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IMAGEM




Leituras
Iconográficas e
Pós-Modernidade:
da criação
humana à
criação do
humano/máquina                                                 GRANDES SOMBRAS, REPRESENTAÇÕES de angús-
                                                               tia e sofrimento nas imagens humanas do
RESUMO                                                         início do século materializaram-se pelas
A criação de imagens ou das propostas visuais pelos artistas   técnicas de xilogravura, em torno de 1905,
de diversas épocas foi, gradativamente, sofrendo transfor-     manifestando e comunicando não só o dra-
mações no modo representativo nos campos da iconografia e      ma individual do ser, mas, igualmente, o
da iconologia, devido às novas tecnologias e aos novos méto-   drama da sociedade. Esta técnica, introdu-
dos científicos.                                               zida na Europa por volta do século XV e
                                                               inspirada nos vitrais góticos, com linhas
ABSTRACT                                                       negras contornando as figuras, a dramatici-
This article describes the means for creating imagery in the   dade e os sentimentos evocativos do con-
context of the new thecnologies and scientific developments.   traste, já fornecia uma antecipação de uma
These changes are seen within the context of the post-         Pós-Modernidade emergente.
modernity condition.




Maria Beatriz Furtado Rahde
Prof. Dr. do Prog. de Pós-graduação da FAMECOS/PUCRS                 Amedeu Modigliani - Expressionismo: Cabeça de mulher (1917)


                                                Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral           75
Se teoricamente foram os anos setenta                 transcurso de sua expressividade.
que marcaram o início da Pós-Modernida-                           Experiências de representações visu-
de (Harvey, 1992), os movimentos icono-                     ais levaram os artistas dos anos 60 a intera-
gráficos pós-modernos tiveram sua origem                    gir com a ciência e a tecnologia sob o nome
no Expressionismo, no Cubismo, no Dada-                     de arte cinética, utilizando-se da luz, do mo-
ísmo, com técnicas de combinações de ma-                    vimento e da cor, numa tentativa de siste-
teriais, como a colagem, na sua maneira li-                 matizar a arte visual.
vre de pintar. Imagens de histórias em qua-                       Era a busca de resolução de proble-
drinhos, garrafas de coca-cola, restos de pa-               mas propostos pelo Construtivismo, pelo
pel pintado, pedaços de tecido, que se de-                  Dadaísmo, pelo Surrealismo e os artistas,
nominaram de combine-painting na década                     na sua maioria, passaram a interessar-se
de sessenta foram as pioneiras concepções                   por uma tecnologia crescente, que os con-
imagísticas elaboradas pelo americano Ro-                   duziu, gradativamente, na procura de no-
bert Rauschenberg entre 1960-1970 , no mo-                  vos caminhos experimentais.
vimento Neo-Dada (Thomas, 1994) .                                 Esta busca levou-os a abandonar exer-




     Fernand Léger – Cubismo: Jazz (1912-1925)                     Alexander Calder – Móbile (1968)

      O environment, uma organização artís-                 cícios com materiais tradicionais , pois es-
tica dos espaços, destaca-se, entre muitos,                 tavam mais preocupados em realizar mu-
neste período de transição, empregando di-                  danças no interior do universo gráfico/
versos materiais e elementos da mídia para                  plástico, do que na realização da obra de
chamar diretamente a atenção sobre a capa-                  arte, buscando alternativas de construção
cidade de associação e predisponibilidade                   formal e visual que modificassem a expres-
de reflexão por parte do espectador. Nesta                  sividade das imagens, por meio da inova-
direção, novas figurações foram alcançando                  ção da arte com a tecnologia e a ciência
numerosas e diversificadas formas, no                             Em 1967, no Museu de Arte Moderna


76   Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
de Paris realizou-se a exposição “Luz e             cebendo-se a música cinética de cor, a síntese
Movimento”, organizada por Frank Po-                cosmológica da música, das matemáticas,
pper. Esta mostra reuniu artistas plásticos         numa conjugação dos conhecimentos cientí-
que buscavam a expansão da arte cinética e          ficos com os conhecimentos pictóricos.
os trabalhos apresentados foram constituí-                Propostas ambientais passaram a domi-
dos de obras criadas e construídas pelo             nar os anos setenta, por meio de labirintos, jo-
movimento real da luz artificial , conforme         gos , transformações de estruturas em espaços
o organizador da mostra. Alguns estavam             internos, criados com técnicas coloridas ou efei-
ainda preocupados ou inspirados pelos fe-           tos musicais e reflexões em torno de formas fo-
nômenos estéticos, entretanto, a maioria            tografadas e expostas com textos, na sua maio-
deles buscou na técnica os meios de ex-             ria herméticos, que eram colocados diante do
pressão ainda pouco usados até aquela dé-           espectador para serem interpretados. A inter-
cada (Popper, in: Parente, 1993).                   venção do público na obra tornou-se um fator
                                                    natural, já que esta era uma das muitas inten-
     “Deste modo, arcos, spots projetores           ções destas propostas.
     dos mais variados tipos...tubos de
     néon...brancos ou coloridos, tubos flu-
     orescentes faziam sua entrada maciça
     num museu, criando ritmos engendra-
     dos ou produzindo efeitos...da inten-
     sidade, da diversidade dos projetores
     ...Essas características técnicas do
     componente da ‘luz’ combinavam-se
     de uma maneira extremamente diver-
     sa dos movimentos mecânicos simples
     ...eletrônicos, ...hidráulicos ...dos mo-
     vimentos aleatórios dos ‘móbiles’ e
     dos movimentos com fonte de luz pró-                  Vera Chaves – Testartes: O que há por detrás? (1975)
     pria.” (Popper, in: Parente, 1993)
                                                          Na XXXVII Bienal Internacional de
      Entretanto, cabe salientar que o artista      Veneza, em 1976, diversos artistas apresen-
tcheco, Zdenek Pesánek já havia construído          taram tais propostas. Interessante e intri-
formas cinéticas , por volta de 1925, que           gante era o trabalho da gaúcha Vera Cha-
operavam com a exploração da luminosida-            ves, com seus “Testartes”, enfocando as-
de artificial e as possibilidades óticas da luz     pectos da percepção do observador frente à
elétrica. Pesánek explorou uma análise teó-         fotografias em preto e branco, que mostra-
rica da luz artificial, buscando as diferenças      vam portas, portões, janelas fechadas, bal-
entre a luz/plano e a luz/espacial. Nestes          cões. Envolvendo o espectador nos seus
aparatos e acordes obtidos por teclados de          processos imaginários e mentais, a artista
piano, acoplados matematicamente ao ele-            estava interessada nas leituras destas ima-
mento de transmissão de luz, os efeitos da          gens e, principalmente, nas respostas que
luz e do som exibiam formas multicores de           tais fotografias desencadeavam naqueles
luminosidade, numa composição de man-               que observavam estas imagens e deixavam
chas abstratas de cor que fascinava os artis-       por escrito suas impressões pessoais, diante
tas (Thomas, 1994). Era uma nova abstração          da questão: “O que há por detrás?”
de imagens projetadas no espaço, que al-                  Estas e outras propostas , como já ha-
cançou o seu auge nos anos sessenta: as             via realizado a escultora Lygia Clark, entre
formas imagísticas deixavam de ser apenas           tantos, constituíam-se na desestetização da
visuais para se tornarem audiovisuais, con-         arte, não importando, realmente, se os tra-


