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OS RETORNADOS
DA TROIKA
MILIONÁRIOS
DO CIMENTO
RIBEIRO
JOSÉ
MANUEL
FELIX
´
´
SEXTA
16.05.14
A construção europeia
é um desastre
Sexta-feira/16deMaiode2014/Negócios
NOME: RICARDO CORREIA
PROFISSÃO: ACTOR E ENCENADOR
PAÍS DE EMIGRAÇÃO: INGLATERRA
REGRESSO: JULHO 2013
Depois de uma temporada em
Londres, sentiu esmorecer uma
indignação que já “não sabe
reconhecer contra quem é que se
grita nas manifestações, que não
sabe quem são os alvos”.
10
11
ANTÓNIO LARGUESA
alarguesa@negocios.pt
REPORTAGEM
troika
Os retornados da
Pedro Elias
Ouviram a família e os amigos questionarem a sua loucura porterem regressado de livre vontade a um País
ainda amarrado a uma intervenção externa, que reencontraram zangado, mais disposto a arriscar, metido
num desaconchego. Ei-los que voltam, “talvez não sejam uma minoria tão pequena”.
omasmalasdatroikacolocadasàporta
deumasaída“limpa”,aemigraçãoficará
para a história que se escreverá adiante
comoumadasmaispesadasherançasda
criseiniciadaem2008eprolongadanope-
ríododeajustamentoemcurso.Enquanto
osurtomigratórioteimaemcontinuaraen-
grossarasfilasdosterminaisdepartidados
aeroportos,opaísjácomeçouaabsorver
umaminoria–queJoãoPeixoto,doObser-
vatóriodaEmigraçãonotaque“talveznão
sejaumaminoriatãopequena”.Sãoospri-
meirosretornadosdatroika,quedecidiram
delivreeespontâneavontaderecomeçaras
vidasnesta“metrópole”quereencontra-
ramzangadaedescrente,maisresponsável
nascontasemetidanumdesaconchego.Ei-
losquevoltam,numacontraversãoabusi-
vadacantigausadaporManuelFreirepara
retratarosquepartiramnosanos1960“buscandoasortenoutraspara-
gens,noutrasaragens,entreoutrospovos”.Estesseisantigosemigrantes
nãoregressaramricos,voltaramporigual“contandohistóriasládelon-
ge”,todosouvindoosfamiliareseamigosaquestionaroslaivosmaisou
menosprofundosdeloucuradessadecisão.
OprocessoderepatriamentodeRitaRocha,35anos,acompanhouno
tempoaqueleemquesediscutiuaentradadatroikaemPortugal–ochum-
bodoPECIV,opedidodeajudaexterna,ademissãodeJoséSócrates,a
convocaçãodeeleiçõesantecipadas,anegociaçãodoprogramaeacam-
panhaeleitoralqueconduziuPassosePortasaopoder.EmMarçode2011,
antecipandootérminodocursodefotografiaemCardiff,iniciouàdistân-
ciaoscontactoseoenviodecurrículos.Econfirmou,aoconseguiruma
vagacomoformadoranoInstitutoPortuguêsdeFotografia,adesconfian-
çadeque,estudandonoestrangeiro,depois“teriamaisportasabertas”.
FormadapelaAcademiaContemporâneadoEspectáculo,noPorto,par-
tiuparaLondresem2004,quandoonegóciodaproduçãodeeventosar-
tísticoscomeçavaafraquejareasCâmaras,porexemplo,demoravamjá
novemesesapagar.Trêsanosdepois,querendoabraçarumhóbiquejá
associavaaosespectáculoslondrinos,inscreveu-senocursoeempregou-
-se,das17hàs23h,comorecepcionistadehotelnoPaísdeGales.
