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EXEGESE DE JO 1.1-5




                          POR


               MARCELO GOMES DA SILVA




         EXEGESE APRESENTADA AO COLENDO
    PRESBITÉRIO DE GUANABARA, COMO REQUISITO
         PARCIAL À ORDENAÇÃO AO SAGRADO

    MINISTÉRIO, EM CUMPRIMENTO AO ARTIGO 120,
       ALÍNEA A, DO CAPÍTULO XII DA CI / IPB.




PRESBITÉRIO GUANABARA – IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
                   DEZEMBRO / 2008
2


                                                   ÍNDICE



1. Abreviaturas ................................................................................................... 04

2. Apresentação do Trabalho .............................................................................. 05

3. Introdução ...................................................................................................... 06

4. Tradução ......................................................................................................... 07

     4.1.        Texto Grego ....................................................................................... 07

     4.2.        Análise Gramatical ............................................................................. 08

     4.3.        Tradução Literal ................................................................................. 13

     4.4.        Tradução Idiomática ............................................................................14

     4.5.        Comparação de Versões ..................................................................... 14

5. Análise Literária ............................................................................................. 18

     5.1.        Delimitação ........................................................................................ 18

     5.2.        Segmentação ...................................................................................... 19

     5.3.        Palavras-Chaves ................................................................................. 19

     5.4.        Gênero Literário ................................................................................. 21

6. Análise do Contexto do Livro ........................................................................ 22

     6.1.        Autoria ................................................................................................ 22

     6.2.        Ocasião e Propósito ............................................................................ 23

     6.3.        Contexto Remoto ............................................................................... 24

            6.3.1. Contexto Remoto Anterior ........................................................... 24

            6.3.2. Contexto Remoto Posterior .......................................................... 25

            6.3.3. Contexto Imediato ........................................................................ 25

                 6.3.3.1.        Contexto Imediato Anterior ............................................. 25

                 6.3.3.2.        Contexto Imediato Posterior ............................................ 26
3


7. Análise Teológica ........................................................................................... 26

     7.1.       Diálogo com a Teologia Bíblica ........................................................ 26

     7.2.       Diálogo com a Teologia Sistemática Reformada ............................... 28

     7.3.       Diálogo com a Teologia Contemporânea ........................................... 31

8. Análise Hermenêutica .................................................................................... 33

     8.1.       Interpretação da Passagem ................................................................. 33

     8.2.       Teologia da Passagem ........................................................................ 37

     8.3.       Teologia Aplicada .............................................................................. 38

9. Conclusão ....................................................................................................... 40

10. Bibliografia .................................................................................................... 42
4


1. ABREVIATURAS



acus. – acusativo
adj. – adjetivo
adv. – advérbio
ARA – Almeida Revista Atualizada
ARC – Almeida Revista Corrigida
A.T. – Antigo Testamento
conj. – conjunção
dat. – dativo
demonst. - demonstrativo
fem. – feminino
gen. – genitivo
ind. – indicativo
loc. – locução
masc. – masculino
N.T. – Novo Testamento
nom. – nominativo
NVI – Nova Versão Internacional
perf. – perfeito
pess. – pessoa
pl. – plural
pred. – predicativo
prepos. – preposição
preposic. – preposicional
pres. – presente
pret. – pretérito
pron. – pronome
sing. – singular
5


2. APRESENTAÇÃO DO TRABALHO



          A presente exegese visa cumprir o disposto no Art.120, alínea a da

Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil que preceitua:



                Deve ainda o candidato à licenciatura apresentar ao Presbitério:
                a) uma exegese de um passo das Escrituras Sagradas, no texto
                original, em que deverá revelar capacidade para crítica, método
                de exposição, lógica nas conclusões e clareza no salientar a
                força de expressão da passagem bíblica1.


            Objetivando atender aos requisitos enumerados no supracitado texto

constitucional, a presente exegese constitui-se na apresentação dos resultados de

uma pesquisa textual, amparada por pesquisa em fontes bibliográficas.

            A metodologia utilizada na presente exegese tem por fundamento o

Método Gramático-Histórico, ressaltando a importância do texto e de seu contexto

para a devida interpretação da passagem, valendo-se das contribuições recentes

dos manuais de metodologia exegética. Foram usados na presente pesquisa a obra

de Uwe Wegner “Exegese do Novo Testamento: Manual de metodologia”, além

da obra do renomado e estudioso Wilhelm Egger em seu livro “Metodologia do

Novo Testamento” e também a obra “Metodologia de Exegese Bíblica” do

exegeta Cássio Murilo Dias Silva2.

            Desejamos, sobretudo, a fidelidade às Escrituras Sagradas, a sua correta

interpretação e relevante exposição para a edificação do povo eleito, tendo como

motivação a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.


1
    IPB. Manual Presbiteriano com Jurisprudência. p. 63.
2
    Referências completas a estas obras serão feitas no decorrer do trabalho, bem como na
bibliografia.
6


3. INTRODUÇÃO



         Pensar sobre a divindade é um caráter imanente na vida do ser humano.

Refletir sobre o Criador, sobre seu modo de governo e as características de seu ser

é relevante, e fizeram parte da história da humanidade em todos os tempos.

         O texto de abertura do quarto Evangelho é envolvente e enigmático.

Difere dos demais por apresentar características estritamente teológicas. Leva seu

leitor a reflexões filosóficas e existenciais sobre seu ser, e o ser divino.

         Tais características levaram muitos estudiosos à busca do significado do

texto. Desde cedo a Igreja estuda esta passagem, considerada fundamental para o

entendimento da Pessoa de Cristo.

         Hoje, apesar de sistemáticos e exegéticos estudos sobre tal passagem,

ainda é motivo de divergências entre os estudiosos. Ao mesmo tempo em que esta

perícope é um dos alicerces apologéticos do cristianismo, algumas seitas a

utilizam para defender heresias que muito fogem do sentido exato do texto.

         Por que o evangelista escolheu este tema e esta abordagem para iniciar

seu escrito? Por que é apresentada uma linguagem aparentemente helenista para

tratar deste assunto? O que seria do cristianismo sem a revelação de Jo 1.1-5?

         “No princípio era o Verbo” apresenta implicações fundamentais para a

vida da Igreja e dos discípulos de Jesus. Nosso objetivo é analisar estas

implicações, buscando o sentido original do texto, entendendo o seu contexto, seu

significado primário e sua teologia.

         Para isso, partiremos do texto grego (versão BNT - Novum Testamentum

Graece, Nestle-Aland 27h Edition) e focaremos os princípios bíblicos da

passagem, aplicando-os em nossos dias.
7


4. TRADUÇÃO



4.1. Texto Grego



João 1. 1-5 BNT3


     1
         vEn avrch/| h=n o` lo,goj( kai. o` lo,goj h=n pro.j to.n qeo,n( kai. qeo.j h=n o`
                                    kai.

     lo,gojÅ
     2
         ou-toj
         ou-toj h=n evn avrch/| pro.j to.n qeo,nÅ
     3
          pa,nta diV auvtou/ evge,neto( kai. cwri.j auvtou/ evge,neto ouvde. e[nÅ o]

     ge,gonen
     4
         evn auvtw/| zwh. h=n( kai. h` zwh. h=n to. fw/j tw/n avnqrw,pwn
                                                              av      wn
     5
         kai. to. fw/j evn th/| skoti,a| fai,nei( kai. h` skoti,a auvto. ouv kate,labenÅ




3
    O presente texto grego tem por base a Edição Crítica do Novo Testamento de Nestle-Aland, 27ª
Edição [BNT - Novum Testamentum Graece, Nestle-Aland 27h Edition. Copyright (c) 1993
Deutsch Bibelgesellschaft, Stuttgart]. Fonte: Bible Works 7.0
8


4.2. Análise Gramatical



João 1:1

 1
     vEn avrch/| h=n o` lo,goj( kai. o` lo,goj h=n pro.j to.n qeo,n( kai. qeo.j h=n o` lo,gojÅ




1ª oração:

  1)     vEn avrch/|      prepos. + dat. fem.           loc. preposic.            no princípio

                          sing.                         adverbial

  2)     h=n              3ª pess. do sing. do                                    era/estava

                          pret. imperfeito do

                          ind.

  3)     o` lo,goj        nom. masc. sing.              sujeito                   a palavra




2ª oração:

  1)     kai.             conj. aditiva                                           e

  2)     o` lo,goj        nom. masc. sing.              Sujeito                   a palavra

  3)     h=n              3ª pess. do sing. do                                    era/estava

                          pret. imperfeito do

                          ind.