                                      Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral          77
balhos se configuravam como obra de arte,                   e/ou digitalizadas em programas específi-
mas procurando também envolver o espec-                     cos dos computadores interagem com o es-
tador nos aspectos psicológicos da leitura                  pectador, conduzindo-o a uma nova alfa-
imagística.                                                 betização em que o simbólico e o imaginá-
      Na década de oitenta houve uma que-                   rio se entrelaçam, criando uma nova “bele-
bra de relações na arte visual das décadas                  za” estética, que muitas vezes foge à com-
anteriores e passaram- se a pesquisar as no-                preensão do fruidor da obra .
vas tecnologias, como o computador e o                            Se a arte /tecnologia vem se tornando
audiovisual , estabelecendo-se verdadeira                   cada vez mais interativa ela está se transfor-
revolução nas artes.                                        mando num meio pelo qual nós refletimos e
      A técnica passa a ser valorizada para                 nos comunicamos com nós mesmos, argu-
finalidades estéticas e é a partir daí que se               menta Rokeby (1997) , da mesma forma que
pode estabelecer uma arte da tecnologia e                   um reflexo de nossa imagem num espelho,
da ciência, na qual a pesquisa estética e a                 que se transforma pelas muitas distorções
pesquisa tecnológica se interrelacionam.                    das sombras refletidas.
      Os artistas deixaram-se envolver pe-
las possibilidades da inteligência artificial,
buscando o conhecimento de dados técni-
cos que permitiram o aperfeiçoamento de
programas de computação gráfica capazes
de realizar com a máquina, o que antes era
produzido pela mão humana.
      Novas propostas imagísticas foram
criadas, buscando-se a ligação entre o co-
nhecimento artístico do homem e as novas
tecnologias para a solução das criações es-
téticas. A teoria e o fazer artístico, antes dis-
tanciados do apoio da solução científica,
encontraram novas formulações, atendo-se                           George Segal – Instalação: A janela do restaurante (1967)
mais ao processo do que ao produto final
no conceito de obra.                                              Supõe-se que estas novas tecnologias
      As imagens ocuparam outros espaços,                   estão provocando surgimento de novas lin-
pois que numerosas produções artísticas                     guagens imagísticas, novos pensamentos,
passaram a necessitar de cálculos e siste-                  sentimentos e percepções, como a lenda ja-
matização matemática. Iniciou-se, assim,                    ponesa Das imagens misteriosas dos reflexos,
uma nova era na qual o impacto das novas                    que oferece uma interessante analogia.
tecnologias, utilizadas como ferramenta de                        Numa distante aldeia japonesa de Yo-
criação, provocaram mudanças fundamen-                      wcuski os espelhos eram desconhecidos.
tais na concepção da cultura (Popper, in:                   Certo dia um jovem camponês encontrou
Parente, 1993).                                             na rua um espelho de bolso e, como era a
      É desta forma que a imagem não                        primeira vez que via tal objeto, admirou-se
mais é o lugar da metáfora mas da meta-                     ao ver nele a imagem de um rosto moreno,
morfose, diz Couchot (1988), pois os artis-                 de olhos escuros e inteligentes. Imediata-
tas que trocaram o lápis, o papel, as telas e               mente pensou ser o retrato de seu falecido
as tintas por outras possibilidades tecnoló-                pai, julgando ser um aviso dos deuses.
gicas encontraram novas formas de explo-                    Guardou o objeto num lenço e levou-o para
ração das imagens, unindo criatividade                      sua casa, escondendo-o num jarro para que
com soluções técnicas, ou mesmo soluções                    estivesse seguro. Dia após dia, olhava o ros-
matemáticas. E estas imagens manipuladas                    to refletido com veneração, sem saber que