“NãodesistinuncadePortugal,semprequisvoltar.Aspessoasdiziam-
-me:‘tuésmaluca,istoestámuitodifícil,porqueregressas?!Masodinhei-
ronãopagatudo.Queriaestarcomosmeuspais,queaminhafilhaesti-
vessetambémcomosavós.Ehácoisasquenãosepagam:casajuntoda
praia,estesol,osvegetaiseafrutasabemcompletamentediferente”,enu-
meraajovemdaPóvoadeVarzim.Confessa“algumasorteetambémmé-
rito”porque“nuncadissequenão”.Nemafazer“unsbiscatesmuitíssi-
momalpagosemcasamentos,quemuitagenterejeitaria”,nema“iratodo
olado”parasedaraconheceraomercadoeretomarumarededecontac-
tosdiluídaemseisanosnoestrangeiro.Hojetemasuaprópriaempresa
quefotografacasamentoseprodutodeclientes,comoaMatutano,além
dedarformaçãoefazerfotografiadecena.Paraaemigraçãousaa“lente”
daapreensão.“Osquesaemsãopessoascomcoragem,algumafinco,aque-
lasdequemaisprecisávamosaqui:asquevãoàlutaequepodiamcomba-
terpornós”,lamentaRitaRocha,queencontrousobretudo“maisdes-
crença”aopôropéemPortugalquaseaomesmotempoqueatroika.
“Noteinaspessoasalgumdesânimo,algumapreocupação.Mastam-
bémquemuitasdelasagarraramoportunidades,oquesecalharnãoti-
nhamfeitonoutraaltura,comumaforçamaiorpararecomeçardepois
deperderemotrabalho,aseremmaispró-activoseaaproveitarosconhe-
cimentosparacomeçaroutrotipodenegócios”,completaFranciscoMa-
toseSilva,queregressouaPortugalemSetembrode2012,começouuma
empresapequenacomamigose,antesdofinaldesseano,assumiuocar-
godedirectordeexportaçãodoMontedaRavasqueira,projectovitiviní-
colaalentejanocomgestãoeexploraçãodaSociedadeAgrícolaD.Diniz,
ligadaháváriosanosàfamíliaJosédeMello.BaseadoemLisboa,com90%
dosimportadoresdeorigemestrangeira,sãofrequentesasviagensdetra-
balhoeainexistênciade“problemasdeadaptação”pelaexperiênciaacu-
muladacomoestudantenaRepúblicaCheca,comoestagiárioemXangai
(China)eemAngola,ondeestevetrêsanosatrabalharnodepartamento
demarketingemediadaRefriango,amaiorempresadebebidasnãoal-
coólicasdaquelepaísafricano.
LicenciadoemGestãopelaNova,olisboetasublinhaqueavontadede
serestabeleceremPortugalfoimaisfortedoqueacrisenomercadode
trabalhoouaperdadasregaliasque,comoexpatriado,permitiamumes-
tilodevidamaisfaustoso.“Mesmonãotendocondiçõesfinanceiraspara
terumavidatãofácilcomoláfora,gerindobemodinheiroconsegue-se
NOME: CARLA ANTÓNIO
PROFISSÃO: CIENTISTA
PAÍS DE EMIGRAÇÃO: ALEMANHA
REGRESSO: MAIO 2013
Nos últimos tempos em Berlim
começou a sentir a animosidade
de colegas alemães, “que se
viravam com atitudes estranhas,
do género ‘a Alemanha não tem
dinheiro para ti’”.
>>> página 12
C
Pedro Elias
Sexta-feira/16deMaiode2014/Negócios
terumavidaboa.Emtermosprofissionaiscomeçamaaparecer
maisoportunidades,éumaquestãodeasagarrarelutarporelas”,
apontou,semmargemdearrependimento.Aos32anos,sóequa-
cionariasairemdefinitivocomumapropostaeparaumpaísonde
ficassebastantesanos–“nãoseriasópelaaventuradesairoutra
vez”–,nãohesitandoemaconselharaexperiênciaaquemnuncaa
teveerecordandooperfilaltamentequalificadodepartedosno-
vosemigrantes,quetêm“mudadoaimagemdoportuguêsnoex-
terior”.
TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO
Otemadaemigraçãoocupouodebatepolítico-partidáriopra-
ticamenteduranteostrêsanosdeintervençãoexterna.Desdeos
primeirosmeses,aofimdosquaisváriosmembrosdoGoverno
“aconselharam”asaídadoPaís;atéaomomentorecentedoanún-
ciode“saídalimpa”,queaJuventudeSocialista,atravésdosecre-
tário-geral,JoãoTorres,considerou“umaViaVerdeparaaemi-
graçãojovem”.Desde2008estima-sequeterãosaídopertode400
milportugueses,eumapartesignificativajánaeradatroika.Se-
gundodadosdoINE,noanodopedidodoresgateabalaramquase
101milportugueses(pertode40%deformapermanente)eem
2012ototaldesaídassubiupara121mil,mantendo-seaproporção
dosquedeclararamnãopretendervoltarnoespaçodeumano.Em
númerosredondos:333portuguesesaemigraracadadia.
