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Pedro das Malasartes




     E 1 de Arnelas – Olival
      B
          2012/ 2013
Pedro das Malasartes
       Autora: Luísa Ducla Soares
    Ilustrações: Alunos do 1º/2º anos




         EB1 de Arnelas - Olival
              2012/2013
Uma viúva morava num monte com o seu
único filho, chamado Pedro. Por ser tonto, tonto
e para nada mostrar jeito ou arte, todos o
conheciam por Pedro das Malasartes.
    Certo dia, ela pediu-lhe que fosse buscar um
porco à quinta dos vizinhos.
   - Trá-lo com muito cuidado. Vê lá, que ele não
te fuja.
     Passaram horas, mais horas e o rapaz sem
voltar. Meteu-se a mãe ao caminho, aflita, para
ver se o encontrava. Achou-o estendido no chão,
a meio da estrada, com o porco enorme em cima
da barriga.
  - Então, que te aconteceu?
    - Trouxe o bicho ao colo para não se cansar.
Mas não aguento tanto peso.
   Ela ajudou-o a levantar-se, atou uma cordinha
à pata do animal, conduzindo-o assim até casa.
      - Aprendeste como deves fazer? Fixaste
mesmo?
   - Com uma cordinha, com uma cordinha…
- repetia o moço para o ensinamento não lhe sair
da cabeça.
 