78   Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
sua esposa, Lili-Tsee observava seus movi-      compreensão do mundo... A auto-imagem
mentos. Intrigada com a repetição dos atos      é a referência conhecida contra a qual os
do marido, Lili-Tsee esperou ficar só e pe-     fenômenos da transformação são registra-
gou o objeto, olhando-o atentamente. Que        dos” (Rokeby, 1997). O reflexo de uma
viu ela? O retrato de uma linda mulher o        imagem pode nos iludir com a referência
que a encheu de ciúme e ódio. Com o rosto       do nosso próprio reflexo. Por esta razão a
contorcido, olhou mais uma vez a terrível       imagem pode transmitir um sem número
imagem, sem entender porque o marido            de reflexos, de significações diferenciadas,
admirava um rosto tão feio! Sem animo           dependendo do ângulo prismático pelo
para nada, Lili-Tsee esperou o marido que,      qual a visão humana dirige a sua atenção.
ao chegar , foi logo agredido por palavras      As obras de arte não são espelhos diz Gom-
ásperas. “É assim que mereço ser tratado        brich (1986), mas, como espelhos, elas par-
depois de um ano de casamento?” pergun-         ticipam da ardilosa magia da transforma-
tou, indignado. “O mesmo te posso per-          ção imagística, tornando as imagens simu-
guntar – disse a esposa –uma vez que guar-      lacros de algo ausente, ou, como diz Maffe-
das retratos de mulheres no meu jarro de        soli (1995) , a sombra das coisas num movi-
rosas”. “Que queres dizer” ? perguntou o        mento sem fim.
camponês admirado e estendendo a mão                  A descoberta da fotografia no século
para o espelho que a mulher lhe mostrava:       passado e, posteriormente, a decomposição
“Que tens outra mulher, que é feia e que        fotográfica para a obtenção do movimento
isto eu não compreendo!”- exclamou Lili-        com o cinema, são exemplos significativos
Tsee. Tomando o espelho, o camponês             da magia transformadora da imagem. O
murmurou: “Lili-Tsee, o que estás dizen-        cinema como invenção científica e objeto
do? O retrato é a viva imagem de meu ve-        de lazer nos parques de diversões está fu-
nerado e falecido pai. Encontrei-o na rua e     gindo da esfera do contar uma história para
o guardei comigo para relembrar-lhe a ima-      se tornar uma verdadeira fábrica de ilu-
gem...” “Supões-me incapaz de distinguir        sões imagísticas. A arte e a tecnologia liga-
o rosto de um homem do de uma mulher?           ram-se tão intimamente para envolver o es-
“- respondeu a esposa com indignação ,          pectador no mundo do entretenimento, que
voltando-lhe as costas e chorando , ao ima-     a “arte de contar uma história” vem se tor-
ginar sua felicidade destruída por aquele       nando secundária. Parece que o drama, o
retrato. Enquanto o marido achava comple-       cotidiano não mais importam na era tecno-
tamente ridícula a acusação de sua compa-       lógica. As indústrias de efeitos especiais to-
nheira passou pela porta aberta da peque-       maram o lugar da criação literária, em que
na casa, um monge que havia escutado as         o roteirista trabalhava o significado para
palavras ásperas dos esposos. Inteirado         que a história prendesse a atenção, desper-
dos fatos pelo casal indignado, o monge re-     tasse a curiosidade e o prazer de assistir a
trucou: “Deixai-me ver este retrato”. Assim     um filme, apreendendo as complexidades
que olhou a imagem refletida no espelho, o      de uma trama bem urdida. Os efeitos espe-
monge inclinou-se respeitosamente e disse       ciais ilusórios, obtidos pela moderna com-
com voz comovida: “É o retrato dum vene-        putação gráfica tornam o roteiro secundá-
rável sacerdote; não compreendo como pu-        rio. Contar uma história em metros de celu-
deram os dois enganarem-se desta forma!         lóide, em poucos anos, será objeto do passa-
Deixai-me guardar esta imagem junto às          do, já que a digitalização vem dominando a
santas relíquias do templo! ” E abençoan-       indústria cinematográfica.
do o casal, foi-se embora, segurando res-               O diretor e produtor George Lucas,
peitosamente o espelho contra o peito.          da série Guerra nas Estrelas que lançou re-
      Esta fábula demonstra que os refle-       centemente “Episódio I – A Ameaça Fantas-
xos transformados “são as chaves para a         ma”, com mais de 1900 efeitos especiais,


                                  Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral   79
acredita que no próximo século os estúdios                  Bradbury ou Isaac Asimov, já nos anos 40 e
vão utilizar câmaras digitais com interfaces                50, projetaram imagens de condições pós-
compatíveis a computadores que vão criar                    modernistas, nas quais a libertação do des-
os efeitos especiais. O novo filme do dire-                 tino humano em campos ilimitados foram
tor, já é 95% digital e o Episódio II da série,             muito além das contingências do espaço
programado para lançamento em 2002 será                     real. A tecnologia criada pela literatura de
todo produzido, editado e projetado com a                   ficção apresentou realidades sempre muito
nova tecnologia. Desta forma, a tecnologia                  adiante da própria época e dentre estas en-
digital dispensará as milhares de cópias                    tão fictícias realidades fantásticas, a reali-
para distribuir às salas de projeção: Os fil-               dade virtual já ia além do fliperama ou da
mes serão guardados em arquivos digitais                    televisão, num profundo desejo de proje-
e transmitidos por satélite e fibra ótica.                  ção dos sentidos humanos, criando novos
       Nesta perspectiva os críticos de cine-               mundos, novas imagens do inconsciente,
ma são enfáticos em afirmar, na sua maio-                   numa comprovação da possibilidade da
ria, que a grande atração dos novos filmes                  existência de novas realidades. Numa con-
são os efeitos especiais e as inovações tec-                cepção Pós-Moderna, a criação gráfico/
nológicas que cercam a geração destas no-                   plástica está presente no processo do ima-
vas imagens, com riqueza de detalhes ex-                    ginário, das tecnologias de projeção de for-
cepcionalmente elaborados , tornando-se                     mas e idéias que se transformam numa ou-
possível mostrar na tela formas imagísticas                 tra realidade que não se pode denominar
, as mais impossíveis de serem concebidas,                  irreal ou virtual, pois tudo o que a imagi-
mas tornadas realidade pelo imaginário do                   nação projeta, a tecnologia vem tornando
cineasta e pela visão do espectador, graças                 possível de se tornar realidade.
aos recursos gráficos da tecnologia digital,                      O papel hermenêutico da arte é capaz
reflexo da transmutação de outros valores                   de reproduzir e re-interpretar os muitos sa-
entendidos como Pós-Modernos, em que as                     beres humanos, permeados por estudos de
mais diversificadas manifestações das ima-                  resolução formal da arte/tecnologia, na cri-
gens vêm apresentando um teor transfor-                     ação de mundos e cenários que interagem
mador das coisas existentes.                                com a realidade vivida e a realidade deseja-
       O caráter antecipador das imagens                    da. Einsten já dizia que a imaginação huma-
leva-nos à indagações sobre o seu futuro,                   na é mais poderosa que o conhecimento e,
tendo como base as últimas décadas deste                    atualmente, a imaginação, aliada ao conhe-
século. A informatização, a computação                      cimento das novas tecnologias, têm permiti-
gráfica, a comunicação global, são fatos que                do ao homem o alcance da mais inimaginá-
corroboram a supremacia das novas tecno-                    vel idéia formal.
logias, que vêm constituindo uma nova so-                         Considerando a imagem como frag-
ciedade, embora ainda não haja o domínio                    mentária, Parente (1993) reflete sobre sua
de todas as pessoas que compõem esta so-                    desmitificação do todo. As imagens indife-
ciedade pós-utópica sobre como dominar e                    renciadas da televisão, as imagens homoge-
manipular estas novas linguagens visuais.                   neizadas do digital, as imagens totalizado-
       É assim que as inovações tecnológicas                ras do holograma demonstram a racionali-
no campo da imagem permeiam a criativi-                     dade cristalizada pelas novas tecnologias .
dade humana na articulação de novas ela-                    A representação imagística deixa de ser a
borações formais que se articulam com o                     “janela da alma”, passando a ser a “janela
social, envolvendo o imaginário com novas                   do cérebro”, que passa a controlar as fun-
formas e novos mundos possíveis de conce-                   ções do potencial criativo, controlar a ima-
ber com o conhecimento das novas tecnolo-                   gem e o olhar para novos mundos. É, pois a
gias.                                                       linguagem que faz da imagem um objeto, e
       Autores de ficção científica como Ray                do olho, um sujeito. Diz ainda Parente:


