2. • A palavra-veneno de Iago; a palavra-paixão de Romeu e
Julieta; a palavra-persuasão de Marco Antonio; a
palavra-tempestade de Lear; a palavra-equívoco das
Bruxas; a palavra-brinquedo de Feste; a palavra-
malandragem de Falstaff; a palavra-flor de Ofélia; as
palavras-palavras-palavras de Hamlet, e tantas outras
palavras...
• Trabalhando com a matéria-prima do teatro do seu
tempo - a linguagem - Shakespeare, poeta e
dramaturgo, forjou palavras novas para antigas
histórias, reinventando-as e criando, nesse processo,
inúmeras possibilidades de representação do humano.
7. William Shakespeare
1564 – 1616
TRANSIÇÃO do
Mundo Medieval para o
Mundo Moderno (Renascimento)
8. Transformações em diversas áreas:
A cartografia do mundoestámudada;
O regime feudal
ésubstituídopelamonarquiaabsolutista;
A ReformaProtestantecindeomundocristão;
O relativismocomeça a influenciar a filosofia
(Michel de Montaigne, 1533-1592).
9. William Shakespeare – 1564 – 1616
A Inglaterra dos Tudors
Henrique VII (1485 – 1509)
Henrique VIII (1509 – 1547)
Eduardo VI (1547-1553)
Maria I (1553-1558)
Elizabeth I (1558-1603)
A Inglaterra dos Stuarts
Jaime I (1603-1625)
Carlos I
Carlos II
Jaime II
10.
11.
12. A Questão Religiosa em Tudors e
Stuarts:
Henrique VII (1485 – 1509)
Henrique VIII (1509 – 1547) – REFORMA (1531) – Criação
daIgrejaAnglicana
Eduardo VI (1547-1553) - Protestantismo
Maria I (1553-1558) - Catolicismo
Elizabeth I (1558-1603) - Anglicanismo
Jaime I (1603-1625) -
AceitaoAnglicanismomasrepresentaumaameaça de retorno
do Catolicismo
13. Shakespeare e a língua inglesa
• Entre 1500 e 1650, cerca de 12.000 novas
palavras entraram na língua inglesa.
• Shakespeare foi o primeiro a usar – ou a
cunhar – 2.035 palavras. Apenas em Hamlet,
encontram-se 600 palavras que eram novas
até então.
• 309 novas palavras com o sufixo “un” (ex.:
unmask; unhand; unlock; untie; unveil).
14. • Expressões de Shakespeare que se tornaram parte da
língua inglesa: vanishintothinair;
themilkofhumankindness, more
sinnedagainstthansinning, remembranceofthingspast;
coldcomfort; to thineownselfbetrue; thewish is father
to thethought; saladdays; fleshandblood; foul play;
pompandcircumstance; foregoneconclusion – e muitas
outras.
• O inglês não era uma língua de prestígio como o latim.
Na BodleyanLibrary, em Oxford, em 1605, havia cerca
de 6.000 livros. Desses, apenas 36 eram escritos em
inglês.
15. As ferramentas poético-cênicas de
Shakespeare
1. O pentâmetroiâmbico
2. O verso branco
3. O verso rimado
4. A prosa
Emmédia, as peçasconsistiam de 70% de verso
branco, 5 % de verso rimadoe 25% de prosa.
Masisso podia variarmuito.
16. A obra de Shakespeare
• 38 peças de teatro: 18 comédias (4
“romances”), 10 peças históricas, 10 tragédias
• 154 Sonetos (publicados em vida – 1609)
• Poemas narrativos
17. Linguagem como caracterização de
personagem:
FREI LOURENÇO
Antes que o olho do céu venha queimar,
Pro dia, alegre, o orvalho secar,
Tenho de encher a cesta com os odores
Que vêm das ervas e do mel das flores.
A terra-mãe de tudo é também cova:
O que ela enterra o seu ventre renova;
E como é vária a prole que aqui veio
Vemos quando mamamos no seu seio.
Há filhos com virtudes excelentes;
São todos bons, mas todos diferentes.
É grande e forte a graça que é encontrada
Na virtude que a planta e erva é dada.
Não há nada tão vil no que aqui vem
Que a terra não lhe dê sequer um bem;
E nem nada é tão bom que, exagerado,
Não caia em perversão e traia o fado.
A virtude é um vício, mal gerida;
E o vício, vez por outra, salva a vida. Romeu e Julieta, II.3, trad. Barbara Heliodora
18. Primeira aparição de Hamlet (I.2)
trad. Millôr Fernandes
KING CLAUDIUS
Take thy fair hour, Laertes; time be thine,
And thy best graces spend it at thy will!
