Ela tinha 54
anos, era a mais formosa entre as de seu tempo, e muitos anos antes eles tinham se amado. Agora ela voltava nos últimos momentos
de sua vida.
Capítulo 6 – Chimène, qui l’eût dit? Rodrigue, qui l’eût cru?
Quando a senhora entrou em sua alcova, pálida, comovida, o autor foi levado às suas lembranças de juventude. Pondera que
a saudade do passado é ainda mais bela do que a vivência do passado.
Havia no quarto um sujeito, junto a Brás Cubas, que lhe contava sobre fatos políticos e econômicos – nada interessantes a um
moribundo. Após sua saída veio a senhora ter com o autor: o nome dela era Virgília.
Virgília contou-lhe notícias de fora, com uma língua afiada que agradava ao doente – ele se despedia do mundo e fazia
questão de caçoar dele.
Dias depois voltou Virgília conforme haviam combinado: acompanhada de seu filho Nhonhô – para não caírem na boca da
vizinhança as visitas de uma senhora sozinha a um homem solteiro. Quando tinha cinco anos o garoto havia sido cúmplice do caso de
Brás e sua mãe, mas não tinha consciência do que acontecia.
Conversavam quando o autor entrou em delírio.
Capítulo 7 – O delírio
O delírio, que durou de vinte a trinta minutos, começou confuso: encontrou-se com um barbeiro chinês, depois se viu
incorporado em um livro fechado que alguém tentava abrir, e finalmente voltou à forma humana, montado no lombo de um hipopótamo
que avisou que ele fariam uma viagem á origem dos séculos.
Brás fechou os olhos durante a jornada e sentiu o frio aumentar. Quando perguntou onde estavam, o hipopótamo avisou que já
haviam passado do Éden e continuavam rumo ao passado.
Chegou a um ponto em que encarou uma face feminina gigante: era a Natureza, ou Pandora. Ela o informa que está prestes a
engoli-lo. O autor ainda tenta convencê-la de que aquela não era uma boa ação, mas ela responde que vai fazê-lo porque quer e que o
egoísmo é a lei natural.
Em seguida Brás Cubas é levado pelo hipopótamo ao caminho contrário, acompanhando todo o desenvolvimento da
humanidade, seus flagelos e delícias, a busca pela figura incerta da felicidade. O autor entrega-se, pede que seja dado logo fim à sua
vida. Mas a viagem continuava, de século em século, interessante e monótona, passando pelo seu tempo presente, rumo ao futuro, até
a chegada do ano final, que fez crescer o interesse do viajante.
Mas nesse momento surgiu um nevoeiro, tudo o mais desapareceu, exceto o hipopótamo, que se transfigurou num gato – era
o gato de Brás Cubas, Sultão, que brincava junto à porta de seu quarto.
Capítulo 8 – Razão contra Sandice
O autor personifica os dois estados mentais que o dominavam: a Sandice tentava argumentar contra a Razão, pedindo
permissão para ficar por mais tempo naquela casa, pois estava prestes a desvendar os mistérios da vida e da morte; e a Razão a
enxotava para fora, já cansada de ouvir a mesma história vinda da Sandice.
Capítulo 9 – Transição
Agora o autor avisa que fará uma grande transição em sua narração: de Virgília ele lembra os tempos de juventude, da
juventude vai à meninice, e da meninice ao nascimento: 20 de outubro de 1805.
Capítulo 10 – Naquele dia
Todo cheio de si, Brás Cubas conta que fora um bebê muito visitado em seus primeiros dias de vida. Seus tios confabulavam
sobre o futuro do menino: João, ex-oficial de infantaria, via um olhar de Bonaparte na criança; Ildefonso, o beato, imaginava-o Cônego,
senão Bispo. Seu pai, Bento, não se preocupava com o futuro, apenas orgulhava-se de o filho herdar sua beleza e inteligência.
No ano seguinte, 1806, foi seu batizado, tendo como padrinhos um Coronel do norte e sua esposa – o nome de ambos foi uma
das primeiras coisas que ele aprendeu de cor, motivo de orgulho da família.
A criança começou a andar cedo, devido constantes incentivos de sua mãe e também de sua mucama.
Capítulo 11 – O menino é pai do homem
Seguindo o dito do poeta que “o menino é pai do homem”, Brás Cubas apresenta-se destrinchando sua infância.
Fora criado muito livremente, o que o tornou muito mal-educado: era chamado de “o menino diabo”. Enganava os adultos,
maltratava os escravos – em especial Prudêncio, um moleque que tinha a mesma idade e em quem gostava de montar, como se fosse
seu cavalo.
Sua mãe, senhora caseira e modesta, temente ao marido, ensinava ao pequeno Brás orações que ele repetia diariamente,
mas serviam apenas para amenizar os pecados que nunca deixava de cometer.
Seu pai o adorava, mesmo com todas suas traquinagens, e não dava atenção às preocupações do tio cônego do menino, que
alertava sobre o excesso de liberdade dado à criança.
João, o tio ex-oficial, era um zombador que adorava contar piadas sujas e seu sobrinho o acompanhava, ouvindo e
aprendendo todas.
Já Ildefonso, o cônego, era um homem austero e puro, apesar de não ser tão ligado à questão espiritual da igreja: antes ele se
importava com as hierarquias, as aparências, os rituais – sua única ambição tinha sido tornar-se cônego.
Havia ainda uma tia materna, Dona Emerenciana, que se diferenciava de todos os outros: tinha autoridade sobre o menino.
Mas viveu pouco tempo com ele.
Resumindo sua base familiar numa metáfora, Brás Cubas diz: “Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor”.
Capítulo 12 – Um episódio de 1814
Tinha o autor nove anos quando caía Napoleão, na França. Apesar da rixa entre alguns que admiravam e outros que
condenavam o império napoleônico, a família de Brás Cubas montou um jantar para comemorar o fato, com o intuito de agradar a
família real portuguesa – importante lembrar que em 1808 a família real havia-se mudado de Portugal para o Brasil fugindo do ataque de
Napoleão.
Estava no tal jantar Doutor Vilaça, um senhor glosador (que fazia glosas, versos rimados), que não parava de demonstrar sua
arte. As senhoras encantavam-se por ele enquanto Brás apenas desejava uma compota que aguardava na mesa. O menino fez birra e
seu pai iria atender ao seu pedido, servindo a ele a compota, quando sua tia Emerenciana decidiu que o garoto merecia um castigo pelo
mau comportamento e retirou-o da mesa.
Brás Cubas quis vingar-se do Doutor glosador, que entendeu como culpado da demora em servir sua sobremesa. No momento
em que todos convidados passeavam pela chácara o garoto seguiu Vilaça: ele encontrava-se às escondidas com uma das senhoras
que o adoravam, Dona Eusébia. Quando percebeu que o casal se beijava o menino correu em meio aos demais convidados gritando
para todos o que vira. Como Vilaça era um homem casado, pai, aquele fato o ridicularizava e foi motivo de muitos risos entre os
presentes.
Apesar de o pai de Brás Cubas dar-lhe um corretivo na presença dos convidados, no dia seguinte já achava graça do feito do
menino.
Capítulo 13 – Um salto
Neste capítulo o autor dá um salto sobre seu período escolar, do qual se lembra pelos ralhos recebidos na escola, pelo
aprendizado à força da palmatória e pelas diabruras que fazia quando fugia das aulas.
Dá atenção à figura de seu professor: Ludgero Barata, um senhor rabugento que vivia sozinho sua vida medíocre – quando
morreu apenas um preto velho chorou sua partida. Por causa de seu sobrenome o velho era constantemente motivo de chacota dos
alunos. Um dos colegas de Brás, Quincas Borba, sempre metia no bolso ou na gaveta da mesa do mestre uma barata morta, deixando-
o furioso.
Este Quincas era o menino mais travesso e mimado da cidade; o pajem que o cuidava permitia que ele cabulasse as aulas;
nas brincadeiras sempre encarnava o rei, o general, o supremo.
Agora a história partirá para 1822, ano da Independência.
Capítulo 14 – O primeiro beijo
Com dezessete anos, um ralo bigode, Brás Cubas indefinia-se entre a criança e o homem. Era um rapaz bonito, audaz, como
um cavaleiro de um corcel veloz, chegava a ser desejado por algumas moças. Mas uma em especial recebeu a atenção do narrador:
Marcela, uma dama espanhola.
Era ocasião de comemoração da Independência do Brasil quando ele avistou a moça no meio do povo e logo se enamorou.
Marcela, no entanto, morria de amores por Xavier, um homem abastado da cidade.
Após três dias Brás comentou com seu tio João que desejava ir a uma “ceia de moças” na casa de Marcela. Durante o evento
só tinha olhos para a dama e ao final, antes de partir, se despediu lhe roubando um beijo.
Capítulo 15 – Marcela
Brás Cubas abriu mão do corcel veloz em que montava para trocá-lo por um asno teimoso e paciente: levou trinta dias para
conquista o coração de Marcela.
O romance teve dois momentos: a fase “consular”, quando seu amor era dividido com o de Xavier; depois a fase “cesariana”,
quando dominava completamente o coração da espanhola. A passagem da primeira para a segunda etapa do relacionamento, porém,
não foi barata: Brás Cubas precisou arrecadar dinheiro de seu pai, de sua mãe, e até sacar quantias do banco sem o consentimento
paterno, tudo para bajular Marcela com joias e outros presentes.
Diversos objetos que a espanhola mantinha em sua casa eram presentes de antigos amantes, o que irritava Brás. Mas ela
alegava que o amor que tinha por ele não precisava desses artifícios, ao mesmo tempo em que comentava algum colar que vira numa
joalheria e lhe interessava… O garoto caía na conversa e satisfazia todos seus desejos.
Em troca, Brás Cubas era agraciado com tudo o que pedia para Marcela: que ela vestisse um ou outro vestido, que
desfilasse…
Capítulo 16 – Uma reflexão imoral
O autor retoma o Capítulo 14, em que afirmou que Marcela “morria de amores” por Xavier, para consertar a frase ironicamente:
ela, na verdade, “vivia de amores” por ele – era o que podiam comprovar os joalheiros, responsáveis por “um terço ou um quinto do
universal comércio dos corações”.
Capítulo 17 – Do trapézio e outras coisas
O romance de Brás Cubas e Marcela durou “quinze meses e onze contos de réis”. A essa altura o pai do rapaz descobriu os
saques indevidos de seu banco e decidiu mandá-lo para Portugal, estudar em Coimbra, para que não se tornasse um vadio.
Sabendo da intenção de seu pai, Brás foi até Marcela convidá-la para acompanhá-lo. Ela negou o convite, deu uma desculpa
inventada, o garoto enfureceu-se e saiu desvairado pela cidade. No caminho uma nova ideia pulou no trapézio que ele tinha em seu
cérebro: precisava deslumbrar Marcela e, para isso, pediu um empréstimo no banco, foi a um ourives, comprou a melhor joia da cidade.
Voltando a Marcela, entregou-lhe o presente, prometeu-lhe uma vida glamorosa e insistiu que seguisse com ele para Portugal.
Após resistir algum tempo, a espanhola topou o convite.
Capítulo 18 – Visão do corredor
Saindo pelo corredor o jovem Brás Cubas tinha sua mente perdida na imagem de Marcela, corrompida por uma joia – mas
ainda acreditava em seu autêntico amor. Comparou-se a um personagem das Mil e Uma Noites, que se humilhava por sua amante.
Estava nestes pensamentos quando surgiram três homens que o agarraram pelos braços e botaram-no numa carruagem.
Eram seus tios e seu pai, que o encaminhavam para uma galera (tipo de barco) que partiria para Lisboa.
Já na embarcação a nova ideia fixa do rapaz era de jogar-se ao mar, repetindo o nome de Marcela.
Capítulo 19 – A bordo
Estavam a bordo onze passageiros, entre eles um louco com sua mulher além do comandante e sua esposa, uma senhora
tísica (com tuberculose pulmonar), prestes a falecer.
A intenção suicida de Brás Cubas parece ter sido adivinhada por seu pai, que teria comunicado o capitão: ele sempre estava à
espreita do rapaz. Numa das noites, quando Brás pretendia lançar-se ao mar, o homem surgiu conversando sobre a noite e as estrelas,
recitando poesias, até receber um chamado da mulher. O empenho do capitão deu resultado, Brás Cubas foi dormir, “que é um modo
interino de morrer”.
O dia seguinte foi de um temporal amedrontador. O homem louco dançava e gritava que era sua filha que vinha buscá-lo – ele
havia ensandecido pela morte da garota. Os demais viajantes, inclusive Brás Cubas, protegiam-se ou rezavam. Após o fim da tormenta,
o capitão foi falar com ele, que antes buscava a morte e agora a temia. Recitou-lhe mais poemas de sua autoria.
Após alguns dias vinha a noticia que a mulher do comandante não mais aguentaria a viagem. Brás foi ter com ela, já muito
pálida, mas ainda esperançosa de chegar a Lisboa. Mais uns e dias e estava morta, foi jogada ao mar. Nosso narrador consolava o
capitão, observando as ondas do mar, ouvindo mais de suas poesias e elogiando-as. O marujo emocionou-se e desejou ao rapaz um
futuro grandioso.
Capítulo 20 – Bacharelo-me
Sob o signo de “grande futuro” que o capitão lhe concedeu, Brás Cubas recuperou-se finalmente do mal que lhe causava
Marcela: ele agora iria estudar, tinha ambição de grandes cargos, posições superiores!
Após desembarcar em Lisboa e seguir até Coimbra, no entanto, o nosso autor não fez grandes esforços em seus estudos, era
um aluno médio, superficial, além de folião. Quando se formou – admitindo que não trazia em seu cérebro o conhecimento condizente
com o grau de bacharel – percebeu que aquilo poderia ser um problema: ao mesmo tempo que ganhava liberdade, também teria
responsabilidades. Seu verdadeiro desejo era ainda levar a vida como um eterno estudante folgazão.
Capítulo 21 – O almocreve
O jumento que nosso narrador montava empacou. Após tentar fazê-lo andar com alguns saltos sobre seu dorso, o bicho
sacudiu-se fazendo Brás cair. Seu pé estava preso no estribo e o animal iniciava uma disparada: haveria um grave acidente! Mas surgiu
um almocreve (um carregador) que o ajudou, segurando o asno.
Enquanto se recuperava e agradecia ao homem, Brás Cubas pensou em recompensá-lo com três das cinco moedas de ouro
que carregava consigo. Ele ia até seu alforje buscar o dinheiro quando pensou melhor se três moedas não seriam muitas. Observou o
almocreve: era um pobretão, estava conversando com o jumento, pedindo que não aprontasse novamente. Duas moedas já o
alegrariam, senão uma!
Brás chamou-o e deu-lhe apenas uma moeda, e de prata! Ao sair montado no animal, ainda mirava seu salvador a distancia,
que se despedia alegre com a recompensa. Nosso narrador meteu a mão no bolso e sentiu alguns vinténs em moedas de cobre:
arrependeu-se, poderia tê-las dado ao pobre-diabo no lugar da moeda de prata, afinal, a ajuda que ele lhe deu não tinha por trás
nenhum interesse, era um impulso, uma ação habitual que faria em qualquer circunstância.
Capítulo 22 – Volta ao Rio
Após a universidade, Brás Cubas aventurou-se pela Europa. Estava em Veneza, vivendo ilusões do passado, quando recebeu
um chamado de seu pai: precisava voltar logo, senão encontraria sua mãe já morta. Embarcou rapidamente para o Rio.
Neste ponto o autor comenta – com ironia – que não esticará o capítulo, detalhando seus passos no velho continente nem seu
trajeto de volta, em respeito aos leitores que não gostam de longos textos.
Capítulo 23 – Triste, mas curto
Chegando ao Rio o autor relata a sensação renovadora de rever os locais de sua infância e a consternação de sua família que
acompanhava sofrimento de sua mãe – situações que ele mesmo descreve como lugares-comuns.
Lá estavam seu pai, sua irmã, já casada com Cotrim, seu tio João e dona Eusébia, todos tristes. Quando encarou sua mãe,
que não via há nove anos, pálida, seca, apenas pegou suas mãos, sem saber soltar uma palavra.
No dia seguinte ela faleceu e pela primeira vez Brás Cubas sentia a morte verdadeiramente de perto, numa pessoa amada,
carinhosa, cheia de bondade.
Capítulo 24 – Curto, mas alegre
Brás Cubas abalou-se com a morte da mãe, ele nunca havia se debruçado sobre temas profundos da existência.
Até então o autor se comparava a um cabeleireiro que conheceu em Módena (região da Itália): ele fazia seu trabalho
mecanicamente, sem nenhuma opinião sobre nada demais. Apesar dos estudos que teve, Brás assimilou na universidade apenas o
superficial, as fórmulas, o suficiente para mostrar aos outros que sabia de algo.
Agora morto, alegra-se de poder expor tranquilamente sua mediocridade, da qual era consciente, mas negava apenas por
convenções sociais: “a franqueza é a primeira virtude de um defunto”. Durante a vida o olhar alheio, a cobiça, a opinião da sociedade,
mergulham o mundo numa enorme hipocrisia. Já no além, não há plateia, não há julgamentos, as verdades podem ser ditas!
Capítulo 25 – Na Tijuca
Sete dias após a morte da mãe, Brás Cubas retirou-se para a chácara da família na Tijuca, acompanhado de um preto, uma
espingarda, charutos e livros.
Lá permaneceu melancólico, resignado do mundo. “Que bom é estar triste e não dizer coisa nenhuma!”, diz o autor, citando
Shakespeare. No entanto, passados sete dias Brás Cubas reanimava-se: era preciso viver!
Organizava sua partida quando o preto veio alertar-lhe que se mudavam para a casa vizinha dona Eusébia e sua filha – fruto
de seu romance com Vilaça, que deixou-lhe uma boa quantia de herança após morrer. Lembrando-se do caso de 1814 (Capítulo 12) em
que pregou uma peça à senhora, Brás envergonhou-se e preferiu não encontrá-la. Mas quando o preto informou-lhe que fora ela quem
vestira o corpo de sua mãe defunta, o rapaz entendeu que era seu dever agradecê-la com uma visita.
Capítulo 26 – O autor hesita
Quando ia visitar Dona Eusébia, Brás foi surpreendido por seu pai que trazia notícias da cidade: ele havia recebido uma carta
de pêsames de um dos Regentes (na época D. Pedro II tinha cinco anos e o poder do Império estava na mão de um grupo autoridades
chamado Regência). Portanto pede que seu filho volte ao Rio para agradecer ao Regente e, além disso, tinha planos de torná-lo
deputado e casá-lo.
O rapaz inicialmente recusou a proposta, ele não entendia nada de política e não queria casar-se, ainda estava abalado pela
morte da mãe. Mas após a insistência do pai e alguns momentos de reflexão, a ideia já não parecia tão má.
O pai de Brás cobra uma resposta definitiva do filho, e revela o nome de sua pretendente: Virgília.
Capítulo 27 – Virgília?
Sim, a pretendida de Brás Cubas era a mesma Virgília que em 1869, como narrado no Capítulo 6, acompanharia seus últimos
dias de vida.
Mas naquele momento ela era uma moça de quinze ou dezesseis anos, atrevida, voluntariosa. O autor abre mão da descrição
romântica tradicional, que lhe daria ares de perfeição, para assumir que ela tinha lá seus defeitos, sardas e espinhas, coisa da idade,
mas ainda assim era bonita.
O autor brinca com a diferença entre os elogios que dirigia a ela pessoalmente, naquela época, e o relato realista de sua
fisionomia que fazia agora, defunto. Mas não considera que mentiu em nenhum dos momentos: o homem é uma “errata pensante”, cada
estação da vida reedita a anterior, sempre, até que a versão final seja entregue aos vermes.
Capítulo 28 – Contanto que…
O pai de Brás explica que a garota é filha um político importante, Conselheiro Dutra, com quem já tinha comentado sobre a
possibilidade de seu filho tornar-se deputado. O casamento e o cargo seriam quase um acerto conjunto!
Brás Cubas afirma que atenderá ao pedido do pai, contanto que possa eventualmente escolher entre ser político ou casado,
não os dois ao mesmo tempo. O pai brinca que a noiva e o parlamento são quase a mesma coisa, mas aceita a contraproposta do filho,
contanto que ele saia daquela vida inútil: houve muitos investimentos em Brás Cubas para que ele não brilhasse, para que vivesse na
obscuridade. Afirma que “os homens valem por diferentes modos, e o mais seguro de todos é valer pela opinião dos outros homens”.
E foi pelo desejo de nomeada, de fama, que Brás Cubas foi seduzido – a mesma fama que desejaria mais tarde, com seu
Emplasto (Capítulo 2).
Capítulo 29 – A visita
Feito o acordo, o pai de Brás despede-se, seu filho partiria somente no dia seguinte – precisava ainda visitar dona Eusébia.
O rapaz foi à casa da senhora, com quem conversou sobre sua finada mãe. Vendo que o garoto se entristecia, Eusébia
perguntou-lhe das viagens na Europa, dos estudos, das namoradas, assumiu que era uma velha patusca (tagarela). Isto fez o jovem
lembrar-se do episódio de 1814, do beijo dela com Vilaça.
Neste momento há um rangido de porta e um chamado: mamãe…
Capítulo 30 – A flor da moita
Entrava em cena Eugênia, uma linda garota morena, com os cabelos em trança. Dona Eusébia comentava os dotes de sua
filha, enquanto cruzavam-se o olhar dela com o de Brás.
Uma enorme borboleta preta invadiu a sala, atormentando Eusébia devido à superstição de que elas trariam um aviso de
morte.
Capítulo 31 – A borboleta preta
No dia seguinte nosso autor estava preparando-se para descer a serra quando uma nova borboleta preta entra em seu quarto
e pousa sobre sua testa. Brás a espanta e ela voa até a janela. Espanta-a novamente, ela vai parar na fotografia do pai de Brás. Não
saindo daquele local, o autor fica nervoso e bate-lhe com uma toalha. A borboleta cai quase morta. Brás a leva para a janela, mas ela
não tem forças e morre. Pergunta-se se não seria melhor se ela fosse uma borboleta azul, não preta.
Agora o autor entra numa reflexão profunda sobre a borboleta: imaginou que ela teria saído felizmente do meio do mato e ao
entrar no quarto, topando com ele, teria imaginado que aquele ser gigante era o “inventor das borboletas”, resolvendo beijá-lo na testa;
após ser espantada e pousar na janela teria visto o retrato do pai do “inventor das borboletas” e teria ido ate ele pedir misericórdia.
Mas de nada valeu a aventura da borboleta – e o autor comemora por ser superior às borboletas. Considera que nem sendo
azul ela se salvaria, pois provavelmente iria enfiar-lhe um alfinete para guardá-la. Após lançar a borboleta ao chão e ver que já vinham
formigas para lhe comer, retoma o pensamento de que seria melhor se ela fosse azul.
Capítulo 32 – Coxa de nascença
Brás Cubas já estava pronto para partir quando recebe um convite para jantar com Dona Eusébia. Recusa inicialmente, mas
cede após a insistência da senhora.
Eugênia estava vestida de forma mais simples, simples como sua beleza, que chamava a atenção de Brás.
Caminhando para conhecer a chácara de Dona Eusébia o autor percebeu que a menina coxeava (mancava) um pouco.
Perguntou se ela havia machucado o pé, mas a própria Eugênia informou que ela era coxa de nascença.
Após a desconfortável situação, os três seguiram a caminhada com a dona da chácara apresentando cada canto, enquanto
Brás e Eugênia cruzavam olhares.
Capítulo 33 – Bem-aventurados os que não descem
O fato de Eugênia ser, ao mesmo tempo, bonita e coxa deixou nosso autor em conflito. Tentou dispersar os pensamentos ao
dormir, mas até os sonhos o traíam.
O dia seguinte foi chuvoso e Brás se deixou ficar mais um tempo na chácara. Os convites para estar com Dona Eusébia e sua
“Vênus manca” continuavam, a descida para a cidade estava adiada há uma semana.
Mesmo manca, Eugênia cada vez mais despertava o desejo de Brás. Ele atendeu ao pedido da moça para que não fosse
embora e adicionou um versículo ao evangelho: “Bem-aventurados os que não descem, porque deles é o primeiro beijo das moças”.
Lembrando-se do episódio de 1814 com Dona Eusébia, Brás apostou na hereditariedade dos hábitos para beijar a filha e teve sucesso
sem necessitar muitos esforços. A mãe não suspeitou de nada.
Capítulo 34 – A uma alma sensível
O autor faz um embate contra as possíveis “almas sensíveis” que enxerguem nas suas atitudes mostras de cinismo: quanto a
Eugênia, Brás afirma que não foi cínico, foi homem!