80   Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
“Primeiro encontramos... uma imagem que            interrogar-nos sobre a natureza do que é
faz cintilar nossa percepção, nosso pensa-         realidade pois que a imagem virtual, pro-
mento. Em seguida nos encontramos mer-             duto da imaginação complementada pelas
gulhados nela, para pensar com ela... Hoje,        inovações tecnológicas, recria o sonho e
com a industrialização da imagem, a ima-           nos torna protagonistas do mundo antes
gem pensa em nosso lugar. Havíamos feito           considerado da fantasia, numa união da
da imagem a nossa morada, doravante ela            sensibilidade com a cognição.
faz de nós sua morada...”                                A imagem passou a se reproduzir, refe-
      Para melhor compreensão destas idéi-         re Parente. Ela passou a reproduzir o sujeito;
as é necessário que se adquira um alfabetis-       as imagens da era da sua reprodutibilidade
mo crítico no domínio da leitura destas no-        técnica é a imagem na era da automatização
vas formas imagísticas , na compreensão            do sujeito. “A imagem, que integrava uma
dos seus significados formais e como estas         cultura, se colocou ao lado da tecnociência
formas podem ser analisadas no seu contex-         como forma de estabelecer seu pequeno im-
to cultural, o que elas significam, como elas      pério de sujeição”, pondera ainda este autor.
influenciam e como podem moldar seus lei-
tores. Como o universo das letras, o univer-
so imagístico necessita ser lido e interpreta-
do. A imagem é elemento de escrita e leitu-
ra, estabelecendo um diálogo entre o cria-
dor e o receptor, tendo por base a experiên-
cia visual da realidade, uma alusão, uma
lembrança, uma estrutura que pode criar
muitas formas de beleza harmônica. As
imagens da Pós-Modernidade, desconstruí-
das , relidas, re-interpretadas apresentam
outros domínios e outros conceitos de lin-
guagem em que imperam territórios livres e
ilimitados. A pluralidade da tecnologia vem
proporcionando aos artistas e comunicadores
gráficos inumeráveis campos de exploração
do irreal/real com os mundos virtuais, que
vão exigir uma atenção cada vez maior para a
sua compreensão: do lúdico, do onírico, do
realismo fantástico que vêem permeando os
movimentos artístico/culturais, através da
História da Arte que recebe de braços abertos
a arte/ciência nos últimos tempos.
      No virtual está sendo possível a cria-
ção de novos “mundos”: As imagens dei-
xam de ser apresentadas, delineadas à visão
para se tornarem parte de nós mesmos, se-
rem habitadas, vivenciadas como extensão
de nosso corpo e espírito em novas realida-
des. Diante do mundo das artes, que con-
sistia na criação e na contemplação imagís-               Masaki Fujihata – Arte Virtual: Beyond Pages (1999)
tica estará o homem preparado para fazer
parte dos novos mundos virtuais? As reali-              Construir imagens artesanalmente ou
dades virtuais que aí estão, obrigam-nos a         construí-las com o auxílio das máquinas é


                                     Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral         81
simplesmente uma troca de ferramenta                        de problemas formais, imaginando novas
para a solução formal. O importante é sa-                   inferências, pois é com a imaginação que o
ber, saber ver , saber fazer e saber ser, isto é,           homem vem construindo o mundo para a
buscar caminhos capazes de ativar a criati-                 transformação do universo.
vidade, a sensibilização para a construção                        Ao lado da filosofia a arte há de ser
de novos saberes, plurais, nos quais os atos                considerada entre as mais altas atividades
de conhecimento serão, na sua essência di-                  humanas, pois ela tem por objeto aquela
rigidos e orientados pela imaginação cria-                  mesma essência das coisas, aquele universal
dora, sem sujeições, sem preconceitos ou                    que é o objeto da filosofia. Enquanto a filo-
busca de modismos. A procura por uma or-                    sofia apresenta este universal mediante
dem estética é imprescindível, prevalecen-                  conceitos abstratos, a arte o representa, me-
do não mais o indivíduo encastelado no                      diante imagens, que, abstratas ou não, reali-
seu ato criativo, mas o homem, a criativida-                zadas como tecnociência ou não concreti-
de a estética e a ética como peças de um                    zam fantasticamente o universal racional no
produto da obra para a sua comunicação                      particular sensível. É o oferecimento do in-
com o mundo por meio da imagem. Estas                       teligível quando aprendemos a compreen-
ponderações poderão se constituir na cha-                   der o alfabeto cada vez mais amplo das
ve para a não automação humana , mas a                      concepções iconográficas; é o racional con-
sua relação com a cultura em que vive,                      cretizado no sensível que há de ser objeto
quando padrões éticos e estéticos se torna-                 de múltiplas leituras para a compreensão
rem reais sustentáculos do processo de cri-                 conceptual.
ação.                                                             A imagem é infinita. Refletir sobre ela
                                                            e seus fractais poderá ser a grande chance
                                                            das novas leituras imagísticas da arte e da
Considerações finais                                        tecnologia para o século XXI s

      Estas reflexões conduzem-nos à visão
de uma interpenetração cultural em que os                   Referências
contrários se tornam aliados, pondera Ma-
ffesoli (1995) , parafraseando uma afirmati-                COUCHOT, Edmond. Images: de l’optique au numérique. Les
va já preconizada por Leonardo da Vinci                       arts visuels et l’évolution
(1452-1519), quando afirmou que a verda-                      des technologies. Paris: Hermès, 1988.
deira harmonia se encontra na repetição
dos contrários, que, em última análise, é                   DE VINCI, Leonardo. Tratado de la pintura. Madrid: Aguilar,
uma das características da Pós-Modernida-                      1950.
de, isto é, a união e a repetição das formas
contrárias. É desta maneira que os estilos                  GOMBRICH, E.M. Arte e ilusão. São Paulo: Martins Fontes,
específicos deixaram de existir como câno-                    1986.
nes imutáveis e se mesclaram a novas con-
figurações, numa associação de novos fato-                  HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola,
res que aumentam a eficiência das soluções                    1992.
formais.
      A compreensão e a releitura do uni-                   MAFFESOLI, Michel. A contemplação do mundo. Porto Alegre:
verso das imagens possibilita o encontro de                   Artes e Ofícios, 1995.
caminhos diversificados, direcionando-nos
para novas reflexões sobre o processo criati-               PADOVANI, U. História da filosofia. São Paulo: Melhoramen-
vo das muitas formas imagísticas, relacio-                    tos: 1961.
nando conceitos e sentimentos, buscando a
ciência como um dos pontos de soluções                      PARENTE, André (org). Imagem máquina. A era das tecnologias


82   Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
do virtual. Rio de Janeiro: Ed.34, 1993.