“Quandooprimeiro-ministrodisseparaemigrarmosestavaa
pensarnoscofresdoEstadoporqueémenosumproblema.Mas
tambémnãoseperdenadaporqueocapitalhumanoestavainves-
tidonoscentrosdeemprego”,ironizaCarlosRibeiro.Depoisdecin-
co anos de experiência em projectos de desenvolvimento de
“software”noestrangeiro,regressouacasa,emdefinitivo,noNa-
talde2011,oprimeiroquetevepresentesenvenenadosdatroika
debaixodopinheiro,sobretudoparaosfuncionáriospúblicos.Re-
conhecendoqueháumanovageraçãoadaptadaaomercadodetra-
balhoeuropeuqueestáaajudaramudaraimagemexternadePor-
tugal–“chegueiaterpessoasadizer-me:‘ésoprimeiroportuguês
queconheçoquenãofazprédios’”–,oengenheiroinformático,31
anos,consideraatesedoregressocomoutrasferramentaspara
aplicarnopaísdeorigemcomo“umafaláciaporquepodemtrazer
muitomaiscompetências,masnãotêmondeseencaixar”.Écom
algumamágoaquefaladeumregressomovidopelaenergiadoamor
–estácasadoháanoemeioeaprimeirafilhavainasceremJulho
–,masemquetevedeassumiraderrotanoplanoprofissional.“Em
Coimbratrabalheicomchefesmedíocreseemprojectosondese
apostatudonaobtençãodefinanciamentoseuropeus,semqual-
querrigornasuaexecução.Omaismarcantequeretirei[destafase]
foiumprocessoemtribunalparatentarreaversaláriosematraso.
Acriseapertoutantoemtermosfinanceirosqueavalorizaçãodo
capitalhumanonãoexiste.Poucasempresasvalorizaramofacto
deterestadofora,falarcincolínguasdiferentes,as‘softskills’não
lhesdizemnada”,desabafa.
Encaixanaperfeiçãonoperfildo“típico”portuguêsqualificado
noestrangeiro,traçadonumestudorecenterealizadopelaconsul-
toraHays:éjovem(metadeestáabaixodos35anos),dosexomas-
culinoeemigrouhámenosdecincoanosparatrabalharnasáreas
deengenharia,tecnologiasdeinformação,contabilidadeefinan-
ças.Nahoradoregresso,CarlosRibeiroapercebeu-sedosefeitos
doajustamentosalarialnoPaís(naNovabase,ondetrabalharaan-
tes,propuseram-lheumsaláriomenoraoquerecebiaalitrêsanos
antes)eemJaneirode2013decidiuabrirasuaprópriaempresa,
99%exportadora,poisprestaserviçosdeconsultoriaquaseemex-
clusivoàúltimaempresaaqueesteveligadonaBélgica.“Sinto-me
realizadotambémpatrioticamente.Abriraempresafoidarami-
nhasegundahipóteseaoPaísparaveroqueacontece”.Daquiadois
anosfaráumbalanço.Porém,reconhece,voltaraemigrar“depen-
derámaisdeconseguirtirarafamíliadePortugal”doquedasua
própriavontade.
JáatolerânciadeCarlaAntónioesticaráatéaostrêsanosdeper-
manênciaemPortugal,quefoioprazoqueestabeleceuparapoder
teruma“verdadeiraopinião”sobrecomoestáacorreresteregres-
so.Desistirantesdissoestáforadequestão.Tambémelaouviu,ain-
daouve,muitoscolegasaquestionarestaopçãoquedeixousem-
preemabertopela“vontadederegressar”.Quandolevantouvoo,
em2004,deixouumPaísjáemcriseenaressacadoabandonode
DurãoBarroso,querumouàpresidênciadaComissãoEuropeia.
>>> página 11
12
13
REPORTAGEM
NOME: FRANCISCO SILVA
PROFISSÃO: GESTOR DE
EXPORTAÇÃO
PAÍS DE EMIGRAÇÃO:
ANGOLA
REGRESSO: SETEMBRO 2012
Ex-emigrante explica que,
mesmo sem as condições
financeiras de que dispõe
um expatriado, “gerindo
bem o dinheiro consegue-
se ter aqui uma vida boa”.