But now, my cousin Hamlet, and my son…
HAMLET (Aside)
A little more than kin, and less than kind.
KING CLAUDIUS
How is it that the clouds still hang on you?
REI
Escolhetuamelhorhora, Laertes; o tempo tepertence.
E gastacomoentenderes as qualidadesque tens!
E agora, caro Hamlet, meu primo emeufilho…
HAMLET (à parte)
Me perfilhacomo primo, poisnão primo comofilho.
REI
Por que essas nuvens sombrias ainda em teu semblante?
19. Primeira aparição de Macbeth (I.3)
MACBETH
Sofoulandfair a day I havenotseen.
(ecoando a fala das Bruxas em I.1:
“Fair is foul, andfoul is fair”)
20. Linguagemcomoveículo de
transmissão de ideias
HAMLET (para Rosencrantz e Guildenstern):
Que obra-prima é o homem! Como é nobre em sua
razão! Que capacidade infinita! Como é preciso e
bem-feito em forma e movimento! Um anjo na
ação! Um deus no entendimento, paradigma dos
animais, maravilha do mundo. Contudo, pra mim, é
apenas a quintessência do pó.
(Hamlet, II.2 – trad. Millôr Fernandes)
21. LEAR (para Edgar):
Estarias melhor na sepultura do que expondo teu corpo nu a tais
extremos do céu. O homem é apenas isto? Observem-no
bem. Não deve a seda ao verme, a pele ao animal, a lã à
ovelha, nem seu odor ao almiscareiro. Ah! Aqui estamos nós
três, tão adulterados. Tu não, tu és a própria coisa. O
homem, sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal
como tu, nu e bifurcado. (Começa a despir-se.) Fora, fora com
estes trapos emprestados. Desabotoa aqui. (Começa a
arrancar as roupas.)
(Rei Lear, III. 4 – trad. Millôr Fernandes)
22. Linguagem como ferramenta de
construção cênica
Romeu e Julieta (1595)
Fontes:
Conto deMasuccioSalernitano (1476) →
versão de Luigi da Porto (1525) → versão de
Bandello (1554) → versãofrancesaemprosa de
Pierre Boiastuau (1559) → poemanarrativo de
Arthur Brooke Tragical History of Romeus and
Juliet (1562).
23. • SONETO
• Francesco Petrarca (1304 – 1374)
• O que é um soneto
• O soneto na Inglaterra
• Shakespeare e os sonetos
24. Romeu e Julieta, I.5
ROMEU: Se a minha mão profana esse sacrário,
Pagarei docemente o meu pecado:
Meu lábio, peregrino temerário,
O expiará com um beijo delicado.
25. JULIETA: Bom peregrino, a mão que acusas tanto
Revela-me um respeito delicado;
Juntas, a mão do fiel e a mão do santo
Palma com palma se terão beijado.
26. ROMEU: Os santos não têm lábios, mãos, sentidos?
JULIETA: Ai, têm lábios apenas para a reza.
ROMEU: Fiquem os lábios, como as mãos, unidos;
Rezem também, que a fé não os despreza.
27. JULIETA: Imóveis, eles ouvem os que choram.
ROMEU: Santa, que eu colha o que os meus ais
imploram.
28. Romeu e Julieta, I.5
ROMEU: Se a minha mão profana esse sacrário, (a)
Pagarei docemente o meu pecado: (b)
Meu lábio, peregrino temerário, (a)
O expiará com um beijo delicado. (b)
JULIETA: Bom peregrino, a mão que acusas tanto(c)
Revela-me um respeito delicado; (d)
Juntas, a mão do fiel e a mão do santo(c)
Palma com palma se terão beijado. (d)
ROMEU: Os santos não têm lábios, mãos, sentidos? (e)
JULIETA: Ai, têm lábios apenas para a reza. (f)
ROMEU: Fiquem os lábios, como as mãos, unidos; (e)
Rezem também, que a fé não os despreza. (f)
JULIETA: Imóveis, eles ouvem os que choram. (g)
ROMEU: Santa, que eu colha o que os meus ais imploram. (g)
29. Sonnet 18
Shall I compare thee to a summer’s day?
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer’s lease hath all too short a date.
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed;
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature’s changing course untrimmed;
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall Death brag thou wand’rest in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st.
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.
30. Soneto 18
(translatedby Ivo Barroso)
Devo igualar-te a um dia de verão?
Mais afável e belo é o teu semblante:
O vento esfolha Maio inda em botão,
Dura o termo estival um breve instante.
Muitas vezes a luz do céu calcina,
Mas o áureo tom também perde a clareza:
De seu belo a beleza enfim declina,
Ao léu ou pelas leis da Natureza.