Capítulo 35 – O caminho de Damasco
Dentro de oito dias nosso narrador diz ter ouvido um chamado: “Levanta-te, e entra na cidade”, tal qual ocorreu com o
personagem bíblico Saulo em sua conversão ao cristianismo, no caminho de Damasco.
Eugênia, deixada para trás por ser coxa, não acreditou quando Brás jurou-lhe que só descia a serra por necessidade e que a
queria muito bem: ela ainda avaliou que ele estava fazendo o correto.
Descendo da Tijuca, Brás Cubas dividia-se entre a amargura do que deixava para trás e a satisfação do seu futuro, com
esposa e carreira política.
Capítulo 36 – A propósito de botas
Chegando à sua casa o autor mal falou com seu pai e foi logo descalçar as botas. Surge no trapézio de sua cabeça uma nova
ideia, de que botas apertadas são uma grande ventura: elas fazem os pés doerem para que, depois, possamos ter o prazer de tirá-las. E
assim funcionaria toda a vida, nos dando fome para o momento da comida, inventando calos para aperfeiçoar a felicidade.
Em alguns dias tinha o autor se descalçado dos sentimentos por Eugênia e agora gozava da liberdade do coração. Já Eugênia
deveria continuar com suas botas e mancando.
Capítulo 37 – Enfim!
Enfim, se encontrariam Brás Cubas e Virgília. Conselheiro Dutra recebeu seu prometido genro e apadrinhado político com
gosto, apenas solicitando que esperassem alguns meses para sua candidatura. A moça rapidamente encantou Brás, tornaram-se
íntimos.
Capítulo 38 – A quarta edição
Convidado para jantar com Conselheiro Dutra, Brás Cubas preparou-se e resolveu dar voltas em sua sege (carroça) pela
cidade. Lembrando-se de sua teoria em que afirmava que o homem é uma “errata pensante”, o narrador classifica-se, naquele
momento, como sua quarta edição, ainda mal acabada, mas ornada luxuosamente.
Seguia seu passeio quando seu relógio de bolso caiu e quebrou-se. Entrou numa ourivesaria onde, para sua surpresa,
encontrou sua antiga amante Marcela – agora uma senhora já maltratada pelo tempo e por doenças. Ela herdara aquela loja de um de
seus amantes que veio a falecer em seus braços. Daí em diante trabalhava vendendo muitas das joias que acumulou durante a vida.
Brás desejava retirar-se logo dali, mas Marcela pegou o relógio quebrado e deu a um garoto que iria consertá-lo. Enquanto
isso o interrogou sobre a vida que levava, se já era casado, Brás mal respondia aos questionamentos. Agora ele enxergava naquela
mulher a cobiça que a movia, ela não parecia ter falta de dinheiro, mas ainda assim empenhava esforços em gerar fortunas.
Capítulo 39 – O vizinho
Entrou na loja um senhor com uma menina de quatro anos. Ele conta para Marcela que a garota tem adoração por ela,
chegando a oferecer suas orações à Santa Marcela, em forma de homenagem.
Brás percebeu que Marcela emocionou-se com o relato do velho, explicando que ele é um relojoeiro vizinho, que vive com sua
esposa e filha.
Capítulo 40 – Na sege
O relógio consertado foi trazido pelo menino. Brás despediu-se rapidamente e subiu à sege (carroça) para seguir até a casa do
Conselheiro Dutra.
O dia havia iniciado alegre, durante o almoço seu pai interpretou o primeiro discurso que deveria ser feito quando Brás se
tornasse deputado. O futuro batia a porta, até que o passado surgisse no encontro com Marcela e causasse desconforto ao nosso
narrador, que permaneceu abalado até a chegada ao seu destino.
Capítulo 41 – A alucinação
Brás Cubas foi recebido por Virgília de maneira estranha. Ele enxergava em seu rosto as mesmas marcas de velhice que
encontrou em Marcela. Esta o abalou de tal forma que pensou em fugir do lugar.
Após sentarem-se no sofá, Brás voltou a observar sua pretendida e as estranhas marcas haviam sumido, a pele estava jovem,
como de costume. Seu comportamento, porém, continuou estranho.
Capítulo 42 – Que escapou a Aristóteles
O narrador levanta uma análise filosófica sobre o descontentamento que se abateu sobre a moça: ele seria como um impulso
iniciado com Marcela, que teria sido repassado para Brás e, enfim, acabado em Virgília. Nomeia esse fato de “solidariedade do
aborrecimento humano”, um capítulo do qual Aristóteles (filósofo da Grécia antiga) teria se esquecido de escrever.
Capítulo 43 – Marquesa, porque eu serei marquês
Virgília era uma garota travessa. Angelical, mas travessa. Surgiu em seu caminho Lobo Neves, um homem que em breve se
tornaria ministro. Virgília perguntou-lhe se ele prometeria torná-la baronesa e ele respondeu “Marquesa, porque eu serei marquês”.
A garota caiu na lábia de Lobo Neves e coube ao Conselheiro Dutra informar Brás de que os planos haviam mudado: ele não
seria mais noive de sua filha, de Virgília só lhe restariam as lembranças de alguns beijos que recebera.
Capítulo 44 – Um Cubas
O pai de Brás, ao saber do fracasso dos planos para seu filho, foi quem mais se abalou. “Um Cubas!”, repetia ele, incrédulo
sobre o desastre lhe ocorrera. Enquanto o próprio Brás digeriu a derrota sem muitos ressentimentos, o pai acabou adoecendo e
morrendo de desgosto.
Capítulo 45 – Notas
O autor expõe uma lista do que viu durante o enterro do seu pai, os preparativos, o velório, a marcha fúnebre… Notas que ele
utilizaria para escrever um capítulo “triste e vulgar”, do qual abre mão.
Capítulo 46 – A herança
Surge um grande embate entre Brás Cubas, sua irmã Sabina e seu cunhado Cotrim: a divisão da herança. O interesse nas
pratas, nos pretos e nas casas deixadas pelo pai alimenta uma longa discussão.
Quando o tio Ildefonso, o cônego, soube da disputa durante um jantar, lembrou Cristo, que dividiu um pão entre todos. Cotrim
retrucou, afirmando que “a questão não é de pão, é de manteiga”.
Cubas percebeu que o tempo fez com que ele enxergasse sua irmã de outra forma, com menos beleza, assim como fez com
Marcela.
Capítulo 47 – O recluso
Do inventário de seu pai até 1842 Brás Cubas viveu recluso, apenas conheceu algumas mulheres – mas delas mal guarda
lembranças.
Nesse mesmo período ele escreveu política e literatura, alcançando certo sucesso com suas publicações. Lembrando-se de
Lobo Neves e Virgília, pensava que poderia também ter sido um bom deputado, até melhor que Lobo Neves – ele pensava nisso “a
olhar para a ponta do nariz”.
Capítulo 48 – Um primo de Virgília
Luís Dutra chegou com uma novidade: “Sabe quem chegou ontem de São Paulo?”.
Luís era um primo de Virgília que contava com Brás Cubas como um crítico de seus poemas. Mas Brás, mesmo sabendo da
qualidade dos escritos, fazia pouco caso do trabalho do rapaz, privando-se de comentar as poesias. O narrador assume que sua
intenção era “fazê-lo duvidar de si mesmo, desanimá-lo, eliminá-lo”. Esclarece que essa atitude também era tomada “a olhar para a
ponta do nariz”.
Capítulo 49 – A ponta do nariz
Depois de falar por duas vezes que “olhava para a ponta do nariz” ao ter certos pensamentos, o autor explica sua metáfora: o
nariz teria uma função ainda superior do que o apoio para os óculos, ele seria responsável pela elevação espiritual do ser humano –
para isso exemplifica o ato dos faquires, que se concentram ao olhar para a ponta do nariz.
Cita mais um exemplo, de um comerciante – no caso um chapeleiro – que vê outros chapeleiros concorrentes com seus
negócios se expandindo: é necessário que esse chapeleiro olhe para o próprio nariz para evoluir.
Parece confuso? Pois façamos uma breve análise: na verdade o que Brás Cubas diz é que se deve “olhar para o próprio
umbigo” (é a expressão que melhor se encaixaria). O “nariz” e a “elevação espiritual” são apenas eufemismos para um ato que ele
entende como puramente egocêntrico e que aponta em diversos momentos de seu livro, mas defende como necessários para a
evolução da espécie humana.
Capítulo 50 – Virgília casada
Quem voltara ao Rio era Virgília, agora casada com Lobo Neves. O seu primo informou Brás Cubas, após saber que ele já
havia sido um pretendente dela.
No dia seguinte Brás já avistou a moça, ainda mais bela. Depois cruzou com ela em festas, convidou-a para valsas em bailes…
Até ganhar a simpatia de Lobo Neves.
Capítulo 51 – É minha!
“É minha!”, comemorava Brás Cubas após conquistar Virgília em suas danças – este pensamento não lhe saía da cabeça.
Chegando a sua casa Brás topou com uma moeda de meia dobra de ouro no chão: “É minha!”, repetiu e botou-a no bolso.
No dia seguinte sua consciência pesou e resolveu que precisava procurar o verdadeiro dono da moeda – talvez fossem
pobres, passassem fome. Entregou-a ao chefe de polícia e sentiu-se melhor!
Nosso narrador estabelece o que ele chamou de “lei da equivalência das janelas”: cada janela que se fecha deve ser
compensada por outra aberta, numa analogia à moralidade de seus atos: se estava flertando com uma mulher casada, algo contra a
moral vigente, por outro lado teve uma atitude muito valiosa moralmente ao devolver uma moeda achada no meio da rua, sua
consciência estava compensada!
Capítulo 52 – O embrulho misterioso
Noutro dia Brás Cubas andava pela orla do Botafogo quando tropeçou em um embrulho largado no meio da praia. Não havia
ninguém por perto e acabou decidindo por levá-lo à sua casa.
Em seu escritório abriu o embrulho que continha cinco contos de réis, cédulas e moedas novas, tudo arrumado. Sem ter
certeza do que fazer com aquilo, foi a um evento na casa de Lobo Neves.
Na festa estava o chefe de polícia que contou a todos o caso da moeda de meia dobra de ouro que Brás havia encontrado e
devolvido ao dono. Todos o admiraram, inclusive Virgília.
Voltando à sua residência, no dia seguinte, Cubas tornou a pensar nos cinco contos encontrados: não era um crime ficar com
eles, foram achados, um sinal de sorte, uma felicidade! Ele poderia fazer bom uso daquela quantia, dá-lo a uma garota pobre…
Porém, no mesmo dia foi ao Banco do Brasil depositar o dinheiro em sua conta. Lá ainda havia quem o elogiasse pela moeda
de ouro encontrada e devolvida.
Capítulo 53 – . . . . . . .
Virgília entregava-se cada vez mais a Brás Cubas, o amor crescia rapidamente, até a noite em que lhe deu um beijo breve,
ardente e aflito – em frente ao portão da chácara de Lobo Neves.
Capítulo 54 – A pêndula
Saboreando ainda o beijo recebido, Brás Cubas deitou-se em sua cama.
Atentou-se ao barulho da pêndula do relógio: imaginou um velho diabo com dois sacos à sua frente, um da vida e outro da
morte, que a cada tique-taque tirava uma moeda de um saco e jogava no outro. Continuou sua divagação sobre o tempo e a morte,
percebendo que mesmo quando o relógio parava, logo ele daria corda novamente, era algo a que os homens estavam todos presos.
Seu pensamento, no entanto, inesperadamente voltou-se a Virgília, imaginando os dois, numa cama, a repetir “o velho diálogo
de Adão e Eva”.
Capítulo 55 – O velho diálogo de Adão e Eva
Neste capítulo há um diálogo sem palavras, apenas com reticências, interrogações e exclamações. Tal é a criativa maneira
que o autor escolheu para descrever o ato de amor que fazem os casais, repetido desde Adão e Eva, e que agora ele consumava com
Virgília.
Capítulo 56 – O momento oportuno
Brás Cubas questiona o porquê de seu romance com Virgínia só avançar agora, não quando eram quase noivos. Refletiu que
só neste momento estavam prontos para amar um ao outro, era uma questão de oportunidade.
Capítulo 57 – Destino
Esse amor, que ia contra as regras sociais, era justificado até por motivos santos: “Amo-te, é a vontade do céu”, disse Virgília a
Brás Cubas. Era o destino, pois o próprio Brás teria afirmado “Seja o que Deus quiser”, e foi!
Capítulo 58 – Confidência
Tal era a confiança de Lobo Neves no amigo Brás Cubas que certa vez lhe confidenciou certa melancolia quanto à sua
carreira: não havia atingido a glória pública e, além disso, estava envolvido numa trama política que era coberta de invejas, vaidades,
interesses… Estava cansado de perseguir suas ambições.
Mas assim que terminou a conversa e chegaram alguns deputados e o chefe de polícia, Lobo Neves converteu-se num homem
muito alegre, participando de uma longa conversa com risos de todos os lados.
Capítulo 59 – Um encontro
Saindo da casa de Lobo Neves, Brás Cubas começou a pensar na possibilidade de tornar-se político. Coincidentemente
cruzou o seu caminho um ministro, cumprimentou-o, era um antigo colega de escola de Cubas. Daí elevou seus planos: “Por que não
serei ministro?”, comparando-se ao seu companheiro de colégio com quem fazia travessuras quando pequeno.
Em seguida aproximou-se um homem magro, vestindo roupas largas, desgastadas e mal ajustadas: era Quincas Borba, outro
antigo colega de escola. Cubas ouve as explicações daquele senhor que afirma ter-se empobrecido, vivendo uma vida de misérias –
uma ironia, comparada às brincadeiras de criança em que ele era sempre o “rei”, o líder… -, e responde que o ajudará no que for
possível. Quincas não crê na futura ajuda e pede dinheiro, apenas dinheiro, pois precisava comer. Cubas lhe entrega uma nota a qual
Quincas beija alegremente.
Brás já se retirava, dizendo a Quincas que ele poderia trabalhar para arranjar mais dinheiro, quando o pedinte lhe informou que
ensinaria a ele sua “filosofia da miséria”.
Capítulo 60 – O abraço
Pensando que o homem estaria louco, Brás desviou-se para seguir seu caminho, mas foi segurado pelo braço. Quincas o
rodeou, elogiou suas roupas, perguntou sobre suas mulheres… Pediu apenas que quando o encontrasse novamente, lhe desse mais
dinheiro. Ao final, ofereceu um abraço, como forma de agradecimento pela doação.
Brás saiu triste com a mudança que ocorreu em seu amigo: outrora era grande promessa de sucesso, agora era mendigo. Ao
procurar seu relógio de bolso, ele não estava mais lá, Borba o havia roubado.
Capítulo 61 – Um projeto
Ainda incomodado pelas lembranças infantis do amigo Quincas, em contraponto ao seu estado atual, Brás Cubas decidiu que
precisava ajudá-lo. Após o jantar procurou-o no passeio público, mas sem sucesso. Comprometeu-se em procurá-lo novamente, para
tentar uma regeneração, colocá-lo para trabalhar, intenções que muito o agradavam e tiravam-lhe o ar melancólico.
Capítulo 62 – O travesseiro
Cubas foi ao encontro de Virgília. Bastaram alguns olhares, mãos dadas, um beijo, e em cinco minutos estavam desfeitos
todos os planos em referência a Quincas Borba: para quê se importar com um andarilho quando se têm uma amada que é como um
travesseiro para seu espírito?
Capítulo 63 – Fujamos!
Havia se passado três semanas quando, ao encontrar Virgília, Brás Cubas percebeu um abatimento na expressão da mulher.
O fato é que havia pessoas desconfiando do relacionamento dos dois e isso a preocupava.
Cubas teve uma ideia: fugirem para uma casa só deles, fugir da pressão social, do marido… Mas Virgínia recusou, dizendo
temer a reação de Lobo Neves. Brás insistia, contra-argumentava, mas Virgínia encontrava novas desculpas.
Chegou Lobo Neves à chácara convidando Brás Cubas para jantar e acompanhá-los a uma ópera. Ele ficou para jantar,
deixando transparecer certa irritação, e depois voltou para sua casa.
Capítulo 64 – A transação
Cubas cogitou ir à ópera, mas desistiu e ficou a pensar em Virgínia, que parecia aborrecer-se com ele.
No dia seguinte foi ter com ela, que estava chorando pelo comportamento que ele teve no jantar, dizendo que a havia
maltratado.
Após acalmarem-se e discutirem mais um pouco, chegaram a um acordo: teriam uma casinha só para eles, mas não fugiriam
para longe, pois Virgínia não queria viver afastada de seu filho e tinha receio da reação de seu marido.
Capítulo 65 – Olheiros e escutas
Chegou à chácara uma baronesa que logo saudou Brás Cubas, indagando-o por sua ausência na ópera da noite anterior. Após
ele responder que teve uma enxaqueca, a baronesa brincou dizendo que deveria ter era algum romance, e que já era idade de ele se
casar.
Tais comentários da baronesa não eram sem propósito: ela era uma mulher que vigiava a vida de todos e, provavelmente,
desconfiava do romance de Brás com Virgília. Da mesma forma havia um parente de Virgília, Viegas, um velho que poderia imaginar
algo sobre o relacionamento secreto. Por último, Luís Dutra, o primo de Virgília, que só não devia denunciar o casal a Lobo Neves em
gratidão à parceria que tinha com Cubas, com seus escritos e poesias.
Capítulo 66 – As pernas
Enquanto pensava em todas essas pessoas que deveriam saber de seu romance, Cubas era levado ao hotel Pharoux, onde
costumava jantar. Ele era levado pelas suas próprias pernas, inconscientemente, como se elas tivessem vontade própria. Decidiu,
portanto, dedicar-lhes um capítulo exclusivo.
Capítulo 67 – A casinha
Após jantar, voltando à sua casa, Brás Cubas encontrou um bilhete de Virgínia dizendo-lhe que desconfiavam deles e, por
isso, precisavam terminar o romance.
Cubas foi correndo à casa de Virgília, onde a encontrou já arrependida do bilhete, mas ainda abalada pelo alarme dado pela
baronesa: ela a havia avisado sobre a suspeita que havia em torno deles, por toda a sociedade, principalmente após a ausência de Brás
no camarote de Lobo Neves, na ópera.
Cubas voltou a falar em fugir, mas Virgília recusou novamente.
A saída foi a casinha: comprada na região da Gamboa, seria cuidada por uma conhecida de Virgínia e serviria de esconderijo
para os encontros românticos. Assim Brás se livraria de encarar Lobo Neves e seu filho, que já o irritavam.
Capítulo 68 – O vergalho
Logo depois de ajustar a tal casinha, Brás Cubas avistou na praça dois negros, um açoitando o outro. Aproximando-se
identificou Prudêncio, seu antigo escravo, que seu pai libertou, agora com um escravo próprio.
Cubas questionou Prudêncio o porquê daquela violência, e ele explicou que aquele era um escravo folgado que bebia muito.
Brás pediu que ele fosse perdoado, e seu ex-escravo o atendeu.
Continuando seu caminho, Brás Cubas pôs-se a pensar que a violência de Prudêncio com seu escravo era apenas a réplica da
violência que ele havia recebido quando ele mesmo era escravo – violência essa originária do próprio Brás, que tinha o costume de
montar no negro, lhe pôr arreios, tal qual um animal.
Capítulo 69 – Um grão de sandice
O caso de Prudêncio fez o autor lembrar-se de um doido, Romualdo, que dizia ser Tamerlão – general tártaro, fundador do
Segundo Império Mongol. Quando perguntavam por que se transformou em Tamerlão, ele explicava que adoeceu e precisou tomar
tanto tártaro que se tornou o Rei dos Tártaros, e todos riam.
O autor, entretanto, confessa que a piada não tem graça quando escrita e decide voltar a falar sobre a casinha na Gamboa.
Capítulo 70 – Dona Plácida
A casa era pequena, mas gigante para o autor, pois ali havia seu mundo exclusivo com Virgília.
Dona Plácida era a senhora que cuidava do lugar, tendo a casa como oficialmente sua. A princípio ela sentiu nojo de seu
papel, sabendo da finalidade do lugar, mas teve a confiança conquistada por Brás Cubas após ele contar uma novela inventada em
torno do romance proibido.
Após alguns meses era possível considerar Dona Plácida como a sogra de Cubas, que acabou lhe destinando os cinco contos
que havia encontrado anteriormente na praia, como forma de agradecimento.
Capítulo 71 – O senão do livro
O autor reflete sobre sua própria obra, criticando-a por seu ar enfadonho. Critica, ainda, o seu leitor, que supõe ser alguém
apressado, que deseja uma narração direta, fluente, enquanto o livro age como um ébrio, indo para um lado, para o outro, voltando e
avançando de forma descoordenada.
Capítulo 72 – O blibliômano
O autor confessa que deve suprimir o capítulo anterior, pois haveria nele um “despropósito” sobre o qual não desejava críticas.
Em seguida ironiza um suposto leitor do seu livro, setenta anos à frente, encontrando um exemplar único e questionando-se
qual era este “despropósito”, procurando-o por cada página. Não o encontraria – pois o despropósito não existe, foi suprimido -, mas
isso não faria com que ele desmerecesse o livro, pelo contrário, o adoraria pelo simples fato de ser um exemplar único!
Capítulo 73 – O luncheon
Observando que seu “despropósito” o fez perder mais um capítulo, o autor volta a refletir sobre seu estilo ébrio de escrever.
Observa que também tinha a mesma estrutura suas refeições na casinha, com Virgília: trocavam carícias, depois brigavam, em seguida
voltavam…
O casal sempre chamava Dona Plácida para compartilhar a mesa, mas ela nunca aceitava o convite. Um dia Virgília perguntou
se ela estava descontente, e Dona Plácida negou, dizendo que ela era a única pessoa de quem gostava no mundo. Brás deixou-lhe
uma prata no bolso do vestido.
Capítulo 74 – História de Dona Plácida
Dias depois, tendo ganhado a confiança de Dona Plácida com a prata deixada em seu vestido, Brás Cubas estava sós com ela
e dela ouviu toda sua história de vida: Plácida era filha de um sacristão da Sé com uma mulher que fazia doces; aos dez anos perdeu o
pai; aos quinze casou-se com um alfaiate, morto pouco depois; teve de sustentar sua mãe e sua pequena filha fazendo doces e
costuras; nunca teve outro homem, pois desejava casar-se, mas seus pretendentes não; por fim sua filha a abandonou, sua mãe
morreu.
Foi nesse último que período conheceu a família de Virgília, o que a levou a sua situação atual, tornando-a muito grata pela
proteção que recebe do casal, ao cuidar da casa em que se encontram – do contrário, poderia estar a pedir esmolas.
Capítulo 75 – Comigo
O autor descreve a reflexão que teve sobre a vida de Dona Plácida: Cubas imagina o encontro do tal sacristão da Sé com a
futura mãe de Plácida, uma “conjunção de luxúrias” que resulta no bebê que, chegando ao mundo, questiona “Para que me
chamastes?”. Respondendo ao bebê, seus pais explicam, com ironia, que ela veio à vida para sofrer em uma vida de servidão, até
acabar esquecida num canto qualquer.
Capítulo 76 – O estrume
A consciência de Brás Cubas pesou sobre ele: estava fazendo de Dona Plácida uma intermediária em uma relação indecente.
Agora entendia porque, no início, a senhora tinha nojo da situação.
Como resposta à consciência, Brás entende que aquela era a forma possível de tornar a velhice de Dona Plácida mais
suportável, longe da mendicância, era um mal que se tornava bem: “o vício é muitas vezes o estrume da virtude”.
Capítulo 77 – Entrevista
Os encontros com Virgília já não contavam com o ar de novidade, cercado de tensão e sustos, que tinham no início – e que os
tornavam mais belos. O relacionamento entrava em uma constante, como acontece com os casamentos.
Certo dia Virgília surgiu zangando-se com Brás Cubas por ele ter faltado a um evento que prometera comparecer. Cubas
revelou que sua falta ocorreu por ciúmes, já que na ocasião anterior havia visto Virgília a valsar com um rapaz que a cortejava.
Virgília ri da suposição de Brás Cubas, fazendo com que ele também ria, dando o caso por encerrado – apesar de o autor
entender que, naquele momento, ela o enganara.
Capítulo 78 – A presidência
Passados alguns meses Lobo Neves surgiu com a notícia que se tornaria presidente de uma província, o que obrigava a
mudança dele e de Virgília. Mesmo com a mulher demonstrando que não gostava da ideia, ele não abriu mão de sua ambição.
Na casinha da Gamboa, Virgília chorava ao contar sobre seu destino a Dona Plácida, quando chegou Brás Cubas imaginando
alguma solução para o caso. Ela propunha que Cubas viajasse junto a eles, mas ele acreditava que isso era loucura.