Sara Matos
Quandoaterrou,emMaiodoanopassado,encontrou“umPaísmui-
tomaisdeprimido,aindamaisnegativo”.“Claroqueagoranãose
compara:azangaécompletamentegeneralizadaeentristece-me
passarporisso”,acrescentaaespecialistaemQuímicaAnalítica,
ramoespectrometriademassa.Logoapósconcluirocurso,ainda
nãohaviatroikanemreduçãodrásticadasbolsas,tevea“perfeita
noção”dequeteriadesedeslocarparacontinuarnainvestigação
científicaeabrirhorizontes.Foiseleccionadaparadoutoramento
naUniversidadedeYork,noReinoUnido,ondeseapercebeuda
faltadeequipamentodasuniversidadesportuguesas.Eraprema-
turoregressarporque“tinhaapenasodoutoramento”etinhadese
especializarmais.Mudou-seentãoparaPotsdam,àsportasdeBer-
lim,parafazertrabalhodeinvestigaçãopós-doutoraleencontrar
condiçõesdetopo.Nosúltimostempos,emvirtudedaimplícita
“tensãopolíticaeeconómica”luso-germânica,começouasentir
umcrescenteclimadeanimosidade.“Houvecolegasalemãesque
seviravamparamimcomatitudesestranhas,dogénero‘aAlema-
nhanãotemdinheiroparati’.Émuitodesagradávelterestassitua-
çõesemambientedetrabalho”.
Apósnoveanosdeinvestigaçãonoexterior,esentindo-se“mais
preparadaparatransferirconhecimentoadquiridoacumuladono
estrangeiro”,acientistade34anos,naturaldeCoimbra,concorreu
àprimeiraediçãodoInvestigadorFCT,umconcursoquepermi-
tiurecrutardoutoradoscomcontratosdecincoanosparainstitui-
çõesportuguesas.Ouseja,eraumaestabilidadecontratualquenão
conseguianemnaAlemanha,importanteparaseavançarnuma
áreaeaoportunidadeparamatarassaudadesdePortugal.Concor-
reuemMaiode2012,osresultadosdoconcursosaíramnofinaldes-
seanoesóemAgostocomeçouatrabalharnoInstitutodeTecno-
logiaQuímicaeBiológica(ITQB),emOeiras.“Todaagentemedis-
se:‘Carla,habitua-teaosatrasos!’”.Eraoprimeiroembatecoma
realidade,poisasverbassãoescassasparamontarolaboratório,os
consumíveisnãochegamnodiaseguinte,osprojectosnãosãofi-
nanciados,aescassezdebolsasafastouosalunosdedoutoramen-
toquepodiamavançarconsigonainvestigação.“Quis-seatrairos
melhores,massemoapoionecessárioémuitofrustrante.Temos
deusarmuitaimaginação,sermuitotolerantesàfrustração”,sus-
tentaCarlaAntónio,notandosertambémporissoqueosrespon-
sáveisuniversitáriosbritânicos,porexemplo,reconhecemospor-
tuguesescomo“investigadorespersistentes”.
ESPAÇO E MARGEM PARA ARRISCAR
JoãoPontes,29anos,tambémtinhaessereconhecimento.En-
trounoateliêlogocomochefedeprojectoepreparava-separaas-
sumiroutrasresponsabilidadesnumaobradegrandedimensão
queoiriamprenderdemoradamenteàSuíça.Aofimdedoisanos
emeiofora,voltouaPortugalemAbril.“Omeuobjectivonuncafoi
ficarmuitotempofora,eramais[para]percebercomoéqueoses-
critóriosdearquitecturafuncionamnoutrospaísesevercomoserá
anossaformadetrabalhardaquiaalgunsanos.Éaquiqueeuque-
roviver.Temmaisavercomrazõesemocionaiseculturais,deiden-
tidadeaté,porquemeidentificocomaformadevidaemesintomais
enraizadoaqui”,descreveodiscípulodareputadaescoladoPorto,
cidadeondetrabalhoutrêsanosemoutrostantosescritóriosaté
rumaràGenebraqueconheciadostemposdeErasmus.Eraaaltu-
racríticatambémparamanterasconexõespessoaiseprofissionais
antesdecaíremnobaúdoesquecimento.Einsiste:“Sabiaquese
ficasselámaistrêsanosiaganharmais,masofactodeconseguir
regressarantesdos30anos,teralgumespaçoparapodererrarees-
taraexperimentarcáemPortugal,eraimportante”.
