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Perspectivas atuais do pensamento de Marcuse
Desde o falecimento de Marcuse, em 1979, o interesse pelo seu pensamento tem
diminuído progressivamente. Diversas razões podem ser apontadas para explicar
este desinteresse pelo pensamento marcuseano. Entre elas, destacamos duas que,
em nosso entender, são as mais fundamentais: uma de ordem prática e outra de
ordem teórica. No campo da prática, entendemos que o refluxo dos movimentos
revolucionários com os quais sua obra dialogava, de alguma forma, fez arrefecer o
interesse por suas idéias, consideradas por muitos, datadas em demasia ou até
mesmo superadas pelas recentes e profundas mudanças econômicas, sociais e
políticas. A outra, no campo teórico, – que talvez seja a mais relevante – foi o novo
contexto histórico-filosófico das duas últimas décadas. Desde a década de 80, o
mundo teórico, tanto na filosofia quanto nas ciências humanas, foi caracterizado
pela hegemonia do pensamento “pós-estruturalista” ou “pós-moderno”, voltando
seu interesse para autores como Lyotard, Foucault, Derrida e Baudrillard. Além
disso, assistimos a um surto de interesse pelas correntes típicas da filosofia angloamericana, como o neopragmatismo e a filosofia analítica. Mesmo Habermas,
excelente promessa de continuação da terceira geração da Escola de Frankfurt,
parece ter abandonado, na atualidade, os pressupostos básicos da “teoria crítica da
sociedade”, procurando nas vertentes teóricas anglo-americanas um caminho
filosófico próprio. Marcuse não tem sido considerado nesses novos debates teóricos,
principalmente os relativos ao pensamento moderno e pós-moderno. Segundo
Kellner (MARCUSE, 1999b, “Prefácio”, p. 17), isto ocorre porque:
Ao contrário de Adorno, Marcuse não previu os ataques pós-modernos à razão e ao
Iluminismo e sua dialética não era “negativa”. Em vez disso, Marcuse adotava o
projeto de reconstruir a razão e de postular alternativas utópicas à sociedade
existente – uma imaginação dialética que foi relegada em uma era que rejeita o
pensamento revolucionário e visões grandiosas de libertação e reconstrução social.
Entendemos ser importante a retomada da teoria crítica de Marcuse, na medida em
que ela pode nos fornecer instrumentos conceituais que continuam a ser relevantes
para a teoria social e a política contemporâneas. No campo específico da teoria da
sociedade, Marcuse nos legou perspectivas filosóficas sobre as formas de
dominação e de libertação, um método crítico de análise da sociedade
contemporânea e apontou possibilidades utópicas de transformação social. Seu
pensamento procura retomar e superar as lacunas do marxismo ortodoxo e da
própria teoria crítica original. Além disso, representa uma análise teórica e prática
extremamente fecunda, que se coloca como alternativa às correntes atualmente
valorizadas da teoria pós-moderna. A concepção de emancipação de Marcuse,
entendida como pleno desenvolvimento do indivíduo numa sociedade nãorepressiva, diferencia sua obra e nos proporciona uma instância crítica sobre as
formas de dominação presentes na sociedade contemporânea. Sua teoria crítica da
sociedade se apresenta como extremamente útil na atual conjuntura de hegemonia
do pensamento conservador. Em sua obra, Marcuse mostrou como a ciência, a
tecnologia e a própria teoria possuem uma dimensão política e produziu um
conjunto de análises ideológicas e políticas acerca de muitas tendências de
dominação na sociedade e na cultura, nunca abdicando de lutar por suas idéias,
não apenas no campo da teoria, mas também no campo da prática política. Como
observa Habermas (apud BERNSTEIN, 1998, p. 67), Marcuse evitou cair no
ceticismo absoluto, na pura negatividade, buscando sempre apontar alternativas
teóricas e políticas para o futuro:
Embora, certamente, Marcuse não fosse um pensador afirmativo, ele foi não
obstante o mais afirmativo entre aqueles que elogiavam a negatividade. Com ele, o
pensamento negativo manteve a confiança dialética na negação determinada, no
descobrimento de alternativas positivas. Marcuse, ao contrário de Adorno, não se
limitou apenas a cercar o inefável; ele fez apelo a alternativas futuras.