  4)     pro.j to.n       prepos. + acus. masc.         loc. preposic.            diante de

         qeo,n            sing.                         adverbial                 Deus
9


3ª oração:

  1)     kai.              conj. aditiva                             e

  2)     qeo.j             nom. masc. sing.       pred. do sujeito   Deus

  3)     h=n               3ª pess. do sing. do                      era/estava

                           pret. imperfeito do

                           ind.

  4)     o` lo,goj         nom. masc. sing.       sujeito            a palavra




João 1:2
 2
     ou-toj
     ou-toj h=n evn avrch/| pro.j to.n qeo,nÅ




Oração única:

  1)     ou-toj
         ou-toj           pron. demonst. nom.     sujeito            este

                          masc. sing.

  2)     h=n              3ª pess. do sing. do                       era/estava

                          pret. imperfeito do

                          ind.

  3)     evn avrch/|      prepos. + dat. fem.     loc. preposic.     no princípio

                          sing.                   adverbial

  4)     pro.j to.n       prepos. + acus. masc.   loc. preposic.     diante de

         qeo,n            sing.                   adverbial          Deus
10


João 1:3

 3
     pa,nta diV auvtou/ evge,neto( kai. cwri.j auvtou/ evge,neto ouvde. e[nÅ o] ge,gonen




1ª oração:

  1)     pa,nta            adj. nom. neutro pl.         sujeito                  tudo, todas

                                                                                 as coisas

                                                                                 (totalidade)

  2)     diV auvtou/       prepos. + pron. pess.        loc. preposic.           através dele

                           gen. 3ª pess. sing.          adverbial

  3)     evge,neto         3ª pess. do sing. do                                  aconteceu,

                           aoristo ind. médio                                    foi feito




2ª oração:

  1)     kai.               conj. aditiva                                         e

  2)     cwri.j auvtou/     prepos. + pron. pess.       loc. preposic.            sem ele

                            gen. 3ª pess. sing.         adverbial

  3)     evge,neto          pess. do sing. do                                     aconteceu,

                            aoristo ind. médio                                    foi feito

  4)     ouvde. e[n         adv. + adj. nom.            loc. preposic.            nenhum

                            sing.                       adverbial
11


3ª oração:

  1)     o]                 pron. relativo                               o que

  2)     ge,gonen           3ª pess. do sing. do                         aconteceu,

                            perf. ativ. do ind.                          foi feito




João 1:4

 4
     evn auvtw/| zwh. h=n( kai. h` zwh. h=n to. fw/j tw/n avnqrw,pwn




1ª oração:

  1)     evn auvtw/|     prepos. + pron. pess.        loc. preposic.     nele

                         gen. 3ª pess. sing.          adverbial

  2)     zwh.            nom. fem. sing.              pred. do sujeito   vida

  3)     h=n             3ª pess. do sing. do                            era/estava

                         pret. imperfeito do

                         ind.
12


2ª oração:

  1)     kai.              conj. aditiva                                         e

  2)     h` zwh            nom. fem. sing.              sujeito                  a vida

  3)     h=n               3ª pess. do sing. do                                  era/estava

                           pret. imperfeito do

                           ind.

  4)     to. fw/j          nom. neutro sing.            pred. do sujeito         a luz

  5)     tw/n              gen. masc. pl.               pred. do sujeito         dos homens

         avnqrw,pwn
           nqrw,




João 1:5
 5
     kai. to. fw/j evn th/| skoti,a| fai,nei( kai. h` skoti,a auvto. ouv kate,labenÅ




1ª oração:

  1)     kai.             conj. aditiva                                          e

  2)     to. fw/j         nom. neutro sing.            sujeito                   a luz

  3)     evn th/|         prepos. + artigo +           loc. preposic.            na escuridão

         skoti,a|         dat. fem. sing.              adverbial

  4)     fai,nei
              ei          3ª pess. do sing. do                                   brilha

                          pres. ativo do ind.
13


2ª oração:

  1)   kai.             conj. aditiva                             e

  2)   h` skoti,a       nom. fem. sing.         sujeito           a escuridão

  3)   auvto.           pron. pessoal acus.                       por si mesmo

                        neutro sing.

  4)   ouv              advérbio neg.                             não

  5)   kate,laben       3ª pess. sing aoristo                     conseguiu

                        ind. ativo




4.3. Tradução Literal



João 1. 1-5

       1
           No princípio era a palavra, e a palavra estava diante de Deus, e Deus era a
       palavra.
       2
           Este estava no princípio diante de Deus.
       3
           Tudo através dele aconteceu, e sem ele aconteceu nenhum. O que
       aconteceu
       4
           nele vida era, e a vida era a luz dos homens:
       5
           e a luz na escuridão brilha, e a escuridão por si mesmo não conseguiu.
14


4.4. Tradução Idiomática



João 1. 1-5

       1
           No princípio era a Palavra, e a Palavra estava diante de Deus, e Deus era a
       Palavra.
       2
           Este estava no princípio diante de Deus.
       3
           Tudo através dele aconteceu, e sem ele nada teria acontecido.
       4
           A vida estava nele, e era a luz dos homens:
       5
           e a luz brilha na escuridão, e a escuridão por si mesmo não consegue
       derrotá-la.




4.5. Comparação de Versões



Almeida Revista Atualizada (ARA)

João 1. 1-5

       1
           No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
       2
           Ele estava no princípio com Deus.
       3
           Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
       foi feito se fez.
       4
           A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.
       5
           A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
15


Almeida Revista Corrigida (ARC)

João 1. 1-5

           1
               No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
           Deus.
           2
               Ele estava no princípio com Deus.
           3
               Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
           4
               Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens;
           5
               e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.




Nova Versão Internacional (NVI)

João 1. 1-5

           1
               No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.
           2
               Ele estava com Deus no princípio.
           3
               Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que
           existe teria sido feito.
           4
               Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens.
           5
               A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.




Avaliação das versões

               Nas três versões apresentadas acima, pode-se verificar claramente a

omissão da oração o] ge,gonen do versículo três (parte final). Tal omissão não é

errônea, uma vez que em nossa língua a frase fica sem sentido de fato4.




4
    Por isso, seguindo nossas traduções mais conhecidas, também optei por tal omissão na tradução
idiomática, entendendo que o texto fica com melhor legibilidade.
16


             Nenhuma das versões analisadas acrescenta termos ao texto original.

Percebemos nas três versões uma escolha quanto às traduções possíveis. Em

especial na última oração da perícope, observamos que há diferenças

significativas entre as versões, podendo dar a impressão de acréscimo. Mesmo

assim todas são aceitáveis como tradução dos termos ali apresentados, inclusive

em seu sentido original.

             Quanto a modificações ou substituições de termos, observamos que na

ARA e na ARC claramente lo,goj é traduzido como “Verbo”. Isso não chega a ser

uma modificação do termo. Mas, como vimos, a tradução mais literal é Palavra,

como usada na NVI. O uso de “trevas” também não é problema, uma vez que é

sinônimo de “escuridão”. Isso vale também para outros exemplos encontrados,

como “brilhar” e “resplandecer”.

             A NVI inclui “nada do que existe teria sido feito” no v.3. Embora seja

justificável para o entendimento da frase no português, houve uma modificação

clara aqui, pois certamente o termo para “do que existe” seria outro. Além disso, o

tempo verbal no original está no passado, enquanto que na tradução está no

presente.

             Apesar destes destaques, as versões analisadas apresentam harmonia

gramatical. Mesmo com o uso de palavras diferentes, elas não comprometem o

significado do texto na sua raiz, deixando clara a mensagem do mesmo.

             A partir da tradução literal, podemos distinguir certo grau de literalidade

e qualidade para a compreensão dos textos ora analisados, como está demonstrado

no quadro a seguir5:




5
    O critério exegético utilizado foi o da literalidade, como forma de manter-se fiel ao texto bíblico.
17


  Versão                                  Grau de literalidade / qualidade

  Almeida Revista e Atualizada            Maior literalidade / Boa

  Almeida Revista e Corrigida             Maior literalidade / Boa

  Nova Versão Internacional               Literalidade Média / Média



         A tarefa de escolher uma versão entre as apresentadas como a melhor é

ao mesmo tempo simples e delicada. É simples porque nenhuma das três versões

trazem diferenças significativas ao leitor em português. Por outro lado é delicado

porque o termo principal de toda a perícope é a expressão o` lo,goj que é traduzida

pela ARA e pela ARC como “o Verbo”. Como disse anteriormente, utilizar-se de

tal tradução não é um equívoco, mas entendemos que a tradução “a Palavra” –

como usado na NVI – está mais próximo da tradução literal. Além disso, é o uso

mais comum em todo o N.T. para a expressão grega logos, como observamos, por

exemplo, no conhecido texto de II Tm 4.2 “Prega a palavra”, entre outros.