POPPER, Frank. As imagens artísticas e a tecnociência. In:
  PARENTE, André. Imagem máquina. A era das tecnologias do
  virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 201-213.

ROKEBY, David. Espelhos transformadores. In: DOMIN-
  GUES, Diana. A arte no século XXI. A humanização das
  tecnologias. São Paulo: UNESP, 1997, p. 67-69.

THOMAS, Karin. Hasta hoy: estilos de las artes plasticas em el
  siglo XX. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1994.




                                                  Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral   83

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  • 1. IMAGEM Leituras Iconográficas e Pós-Modernidade: da criação humana à criação do humano/máquina GRANDES SOMBRAS, REPRESENTAÇÕES de angús- tia e sofrimento nas imagens humanas do RESUMO início do século materializaram-se pelas A criação de imagens ou das propostas visuais pelos artistas técnicas de xilogravura, em torno de 1905, de diversas épocas foi, gradativamente, sofrendo transfor- manifestando e comunicando não só o dra- mações no modo representativo nos campos da iconografia e ma individual do ser, mas, igualmente, o da iconologia, devido às novas tecnologias e aos novos méto- drama da sociedade. Esta técnica, introdu- dos científicos. zida na Europa por volta do século XV e inspirada nos vitrais góticos, com linhas ABSTRACT negras contornando as figuras, a dramatici- This article describes the means for creating imagery in the dade e os sentimentos evocativos do con- context of the new thecnologies and scientific developments. traste, já fornecia uma antecipação de uma These changes are seen within the context of the post- Pós-Modernidade emergente. modernity condition. Maria Beatriz Furtado Rahde Prof. Dr. do Prog. de Pós-graduação da FAMECOS/PUCRS Amedeu Modigliani - Expressionismo: Cabeça de mulher (1917) Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 75
  • 2. Se teoricamente foram os anos setenta transcurso de sua expressividade. que marcaram o início da Pós-Modernida- Experiências de representações visu- de (Harvey, 1992), os movimentos icono- ais levaram os artistas dos anos 60 a intera- gráficos pós-modernos tiveram sua origem gir com a ciência e a tecnologia sob o nome no Expressionismo, no Cubismo, no Dada- de arte cinética, utilizando-se da luz, do mo- ísmo, com técnicas de combinações de ma- vimento e da cor, numa tentativa de siste- teriais, como a colagem, na sua maneira li- matizar a arte visual. vre de pintar. Imagens de histórias em qua- Era a busca de resolução de proble- drinhos, garrafas de coca-cola, restos de pa- mas propostos pelo Construtivismo, pelo pel pintado, pedaços de tecido, que se de- Dadaísmo, pelo Surrealismo e os artistas, nominaram de combine-painting na década na sua maioria, passaram a interessar-se de sessenta foram as pioneiras concepções por uma tecnologia crescente, que os con- imagísticas elaboradas pelo americano Ro- duziu, gradativamente, na procura de no- bert Rauschenberg entre 1960-1970 , no mo- vos caminhos experimentais. vimento Neo-Dada (Thomas, 1994) . Esta busca levou-os a abandonar exer- Fernand Léger – Cubismo: Jazz (1912-1925) Alexander Calder – Móbile (1968) O environment, uma organização artís- cícios com materiais tradicionais , pois es- tica dos espaços, destaca-se, entre muitos, tavam mais preocupados em realizar mu- neste período de transição, empregando di- danças no interior do universo gráfico/ versos materiais e elementos da mídia para plástico, do que na realização da obra de chamar diretamente a atenção sobre a capa- arte, buscando alternativas de construção cidade de associação e predisponibilidade formal e visual que modificassem a expres- de reflexão por parte do espectador. Nesta sividade das imagens, por meio da inova- direção, novas figurações foram alcançando ção da arte com a tecnologia e a ciência numerosas e diversificadas formas, no Em 1967, no Museu de Arte Moderna 76 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
  • 3. de Paris realizou-se a exposição “Luz e cebendo-se a música cinética de cor, a síntese Movimento”, organizada por Frank Po- cosmológica da música, das matemáticas, pper. Esta mostra reuniu artistas plásticos numa conjugação dos conhecimentos cientí- que buscavam a expansão da arte cinética e ficos com os conhecimentos pictóricos. os trabalhos apresentados foram constituí- Propostas ambientais passaram a domi- dos de obras criadas e construídas pelo nar os anos setenta, por meio de labirintos, jo- movimento real da luz artificial , conforme gos , transformações de estruturas em espaços o organizador da mostra. Alguns estavam internos, criados com técnicas coloridas ou efei- ainda preocupados ou inspirados pelos fe- tos musicais e reflexões em torno de formas fo- nômenos estéticos, entretanto, a maioria tografadas e expostas com textos, na sua maio- deles buscou na técnica os meios de ex- ria herméticos, que eram colocados diante do pressão ainda pouco usados até aquela dé- espectador para serem interpretados. A inter- cada (Popper, in: Parente, 1993). venção do público na obra tornou-se um fator natural, já que esta era uma das muitas inten- “Deste modo, arcos, spots projetores ções destas propostas. dos mais variados tipos...tubos de néon...brancos ou coloridos, tubos flu- orescentes faziam sua entrada maciça num museu, criando ritmos engendra- dos ou produzindo efeitos...da inten- sidade, da diversidade dos projetores ...Essas características técnicas do componente da ‘luz’ combinavam-se de uma maneira extremamente diver- sa dos movimentos mecânicos simples ...eletrônicos, ...hidráulicos ...dos mo- vimentos aleatórios dos ‘móbiles’ e dos movimentos com fonte de luz pró- Vera Chaves – Testartes: O que há por detrás? (1975) pria.” (Popper, in: Parente, 1993) Na XXXVII Bienal Internacional de Entretanto, cabe salientar que o artista Veneza, em 1976, diversos artistas apresen- tcheco, Zdenek Pesánek já havia construído taram tais propostas. Interessante e intri- formas cinéticas , por volta de 1925, que gante era o trabalho da gaúcha Vera Cha- operavam com a exploração da luminosida- ves, com seus “Testartes”, enfocando as- de artificial e as possibilidades óticas da luz pectos da percepção do observador frente à elétrica. Pesánek explorou uma análise teó- fotografias em preto e branco, que mostra- rica da luz artificial, buscando as diferenças vam portas, portões, janelas fechadas, bal- entre a luz/plano e a