Por fim, Brás deixou nas mãos de Virgília a decisão que teria de ser tomada.
Capítulo 79 – Compromisso
Após deixar a casa, Brás Cubas sofreu um embate interno: deveria manter sua atitude egoísta, deixando Virgília sozinha com
suas decisões; ou deveria ter piedade, permanecendo com ela nesse momento difícil?
Ao final houve um compromisso entre egoísmo e piedade: ele iria visitar Virgília nesse período, mas somente na casa dela,
assim poderia marcar sua presença sem lhe falar sobre o assunto. O autor percebe, no entanto, que essa ainda era uma atitude
egoísta.
Capítulo 80 – De secretário
Na noite seguinte Brás Cubas vai à casa de Lobo Neves que o recebe com um convite: que siga com ele para o Norte, em sua
futura província, como seu secretário.
Inicialmente Brás assustou-se, acuado como se o convite fosse uma armação de Lobo Neves, que possivelmente saberia algo
de seu relacionamento com Virgília. Mas não, era um pedido autêntico. E Cubas aceitou.
Capítulo 81 – A reconciliação
No dia seguinte Brás ainda estava em dúvida se era acertado seguir para o Norte com Lobo Neves e Virgília, se isso não
mancharia a honra de sua amada.
Eis que chega uma visita em sua casa: era sua irmã Sabina, com quem não tinha contato desde a discussão sobre a herança
deixada pelo seu pai. Ela propôs uma reconciliação que foi prontamente aceita. Brás se emocionou ao lembrar-se de seu passado com
a irmã, ao conhecer sua sobrinha, Sara, já com cinco anos, e também ao rever Cotrim, que deixava para trás as velhas desavenças.
Os parentes já planejavam compartilhar os próximos jantares quando Cubas avisou que estava de partida para a província. O
casal demonstrou não entender quais motivos poderiam levá-lo a esta viagem. Sabina, inclusive, comentou que ele precisava, sim, era
arranjar uma esposa, pois ela também queria ter sobrinhos – comentário que lhe rendeu uma repreensão de Cotrim, a qual Brás não
entendeu perfeitamente o porquê.
Capítulo 82 – Questão de botânica
Naquele momento Brás Cubas sentiu que era feliz: tinha uma mulher que o amava, iria viver próximo a ela como secretário de
seu marido, havia reatado laços familiares…
Entusiasmado, Cubas contou sobre sua futura viagem para todas as pessoas com quem cruzava. Uns o parabenizavam,
outros, sabendo de boatos sobre ele e Virgília, batiam-lhe no ombro e davam sorrisos maliciosos. Inicialmente Brás reagia a essas
indiretas com um sorriso tímido, que com o tempo foi se abrindo, tal qual uma flor em botão que desabrocha – uma questão de botânica.
Capítulo 83 – 13
Cotrim tirou Brás Cubas deste estado extasiante para lembrá-lo que a viagem era arriscada: seu caso com Virgília não
despertava interesse na corte, onde havia muitos outros acontecimentos para se comentar, mas numa província chamaria a atenção de
todos! Sabina também insistia que era necessário arranjar uma noiva para seu irmão.
Já estava publicada a transferência de Lobo Neves e Brás Cubas para a província quando ele foi ter com Virgília, para
compartilhar da preocupação que Cotrim havia despertado. No entanto não havia o que temer: a viagem estava cancelada. O motivo
verdadeiro, que não seria revelado publicamente, era uma superstição de Lobo Neves com o número 13, que sempre lhe deu mau
agouro, e que agora ressurgia – era a data da publicação de sua nomeação para a província.
Capítulo 84 – O conflito
Lobo Neves não assumiu nem para Brás Cubas o motivo verdadeiro da desistência. Chegou a demonstrar certo
arrependimento, mas a superstição era mais forte.
No fim das contas o ministro não acreditou que a mudança de planos se dava por conta de negócios, chegou a crer em
manejos políticos, afastando-se de Lobo Neves.
Capítulo 85 – O cimo da montanha
O perigo que correu o relacionamento de Brás e Virgínia fez com que eles passassem a se amar ainda mais. Esse era o ponto
máximo do romance, que depois só seguiria ladeira abaixo.
Capítulo 86 – O mistério
“Desciam a montanha” quando um acontecimento que Virgínia confidenciou a Brás Cubas o fez estremecer e em seguida ser
amparado maternalmente pela mulher – mas ele não diz qual foi a revelação.
Capítulo 87 – Geologia
Nesse período morreu Viegas, o parente de Virgília, de quem ela esperava alguma herança. Lobo Neves talvez tivesse a
mesma expectativa, mas a encobria.
Lobo Neves tinha uma dignidade fundamental, como uma rocha, sobre a qual havia camadas mais finas de dignidade, feitas de
areia, mas que foram levadas pela enxurrada da vida.
Ainda pensando na integridade do homem, o narrador se lembra de um amigo, o qual considerava muito correto: Jacó. Certa
ele vez mentiu a um sujeito enfadonho, dizendo que não estava em casa, para não receber sua visita. Brás Cubas alertou Jacó do risco
de sua integridade e ele afirmou às vezes eram necessárias pequenas mentiras para manter a vida em sociedade.
Capítulo 88 – O enfermo
Se Lobo Neves não deixava claro suas pretensões quanto ao velho Viegas, Virgília já não tinha escrúpulos: adulava o homem
explicitamente, recebendo-o em sua casa com todos os cuidados, passeando junto a ele, ouvindo suas conversas sobre seus
investimentos e casas que construía.
Capítulo 89 – In extremis
Viegas estava de cama, muito doente, quando Brás e Virgília foram visitá-lo. Lá ele discutia o preço de uma casa com um
possível comprador. Durante a negociação, em meio a tosses contínuas, enquanto insistia em um preço mais elevado de sua
propriedade, o velho avarento engasgou e morreu.
Capítulo 90 – O velho colóquio de Adão e Caim
Mas Viegas frustrou as expectativas de Virgília: não deixou qualquer legado para ela ou seu filho. Brás Cubas amenizava o
fato, dava mais importância ao seu futuro filho, que Virgília carregava no ventre – tal era o mistério do capítulo 86.
Cubas passava horas a observar a barriga de Virgília, a conversar com o pequeno feto e imaginar seu grandioso futuro.
Capítulo 91 – Uma carta extraordinária
O narrador reproduz uma carta que recebeu de Quincas Borba, junto a um novo relógio de bolso. Quincas agradecia o
“empréstimo” de seu relógio, esclarecendo que não era mais mendigo. Agora ele estava desenvolvendo um incrível trabalho filosófico
que chamava de “humanitismo” – chegou a pensar no termo “borbismo”, em referência ao seu próprio nome, mas percebeu que era
uma opção muito vaidosa.
Capítulo 92 – Um homem extraordinário
Cubas tinha acabado de ler a carta e bateu-lhe à porta um homem, irmão de Cotrim, seu cunhado, entregando-lhe um convite
para o jantar. Tal “homem extraordinário”, que se chamava Damasceno, começou a falar sobre sua carreira política, seus gostos
artísticos, sua família, seus hábitos, suas opiniões… Tudo num parágrafo, sem interrupções, sem intervenções do próprio Brás Cubas!
O homem extraordinário realmente tinha muito do que falar.
Capítulo 93 – O jantar
O jantar na casa de Cotrim foi um torturante. Cubas sentou-se em frente a Dona Eulália, filha do extraordinário Damasceno,
conhecida como Nhã-loló, que não parava de o observar.
Após sair da mesa, Brás foi chamado por sua irmã Sabina, que cogitou Nhã-loló como sua futura esposa. Ele recusou, e
sentiu-se mal, imaginando que a reaproximação recente de sua irmã teria apenas este intuito, casar-lhe.
Capítulo 94 – A causa secreta
Brás Cubas foi visitar novamente Virgília, a perguntar de seu futuro filho. Ela não se animava tanto com a gravidez, o que
deixava Cubas preocupado – seria uma história inventada? Não, a verdade é que ela se lembrava do sofrimento que passou no
nascimento do primeiro filho, quando quase morreu, e também se enfadava pelas restrições que tinham as mulheres grávidas.
Capítulo 95 – Flores de antanho
Foram-se as flores: Virgínia perdeu o bebê. Brás recebeu a notícia do próprio Lobo Neves.
Capítulo 96 – A carta anônima
Lobo Neves recebeu uma carta e, dali em diante, tratou Brás Cubas com frieza.
Outro dia, na casinha da Gamboa, Virgília explicou a situação: a correspondência, anônima, denunciava a relação entre ela e
Cubas, ainda que sem muitos detalhes, como os encontros amorosos fora de casa.
Lobo Neves questionou Virgília, prometendo perdoá-la se dissesse a verdade. Ela negou tudo, mas seu marido não acreditou.
Por fim, Virgília disse que o máximo que ocorreu foram palavras de gracejo não correspondidas, vindas de Brás Cubas, e prometeu
tratá-lo de forma que ele não mais visitasse sua casa.
A tranquilidade de Virgília ao contar estes acontecimentos preocupou Cubas, que teve a intenção de beijá-la na testa, mas ela
recuou.
Capítulo 97 – Entre a boca e a testa
O autor divaga sobre o que representou aquela tentativa de beijo na testa: ressentimento, desconfiança, saciedade…
Capítulo 98 – Suprimido
Brás Cubas foi ao teatro e lá encontrou Damasceno com sua esposa e filha. Como no jantar anterior, Nhã-loló não tirou os
olhos de Cubas, que retribuía, contemplando seu corpo sob o leve vestido que usava.
Naquele momento Brás fez a constatação da importância do vestuário para o desenvolvimento da espécie humana: graças às
roupas, a nudez é algo desejado, atiçando a vontade de reprodução da espécie!
O autor hesita em suprimir o capítulo, considerando-o perigoso. Em seguida volta à figura de Nhã-loló, algo entre o anjo e a
besta – o primeiro representando o céu e o segundo… Decide, enfim, suprimir o capítulo.
[Suprimiu, mas não suprimiu… Coisas de Machado de Assis.]
Capítulo 99 – Na plateia
Ainda no teatro, Cubas avistou Lobo Neves na plateia, e foi ter com ele em um dos corredores. A conversa foi amistosa e ao
toca no nome de Virgília, Lobo Neves foi breve.
Brás Cubas concluiu que não foi mau negócio a carta anônima, uma vez que agora poderia encontrar-se com Virgília sem a
necessidade de visitar sempre seu marido. A distância poderia criar uma saudade que seria benéfica para seu amor. Além do mais,
Cubas já tinha quarenta anos e não havia feito nada importante da vida. Era hora obter algum êxito, inclusive para impressionar Virgínia.
O narrador termina o capítulo discorrendo sobre sua relação com a plateia, a multidão, cuja fama ele cobiçou até a morte. No
entanto, acredita vingava-se dela ao não lhe dar ouvidos quando o cercava – compara-se a Prometeu entre os abutres ou Gulliver entre
os pequenos homens.
Capítulo 100 – O caso provável
O autor levanta uma provável relação entre vida pública e vida privada, que se influenciariam em determinados momentos.
Como exemplo, o caso de Lobo Neves que recusou o posto de presidente de província (vida pública) por sua superstição com
o número 13 (vida privada).
O narrador ainda não deseja esclarecer como ocorreu o movimento contrário, apenas conta que quatro meses após o último
encontro com Lobo Neves, ele reconciliou-se com o ministério.
Capítulo 101 – A revolução dálmata
Virgília foi quem contou a Brás Cubas sobre a mudança dos rumos da carreira política do marido. Cubas logo concluiu que
desta vez ela se tornaria baronesa, enfim.
Cubas sabia do gosto de Virgília pela nobreza. Isto se prova por um caso que ela teve, durante três meses, com um diplomata
da Dalmácia. O breve namoro findou-se devido a uma violenta revolução que ocorreu naquele país, exigindo a volta do diplomata – para
a alegria de Cubas.
Capítulo 102 – De repouso
O autor insinua contar um fato que o desmoralizaria, uma ação grosseira, baixa, inexplicável. Mas recua, deixando este
capítulo apenas “para repouso de seu vexame”.
Capítulo 103 – Distração
Certo dia Brás Cubas atrasou-se em uma hora ao encontro com Virgília na casa da Gamboa. Dona Plácida chorava ao relatar
que Virgília deixara a casa triste pelo desamparo que sofreu. Cubas argumentava que havia ocorrido uma simples distração.
Após três dias Cubas pediu desculpas a Virgília, mas ela não se satisfez e atacou seu amante, fazendo elogios a seu marido,
comparando-os… Brás estava quieto observando uma mosca e uma formiga que se atracavam no chão, quando foi cobrado pela
mulher, ela queria alguma resposta. Cubas explicou que não havia resposta a dar, que ela parecia querer romper o relacionamento,
Virgília concordou.
Um brinco de Virgília caiu e foi parar junto à mosca e à formiga. Brás Cubas pegou os insetos e os separou: ambos saíram
satisfeitos.
[Aqui ocorre uma metáfora da separação entre os insetos e a separação do casal de amantes.]
Capítulo 104 – Era ele!
Virgília preparava-se para sair quando Dona Plácida, que espreitava a rua pela janela, avisou que seu marido se aproximava.
Primeiramente Virgília, assustada, escondeu-se, e Brás Cubas pôs-se a esperar por Lobo Neves. Mas em um instante ela se
recuperou e decidiu mandar Cubas para o quarto.
Lobo Neves entrou, vasculhando a casa com olhares desconfiados, explicando que decidiu entrar ao ver Dona Plácida na
janela. Dona Plácida o recebeu dizendo que Virgília estava de visita. Sem demonstrar qualquer desespero, Virgília informou que já
estava de saída e que iria junto com o marido, então.
Capítulo 105 – Equivalência das janelas
Assim que Dona Plácida fechou a porta e sentou-se, Brás Cubas saiu do quarto dizendo que iria à rua e arrancaria Virgília do
marido. Ouvindo isso, Dona Plácida o impediu, segurando-o pelo braço.
O próprio Cubas não soube definir se Dona Plácida o impediu por ele ter dito em voz alta suas intenções, ou se ele falou em
voz alta para que Dona Plácida o impedisse. A conclusão que chega é que sua ação seguia a regra da equivalência das janelas, que
abordou no capítulo 51: o tempo que esteve escondido no quarto era uma janela fechada que ele compensava tentando atirar-se para
fora da casa.
Capítulo 106 – Jogo perigoso
Brás Cubas estava num momento de introspecção, imaginando o que acontecia na casa de sua amada, se Lobo Neves seria
violento, ou se a expulsaria de casa… Teria sido melhor Virgília ter se escondido e ele ter recebido Lobo Neves? Crê que não, pois
poderia manchar esta história com sangue.
Dona Plácida, que resmungava, lamentando todos os acontecimentos, aprontou-se para ir à casa de Virgília. Cubas alertou
para o perigo da situação, mas a senhora prometeu precaução.
Sozinho, Brás Cubas começou a pensar em outra vida para si. Uma vida estável, casado, com um filho, em contraponto ao
jogo perigoso que viveu que teve até então.
Capítulo 107 – Bilhete
É transcrito o bilhete que Virgília enviou a Brás Cubas por meio de Dona Plácida, dizendo que Lobo Neves estava sério, quieto,
mas não a maltratou. Pedia cautela, muita cautela.
Capítulo 108 – Que se não entende
O narrador alerta o leitor para a frieza que há no bilhete. E assume que após lê-lo por diversas vezes experimentou um
sentimento confuso, um medo que “não era medo”, um dó que “não era dó”, uma vaidade que “não era vaidade”, um “amor sem amor” –
algo que não se entende, e que nem ele entendeu.
Capítulo 109 – O filósofo
Após uma breve refeição, intercalada com releituras do bilhete de Virgília, Brás Cubas foi levado a uma reflexão por Quincas
Borba, que o visitava.
Quincas defendia que em seu sistema, o Humanitismo, não era necessária uma vida modesta, pelo contrário, o prazer era
bem-vindo. Cubas descreve o novo Quincas Borba, um homem bem aprumado, elegante. Ele havia herdado uns contos de um velho tio.
Mas Brás Cubas não estava disposto ás filosofias do amigo, ele descreve sua alma como uma peteca que era lançada ao alto,
ora pelos pensamentos de Quincas, ora pelo bilhete de Virgília.
Quincas Borba, compreendendo a situação de Cubas, se retira, convidando-o para conhecer a fundo seu Humanitismo.
Capítulo 110 – 31
Em uma semana Lobo Neves estava novamente nomeado presidente da província. Ansioso por ver alguma nova coincidência
com o número 13, que poderia evitar a viagem mais uma vez, Brás Cubas descobriu que a publicação ocorreu no dia 31 – uma simples
inversão de algarismos, e tudo estava resolvido!
Capítulo 111 – O muro
Virgília e Lobo Neves estavam às vésperas da mudança quando Brás Cubas encontrou um papelzinho dobrado sobre a mesa
na casa de Dona Plácida. O bilhete era de Virgília, chamando Cubas para um encontro noturno em sua chácara, avisando ainda que “o
muro é baixo do lado do beco”.
Brás considerou a situação ridícula e o encontro insensato – imagine que o pegassem pulando um muro! Apesar disso, decidiu
aceitar o chamado. Porém, ao perguntar a Dona Plácida onde seria o encontro, ela disse não saber de nada: aquele era apenas um
bilhete antigo que ela tirara da gaveta, mais cedo.
Brás Cubas releu o velho bilhete, lembrou-se do início do namoro, quando ele efetivamente havia pulado o tal muro. Teve uma
“sensação esquisita”.
Capítulo 112 – A opinião
No mesmo dia Cubas encontrou Lobo Neves na rua e lhe falou sobre política e sobre a presidência. Na primeira oportunidade,
quando passou um conhecido, Lobo Neves se despediu e distanciou-se de Brás Cubas, como se estivesse com medo de sua figura.
O autor levanta um questionamento sobre o comportamento de Lobo Neves: ele não agia daquela forma exatamente por medo
de Brás Cubas, mas por medo da opinião pública. Da mesma forma, talvez já não amasse sua mulher, talvez quisesse separar-se após
descobrir a traição, mas não o fazia, novamente por medo da opinião pública. Sem poder mostrar ressentimentos com Cubas, por não
querer separar-se de Virgília, Lobo Neves simulava ignorância sobre o caso.
Talvez todas essas manobras custassem muito a Lobo Neves. Mas seriam custos que o tempo compensaria, já que de sua
vida restaria seu filho, sua reputação, e nenhuma mancha de sangue em sua biografia.
Capítulo 113 – A solda
Ainda sobre o capítulo anterior, a conclusão a qual o narrador chega é que a opinião pública é uma ótima solda, tanto na
ordem doméstica quanto política. Apesar de alguns desmerecerem a opinião pública, como coisa de gente medíocre, que teria um fim
em si mesma, a verdade é que ela tem efeitos muito maiores e importantes na vida dos homens.
Capítulo 114 – Fim de um diálogo
Ocorre o último diálogo entre Virgília e Brás Cubas, antes da partida para a província. Ela pergunta se ele vai também
embarcar, ele recusa o que consideraria uma loucura. Ela pede que visite Dona Plácida, pois ela receberia possíveis correspondências
suas. Voltariam a se ver em menos de dois anos. Terminam a conversa rapidamente quando percebem que há alguém os observando.
Capítulo 115 – O almoço
No momento em que Virgília embarcava, Cubas sentiu alívio e saudade, em doses iguais. Poderia ter descrito um grande
sofrimento, que caberia muito melhor em um romance, mas o livro que escrevia era uma biografia, portanto foi fiel aos fatos.
Teve seu almoço, no hotel Pharoux, entre lembranças de suas aventuras e as delícias da cozinha de M. Prudhon, com as
quais “enterrava magnificamente” seus amores, que nunca voltariam à mesma forma.
Capítulo 116 – Filosofia das folhas velhas
O último capítulo entristeceu Brás Cubas, que ficou largado em casa, a observar moscas. Nesse período morreu seu tio
cônego, nasceu sua sobrinha Venância. E ele continuava às moscas.
Às vezes Brás Cubas abria suas gavetas e retirava folhas velhas, antigas cartas, de amigos, namoradas, e as lia, remontando
seu passado. Sugere ao leitor que guarde suas cartas de juventude para que possa, da mesma forma, no futuro, “cantar suas
saudades”.
Capítulo 117 – O Humanitismo
Havia três forças que impeliam Brás Cubas a voltar a viver como antes: uma era Sabina, empenhada na sua união com Nhã-
loló; outra era Quincas Borba, que enfim apresentou-lhe seu Humanitismo.
“Humanitas” seria o princípio de tudo, a substância da qual se compõe todos os homens. Ela teria algumas fases: “estática”,
antes do surgimento de universo; “expansiva”, no surgimento do universo; “dispersiva”, quando surge o homem, uma “multiplicação
personificada da substância original”; e “contrativa”, na futura absorção do homem e das coisas.
O “Humanitismo” se compara ao Bramanismo – organização hindu que determina a organização da sociedade em castas.
Assim, haveria homens fortes, originados de partes fortes do “Humanitas”, e outros fracos.
A vida seria o maior benefício concedido pelo Humanitas, fazendo com que todo ser que nasça queira gozá-la tal qual seu
genitor. A única coisa negativa seria não nascer. A inveja, por exemplo, é vista como um sentimento danoso pela maioria das religiões;
mas no Humanitismo ela é apreciada como autêntica emanação do Humanitas, já que os homens, por terem uma mesma origem, se
invejam. Da mesma forma homens que atacam são Humanitas, pois a luta é uma de suas funções.
Neste momento Cubas estava estupefato pelas revelações do colega. Quincas devorava uma asa de frango quando voltou a
filosofar.
O frango que ele comia era o resultado de diversos esforços (desde escravos trazidos da África, em navios construídos por
outros homens, etc.) com o objetivo de saciar sua fome.
O Humanitismo era a destruição da dor, já que esta seria uma ilusão – consciente de ser parte do Humanitas, todos saberiam
que cumpriam seu papel, sem sofrimentos.
Quatro volumes tinha a obra de Quincas Borba, escrita em letras miúdas. O último tratado era político, no qual era revelado
que mesmo com a reorganização da sociedade, a guerra, a fome e a miséria não cessariam, pois não seriam motivo de impedir a
felicidade humana.
Capítulo 118 – A terceira força
A terceira força que motivava Cubas era a vontade de ter fama, a incapacidade de viver só. Lamenta que a ideia de seu
emplasto não lhe tenha chegado naquela época de sua vida.
Capítulo 119 – Parêntesis
O autor abre parêntesis na sua história para registrar máximas que criou nesse período. Aconselha usá-las como “epígrafe a
discursos sem assunto”. São elas:
“Suporta-se com paciência a cólica do próximo.”
“Matamos o tempo; o tempo nos enterra.”
“Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.”
“Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.”
“Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta é a reflexão de um joalheiro.”
“Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.”
Capítulo 120 – Compelle intrare
Sabina alertou Brás Cubas que ele havia de casar-se e ter filhos. Isto sobressaltou Cubas: filhos! Estava disposto a aceitar
Nhã-loló para que ela lhe desse um filho.
Foi ter com Quincas, confidenciando-lhe suas intenções. O filósofo declarou que era o Humanitas que se manifestava nele,
levando-o ao casamento, convidando novos seres à vida: Compelle intrare, expressão de Jesus que seria um prenúncio ao
Humanitismo.
Capítulo 121 – Morro abaixo
Em três meses tudo corria perfeitamente: Cubas se dava bem com Sabina, com Damasceno e sua filha Nhã-loló. A lembrança
de Virgília surgia em poucos momentos, logo compensada pela visão de sua nova pretendente.
Certo dia, após assistir à missa na capela do Livramento, desciam o morro Damasceno, Cubas e Nhã-loló. Uma rinha de galos
chamou a atenção do pai, que parou para assistir. O casal seguiu descendo, Brás Cubas abriu um guarda-sol e eles se beijaram. Nosso
narrador descreve que naquele momento sentiu-se mais novo, como se tivesse descido o morro dos anos, de volta à sua juventude.
Aguardaram, envergonhados, por Damasceno ao pé do morro. Ele vinha acompanhado dos demais apostadores, que
comentavam a briga.
Capítulo 122 – Uma intenção mui fina
A vergonha de Nhã-loló surgia pelo comportamento de seu pai. O interesse pela rinha de galos revelava sua origem pobre e,
imaginava ela, poderia fazer com que Cubas não o desejasse como sogro. A moça era atraída pela polidez de uma vida elegante, mas
suas origens a perseguiam.
Brás tentou relevar o ocorrido, fazendo piadas, mas nada tirava Nhã-loló daquela tristeza. Essa atitude fez Cubas entender que
ela intencionava separar as causas dela das causas de seu pai, e isto o animou para “arrancar esta flor a este pântano”.
