O documento discute os conceitos de cultura, identidade e desenvolvimento sustentável. Apresenta definições de cultura de antropólogos como Mauss, Tylor e Geertz. Também aborda o eurocentrismo e como ele influenciou a visão sobre os povos indígenas e a valorização do patrimônio cultural. Por fim, discute a importância da memória, do território e da participação comunitária para um desenvolvimento sustentável que proteja a herança cultural.
3. Segundo Marcel Mauss (1872-1950), podemos admitir com certeza que se uma criança
senta-se à mesa com os cotovelos junto ao corpo e permanece com as mãos nos
joelhos, quando não esta comendo, ela é inglesa. Um jovem francês não sabe mais se
dominar: ele abre os cotovelos em leque e apoia-os sobre a mesa.
Todos os Homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do
mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente depende de um aprendizado e
este consiste na copia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo.
4. Todo comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma
transmissão genética. (Edward Tylor).
A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda experiência
histórica das gerações anteriores. O ser humano resulta do meio cultural em
que é criado. (Alfred Kroeber).
Conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções que
governam o comportamento. (Clifford Geertz).
O ser humano cria normas, o que permite a organização social. (Lévi-
Strauss).
O ser humano cria símbolos, o que permite interpretar o meio e perpetuar a
cultura. (Leslie White).
5. “A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de
culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas
das coisas”
(Ruth Benedict)
6. Os Indivíduos participam diferentemente de sua cultura.
A participação do indivíduo em sua cultura é sempre limitada, nenhuma pessoa é
capaz de participar de todos os elementos de sua cultura. Todos necessitam saber
como agir em determinadas situações e, também, como prever o comportamento dos
outros. Em nenhuma sociedade todas as condições são previsíveis e controladas.
Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário
ter um conhecimento mínimo para operar dentro do mesmo.
As culturas são dinâmicas.
8. Carta de “achamento”, escrita por Pero Vaz de
Caminha ao rei de Portugal:
“ali andavam entre eles três ou quatro moças,
muito novas e gentis, com cabelos muito
pretos e compridos, caídos pelas espáduas, e
suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e
tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem
olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.”
“Os pelos do corpo são um signo de virilidade
para os europeus. Ao se depararem com os
índios imberbes, alguns filósofos acharam que
isso era mais uma demonstração da suposta
inferioridade dos habitantes da América.
Homens sem pelos, segundo esses pensadores
europeus, seriam incapazes de dominar a
natureza e de construir cidades modernas e
prósperas como as europeias”
(Kury, Lorelai, Hargreaves, Lourdes & Valença, Máslova. Ritos
do corpo, 2000)
17. IDENTIDADE
Stuart Hall: é sempre uma representação sobre si mesmo, é a posição que assumimos
na sociedade e para nós mesmos a partir da relação que estabelecemos com o “outro”.
Édouard Glissant: “(...) é disso que se trata: de uma concepção sublime e mortal que os
povos da Europa e as culturas ocidentais veicularam no mundo; ou seja, toda identidade é
uma identidade de raiz única e exclui o outro. Essa visão da identidade se opõe à noção
hoje ‘real’, nas culturas compósitas, da identidade como fator e como resultado de uma
crioulização, ou seja, da identidade como rizoma, da identidade não mais como raiz única
mas como raiz indo ao encontro de outras raízes.”
Jane Tulkian: “(...) o impacto global reflete sobre a tradição, relegando-a a um outro
plano diante da quantidade de informação, do dinamismo, da alteridade, obrigando a uma
espécie de identidade relacional, onde o ‘mesmo’ define a própria historicidade e o ‘outro’
representa o código de diferenciação.”
18. O EUROCENTRISMO E O RECONHECIMENTO DO PATRIMÔNIO NACIONAL
Etnocentrismo: perspectiva da catequização, da
“transferência de civilização”, de território “vazio”.
Povos nativos tradicionalmente considerados como
inimigos ferozes que atrapalhavam o progresso.
“A gente comum sente-se alienada tanto em relação
ao patrimônio erudito quanto aos “humildes” vestígios
arqueológicos, já que são ensinados a desprezar índios,
negros, mestiços, pobres, em outras palavras, a si
próprios e a seus antepassados.” (FUNARI, FERREIRA, 2015)
Valorização do patrimônio luso-brasileiro enquanto
representativo da identidade nacional.
