Laura e J.E. se conheceram em um domingo no parque, onde J.E. estava fotografando. Eles conversaram e se conectaram, mas J.E. não teve coragem de ligar para Laura. Dois anos depois, eles se reencontraram no mesmo parque e iniciaram um relacionamento. Agora, cinco anos depois, eles estão felizes juntos e Laura revela que está grávida de gêmeos.
1. Com carinho e coragem
Tarde de domingo, temperatura amena típica de um outono, cidade
parada, ventos silenciosos e serenos. A cada clique de sua câmera tentava eternizar
um momento simples, um sorriso fácil e qualquer ou até os devaneios daquele falso
pensador que ali passava os domingos e feriados na expectativa de encontrar um
novo motivo para viver.
Era sua última aula do curso de fotografia o qual J.E havia se inscrito
apenas como passa tempo de férias. O objetivo era captar qualquer imagem
espontânea seja lá qual fosse, mas que os proporcionasse algum sentimento, alegria
ou dor, excitação ou antipatia. Para ele não seria muito difícil, estava mais receptivo às
emoções por esses dias...
Captou em sua câmera, momentos quaisquer de pessoas quaisquer em
lugares que deixavam de ser óbvios ou batidos pela rotina através das imagens.
Surgiu em sua frente uma moça na casa de seus quase vinte anos, alta, pele branca,
sorriso fácil, olhos verdes que facilmente passariam para o castanho e cabelos
impressionantemente longos.
- Desculpe, não quis atrapalhar sua fotografia! – disse atrapalhada com
certo rubor nas maçãs do rosto.
- Não se preocupe, era só mais uma foto... Qual fotógrafo que se julga
fotógrafo sem ao menos ter perdido uma foto? – sorriu amarelo. – Perdoe a
indiscrição, mas qual seu nome? – Tentou esconder o seu jeito bruto de ser para a
princesa que sorria à sua frente.
- Laura, prazer em conhecê-lo! – guardou seu sorriso por alguns instantes
enquanto ajeitava seus cabelos e fitava o tal fotógrafo de feições européias, cabelos
loiros lisos e rasteiros, barba cerrada, não tão bem feita, mas que lhe davam uma
vontade enorme de acariciá-la.
- Pode me chamar de J.E. – sorriu encabulado enquanto sentia os olhares
da jovem moça em cada linha de expressão daquele velho rosto conhecido de todas
as manhãs.
Mais alguns minutos se passaram e a conversa fluía como se já fossem
velhos amigos, Laura estava a passeio na cidade e na vida, adorava ler e nas horas
vagas escrevia, mas não tivera coragem de cursar Jornalismo ou Letras para
aperfeiçoar-se no que fazia de melhor. J.E tentou Direito, mas não se empenhou o
suficiente para terminar o curso. Falaram sobre antigos relacionamentos. Ele pediu
para eternizá-la em algumas fotos já que muito provavelmente não se veriam mais.
Por sua vez, ela consentiu e pediu uma foto juntos, para que se lembrasse dele.
Depois foram ao shopping e por sorte encontraram a loja de revelação aberta. Laura
levou a foto dos dois e J.E levou a foto daquela que jamais esqueceria.
2. Durante o abraço de despedida, Laura segurou-lhe forte as mãos e em
uma delas deixou um pequeno bilhete de letras desenhadas com o número do seu
telefone para que talvez não perdessem o contato.
-
Dois anos se passaram desde então e J.E não ligara no dia seguinte, não
teve coragem, afogou-se na timidez e deixou de lado uma chance de ser feliz. Mas
não houve um domingo sequer que deixara de visitar aquela pracinha onde havia visto
Laura pela única, primeira e última vez.
Naquele domingo não foi diferente. Sentou no mesmo banco em que se
sentaram, acendeu o cigarro, deixou sua cerveja à direita e se pôs a fotografar
aquelas cenas quaisquer que nunca cansara de ver.
Alguém o acompanhava naquele momento, mas não ousou a olhar quem
era. Tragou o cigarro, sorveu mais um gole da cerveja favorita e tentava imaginar qual
era o desenho daquela nuvem que parecia se mover.
- Esperei todos os dias destes últimos dois anos por um telefonema seu.
- Perdão, faltou coragem. – sorriu ao reconhecer aquela voz, mas olhava
para o chão, recusou olhar para a mulher que habitava seus sonhos.
Laura levantou com a ponta dos dedos o rosto ainda de feições européias
e barba mal feita, forçou para que a encarasse.
- Sorria, há uma nova chance. – depositou um novo bilhete nas mãos de
J.E e caminhou a passos largos.
Abriu o bilhete e aquelas letras desenhadas ainda eram as mesmas:
“Não seja indelicado e sorria enquanto estiver lendo o que lhe escrevi.
Espero por você em duas horas no Hotel Fischer no quarto 312,
Com carinho e coragem,
Laura C. Bianco.”
Escolheu seu melhor perfume, suas melhores roupas, certificou-se de levar
um bom vinho e que flores fossem enviadas a ela no dia seguinte à sua visita.
Uma hora e meia se passou depois do último encontro e Laura o esperava no
fim do corredor, enrolada numa toalha branca, com olhos ainda mais verdes e abrindo os
braços para que se encontrassem logo.
- Perdoa-me por não ter ligado no minuto seguinte? – ofegou enquanto a
abraçava e sentia novamente aquele perfume doce.
3. Entraram pelo quarto, a toalha foi deixada em algum lugar, as roupas de João
desapareceram em poucos minutos. Seus corpos atraíam-se de forma inexplicável,
estavam quentes, os suspiros não eram baixos, a timidez fora perdida assim como os
trajes de ambos. E então uma surpresa, ele era o primeiro de Laura, o primeiro e único.
- Jura não se afastar de mim? Jura ligar assim que sair deste quarto de hotel?
– Laura pedia com olhos marejados.
E desde então não se afastaram mais.
Moravam juntos numa casinha simples, compraram uma motocicleta usada,
freqüentavam os bailes anos sessenta, faziam o estilo de um típico casal vinte. E brigavam
também! Laura amava quebrar pratos e copos quando isto acontecia. Já J.E socava as
portas e paredes com o intuito sincero de exterminar a raiva momentânea. Ficaram no
máximo treze eternos dias sem se falar, mas pediam trégua enquanto ele a ensinava pela
enésima terceira vez a fazer brigadeiro.
Agora estão em alto mar, comemorando os cinco anos que estão juntos. Não
mudaram muita coisa, Laura continuava com os longos cabelos e J.E com a barba macia e
mal feita de todos os tempos. Mais um flash disparou deixando-a profundamente irritada,
mas ele queria continuar eternizando-a naquelas fotografias.
- Não se mova, quero uma foto nossa! O pôr do sol está maravilhoso! – disse
sentando-se ao lado dela.
Mais uma foto para decorarem o quarto do casal, que já tinha as paredes
repletas de fotos dos dois nos momentos mais simples ou inusitados, foi tirada.
- Precisamos conversar. – falou séria.
- O que houve?
- Precisamos de mais dois quartos, dois berços, fraldas e roupas para bebês.
Eduardo e Mônica chegarão em 4 meses.
Fim de papo é hora de comprar um carro.