         Apesar disso, como vimos acima, a NVI apresenta uma modificação que

a desqualifica entre as demais (embora não seja grave na tradução final).

         Assim, entre a ARA e ARC, optamos pela ARA como a melhor versão.

Basicamente, a opção se deu pela escolha equivocada do termo “e as trevas não a

compreenderam” utilizada pela ARC no final da perícope. As trevas não

“compreenderam” (não entenderam?) a luz? Acreditamos que esta tradução pode

confundir o leitor final.
18


5. ANÁLISE LITERÁRIA



5.1. Delimitação



            A perícope que estamos estudando faz parte do prólogo joanino, que se

inicia no v.1 e se estende até o v.18.

            Desta forma, por se tratar de um início de escrito, não possui delimitação

superior, uma vez que o livro se inicia na perícope analisada.

            O trecho em análise se trata de uma das características mais marcantes

deste Evangelho. Isso se dá pela apresentação de Jesus como o eterno Logos, ou

Palavra – como vimos -, i. e. aquele que revela o Pai.

            O motivo de nossa delimitação até o verso 5 se deu pela impossibilidade6

de tratar em detalhes um trecho da Escritura com tanta riqueza de conteúdo e

doutrina. É possível notar claramente que a partir do v.6 há um novo parágrafo,

uma nova fala, onde é apresentado João Batista, portanto, é uma nova perícope.

            Assim, entendemos que a delimitação até o v.5 apresenta o essencial de

todo o prólogo, a saber, que Cristo revela o Pai porque compartilha da divindade

do Pai. Ele é quem criou o universo (v.3). Como se pode ver adiante no

Evangelho, ele é uno com o Pai, o “EU SOU” (5.18; 8.58; 10.30-33; cf. Êx 3.14)7.




6
    Baseando-se no objetivo do presente trabalho.
7
    Bíblia de Estudo de Genebra.
19


5.2. Segmentação8


     1a
          No princípio era a Palavra,
     1b
          e a Palavra estava diante de Deus,
     1c
          e Deus era a Palavra.


     2
         Este estava no princípio diante de Deus.

     3a
          Tudo através dele aconteceu,
     3b
          e sem ele nada teria acontecido.

     4a
          A vida estava nele,
     4b
          e era a luz dos homens:


     5a
          e a luz brilha na escuridão,
     5b
          e a escuridão por si mesmo não consegue derrotá-la.




5.3. Palavras-Chaves



lo,goj = Palavra (v.1)

              O termo “palavra” ou “verbo” – em algumas traduções – é a tradução do

grego logos. Designa Deus, o Filho, referindo-se à sua Divindade. Na filosofia

grega, o logos era a "razão" ou a "lógica", uma força abstrata que trazia ordem e

harmonia ao universo. Mas quando analisamos o Evangelho de João, assim como

seus demais escritos, percebemos que o logos faz referência à Pessoa de Cristo.

8
    Baseada na tradução idiomática.
20


             Na filosofia neo-platônica e na heresia gnóstica (segundo e terceiro

séculos d.C.), o logos era visto como um dos muitos poderes intermediários entre

Deus e o mundo9. Os gregos usavam não apenas referente à palavra falava, mas a

palavra ainda na mente – a razão10.

             Os judeus, por outro lado, usavam tal expressão como meio de se referir

a Deus. Assim, o uso da expressão por João foi significativo tanto para judeus

quanto para gregos



zwh = Vida (v. 4)

             O uso da expressão “A vida estava nele” (v. 4) é mais uma afirmação de

divindade. O autor do Evangelho quer destacar que assim como o Pai, o Filho

também tem vida em si mesmo. Tal afirmação é categórica no capítulo 5, verso

26, do mesmo Evangelho.

             Além disso, “vida” é um dos conceitos principais do Evangelho de João –

encontramos 36 vezes11.

             Assim, vemos que a “vida” é dádiva de Cristo (10.28), e ele é a própria

“vida” (14.6). Associa-se a tal conceito a idéia de “luz”, expressa ainda no v.4 e

também no v.5 – onde se contrapõe à trevas. Como o detentor da “vida”, é de

Cristo que vem toda a iluminação espiritual, sendo a “luz do mundo”, único a

oferecer de fato esperança aos homens. As trevas são usadas como contraste, não

apenas aqui, mas em todo o Evangelho.




9
    Bíblia de Estudo de Genebra.
10
     DODD, Charles H. A Interpretação do quarto Evangelho. p. 387.
11
     Bíblia de Estudo NVI.
21


5.4. Gênero Literário



            Os ensinos de Cristo predominam neste Evangelho. Contudo, não em

forma de parábolas, como nos sinóticos, mas em forma de primorosos discursos.

Isso significa que, enquanto estava na Judéia, falando aos líderes judeus, ou aos

discípulos no Cenáculo, Cristo considerou a forma não-parabólica de ensino como

a mais apropriada para aquela situação particular12.

            Quanto ao gênero do escrito, O Evangelho de João se distingue pela

profundidade com que penetra na vida de Jesus. Sem criar nada falso ou artificial

o evangelista quis descobrir, com a visão de um crente e a intuição de um místico,

todo o significado dos atos e palavras do Verbo de Deus feito homem13.

            O princípio de interpretação é de importância para quem procura expor o

significado deste Evangelho. O Evangelho de João difere dos demais Evangelhos,

pois contém um grande número de passagens que não se encontram nestes, e

omite outras que eles registram. Nenhum evangelista apresentou exposições tão

completas sobre a divindade de Jesus Cristo, da justificação por meio da fé, das

distintas funções do Filho, das operações do Espírito Santo e das prerrogativas dos

crentes14. Embora os demais evangelistas não omitam tais conceitos, é no estilo

literário de João que encontramos tais conceitos de maneira mais proeminente.




12
     HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 56.
13
     BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. p. 9.
14
     RYLE, J. C. Comentário do Evangelho Segundo São João. p. 9.
22


6. ANÁLISE DO CONTEXTO DO LIVRO



6.1. Autoria



            É geralmente aceito que o autor do Evangelho foi um judeu que viveu na

Palestina, porém muitos comentaristas não o identificam com João, o apóstolo.

Entretanto, há convincentes provas de que ele é o autor deste Evangelho. Admite-

se sem questionamentos que o Evangelho tenha sido escrito por uma testemunha

ocular15.

            Apesar da obra não identificar claramente o autor, o discípulo a quem

Jesus amava e que estava presente à última ceia e, finalmente, à crucificação e ao

túmulo vazio é o mesmo "que dá testemunho destas coisas" - Jo 21.24. Estes fatos

a respeito da testemunha ocular advogam a autoria de João, o apóstolo.

            Além disso, existem evidências internas que são decisivamente

favoráveis à identificação do discípulo amado com João, o apóstolo. Seu

conhecimento de costumes, festas e topografia judaicos é incontestável. Muitos

críticos, entretanto, aceitam como autor do Evangelho um certo João, o presbítero,

que foi um discípulo do apóstolo. Esta hipótese é baseada na evidência de Papias,

bispo de Hierápolis, que se refere a dois João em sua Exposição dos oráculos do

Senhor um dos quais ele chama o "Presbítero". Outros prestam certo respeito à

posição tradicional, sugerindo que João, o Presbítero, fosse apenas o amanuense

do apóstolo.

            Entendemos que a autoria de João, o apóstolo, é testificada pelo fato de

se tratar do único Evangelho que se refere a um dos apóstolos com a expressão “a

15
     Novo Comentário da Bíblia. Software Biblos.
23


quem Jesus amava” (13.23) em lugar do seu nome. Isso fica evidente quando

observamos que João, filho de Zebedeu, um dos mais destacados discípulos, não é

mencionado pelo nome no Evangelho. É difícil explicar esta omissão, a não ser

que se admita que o Evangelho foi escrito por João e que ele evitou identificar-

se16.




6.2. Ocasião e Propósito



             Sobre a ocasião do escrito, deve-se fazer uma análise histórica por

dedução. Temos a informação de que Inácio conheceu o Evangelho, logo este

deve ter sido escrito antes de 115 d. C.

             Por outro lado, se Marcos e Lucas foram usados em sua composição, a

data deve ser depois do ano 85 d. C. Um fragmento do Evangelho encontrado

recentemente no Egito é datado entre 130 e 150 d. C. Daí se deduz que o

Evangelho foi publicado alguns anos antes de ter sido possível sua circulação

naquele país. Mas ainda outro fragmento de extratos do Evangelho, o qual é

datado entre 110 e 150 d. C., faz uso também do quarto Evangelho.