Capítulo 123 – O verdadeiro Cotrim
Antes de pedir a mão de Nhã-loló, Cubas decidiu consultar seu cunhado, tio da garota, Cotrim. Este, surpreendentemente,
alegou que não daria opinião em negócios de seus familiares, terminando por confessar que não aconselharia sua sobrinha a casar-se
com Brás Cubas.
Sem entender muito bem os escrúpulos de seu cunhado, que por vezes o aconselhou a casar-se, inclusive pela importância
política do matrimônio, o narrador ainda o defende: Cotrim era um homem honrado, um tanto avarento – o que não seria um vício, mas
sim a “exageração de uma virtude”; maltratava seus escravos – mas apenas os perversos e fujões; contrabandeava negros – mas isso
não era algo que provinha de sua índole, era efeito de suas relações sociais. A prova dos bons sentimentos de Cotrim estava no seu
amor aos filhos, inclusive na dor que sofreu com a morte da filha Sara. Além disso, ele participava de irmandades, realizava boas ações.
Talvez um defeito fosse uma mania de publicar nos jornais as benfeitorias que praticava, mas mesmo isto poderia ser justificado: ações
de caridade eram contagiosas, quando bem divulgadas.
Capítulo 124 – Vá de intermédio
O narrador decide inserir este capítulo para preparar o leitor para o seguinte, que dá um salto de um retrato a um epitáfio, o
que poderia causar um enorme abalo.
Capítulo 125 – Epitáfio
Neste capítulo há a transcrição do epitáfio de Eulália Damascena, a Nhã-loló, morta aos dezenove anos.
Capítulo 126 – Desconsolação
Nhã-loló morreu na primeira entrada da febre amarela. No seu enterro Brás Cubas não chegou a chorar — talvez não a
amasse de fato.
A morte daquela jovem que seria sua esposa, bem como a de tantos outros na mesma época, fez com que Cubas se sentisse
mal. Quincas Borba, no entanto, argumentou que as epidemias tinham sua utilidade para humanidade, observando a sobrevivência dos
que não morriam.
Na missa de sétimo dia Damasceno estava desconsolável. Doía-lhe, além da perda da filha, o fato que apenas doze pessoas
compareceram ao enterro, quando foram enviados oitenta convites. Cotrim tentou amenizar, dizendo que os doze presentes eram
realmente interessados na família, o restante estaria ali apenas por formalidade. Damasceno rebateu: que fosse por formalidade, mas
que viessem!
Capítulo 127 – Formalidade
O narrador elogia seu próprio dom intelectual de encontrar relação entre coisas distintas, fazer comparações e chegar a
conclusões.
Por exemplo, certo dia estava observando um retrato de seis damas turcas que trajavam o tradicional véu que deveria tapar o
rosto. No entanto o véu era transparente e permitia ver suas faces por inteiro. A relação que tirou daí, com o desconsolo de Damasceno
pela falta dos convidados no enterro de sua filha, está na exigência da formalidade. O véu cumpria com a formalidade tradicional de
cobrir o rosto, mesmo que seu efeito não fosse exatamente de escondê-lo.
Considerando isto, Cubas faz um elogio à formalidade, uma intermediária entre os homens e também entre os homens e seus
deuses. Mais valeria uma ação formal, mesmo que sem uma intenção genuína, do que uma intenção sem a devida formalidade.
Capítulo 128 – Na câmara
Brás Cubas teve esta visão das mulheres turcas quando estava na câmara de deputados ouvindo um discurso de Lobo Neves,
dois anos após a morte de Nhã-loló. A vida tinha feito com que ambos, enfim, dividissem o mesmo espaço como deputados — para
isso, Lobo Neves continha seu ressentimento, Cubas deveria conter seu remorso. Deveria, mas não continha nada a não ser a ambição
de ser ministro.
Capítulo 129 – Sem remorsos
Brás Cubas não tinha remorsos. O narrador questiona personagens literários que demonstraram remorso por seus atos,
tentando entender seus motivos, e esclarecendo que ele se diferenciava simplesmente por não ter remorsos.
Capítulo 130 – Para intercalar no capítulo 129
O narrador faz um adendo ao capítulo anterior: a primeira vez que falou com Virgília desde a volta da província foi num baile.
Ela estava formosa, sem o frescor da juventude, mas ainda formosa. A conversa fluiu sem aludir claramente ao passado, mas deixava
subentender lembranças de ambos os lados, discretamente. Em certo momento, quando Virgília descia as escadas, Brás Cubas foi alvo
de um “ventriloquismo cerebral” em que soltou a exclamação: “Magnífica!”.
Capítulo 131 – De uma calúnia
Quando seu “ventriloquismo cerebral” forçou-o a elogiar Virgília, um colega tocou-lhe o ombro e disse “Seu maganão!
Recordações do passado, hem?”, Cubas respondeu “Viva o passado!” e o colega questionou se ele tinha sido “reintegrado no emprego”.
Deste diálogo o narrador analisa que, apesar de as mulheres terem fama de serem indiscretas, os homens é que o são. Em
questão de aventuras amorosas, mulheres negam tudo, dizem que são calúnias; enquanto os homens se orgulham do feito, o
consideram uma vitória sobre o outro homem – que não deve ser omitida.
A indiscrição feminina é, portanto, invenção dos homens. As mulheres pecam, somente, por não resistir a alguns gestos e
olhares. Citando a rainha de Navarra, “Não há cachorrinho tão adestrado, que ao fim lhe não ouçamos o latir.”
Capítulo 132 – Que não é sério
Seguindo o dito da rainha de Navarra, o autor lembra que quando alguém está irritado, diz-se: “quem matou seus
cachorrinhos?” como se dissesse “quem lhe levou seus amores?” Em seguida adverte que este capítulo não é sério.
Capítulo 133 – O princípio de Helvetius
O diálogo sobre Virgília tratou-se de um equívoco que pode ser explicado pelo princípio de Helvetius — segundo o qual o
homem age sempre de acordo com seus interesses. A princípio o interesse de Cubas era calar-se, não dar abertura para a discussão
de sua história de amor com Virgília; mas na realidade, como havia assinalado nos capítulos anteriores, sendo ele um homem, havia
outro interesse mais imediato, espontâneo, que o fez escancarar seu antigo relacionamento perante seu amigo.
Capítulo 134 – Cinquenta anos
Naquele momento, em que Virgília descia a escada, tinha Brás Cubas cinquenta anos. Era a melhor parte da vida de Cubas
que descia escada abaixo — uma parte cheia aventuras e prazeres, bem como dissimulação e duplicidade — isso analisando sua vida
sob uma linguagem usual. Sob uma linguagem mais sublime, a melhor parte é a que ainda está por vir, no restante deste livro.
O autor observa que, devido a este avanço no tempo, seu estilo já não é tão ágil. E por causa daquele baile, após embriagar-
se na juventude que o cercava, percebeu, ao voltar a seu carro, que aquela rejuvenescência não emanava dele, mas era apenas um
reflexo dos outros.
Capítulo 135 – Oblivion
O narrador avisa as possíveis leitoras de seu livro que podem parar por ali: acabaram-se as histórias amorosas. E percebe que
logo mais ele terá contato com o esquecimento.
Oblivion — esquecimento — é um personagem desprezado, mas sempre presente nos últimos momentos da vida. Percebe-o
aquele que já passou do ápice de sua história e vê outros mais jovens tomarem seu posto. E é possível ver este movimento sem
lastimá-lo, pois se sabe que aquele jovem que tomou seu lugar um dia também será alvo do oblivion. Tudo isso faz parte do espetáculo
que diverte Saturno — deus romano equivalente a Cronos, senhor do tempo, que devorava seus próprios filhos.
Capítulo 136 – Inutilidade
O autor comenta que o capítulo anterior foi inútil.
Capítulo 137 – A barretina
Corrigindo-se, o autor diz que o capítulo 135 não foi inútil: ele resume o que debateu com Quincas Borba no dia seguinte,
quando se sentia deprimido.
Quincas animou-o: ele deveria lutar até o fim, pois “a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim
de lastimar o curso incessante das águas”.
Após o conselho do filósofo, Brás Cubas decidiu entrar de vez na vida política, não mais como mero coadjuvante: preparou um
discurso que defendia a diminuição da barretina da guarda nacional! Este tema “importantíssimo” gerou alvoroço na câmara, unindo
prós e contra num debate acalorado.
Ao fim, ainda que com o apoio moral de Quincas Borba, Brás Cubas recuou diante da pressão dos parlamentares e aceitou
que a mudança da barretina não fosse imediata, que fosse alvo de maiores estudos.
Capítulo 138 – A um crítico
Atendendo a um possível crítico de seu livro, o narrador explica que quando, num dos capítulos anteriores, disse que seu estilo
não era mais tão ágil devido sua idade, não estava se referindo à idade depois de morto — a morte não envelhece! Mas sim ao fato de
que, ao narrar, experimenta a mesma sensação do período que narra.
Capítulo 139 – De como não fui Ministro d’Estado
Este capítulo é uma sequência que reticências (……….) pois, conforme o autor explica no capítulo seguinte, há coisas que
melhor se dizem calando.
Capítulo 140 – Que explica o anterior
O capítulo anterior foi apenas uma sequência de reticências, pois “há coisas que melhor se dizem calando”.
Ao perder a cadeira na câmara de deputados, Brás Cubas ficou inconsolável. Quincas Borba observou que isto acontecia
porque ele não era movido pela paixão do poder, a qual o levaria ao seu objetivo, quaisquer que fossem os meios; mas por um capricho,
o que lhe causa maior desencanto uma vez não alcançado. E daí ele aplicaria esta teoria ao seu Humanitismo… Mas Brás Cubas não
permitiu e pediu que se calasse.
Ficou Cubas em sua sala, com suas janelas, seus pássaros, seus livros, sua cadeira que, no entanto, não encobria a saudade
que tinha da cadeira que não mais era dele.
Capítulo 141 – Os cães
Questionado por Quincas o que iria fazer então, Brás informou que pretendia se isolar dos homens, morar só na Tijuca. O
filósofo rebateu esta ideia: ele deveria lutar de alguma forma, fundar um jornal, quem sabe, o essencial era lutar. Esta proposta
convenceu Brás Cubas.
Saíram a caminhar quando cruzaram com dois cães a brigar por um osso. Quincas Borba logo remeteu a cena aos princípios
do seu Humanitismo, enxergando beleza naquela luta. Ao fim um dos cães saiu com o osso, o outro saiu ferido. Quincas lembrou ainda
que há situações em que criaturas humanas disputam o osso com os cães, tornando a batalha ainda mais interessante, pela ação da
inteligência do homem.
Capítulo 142 – O pedido secreto
Cubas ainda questionou por que seria interessante uma disputa entre um homem e um cão, por um osso. Quincas argumentou
que há personagens religiosos que se alimentaram de coisa muito pior por obediência a deus, portanto, poderia restaria saber se seria
mais digna a alimentação motivada unicamente pela fome.
Chegando à sua casa, Brás Cubas recebeu uma carta de Virgília: pedia que visitasse Dona Plácida, pois estava doente,
morando no Beco das Escadinhas, e deveria levá-la para a Misericórdia (hospital).
Quincas Borba retirava um livro da estante para embasar suas teorias: Pascal havia dito que o homem tem “uma grande
vantagem sobre o resto do universo: sabe que morre, ao passo que o universo ignora-o absolutamente”. Daí sentenciou uma frase que
considerou mais profunda que a de pascal: o homem “sabe que tem fome” — afinal, a morte é definitiva para o ser, enquanto a fome vai
e volta.
Capítulo 143 – Não vou
Durante o jantar Brás Cubas relia o bilhete e pensava como poderia Dona Plácida ter gasto os cinco contos que havia lhe
dado. Imaginou que ela teria perdido tudo em festas, em luxos inúteis, e agora merecia sofrer pelo seu erro. Além disso, não sabia onde
ficava o Beco das Escadinhas, e não se sujeitaria a visitar um lugar com esse nome, podendo chamar a atenção da vizinhança. Ela não
iria.
Capítulo 144 – Utilidade relativa
Durante a noite, porém, seu pensamento foi mudado: deveria obedecer ao pedido de sua antiga dama.
Chegando à casa de Dona Plácida, ela estava moribunda, sozinha, em sua cama. Levou-a para a Misericórdia e em uma
semana morreu. Ou melhor, amanheceu morta: saiu da vida às escondidas, da mesma forma que entrara.
Cubas se perguntava novamente, como havia feito no capítulo 75, se era para isso que o sacristão da Sé e a doceira a
colocaram no mundo. Chegou à conclusão que a vida de Dona Plácida teve sim uma utilidade: a de possibilitar seu romance com
Virgília. Uma utilidade relativa, mas, afinal, o que há de absoluto no mundo?
Capítulo 145 – Simples repetição
Como Dona Plácida perdeu os cinco contos? Um homem da vizinhança fingiu-se enamorado por ela, pegou seu dinheiro,
sumiu. Apenas uma repetição do capítulo dos cães de Quincas Borba.
Capítulo 146 – O programa
Estava na hora de fundar o jornal. Brás Cubas redigiu seu programa de acordo com princípios do Humanitismo, sem lhe fazer
referência direta, já que o livro de Quincas ainda não havia sido editado. O filósofo apenas solicitou uma declaração que afirmasse que
alguns dos princípios aplicados à política haviam sido retirados de seu livro.
O programa prometia curar todos os males da sociedade, em todos os aspectos e, para isso, derrubar o atual ministério. Esta
última posição foi contestada por Quincas Borba, que a achou mesquinha e de alcance apenas local. Mas Cubas convenceu-lhe que ela
era uma aplicação direta do Humanitismo: toda disputa, toda guerra, possuía a mesma beleza que movia o Humanitas.
O desenvolvimento deste programa fez Quincas Borba reafirmar suas posturas filosóficas como verdades eternas e identificar
Brás Cubas como seu grande discípulo.
Capítulo 147 – O desatino
Cubas publicou na imprensa uma breve nota avisando que estava prestes a montar um jornal oposicionista. Imediatamente
surgiu Cotrim pedindo-lhe que desistisse de seu intento: era um desatino, ele poderia pleitear uma vaga no ministério, não havia
vantagem em contrariá-lo… Mas Cubas foi implacável. Mais tarde, no teatro, Sabina também tentou mudar suas ideias, mas de nada
adiantou: tinha a intenção de derrubar o ministério, que estava inadequado à situação e às suas convicções filosóficas.
Capítulo 148 – O problema insolúvel
Depois de publicado o jornal oposicionista, surgiu uma nota em outros jornais, assinada por Cotrim, afirmando que não tinha
qualquer influência nos ideais levantados por Brás Cubas em suas publicações, que o atual ministério estava cumprindo seu papel
devidamente, que reprovava os procedimentos de seu cunhado.
Cubas ficou incrédulo com o que leu: não havia necessidade de ele tornar pública a desavença familiar. Além disso, quando
deputado, Brás era um parceiro de Cotrim no que ele necessitasse. Sua atitude era um destempero e uma ingratidão, um problema
insolúvel.
Capítulo 149 – Teoria do benefício
Quincas Borba, a pedido de Brás Cubas, expôs sua opinião acerca da suposta ingratidão de Cotrim.
Para o filósofo, tudo era explicado pela “teoria do benefício”: aquele que é beneficiado sai de um estado de privação para um
estado neutro, ou seja, indiferente, e logo a memória da ajuda recebida se esvai; enquanto aquele que beneficia um necessitado sai de
um estado neutro para um estado sublime, causado pela alegria de ter ajudado outrem, bem como por sentir-se superior a este outrem,
situação que fica gravada na memória com maior firmeza.
Daí que Cubas esperava alguma gratidão de Cotrim por suas benfeitorias, enquanto Cotrim não levava o passado em conta.
Capítulo 150 – Rotação e translação
O narrador pondera que em tudo na vida há um ciclo de nascimento e morte. Cada homem tem diversos nascimentos e mortes
ao longo da vida. Utilizando uma metáfora astronômica: há o movimento de rotação e o de translação, a vida de um ser humano é uma
translação composta de diversas rotações.
Cubas estava encerrando uma rotação: a de seu jornal. Seis meses após a primeira publicação, que restituiu ao autor a força
da juventude, ele já chegava à sua própria velhice.
No mesmo momento Lobo Neves estava concluindo seu movimento de translação: às vésperas de alcançar o posto de
ministro, ele faleceu. Brás Cubas admite que, da mesma forma que sentiu irritação e inveja ao saber da possível nomeação de Lobo
Neves, também teve um ou dois minutos de prazer ao saber desta morte.
No enterro Virgília chorava lágrimas verdadeiras. Cubas não conseguiu falar nada, “levava uma pedra na garganta ou na
consciência”. O ambiente do cemitério desagradava nosso narrador.
Capítulo 151 – Filosofia dos epitáfios
Andando pelo cemitério e lendo os epitáfios, Brás Cubas admira as mensagens que lê: são uma expressão do “pio e secreto
egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra do que passou”.
Capítulo 152 – A moeda de Vespasiano
Voltando para casa, Brás Cubas pensava nos soluços sinceros de Virgília, que havia traído o marido com igual sinceridade.
Encontra uma explicação para os fatos aparentemente contraditórios: a dor não leva em conta sua origem, tal qual a moeda de
Vespasiano.
[Vespasiano era um imperador romano que, para restaurar as finanças do império, impôs tributos até para o uso das latrinas.
Questionado por seu filho, ele se justificou: “o dinheiro não tem cheiro”.]
Capítulo 153 – O alienista
Cubas sonhou que era nababo (homem poderoso e ostentador de riqueza). Acordou crendo ser nababo, imaginando uma
revolução social em que trocaria as pessoas de papéis para observar seu comportamento…
Contando isto para Quincas Borba, foi taxado de louco. Ele não se sentia louco, mas como nenhum louco se crê louco, não
queria dizer muita coisa.
Em alguns dias surgiu um alienista (médico que cuida de loucos, alienados), enviado por Quincas Borba. Ao analisar Brás
Cubas, afirmou que ele era perfeitamente são e alertou que seu amigo filósofo é que estava enlouquecendo.
Brás Cubas incomodou-se com a notícia e o alienista amenizou a situação, dizendo que um pouco de sandice não era tão mal.
Como Cubas não concordou com esta opinião, o médico rebateu com um argumento que merecia um capítulo próprio — o próximo.
Capítulo 154 – Os navios do Pireu
Contou o alienista que havia um famoso pobretão na Grécia antiga que ficou conhecido como “o maníaco ateniense”. Em sua
loucura, ele acreditava que todos os barcos que atracavam no porto de Pireu eram seus — e aquilo era sua extrema felicidade.
Comparou a situação do criado de Brás Cubas: cuidava da casa do patrão como se fosse dele, e aquilo o alegrava.
Capítulo 155 – Reflexão cordial
Brás Cubas percebeu que não havia o que lastimar sobre a situação de Quincas Borba. No entanto, era prudente cuidar para
que o estado de seu amigo não piorasse.
Capítulo 156 – Orgulho da servilidade
Sobre a comparação do maníaco ateniense e seu criado, Quincas Borba teve uma opinião divergente: as imagens tinham uma
semelhança superficial, o que motivava o criado, porém, não era uma mania, mas sim o “orgulho da servilidade”, o desejo de ser não
apenas mais um criado, mas o melhor criado — prova de que mesmo nas atividades mais degradantes, o homem podia ser sublime.
Capítulo 157 – Fase brilhante
Devido à análise de Quincas Borba, Brás Cubas parabenizou-o e afirmou que não poderia estar louco, como dissera o
alienista. Ao saber dessa suspeita, Quincas estremeceu.
Nessa época Cubas reatou suas relações com Cotrim, sendo convidado a entrar para uma Ordem em que praticava caridade.
Quincas Borba o apoiou, e apenas o advertiu que sua verdadeira religião deveria ser o Humanitismo, que um dia haveria de dominar o
mundo — cristianismo, budismo e demais religiões orçavam pela vulgaridade e fraqueza, um dia sucumbiriam.
Brás Cubas alegrou-se muito com suas benfeitorias e ressalta sua modéstia ao não listar todos os auxílios que prestou aos
pobres e enfermos. Foi esta a fase mais brilhante de sua vida.
Capítulo 158 – Dois encontros
Em alguns anos Cubas cansou-se do trabalho na Ordem e deixou um donativo suficiente para que ganhasse o direito a um
retrato seu na sacristia.
O narrador ainda lembra que nesse período viu a linda Marcela morrer no hospital da ordem, já feia, magra, decrépita, um dia
após sua internação.
Também encontrou Eugênia, sua Vênus manca, em um dos cortiços que ele visitava distribuindo esmolas. A garota ficou
pálida ao reconhecê-lo, mas em seguida ergueu a cabeça. Vendo que ela não aceitaria esmolas suas, Cubas apenas estendeu-lhe a
mão como faria a uma dama. Não soube como Eugênia chegara àquele estado de pobreza, somente percebeu que continuava coxa e
triste.
Capítulo 159 – A semidemência
Cubas estava velho. Quincas Borba tinha partido para Minas Gerais e, quando voltou, estava demente. Havia queimado todos
os livros de seu Humanitismo e prometia reescrevê-los.
O que mais entristeceu Brás é que Quincas sabia que estava enlouquecendo, e ainda brincava com o fato, dizendo que seria
mais uma ação do Humanitas. Recitava longos capítulos de livros, chegou a inventar uma dança sacra para cerimônias religiosas do
Humanitismo.
Morreu pouco tempo depois, ainda defendendo suas filosofias.
Capítulo 160 – Das negativas
Da morte de Quincas à morte de Cubas, passaram-se os fatos dos primeiros capítulos, entre eles a brilhante ideia do
emplastro Brás Cubas — que por não ter sido fabricado, manteve o estado hipocondríaco de todos que continuaram vivos.
Como conclusão, Brás analisa que teve uma vida de negativas: não alcançou celebridade, não foi ministro, não se casou…
Pelo lado “bom” dessas negativas, nunca comprou seu pão com o suor de seu rosto, não enlouqueceu como Quincas, não morreu como
Dona Plácida. Fazendo as contas, seria possível imaginar que o jogo terminou empatado. Mas o narrador ressalta uma negativa que lhe
dá algum saldo: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.
TESTES
01. (ESPCEX – SP) – Sobre Machado de Assis e suas obras, é
correto afirmar que:
a) como muitos autores de tradição, iniciou a carreira
escrevendo romances realistas, convertendo-se, mais tarde, ao
Naturalismo.
b) manifesta, em cada romance que escreveu, as várias fases
de sua biografia, com uma linguagem desprovida de metáforas.
c) as obras da fase madura caracterizam-se pela prática de
uma poesia e de um teatro originais, que superam as velhas
convicções dos escritores clássicos.
d) em seus romances, por serem de tese, procura sempre
colocar o determinismo como responsável pelas ações dos
personagens.
e) em suas narrativas apresenta uma análise profunda dos
sentimentos humanos e o rompimento com a ordem
cronológica tradicional.
02. (UCS – RS) – Em relação à obra de Machado de Assis, é
correto afirmar que:
a) descreve paisagens rurais com precisão de detalhes, o que
toma a narrativa mais lenta.
b) constrói o cenário do Rio de Janeiro com personagens do
subúrbio e revela a luta de classes em que marinheiros
ascendem a postos de aristocratas.
c) faz das fraquezas humanas objeto de reflexão constante.
d) prevalece em seus romances a luta do velho contra o novo;
os filhos vão se apoderando dos bens paternos ainda enquanto
os pais estão vivos, o que provoca conflitos de gerações.