Na manhã seguinte, a mãe mandou-o trazer
umas garrafas de vinho.
     Pedro foi à adega, atou um cordel a cada
garrafa e assim as foi arrastando, aos safanões,
por entre as pedras. Claro que quando entrou na
cozinha as garrafas estavam todas partidas. Do
vinho… nem sinal!
  A podre mulher levou as mãos à cabeça.
    - Ai, que parvoíce! P ara a próxima vez
põe as garrafas num cesto com palha para
não se partirem.
   - Nunca mais me vou esquecer! – prometeu o
filho obediente.
De manhã à noite a mãe trabalhava na
costura para ganhar o sustento de ambos mas,
a dada altura, faltaram-lhe as agulhas.
Prestável como era, o rapaz imediatamente se
ofereceu para ir comprar meia dúzia delas à
aldeia.
  Dessa vez foi num pé e veio no outro.
     - Fiz tudo direitinho, não tem que se
preocupar, querida mãe. Aqui estão as agulhas
num cesto cheio de palha para não se
partirem.
     Perdeu a desgraçada a tarde inteira a
remexer na palha, picou os dedos e, mesmo
assim, só conseguiu encontrar uma.
   - O melhor é não contar com ele para os
recados – concluiu desiludida.
Sem nada que fazer, resolveu o pateta
refrescar-se numa poça de lama. Deitou-se lá
dentro, rebolou-se, rindo à gargalhada com a
brincadeira.
   Quando a mãe o viu todo sujo, começou a
barafustar.
     - Que porcaria! Vai já ao rio lavar essa
roupa nojenta! Só te quero de volta quando
estiveres limpo…
   - Mas como é que eu vou saber se a roupa
está bem lavada?
  - Ora, pergunta a alguém que vá a passar…
   Despiu-se o rapaz na praia, ajoelhou-se na
areia e começou a esfregar com quanta força
tinha a camisa, as calças, as cuecas, as meias,
as botas.
    Já estava farto de esfregar quando surgiu,
junto à outra margem, um barquinho de pesca.
   - Ó do barco, acudam-me, acudam-me, que
estou numa aflição! - pôs-se o rapaz a gritar,
entrando pelo rio dentro até ao pescoço.
Por cuidar que algum banhista se afogava,
atirou-se o pescador pela borda fora para o
salvar.
   Quando chegou ao pé do moço e este lhe
perguntou se a roupa estava bem lavada, o
homem até espumou de raiva.
    - Atiro-me eu à água, vestido, para isto?!
Vou obrigar-te a dar um mergulho, para veres
como é bom! Vais-me pagar!
    - Ai, ai, ai! Não posso pagar-lhe de outra
maneira? Tenho medo de mergulhos…
  - Deseja-me muito vento para navegar à vela
e não criar calos a remar – disse o pescador,
compreendendo que o jovem tinha um
parafuso a menos.
    -M  uito vento! Que nunca lhe falte o
vento! Vento, vento e mais vento!
  Pedro das Malasartes vestiu a roupa a pingar
e deitou pernas à estrada.
Não tardou muito que encontrasse um
terreiro onde os feirantes estavam a montar os
seus toldos de lona e a espalhar as
mercadorias.
   - Viva! – exclamou o rapaz, louco por feiras
e, para ser simpático, acrescentou – “ Que se
levante muito vento! Que nunca falte o vento!”
     As ciganas, que acreditavam em pragas,
receando ver os seus montes de camisolas
voarem pelos ares, ficaram furiosas. Um
vendedor de loiça, um pouco mais calmo,
explicou-lhe:
    - Não percebes que o vento atira abaixo os
toldos e a mercadoria? O que tu deves dizer é o
seguinte: “ É preciso que não caia nada.”
  O nosso rapazola prometeu fixar a lição.
Para evitar mais críticas, protestos das
pessoas, meteu-se pelo mato. Ao menos a
bicharada não implicava com ele. Para seu
azar, sendo época de caça, deu com um
grupo de caçadores. Educado como era,
dirigiu-lhes logo a palavra.
  - Ora muito bom dia! Só desejo que “ hoje
não caia nada” .
     - O quê? – irritaram-se os homens. –
Merecias um tiro… É preciso que caiam
patos, perdizes, coelhos. A quem vem à caça
deve desejar-se “ muito sangue” .
   - Não me esqueço – assegurou o rapaz. –
“M  uito sangue! M   uito sangue!”
Como o barulho dos disparos não lhe
agradava, rapidamente desandou dali.
Só parou na vila. Aí o rebuliço era grande.
   Dois matulões estavam a jogar à pancada
e ninguém era capaz de os separar.
   Curioso, Pedro aproximou-se. Como não
conseguia ficar calado, papagueou a última
coisa que lhe tinham ensinado.
   - O que é preciso é muito sangue! Muito
sangue! Muito sangue!
     Um polícia agarrou-o por uma orelha,
ameaçador:
    - Queres ir para a prisão por convite à
violência? O que deves dizer é: “ Que se
separem depressa!”
  Com medo de ser levado para a esquadra,
o moço largou a correr.
No largo tudo era finalmente paz. Os sinos
tocavam e da igreja saía um cortejo de
casamento. Como os convidados vinham
cumprimentar os noivos, ele não quis ficar
atrás. Aproximou-se do parzinho recém-
casado, feliz por apresentar também os seus
votos.
     - “ Que se separem depressa! Que se
separem depressa!”
  A noiva, furiosa, atirou-lhe com o ramo de
rosas à cara. Foi preciso os convidados
agarrarem o noivo para ele não lhe pregar
duas bofetadas.
    Um dos convidados, que já o conhecia,
pretendeu dar-lhe uma lição.
   - Para a outra vez dizes: “ Muitos destes
é que fazem falta, principalmente para
a gente nova.”
“ Muitos destes é que fazem falta, é que
fazem falta…”
   Estava certo de que a frase não mais lhe
sairia da memória.
   Rumou então pela rua principal, por onde
ia a passar um enterro. Os acompanhantes
vinham todos muito chorosos pois o morto
era um soldado que perdera a vida, na flor
da idade, numa batalha.
   Pedro não deixou escapar a oportunidade
de ter uma palavra amável para quem tanta
tristeza mostrava.
      - “ Muitos destes é que fazem falta.
Principalmente para a gente nova.”
   Os outros soldados por pouco não deram
cabo dele.
   Valeu-lhe o padre que acalmou a multidão
e procurou ensiná-lo:
    - O que deves desejar é: “ Que Deus o
leve para o céu e depressa!”
    - Nunca mais me engano! – prometeu o
pató.
Seguiu até ao jardim, sentou-se num banco,
à sombrinha, a ver quem passava.
   Não teve muito que esperar. Nessa mesma
tarde celebrava-se um batizado. Que lindo
bebé, corado e gordinho ali chegou, todo
bem vestido, ao colo da madrinha! O nosso
moço aproximou-se, deu-lhe um beijo na
testa, exclamando com entusiasmo:
  - “ Que Deus o leve para o céu e depressa!”
    A mãe da criança desmaiou, o pai ficou
verde, a madrinha desatou a tremer. Com a
confusão, o bebé tanto berrava que ninguém
sabia o que lhe havia de fazer. Foi essa a
sorte de Pedro das Malasartes pois assim só
um miúdo correu atrás dele à pedrada.
Quando chegou a casa, ao pôr do Sol, exausto
de tantas aventuras, já a roupa lhe tinha secado
no corpo.
    - Estás muito limpinho. Hoje portaste-me
bem. – alegrou--se a pobre viúva, sem calcular
o que se tinha passado.
  E abraçou-o.
  - Gosto de ti! – disse ela.
  Ele sorriu, repetindo:
  - Gosto de ti!
 