             Concluímos, portanto, que o Evangelho em grego foi escrito,

provavelmente, entre 90 e 110 d. C., ainda que haja possibilidade de o epílogo

(21.1-25) ter sido escrito tempos mais tarde17.

             Considerando o lugar onde foi escrito, Irineu menciona o apóstolo

residindo em Éfeso, e a tradição da Igreja sempre liga o quarto Evangelho com


16
     Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1226.
17
     Novo Comentário da Bíblia. Acesso via Software Biblos.
24


esta cidade.

         O próprio autor descreve seu propósito ao escrever: “para que creiais que

Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”

(20.31). Esta expressão também pode ter o sentido de “continuem crendo” o que

nos leva a um propósito não apenas evangelístico, mas também de edificar os

crentes. Provavelmente João teve em mente os leitores gregos, que estavam em

contato com influências heréticas, mas sua intenção primordial é evangelística.




6.3. Contexto Remoto



6.3.1. Contexto Remoto Anterior



         Não temos contexto remoto anterior por motivos claros: se trata do início

do escrito, o quarto Evangelho. O que se pode realizar é um estudo comparativo

com o conteúdo dos Evangelhos sinóticos. Percebe-se, por exemplo, que João

ignora a fase de nascimento e desenvolvimento de Jesus, iniciando seu relato já

em seu batizado

         Não é nosso objetivo tecer detalhes quanto a estas diferenças entre o

Evangelho de João e os sinóticos, mas vale destacar que, aparentemente, há

divergências na apresentação e duração do ministério de Jesus e no conteúdo de

seus ensinos. Contudo, é fácil exagerar estas diferenças. Jo 7.1 mostra

conhecimento do ministério de Jesus na Galiléia, ao qual os sinóticos dão

testemunho principal. Eles, por sua vez, confirmam certo ministério em algum

tempo no sul do país, desde que se referem a discípulos por lá. É bem razoável
25


acreditar num ministério, tendo Jerusalém como centro, assim como narra este

Evangelho.



5.3.2. Contexto Remoto Posterior



             Nos versículos subseqüentes à perícope em análise, encontramos a

continuação do prólogo do livro, que se estende até o v.18. Tal prólogo não é um

mero prefácio ou introdução, mas uma declaração do tema central e básico no

ensino do Filho de Deus, a saber, a encarnação do Verbo. O evangelista pinta o

pano de fundo necessário para a revelação do evento redentor, isto é, o Verbo

feito carne. O prólogo é poético na sua forma e estrutura, e constitui um hino à

Palavra de Deus18.

             Apesar de se constituir um único prólogo, fica evidente que nele há

perícopes bem distintas, como a reservada para nossa análise (1.1-5), além de 1.6-

13 e 1.14-1819.




6.4. Contexto Imediato



6.4.1. Contexto Imediato Anterior



             Como observado acima, nossa análise parte dos primeiros versículos do

Evangelho, não possuindo então um contexto imediato anterior


18
     Novo Comentário da Bíblia. Acesso via software Biblos.
19
     Alguns autores, como Werner de Boor, sugerem outras divisões entre estes versículos.
26


6.4.2. Contexto Imediato Posterior



            Na continuação deste texto (1.6-13), João Batista é apresentado como um

exemplo do brilho constante da luz. Os versículos seguintes declaram o propósito

de seu comissionamento (v. 7 e 8), pois a natureza de sua obra precisava ser

esclarecida20. Depois, João dá prosseguimento à sua exposição. O v. 9 conecta-se

diretamente ao v. 521. Os versos 10 a 13, para alguns estudiosos, são o centro do

prólogo. Neles são descritos a diversa acolhida que os homens reservaram ao

“Verbo” vindo ao mundo. São quatro frases, duas a duas, paralelas entre si. As

duas primeiras acentuam a incredulidade dos homens, e as outras duas descrevem

a sorte daqueles que creram22.

            Assim, a conclusão do prólogo ressalta a glória da “Palavra” encarnada, o

clímax da graça condescendente de Deus.




7. ANÁLISE TEOLÓGICA



7.1. Diálogo com a Teologia Bíblica



            Temos nesta passagem o registro da revelação da Palavra encarnada, e

devendo, portanto, ser estudado no seu contexto histórico. Para tanto, uma análise

crítica se faz necessária. Porém a estrutura literária, a unidade de ensino, o

desenvolvimento das reivindicações de Cristo, o transcrito lúcido da consciência

20
     HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 107.
21
     BOOR, Werner de. Evangelho de João I. p. 37.
22
     BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. p. 39.
27


de Jesus em relação aos grandes temas, exigem uma exposição teológica.

            O Evangelho é de tal maneira unido no seu conteúdo teológico, que é

crescente o sentimento de que este é o princípio chave do seu significado interior.

O ensino teológico salientado nos sete sinais, as reivindicações messiânicas de

Cristo, as controvérsias entre Jesus e os judeus, e a revelação da incredulidade dos

judeus, preparam o palco para eventos finais, no ministério de Cristo.

            Encontramos no Evangelho de João os principais temas que permeiam

toda a Escritura: vida, luz, amor, entre outros. Vimos que através dele, temos a

revelação de que Cristo veio dar aos homens uma vida mais abundante. Ele é a luz

que estava no mundo, em conflito com as trevas, a fonte da verdadeira vida do

homem. O sacrifício de sua vida para o mundo foi a expressão do amor de Deus

para com o homem. É a história da redenção sendo fechada. O ápice de todo o

relato bíblico de Gênesis a Apocalipse.

            Vemos isso já no prólogo estudado. “No princípio” está diretamente

relacionado com o relato da criação em Gênesis. No prólogo temos a identificação

do Jesus histórico com o Verbo Eterno que estava com o Pai.

            Apesar de certa influência do pensamento grego neste conceito – como

vimos -, a principal inspiração vem da concepção do “Verbo” no Velho

Testamento. O Verbo foi personificado na filosofia do Velho Testamento, e no

prólogo deste Evangelho temos um reflexo deste pensamento. Isso fica evidente

quando lembramos que a idéia do Verbo manifesto em carne era realmente alheia

ao pensamento grego23.




23
     Novo Comentário da Bíblia. Acesso via software Biblos.
28


7.2. Diálogo com a Teologia Sistemática Reformada



        Na concepção da Teologia Sistemática Reformada, o logos encarnado é o

princípio norteador para a análise da Cristologia. Não há concepção, na teologia

reformada, de um Cristo que não fosse totalmente Deus.

        Além disso, este texto nos leva a outro conceito fundamental da teologia

sistemática, estudado, definido e questionado desde o Concílio de Nicéia em 325

d. C.: a Trindade. A Trindade e a Encarnação estão mutuamente integradas. A

doutrina da Trindade declara que Cristo é verdadeiramente divino. A doutrina da

Encarnação declara que o mesmo Cristo é também plenamente humano. Juntas,

essas doutrinas proclamam a plena realidade do Salvador revelada no Novo

Testamento, o Filho que veio da parte do Pai e, pela vontade do Pai, na cruz

tornou-se o substituto do homem pecador.

        Ao se opor à idéia ariana de que Jesus era a primeira e a mais nobre

criatura de Deus; a Igreja afirmou que Jesus era da mesma "substância" ou

"essência" do Pai reconhecendo, inequivocadamente, a divindade de Jesus Cristo.

        Mais tarde, em Calcedônia (451 d. C.), a igreja se opôs à idéia nestoriana

de que Jesus era duas pessoas e não uma, e à idéia eutiquiana de que a divindade

de Jesus havia absorvido sua humanidade. Rejeitando ambas as idéias, o Concílio

afirmou que Jesus é uma só pessoa com duas naturezas (isto é, com dois conjuntos

de capacidades para a experiência, expressão e ação). As duas naturezas estão

unidas nele, sem mistura e sem confusão, sem separação ou divisão, e cada

natureza retêm seus próprios atributos.

        O texto do Evangelho de João foi a base para as definições teológicas

destes períodos. O Evangelho de João abre suas narrativas de testemunha ocular
29


com a declaração de que Jesus é o eterno Logos divino, agente da criação e fonte

da vida e da luz (vs. 1-5, 9). Tornando-se carne, o Logos foi revelado como o

Filho de Deus, e a fonte da "graça e da verdade", o "unigênito do Pai" (vs. 14, 18).

             O conceito de criação sobre a perspectiva da Trindade também é outro

tema teológico sistemático tratado pela teologia reformada à luz desta passagem.