Nãoestáaprocurartrabalhonumescritórioporqueossalários
sãobaixoseissooimpediriadetentarconstruirumtrabalhomais
independenteeconseguiroutrasoportunidades.Oobjectivoé,por-
tanto,investirnumprojectopessoalcomalgunstrabalhosnoes-
trangeiro,queobrigueapenasadeslocaçõespontuais.Poroutro
lado,adecisãoderetornarescondeoutramotivação,queétambém
um“tapetemuitogrande”enquantotentarestabeleceressabase
detrabalho:ajudarospais(eaprendercomeles)nagestãodaEx-
porgal,umaindústriademalhaseconfecções,sobretudoexporta-
dora,instaladaemBarcelos.EstasprimeirassemanasnoMinho
serviramparaseaperceberque,“deformageral,aspessoasestão
muitomassacradasemoídascomestessacrifíciosporqueoPaís
passou”eparasentir,aindaassim,queelas“achamqueafasemais
difíciljápassoueháalgumânimoparacomeçarateralgumespa-
çopararespirareparaqueaeconomiapossamelhorar”,oquedes-
crevecomo“motivador”.Noutroplano,completaJoãoPontes,
NOME: RITA ROCHA
PROFISSÃO: FOTÓGRAFA
PAÍS DE EMIGRAÇÃO:
PAÍS DE GALES
REGRESSO: JUNHO 2011
A jovem da Póvoa de
Varzim argumenta que “há
coisas que não se pagam:
casa junto da praia, este
sol, os vegetais e a fruta
[que] sabem
completamente diferente”,
>>> página 14
Paulo Duarte
Sexta-feira/16deMaiode2014/Negócios
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15
REPORTAGEM
Com base nos
dados do último
recenseamento,
um estudo mostrou
que perto de 200
mil portugueses
que tinham vivido
mais de um ano
no estrangeiro
regressaram
ao País entre
2001 e 2011.
SE JÁ É DIFÍCIL CONTABILIZAR AS SAÍDAS DO PAÍS, mais difícil é controlar
o fluxo dos regressos. No entanto, o membro do conselho científico
do Observatório da Emigração, João Peixoto, acredita que “talvez não
seja uma minoria assim tão pequena”. “A sensação que temos é que
muitos desses movimentos são instáveis, de circulação, de vai-e-vem.
Os próprios dados do Instituto Nacional de Estatística dizem que
mais de metade das saídas são temporárias. Muito mais gente está
envolvida em processos de saída e regresso do que pensamos.
Mas a ordem de grandeza é impossível saber. Funcionamos muito
na base das expectativas e ela é a de êxodo para sempre. O nosso
pessimismo leva-nos a exagerar o fenómeno e pensar que há muita
gente a sair e que ninguém volta. Há muitos a sair, claro, mas
também muito mais pessoas a voltar do que pensamos”, apontou
o investigador do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).
Os inquéritos avulso realizados pelo Observatório vão mostrando
uma disponibilidade “muito grande” dos emigrantes para o regresso,
fazendo-o depender de encontrarem um bom emprego, com
possibilidade de progressão na carreira. Ou seja, “aquele que não
se cria de um dia para o outro”. Aliás, grande parte das pessoas que
estão a sair de Portugal estavam empregadas, mas tinham um baixo
salário ou contratos precários, saindo precisamente por essa “falta
de perspectivas”. Um projecto em que João Peixoto esteve envolvido
encontrou, no último recenseamento, mais de 200 mil portugueses
que tinham vivido mais de um ano no exterior e que regressaram
entre 2001 e 2011, em particular de países como Espanha, Reino
Unido e Angola. Não se trata de emigração temporária e “dá a ideia
de que estas migração são hoje muito mais instáveis do que no
passado”, concluiu o professor universitário. De 2011 para cá,
desde a entrada da troika, “é impossível saber” qual foi a evolução.
Já do lado das saídas é o valor declarado pelo INE referente a 2012
– mais de 120 mil, entre temporários e permanentes – que passou a
servir de referencial no debate público. “Os números hoje
aproximam-se preocupantemente daqueles dos anos 1960. Desse
ponto de vista da dimensão, temos razões para estar preocupados.