luz/espacial. Nestes cões. Envolvendo o espectador nos seus aparatos e acordes obtidos por teclados de processos imaginários e mentais, a artista piano, acoplados matematicamente ao ele- estava interessada nas leituras destas ima- mento de transmissão de luz, os efeitos da gens e, principalmente, nas respostas que luz e do som exibiam formas multicores de tais fotografias desencadeavam naqueles luminosidade, numa composição de man- que observavam estas imagens e deixavam chas abstratas de cor que fascinava os artis- por escrito suas impressões pessoais, diante tas (Thomas, 1994). Era uma nova abstração da questão: “O que há por detrás?” de imagens projetadas no espaço, que al- Estas e outras propostas , como já ha- cançou o seu auge nos anos sessenta: as via realizado a escultora Lygia Clark, entre formas imagísticas deixavam de ser apenas tantos, constituíam-se na desestetização da visuais para se tornarem audiovisuais, con- arte, não importando, realmente, se os tra- Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 77
  • 4. balhos se configuravam como obra de arte, e/ou digitalizadas em programas específi- mas procurando também envolver o espec- cos dos computadores interagem com o es- tador nos aspectos psicológicos da leitura pectador, conduzindo-o a uma nova alfa- imagística. betização em que o simbólico e o imaginá- Na década de oitenta houve uma que- rio se entrelaçam, criando uma nova “bele- bra de relações na arte visual das décadas za” estética, que muitas vezes foge à com- anteriores e passaram- se a pesquisar as no- preensão do fruidor da obra . vas tecnologias, como o computador e o Se a arte /tecnologia vem se tornando audiovisual , estabelecendo-se verdadeira cada vez mais interativa ela está se transfor- revolução nas artes. mando num meio pelo qual nós refletimos e A técnica passa a ser valorizada para nos comunicamos com nós mesmos, argu- finalidades estéticas e é a partir daí que se menta Rokeby (1997) , da mesma forma que pode estabelecer uma arte da tecnologia e um reflexo de nossa imagem num espelho, da ciência, na qual a pesquisa estética e a que se transforma pelas muitas distorções pesquisa tecnológica se interrelacionam. das sombras refletidas. Os artistas deixaram-se envolver pe- las possibilidades da inteligência artificial, buscando o conhecimento de dados técni- cos que permitiram o aperfeiçoamento de programas de computação gráfica capazes de realizar com a máquina, o que antes era produzido pela mão humana. Novas propostas imagísticas foram criadas, buscando-se a ligação entre o co- nhecimento artístico do homem e as novas tecnologias para a solução das criações es- téticas. A teoria e o fazer artístico, antes dis- tanciados do apoio da solução científica, encontraram novas formulações, atendo-se George Segal – Instalação: A janela do restaurante (1967) mais ao processo do que ao produto final no conceito de obra. Supõe-se que estas novas tecnologias As imagens ocuparam outros espaços, estão provocando surgimento de novas lin- pois que numerosas produções artísticas guagens imagísticas, novos pensamentos, passaram a necessitar de cálculos e siste- sentimentos e percepções, como a lenda ja- matização matemática. Iniciou-se, assim, ponesa Das imagens misteriosas dos reflexos, uma nova era na qual o impacto das novas que oferece uma interessante analogia. tecnologias, utilizadas como ferramenta de Numa distante aldeia japonesa de Yo- criação, provocaram mudanças fundamen- wcuski os espelhos eram desconhecidos. tais na concepção da cultura (Popper, in: Certo dia um jovem camponês encontrou Parente, 1993). na rua um espelho de bolso e, como era a É desta forma que a imagem não primeira vez que via tal objeto, admirou-se mais é o lugar da metáfora mas da meta- ao ver nele a imagem de um rosto moreno, morfose, diz Couchot (1988), pois os artis- de olhos escuros e inteligentes. Imediata- tas que trocaram o lápis, o papel, as telas e mente pensou ser o retrato de seu falecido as tintas por outras possibilidades tecnoló- pai, julgando ser um aviso dos deuses. gicas encontraram novas formas de explo- Guardou o objeto num lenço e levou-o para ração das imagens, unindo criatividade sua casa, escondendo-o num jarro para que com soluções técnicas, ou mesmo soluções estivesse seguro. Dia após dia, olhava o ros- matemáticas. E estas imagens manipuladas to refletido com veneração, sem saber que 78 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
  • 5. sua esposa, Lili-Tsee observava seus movi- compreensão do mundo... A auto-imagem mentos. Intrigada com a repetição dos atos é a referência conhecida contra a qual os do marido, Lili-Tsee esperou ficar só e pe- fenômenos da transformação são registra- gou o objeto, olhando-o atentamente. Que dos” (Rokeby, 1997). O reflexo de uma viu ela? O retrato de uma linda mulher o imagem pode nos iludir com a referência que a encheu de ciúme e ódio. Com o rosto do nosso próprio reflexo. Por esta razão a contorcido, olhou mais uma vez a terrível imagem pode transmitir um sem número imagem, sem entender porque o marido de reflexos, de significações diferenciadas, admirava um rosto tão feio! Sem animo dependendo do ângulo prismático pelo para nada, Lili-Tsee esperou o marido que, qual a visão humana dirige a sua atenção. ao chegar , foi logo agredido por palavras As obras de arte não são espelhos diz Gom- ásperas. “É assim que mereço ser tratado brich (1986), mas, como espelhos, elas par- depois de um ano de casamento?” pergun- ticipam da ardilosa magia da transforma- tou, indignado. “O mesmo te posso per- ção imagística, tornando as imagens simu- guntar – disse a esposa –uma vez que guar- lacros de algo ausente, ou, como diz Maffe- das retratos de mulheres no meu jarro de soli (1995) , a sombra das coisas num movi- rosas”. “Que queres dizer” ? perguntou o mento sem fim. camponês admirado e estendendo a mão A descoberta da fotografia no século para o espelho que a mulher lhe mostrava: passado e, posteriormente, a decomposição “Que tens outra mulher, que é feia e que fotográfica para a obtenção do movimento isto eu não compreendo!”