A Confissão de Fé de Westminster, ao tratar sobre a criação, coloca o Filho como

participante ativo na criação:



                Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
                para a manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e
                bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo
                muito bom, o mundo e tudo o que nele há, visíveis ou
                invisíveis24.


             Além, obviamente, de tratar claramente o conceito e da encarnação e

divindade de Cristo:



                O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo
                verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a
                ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a
                natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e
                enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido
                pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da
                substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas
                - a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas
                em uma só pessoa, sem conversão composição ou confusão;
                essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um
                só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem25.




24
     A Confissão de Fé de Westminster. IV. I.
25
     A Confissão de Fé de Westminster. VIII. II.
30


            Outro documento elaborado pelos teólogos da grande Assembléia de

Westminster, o Catecismo Maior de Westminster, também afirma em sua

pergunta número 11:



                Donde se infere que o Filho e o Espírito Santo são Deus, iguais
                ao Pai? R. As Escrituras revelam que o Filho e o Espírito Santo
                são Deus igualmente com o Pai, atribuindo-lhes os mesmos
                nomes, atributos, obras e culto que só a Deus pertencem26.


            Louis Berkhof acentua, em sua Teologia Sistemática o papel de Cristo

como Segunda Pessoa da Trindade. Ele explica o título de logos para Cristo:



                Este termo é aplicado ao Filho, em primeiro lugar não para
                expressar a Sua relação com o mundo (o que é absolutamente
                secundário), mas para indicar a Sua profunda relação com o Pai,
                relação como a que existe entre uma palavra e o orador que a
                profere. Diferentemente da filosofia a Bíblia apresenta o Logos
                como pessoal e o identifica com o Filho de Deus, Jo 1.1-14; 1
                Jo 1.1-3.27


            Assim, vemos o papel fundamental de tal passagem nas formulações

sistemáticas no decorrer da história da igreja, em especial na teologia sistemática

reformada.




26
     Catecismo Maior de Westminster. Pergunta XI.
27
     BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 95.
31


7.3. Diálogo com a Teologia Contemporânea



            A teologia contemporânea está fortemente arraigada nos princípios

racionalistas do Iluminismo do século XVIII. A crítica ao Antigo Regime e toda a

estrutura de uma sociedade dita arcaica lançou ataques às concepções políticas, de

gestão da economia e sócio-culturais, bem como a religião, freqüentemente

relacionada ao aspecto cultural.

            O princípio norteador da racionalidade, tão enfatizado pelo Iluminismo e

seus desdobramentos, chocou-se com qualquer pretensão de uma autoridade

absoluta que fugisse a um princípio racional. Nas palavras de Grenz e Olson:



               ... as mudanças trazidas pelo Iluminismo também marcaram sua
               compreensão do que vinha a ser autoridade religiosa. Ao
               mesmo tempo em que considerava as Escrituras como norma
               única na Igreja, Kant declarou que a “religião pura da razão” – a
               única autêntica e universalmente válida – é o princípio
               interpretativo das Escrituras 28.


            Em síntese, o alvorecer da Teologia Liberal, em fins do século XIX e

início do século XX, trouxe algumas concepções teológicas divergentes quanto à

autenticidade dos escritos dos Evangelhos, estremecendo assim alguns postulados

dogmáticos sobre a Segunda Pessoa da Trindade, Jesus Cristo.

            Foi nesse contexto que surgiu a neo-ortodoxia, para, propondo-se

dialogar com o novo pensamento, reconsiderar juízos ditos absolutos sem

reflexão, sem esvaziar o conteúdo da mensagem de salvação. Um de seus

principais expoentes foi Karl Barth, que inicialmente deixou-se levar pela corrente

liberal, mas, ao perceber que a nova teologia não satisfazia às crescentes

28
     GRENZ & OLSON, A Teologia do século XX. versão digitalizada.
32


necessidades do púlpito de sua paróquia, refletiu sobre a importância da

autoridade daquela que é a origem e a própria mensagem.

            Berkhof também fez uma análise histórica e contemporânea quando

tratou sobre a divindade do Filho:



               d. A divindade do Filho. A divindade do Filho foi negada na
               Igreja Primitiva pelos ebionitas e pelos “alogi” (alogoa), e
               também pelos monarquistas e pelos arianos. Nos dias da
               Reforma, os socinianos seguiram o exemplo daqueles e falavam
               de Jesus como mero homem. A mesma posição foi tomada por
               Schleiermacher e Ritschl, por um batalhão de eruditos liberais,
               particularmente da Alemanha, pelos unitários e pelos
               modernistas e humanistas dos dias atuais. Esta negação só é
               possível para os que desconsideram os ensinos da Escritura,
               pois a Bíblia contém abundantes provas da divindade de Cristo.
               Vemos que a Escritura (1) asseverava explicitamente a
               divindade do Filho. Em passagens como Jo 1.1 .... 29


            Assim, vemos que a importância do texto de Jo 1.1-5 para a teologia

contemporânea é permeada pela identificação da Escritura como autêntica Palavra

de Deus.

            Em nosso contexto hodierno, são poucos os pensadores cristãos que

levantam questionamentos sobre as doutrinas expressas no prólogo do Evangelho

de João30.

            Normalmente é no ateísmo que encontramos as maiores objeções tanto

ao conceito de um Deus Trino quanto à divindade de Cristo31.

29
     BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 96-97.
30
     No Brasil, destaca-se – não no meio acadêmico, mas popular – os pensamentos do Pr. Miguel
Angelo, da Igreja Cristo Vive, que nega publicamente a doutrina da Trindade. Além deste, temos
os mundialmente conhecidos Testemunhas de Jeová, que modificam o texto de Jo 1.1-5 para se
adequar aos seus heréticos princípio. Veremos mais detalhes sobre os TJ em nossa análise
hermenêutica. Contudo, não devem ser considerados em demasia por não se tratar de um grupo
cristão.
33


8. ANÁLISE HERMENÊUTICA



8.1. Interpretação da Passagem [comentário exegético]32



            Como dissemos anteriormente, a perícope em estudo está inserida no

prólogo joanino. Pode-se dizer que representa um escopo do que será tratado em

todo o Evangelho, cumprindo assim cabalmente seu propósito de prólogo.

            Fica evidente que João33 tinha em mente iniciar seu Evangelho da forma

que o apresentou. Como em uma grande preleção ou num sermão bem elaborado,

foi sobremaneira feliz ao tratar logo de início de um assunto tão importante de

uma forma que chamasse a atenção de seus leitores – quer fossem helenistas ou

judeus.

            O plano do Evangelho de João é muito bonito e a maneira como é

arranjado é impressionante. Vemos a Palavra em sua glória pré-encarnada, para

que possamos apreciar seu amor misericordioso, ao vir a terra salvar pecadores34.



v.1

           Destaca-se nesta passagem a apresentação de Jesus – ainda que não

mencione seu nome – como o Cristo, o Filho de Deus, e as implicações desta

31
     Destaca-se o estudo atual do “Jesus Histórico”, uma busca por um Jesus fora da religião e sem
divindade. Um dos mais populares estudiosos desta linha é John Dominic Crossan.
32
     O presente comentário exegético consta de comentários pessoais feitos a partir da tradução, da
comparação de versões e dos diálogos travados com a Teologia (Bíblica, Sistemática e
Contemporânea), bem como traz à lume expressivas posições de destacados comentaristas.
33
     Em função da análise realizada e argumentos levantados, vamos sempre considerar o apóstolo
como o autor.
34
     HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 96.
34


realidade divina na eternidade. Como analisamos, “No princípio” nos remete ao

texto de Gn 1.1. Parece que João teve a intenção de usar o mesmo termo, com o

propósito de afirmar que Cristo não foi criado, mas é criador. Trata-se, portanto,

de um eco claro das primeiras palavras do A.T.

           Analisamos o termo logos em detalhes em nosso estudo. Fica claro que

João o utiliza não no mesmo sentido da filosofia grega, mas no pensamento

semítico. Ainda assim, é possível que seus leitores tenham feito esta correlação, o

que foi favorável para o Evangelho.

           João afirma expressamente que o Verbo é Deus. O Logos já existia, e esta

é uma maneira de afirmar a eternidade que só Deus possui. Os Testemunhas de

Jeová têm observado que a palavra traduzida "Deus", aqui, não é precedida do

artigo definido e, com base nisto, dizem que a expressão significa "um deus",

mais do que propriamente "Deus". É um erro entender assim. O artigo é omitido

por causa da ordem da palavra na sentença grega (o predicado "Deus" foi

colocado antes para ser enfatizado). O Novo Testamento nunca sustenta a idéia de

"um deus", expressão que implica politeísmo e conflitaria com o consistente

monoteísmo da Bíblia. No Novo Testamento, a palavra grega para "Deus" ocorre

freqüentemente sem o artigo definido, dependendo da exigência da gramática

grega35.