Acreditamos que Marcuse ultrapassa as limitações de muitas correntes atuais da
filosofia e da teoria social e que seu trabalho proporciona um ponto de vista mais
crítico sobre as tendências teóricas e políticas contemporâneas. Em particular, ele
promove articulações entre filosofia, teoria social e política, e crítica da cultura e da
ideologia que enriquecem a nossa compreensão dos fenômenos que caracterizam o
capitalismo global. Enquanto no âmbito acadêmico ainda persistem fortes divisões e
especializações entre as diversas disciplinas, Marcuse – seguindo a tendência
original da teoria crítica – fornece uma visão interdisciplinar que vincula a filosofia
com análises concretas da sociedade, da política e da cultura do nosso tempo. Esta
abordagem dialética assegura à filosofia uma importante função crítica nos
discursos teóricos contemporâneos.
Mantendo sua fidelidade ao pensamento de Marx, Marcuse sempre se preocupou
em analisar as novas condições da sociedade capitalista, ao mesmo tempo em que
denunciava os descaminhos do “socialismo real”. A filosofia e a teoria social
contemporâneas podem extrair do pensamento de Marcuse importantes
instrumentos para a análise das transformações do capitalismo e da emergência do
“novo” sistema econômico e político global. Para Marcuse “teoria social é teoria
histórica” (1982, p. 15), portanto, ela deve teorizar sobre os fenômenos mais
significativos do presente e sobre as transformações pelas quais vem passando a
formação social capitalista. No momento em que diversos teóricos pós-modernos
partem do pressuposto de uma ruptura histórica e declaram, inclusive, o “fim” do
marxismo e da economia política, em nosso entender eles falham na análise das
mudanças econômicas, sociais e políticas que caracterizam o capitalismo em sua
fase neoliberal ou global. Eles aumentam e radicalizam o fosso entre teoria e
prática, pensamento e história, cultura e economia. Marcuse, ao contrário, sempre
ressaltou a importância de analisar as diversas mudanças históricas do capitalismo
e relacionar as transformações sociais e culturais às transformações econômicas.
Consideramos especialmente relevantes, para a atualidade, as análises de Marcuse
sobre o papel da tecnologia como forma de controle social. O determinismo
tecnológico embutido no discurso hegemônico da globalização é um dos recursos
mais poderosos, na atualidade, para a aceitação ideológica da “irreversibilidade” do
domínio mundial do capital. Outro aspecto central da obra de Marcuse que pode
iluminar o presente é sua análise da fusão entre a economia, a política e a cultura
na sociedade unidimensional. O processo de globalização neoliberal em curso tem
promovido, não apenas uma simples fusão, mas a subordinação da política e da
cultura à economia, na medida em que tudo e todos têm que se submeter à
ditadura do mercado como força suprema da vida em sociedade. O caráter
totalitário das democracias liberais finalmente se explicita através de seu
reducionismo econômico, isto é, do esvaziamento da dimensão política e da
homogeneização cultural, promovendo a primazia do mercado nas relações sociais.
A crítica da ideologia de Marcuse, por sua vez, é essencial para a denúncia e o
combate ao domínio hegemônico das teorias pós-modernas que, ao fazerem a
crítica radical da racionalidade moderna, não distinguem a razão instrumental da
razão crítica e, dessa forma, colaboram para o ataque conservador ao único
instrumento que pode permitir pensar a utopia e a emancipação. Enquanto algumas
dessas tendências de pensamento, resvalando muitas vezes no irracionalismo, têm
renunciado a uma análise crítica e política do sistema vigente, Marcuse sempre se
esforçou por vincular sua teoria crítica da sociedade com os movimentos sociais e
políticos que lutam contra as tendências totalitárias da sociedade capitalista. Dessa
forma, acreditamos que o pensamento de Marcuse fornece instrumentos e
estímulos fundamentais, tanto para a filosofia quanto para a teoria social e política
contemporânea, em sua tarefa irrecusável de apontar alternativas históricas ao
sistema econômico e social dominante.