Projeto de Literacia Infantil
realizado pelos alunos do 1º/2º anos
      da EB1 de Arnelas – Olival



                   
                   
                   
                   
    Professora: Virgínia Ferreira
            2012/2013
                   

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Pedro das Malasartes e suas gafes

  • 1. Pedro das Malasartes E 1 de Arnelas – Olival B 2012/ 2013
  • 2. Pedro das Malasartes Autora: Luísa Ducla Soares Ilustrações: Alunos do 1º/2º anos EB1 de Arnelas - Olival 2012/2013
  • 3. Uma viúva morava num monte com o seu único filho, chamado Pedro. Por ser tonto, tonto e para nada mostrar jeito ou arte, todos o conheciam por Pedro das Malasartes. Certo dia, ela pediu-lhe que fosse buscar um porco à quinta dos vizinhos. - Trá-lo com muito cuidado. Vê lá, que ele não te fuja. Passaram horas, mais horas e o rapaz sem voltar. Meteu-se a mãe ao caminho, aflita, para ver se o encontrava. Achou-o estendido no chão, a meio da estrada, com o porco enorme em cima da barriga. - Então, que te aconteceu? - Trouxe o bicho ao colo para não se cansar. Mas não aguento tanto peso. Ela ajudou-o a levantar-se, atou uma cordinha à pata do animal, conduzindo-o assim até casa. - Aprendeste como deves fazer? Fixaste mesmo? - Com uma cordinha, com uma cordinha… - repetia o moço para o ensinamento não lhe sair da cabeça.  
  • 4. Na manhã seguinte, a mãe mandou-o trazer umas garrafas de vinho. Pedro foi à adega, atou um cordel a cada garrafa e assim as foi arrastando, aos safanões, por entre as pedras. Claro que quando entrou na cozinha as garrafas estavam todas partidas. Do vinho… nem sinal! A podre mulher levou as mãos à cabeça. - Ai, que parvoíce! P ara a próxima vez põe as garrafas num cesto com palha para não se partirem. - Nunca mais me vou esquecer! – prometeu o filho obediente.
  • 5. De manhã à noite a mãe trabalhava na costura para ganhar o sustento de ambos mas, a dada altura, faltaram-lhe as agulhas. Prestável como era, o rapaz imediatamente se ofereceu para ir comprar meia dúzia delas à aldeia. Dessa vez foi num pé e veio no outro. - Fiz tudo direitinho, não tem que se preocupar, querida mãe. Aqui estão as agulhas num cesto cheio de palha para não se partirem. Perdeu a desgraçada a tarde inteira a remexer na palha, picou os dedos e, mesmo assim, só conseguiu encontrar uma. - O melhor é não contar com ele para os recados – concluiu desiludida.
  • 6. Sem nada que fazer, resolveu o pateta refrescar-se numa poça de lama. Deitou-se lá dentro, rebolou-se, rindo à gargalhada com a brincadeira. Quando a mãe o viu todo sujo, começou a barafustar. - Que porcaria! Vai já ao rio lavar essa roupa nojenta! Só te quero de volta quando estiveres limpo… - Mas como é que eu vou saber se a roupa está bem lavada? - Ora, pergunta a alguém que vá a passar… Despiu-se o rapaz na praia, ajoelhou-se na areia e começou a esfregar com quanta força tinha a camisa, as calças, as cuecas, as meias, as botas. Já estava farto de esfregar quando surgiu, junto à outra margem, um barquinho de pesca. - Ó do barco, acudam-me, acudam-me, que estou numa aflição! - pôs-se o rapaz a gritar, entrando pelo rio dentro até ao pescoço.
  • 7. Por cuidar que algum banhista se afogava, atirou-se o pescador pela borda fora para o salvar. Quando chegou ao pé do moço e este lhe perguntou se a roupa estava bem lavada, o homem até espumou de raiva. - Atiro-me eu à água, vestido, para isto?! Vou obrigar-te a dar um mergulho, para veres como é bom! Vais-me pagar! - Ai, ai, ai! Não posso pagar-lhe de outra maneira? Tenho medo de mergulhos… - Deseja-me muito vento para navegar à vela e não criar calos a remar – disse o pescador, compreendendo que o jovem tinha um parafuso a menos. -M uito vento! Que nunca lhe falte o vento! Vento, vento e mais vento! Pedro das Malasartes vestiu a roupa a pingar e deitou pernas à estrada.