           O uso da expressão “diante de” sugere intimidade, relação pessoal estreita,

comunhão. Além disso, na última oração o predicado foi trocado, a fim de que a

ênfase caísse sobre a divindade plena de Cristo.




35
     Biblia de Estudo de Genebra. p. 1228.
35


v.2

       Este verso retoma com um pronome o último termo do degrau mais alto e

conclui a frase reunindo todos os elementos. É possível que a repetição se dê em

tom de ênfase frente a influências heréticas do período do escrito. Cristo gozava

desde toda a eternidade da comunhão amorosa do Pai.



v.3

       O verso é construído segundo a lei estilística do paralelismo antitético. Os

pronomes referidos a “Palavra” constituem a ligação entre as duas partes. É

declarado que Cristo é o Criador de todas as coisas. Importante aqui é o leitor

deduzir que Cristo não poderia ter sido criado e que todas as coisas foram criadas

por ele. Assim, este verso continua a dar ênfase à divindade do “Verbo”.



v.4

        Aqui é importante uma relação com o que será dito posteriormente, no

cap. 5 v. 26 “tem vida em si mesmo”. Além disso, como será apresentado em todo

o Evangelho, Cristo é a luz dos homens, que oferece a maravilhosa esperança aos

homens – a redenção.

        A composição aqui é circular, quando analisada sob o contexto posterior

de nossa perícope. Os vs 4-5 apresentam a vida do Verbo como luz dos homens;

os vs 6-8 interrompem o desenvolvimento introduzindo João Batista; mas o v. 9

retoma o assunto, preparando o trecho seguinte.
36


            Destaque para a expressão “nele” - e não “por meio dele” - encontra-se a

vida. “Vida” aqui, analisada sob o contexto próximo, se refere à vida espiritual.

Ao mesmo tempo é a causa, a fonte, e o princípio de toda vida física36.

            A humanidade é caracterizada por trevas, que é o oposto à luz. A verdade

e o amor são sinônimos da luz, mas se estende também a todos os atributos de

Deus.



v. 5

            Luz e trevas são os termos de uma antítese tipicamente joanina dentro do

âmbito do N.T. Mas Battaglia ressalta que também no âmbito judaico

encontramos a mesma terminologia. Aqui temos um dualismo ético. Não há dois

princípios, mas somente a luz divina. Se o homem a acolhe, está na luz; se a

repele, vive nas trevas37. Assim, este versículo anuncia o próprio enredo do

Evangelho: uma luta entre forças da fé e da descrença.

            A luz continua brilhando. Há uma mudança no tempo verbal quando

comparado com os versículos anteriores. A luz sempre esteve brilhando, contudo

as “trevas se apropriaram dela”38. Trevas aqui se refere à humanidade, não se trata

de um conceito abstrato. João também usará a expressão “mundo” depois, com o

mesmo sentido.

            As “trevas” não apenas procedem negativamente, mas odeiam a luz. O

que temos aqui é uma antítese absoluta entre luz e trevas, o reino de Deus e o

mundo, e entre Cristo e as forças do maligno.



36
     HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 102.
37
     BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. p. 37.
38
     Tradução sugerida por Hendriksen.
37


8.2. Teologia da Passagem



            Escrito em estilo simples, o último dos quatro Evangelhos exibe uma

profundeza teológica que ultrapassa à dos evangelhos sinóticos39.

            O apóstolo João deseja, como testemunha ocular, não apenas registrar os

fatos e sinais que presenciou, mas apresentar a mensagem de salvação, as boas

novas para um mundo perdido. Parece motivado também, neste processo, a

defender a fé cristã de heresias que se manifestavam no meio da nascente igreja.

            Desta forma, sua teologia é cristocêntrica40, explicando aos seus leitores

a cerne do significado dos acontecimentos que presenciaram alguns anos antes.

Seu tema é: Jesus Cristo, o Filho de Deus.

            Por isso, a passagem que analisamos é de fundamental importância para

o entendimento do apóstolo em seu escrito. É aqui que ele faz sua introdução, em

formato de prólogo. Apresenta o assunto que irá tratar. Comumente entre as

comunidades cristãs, coloca-se o Evangelho de João como o mais teológico. A

fama não é injustificada. Percebemos no pensamento joanino uma qualidade

salutar: apresentar os problemas referentes à existência e à divindade de forma

surpreendente para o seu período.

            Isso nos leva a uma reflexão. Como seriam as formulações sistemáticas e

dogmáticas de nossa teologia se tal escrito não tivesse permanecido entre nós? É

interessante observar que, no mínimo, nossas concepções da divindade de Cristo,

bem como de sua encarnação e a relação das Pessoas da Trindade seriam

obscuras. Estes podem ser destacados como os três aspectos teológicos mais

39
     GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. p. 109.
40
     Embora tal elucubração do termo tenha sido cunhado séculos mais tarde, me refiro aqui a
postura de apresentar o Cristo no foco de todo o pensamento.
38


importantes que a perícope – e todo o Evangelho – destacam. Provavelmente sem

este escrito, o cristianismo hoje seria mais atacado em suas formulações

dogmáticas, o que nos leva a pensar sobre seu também importante papel

apologético.

         Assim, vemos que o propósito teológico do autor é extremamente bem

sucedido: relatar sobre a maior grandeza que existe no mundo, sobre aquile que é

a única magnitude realmente grande e importante, Jesus Cristo, seu viver, seu

falar, atuar, sofrer, morrer e ressuscitar.

         Por fim, a teologia do Evangelho de João nos mostra que os dons, os

feitos e as atuações de Jesus não são o mais importante, mas sim o próprio Jesus

em sua pessoa, em seu maravilhoso ser. Por isso não consegue expressar o

mistério da pessoa de Jesus em apenas breves palavras, mas remetendo o

pensamento do leitor desde o princípio de tudo.




8.3. Teologia Aplicada



         No fato de João não se identificar no Evangelho destacamos que ele

escreve “aquele a quem Jesus amava”, não movido pelo egoísmo, mas a fim de

ressaltar que o conteúdo do Evangelho merece crença, porquanto proveio de

alguém a quem Jesus confiava. Tal observação é relevante para os críticos

escriturísticos de nossos tempos.

         João expõe temas teológicos alternando narrativas e discursos. Desta

forma, as palavras de Jesus ressaltam em todo o Evangelho. Por isso, muitas ações

constantes no quarto Evangelho possuem caráter simbólico. Por exemplo, a
39


lavagem dos pés dos discípulos por parte de Jesus, representa o efeito purificador

de sua obra remidora41.

            Quanto à perícope de nosso estudo, destaca-se o fato de João iniciar o

Evangelho com um tema teológico sob a categoria da revelação. Jesus é a Palavra

revelatória de Deus. Nesse papel, ele revela a verdade, a qual é mais que mera

veracidade. Trata-se da realidade última da própria pessoa e do caráter de Deus,

conforme testemunhado por Jesus, pelo próprio Pai, pelo Espírito Santo, pelas

Escrituras e por outros42.

          Esta aplicação teológica, contudo, parece distante de ser verdade em

alguns círculos evangélicos. É fato muito divulgado o crescimento dos

evangélicos no Brasil. Somos mais de 26 milhões segundo as pesquisas. As

Igrejas têm crescido de forma rápida e muitas delas usando métodos

questionáveis. No entanto, acertou o jornalista, não-cristão, em sua matéria na

revista Superinteressante:



               Não dá mais pra fingir que não vemos. Um a cada seis
               brasileiros já é evangélico – e o número continua crescendo. [...]
               O resultado é que quanto mais crescem, menos os evangélicos
               mudam a cara do país – bem ao contrário da revolução que
               ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino.43


            O resgate de uma teologia cristocêntrica, que exalta esta realidade

revelatória de Cristo no homem, é necessário para uma real abordagem cristã para

a sociedade, pois, nas palavras do apóstolo, o mundo – a sociedade humana

41
     Da mesma forma, encontramos em todo o Evangelho diversos outros sinais que carregam
significados teológicos.
42
     GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. p. 113.
43
     “Evangélicos”. Revista Superinteressante, Edição 197, Fev. 2004. Disponível também em
http://super.abril.com.br/superarquivo/2004/conteudo_124376.shtml
40


controlada por Satanás – faz oposição à luz, e por isso torna-se objeto da ira

divina.

            Os cristãos, em todos os tempos, poderiam ficar perturbados ante a

demora de regresso de Jesus. Por isso João nos apresenta a salvação desfrutada

agora44, a Palavra encarnada, a vida que é luz e vence as trevas, hoje, com o

intuito de dar vida ao incrédulo que recebe esta revelação, e estabelecer

firmemente os crentes na fé.