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Perspectivas atuais do pensamento crítico de Marcuse

  • 1. Perspectivas atuais do pensamento de Marcuse Desde o falecimento de Marcuse, em 1979, o interesse pelo seu pensamento tem diminuído progressivamente. Diversas razões podem ser apontadas para explicar este desinteresse pelo pensamento marcuseano. Entre elas, destacamos duas que, em nosso entender, são as mais fundamentais: uma de ordem prática e outra de ordem teórica. No campo da prática, entendemos que o refluxo dos movimentos revolucionários com os quais sua obra dialogava, de alguma forma, fez arrefecer o interesse por suas idéias, consideradas por muitos, datadas em demasia ou até mesmo superadas pelas recentes e profundas mudanças econômicas, sociais e políticas. A outra, no campo teórico, – que talvez seja a mais relevante – foi o novo contexto histórico-filosófico das duas últimas décadas. Desde a década de 80, o mundo teórico, tanto na filosofia quanto nas ciências humanas, foi caracterizado pela hegemonia do pensamento “pós-estruturalista” ou “pós-moderno”, voltando seu interesse para autores como Lyotard, Foucault, Derrida e Baudrillard. Além disso, assistimos a um surto de interesse pelas correntes típicas da filosofia angloamericana, como o neopragmatismo e a filosofia analítica. Mesmo Habermas, excelente promessa de continuação da terceira geração da Escola de Frankfurt, parece ter abandonado, na atualidade, os pressupostos básicos da “teoria crítica da sociedade”, procurando nas vertentes teóricas anglo-americanas um caminho filosófico próprio. Marcuse não tem sido considerado nesses novos debates teóricos, principalmente os relativos ao pensamento moderno e pós-moderno. Segundo Kellner (MARCUSE, 1999b, “Prefácio”, p. 17), isto ocorre porque: Ao contrário de Adorno, Marcuse não previu os ataques pós-modernos à razão e ao Iluminismo e sua dialética não era “negativa”. Em vez disso, Marcuse adotava o projeto de reconstruir a razão e de postular alternativas utópicas à sociedade existente – uma imaginação dialética que foi relegada em uma era que rejeita o pensamento revolucionário e visões grandiosas de libertação e reconstrução social. Entendemos ser importante a retomada da teoria crítica de Marcuse, na medida em que ela pode nos fornecer instrumentos conceituais que continuam a ser relevantes para a teoria social e a política contemporâneas. No campo específico da teoria da sociedade, Marcuse nos legou perspectivas filosóficas sobre as formas de dominação e de libertação, um método crítico de análise da sociedade contemporânea e apontou possibilidades utópicas de transformação social. Seu pensamento procura retomar e superar as lacunas do marxismo ortodoxo e da própria teoria crítica original. Além disso, representa uma análise teórica e prática extremamente fecunda, que se coloca como alternativa às correntes atualmente valorizadas da teoria pós-moderna. A concepção de emancipação de Marcuse, entendida como pleno desenvolvimento do indivíduo numa sociedade nãorepressiva, diferencia sua obra e nos proporciona uma instância crítica sobre as formas de dominação presentes na sociedade contemporânea. Sua teoria crítica da sociedade se apresenta como extremamente útil na atual conjuntura de hegemonia do pensamento conservador. Em sua obra, Marcuse mostrou como a ciência, a tecnologia e a própria teoria possuem uma dimensão política e produziu um conjunto de análises ideológicas e políticas acerca de muitas tendências de dominação na sociedade e na cultura, nunca abdicando de lutar por suas idéias, não apenas no campo da teoria, mas também no campo da prática política. Como observa Habermas (apud BERNSTEIN, 1998, p. 67), Marcuse evitou cair no ceticismo absoluto, na pura negatividade, buscando sempre apontar alternativas teóricas e políticas para o futuro: Embora, certamente, Marcuse não fosse um pensador afirmativo, ele foi não obstante o mais afirmativo entre aqueles que elogiavam a negatividade. Com ele, o pensamento negativo manteve a confiança dialética na negação determinada, no