Influência do Positivismo na construção da República
brasileira contribuiu para a rejeição do antigo em
benefício do novo (modernidade).
1937: criação do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Mário de Andrade).
Destruição do Sambaqui de Congonhas, em
Tubarão (SC) para exploração econômica.
(Foto: Castro Faria em 23/11/1964).
19. Estado Novo (Ditadura Vargas): Monumentos e cidades coloniais portugueses são
transformados em patrimônio cultural nacional.
Meados do século XX: Paulo Duarte e Darcy Ribeiro defendem a inclusão do patrimônio
pré-colonial e as culturas indígenas como patrimônio cultural brasileiro.
Ditadura Militar: investimento turístico nas cidades coloniais. Política
desenvolvimentista, priorizando grandes obras de infraestrutura (perspectiva ideológica
autoritária e homogenizadora), que se refletiu na centralização do próprio IPHAN e na
atuação dos profissionais técnicos (arqueólogos, historiadores, arquitetos etc), também
autoritária .
(FUNARI, MANZATO, ALFONSO, 2013, p. 44)
20. “Em Garopaba a destruição foi feita pela
prefeitura em 1975, que mandou quebrar a
marretadas os amoladores do Costão da
Casqueira, para aproveitar as pedrinhas negras
no calçamento da praça central.”
Keler Lucas, 1996, p. 109
“Na Praia do Santinho, em Florianópolis, até o ano de 1946 os
pescadores locais faziam oferendas e rezavam, pedindo proteção e boa
pescaria, em frente a uma arte rupestre com o formato de um pequeno
santo, que era a figura de um antropomorfo com a cabeça constituída
por um círculo concêntrico. Tal “Santinho”, que deu nome à praia, foi
arrancado do lugar pelos padres que achavam que aquilo era um
sacrilégio e nunca mais foi encontrado. É um caso raro em que um
símbolo sagrado pré-histórico continuo sendo sagrado até os dias de
hoje.” (Keler Lucas, 1996, p.16)
21. COMO VALORAR O PATRIMÔNIO?
Fragmento de cerâmica encontrado nas
Dunas da Ribanceira, Imbituba (09/2015) –
Foto: Rossano Lopes Bastos.
Extração de areia nas Dunas da
Ribanceira. Boa parte da areia
utilizada na construção da ponte
Anita Garibaldi (Laguna) foi extraída
desta localidade. (Foto: Polícia
Federal, 2011).
23. Desenvolvimento enquanto uma invenção da modernidade.
Teleológico, que indica um sentido, uma evolução.
Discurso do progresso.
Confusão entre desenvolvimento e crescimento.
24. Meados do Século XX
Emergência do conceito de desenvolvimento sustentável.
Guerra Fria, crises ambientais.
Marcos
Conferência das Nações Unidas
em Estocolmo (1972).
Relatório Brundtland (1987).
Cúpula da Terra no Rio de
Janeiro (1992).
25. Dentre os princípios da sustentabilidade do Relatório
Brundtland está a proteção da herança cultural humana.
O que é, entretanto, esta herança cultural humana?
Como definir a própria cultura humana?
Como determinar aquilo que se constitui como
patrimônio cultural de uma comunidade?
26. Segundo Ignacy Sachs, os discursos ancorados no crescimento
econômico não promoveram, durante a década de 1980,
equidade social, pelo contrário, aprofundaram índices de
pobreza e perpetuaram a dicotomia Norte – Sul.
Assim, insistiu na necessidade da dimensão ecológica como
garantia para a sobrevivência humana.
Alertou para os riscos de se superestimar o desenvolvimento
tecnológico.
Para Sachs, o ecodesenvolvimento possui cinco dimensões:
sustentabilidade social
sustentabilidade econômica
sustentabilidade ecológica
sustentabilidade espacial (equilíbrio rural – urbano)
sustentabilidade cultural.
27. Como forma de ação, Sachs defendeu que uma
estratégia de desenvolvimento só tem sucesso se contar
com a participação dos grupos e comunidades locais.
28. E O PATRIMÔNIO CULTURAL?
Patrimônio enquanto lugar de memória.
Memória enquanto campo de disputas políticas e
simbólicas.
Memória e sua relação com o território, o lugar, a
paisagem. Mudanças na paisagem promovem alterações
na memória.
Patrimônio enquanto discurso identitário.