- exclamou Lili- com o cinema, são exemplos significativos Tsee. Tomando o espelho, o camponês da magia transformadora da imagem. O murmurou: “Lili-Tsee, o que estás dizen- cinema como invenção científica e objeto do? O retrato é a viva imagem de meu ve- de lazer nos parques de diversões está fu- nerado e falecido pai. Encontrei-o na rua e gindo da esfera do contar uma história para o guardei comigo para relembrar-lhe a ima- se tornar uma verdadeira fábrica de ilu- gem...” “Supões-me incapaz de distinguir sões imagísticas. A arte e a tecnologia liga- o rosto de um homem do de uma mulher? ram-se tão intimamente para envolver o es- “- respondeu a esposa com indignação , pectador no mundo do entretenimento, que voltando-lhe as costas e chorando , ao ima- a “arte de contar uma história” vem se tor- ginar sua felicidade destruída por aquele nando secundária. Parece que o drama, o retrato. Enquanto o marido achava comple- cotidiano não mais importam na era tecno- tamente ridícula a acusação de sua compa- lógica. As indústrias de efeitos especiais to- nheira passou pela porta aberta da peque- maram o lugar da criação literária, em que na casa, um monge que havia escutado as o roteirista trabalhava o significado para palavras ásperas dos esposos. Inteirado que a história prendesse a atenção, desper- dos fatos pelo casal indignado, o monge re- tasse a curiosidade e o prazer de assistir a trucou: “Deixai-me ver este retrato”. Assim um filme, apreendendo as complexidades que olhou a imagem refletida no espelho, o de uma trama bem urdida. Os efeitos espe- monge inclinou-se respeitosamente e disse ciais ilusórios, obtidos pela moderna com- com voz comovida: “É o retrato dum vene- putação gráfica tornam o roteiro secundá- rável sacerdote; não compreendo como pu- rio. Contar uma história em metros de celu- deram os dois enganarem-se desta forma! lóide, em poucos anos, será objeto do passa- Deixai-me guardar esta imagem junto às do, já que a digitalização vem dominando a santas relíquias do templo! ” E abençoan- indústria cinematográfica. do o casal, foi-se embora, segurando res- O diretor e produtor George Lucas, peitosamente o espelho contra o peito. da série Guerra nas Estrelas que lançou re- Esta fábula demonstra que os refle- centemente “Episódio I – A Ameaça Fantas- xos transformados “são as chaves para a ma”, com mais de 1900 efeitos especiais, Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 79
  • 6. acredita que no próximo século os estúdios Bradbury ou Isaac Asimov, já nos anos 40 e vão utilizar câmaras digitais com interfaces 50, projetaram imagens de condições pós- compatíveis a computadores que vão criar modernistas, nas quais a libertação do des- os efeitos especiais. O novo filme do dire- tino humano em campos ilimitados foram tor, já é 95% digital e o Episódio II da série, muito além das contingências do espaço programado para lançamento em 2002 será real. A tecnologia criada pela literatura de todo produzido, editado e projetado com a ficção apresentou realidades sempre muito nova tecnologia. Desta forma, a tecnologia adiante da própria época e dentre estas en- digital dispensará as milhares de cópias tão fictícias realidades fantásticas, a reali- para distribuir às salas de projeção: Os fil- dade virtual já ia além do fliperama ou da mes serão guardados em arquivos digitais televisão, num profundo desejo de proje- e transmitidos por satélite e fibra ótica. ção dos sentidos humanos, criando novos Nesta perspectiva os críticos de cine- mundos, novas imagens do inconsciente, ma são enfáticos em afirmar, na sua maio- numa comprovação da possibilidade da ria, que a grande atração dos novos filmes existência de novas realidades. Numa con- são os efeitos especiais e as inovações tec- cepção Pós-Moderna, a criação gráfico/ nológicas que cercam a geração destas no- plástica está presente no processo do ima- vas imagens, com riqueza de detalhes ex- ginário, das tecnologias de projeção de for- cepcionalmente elaborados , tornando-se mas e idéias que se transformam numa ou- possível mostrar na tela formas imagísticas tra realidade que não se pode denominar , as mais impossíveis de serem concebidas, irreal ou virtual, pois tudo o que a imagi- mas tornadas realidade pelo imaginário do nação projeta, a tecnologia vem tornando cineasta e pela visão do espectador, graças possível de se tornar realidade. aos recursos gráficos da tecnologia digital, O papel hermenêutico da arte é capaz reflexo da transmutação de outros valores de reproduzir e re-interpretar os muitos sa- entendidos como Pós-Modernos, em que as beres humanos, permeados por estudos de mais diversificadas manifestações das ima- resolução formal da arte/tecnologia, na cri- gens vêm apresentando um teor transfor- ação de mundos e cenários que interagem mador das coisas existentes. com a realidade vivida e a realidade deseja- O caráter antecipador das imagens da. Einsten já dizia que a imaginação huma- leva-nos à indagações sobre o seu futuro, na é mais poderosa que o conhecimento e, tendo como base as últimas décadas deste atualmente, a imaginação, aliada ao conhe- século. A informatização, a computação cimento das novas tecnologias, têm permiti- gráfica, a comunicação global, são fatos que do ao homem o alcance da mais inimaginá- corroboram a supremacia das novas tecno- vel idéia formal. logias, que vêm constituindo uma nova so- Considerando a imagem como frag- ciedade, embora ainda não haja o domínio mentária, Parente (1993) reflete sobre sua de todas as pessoas que compõem esta so- desmitificação do todo. As imagens indife- ciedade pós-utópica sobre como dominar e renciadas da televisão, as imagens homoge- manipular estas novas linguagens visuais. neizadas do digital, as imagens totalizado- É assim que as inovações tecnológicas ras do holograma demonstram a racionali- no campo da imagem permeiam a criativi- dade cristalizada pelas novas tecnologias . dade humana na articulação de novas ela- A representação imagística deixa de ser a borações formais que se articulam com o “janela da alma”, passando a ser a “janela social, envolvendo o imaginário com novas do cérebro”, que passa a controlar as fun- formas e novos mundos possíveis de conce- ções do potencial criativo, controlar a ima- ber com o conhecimento das novas tecnolo- gem e o olhar para novos mundos. É, pois a gias. linguagem que faz da imagem um objeto, e Autores de ficção científica como Ray do olho, um sujeito. Diz ainda Parente: 80 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