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Memórias postumas de brás cubas

  • 1. L i t e r a t u r a P r o f ª V i v i a n T r o m b i n i Curso: () Extensivo ( x)Semiextensivo ( )Específica Aluno(a): Data: 12/11/2015 MATERIAL COMPLEMENTAR MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS – MACHADO DE ASSIS PRÓLOGO O autor compara-se a outros escritores que trabalhavam com a ironia e o humor em seus textos (Stendhal, Sterne e Xavier de Maistre), assumindo que sua obra provavelmente não agradará a muitos leitores. Quanto à forma que ele escreveu o livro – depois de morto – afirma que não dará maiores explicações, pois isto não seria necessário ao entendimento da história. Capítulo 1 – Óbito do autor Contrariando a maioria das biografias, o autor decide começar sua história pela sua morte, afinal, ele não é um autor defunto, mas um defunto que virou autor – sua sepultura foi seu berço. Morto em 1869, com 64 anos, numa chácara em Catumbi, o autor era um solteirão. Seu funeral foi acompanhado por apenas onze amigos – ele justifica esse número pela falta de anúncios de sua morte e pela chuva fina que caía na ocasião. No entanto, com ironia afirma que um dos seus amigos, um que lhe faz um belo discurso no momento do enterro, recebera dele algumas de suas apólices – uma amizade comprada. Descreve mais alguns dos personagens do funeral: sua irmã Sabina, casada com Cotrim, e uma senhora que ele ainda não revela o nome, mas explica que não era sua parenta, apesar de lamentar muito sua morte. Explica que foi diagnosticado com pneumonia, mas acredita que morreu mesmo por uma ideia, que em breve explicará. Capítulo 2 – O emplasto No trapézio* que Brás Cubas trazia em seu cérebro, saltou uma ideia que começou a chamar-lhe a atenção, fazer cambalhotas, espernear… Era a criação de um medicamento extraordinário que serviria para aliviar a melancolia da humanidade, iria chamar-se “Emplasto Brás Cubas”. Admitindo que além de ajudar as pessoas o medicamento lhe traria vantagens financeiras, o autor esclarece que seu maior objetivo era ter seu nome divulgado pela marca, fazer fama, ter o “amor da glória”. Lembra-se de dois tios seus: um religioso que dizia que o “amor da glória” era uma grande perdição; outro militar que considerava o “amor da glória” a coisa mais humana no homem. Convida o leitor a escolher qual tem mais razão. *O “trapézio”, aqui, trata-se de uma figura de linguagem, uma metáfora. Capítulo 3 – Genealogia Tendo citado seus tios, o autor decide traçar sua genealogia. O fundador de sua família era Damião Cubas, que tinha esse nome, “Cubas”, devido ao seu trabalho com tonéis. Damião teria juntado alguns bens por ter se desdobrado como lavrador, além das atividades como tanoeiro (quem trabalha com tonéis, com cubas). Com esse dinheiro seu filho, Luís Cubas, teve boas condições de estudo. No entanto a família do autor desprezava Damião, por ter um trabalho simples, e considerava apenas Luís, formado em Coimbra, como origem genealógica. O pai do autor, que era bisneto de Damião, foi ainda mais longe na reescrita da história da família: alegava que “Cubas” era um apelido herdado de um cavaleiro que, lutando contra os mouros na África, teria quebrado trezentas de suas cubas. Antes de inventar essa versão, ele ainda teria tentado associar o nome de seu filho, Brás Cubas, autor deste livro, ao personagem histórico fundador da vila de São Vicente*, que tinha o mesmo nome, mas a família do capitão-mor Brás Cubas teria se oposto a esta história. Cita o que resta de sua família: sua sobrinha Valência, filha de Cotrim. *Na realidade Brás Cubas foi fundador de Santos. Capítulo 4 – A ideia fixa Voltando ao Emplasto Brás Cubas, o autor reconhece que tal projeto tornou-se uma ideia fixa, o que considera terrível: é algo que pode levar homens à morte, à loucura ou, quem sabe, à grandiosidade – e justifica essas possibilidades citando personagens históricos que tiveram suas “ideias fixas”. O autor brinca com o leitor, pelo fato de a narrativa não se desenrolar, mas prender-se a questões filosóficas. Já avisa que assim será por todo o livro, tratando assuntos ora de forma seria, ora brincalhona. Capítulo 5 – Em que aparece a orelha de uma senhora O autor estava ocupado na invenção de seu emplasto quando recebeu um golpe de ar que o deixou doente. Não se tratou corretamente e morreu numa sexta-feira, dia de azar. Ele ressalta a ironia do destino: quando se empenhava num grande feito, vem uma corrente de ar e acaba com tudo! Sobre esse fato ele havia conversado com a senhora anônima citada no Capítulo 1, logo antes de sua morte. Ela tinha 54 anos, era a mais formosa entre as de seu tempo, e muitos anos antes eles tinham se amado. Agora ela voltava nos últimos momentos de sua vida. Capítulo 6 – Chimène, qui l’eût dit? Rodrigue, qui l’eût cru? Quando a senhora entrou em sua alcova, pálida, comovida, o autor foi levado às suas lembranças de juventude. Pondera que a saudade do passado é ainda mais bela do que a vivência do passado. Havia no quarto um sujeito, junto a Brás Cubas, que lhe contava sobre fatos políticos e econômicos – nada interessantes a um moribundo. Após sua saída veio a senhora ter com o autor: o nome dela era Virgília.
  • 2. Virgília contou-lhe notícias de fora, com uma língua afiada que agradava ao doente – ele se despedia do mundo e fazia questão de caçoar dele. Dias depois voltou Virgília conforme haviam combinado: acompanhada de seu filho Nhonhô – para não caírem na boca da vizinhança as visitas de uma senhora sozinha a um homem solteiro. Quando tinha cinco anos o garoto havia sido cúmplice do caso de Brás e sua mãe, mas não tinha consciência do que acontecia. Conversavam quando o autor entrou em delírio. Capítulo 7 – O delírio O delírio, que durou de vinte a trinta minutos, começou confuso: encontrou-se com um barbeiro chinês, depois se viu incorporado em um livro fechado que alguém tentava abrir, e finalmente voltou à forma humana, montado no lombo de um hipopótamo que avisou que ele fariam uma viagem á origem dos séculos. Brás fechou os olhos durante a jornada e sentiu o frio aumentar. Quando perguntou onde estavam, o hipopótamo avisou que já haviam passado do Éden e continuavam rumo ao passado. Chegou a um ponto em que encarou uma face feminina gigante: era a Natureza, ou Pandora. Ela o informa que está prestes a engoli-lo. O autor ainda tenta convencê-la de que aquela não era uma boa ação, mas ela responde que vai fazê-lo porque quer e que o egoísmo é a lei natural. Em seguida Brás Cubas é levado pelo hipopótamo ao caminho contrário, acompanhando todo o desenvolvimento da humanidade, seus flagelos e delícias, a busca pela figura incerta da felicidade. O autor entrega-se, pede que seja dado logo fim à sua vida. Mas a viagem continuava, de século em século, interessante e monótona, passando pelo seu tempo presente, rumo ao futuro, até a chegada do ano final, que fez crescer o interesse do viajante. Mas nesse momento surgiu um nevoeiro, tudo o mais desapareceu, exceto o hipopótamo, que se transfigurou num gato – era o gato de Brás Cubas, Sultão, que brincava junto à porta de seu quarto. Capítulo 8 – Razão contra Sandice O autor personifica os dois estados mentais que o dominavam: a Sandice tentava argumentar contra a Razão, pedindo permissão para ficar por mais tempo naquela casa, pois estava prestes a desvendar os mistérios da vida e da morte; e a Razão a enxotava para fora, já cansada de ouvir a mesma história vinda da Sandice. Capítulo 9 – Transição Agora o autor avisa que fará uma grande transição em sua narração: de Virgília ele lembra os tempos de juventude, da juventude vai à meninice, e da meninice ao nascimento: 20 de outubro de 1805. Capítulo 10 – Naquele dia Todo cheio de si, Brás Cubas conta que fora um bebê muito visitado em seus primeiros dias de vida. Seus tios confabulavam sobre o futuro do menino: João, ex-oficial de infantaria, via um olhar de Bonaparte na criança; Ildefonso, o beato, imaginava-o Cônego, senão Bispo. Seu pai, Bento, não se preocupava com o futuro, apenas orgulhava-se de o filho herdar sua beleza e inteligência. No ano seguinte, 1806, foi seu batizado, tendo como padrinhos um Coronel do norte e sua esposa – o nome de ambos foi uma das primeiras coisas que ele aprendeu de cor, motivo de orgulho da família. A criança começou a andar cedo, devido constantes incentivos de sua mãe e também de sua mucama. Capítulo 11 – O menino é pai do homem Seguindo o dito do poeta que “o menino é pai do homem”, Brás Cubas apresenta-se destrinchando sua infância. Fora criado muito livremente, o que o tornou muito mal-educado: era chamado de “o menino diabo”. Enganava os adultos, maltratava os escravos – em especial Prudêncio, um moleque que tinha a mesma idade e em quem gostava de montar, como se fosse seu cavalo. Sua mãe, senhora caseira e modesta, temente ao marido, ensinava ao pequeno Brás orações que ele repetia diariamente, mas serviam apenas para amenizar os pecados que nunca deixava de cometer. Seu pai o adorava, mesmo com todas suas traquinagens, e não dava atenção às preocupações do tio cônego do menino, que alertava sobre o excesso de liberdade dado à criança. João, o tio ex-oficial, era um zombador que adorava contar piadas sujas e seu sobrinho o acompanhava, ouvindo e aprendendo todas. Já Ildefonso, o cônego, era um homem austero e puro, apesar de não ser tão ligado à questão espiritual da igreja: antes ele se importava com as hierarquias, as aparências, os rituais – sua única ambição tinha sido tornar-se cônego. Havia ainda uma tia materna, Dona Emerenciana, que se diferenciava de todos os outros: tinha autoridade sobre o menino. Mas viveu pouco tempo com ele. Resumindo sua base familiar numa metáfora, Brás Cubas diz: “Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor”. Capítulo 12 – Um episódio de 1814 Tinha o autor nove anos quando caía Napoleão, na França. Apesar da rixa entre alguns que admiravam e outros que condenavam o império napoleônico, a família de Brás Cubas montou um jantar para comemorar o fato, com o intuito de agradar a família real portuguesa – importante lembrar que em 1808 a família real havia-se mudado de Portugal para o Brasil fugindo do ataque de Napoleão. Estava no tal jantar Doutor Vilaça, um senhor glosador (que fazia glosas, versos rimados), que não parava de demonstrar sua arte. As senhoras encantavam-se por ele enquanto Brás apenas desejava uma compota que aguardava na mesa. O menino fez birra e seu pai iria atender ao seu pedido, servindo a ele a compota, quando sua tia Emerenciana decidiu que o garoto merecia um castigo pelo mau comportamento e retirou-o da mesa. Brás Cubas quis vingar-se do Doutor glosador, que entendeu como culpado da demora em servir sua sobremesa. No momento em que todos convidados passeavam pela chácara o garoto seguiu Vilaça: ele encontrava-se às escondidas com uma das senhoras que o adoravam, Dona Eusébia. Quando percebeu que o casal se beijava o menino correu em meio aos demais convidados gritando para todos o que vira. Como Vilaça era um homem casado, pai, aquele fato o ridicularizava e foi motivo de muitos risos entre os presentes.
  • 3. Apesar de o pai de Brás Cubas dar-lhe um corretivo na presença dos convidados, no dia seguinte já achava graça do feito do menino. Capítulo 13 – Um salto Neste capítulo o autor dá um salto sobre seu período escolar, do qual se lembra pelos ralhos recebidos na escola, pelo aprendizado à força da palmatória e pelas diabruras que fazia quando fugia das aulas. Dá atenção à figura de seu professor: Ludgero Barata, um senhor rabugento que vivia sozinho sua vida medíocre – quando morreu apenas um preto velho chorou sua partida. Por causa de seu sobrenome o velho era constantemente motivo de chacota dos alunos. Um dos colegas de Brás, Quincas Borba, sempre metia no bolso ou na gaveta da mesa do mestre uma barata morta, deixando- o furioso. Este Quincas era o menino mais travesso e mimado da cidade; o pajem que o cuidava permitia que ele cabulasse as aulas; nas brincadeiras sempre encarnava o rei, o general, o supremo. Agora a história partirá para 1822, ano da Independência. Capítulo 14 – O primeiro beijo Com dezessete anos, um ralo bigode, Brás Cubas indefinia-se entre a criança e o homem. Era um rapaz bonito, audaz, como um cavaleiro de um corcel veloz, chegava a ser desejado por algumas moças. Mas uma em especial recebeu a atenção do narrador: Marcela, uma dama espanhola. Era ocasião de comemoração da Independência do Brasil quando ele avistou a moça no meio do povo e logo se enamorou. Marcela, no entanto, morria de amores por Xavier, um homem abastado da cidade. Após três dias Brás comentou com seu tio João que desejava ir a uma “ceia de moças” na casa de Marcela. Durante o evento só tinha olhos para a dama e ao final, antes de partir, se despediu lhe roubando um beijo. Capítulo 15 – Marcela Brás Cubas abriu mão do corcel veloz em que montava para trocá-lo por um asno teimoso e paciente: levou trinta dias para conquista o coração de Marcela. O romance teve dois momentos: a fase “consular”, quando seu amor era dividido com o de Xavier; depois a fase “cesariana”, quando dominava completamente o coração da espanhola. A passagem da primeira para a segunda etapa do relacionamento, porém, não foi barata: Brás Cubas precisou arrecadar dinheiro de seu pai, de sua mãe, e até sacar quantias do banco sem o consentimento paterno, tudo para bajular Marcela com joias e outros presentes. Diversos objetos que a espanhola mantinha em sua casa eram presentes de antigos amantes, o que irritava Brás. Mas ela alegava que o amor que tinha por ele não precisava desses artifícios, ao mesmo tempo em que comentava algum colar que vira numa joalheria e lhe interessava… O garoto caía na conversa e satisfazia todos seus desejos. Em troca, Brás Cubas era agraciado com tudo o que pedia para Marcela: que ela vestisse um ou outro vestido, que desfilasse… Capítulo 16 – Uma reflexão imoral O autor retoma o Capítulo 14, em que afirmou que Marcela “morria de amores” por Xavier, para consertar a frase ironicamente: ela, na verdade, “vivia de amores” por ele – era o que podiam comprovar os joalheiros, responsáveis por “um terço ou um quinto do universal comércio dos corações”. Capítulo 17 – Do trapézio e outras coisas O romance de Brás Cubas e Marcela durou “quinze meses e onze contos de réis”. A essa altura o pai do rapaz descobriu os saques indevidos de seu banco e decidiu mandá-lo para Portugal, estudar em Coimbra, para que não se tornasse um vadio. Sabendo da intenção de seu pai, Brás foi até Marcela convidá-la para acompanhá-lo. Ela negou o convite, deu uma desculpa inventada, o garoto enfureceu-se e saiu desvairado pela cidade. No caminho uma nova ideia pulou no trapézio que ele tinha em seu cérebro: precisava deslumbrar Marcela e, para isso, pediu um empréstimo no banco, foi a um ourives, comprou a melhor joia da cidade. Voltando a Marcela, entregou-lhe o presente, prometeu-lhe uma vida glamorosa e insistiu que seguisse com ele para Portugal. Após resistir algum tempo, a espanhola topou o convite. Capítulo 18 – Visão do corredor Saindo pelo corredor o jovem Brás Cubas tinha sua mente perdida na imagem de Marcela, corrompida por uma joia – mas ainda acreditava em seu autêntico amor. Comparou-se a um personagem das Mil e Uma Noites, que se humilhava por sua amante. Estava nestes pensamentos quando surgiram três homens que o agarraram pelos braços e botaram-no numa carruagem. Eram seus tios e seu pai, que o encaminhavam para uma galera (tipo de barco) que partiria para Lisboa. Já na embarcação a nova ideia fixa do rapaz era de jogar-se ao mar, repetindo o nome de Marcela. Capítulo 19 – A bordo Estavam a bordo onze passageiros, entre eles um louco com sua mulher além do comandante e sua esposa, uma senhora tísica (com tuberculose pulmonar), prestes a falecer. A intenção suicida de Brás Cubas parece ter sido adivinhada por seu pai, que teria comunicado o capitão: ele sempre estava à espreita do rapaz. Numa das noites, quando Brás pretendia lançar-se ao mar, o homem surgiu conversando sobre a noite e as estrelas, recitando poesias, até receber um chamado da mulher. O empenho do capitão deu resultado, Brás Cubas foi dormir, “que é um modo interino de morrer”. O dia seguinte foi de um temporal amedrontador. O homem louco dançava e gritava que era sua filha que vinha buscá-lo – ele havia ensandecido pela morte da garota. Os demais viajantes, inclusive Brás Cubas, protegiam-se ou rezavam. Após o fim da tormenta, o capitão foi falar com ele, que antes buscava a morte e agora a temia. Recitou-lhe mais poemas de sua autoria. Após alguns dias vinha a noticia que a mulher do comandante não mais aguentaria a viagem. Brás foi ter com ela, já muito pálida, mas ainda esperançosa de chegar a Lisboa. Mais uns e dias e estava morta, foi jogada ao mar. Nosso narrador consolava o capitão, observando as ondas do mar, ouvindo mais de suas poesias e elogiando-as. O marujo emocionou-se e desejou ao rapaz um futuro grandioso. Capítulo 20 – Bacharelo-me
  • 4. Sob o signo de “grande futuro” que o capitão lhe concedeu, Brás Cubas recuperou-se finalmente do mal que lhe causava Marcela: ele agora iria estudar, tinha ambição de grandes cargos, posições superiores! Após desembarcar em Lisboa e seguir até Coimbra, no entanto, o nosso autor não fez grandes esforços em seus estudos, era um aluno médio, superficial, além de folião. Quando se formou – admitindo que não trazia em seu cérebro o conhecimento condizente com o grau de bacharel – percebeu que aquilo poderia ser um problema: ao mesmo tempo que ganhava liberdade, também teria responsabilidades. Seu verdadeiro desejo era ainda levar a vida como um eterno estudante folgazão. Capítulo 21 – O almocreve O jumento que nosso narrador montava empacou. Após tentar fazê-lo andar com alguns saltos sobre seu dorso, o bicho sacudiu-se fazendo Brás cair. Seu pé estava preso no estribo e o animal iniciava uma disparada: haveria um grave acidente! Mas surgiu um almocreve (um carregador) que o ajudou, segurando o asno. Enquanto se recuperava e agradecia ao homem, Brás Cubas pensou em recompensá-lo com três das cinco moedas de ouro que carregava consigo. Ele ia até seu alforje buscar o dinheiro quando pensou melhor se três moedas não seriam muitas. Observou o almocreve: era um pobretão, estava conversando com o jumento, pedindo que não aprontasse novamente. Duas moedas já o alegrariam, senão uma! Brás chamou-o e deu-lhe apenas uma moeda, e de prata! Ao sair montado no animal, ainda mirava seu salvador a distancia, que se despedia alegre com a recompensa. Nosso narrador meteu a mão no bolso e sentiu alguns vinténs em moedas de cobre: arrependeu-se, poderia tê-las dado ao pobre-diabo no lugar da moeda de prata, afinal, a ajuda que ele lhe deu não tinha por trás nenhum interesse, era um impulso, uma ação habitual que faria em qualquer circunstância. Capítulo 22 – Volta ao Rio Após a universidade, Brás Cubas aventurou-se pela Europa. Estava em Veneza, vivendo ilusões do passado, quando recebeu um chamado de seu pai: precisava voltar logo, senão encontraria sua mãe já morta. Embarcou rapidamente para o Rio. Neste ponto o autor comenta – com ironia – que não esticará o capítulo, detalhando seus passos no velho continente nem seu trajeto de volta, em respeito aos leitores que não gostam de longos textos. Capítulo 23 – Triste, mas curto Chegando ao Rio o autor relata a sensação renovadora de rever os locais de sua infância e a consternação de sua família que acompanhava sofrimento de sua mãe – situações que ele mesmo descreve como lugares-comuns. Lá estavam seu pai, sua irmã, já casada com Cotrim, seu tio João e dona Eusébia, todos tristes. Quando encarou sua mãe, que não via há nove anos, pálida, seca, apenas pegou suas mãos, sem saber soltar uma palavra. No dia seguinte ela faleceu e pela primeira vez Brás Cubas sentia a morte verdadeiramente de perto, numa pessoa amada, carinhosa, cheia de bondade. Capítulo 24 – Curto, mas alegre Brás Cubas abalou-se com a morte da mãe, ele nunca havia se debruçado sobre temas profundos da existência. Até então o autor se comparava a um cabeleireiro que conheceu em Módena (região da Itália): ele fazia seu trabalho mecanicamente, sem nenhuma opinião sobre nada demais. Apesar dos estudos que teve, Brás assimilou na universidade apenas o superficial, as fórmulas, o suficiente para mostrar aos outros que sabia de algo. Agora morto, alegra-se de poder expor tranquilamente sua mediocridade, da qual era consciente, mas negava apenas por convenções sociais: “a franqueza é a primeira virtude de um defunto”. Durante a vida o olhar alheio, a cobiça, a opinião da sociedade, mergulham o mundo numa enorme hipocrisia. Já no além, não há plateia, não há julgamentos, as verdades podem ser ditas! Capítulo 25 – Na Tijuca Sete dias após a morte da mãe, Brás Cubas retirou-se para a chácara da família na Tijuca, acompanhado de um preto, uma espingarda, charutos e livros. Lá permaneceu melancólico, resignado do mundo. “Que bom é estar triste e não dizer coisa nenhuma!”, diz o autor, citando Shakespeare. No entanto, passados sete dias Brás Cubas reanimava-se: era preciso viver! Organizava sua partida quando o preto veio alertar-lhe que se mudavam para a casa vizinha dona Eusébia e sua filha – fruto de seu romance com Vilaça, que deixou-lhe uma boa quantia de herança após morrer. Lembrando-se do caso de 1814 (Capítulo 12) em que pregou uma peça à senhora, Brás envergonhou-se e preferiu não encontrá-la. Mas quando o preto informou-lhe que fora ela quem vestira o corpo de sua mãe defunta, o rapaz entendeu que era seu dever agradecê-la com uma visita. Capítulo 26 – O autor hesita Quando ia visitar Dona Eusébia, Brás foi surpreendido por seu pai que trazia notícias da cidade: ele havia recebido uma carta de pêsames de um dos Regentes (na época D. Pedro II tinha cinco anos e o poder do Império estava na mão de um grupo autoridades chamado Regência). Portanto pede que seu filho volte ao Rio para agradecer ao Regente e, além disso, tinha planos de torná-lo deputado e casá-lo. O rapaz inicialmente recusou a proposta, ele não entendia nada de política e não queria casar-se, ainda estava abalado pela morte da mãe. Mas após a insistência do pai e alguns momentos de reflexão, a ideia já não parecia tão má. O pai de Brás cobra uma resposta definitiva do filho, e revela o nome de sua pretendente: Virgília. Capítulo 27 – Virgília? Sim, a pretendida de Brás Cubas era a mesma Virgília que em 1869, como narrado no Capítulo 6, acompanharia seus últimos dias de vida. Mas naquele momento ela era uma moça de quinze ou dezesseis anos, atrevida, voluntariosa. O autor abre mão da descrição romântica tradicional, que lhe daria ares de perfeição, para assumir que ela tinha lá seus defeitos, sardas e espinhas, coisa da idade, mas ainda assim era bonita. O autor brinca com a diferença entre os elogios que dirigia a ela pessoalmente, naquela época, e o relato realista de sua fisionomia que fazia agora, defunto. Mas não considera que mentiu em nenhum dos momentos: o homem é uma “errata pensante”, cada estação da vida reedita a anterior, sempre, até que a versão final seja entregue aos vermes. Capítulo 28 – Contanto que…
  • 5. O pai de Brás explica que a garota é filha um político importante, Conselheiro Dutra, com quem já tinha comentado sobre a possibilidade de seu filho tornar-se deputado. O casamento e o cargo seriam quase um acerto conjunto! Brás Cubas afirma que atenderá ao pedido do pai, contanto que possa eventualmente escolher entre ser político ou casado, não os dois ao mesmo tempo. O pai brinca que a noiva e o parlamento são quase a mesma coisa, mas aceita a contraproposta do filho, contanto que ele saia daquela vida inútil: houve muitos investimentos em Brás Cubas para que ele não brilhasse, para que vivesse na obscuridade. Afirma que “os homens valem por diferentes modos, e o mais seguro de todos é valer pela opinião dos outros homens”. E foi pelo desejo de nomeada, de fama, que Brás Cubas foi seduzido – a mesma fama que desejaria mais tarde, com seu Emplasto (Capítulo 2). Capítulo 29 – A visita Feito o acordo, o pai de Brás despede-se, seu filho partiria somente no dia seguinte – precisava ainda visitar dona Eusébia. O rapaz foi à casa da senhora, com quem conversou sobre sua finada mãe. Vendo que o garoto se entristecia, Eusébia perguntou-lhe das viagens na Europa, dos estudos, das namoradas, assumiu que era uma velha patusca (tagarela). Isto fez o jovem lembrar-se do episódio de 1814, do beijo dela com Vilaça. Neste momento há um rangido de porta e um chamado: mamãe… Capítulo 30 – A flor da moita Entrava em cena Eugênia, uma linda garota morena, com os cabelos em trança. Dona Eusébia comentava os dotes de sua filha, enquanto cruzavam-se o olhar dela com o de Brás. Uma enorme borboleta preta invadiu a sala, atormentando Eusébia devido à superstição de que elas trariam um aviso de morte. Capítulo 31 – A borboleta preta No dia seguinte nosso autor estava preparando-se para descer a serra quando uma nova borboleta preta entra em seu quarto e pousa sobre sua testa. Brás a espanta e ela voa até a janela. Espanta-a novamente, ela vai parar na fotografia do pai de Brás. Não saindo daquele local, o autor fica nervoso e bate-lhe com uma toalha. A borboleta cai quase morta. Brás a leva para a janela, mas ela não tem forças e morre. Pergunta-se se não seria melhor se ela fosse uma borboleta azul, não preta. Agora o autor entra numa reflexão profunda sobre a borboleta: imaginou que ela teria saído felizmente do meio do mato e ao entrar no quarto, topando com ele, teria imaginado que aquele ser gigante era o “inventor das borboletas”, resolvendo beijá-lo na testa; após ser espantada e pousar na janela teria visto o retrato do pai do “inventor das borboletas” e teria ido ate ele pedir misericórdia. Mas de nada valeu a aventura da borboleta – e o autor comemora por ser superior às borboletas. Considera que nem sendo azul ela se salvaria, pois provavelmente iria enfiar-lhe um alfinete para guardá-la. Após lançar a borboleta ao chão e ver que já vinham formigas para lhe comer, retoma o pensamento de que seria melhor se ela fosse azul. Capítulo 32 – Coxa de nascença Brás Cubas já estava pronto para partir quando recebe um convite para jantar com Dona Eusébia. Recusa inicialmente, mas cede após a insistência da senhora. Eugênia estava vestida de forma mais simples, simples como sua beleza, que chamava a atenção de Brás. Caminhando para conhecer a chácara de Dona Eusébia o autor percebeu que a menina coxeava (mancava) um pouco. Perguntou se ela havia machucado o pé, mas a própria Eugênia informou que ela era coxa de nascença. Após a desconfortável situação, os três seguiram a caminhada com a dona da chácara apresentando cada canto, enquanto Brás e Eugênia cruzavam olhares. Capítulo 33 – Bem-aventurados os que não descem O fato de Eugênia ser, ao mesmo tempo, bonita e coxa deixou nosso autor em conflito. Tentou dispersar os pensamentos ao dormir, mas até os sonhos o traíam. O dia seguinte foi chuvoso e Brás se deixou ficar mais um tempo na chácara. Os convites para estar com Dona Eusébia e sua “Vênus manca” continuavam, a descida para a cidade estava adiada há uma semana. Mesmo manca, Eugênia cada vez mais despertava o desejo de Brás. Ele atendeu ao pedido da moça para que não fosse embora e adicionou um versículo ao evangelho: “Bem-aventurados os que não descem, porque deles é o primeiro beijo das moças”. Lembrando-se do episódio de 1814 com Dona Eusébia, Brás apostou na hereditariedade dos hábitos para beijar a filha e teve sucesso sem necessitar muitos esforços. A mãe não suspeitou de nada. Capítulo 34 – A uma alma sensível O autor faz um embate contra as possíveis “almas sensíveis” que enxerguem nas suas atitudes mostras de cinismo: quanto a Eugênia, Brás afirma que não foi cínico, foi homem! Capítulo 35 – O caminho de Damasco Dentro de oito dias nosso narrador diz ter ouvido um chamado: “Levanta-te, e entra na cidade”, tal qual ocorreu com o personagem bíblico Saulo em sua conversão ao cristianismo, no caminho de Damasco. Eugênia, deixada para trás por ser coxa, não acreditou quando Brás jurou-lhe que só descia a serra por necessidade e que a queria muito bem: ela ainda avaliou que ele estava fazendo o correto. Descendo da Tijuca, Brás Cubas dividia-se entre a amargura do que deixava para trás e a satisfação do seu futuro, com esposa e carreira política. Capítulo 36 – A propósito de botas Chegando à sua casa o autor mal falou com seu pai e foi logo descalçar as botas. Surge no trapézio de sua cabeça uma nova ideia, de que botas apertadas são uma grande ventura: elas fazem os pés doerem para que, depois, possamos ter o prazer de tirá-las. E assim funcionaria toda a vida, nos dando fome para o momento da comida, inventando calos para aperfeiçoar a felicidade. Em alguns dias tinha o autor se descalçado dos sentimentos por Eugênia e agora gozava da liberdade do coração. Já Eugênia deveria continuar com suas botas e mancando. Capítulo 37 – Enfim!