  • 8. Não tardou muito que encontrasse um terreiro onde os feirantes estavam a montar os seus toldos de lona e a espalhar as mercadorias. - Viva! – exclamou o rapaz, louco por feiras e, para ser simpático, acrescentou – “ Que se levante muito vento! Que nunca falte o vento!” As ciganas, que acreditavam em pragas, receando ver os seus montes de camisolas voarem pelos ares, ficaram furiosas. Um vendedor de loiça, um pouco mais calmo, explicou-lhe: - Não percebes que o vento atira abaixo os toldos e a mercadoria? O que tu deves dizer é o seguinte: “ É preciso que não caia nada.” O nosso rapazola prometeu fixar a lição.
  • 9. Para evitar mais críticas, protestos das pessoas, meteu-se pelo mato. Ao menos a bicharada não implicava com ele. Para seu azar, sendo época de caça, deu com um grupo de caçadores. Educado como era, dirigiu-lhes logo a palavra. - Ora muito bom dia! Só desejo que “ hoje não caia nada” . - O quê? – irritaram-se os homens. – Merecias um tiro… É preciso que caiam patos, perdizes, coelhos. A quem vem à caça deve desejar-se “ muito sangue” . - Não me esqueço – assegurou o rapaz. – “M uito sangue! M uito sangue!”
  • 10. Como o barulho dos disparos não lhe agradava, rapidamente desandou dali. Só parou na vila. Aí o rebuliço era grande. Dois matulões estavam a jogar à pancada e ninguém era capaz de os separar. Curioso, Pedro aproximou-se. Como não conseguia ficar calado, papagueou a última coisa que lhe tinham ensinado. - O que é preciso é muito sangue! Muito sangue! Muito sangue! Um polícia agarrou-o por uma orelha, ameaçador: - Queres ir para a prisão por convite à violência? O que deves dizer é: “ Que se separem depressa!” Com medo de ser levado para a esquadra, o moço largou a correr.
  • 11. No largo tudo era finalmente paz. Os sinos tocavam e da igreja saía um cortejo de casamento. Como os convidados vinham cumprimentar os noivos, ele não quis ficar atrás. Aproximou-se do parzinho recém- casado, feliz por apresentar também os seus votos. - “ Que se separem depressa! Que se separem depressa!” A noiva, furiosa, atirou-lhe com o ramo de rosas à cara. Foi preciso os convidados agarrarem o noivo para ele não lhe pregar duas bofetadas. Um dos convidados, que já o conhecia, pretendeu dar-lhe uma lição. - Para a outra vez dizes: “ Muitos destes é que fazem falta, principalmente para a gente nova.”
  • 12. “ Muitos destes é que fazem falta, é que fazem falta…” Estava certo de que a frase não mais lhe sairia da memória. Rumou então pela rua principal, por onde ia a passar um enterro. Os acompanhantes vinham todos muito chorosos pois o morto era um soldado que perdera a vida, na flor da idade, numa batalha. Pedro não deixou escapar a oportunidade de ter uma palavra amável para quem tanta tristeza mostrava. - “ Muitos destes é que fazem falta. Principalmente para a gente nova.” Os outros soldados por pouco não deram cabo dele. Valeu-lhe o padre que acalmou a multidão e procurou ensiná-lo: - O que deves desejar é: “ Que Deus o leve para o céu e depressa!” - Nunca mais me engano! – prometeu o pató.
  • 13. Seguiu até ao jardim, sentou-se num banco, à sombrinha, a ver quem passava. Não teve muito que esperar. Nessa mesma tarde celebrava-se um batizado. Que lindo bebé, corado e gordinho ali chegou, todo bem vestido, ao colo da madrinha! O nosso moço aproximou-se, deu-lhe um beijo na testa, exclamando com entusiasmo: - “ Que Deus o leve para o céu e depressa!” A mãe da criança desmaiou, o pai ficou verde, a madrinha desatou a tremer. Com a confusão, o bebé tanto berrava que ninguém sabia o que lhe havia de fazer. Foi essa a sorte de Pedro das Malasartes pois assim só um miúdo correu atrás dele à pedrada.
  • 14. Quando chegou a casa, ao pôr do Sol, exausto de tantas aventuras, já a roupa lhe tinha secado no corpo. - Estás muito limpinho. Hoje portaste-me bem. – alegrou--se a pobre viúva, sem calcular o que se tinha passado. E abraçou-o. - Gosto de ti! – disse ela. Ele sorriu, repetindo: - Gosto de ti!  
  • 15. Projeto de Literacia Infantil realizado pelos alunos do 1º/2º anos da EB1 de Arnelas – Olival         Professora: Virgínia Ferreira 2012/2013