  • 7. “Primeiro encontramos... uma imagem que interrogar-nos sobre a natureza do que é faz cintilar nossa percepção, nosso pensa- realidade pois que a imagem virtual, pro- mento. Em seguida nos encontramos mer- duto da imaginação complementada pelas gulhados nela, para pensar com ela... Hoje, inovações tecnológicas, recria o sonho e com a industrialização da imagem, a ima- nos torna protagonistas do mundo antes gem pensa em nosso lugar. Havíamos feito considerado da fantasia, numa união da da imagem a nossa morada, doravante ela sensibilidade com a cognição. faz de nós sua morada...” A imagem passou a se reproduzir, refe- Para melhor compreensão destas idéi- re Parente. Ela passou a reproduzir o sujeito; as é necessário que se adquira um alfabetis- as imagens da era da sua reprodutibilidade mo crítico no domínio da leitura destas no- técnica é a imagem na era da automatização vas formas imagísticas , na compreensão do sujeito. “A imagem, que integrava uma dos seus significados formais e como estas cultura, se colocou ao lado da tecnociência formas podem ser analisadas no seu contex- como forma de estabelecer seu pequeno im- to cultural, o que elas significam, como elas pério de sujeição”, pondera ainda este autor. influenciam e como podem moldar seus lei- tores. Como o universo das letras, o univer- so imagístico necessita ser lido e interpreta- do. A imagem é elemento de escrita e leitu- ra, estabelecendo um diálogo entre o cria- dor e o receptor, tendo por base a experiên- cia visual da realidade, uma alusão, uma lembrança, uma estrutura que pode criar muitas formas de beleza harmônica. As imagens da Pós-Modernidade, desconstruí- das , relidas, re-interpretadas apresentam outros domínios e outros conceitos de lin- guagem em que imperam territórios livres e ilimitados. A pluralidade da tecnologia vem proporcionando aos artistas e comunicadores gráficos inumeráveis campos de exploração do irreal/real com os mundos virtuais, que vão exigir uma atenção cada vez maior para a sua compreensão: do lúdico, do onírico, do realismo fantástico que vêem permeando os movimentos artístico/culturais, através da História da Arte que recebe de braços abertos a arte/ciência nos últimos tempos. No virtual está sendo possível a cria- ção de novos “mundos”: As imagens dei- xam de ser apresentadas, delineadas à visão para se tornarem parte de nós mesmos, se- rem habitadas, vivenciadas como extensão de nosso corpo e espírito em novas realida- des. Diante do mundo das artes, que con- sistia na criação e na contemplação imagís- Masaki Fujihata – Arte Virtual: Beyond Pages (1999) tica estará o homem preparado para fazer parte dos novos mundos virtuais? As reali- Construir imagens artesanalmente ou dades virtuais que aí estão, obrigam-nos a construí-las com o auxílio das máquinas é Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 81
  • 8. simplesmente uma troca de ferramenta de problemas formais, imaginando novas para a solução formal. O importante é sa- inferências, pois é com a imaginação que o ber, saber ver , saber fazer e saber ser, isto é, homem vem construindo o mundo para a buscar caminhos capazes de ativar a criati- transformação do universo. vidade, a sensibilização para a construção Ao lado da filosofia a arte há de ser de novos saberes, plurais, nos quais os atos considerada entre as mais altas atividades de conhecimento serão, na sua essência di- humanas, pois ela tem por objeto aquela rigidos e orientados pela imaginação cria- mesma essência das coisas, aquele universal dora, sem sujeições, sem preconceitos ou que é o objeto da filosofia. Enquanto a filo- busca de modismos. A procura por uma or- sofia apresenta este universal mediante dem estética é imprescindível, prevalecen- conceitos abstratos, a arte o representa, me- do não mais o indivíduo encastelado no diante imagens, que, abstratas ou não, reali- seu ato criativo, mas o homem, a criativida- zadas como tecnociência ou não concreti- de a estética e a ética como peças de um zam fantasticamente o universal racional no produto da obra para a sua comunicação particular sensível. É o oferecimento do in- com o mundo por meio da imagem. Estas teligível quando aprendemos a compreen- ponderações poderão se constituir na cha- der o alfabeto cada vez mais amplo das ve para a não automação humana , mas a concepções iconográficas; é o racional con- sua relação com a cultura em que vive, cretizado no sensível que há de ser objeto quando padrões éticos e estéticos se torna- de múltiplas leituras para a compreensão rem reais sustentáculos do processo de cri- conceptual. ação. A imagem é infinita. Refletir sobre ela e seus fractais poderá ser a grande chance das novas leituras imagísticas da arte e da Considerações finais tecnologia para o século XXI s Estas reflexões conduzem-nos à visão de uma interpenetração cultural em que os Referências contrários se tornam aliados, pondera Ma- ffesoli (1995) , parafraseando uma afirmati- COUCHOT, Edmond. Images: de l’optique au numérique. Les va já preconizada por Leonardo da Vinci arts visuels et l’évolution (1452-1519), quando afirmou que a verda- des technologies. Paris: Hermès, 1988. deira harmonia se encontra na repetição dos contrários, que, em última análise, é DE VINCI, Leonardo. Tratado de la pintura. Madrid: Aguilar, uma das características da Pós-Modernida- 1950. de, isto é, a união e a repetição das formas contrárias. É desta maneira que os estilos GOMBRICH, E.M. Arte e ilusão. São Paulo: Martins Fontes, específicos deixaram de existir como câno- 1986. nes imutáveis e se mesclaram a novas con- figurações, numa associação de novos fato- HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, res que aumentam a eficiência das soluções 1992. formais. A compreensão e a releitura do uni- MAFFESOLI, Michel. A contemplação do mundo. Porto Alegre: verso das imagens possibilita o encontro de Artes e Ofícios, 1995. caminhos diversificados, direcionando-nos para novas reflexões sobre o processo criati- PADOVANI, U. História da filosofia. São Paulo: Melhoramen- vo das muitas formas imagísticas, relacio- tos: 1961. nando conceitos e sentimentos, buscando a ciência como um dos pontos de soluções PARENTE, André (org). Imagem máquina. A era das tecnologias 82 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral
  • 9. do virtual. Rio de Janeiro: Ed.34, 1993. POPPER, Frank. As imagens artísticas e a tecnociência. In: PARENTE, André. Imagem máquina. A era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 201-213. ROKEBY, David. Espelhos transformadores. In: DOMIN- GUES, Diana. A arte no século XXI. A humanização das tecnologias. São Paulo: UNESP, 1997, p. 67-69. THOMAS, Karin. Hasta hoy: estilos de las artes plasticas em el siglo XX. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1994. Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 83