(...) No pós-troika, mantendo-se as tendências, o nosso dramatismo
passa a justificar-se. Se voltarmos ao antes da troika, com um
padrão misto de entradas e saídas, a situação não nos obriga a ser
tão dramáticos”, sublinhou o membro do Observatório. E aqui joga-
se muito novamente no campo das expectativas. “Os números
actuais são grandes, mas não são uma grande revolução nos dados
migratórios do País. Sempre existiram saídas, durante muitos anos
não nos preocupamos. No final dos anos 1980 tivemos um padrão
de emigração muito severo, que não foi encarado como um grande
problema porque tínhamos um grande optimismo com a entrada na
União Europeia. Não foi avaliado de uma forma tão dramática como
hoje e isso tem a ver com as nossas expectativas face ao futuro”.
Mais: a “grande ideia” de que a maioria de saídas são de licenciados
“não é verdade”. É certo que têm um peso significativo e há agora
mais a sair – Portugal também forma muito mais do que no passado
–, mas estão longe de ser a maioria. No Reino Unido, o país da
Europa para onde se estima que vão mais portugueses altamente
qualificados, “apenas” um terço tem o Ensino Superior completo.
Em termos geográficos, é para o Velho Continente que dois em
cada três portugueses continuam a emigrar, embora depois da
grande recessão de 2008 e 2009 (que desacelerou as saídas),
tenha havido uma recomposição. O caso espanhol é paradigmático:
saiu do radar. Assiste-se então, também neste aspecto, ao início de
uma Europa a duas velocidades, com a emergência daqueles que
saíram da crise com menos debilidades e conseguiram atrair mais
estrangeiros, como o Reino Unido, Alemanha, Suíça ou Holanda.
Na batalha entre os que dramatizam os efeitos deste surto migratório
e os que apontam as suas virtualidades, João Peixoto responde que
a maior diferença está na abordagem de curto ou médio prazo, em
que se colocarão questões como a sustentabilidade da Segurança
Social. “As saídas não são dramáticas à priori. Todos queremos que
os nossos filhos tenham uma experiência no estrangeiro. Ter uma
população cosmopolita é bom e ser uma sociedade aberta, em que
uns saem e outros entram, é das melhores coisas que Portugal tem.
Mas, do ponto de vista das políticas públicas, há que gerir os fluxos
para não serem desequilibrados”, resumiu. É que a imigração laboral
afundou, não voltará ao volume do passado e na próxima expansão
terá uma natureza de talento “desejavelmente diferente”. AL
“Há muito mais pessoas a voltar do que pensamos”
NOME: CARLOS RIBEIRO
PROFISSÃO: ENGENHEIRO
INFORMÁTICO
PAÍS DE EMIGRAÇÃO: BÉLGICA
REGRESSO: DEZEMBRO 2011
No centro da Europa
chegaram-lhe a dizer que era o
primeiro português que
conheciam que “não faz
prédios”. No regresso abriu
uma empresa para “dar uma
segunda hipótese ao País”.
“houveumdespertardeconsciênciamuitograndeparaanecessi-
dadedehaverummaiorrigornagestãodascontasatodososníveis,
desdeasidasaosupermercadoameterem-seemaventurascomo
acompradeumcarrooudeumacasa,têmumanoçãomaiscom-
pletadoqueissoexigedapartedeles”.
Adesignada“fugadecérebros”éumfenómenoquedeveráman-
ter-seduranteesteano.Pelomenoséissoqueindiciavaaelevada
percentagem(80%)detrabalhadoresque,noestudo“GuiadoMer-
cadoLaboral2014”,publicadopelaHaysemJaneiro,semostra-
ramdisponíveispararumaraoestrangeiroAlargadistânciadaAmé-
ricadoNorte,quesurgeemsegundolugar,aEuropacontinuaafi-
gurarcomoodestinomaisdesejadoparaumaexperiênciainter-
nacional.Valorizamaproximidadecultural,masnegligenciama
questãolinguística,jáqueapenas19%dápreferênciaapaísesde
expressãoportuguesa.Noentanto,sesãomuitososquequeremir
parafora,percentualmentesãoquasetantos(71%)osemigrantes
qualificadosquepretendemvoltar.Apesardeopacotesalarialea
possibilidadedeparticiparemprojectosdesafiantesconstaremdo
“top3”,ofactorquemaisinfluenciariaoregresso,invocadopor
maisdemetadedeles,édeordememocional:“avontadedeviver
emPortugal”.