  • 6. Enfim, se encontrariam Brás Cubas e Virgília. Conselheiro Dutra recebeu seu prometido genro e apadrinhado político com gosto, apenas solicitando que esperassem alguns meses para sua candidatura. A moça rapidamente encantou Brás, tornaram-se íntimos. Capítulo 38 – A quarta edição Convidado para jantar com Conselheiro Dutra, Brás Cubas preparou-se e resolveu dar voltas em sua sege (carroça) pela cidade. Lembrando-se de sua teoria em que afirmava que o homem é uma “errata pensante”, o narrador classifica-se, naquele momento, como sua quarta edição, ainda mal acabada, mas ornada luxuosamente. Seguia seu passeio quando seu relógio de bolso caiu e quebrou-se. Entrou numa ourivesaria onde, para sua surpresa, encontrou sua antiga amante Marcela – agora uma senhora já maltratada pelo tempo e por doenças. Ela herdara aquela loja de um de seus amantes que veio a falecer em seus braços. Daí em diante trabalhava vendendo muitas das joias que acumulou durante a vida. Brás desejava retirar-se logo dali, mas Marcela pegou o relógio quebrado e deu a um garoto que iria consertá-lo. Enquanto isso o interrogou sobre a vida que levava, se já era casado, Brás mal respondia aos questionamentos. Agora ele enxergava naquela mulher a cobiça que a movia, ela não parecia ter falta de dinheiro, mas ainda assim empenhava esforços em gerar fortunas. Capítulo 39 – O vizinho Entrou na loja um senhor com uma menina de quatro anos. Ele conta para Marcela que a garota tem adoração por ela, chegando a oferecer suas orações à Santa Marcela, em forma de homenagem. Brás percebeu que Marcela emocionou-se com o relato do velho, explicando que ele é um relojoeiro vizinho, que vive com sua esposa e filha. Capítulo 40 – Na sege O relógio consertado foi trazido pelo menino. Brás despediu-se rapidamente e subiu à sege (carroça) para seguir até a casa do Conselheiro Dutra. O dia havia iniciado alegre, durante o almoço seu pai interpretou o primeiro discurso que deveria ser feito quando Brás se tornasse deputado. O futuro batia a porta, até que o passado surgisse no encontro com Marcela e causasse desconforto ao nosso narrador, que permaneceu abalado até a chegada ao seu destino. Capítulo 41 – A alucinação Brás Cubas foi recebido por Virgília de maneira estranha. Ele enxergava em seu rosto as mesmas marcas de velhice que encontrou em Marcela. Esta o abalou de tal forma que pensou em fugir do lugar. Após sentarem-se no sofá, Brás voltou a observar sua pretendida e as estranhas marcas haviam sumido, a pele estava jovem, como de costume. Seu comportamento, porém, continuou estranho. Capítulo 42 – Que escapou a Aristóteles O narrador levanta uma análise filosófica sobre o descontentamento que se abateu sobre a moça: ele seria como um impulso iniciado com Marcela, que teria sido repassado para Brás e, enfim, acabado em Virgília. Nomeia esse fato de “solidariedade do aborrecimento humano”, um capítulo do qual Aristóteles (filósofo da Grécia antiga) teria se esquecido de escrever. Capítulo 43 – Marquesa, porque eu serei marquês Virgília era uma garota travessa. Angelical, mas travessa. Surgiu em seu caminho Lobo Neves, um homem que em breve se tornaria ministro. Virgília perguntou-lhe se ele prometeria torná-la baronesa e ele respondeu “Marquesa, porque eu serei marquês”. A garota caiu na lábia de Lobo Neves e coube ao Conselheiro Dutra informar Brás de que os planos haviam mudado: ele não seria mais noive de sua filha, de Virgília só lhe restariam as lembranças de alguns beijos que recebera. Capítulo 44 – Um Cubas O pai de Brás, ao saber do fracasso dos planos para seu filho, foi quem mais se abalou. “Um Cubas!”, repetia ele, incrédulo sobre o desastre lhe ocorrera. Enquanto o próprio Brás digeriu a derrota sem muitos ressentimentos, o pai acabou adoecendo e morrendo de desgosto. Capítulo 45 – Notas O autor expõe uma lista do que viu durante o enterro do seu pai, os preparativos, o velório, a marcha fúnebre… Notas que ele utilizaria para escrever um capítulo “triste e vulgar”, do qual abre mão. Capítulo 46 – A herança Surge um grande embate entre Brás Cubas, sua irmã Sabina e seu cunhado Cotrim: a divisão da herança. O interesse nas pratas, nos pretos e nas casas deixadas pelo pai alimenta uma longa discussão. Quando o tio Ildefonso, o cônego, soube da disputa durante um jantar, lembrou Cristo, que dividiu um pão entre todos. Cotrim retrucou, afirmando que “a questão não é de pão, é de manteiga”. Cubas percebeu que o tempo fez com que ele enxergasse sua irmã de outra forma, com menos beleza, assim como fez com Marcela. Capítulo 47 – O recluso Do inventário de seu pai até 1842 Brás Cubas viveu recluso, apenas conheceu algumas mulheres – mas delas mal guarda lembranças. Nesse mesmo período ele escreveu política e literatura, alcançando certo sucesso com suas publicações. Lembrando-se de Lobo Neves e Virgília, pensava que poderia também ter sido um bom deputado, até melhor que Lobo Neves – ele pensava nisso “a olhar para a ponta do nariz”. Capítulo 48 – Um primo de Virgília Luís Dutra chegou com uma novidade: “Sabe quem chegou ontem de São Paulo?”. Luís era um primo de Virgília que contava com Brás Cubas como um crítico de seus poemas. Mas Brás, mesmo sabendo da qualidade dos escritos, fazia pouco caso do trabalho do rapaz, privando-se de comentar as poesias. O narrador assume que sua intenção era “fazê-lo duvidar de si mesmo, desanimá-lo, eliminá-lo”. Esclarece que essa atitude também era tomada “a olhar para a ponta do nariz”. Capítulo 49 – A ponta do nariz
  • 7. Depois de falar por duas vezes que “olhava para a ponta do nariz” ao ter certos pensamentos, o autor explica sua metáfora: o nariz teria uma função ainda superior do que o apoio para os óculos, ele seria responsável pela elevação espiritual do ser humano – para isso exemplifica o ato dos faquires, que se concentram ao olhar para a ponta do nariz. Cita mais um exemplo, de um comerciante – no caso um chapeleiro – que vê outros chapeleiros concorrentes com seus negócios se expandindo: é necessário que esse chapeleiro olhe para o próprio nariz para evoluir. Parece confuso? Pois façamos uma breve análise: na verdade o que Brás Cubas diz é que se deve “olhar para o próprio umbigo” (é a expressão que melhor se encaixaria). O “nariz” e a “elevação espiritual” são apenas eufemismos para um ato que ele entende como puramente egocêntrico e que aponta em diversos momentos de seu livro, mas defende como necessários para a evolução da espécie humana. Capítulo 50 – Virgília casada Quem voltara ao Rio era Virgília, agora casada com Lobo Neves. O seu primo informou Brás Cubas, após saber que ele já havia sido um pretendente dela. No dia seguinte Brás já avistou a moça, ainda mais bela. Depois cruzou com ela em festas, convidou-a para valsas em bailes… Até ganhar a simpatia de Lobo Neves. Capítulo 51 – É minha! “É minha!”, comemorava Brás Cubas após conquistar Virgília em suas danças – este pensamento não lhe saía da cabeça. Chegando a sua casa Brás topou com uma moeda de meia dobra de ouro no chão: “É minha!”, repetiu e botou-a no bolso. No dia seguinte sua consciência pesou e resolveu que precisava procurar o verdadeiro dono da moeda – talvez fossem pobres, passassem fome. Entregou-a ao chefe de polícia e sentiu-se melhor! Nosso narrador estabelece o que ele chamou de “lei da equivalência das janelas”: cada janela que se fecha deve ser compensada por outra aberta, numa analogia à moralidade de seus atos: se estava flertando com uma mulher casada, algo contra a moral vigente, por outro lado teve uma atitude muito valiosa moralmente ao devolver uma moeda achada no meio da rua, sua consciência estava compensada! Capítulo 52 – O embrulho misterioso Noutro dia Brás Cubas andava pela orla do Botafogo quando tropeçou em um embrulho largado no meio da praia. Não havia ninguém por perto e acabou decidindo por levá-lo à sua casa. Em seu escritório abriu o embrulho que continha cinco contos de réis, cédulas e moedas novas, tudo arrumado. Sem ter certeza do que fazer com aquilo, foi a um evento na casa de Lobo Neves. Na festa estava o chefe de polícia que contou a todos o caso da moeda de meia dobra de ouro que Brás havia encontrado e devolvido ao dono. Todos o admiraram, inclusive Virgília. Voltando à sua residência, no dia seguinte, Cubas tornou a pensar nos cinco contos encontrados: não era um crime ficar com eles, foram achados, um sinal de sorte, uma felicidade! Ele poderia fazer bom uso daquela quantia, dá-lo a uma garota pobre… Porém, no mesmo dia foi ao Banco do Brasil depositar o dinheiro em sua conta. Lá ainda havia quem o elogiasse pela moeda de ouro encontrada e devolvida. Capítulo 53 – . . . . . . . Virgília entregava-se cada vez mais a Brás Cubas, o amor crescia rapidamente, até a noite em que lhe deu um beijo breve, ardente e aflito – em frente ao portão da chácara de Lobo Neves. Capítulo 54 – A pêndula Saboreando ainda o beijo recebido, Brás Cubas deitou-se em sua cama. Atentou-se ao barulho da pêndula do relógio: imaginou um velho diabo com dois sacos à sua frente, um da vida e outro da morte, que a cada tique-taque tirava uma moeda de um saco e jogava no outro. Continuou sua divagação sobre o tempo e a morte, percebendo que mesmo quando o relógio parava, logo ele daria corda novamente, era algo a que os homens estavam todos presos. Seu pensamento, no entanto, inesperadamente voltou-se a Virgília, imaginando os dois, numa cama, a repetir “o velho diálogo de Adão e Eva”. Capítulo 55 – O velho diálogo de Adão e Eva Neste capítulo há um diálogo sem palavras, apenas com reticências, interrogações e exclamações. Tal é a criativa maneira que o autor escolheu para descrever o ato de amor que fazem os casais, repetido desde Adão e Eva, e que agora ele consumava com Virgília. Capítulo 56 – O momento oportuno Brás Cubas questiona o porquê de seu romance com Virgínia só avançar agora, não quando eram quase noivos. Refletiu que só neste momento estavam prontos para amar um ao outro, era uma questão de oportunidade. Capítulo 57 – Destino Esse amor, que ia contra as regras sociais, era justificado até por motivos santos: “Amo-te, é a vontade do céu”, disse Virgília a Brás Cubas. Era o destino, pois o próprio Brás teria afirmado “Seja o que Deus quiser”, e foi! Capítulo 58 – Confidência Tal era a confiança de Lobo Neves no amigo Brás Cubas que certa vez lhe confidenciou certa melancolia quanto à sua carreira: não havia atingido a glória pública e, além disso, estava envolvido numa trama política que era coberta de invejas, vaidades, interesses… Estava cansado de perseguir suas ambições. Mas assim que terminou a conversa e chegaram alguns deputados e o chefe de polícia, Lobo Neves converteu-se num homem muito alegre, participando de uma longa conversa com risos de todos os lados. Capítulo 59 – Um encontro Saindo da casa de Lobo Neves, Brás Cubas começou a pensar na possibilidade de tornar-se político. Coincidentemente cruzou o seu caminho um ministro, cumprimentou-o, era um antigo colega de escola de Cubas. Daí elevou seus planos: “Por que não serei ministro?”, comparando-se ao seu companheiro de colégio com quem fazia travessuras quando pequeno.
  • 8. Em seguida aproximou-se um homem magro, vestindo roupas largas, desgastadas e mal ajustadas: era Quincas Borba, outro antigo colega de escola. Cubas ouve as explicações daquele senhor que afirma ter-se empobrecido, vivendo uma vida de misérias – uma ironia, comparada às brincadeiras de criança em que ele era sempre o “rei”, o líder… -, e responde que o ajudará no que for possível. Quincas não crê na futura ajuda e pede dinheiro, apenas dinheiro, pois precisava comer. Cubas lhe entrega uma nota a qual Quincas beija alegremente. Brás já se retirava, dizendo a Quincas que ele poderia trabalhar para arranjar mais dinheiro, quando o pedinte lhe informou que ensinaria a ele sua “filosofia da miséria”. Capítulo 60 – O abraço Pensando que o homem estaria louco, Brás desviou-se para seguir seu caminho, mas foi segurado pelo braço. Quincas o rodeou, elogiou suas roupas, perguntou sobre suas mulheres… Pediu apenas que quando o encontrasse novamente, lhe desse mais dinheiro. Ao final, ofereceu um abraço, como forma de agradecimento pela doação. Brás saiu triste com a mudança que ocorreu em seu amigo: outrora era grande promessa de sucesso, agora era mendigo. Ao procurar seu relógio de bolso, ele não estava mais lá, Borba o havia roubado. Capítulo 61 – Um projeto Ainda incomodado pelas lembranças infantis do amigo Quincas, em contraponto ao seu estado atual, Brás Cubas decidiu que precisava ajudá-lo. Após o jantar procurou-o no passeio público, mas sem sucesso. Comprometeu-se em procurá-lo novamente, para tentar uma regeneração, colocá-lo para trabalhar, intenções que muito o agradavam e tiravam-lhe o ar melancólico. Capítulo 62 – O travesseiro Cubas foi ao encontro de Virgília. Bastaram alguns olhares, mãos dadas, um beijo, e em cinco minutos estavam desfeitos todos os planos em referência a Quincas Borba: para quê se importar com um andarilho quando se têm uma amada que é como um travesseiro para seu espírito? Capítulo 63 – Fujamos! Havia se passado três semanas quando, ao encontrar Virgília, Brás Cubas percebeu um abatimento na expressão da mulher. O fato é que havia pessoas desconfiando do relacionamento dos dois e isso a preocupava. Cubas teve uma ideia: fugirem para uma casa só deles, fugir da pressão social, do marido… Mas Virgínia recusou, dizendo temer a reação de Lobo Neves. Brás insistia, contra-argumentava, mas Virgínia encontrava novas desculpas. Chegou Lobo Neves à chácara convidando Brás Cubas para jantar e acompanhá-los a uma ópera. Ele ficou para jantar, deixando transparecer certa irritação, e depois voltou para sua casa. Capítulo 64 – A transação Cubas cogitou ir à ópera, mas desistiu e ficou a pensar em Virgínia, que parecia aborrecer-se com ele. No dia seguinte foi ter com ela, que estava chorando pelo comportamento que ele teve no jantar, dizendo que a havia maltratado. Após acalmarem-se e discutirem mais um pouco, chegaram a um acordo: teriam uma casinha só para eles, mas não fugiriam para longe, pois Virgínia não queria viver afastada de seu filho e tinha receio da reação de seu marido. Capítulo 65 – Olheiros e escutas Chegou à chácara uma baronesa que logo saudou Brás Cubas, indagando-o por sua ausência na ópera da noite anterior. Após ele responder que teve uma enxaqueca, a baronesa brincou dizendo que deveria ter era algum romance, e que já era idade de ele se casar. Tais comentários da baronesa não eram sem propósito: ela era uma mulher que vigiava a vida de todos e, provavelmente, desconfiava do romance de Brás com Virgília. Da mesma forma havia um parente de Virgília, Viegas, um velho que poderia imaginar algo sobre o relacionamento secreto. Por último, Luís Dutra, o primo de Virgília, que só não devia denunciar o casal a Lobo Neves em gratidão à parceria que tinha com Cubas, com seus escritos e poesias. Capítulo 66 – As pernas Enquanto pensava em todas essas pessoas que deveriam saber de seu romance, Cubas era levado ao hotel Pharoux, onde costumava jantar. Ele era levado pelas suas próprias pernas, inconscientemente, como se elas tivessem vontade própria. Decidiu, portanto, dedicar-lhes um capítulo exclusivo. Capítulo 67 – A casinha Após jantar, voltando à sua casa, Brás Cubas encontrou um bilhete de Virgínia dizendo-lhe que desconfiavam deles e, por isso, precisavam terminar o romance. Cubas foi correndo à casa de Virgília, onde a encontrou já arrependida do bilhete, mas ainda abalada pelo alarme dado pela baronesa: ela a havia avisado sobre a suspeita que havia em torno deles, por toda a sociedade, principalmente após a ausência de Brás no camarote de Lobo Neves, na ópera. Cubas voltou a falar em fugir, mas Virgília recusou novamente. A saída foi a casinha: comprada na região da Gamboa, seria cuidada por uma conhecida de Virgínia e serviria de esconderijo para os encontros românticos. Assim Brás se livraria de encarar Lobo Neves e seu filho, que já o irritavam. Capítulo 68 – O vergalho Logo depois de ajustar a tal casinha, Brás Cubas avistou na praça dois negros, um açoitando o outro. Aproximando-se identificou Prudêncio, seu antigo escravo, que seu pai libertou, agora com um escravo próprio. Cubas questionou Prudêncio o porquê daquela violência, e ele explicou que aquele era um escravo folgado que bebia muito. Brás pediu que ele fosse perdoado, e seu ex-escravo o atendeu. Continuando seu caminho, Brás Cubas pôs-se a pensar que a violência de Prudêncio com seu escravo era apenas a réplica da violência que ele havia recebido quando ele mesmo era escravo – violência essa originária do próprio Brás, que tinha o costume de montar no negro, lhe pôr arreios, tal qual um animal. Capítulo 69 – Um grão de sandice
  • 9. O caso de Prudêncio fez o autor lembrar-se de um doido, Romualdo, que dizia ser Tamerlão – general tártaro, fundador do Segundo Império Mongol. Quando perguntavam por que se transformou em Tamerlão, ele explicava que adoeceu e precisou tomar tanto tártaro que se tornou o Rei dos Tártaros, e todos riam. O autor, entretanto, confessa que a piada não tem graça quando escrita e decide voltar a falar sobre a casinha na Gamboa. Capítulo 70 – Dona Plácida A casa era pequena, mas gigante para o autor, pois ali havia seu mundo exclusivo com Virgília. Dona Plácida era a senhora que cuidava do lugar, tendo a casa como oficialmente sua. A princípio ela sentiu nojo de seu papel, sabendo da finalidade do lugar, mas teve a confiança conquistada por Brás Cubas após ele contar uma novela inventada em torno do romance proibido. Após alguns meses era possível considerar Dona Plácida como a sogra de Cubas, que acabou lhe destinando os cinco contos que havia encontrado anteriormente na praia, como forma de agradecimento. Capítulo 71 – O senão do livro O autor reflete sobre sua própria obra, criticando-a por seu ar enfadonho. Critica, ainda, o seu leitor, que supõe ser alguém apressado, que deseja uma narração direta, fluente, enquanto o livro age como um ébrio, indo para um lado, para o outro, voltando e avançando de forma descoordenada. Capítulo 72 – O blibliômano O autor confessa que deve suprimir o capítulo anterior, pois haveria nele um “despropósito” sobre o qual não desejava críticas. Em seguida ironiza um suposto leitor do seu livro, setenta anos à frente, encontrando um exemplar único e questionando-se qual era este “despropósito”, procurando-o por cada página. Não o encontraria – pois o despropósito não existe, foi suprimido -, mas isso não faria com que ele desmerecesse o livro, pelo contrário, o adoraria pelo simples fato de ser um exemplar único! Capítulo 73 – O luncheon Observando que seu “despropósito” o fez perder mais um capítulo, o autor volta a refletir sobre seu estilo ébrio de escrever. Observa que também tinha a mesma estrutura suas refeições na casinha, com Virgília: trocavam carícias, depois brigavam, em seguida voltavam… O casal sempre chamava Dona Plácida para compartilhar a mesa, mas ela nunca aceitava o convite. Um dia Virgília perguntou se ela estava descontente, e Dona Plácida negou, dizendo que ela era a única pessoa de quem gostava no mundo. Brás deixou-lhe uma prata no bolso do vestido. Capítulo 74 – História de Dona Plácida Dias depois, tendo ganhado a confiança de Dona Plácida com a prata deixada em seu vestido, Brás Cubas estava sós com ela e dela ouviu toda sua história de vida: Plácida era filha de um sacristão da Sé com uma mulher que fazia doces; aos dez anos perdeu o pai; aos quinze casou-se com um alfaiate, morto pouco depois; teve de sustentar sua mãe e sua pequena filha fazendo doces e costuras; nunca teve outro homem, pois desejava casar-se, mas seus pretendentes não; por fim sua filha a abandonou, sua mãe morreu. Foi nesse último que período conheceu a família de Virgília, o que a levou a sua situação atual, tornando-a muito grata pela proteção que recebe do casal, ao cuidar da casa em que se encontram – do contrário, poderia estar a pedir esmolas. Capítulo 75 – Comigo O autor descreve a reflexão que teve sobre a vida de Dona Plácida: Cubas imagina o encontro do tal sacristão da Sé com a futura mãe de Plácida, uma “conjunção de luxúrias” que resulta no bebê que, chegando ao mundo, questiona “Para que me chamastes?”. Respondendo ao bebê, seus pais explicam, com ironia, que ela veio à vida para sofrer em uma vida de servidão, até acabar esquecida num canto qualquer. Capítulo 76 – O estrume A consciência de Brás Cubas pesou sobre ele: estava fazendo de Dona Plácida uma intermediária em uma relação indecente. Agora entendia porque, no início, a senhora tinha nojo da situação. Como resposta à consciência, Brás entende que aquela era a forma possível de tornar a velhice de Dona Plácida mais suportável, longe da mendicância, era um mal que se tornava bem: “o vício é muitas vezes o estrume da virtude”. Capítulo 77 – Entrevista Os encontros com Virgília já não contavam com o ar de novidade, cercado de tensão e sustos, que tinham no início – e que os tornavam mais belos. O relacionamento entrava em uma constante, como acontece com os casamentos. Certo dia Virgília surgiu zangando-se com Brás Cubas por ele ter faltado a um evento que prometera comparecer. Cubas revelou que sua falta ocorreu por ciúmes, já que na ocasião anterior havia visto Virgília a valsar com um rapaz que a cortejava. Virgília ri da suposição de Brás Cubas, fazendo com que ele também ria, dando o caso por encerrado – apesar de o autor entender que, naquele momento, ela o enganara. Capítulo 78 – A presidência Passados alguns meses Lobo Neves surgiu com a notícia que se tornaria presidente de uma província, o que obrigava a mudança dele e de Virgília. Mesmo com a mulher demonstrando que não gostava da ideia, ele não abriu mão de sua ambição. Na casinha da Gamboa, Virgília chorava ao contar sobre seu destino a Dona Plácida, quando chegou Brás Cubas imaginando alguma solução para o caso. Ela propunha que Cubas viajasse junto a eles, mas ele acreditava que isso era loucura. Por fim, Brás deixou nas mãos de Virgília a decisão que teria de ser tomada. Capítulo 79 – Compromisso Após deixar a casa, Brás Cubas sofreu um embate interno: deveria manter sua atitude egoísta, deixando Virgília sozinha com suas decisões; ou deveria ter piedade, permanecendo com ela nesse momento difícil? Ao final houve um compromisso entre egoísmo e piedade: ele iria visitar Virgília nesse período, mas somente na casa dela, assim poderia marcar sua presença sem lhe falar sobre o assunto. O autor percebe, no entanto, que essa ainda era uma atitude egoísta. Capítulo 80 – De secretário