9. CONCLUSÃO



            A Boa Nova de Cristo é a mais sublime revelação que um ser humano

pode receber. João sabia disso, e por isso escreveu seu Evangelho. Como

evangelista da fé, é cristológico em seu conteúdo, salientando a divindade de

Jesus. Seu Evangelho anuncia o poderoso Filho de Deus que tornou um real ser

humano, com vistas à redenção da humanidade. No texto analisado a deidade de

Jesus é encarecida, mas em todo o Evangelho também é posto em realce sua

humanidade.

            Ao escrever sobre a vida de Cristo, João leva seus leitores a se colocarem

face a face com o Mestre, que exige do homem uma decisão. Do início ao fim o

descreve como Deus, sempre ressaltando sua humanidade, e seu propósito

redentivo.

            A perícope do prólogo, analisada em destaque neste estudo, ressalta a

mensagem apresentada em todo o Evangelho. Ali João introduz o caráter principal

44
     Teologicamente chamada de “escatologia realizada” – cf C. H. Dodd.
41


do livro – a Palavra é Deus, o Criador, o Autor da vida, aquele que foi

manifestado na carne e nos revela o Pai. Destaca-se ainda em nossa perícope o

vocabulário principal do livro, a saber, vida, luz e trevas, além do principal

assunto: conflito. Este conflito permanece até culminar com a cruz e a

ressurreição de Cristo.

         Nenhum dos Evangelhos pretende nos dar uma visão acabada de vida de

Jesus, mas, ao contrário, uma seleção que leve ao ponto que o autor tinha em

mente. João atingiu seu objetivo, descrito no próprio livro: para que os leitores

creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que por intermédio da fé tenham

via em seu nome (cf Jo 20.31). Devidamente inspirado, João consegue descrever

esta verdade e este desafio já em seus primeiros versos, enfatizando a glória de

Deus em Cristo, sendo o próprio Deus em carne humana.

         A profunda unidade e, ao mesmo tempo, diversidade do ser divino

expressos nos primeiros versos do Evangelho de João, deu origem, como vimos, à

doutrina da Trindade. Além disso, por todo o Evangelho – como também foi

citado - há uma ênfase na natureza humana de Jesus. Somente alguém que fosse

realmente humano poderia ser o divino redentor da raça humana.

         Por fim, analisar a perícope do epílogo de João é analisar o âmago do

Evangelho – a boa nova de que podemos ser salvos pela fé em Jesus Cristo. A

passagem consegue isso mostrando Jesus como a única pessoa homem-Deus,

aquele que desceu de Deus para ser um de nós, de modo que, pela fé nele,

possamos ser renovados e voltar para Deus com ele. João nos convida não apenas

a olhar o que Jesus representa teoricamente na teologia, mas a refletir as

implicações do Encarnado em nossa própria vida.
42


10. BIBLIOGRAFIA



A Confissão de Fé de Westminster. 17a ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.



ALAND, B., ALAND, K. et. Alli. Novum Testamentum Graece. 27º ed.

Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1994.



BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. Petrópolis:

Vozes, 1985.



BERGER, Klaus. As Formas Literárias do Novo Testamento.             São Paulo:

Loyola, 1998.



BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz Para o Caminho, 1990.



Bibleworks for windows. Versão 6.0.005y. LLC: 2003.



Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Editora Cultura Cristã e

Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.



Bíblia de estudo NVI. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Nova,

2003.



Biblos - o cd da pesquisa bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2002.
43


BOOR, Werner de. Evangelho de João I. Curitiba: Editora Evangélica Esperança,

2002.



BROWN, Colin & COENEN, Lothar (org.) Dicionário Internacional de

Teologia do Novo Testamento. Vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 2000.



Dicionário Aurélio – Acessado através de Software.



Dicionário Michaelis - Acessado através de Software.



DODD, Charles H. A Interpretação do quarto Evangelho. São Paulo: Teológica,

2003.



DUNNET, Walter M. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,

2005.



EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento. Série Bíblica Loyola, 12.

Edições Loyola: São Paulo, 1994.



GRENZ, Stanley & OLSON, Roger. A Teologia do Século XX. São Paulo:

Cultura Cristã, 2004.



GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,

1978.
44


HENRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo:

Cultura Cristã, 2004.



Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Editora Vida Nova. Acessado através do

software Biblos



Novo testamento interlinear grego-português. Barueri: Sociedade Bíblica do

Brasil, 2004.



O Catecismo Maior de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.



O novo testamento: nova versão internacional. Comissão de Tradução da

Sociedade Bíblica Internacional. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2004.



REGA, Lourenço Stelio; BERGMANN, Johannes. Noçoes do grego bíblico:

gramática fundamental. São Paulo: Vida Nova, 2004



Revista Superinteressante, Edição 197, Artigo: “Evangélicos”. Fev. 2004.

<Disponível em http://super.abril.com.br/superarquivo/2004/conteudo_124376

.shtml>. Acessado em 4 de dezembro de 2008.



RUSCONI, Carlo. Dicionário do grego do novo testamento. São Paulo: Paulus,

2003.
45


RYLE, J. C. Comentário do Evangelho Segundo São João. São Paulo: Imprensa

Metodista, 1957.



SILVA, Cássio Murilo. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas,

2003



WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. Manual de Metodologia. São

Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus, 1998.