CONSTRUIR AQUI CAMINHO
Foiprecisamentea“muitavontadedevoltar”,por“acharque
tambémsepodeconstruiraquicaminho”,quedevolveuRicardo
CorreiaàLusa-Atenas.Poucosdiasdepoisdeaterrar,emJulhode
2013,voltouaserconvidadoparadaraulasdeteatro,interpreta-
çãoedramaturgianumcolégioeumprojectodeintervençãonuma
licenciaturaemTeatroeEducação.“Parecequeiresláparaforare-
frescaamemóriadaspessoas”,atestaoactoreencenador,36anos,
formadoemCiênciasdaEducaçãopelaUniversidadedoMinho.
Quenumaalturaemque“estavaumbocadinhosemchão”,porrei-
naremasdúvidassobreasvagasparadaraulaseofinanciamento
públicoàCultura,sentiua“lufadadearfresco”deumabolsada
FundaçãoCalousteGulbenkianparaestudarnaconceituada“Lon-
donInternationalSchoolofPerformingArts”(LISPA),quelheper-
mitiuestarnacapitalbritânicanaqueleespaçodecruzamentode
pessoaseculturas,numaturmacom17nacionalidadesdiferentes,
einvestirtambémnaformaçãoprofissional.Estevesempreapra-
zo,andouno“vai-não-vai”,acabouporregressardepoisdesaber
tambémqueaCasadaEsquina,aassociaçãoculturalquelidera,re-
ceberaumapoiofinanceirodaDirecção-geraldasArtes.
Assuascondiçõesestãomaisendireitadasapósaemigraçãotem-
porária,masnãosentequeas“coisas”melhoraram,confessaser
“difícilviveràbeiradaspessoasquandoelasnãoestãobem”.Cho-
raumaapatiageneralizada,umesmorecimentodopovonaforma
comoestáaexpressarasuaindignaçãocomoqueseestáapassar,
o“nãosaberreconhecercontraqueméquenósandamosagritar
nasmanifestações,nãosaberquemsãoosalvos”.Daherançades-
satemporadanoestrangeiro,queconfessajáterchegadotardena
sualinhadevida,ficaramasredesdecontactoquejátrouxeramum
austríacoparadarum“workshop”emCoimbraequelevaráRicar-
doàterradeSchuberteStraussparaumprojectodecriação.
Etambémapeça“OmeuPaíséoqueomarnãoquer”,emque
registaráasfrustrações,aspiraçõeseligaçõesàpátriadedezenas
dejovensportuguesesempurradosparaum“exílio”noestrangei-
ro,deondenãoconseguemregressar.Apartireduranteasuapró-
priaexperiênciaemLondres,oencenadorarroloutestemunhosde
umdramaqueanteserainvisíveleagoracomeçaaserdosfilhose
dosamigos.“Étudomuitoempírico.Querocontaraminhahistó-
riaeadosoutrosqueencontreiláequenosúltimostrêsanos,de-
vidoàausteridade,saíramparaestudaroutrabalhar,queremre-
gressarenãotêmnadaàesperaemPortugal”.Aestreiadestees-
pectáculoperformativoestáagendadaparaofinaldeSetembro,
emCoimbra,numatemporadadetrêssemanas,partindodepois
paraalgunsfestivaisdeteatro,porserumarealidadepróximapara
cadavezmaisgente.Eatépodecabernumacirculaçãointernacio-
nal,perspectivouRicardoCorreia,queencontroureflexosdesta
“geraçãosacrificada”nosamigosespanhóis,italianos,gregosefran-
ceses.“Aminhaterraéumagrandeestrada/quepõeapedraentre
ohomemeamulher/Ohomemvendeavidaevergasobaenxada
/Omeupaíséoqueomarnãoquer”,escreveuRuyBelonopoema
“Morteaomeiodia”,queinspirouotítulodapeçaedescreve“um
bocadinhodessaamargura”intemporaldeestarlongedecasa.
>>> página 13 NOME: JOÃO PONTES
PROFISSÃO: ARQUITECTO
PAÍS DE EMIGRAÇÃO: SUÍÇA
REGRESSO: ABRIL 2014
“Razões emocionais e
culturais, de identidade
até”, fizeram-no trocar um
atelier de Genebra pelo
trabalho independente na
arquitectura e pela ajuda
aos pais na gestão da
empresa têxtil.
Paulo Duarte

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