  • 10. Na noite seguinte Brás Cubas vai à casa de Lobo Neves que o recebe com um convite: que siga com ele para o Norte, em sua futura província, como seu secretário. Inicialmente Brás assustou-se, acuado como se o convite fosse uma armação de Lobo Neves, que possivelmente saberia algo de seu relacionamento com Virgília. Mas não, era um pedido autêntico. E Cubas aceitou. Capítulo 81 – A reconciliação No dia seguinte Brás ainda estava em dúvida se era acertado seguir para o Norte com Lobo Neves e Virgília, se isso não mancharia a honra de sua amada. Eis que chega uma visita em sua casa: era sua irmã Sabina, com quem não tinha contato desde a discussão sobre a herança deixada pelo seu pai. Ela propôs uma reconciliação que foi prontamente aceita. Brás se emocionou ao lembrar-se de seu passado com a irmã, ao conhecer sua sobrinha, Sara, já com cinco anos, e também ao rever Cotrim, que deixava para trás as velhas desavenças. Os parentes já planejavam compartilhar os próximos jantares quando Cubas avisou que estava de partida para a província. O casal demonstrou não entender quais motivos poderiam levá-lo a esta viagem. Sabina, inclusive, comentou que ele precisava, sim, era arranjar uma esposa, pois ela também queria ter sobrinhos – comentário que lhe rendeu uma repreensão de Cotrim, a qual Brás não entendeu perfeitamente o porquê. Capítulo 82 – Questão de botânica Naquele momento Brás Cubas sentiu que era feliz: tinha uma mulher que o amava, iria viver próximo a ela como secretário de seu marido, havia reatado laços familiares… Entusiasmado, Cubas contou sobre sua futura viagem para todas as pessoas com quem cruzava. Uns o parabenizavam, outros, sabendo de boatos sobre ele e Virgília, batiam-lhe no ombro e davam sorrisos maliciosos. Inicialmente Brás reagia a essas indiretas com um sorriso tímido, que com o tempo foi se abrindo, tal qual uma flor em botão que desabrocha – uma questão de botânica. Capítulo 83 – 13 Cotrim tirou Brás Cubas deste estado extasiante para lembrá-lo que a viagem era arriscada: seu caso com Virgília não despertava interesse na corte, onde havia muitos outros acontecimentos para se comentar, mas numa província chamaria a atenção de todos! Sabina também insistia que era necessário arranjar uma noiva para seu irmão. Já estava publicada a transferência de Lobo Neves e Brás Cubas para a província quando ele foi ter com Virgília, para compartilhar da preocupação que Cotrim havia despertado. No entanto não havia o que temer: a viagem estava cancelada. O motivo verdadeiro, que não seria revelado publicamente, era uma superstição de Lobo Neves com o número 13, que sempre lhe deu mau agouro, e que agora ressurgia – era a data da publicação de sua nomeação para a província. Capítulo 84 – O conflito Lobo Neves não assumiu nem para Brás Cubas o motivo verdadeiro da desistência. Chegou a demonstrar certo arrependimento, mas a superstição era mais forte. No fim das contas o ministro não acreditou que a mudança de planos se dava por conta de negócios, chegou a crer em manejos políticos, afastando-se de Lobo Neves. Capítulo 85 – O cimo da montanha O perigo que correu o relacionamento de Brás e Virgínia fez com que eles passassem a se amar ainda mais. Esse era o ponto máximo do romance, que depois só seguiria ladeira abaixo. Capítulo 86 – O mistério “Desciam a montanha” quando um acontecimento que Virgínia confidenciou a Brás Cubas o fez estremecer e em seguida ser amparado maternalmente pela mulher – mas ele não diz qual foi a revelação. Capítulo 87 – Geologia Nesse período morreu Viegas, o parente de Virgília, de quem ela esperava alguma herança. Lobo Neves talvez tivesse a mesma expectativa, mas a encobria. Lobo Neves tinha uma dignidade fundamental, como uma rocha, sobre a qual havia camadas mais finas de dignidade, feitas de areia, mas que foram levadas pela enxurrada da vida. Ainda pensando na integridade do homem, o narrador se lembra de um amigo, o qual considerava muito correto: Jacó. Certa ele vez mentiu a um sujeito enfadonho, dizendo que não estava em casa, para não receber sua visita. Brás Cubas alertou Jacó do risco de sua integridade e ele afirmou às vezes eram necessárias pequenas mentiras para manter a vida em sociedade. Capítulo 88 – O enfermo Se Lobo Neves não deixava claro suas pretensões quanto ao velho Viegas, Virgília já não tinha escrúpulos: adulava o homem explicitamente, recebendo-o em sua casa com todos os cuidados, passeando junto a ele, ouvindo suas conversas sobre seus investimentos e casas que construía. Capítulo 89 – In extremis Viegas estava de cama, muito doente, quando Brás e Virgília foram visitá-lo. Lá ele discutia o preço de uma casa com um possível comprador. Durante a negociação, em meio a tosses contínuas, enquanto insistia em um preço mais elevado de sua propriedade, o velho avarento engasgou e morreu. Capítulo 90 – O velho colóquio de Adão e Caim Mas Viegas frustrou as expectativas de Virgília: não deixou qualquer legado para ela ou seu filho. Brás Cubas amenizava o fato, dava mais importância ao seu futuro filho, que Virgília carregava no ventre – tal era o mistério do capítulo 86. Cubas passava horas a observar a barriga de Virgília, a conversar com o pequeno feto e imaginar seu grandioso futuro. Capítulo 91 – Uma carta extraordinária O narrador reproduz uma carta que recebeu de Quincas Borba, junto a um novo relógio de bolso. Quincas agradecia o “empréstimo” de seu relógio, esclarecendo que não era mais mendigo. Agora ele estava desenvolvendo um incrível trabalho filosófico que chamava de “humanitismo” – chegou a pensar no termo “borbismo”, em referência ao seu próprio nome, mas percebeu que era uma opção muito vaidosa. Capítulo 92 – Um homem extraordinário
  • 11. Cubas tinha acabado de ler a carta e bateu-lhe à porta um homem, irmão de Cotrim, seu cunhado, entregando-lhe um convite para o jantar. Tal “homem extraordinário”, que se chamava Damasceno, começou a falar sobre sua carreira política, seus gostos artísticos, sua família, seus hábitos, suas opiniões… Tudo num parágrafo, sem interrupções, sem intervenções do próprio Brás Cubas! O homem extraordinário realmente tinha muito do que falar. Capítulo 93 – O jantar O jantar na casa de Cotrim foi um torturante. Cubas sentou-se em frente a Dona Eulália, filha do extraordinário Damasceno, conhecida como Nhã-loló, que não parava de o observar. Após sair da mesa, Brás foi chamado por sua irmã Sabina, que cogitou Nhã-loló como sua futura esposa. Ele recusou, e sentiu-se mal, imaginando que a reaproximação recente de sua irmã teria apenas este intuito, casar-lhe. Capítulo 94 – A causa secreta Brás Cubas foi visitar novamente Virgília, a perguntar de seu futuro filho. Ela não se animava tanto com a gravidez, o que deixava Cubas preocupado – seria uma história inventada? Não, a verdade é que ela se lembrava do sofrimento que passou no nascimento do primeiro filho, quando quase morreu, e também se enfadava pelas restrições que tinham as mulheres grávidas. Capítulo 95 – Flores de antanho Foram-se as flores: Virgínia perdeu o bebê. Brás recebeu a notícia do próprio Lobo Neves. Capítulo 96 – A carta anônima Lobo Neves recebeu uma carta e, dali em diante, tratou Brás Cubas com frieza. Outro dia, na casinha da Gamboa, Virgília explicou a situação: a correspondência, anônima, denunciava a relação entre ela e Cubas, ainda que sem muitos detalhes, como os encontros amorosos fora de casa. Lobo Neves questionou Virgília, prometendo perdoá-la se dissesse a verdade. Ela negou tudo, mas seu marido não acreditou. Por fim, Virgília disse que o máximo que ocorreu foram palavras de gracejo não correspondidas, vindas de Brás Cubas, e prometeu tratá-lo de forma que ele não mais visitasse sua casa. A tranquilidade de Virgília ao contar estes acontecimentos preocupou Cubas, que teve a intenção de beijá-la na testa, mas ela recuou. Capítulo 97 – Entre a boca e a testa O autor divaga sobre o que representou aquela tentativa de beijo na testa: ressentimento, desconfiança, saciedade… Capítulo 98 – Suprimido Brás Cubas foi ao teatro e lá encontrou Damasceno com sua esposa e filha. Como no jantar anterior, Nhã-loló não tirou os olhos de Cubas, que retribuía, contemplando seu corpo sob o leve vestido que usava. Naquele momento Brás fez a constatação da importância do vestuário para o desenvolvimento da espécie humana: graças às roupas, a nudez é algo desejado, atiçando a vontade de reprodução da espécie! O autor hesita em suprimir o capítulo, considerando-o perigoso. Em seguida volta à figura de Nhã-loló, algo entre o anjo e a besta – o primeiro representando o céu e o segundo… Decide, enfim, suprimir o capítulo. [Suprimiu, mas não suprimiu… Coisas de Machado de Assis.] Capítulo 99 – Na plateia Ainda no teatro, Cubas avistou Lobo Neves na plateia, e foi ter com ele em um dos corredores. A conversa foi amistosa e ao toca no nome de Virgília, Lobo Neves foi breve. Brás Cubas concluiu que não foi mau negócio a carta anônima, uma vez que agora poderia encontrar-se com Virgília sem a necessidade de visitar sempre seu marido. A distância poderia criar uma saudade que seria benéfica para seu amor. Além do mais, Cubas já tinha quarenta anos e não havia feito nada importante da vida. Era hora obter algum êxito, inclusive para impressionar Virgínia. O narrador termina o capítulo discorrendo sobre sua relação com a plateia, a multidão, cuja fama ele cobiçou até a morte. No entanto, acredita vingava-se dela ao não lhe dar ouvidos quando o cercava – compara-se a Prometeu entre os abutres ou Gulliver entre os pequenos homens. Capítulo 100 – O caso provável O autor levanta uma provável relação entre vida pública e vida privada, que se influenciariam em determinados momentos. Como exemplo, o caso de Lobo Neves que recusou o posto de presidente de província (vida pública) por sua superstição com o número 13 (vida privada). O narrador ainda não deseja esclarecer como ocorreu o movimento contrário, apenas conta que quatro meses após o último encontro com Lobo Neves, ele reconciliou-se com o ministério. Capítulo 101 – A revolução dálmata Virgília foi quem contou a Brás Cubas sobre a mudança dos rumos da carreira política do marido. Cubas logo concluiu que desta vez ela se tornaria baronesa, enfim. Cubas sabia do gosto de Virgília pela nobreza. Isto se prova por um caso que ela teve, durante três meses, com um diplomata da Dalmácia. O breve namoro findou-se devido a uma violenta revolução que ocorreu naquele país, exigindo a volta do diplomata – para a alegria de Cubas. Capítulo 102 – De repouso O autor insinua contar um fato que o desmoralizaria, uma ação grosseira, baixa, inexplicável. Mas recua, deixando este capítulo apenas “para repouso de seu vexame”. Capítulo 103 – Distração Certo dia Brás Cubas atrasou-se em uma hora ao encontro com Virgília na casa da Gamboa. Dona Plácida chorava ao relatar que Virgília deixara a casa triste pelo desamparo que sofreu. Cubas argumentava que havia ocorrido uma simples distração. Após três dias Cubas pediu desculpas a Virgília, mas ela não se satisfez e atacou seu amante, fazendo elogios a seu marido, comparando-os… Brás estava quieto observando uma mosca e uma formiga que se atracavam no chão, quando foi cobrado pela mulher, ela queria alguma resposta. Cubas explicou que não havia resposta a dar, que ela parecia querer romper o relacionamento, Virgília concordou.
  • 12. Um brinco de Virgília caiu e foi parar junto à mosca e à formiga. Brás Cubas pegou os insetos e os separou: ambos saíram satisfeitos. [Aqui ocorre uma metáfora da separação entre os insetos e a separação do casal de amantes.] Capítulo 104 – Era ele! Virgília preparava-se para sair quando Dona Plácida, que espreitava a rua pela janela, avisou que seu marido se aproximava. Primeiramente Virgília, assustada, escondeu-se, e Brás Cubas pôs-se a esperar por Lobo Neves. Mas em um instante ela se recuperou e decidiu mandar Cubas para o quarto. Lobo Neves entrou, vasculhando a casa com olhares desconfiados, explicando que decidiu entrar ao ver Dona Plácida na janela. Dona Plácida o recebeu dizendo que Virgília estava de visita. Sem demonstrar qualquer desespero, Virgília informou que já estava de saída e que iria junto com o marido, então. Capítulo 105 – Equivalência das janelas Assim que Dona Plácida fechou a porta e sentou-se, Brás Cubas saiu do quarto dizendo que iria à rua e arrancaria Virgília do marido. Ouvindo isso, Dona Plácida o impediu, segurando-o pelo braço. O próprio Cubas não soube definir se Dona Plácida o impediu por ele ter dito em voz alta suas intenções, ou se ele falou em voz alta para que Dona Plácida o impedisse. A conclusão que chega é que sua ação seguia a regra da equivalência das janelas, que abordou no capítulo 51: o tempo que esteve escondido no quarto era uma janela fechada que ele compensava tentando atirar-se para fora da casa. Capítulo 106 – Jogo perigoso Brás Cubas estava num momento de introspecção, imaginando o que acontecia na casa de sua amada, se Lobo Neves seria violento, ou se a expulsaria de casa… Teria sido melhor Virgília ter se escondido e ele ter recebido Lobo Neves? Crê que não, pois poderia manchar esta história com sangue. Dona Plácida, que resmungava, lamentando todos os acontecimentos, aprontou-se para ir à casa de Virgília. Cubas alertou para o perigo da situação, mas a senhora prometeu precaução. Sozinho, Brás Cubas começou a pensar em outra vida para si. Uma vida estável, casado, com um filho, em contraponto ao jogo perigoso que viveu que teve até então. Capítulo 107 – Bilhete É transcrito o bilhete que Virgília enviou a Brás Cubas por meio de Dona Plácida, dizendo que Lobo Neves estava sério, quieto, mas não a maltratou. Pedia cautela, muita cautela. Capítulo 108 – Que se não entende O narrador alerta o leitor para a frieza que há no bilhete. E assume que após lê-lo por diversas vezes experimentou um sentimento confuso, um medo que “não era medo”, um dó que “não era dó”, uma vaidade que “não era vaidade”, um “amor sem amor” – algo que não se entende, e que nem ele entendeu. Capítulo 109 – O filósofo Após uma breve refeição, intercalada com releituras do bilhete de Virgília, Brás Cubas foi levado a uma reflexão por Quincas Borba, que o visitava. Quincas defendia que em seu sistema, o Humanitismo, não era necessária uma vida modesta, pelo contrário, o prazer era bem-vindo. Cubas descreve o novo Quincas Borba, um homem bem aprumado, elegante. Ele havia herdado uns contos de um velho tio. Mas Brás Cubas não estava disposto ás filosofias do amigo, ele descreve sua alma como uma peteca que era lançada ao alto, ora pelos pensamentos de Quincas, ora pelo bilhete de Virgília. Quincas Borba, compreendendo a situação de Cubas, se retira, convidando-o para conhecer a fundo seu Humanitismo. Capítulo 110 – 31 Em uma semana Lobo Neves estava novamente nomeado presidente da província. Ansioso por ver alguma nova coincidência com o número 13, que poderia evitar a viagem mais uma vez, Brás Cubas descobriu que a publicação ocorreu no dia 31 – uma simples inversão de algarismos, e tudo estava resolvido! Capítulo 111 – O muro Virgília e Lobo Neves estavam às vésperas da mudança quando Brás Cubas encontrou um papelzinho dobrado sobre a mesa na casa de Dona Plácida. O bilhete era de Virgília, chamando Cubas para um encontro noturno em sua chácara, avisando ainda que “o muro é baixo do lado do beco”. Brás considerou a situação ridícula e o encontro insensato – imagine que o pegassem pulando um muro! Apesar disso, decidiu aceitar o chamado. Porém, ao perguntar a Dona Plácida onde seria o encontro, ela disse não saber de nada: aquele era apenas um bilhete antigo que ela tirara da gaveta, mais cedo. Brás Cubas releu o velho bilhete, lembrou-se do início do namoro, quando ele efetivamente havia pulado o tal muro. Teve uma “sensação esquisita”. Capítulo 112 – A opinião No mesmo dia Cubas encontrou Lobo Neves na rua e lhe falou sobre política e sobre a presidência. Na primeira oportunidade, quando passou um conhecido, Lobo Neves se despediu e distanciou-se de Brás Cubas, como se estivesse com medo de sua figura. O autor levanta um questionamento sobre o comportamento de Lobo Neves: ele não agia daquela forma exatamente por medo de Brás Cubas, mas por medo da opinião pública. Da mesma forma, talvez já não amasse sua mulher, talvez quisesse separar-se após descobrir a traição, mas não o fazia, novamente por medo da opinião pública. Sem poder mostrar ressentimentos com Cubas, por não querer separar-se de Virgília, Lobo Neves simulava ignorância sobre o caso. Talvez todas essas manobras custassem muito a Lobo Neves. Mas seriam custos que o tempo compensaria, já que de sua vida restaria seu filho, sua reputação, e nenhuma mancha de sangue em sua biografia. Capítulo 113 – A solda
  • 13. Ainda sobre o capítulo anterior, a conclusão a qual o narrador chega é que a opinião pública é uma ótima solda, tanto na ordem doméstica quanto política. Apesar de alguns desmerecerem a opinião pública, como coisa de gente medíocre, que teria um fim em si mesma, a verdade é que ela tem efeitos muito maiores e importantes na vida dos homens. Capítulo 114 – Fim de um diálogo Ocorre o último diálogo entre Virgília e Brás Cubas, antes da partida para a província. Ela pergunta se ele vai também embarcar, ele recusa o que consideraria uma loucura. Ela pede que visite Dona Plácida, pois ela receberia possíveis correspondências suas. Voltariam a se ver em menos de dois anos. Terminam a conversa rapidamente quando percebem que há alguém os observando. Capítulo 115 – O almoço No momento em que Virgília embarcava, Cubas sentiu alívio e saudade, em doses iguais. Poderia ter descrito um grande sofrimento, que caberia muito melhor em um romance, mas o livro que escrevia era uma biografia, portanto foi fiel aos fatos. Teve seu almoço, no hotel Pharoux, entre lembranças de suas aventuras e as delícias da cozinha de M. Prudhon, com as quais “enterrava magnificamente” seus amores, que nunca voltariam à mesma forma. Capítulo 116 – Filosofia das folhas velhas O último capítulo entristeceu Brás Cubas, que ficou largado em casa, a observar moscas. Nesse período morreu seu tio cônego, nasceu sua sobrinha Venância. E ele continuava às moscas. Às vezes Brás Cubas abria suas gavetas e retirava folhas velhas, antigas cartas, de amigos, namoradas, e as lia, remontando seu passado. Sugere ao leitor que guarde suas cartas de juventude para que possa, da mesma forma, no futuro, “cantar suas saudades”. Capítulo 117 – O Humanitismo Havia três forças que impeliam Brás Cubas a voltar a viver como antes: uma era Sabina, empenhada na sua união com Nhã- loló; outra era Quincas Borba, que enfim apresentou-lhe seu Humanitismo. “Humanitas” seria o princípio de tudo, a substância da qual se compõe todos os homens. Ela teria algumas fases: “estática”, antes do surgimento de universo; “expansiva”, no surgimento do universo; “dispersiva”, quando surge o homem, uma “multiplicação personificada da substância original”; e “contrativa”, na futura absorção do homem e das coisas. O “Humanitismo” se compara ao Bramanismo – organização hindu que determina a organização da sociedade em castas. Assim, haveria homens fortes, originados de partes fortes do “Humanitas”, e outros fracos. A vida seria o maior benefício concedido pelo Humanitas, fazendo com que todo ser que nasça queira gozá-la tal qual seu genitor. A única coisa negativa seria não nascer. A inveja, por exemplo, é vista como um sentimento danoso pela maioria das religiões; mas no Humanitismo ela é apreciada como autêntica emanação do Humanitas, já que os homens, por terem uma mesma origem, se invejam. Da mesma forma homens que atacam são Humanitas, pois a luta é uma de suas funções. Neste momento Cubas estava estupefato pelas revelações do colega. Quincas devorava uma asa de frango quando voltou a filosofar. O frango que ele comia era o resultado de diversos esforços (desde escravos trazidos da África, em navios construídos por outros homens, etc.) com o objetivo de saciar sua fome. O Humanitismo era a destruição da dor, já que esta seria uma ilusão – consciente de ser parte do Humanitas, todos saberiam que cumpriam seu papel, sem sofrimentos. Quatro volumes tinha a obra de Quincas Borba, escrita em letras miúdas. O último tratado era político, no qual era revelado que mesmo com a reorganização da sociedade, a guerra, a fome e a miséria não cessariam, pois não seriam motivo de impedir a felicidade humana. Capítulo 118 – A terceira força A terceira força que motivava Cubas era a vontade de ter fama, a incapacidade de viver só. Lamenta que a ideia de seu emplasto não lhe tenha chegado naquela época de sua vida. Capítulo 119 – Parêntesis O autor abre parêntesis na sua história para registrar máximas que criou nesse período. Aconselha usá-las como “epígrafe a discursos sem assunto”. São elas: “Suporta-se com paciência a cólica do próximo.” “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.” “Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.” “Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.” “Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta é a reflexão de um joalheiro.” “Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.” Capítulo 120 – Compelle intrare Sabina alertou Brás Cubas que ele havia de casar-se e ter filhos. Isto sobressaltou Cubas: filhos! Estava disposto a aceitar Nhã-loló para que ela lhe desse um filho. Foi ter com Quincas, confidenciando-lhe suas intenções. O filósofo declarou que era o Humanitas que se manifestava nele, levando-o ao casamento, convidando novos seres à vida: Compelle intrare, expressão de Jesus que seria um prenúncio ao Humanitismo. Capítulo 121 – Morro abaixo Em três meses tudo corria perfeitamente: Cubas se dava bem com Sabina, com Damasceno e sua filha Nhã-loló. A lembrança de Virgília surgia em poucos momentos, logo compensada pela visão de sua nova pretendente. Certo dia, após assistir à missa na capela do Livramento, desciam o morro Damasceno, Cubas e Nhã-loló. Uma rinha de galos chamou a atenção do pai, que parou para assistir. O casal seguiu descendo, Brás Cubas abriu um guarda-sol e eles se beijaram. Nosso narrador descreve que naquele momento sentiu-se mais novo, como se tivesse descido o morro dos anos, de volta à sua juventude. Aguardaram, envergonhados, por Damasceno ao pé do morro. Ele vinha acompanhado dos demais apostadores, que comentavam a briga.
