O documento discute o alto nível de desperdício de alimentos e água no Brasil, com cerca de 39.000 toneladas de comida indo para o lixo enquanto 23 milhões de brasileiros passam fome. Grande parte da água usada na agricultura (46%) também é desperdiçada. Reduzir esses desperdícios poderia alimentar milhões a mais e gerar economias significativas.
1. Comida e água não faltam:
o que falta é ação!
Autor: Valter de Almeida Gomes
Objetivo: Observar a porcentagem, proporcionalidade e regra de três no
contexto de problemas cotidianos e realizar cálculos a fim de resolvê-los.
Competências e habilidades a serem desenvolvidas: selecionar,
organizar, relacionar, interpretar dados e informações de diferentes
formas, para solucionar situações problema envolvendo grandezas
proporcionais, utilizar informações expressas em forma de porcentagem
como recurso para construção de argumentação.
A porcentagem é um conteúdo matemático que facilmente se encontra
nos mais diversos meios de comunicação com que nos deparamos, sejam
jornais, revistas, rádio, tv, anúncios, etc. É uma ferramenta muito importante
para ser utilizada na solução de problemas desde os cotidianos até os técnicoprofissionais, como prestações, contas bancárias, em empresas, repartições,
mercados, colunas de economia, ou seja, possivelmente onde tiver valores,
números, encontraremos a porcentagem.
O texto a seguir nos mostrará a preocupante realidade sobre o
desperdício de alimentos e água dentro do processo produtivo na agricultura e
o impacto que isso causa em nossa economia. Algumas ações poderiam ser
tomadas para que muitos pudessem se beneficiar, o país diminuísse seus
custos, o alimento chegasse em nossas mesas bem mais baratos e em maior
variedade.
Em nosso pais há cerca de 23 milhões de miseráveis, pessoas cuja
renda não consegue satisfazer 75% de suas necessidades calóricas. Em
contraste a isso, cerca de 39.000 toneladas de comida vão direto para a lata do
lixo dos mercados, feiras, fábricas, restaurantes, quitandas, açougues,
fazendas, nossas casas... Compõeessas 39.000 toneladas iogurtes perto do
vencimento, tomates manchados, pães amanhecidos, carnes, legumes,
verduras e vários outros itens que por algum motivo estético, acabam sendo
desperdiçados e que poderiam alimentar 19 milhões de brasileiros com café,
almoço e jantar. Surpreso? Pois não fique! Ainda que sem perceber,
participamos de toda essa tristeza nacional.
2. Uma iniciativa dos nossos irmãos mineirinhos em 1992 sinalizou um
grande passo no sentido contrário ao desperdício: o Ceasa comprou máquinas
que processavam as sobras e começou a enlatar uma sopa, distribuída em
regiões carentes do Estado. O que iria para o lixo em pouco tempo, passou a
ter uma durabilidade de um ano, transformando produtos perecíveis em
alimentos duráveis. Com essa ação, os produtores rurais foram incentivados a
doar alimentos que, por algum motivo, seriam descartados por imperfeições,
aparência, tamanho, forma, e que agora vão parar no sopão. Os resultados
foram tão positivos que os Ceasas de outros estados como Pernambuco,
Ceará, Distrito Federal, Paraná e algumas cidades paulistas adotaram a ideia.
Temos por volta de 5.000 municípios em nosso país aptos a realizar as
mesmas ações, mas isso não acontece. Porque?
Cerca de 30 instituições, umas governamentais e outras não, são
responsáveis por distribuir aproximadamente 150 toneladas de comida por dia
pelo país, algo que não alcança a 0,5% do volume que poderia ser aproveitado.
Pense em algumas questões e
responda
Quanto cada pessoa receberia diariamente se
fosse distribuído o alimento que é jogado
fora. Lembre que temos cerca de 39 milhões
de miseráveis!
As instituições governamentais ou não distribuem
cerca de 0,5% do volume que poderia ser
aproveitado, o que equivale a 150 toneladas. Se
conseguíssemos chegar a um aproveitamento de 80%
desse alimento, quanto isso representaria?
