O documento descreve a história da Escola Estadual Luiz Gama, que foi fundada em 1954 e renomeada em homenagem a Luiz Gama em 1959. Também resume a biografia de Luiz Gama, o primeiro abolicionista do Brasil, que nasceu livre mas foi ilegalmente vendido como escravo pelo próprio pai.
1. HISTÓRICO DO GRUPO ESCOLAR LUIZ GAMA
Aos vinte e sete dias do mês de dezembro do ano de 1954, a transferência de localidade de
escola isolada de Passo da Cancela da cidade de Porto Alegre para a Estrada do Boqueirão na
mesma cidade. Porém, aos vinte e nove dias do mês de janeiro de 1959 são denominadas “Luiz
Gama” as Escolas Reunidas de Estrada do Boqueirão. Em 1981, pelo Decreto Estadual nº
111/1974, do Conselho Estadual de Educação, reorganiza o Grupo Escolar Luiz Gama, de Porto
Alegre, e reclassificado pelo Decreto nº 19.818/1969 que passa a se designar-se Escola Estadual de
Iº Grau Incompleto Luiz Gama sob a jurisdição da antiga 1ª Delegacia de Educação.
A denominação de Escola Estadual de Ensino Fundamental Luiz Gama resultou, em 2001, a
alteração de designação das Escolas Estaduais nos termos da Resolução CEED nº 253/2000.
Nas eleições de 1998, o vitorioso foi o candidato do Partido dos Trabalhadores, Olívio
Dutra, com apoio da Frente Popular, composta pelas forças e partidos de esquerda. Em sua
campanha, Olívio afirmou que as prioridades do seu governo seriam os setores da Saúde,
educação, habitação e agricultura.
Ao longo de quatro anos o governo do PT implantou uma série de projetos e programas que
visavam as transformações sociais do Rio Grande do Sul. No tocante à educação, as antigas
Delegacias de Ensino foram transformadas em Coordenadorias Regionais de Educação, com o
objetivo de supervisionar e orientar a autonomia de Educação, baseada nos estatutos
próprios,previstos na Constituinte Escolar.
Por ordem da Secretária de Educação, em 2000, foi criada a 5º Série (hoje denominada 6º
Ano) e a transferência da Escola Luiz Gama Estrada Afonso Lourenço Mariante para o loteamento
Mariante, Rua Honduras, 115 Belém Velho, Porto Alegre.
LUIZ GAMA
Luiz Gonzaga Pinto da Gama, ou simplesmente, Luiz Gama, nasceu na rua da Bângala,
centro de Salvador, Bahia, em 21 de julho de 1830, filho de uma negra livre, Luíza Mahin, e um
fidalgo de origem portuguesa, segundo ele mesmo conta. A mãe, uma quitandeira, era uma mulher
batalhadora, idealista. Mas depois da Revolta dos Malês, a maior rebelião de escravos da Bahia,
em 1835, e da Sabinada, que proclamou a República Bahiense, em 1837, teve que fugir, foi para o
Rio de Janeiro, deixando o filho com o pai dele, cujo o nome não se sabe, pois o próprio filho fez
questão de não registrá-lo, julgando-o merecedor do esquecimento, no mínimo. Luiz Gama nunca
mais veria a sua mãe.
Segundo Luiz Gama, ele era bem tratado pelo pai, um homem que parecia ter também
pendores revolucionários, pois participou da revolução que recebeu o nome de Sabinada, por ter
sido liderada pelo médico Francisco Sabino Vieira. Os revolucionários contestavam o regime e
proclamaram a República Bahiense,mas acabaram derrotados pelas tropas legalistas em 1838.
Mas logo o fidalgo se revelou. Em 1840, segundo consta, por causa de uma dívida de jogo,
vendeu o próprio filho como escravo. Assim, o menino livre, filho de uma negra livre e de um
branco, tornou-se escravo da noite para o dia , pelas mãos do próprio pai, um homem indigno. Luiz
Gama teria sido levado pelo pai para dentro de um patacho, um tipo de embarcação antiga, de dois
mastros. Chama-se “Saraiva”, o tal patacho, fundeado nos verdes mares baianos. Quando percebeu,
havia deixado lá, o pai voltara para terra. Ele havia sido vendido como escravo. Além de tudo, era
um ato ilegal porque brasileiro filho de pessoas livres, pela lei, não podia ser escravizado no
Brasil. Saiu contrabandeado da Bahia, como se fosse uma mercadoria a ser vendida ilegalmente
em outra parte do país.
Luiz Gama levado para o Rio de Janeiro, alguns dias depois o menino de 10 anos fora
comprado, com um lote de escravos, pelo negociante, contrabandista e alferes Antônio Pareira
cardoso, que tinha uma fazenda em Lorena, no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Mas não foi
levado para a fazenda. O lote de escravos de Antônio Pereira Cardoso foi de navio para Santos, de
onde seguiu para ser negociado em Jundiaí e Campinas. A pé.
O menino Luiz Gama despertou o interesse de vários fazendeiros, primeiro em Jundiaí e
depois em Campinas. Mas logo que sabiam de sua origem (um baiano) recusaram, se
2. desinteressavam e sem conseguir vender Luiz Gama e um outro escravo também baiano, Antônio
Pereira Cardoso levou o menino para a sua fazenda, mas para morar em sua casa, em São Paulo,
onde aprendeu a trabalhar como copeiro e sapateiro, a lavar e costurar roupas.
Em 1848, Luiz Gama já era alfabetizado e até mesmo ensinou os filhos do alferes Cardoso a
ler.
Luiz Gama ficava livre aos 18 anos de idade. E aí, o que fazer? Para um negro,as coisas eram
(e são ainda hoje) muito mais difíceis do que para os brancos. Luiz Gama ia viver do quê? Talvez
um pouco pela falta de opção, talvez por uma certa esperteza , assentou praça na polícia seria para
ele, também, um abrigo contra possíveis tentativas do seu ex-senhor de conseguir de alguma
forma cassar a sua liberdade.
Não foi à toa que chegou a ser chamado de “Espártaco negro brasileiro”. É certo que ele não
foi gladiador de lutar na arena como líder da rebelião de escravos romanos. Sua luta era no
âmbito da imprensa e da justiça. Mas, como Espártaco, também foi vendido como escravo. Não foi
vencido em batalha e morto como escravo de Roma, mas seu nome tornou-se quase tão lendário em
terras paulistas no século XIX quanto Espártaco no império romano.
Obs. O aniversário da escola se comemora dia 24 de agosto em homenagem ao primeiro
abolicionista da História do Brasil. O corpo não acompanhava, estava minado pelos diabetes
falecendo a 24 de agosto de 1882.
O texto foi elaborado por Tyrone Andrade de Mello, professor de História e Geografia efetivo da
Escola Estadual Luia Gama.