  • 14. Capítulo 122 – Uma intenção mui fina A vergonha de Nhã-loló surgia pelo comportamento de seu pai. O interesse pela rinha de galos revelava sua origem pobre e, imaginava ela, poderia fazer com que Cubas não o desejasse como sogro. A moça era atraída pela polidez de uma vida elegante, mas suas origens a perseguiam. Brás tentou relevar o ocorrido, fazendo piadas, mas nada tirava Nhã-loló daquela tristeza. Essa atitude fez Cubas entender que ela intencionava separar as causas dela das causas de seu pai, e isto o animou para “arrancar esta flor a este pântano”. Capítulo 123 – O verdadeiro Cotrim Antes de pedir a mão de Nhã-loló, Cubas decidiu consultar seu cunhado, tio da garota, Cotrim. Este, surpreendentemente, alegou que não daria opinião em negócios de seus familiares, terminando por confessar que não aconselharia sua sobrinha a casar-se com Brás Cubas. Sem entender muito bem os escrúpulos de seu cunhado, que por vezes o aconselhou a casar-se, inclusive pela importância política do matrimônio, o narrador ainda o defende: Cotrim era um homem honrado, um tanto avarento – o que não seria um vício, mas sim a “exageração de uma virtude”; maltratava seus escravos – mas apenas os perversos e fujões; contrabandeava negros – mas isso não era algo que provinha de sua índole, era efeito de suas relações sociais. A prova dos bons sentimentos de Cotrim estava no seu amor aos filhos, inclusive na dor que sofreu com a morte da filha Sara. Além disso, ele participava de irmandades, realizava boas ações. Talvez um defeito fosse uma mania de publicar nos jornais as benfeitorias que praticava, mas mesmo isto poderia ser justificado: ações de caridade eram contagiosas, quando bem divulgadas. Capítulo 124 – Vá de intermédio O narrador decide inserir este capítulo para preparar o leitor para o seguinte, que dá um salto de um retrato a um epitáfio, o que poderia causar um enorme abalo. Capítulo 125 – Epitáfio Neste capítulo há a transcrição do epitáfio de Eulália Damascena, a Nhã-loló, morta aos dezenove anos. Capítulo 126 – Desconsolação Nhã-loló morreu na primeira entrada da febre amarela. No seu enterro Brás Cubas não chegou a chorar — talvez não a amasse de fato. A morte daquela jovem que seria sua esposa, bem como a de tantos outros na mesma época, fez com que Cubas se sentisse mal. Quincas Borba, no entanto, argumentou que as epidemias tinham sua utilidade para humanidade, observando a sobrevivência dos que não morriam. Na missa de sétimo dia Damasceno estava desconsolável. Doía-lhe, além da perda da filha, o fato que apenas doze pessoas compareceram ao enterro, quando foram enviados oitenta convites. Cotrim tentou amenizar, dizendo que os doze presentes eram realmente interessados na família, o restante estaria ali apenas por formalidade. Damasceno rebateu: que fosse por formalidade, mas que viessem! Capítulo 127 – Formalidade O narrador elogia seu próprio dom intelectual de encontrar relação entre coisas distintas, fazer comparações e chegar a conclusões. Por exemplo, certo dia estava observando um retrato de seis damas turcas que trajavam o tradicional véu que deveria tapar o rosto. No entanto o véu era transparente e permitia ver suas faces por inteiro. A relação que tirou daí, com o desconsolo de Damasceno pela falta dos convidados no enterro de sua filha, está na exigência da formalidade. O véu cumpria com a formalidade tradicional de cobrir o rosto, mesmo que seu efeito não fosse exatamente de escondê-lo. Considerando isto, Cubas faz um elogio à formalidade, uma intermediária entre os homens e também entre os homens e seus deuses. Mais valeria uma ação formal, mesmo que sem uma intenção genuína, do que uma intenção sem a devida formalidade. Capítulo 128 – Na câmara Brás Cubas teve esta visão das mulheres turcas quando estava na câmara de deputados ouvindo um discurso de Lobo Neves, dois anos após a morte de Nhã-loló. A vida tinha feito com que ambos, enfim, dividissem o mesmo espaço como deputados — para isso, Lobo Neves continha seu ressentimento, Cubas deveria conter seu remorso. Deveria, mas não continha nada a não ser a ambição de ser ministro. Capítulo 129 – Sem remorsos Brás Cubas não tinha remorsos. O narrador questiona personagens literários que demonstraram remorso por seus atos, tentando entender seus motivos, e esclarecendo que ele se diferenciava simplesmente por não ter remorsos. Capítulo 130 – Para intercalar no capítulo 129 O narrador faz um adendo ao capítulo anterior: a primeira vez que falou com Virgília desde a volta da província foi num baile. Ela estava formosa, sem o frescor da juventude, mas ainda formosa. A conversa fluiu sem aludir claramente ao passado, mas deixava subentender lembranças de ambos os lados, discretamente. Em certo momento, quando Virgília descia as escadas, Brás Cubas foi alvo de um “ventriloquismo cerebral” em que soltou a exclamação: “Magnífica!”. Capítulo 131 – De uma calúnia Quando seu “ventriloquismo cerebral” forçou-o a elogiar Virgília, um colega tocou-lhe o ombro e disse “Seu maganão! Recordações do passado, hem?”, Cubas respondeu “Viva o passado!” e o colega questionou se ele tinha sido “reintegrado no emprego”. Deste diálogo o narrador analisa que, apesar de as mulheres terem fama de serem indiscretas, os homens é que o são. Em questão de aventuras amorosas, mulheres negam tudo, dizem que são calúnias; enquanto os homens se orgulham do feito, o consideram uma vitória sobre o outro homem – que não deve ser omitida. A indiscrição feminina é, portanto, invenção dos homens. As mulheres pecam, somente, por não resistir a alguns gestos e olhares. Citando a rainha de Navarra, “Não há cachorrinho tão adestrado, que ao fim lhe não ouçamos o latir.” Capítulo 132 – Que não é sério Seguindo o dito da rainha de Navarra, o autor lembra que quando alguém está irritado, diz-se: “quem matou seus cachorrinhos?” como se dissesse “quem lhe levou seus amores?” Em seguida adverte que este capítulo não é sério.
  • 15. Capítulo 133 – O princípio de Helvetius O diálogo sobre Virgília tratou-se de um equívoco que pode ser explicado pelo princípio de Helvetius — segundo o qual o homem age sempre de acordo com seus interesses. A princípio o interesse de Cubas era calar-se, não dar abertura para a discussão de sua história de amor com Virgília; mas na realidade, como havia assinalado nos capítulos anteriores, sendo ele um homem, havia outro interesse mais imediato, espontâneo, que o fez escancarar seu antigo relacionamento perante seu amigo. Capítulo 134 – Cinquenta anos Naquele momento, em que Virgília descia a escada, tinha Brás Cubas cinquenta anos. Era a melhor parte da vida de Cubas que descia escada abaixo — uma parte cheia aventuras e prazeres, bem como dissimulação e duplicidade — isso analisando sua vida sob uma linguagem usual. Sob uma linguagem mais sublime, a melhor parte é a que ainda está por vir, no restante deste livro. O autor observa que, devido a este avanço no tempo, seu estilo já não é tão ágil. E por causa daquele baile, após embriagar- se na juventude que o cercava, percebeu, ao voltar a seu carro, que aquela rejuvenescência não emanava dele, mas era apenas um reflexo dos outros. Capítulo 135 – Oblivion O narrador avisa as possíveis leitoras de seu livro que podem parar por ali: acabaram-se as histórias amorosas. E percebe que logo mais ele terá contato com o esquecimento. Oblivion — esquecimento — é um personagem desprezado, mas sempre presente nos últimos momentos da vida. Percebe-o aquele que já passou do ápice de sua história e vê outros mais jovens tomarem seu posto. E é possível ver este movimento sem lastimá-lo, pois se sabe que aquele jovem que tomou seu lugar um dia também será alvo do oblivion. Tudo isso faz parte do espetáculo que diverte Saturno — deus romano equivalente a Cronos, senhor do tempo, que devorava seus próprios filhos. Capítulo 136 – Inutilidade O autor comenta que o capítulo anterior foi inútil. Capítulo 137 – A barretina Corrigindo-se, o autor diz que o capítulo 135 não foi inútil: ele resume o que debateu com Quincas Borba no dia seguinte, quando se sentia deprimido. Quincas animou-o: ele deveria lutar até o fim, pois “a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas”. Após o conselho do filósofo, Brás Cubas decidiu entrar de vez na vida política, não mais como mero coadjuvante: preparou um discurso que defendia a diminuição da barretina da guarda nacional! Este tema “importantíssimo” gerou alvoroço na câmara, unindo prós e contra num debate acalorado. Ao fim, ainda que com o apoio moral de Quincas Borba, Brás Cubas recuou diante da pressão dos parlamentares e aceitou que a mudança da barretina não fosse imediata, que fosse alvo de maiores estudos. Capítulo 138 – A um crítico Atendendo a um possível crítico de seu livro, o narrador explica que quando, num dos capítulos anteriores, disse que seu estilo não era mais tão ágil devido sua idade, não estava se referindo à idade depois de morto — a morte não envelhece! Mas sim ao fato de que, ao narrar, experimenta a mesma sensação do período que narra. Capítulo 139 – De como não fui Ministro d’Estado Este capítulo é uma sequência que reticências (……….) pois, conforme o autor explica no capítulo seguinte, há coisas que melhor se dizem calando. Capítulo 140 – Que explica o anterior O capítulo anterior foi apenas uma sequência de reticências, pois “há coisas que melhor se dizem calando”. Ao perder a cadeira na câmara de deputados, Brás Cubas ficou inconsolável. Quincas Borba observou que isto acontecia porque ele não era movido pela paixão do poder, a qual o levaria ao seu objetivo, quaisquer que fossem os meios; mas por um capricho, o que lhe causa maior desencanto uma vez não alcançado. E daí ele aplicaria esta teoria ao seu Humanitismo… Mas Brás Cubas não permitiu e pediu que se calasse. Ficou Cubas em sua sala, com suas janelas, seus pássaros, seus livros, sua cadeira que, no entanto, não encobria a saudade que tinha da cadeira que não mais era dele. Capítulo 141 – Os cães Questionado por Quincas o que iria fazer então, Brás informou que pretendia se isolar dos homens, morar só na Tijuca. O filósofo rebateu esta ideia: ele deveria lutar de alguma forma, fundar um jornal, quem sabe, o essencial era lutar. Esta proposta convenceu Brás Cubas. Saíram a caminhar quando cruzaram com dois cães a brigar por um osso. Quincas Borba logo remeteu a cena aos princípios do seu Humanitismo, enxergando beleza naquela luta. Ao fim um dos cães saiu com o osso, o outro saiu ferido. Quincas lembrou ainda que há situações em que criaturas humanas disputam o osso com os cães, tornando a batalha ainda mais interessante, pela ação da inteligência do homem. Capítulo 142 – O pedido secreto Cubas ainda questionou por que seria interessante uma disputa entre um homem e um cão, por um osso. Quincas argumentou que há personagens religiosos que se alimentaram de coisa muito pior por obediência a deus, portanto, poderia restaria saber se seria mais digna a alimentação motivada unicamente pela fome. Chegando à sua casa, Brás Cubas recebeu uma carta de Virgília: pedia que visitasse Dona Plácida, pois estava doente, morando no Beco das Escadinhas, e deveria levá-la para a Misericórdia (hospital). Quincas Borba retirava um livro da estante para embasar suas teorias: Pascal havia dito que o homem tem “uma grande vantagem sobre o resto do universo: sabe que morre, ao passo que o universo ignora-o absolutamente”. Daí sentenciou uma frase que considerou mais profunda que a de pascal: o homem “sabe que tem fome” — afinal, a morte é definitiva para o ser, enquanto a fome vai e volta. Capítulo 143 – Não vou
  • 16. Durante o jantar Brás Cubas relia o bilhete e pensava como poderia Dona Plácida ter gasto os cinco contos que havia lhe dado. Imaginou que ela teria perdido tudo em festas, em luxos inúteis, e agora merecia sofrer pelo seu erro. Além disso, não sabia onde ficava o Beco das Escadinhas, e não se sujeitaria a visitar um lugar com esse nome, podendo chamar a atenção da vizinhança. Ela não iria. Capítulo 144 – Utilidade relativa Durante a noite, porém, seu pensamento foi mudado: deveria obedecer ao pedido de sua antiga dama. Chegando à casa de Dona Plácida, ela estava moribunda, sozinha, em sua cama. Levou-a para a Misericórdia e em uma semana morreu. Ou melhor, amanheceu morta: saiu da vida às escondidas, da mesma forma que entrara. Cubas se perguntava novamente, como havia feito no capítulo 75, se era para isso que o sacristão da Sé e a doceira a colocaram no mundo. Chegou à conclusão que a vida de Dona Plácida teve sim uma utilidade: a de possibilitar seu romance com Virgília. Uma utilidade relativa, mas, afinal, o que há de absoluto no mundo? Capítulo 145 – Simples repetição Como Dona Plácida perdeu os cinco contos? Um homem da vizinhança fingiu-se enamorado por ela, pegou seu dinheiro, sumiu. Apenas uma repetição do capítulo dos cães de Quincas Borba. Capítulo 146 – O programa Estava na hora de fundar o jornal. Brás Cubas redigiu seu programa de acordo com princípios do Humanitismo, sem lhe fazer referência direta, já que o livro de Quincas ainda não havia sido editado. O filósofo apenas solicitou uma declaração que afirmasse que alguns dos princípios aplicados à política haviam sido retirados de seu livro. O programa prometia curar todos os males da sociedade, em todos os aspectos e, para isso, derrubar o atual ministério. Esta última posição foi contestada por Quincas Borba, que a achou mesquinha e de alcance apenas local. Mas Cubas convenceu-lhe que ela era uma aplicação direta do Humanitismo: toda disputa, toda guerra, possuía a mesma beleza que movia o Humanitas. O desenvolvimento deste programa fez Quincas Borba reafirmar suas posturas filosóficas como verdades eternas e identificar Brás Cubas como seu grande discípulo. Capítulo 147 – O desatino Cubas publicou na imprensa uma breve nota avisando que estava prestes a montar um jornal oposicionista. Imediatamente surgiu Cotrim pedindo-lhe que desistisse de seu intento: era um desatino, ele poderia pleitear uma vaga no ministério, não havia vantagem em contrariá-lo… Mas Cubas foi implacável. Mais tarde, no teatro, Sabina também tentou mudar suas ideias, mas de nada adiantou: tinha a intenção de derrubar o ministério, que estava inadequado à situação e às suas convicções filosóficas. Capítulo 148 – O problema insolúvel Depois de publicado o jornal oposicionista, surgiu uma nota em outros jornais, assinada por Cotrim, afirmando que não tinha qualquer influência nos ideais levantados por Brás Cubas em suas publicações, que o atual ministério estava cumprindo seu papel devidamente, que reprovava os procedimentos de seu cunhado. Cubas ficou incrédulo com o que leu: não havia necessidade de ele tornar pública a desavença familiar. Além disso, quando deputado, Brás era um parceiro de Cotrim no que ele necessitasse. Sua atitude era um destempero e uma ingratidão, um problema insolúvel. Capítulo 149 – Teoria do benefício Quincas Borba, a pedido de Brás Cubas, expôs sua opinião acerca da suposta ingratidão de Cotrim. Para o filósofo, tudo era explicado pela “teoria do benefício”: aquele que é beneficiado sai de um estado de privação para um estado neutro, ou seja, indiferente, e logo a memória da ajuda recebida se esvai; enquanto aquele que beneficia um necessitado sai de um estado neutro para um estado sublime, causado pela alegria de ter ajudado outrem, bem como por sentir-se superior a este outrem, situação que fica gravada na memória com maior firmeza. Daí que Cubas esperava alguma gratidão de Cotrim por suas benfeitorias, enquanto Cotrim não levava o passado em conta. Capítulo 150 – Rotação e translação O narrador pondera que em tudo na vida há um ciclo de nascimento e morte. Cada homem tem diversos nascimentos e mortes ao longo da vida. Utilizando uma metáfora astronômica: há o movimento de rotação e o de translação, a vida de um ser humano é uma translação composta de diversas rotações. Cubas estava encerrando uma rotação: a de seu jornal. Seis meses após a primeira publicação, que restituiu ao autor a força da juventude, ele já chegava à sua própria velhice. No mesmo momento Lobo Neves estava concluindo seu movimento de translação: às vésperas de alcançar o posto de ministro, ele faleceu. Brás Cubas admite que, da mesma forma que sentiu irritação e inveja ao saber da possível nomeação de Lobo Neves, também teve um ou dois minutos de prazer ao saber desta morte. No enterro Virgília chorava lágrimas verdadeiras. Cubas não conseguiu falar nada, “levava uma pedra na garganta ou na consciência”. O ambiente do cemitério desagradava nosso narrador. Capítulo 151 – Filosofia dos epitáfios Andando pelo cemitério e lendo os epitáfios, Brás Cubas admira as mensagens que lê: são uma expressão do “pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra do que passou”. Capítulo 152 – A moeda de Vespasiano Voltando para casa, Brás Cubas pensava nos soluços sinceros de Virgília, que havia traído o marido com igual sinceridade. Encontra uma explicação para os fatos aparentemente contraditórios: a dor não leva em conta sua origem, tal qual a moeda de Vespasiano. [Vespasiano era um imperador romano que, para restaurar as finanças do império, impôs tributos até para o uso das latrinas. Questionado por seu filho, ele se justificou: “o dinheiro não tem cheiro”.] Capítulo 153 – O alienista Cubas sonhou que era nababo (homem poderoso e ostentador de riqueza). Acordou crendo ser nababo, imaginando uma revolução social em que trocaria as pessoas de papéis para observar seu comportamento…
  • 17. Contando isto para Quincas Borba, foi taxado de louco. Ele não se sentia louco, mas como nenhum louco se crê louco, não queria dizer muita coisa. Em alguns dias surgiu um alienista (médico que cuida de loucos, alienados), enviado por Quincas Borba. Ao analisar Brás Cubas, afirmou que ele era perfeitamente são e alertou que seu amigo filósofo é que estava enlouquecendo. Brás Cubas incomodou-se com a notícia e o alienista amenizou a situação, dizendo que um pouco de sandice não era tão mal. Como Cubas não concordou com esta opinião, o médico rebateu com um argumento que merecia um capítulo próprio — o próximo. Capítulo 154 – Os navios do Pireu Contou o alienista que havia um famoso pobretão na Grécia antiga que ficou conhecido como “o maníaco ateniense”. Em sua loucura, ele acreditava que todos os barcos que atracavam no porto de Pireu eram seus — e aquilo era sua extrema felicidade. Comparou a situação do criado de Brás Cubas: cuidava da casa do patrão como se fosse dele, e aquilo o alegrava. Capítulo 155 – Reflexão cordial Brás Cubas percebeu que não havia o que lastimar sobre a situação de Quincas Borba. No entanto, era prudente cuidar para que o estado de seu amigo não piorasse. Capítulo 156 – Orgulho da servilidade Sobre a comparação do maníaco ateniense e seu criado, Quincas Borba teve uma opinião divergente: as imagens tinham uma semelhança superficial, o que motivava o criado, porém, não era uma mania, mas sim o “orgulho da servilidade”, o desejo de ser não apenas mais um criado, mas o melhor criado — prova de que mesmo nas atividades mais degradantes, o homem podia ser sublime. Capítulo 157 – Fase brilhante Devido à análise de Quincas Borba, Brás Cubas parabenizou-o e afirmou que não poderia estar louco, como dissera o alienista. Ao saber dessa suspeita, Quincas estremeceu. Nessa época Cubas reatou suas relações com Cotrim, sendo convidado a entrar para uma Ordem em que praticava caridade. Quincas Borba o apoiou, e apenas o advertiu que sua verdadeira religião deveria ser o Humanitismo, que um dia haveria de dominar o mundo — cristianismo, budismo e demais religiões orçavam pela vulgaridade e fraqueza, um dia sucumbiriam. Brás Cubas alegrou-se muito com suas benfeitorias e ressalta sua modéstia ao não listar todos os auxílios que prestou aos pobres e enfermos. Foi esta a fase mais brilhante de sua vida. Capítulo 158 – Dois encontros Em alguns anos Cubas cansou-se do trabalho na Ordem e deixou um donativo suficiente para que ganhasse o direito a um retrato seu na sacristia. O narrador ainda lembra que nesse período viu a linda Marcela morrer no hospital da ordem, já feia, magra, decrépita, um dia após sua internação. Também encontrou Eugênia, sua Vênus manca, em um dos cortiços que ele visitava distribuindo esmolas. A garota ficou pálida ao reconhecê-lo, mas em seguida ergueu a cabeça. Vendo que ela não aceitaria esmolas suas, Cubas apenas estendeu-lhe a mão como faria a uma dama. Não soube como Eugênia chegara àquele estado de pobreza, somente percebeu que continuava coxa e triste. Capítulo 159 – A semidemência Cubas estava velho. Quincas Borba tinha partido para Minas Gerais e, quando voltou, estava demente. Havia queimado todos os livros de seu Humanitismo e prometia reescrevê-los. O que mais entristeceu Brás é que Quincas sabia que estava enlouquecendo, e ainda brincava com o fato, dizendo que seria mais uma ação do Humanitas. Recitava longos capítulos de livros, chegou a inventar uma dança sacra para cerimônias religiosas do Humanitismo. Morreu pouco tempo depois, ainda defendendo suas filosofias. Capítulo 160 – Das negativas Da morte de Quincas à morte de Cubas, passaram-se os fatos dos primeiros capítulos, entre eles a brilhante ideia do emplastro Brás Cubas — que por não ter sido fabricado, manteve o estado hipocondríaco de todos que continuaram vivos. Como conclusão, Brás analisa que teve uma vida de negativas: não alcançou celebridade, não foi ministro, não se casou… Pelo lado “bom” dessas negativas, nunca comprou seu pão com o suor de seu rosto, não enlouqueceu como Quincas, não morreu como Dona Plácida. Fazendo as contas, seria possível imaginar que o jogo terminou empatado. Mas o narrador ressalta uma negativa que lhe dá algum saldo: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. TESTES 01. (ESPCEX – SP) – Sobre Machado de Assis e suas obras, é correto afirmar que: a) como muitos autores de tradição, iniciou a carreira escrevendo romances realistas, convertendo-se, mais tarde, ao Naturalismo. b) manifesta, em cada romance que escreveu, as várias fases de sua biografia, com uma linguagem desprovida de metáforas. c) as obras da fase madura caracterizam-se pela prática de uma poesia e de um teatro originais, que superam as velhas convicções dos escritores clássicos. d) em seus romances, por serem de tese, procura sempre colocar o determinismo como responsável pelas ações dos personagens. e) em suas narrativas apresenta uma análise profunda dos sentimentos humanos e o rompimento com a ordem cronológica tradicional. 02. (UCS – RS) – Em relação à obra de Machado de Assis, é correto afirmar que: a) descreve paisagens rurais com precisão de detalhes, o que toma a narrativa mais lenta. b) constrói o cenário do Rio de Janeiro com personagens do subúrbio e revela a luta de classes em que marinheiros ascendem a postos de aristocratas. c) faz das fraquezas humanas objeto de reflexão constante. d) prevalece em seus romances a luta do velho contra o novo; os filhos vão se apoderando dos bens paternos ainda enquanto os pais estão vivos, o que provoca conflitos de gerações.