Só teu verão eterno não se acaba
Nem a posse da tua formosura;
De impor-te a sombra a Morte não se gaba
Pois que esta estrofe eterna ao Tempo dura.
Enquanto houver viventes nesta lida,
Há-de viver meu verso e te dar vida.
31. Soneto 18
(translatedby Geraldo Carneiro)
Te comparar com um dia de verão?
Tuésmaistemperadaeadorável.
Vento balançaemmaio a flor-botão,
eoprazo do verãonãoédurável.
O sol àsvezesbrilha com rigor,
ousuatezdouradaémaisescura;
todabelezaenfimperdeoesplendor,
poracasooudescasodanatura.
Masteuverãonunca se apagará,
perdendo a posse dabelezatua,
nem a morteriráporteofuscar,
se em versos imortaisteperpetuas.
Enquantoalguém respire, eveja, e viva,
Viva este verso etemantenha viva
32. Soneto 130
Seus olhos nada têm de um sol que arda
E mais rubro é o coral que sua boca:
Se a neve é branca, sua tez é parda;
São fios negros seu cabelo em touca.
Vi rosas mescladas de rubor e alvura,
Mas tais rosas não vejo em sua face.
Sei de perfumes que têm mais doçura
Que o hálito da amada se evolasse.
Amo ouvi-la falar, porém insisto
Que mais me agrada ouvir uma canção.
De deuses nunca devo o andar ter visto –
Minha amante ao andar pisa no chão.
No entanto, pelos céus, acho-a mais rara
Do que a mulher que em falso se compara.
33. Sonnet 130
My mistress’ eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red than her lips’ red;
If snow be white, why then her breasts are dun;
If hairs be wires, black wires grow on her head.
I have seen roses damasked, red and white,
But no such roses see I in her cheeks,
And in some perfumes is there more delight
Than in the breath that from my mistress reeks.
I love to hear her speak, yet well I know
That music hath a far more pleasing sound.
I grant I never saw a goddess go;
My mistress when she walks treads on the ground.
And yet, by heaven, I think my love as rare
As any she belied with false compare.
34. Shakespeare e Petrarca
idealização da mulher transferida para a idealização de
um homem;
modelo petrarquiano de beleza se aplica ao homem;
amor-devoção é de um homem para outro homem;
relação com a mulher é desidealizada e se dá no âmbito
da paixão erótica;
a beleza feminina é uma desconstrução do modelo
petrarquiano;
nomes dos “musos” jamais são mencionados.
35. Porqueoteatro se torna a principal
manifestaçãoartísticadesseperíodo?
1567 – Construção do primeiroteatro: The Red
Lion (algunslivrosaindaapresentamo The
Theatre (1576) comooprimeiroteatro)
36. Quantos vão ao teatro?
• Entre 1567 (construção do Red Lion) e 1642
(fechamento dos teatros pelos puritanos), estima-se
que 50 milhões de espectadores pagantes
tenham ido ao teatro.
• (50.000.000 / 75 = apr. 667.000 espectadores/ano;
apr. 56.000 espectadores/mês)
• População da Inglaterra no período de Shakespeare:
5.000.000 pessoas
37. A frequência aos teatros
• Os teatros precisavam atrair em média
2 mil espectadores por dia – 1 % da
população de Londres – para ter bons lucros.
• As companhias apresentavam em média 5 peças
diferentes por semana.
• Uma nova peça era representada em geral três
vezes em seu mês de estreia. Poucas peças
conseguiam chegar a ter dez performances num
ano.
39. E por que se vai tanto ao teatro?
• Elizabeth I – um “modo performático” de reinar
• Os temas abordados pelo teatro: a política, o poder, o
amor, o sobrenatural, a vida como teatro – são temas
que interessam à platéia
• O teatro é um ponto de encontro, “uma bolsa de valores”
de ideias
• O teatro é um lugar de exercício de identidade – haja
vista a quantidade de peças sobre a história inglesa
• O lugar marginal do teatro permitia que se falasse de
tudo ou quase tudo, apesar da censura
• As mulheres eram membros assíduos nas platéias
• A língua inglesa em transformação – nacionalismo?
40. William Shakespeare
• Nasceu em Stratford-upon-Avon em 1564
• Filho de um fabricante de luvas
• Sua família era possivelmente católica
• Casou-se com Anne Hathaway, 8 anos mais velha que
ele, aos 18 anos
• Foi para Londres em 1587
• Trabalhou como ator, diretor e autor de peças
teatrais
• Um homem comum, um burguês
• Em 1611-12, retorna para Stratford, onde tem uma
grande propriedade, e adquire um título de nobreza
para sua família.