Nossa produção anual de alimentos chega a números fantásticos: 350
mil toneladas de alface, 3 milhões de toneladas de tomate, 7,19 milhões de
3. toneladas de bananas, 1,87 milhões de toneladas de melancia. Em média,
43,75% dessa produção é lançada no lixo.
Veja a ilustração acima,
“pense e repense”
Quando pensamos nos alimentos da ilustração, qual o
total, em toneladas, que são lançados no lixo,
anualmente?
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), em 2012 tivemos um PIB (Produto
Interno Bruto), que é o total de riqueza produzida
pelo Brasil durante esse ano, na ordem de R$
4,403 trilhões de reais. É doloroso sabermos que
1,4% desse valor se perde na cadeia produtiva.
Estimativas do Banco Central projetam um
crescimento do PIB na ordem de 2,5% para 2013.
Diante desses números é possível meditarmos
um pouco!
4. Se esses valores se confirmarem e caso as perdas em
alimentos na cadeia produtiva não sejam reduzidas,
qual será o valor do desperdício em 2013?
São Paulo atualmente gasta cerca de R$ 3,318 bilhões com lixo.
Estimativas preocupantes indicam que 60% desse lixo representa resto de
comida. Se houvesse a conscientização da população, restaurantes, empresas
e demais segmentos, o Estado poderia economizar R$ 22,12 bilhões anuais,
valores que superariam os benefícios do bolsa família.
Os absurdos em desperdício não param por aí. Sabemos que a água
não é uma fonte natural renovável e que se o descaso continuar, as gerações
futuras estarão comprometidas com o abastecimento, algo já acontecendo em
algumas regiões do país e do mundo, divulgado frequentemente nos meios de
comunicação.
Um fenômeno desesperador tem ocorrido em nossa agricultura: 72% de
toda a água disponível no Brasil é utilizada na irrigação. Acredite você ou não,
46% dessa mesma água se perde pelos ralos, equivalendo a quase 6 bilhões
de m³ por ano.
Uso da água no Brasil
IRRIGAÇÃ
O
URBANO
ANIMAL
1% 7%
RURAL
11%
9%
72%
Mais um momento para você pensar:
5. Os dados apresentados no texto e salientados no gráfico mostram um
grande consumo dos nossos recursos hídricos destinados à irrigação. Se
46% da água direcionada à agricultura representam 6 bilhões m³, qual o
total de água é destinado à irrigação?
Thomas Malthus (17/2/1766-23/12/1834), economista e religioso inglês,
relata em sua teoria sobre o crescimento populacional: “a população cresce em
progressão geométrica enquanto sua fonte alimentar cresce em progressão
aritmética”. Isso significa dizer que:
População
Alimentos
1
1
2
2
4
3
8
4
16
5
32
6
64
7
128
8
Como podemos observar tem ocorrido um distanciamento entre a fonte
alimentar e o crescimentopopulacional. A sustentabilidade de diversas
gerações tem sido comprometida, enquanto ocorre insensatos desperdício de
alimentos, pouca preocupação em sanar o problema e a fome e sede se
espalhando em nosso território.
Todos os anos, cerca de um terço de todos os alimentos para
consumo humano, aproximadamente 1,3 bilhão de toneladas, é desperdiçado,
juntamente com toda a energia, água e produtos químicos necessários para
produzi-la e descartá-la.
Quase 30% das terras agrícolas do mundo, e um volume de água
equivalente à vazão anual do rio Volga, são usadas em vão. No seu relatório
intitulado "A Pegada do Desperdício Alimentar", a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e a Alimentação (FAO) estima que a emissão de
carbono dos alimentos desperdiçados equivale a 3,3 bilhões de toneladas de
dióxido de carbono por ano.
Se fosse um país, seria o terceiro maior emissor do mundo, depois da
China e dos Estados Unidos, sugerindo que um uso mais eficiente dos
alimentos poderia contribuir substancialmente para os esforços globais para
reduzir as emissões de gases do efeito estufa e diminuir o aquecimento global.
Pense nisso!
A próxima geração é a sua!