  • 2. descobrimento de alternativas positivas. Marcuse, ao contrário de Adorno, não se limitou apenas a cercar o inefável; ele fez apelo a alternativas futuras. Acreditamos que Marcuse ultrapassa as limitações de muitas correntes atuais da filosofia e da teoria social e que seu trabalho proporciona um ponto de vista mais crítico sobre as tendências teóricas e políticas contemporâneas. Em particular, ele promove articulações entre filosofia, teoria social e política, e crítica da cultura e da ideologia que enriquecem a nossa compreensão dos fenômenos que caracterizam o capitalismo global. Enquanto no âmbito acadêmico ainda persistem fortes divisões e especializações entre as diversas disciplinas, Marcuse – seguindo a tendência original da teoria crítica – fornece uma visão interdisciplinar que vincula a filosofia com análises concretas da sociedade, da política e da cultura do nosso tempo. Esta abordagem dialética assegura à filosofia uma importante função crítica nos discursos teóricos contemporâneos. Mantendo sua fidelidade ao pensamento de Marx, Marcuse sempre se preocupou em analisar as novas condições da sociedade capitalista, ao mesmo tempo em que denunciava os descaminhos do “socialismo real”. A filosofia e a teoria social contemporâneas podem extrair do pensamento de Marcuse importantes instrumentos para a análise das transformações do capitalismo e da emergência do “novo” sistema econômico e político global. Para Marcuse “teoria social é teoria histórica” (1982, p. 15), portanto, ela deve teorizar sobre os fenômenos mais significativos do presente e sobre as transformações pelas quais vem passando a formação social capitalista. No momento em que diversos teóricos pós-modernos partem do pressuposto de uma ruptura histórica e declaram, inclusive, o “fim” do marxismo e da economia política, em nosso entender eles falham na análise das mudanças econômicas, sociais e políticas que caracterizam o capitalismo em sua fase neoliberal ou global. Eles aumentam e radicalizam o fosso entre teoria e prática, pensamento e história, cultura e economia. Marcuse, ao contrário, sempre ressaltou a importância de analisar as diversas mudanças históricas do capitalismo e relacionar as transformações sociais e culturais às transformações econômicas. Consideramos especialmente relevantes, para a atualidade, as análises de Marcuse sobre o papel da tecnologia como forma de controle social. O determinismo tecnológico embutido no discurso hegemônico da globalização é um dos recursos mais poderosos, na atualidade, para a aceitação ideológica da “irreversibilidade” do domínio mundial do capital. Outro aspecto central da obra de Marcuse que pode iluminar o presente é sua análise da fusão entre a economia, a política e a cultura na sociedade unidimensional. O processo de globalização neoliberal em curso tem promovido, não apenas uma simples fusão, mas a subordinação da política e da cultura à economia, na medida em que tudo e todos têm que se submeter à ditadura do mercado como força suprema da vida em sociedade. O caráter totalitário das democracias liberais finalmente se explicita através de seu reducionismo econômico, isto é, do esvaziamento da dimensão política e da homogeneização cultural, promovendo a primazia do mercado nas relações sociais. A crítica da ideologia de Marcuse, por sua vez, é essencial para a denúncia e o combate ao domínio hegemônico das teorias pós-modernas que, ao fazerem a crítica radical da racionalidade moderna, não distinguem a razão instrumental da razão crítica e, dessa forma, colaboram para o ataque conservador ao único instrumento que pode permitir pensar a utopia e a emancipação. Enquanto algumas dessas tendências de pensamento, resvalando muitas vezes no irracionalismo, têm renunciado a uma análise crítica e política do sistema vigente, Marcuse sempre se esforçou por vincular sua teoria crítica da sociedade com os movimentos sociais e políticos que lutam contra as tendências totalitárias da sociedade capitalista. Dessa forma, acreditamos que o pensamento de Marcuse fornece instrumentos e estímulos fundamentais, tanto para a filosofia quanto para a teoria social e política
  • 3. contemporânea, em sua tarefa irrecusável de apontar alternativas históricas ao sistema econômico e social dominante.