YARBROUGH, Robert W. & ELWELL, Walter A. Descobrindo o Novo

Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

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Exegese Marcelo Gomes

  • 1. EXEGESE DE JO 1.1-5 POR MARCELO GOMES DA SILVA EXEGESE APRESENTADA AO COLENDO PRESBITÉRIO DE GUANABARA, COMO REQUISITO PARCIAL À ORDENAÇÃO AO SAGRADO MINISTÉRIO, EM CUMPRIMENTO AO ARTIGO 120, ALÍNEA A, DO CAPÍTULO XII DA CI / IPB. PRESBITÉRIO GUANABARA – IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL DEZEMBRO / 2008
  • 2. 2 ÍNDICE 1. Abreviaturas ................................................................................................... 04 2. Apresentação do Trabalho .............................................................................. 05 3. Introdução ...................................................................................................... 06 4. Tradução ......................................................................................................... 07 4.1. Texto Grego ....................................................................................... 07 4.2. Análise Gramatical ............................................................................. 08 4.3. Tradução Literal ................................................................................. 13 4.4. Tradução Idiomática ............................................................................14 4.5. Comparação de Versões ..................................................................... 14 5. Análise Literária ............................................................................................. 18 5.1. Delimitação ........................................................................................ 18 5.2. Segmentação ...................................................................................... 19 5.3. Palavras-Chaves ................................................................................. 19 5.4. Gênero Literário ................................................................................. 21 6. Análise do Contexto do Livro ........................................................................ 22 6.1. Autoria ................................................................................................ 22 6.2. Ocasião e Propósito ............................................................................ 23 6.3. Contexto Remoto ............................................................................... 24 6.3.1. Contexto Remoto Anterior ........................................................... 24 6.3.2. Contexto Remoto Posterior .......................................................... 25 6.3.3. Contexto Imediato ........................................................................ 25 6.3.3.1. Contexto Imediato Anterior ............................................. 25 6.3.3.2. Contexto Imediato Posterior ............................................ 26
  • 3. 3 7. Análise Teológica ........................................................................................... 26 7.1. Diálogo com a Teologia Bíblica ........................................................ 26 7.2. Diálogo com a Teologia Sistemática Reformada ............................... 28 7.3. Diálogo com a Teologia Contemporânea ........................................... 31 8. Análise Hermenêutica .................................................................................... 33 8.1. Interpretação da Passagem ................................................................. 33 8.2. Teologia da Passagem ........................................................................ 37 8.3. Teologia Aplicada .............................................................................. 38 9. Conclusão ....................................................................................................... 40 10. Bibliografia .................................................................................................... 42
  • 4. 4 1. ABREVIATURAS acus. – acusativo adj. – adjetivo adv. – advérbio ARA – Almeida Revista Atualizada ARC – Almeida Revista Corrigida A.T. – Antigo Testamento conj. – conjunção dat. – dativo demonst. - demonstrativo fem. – feminino gen. – genitivo ind. – indicativo loc. – locução masc. – masculino N.T. – Novo Testamento nom. – nominativo NVI – Nova Versão Internacional perf. – perfeito pess. – pessoa pl. – plural pred. – predicativo prepos. – preposição preposic. – preposicional pres. – presente pret. – pretérito pron. – pronome sing. – singular
  • 5. 5 2. APRESENTAÇÃO DO TRABALHO A presente exegese visa cumprir o disposto no Art.120, alínea a da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil que preceitua: Deve ainda o candidato à licenciatura apresentar ao Presbitério: a) uma exegese de um passo das Escrituras Sagradas, no texto original, em que deverá revelar capacidade para crítica, método de exposição, lógica nas conclusões e clareza no salientar a força de expressão da passagem bíblica1. Objetivando atender aos requisitos enumerados no supracitado texto constitucional, a presente exegese constitui-se na apresentação dos resultados de uma pesquisa textual, amparada por pesquisa em fontes bibliográficas. A metodologia utilizada na presente exegese tem por fundamento o Método Gramático-Histórico, ressaltando a importância do texto e de seu contexto para a devida interpretação da passagem, valendo-se das contribuições recentes dos manuais de metodologia exegética. Foram usados na presente pesquisa a obra de Uwe Wegner “Exegese do Novo Testamento: Manual de metodologia”, além da obra do renomado e estudioso Wilhelm Egger em seu livro “Metodologia do Novo Testamento” e também a obra “Metodologia de Exegese Bíblica” do exegeta Cássio Murilo Dias Silva2. Desejamos, sobretudo, a fidelidade às Escrituras Sagradas, a sua correta interpretação e relevante exposição para a edificação do povo eleito, tendo como motivação a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. 1 IPB. Manual Presbiteriano com Jurisprudência. p. 63. 2 Referências completas a estas obras serão feitas no decorrer do trabalho, bem como na bibliografia.
  • 6. 6 3. INTRODUÇÃO Pensar sobre a divindade é um caráter imanente na vida do ser humano. Refletir sobre o Criador, sobre seu modo de governo e as características de seu ser é relevante, e fizeram parte da história da humanidade em todos os tempos. O texto de abertura do quarto Evangelho é envolvente e enigmático. Difere dos demais por apresentar características estritamente teológicas. Leva seu leitor a reflexões filosóficas e existenciais sobre seu ser, e o ser divino. Tais características levaram muitos estudiosos à busca do significado do texto. Desde cedo a Igreja estuda esta passagem, considerada fundamental para o entendimento da Pessoa de Cristo. Hoje, apesar de sistemáticos e exegéticos estudos sobre tal passagem, ainda é motivo de divergências entre os estudiosos. Ao mesmo tempo em que esta perícope é um dos alicerces apologéticos do cristianismo, algumas seitas a utilizam para defender heresias que muito fogem do sentido exato do texto. Por que o evangelista escolheu este tema e esta abordagem para iniciar seu escrito? Por que é apresentada uma linguagem aparentemente helenista para tratar deste assunto? O que seria do cristianismo sem a revelação de Jo 1.1-5? “No princípio era o Verbo” apresenta implicações fundamentais para a vida da Igreja e dos discípulos de Jesus. Nosso objetivo é analisar estas implicações, buscando o sentido original do texto, entendendo o seu contexto, seu significado primário e sua teologia. Para isso, partiremos do texto grego (versão BNT - Novum Testamentum Graece, Nestle-Aland 27h Edition) e focaremos os princípios bíblicos da passagem, aplicando-os em nossos dias.
  • 7. 7 4. TRADUÇÃO 4.1. Texto Grego João 1. 1-5 BNT3 1 vEn avrch/| h=n o` lo,goj( kai. o` lo,goj h=n pro.j to.n qeo,n( kai. qeo.j h=n o` kai. lo,gojÅ 2 ou-toj ou-toj h=n evn avrch/| pro.j to.n qeo,nÅ 3 pa,nta diV auvtou/ evge,neto( kai. cwri.j auvtou/ evge,neto ouvde. e[nÅ o] ge,gonen 4 evn auvtw/| zwh. h=n( kai. h` zwh. h=n to. fw/j tw/n avnqrw,pwn av wn 5 kai. to. fw/j evn th/| skoti,a| fai,nei( kai. h` skoti,a auvto. ouv kate,labenÅ 3 O presente texto grego tem por base a Edição Crítica do Novo Testamento de Nestle-Aland, 27ª Edição [BNT - Novum Testamentum Graece, Nestle-Aland 27h Edition. Copyright (c) 1993 Deutsch Bibelgesellschaft, Stuttgart]. Fonte: Bible Works 7.0
  • 8. 8 4.2. Análise Gramatical João 1:1 1 vEn avrch/| h=n o` lo,goj( kai. o` lo,goj h=n pro.j to.n qeo,n( kai. qeo.j h=n o` lo,gojÅ 1ª oração: 1) vEn avrch/| prepos. + dat. fem. loc. preposic. no princípio sing. adverbial 2) h=n 3ª pess. do sing. do era/estava pret. imperfeito do ind. 3) o` lo,goj nom. masc. sing. sujeito a palavra 2ª oração: 1) kai. conj. aditiva e 2) o` lo,goj nom. masc. sing. Sujeito a palavra 3) h=n 3ª pess. do sing. do era/estava pret. imperfeito do ind. 4) pro.j to.n prepos. + acus. masc. loc. preposic. diante de qeo,n sing. adverbial Deus
  • 9. 9 3ª oração: 1) kai. conj. aditiva e 2) qeo.j nom. masc. sing. pred. do sujeito Deus 3) h=n 3ª pess. do sing. do era/estava pret. imperfeito do ind. 4) o` lo,goj nom. masc. sing. sujeito a palavra João 1:2 2 ou-toj ou-toj h=n evn avrch/| pro.j to.n qeo,nÅ Oração única: 1) ou-toj ou-toj pron. demonst. nom. sujeito este masc. sing. 2) h=n 3ª pess. do sing. do era/estava pret. imperfeito do ind. 3) evn avrch/| prepos. + dat. fem. loc. preposic. no princípio sing. adverbial 4) pro.j to.n prepos. + acus. masc. loc. preposic. diante de qeo,n sing. adverbial Deus
  • 10. 10 João 1:3 3 pa,nta diV auvtou/ evge,neto( kai. cwri.j auvtou/ evge,neto ouvde. e[nÅ o] ge,gonen 1ª oração: 1) pa,nta adj. nom. neutro pl. sujeito tudo, todas as coisas (totalidade) 2) diV auvtou/ prepos. + pron. pess. loc. preposic. através dele gen. 3ª pess. sing. adverbial 3) evge,neto 3ª pess. do sing. do aconteceu, aoristo ind. médio foi feito 2ª oração: 1) kai. conj. aditiva e 2) cwri.j auvtou/ prepos. + pron. pess. loc. preposic. sem ele gen. 3ª pess. sing. adverbial 3) evge,neto pess. do sing. do aconteceu, aoristo ind. médio foi feito 4) ouvde. e[n adv. + adj. nom. loc. preposic. nenhum sing. adverbial
  • 11. 11 3ª oração: 1) o] pron. relativo o que 2) ge,gonen 3ª pess. do sing. do aconteceu, perf. ativ. do ind. foi feito João 1:4 4 evn auvtw/| zwh. h=n( kai. h` zwh. h=n to. fw/j tw/n avnqrw,pwn 1ª oração: 1) evn auvtw/| prepos. + pron. pess. loc. preposic. nele gen. 3ª pess. sing. adverbial 2) zwh. nom. fem. sing. pred. do sujeito vida 3) h=n 3ª pess. do sing. do era/estava pret. imperfeito do ind.
  • 12. 12 2ª oração: 1) kai. conj. aditiva e 2) h` zwh nom. fem. sing. sujeito a vida 3) h=n 3ª pess. do sing. do era/estava pret. imperfeito do ind. 4) to. fw/j nom. neutro sing. pred. do sujeito a luz 5) tw/n gen. masc. pl. pred. do sujeito dos homens avnqrw,pwn nqrw, João 1:5 5 kai. to. fw/j evn th/| skoti,a| fai,nei( kai. h` skoti,a auvto. ouv kate,labenÅ 1ª oração: 1) kai. conj. aditiva e 2) to. fw/j nom. neutro sing. sujeito a luz 3) evn th/| prepos. + artigo + loc. preposic. na escuridão skoti,a| dat. fem. sing. adverbial 4) fai,nei ei 3ª pess. do sing. do brilha pres. ativo do ind.
  • 13. 13 2ª oração: 1) kai. conj. aditiva e 2) h` skoti,a nom. fem. sing. sujeito a escuridão 3) auvto. pron. pessoal acus. por si mesmo neutro sing. 4) ouv advérbio neg. não 5) kate,laben 3ª pess. sing aoristo conseguiu ind. ativo 4.3. Tradução Literal João 1. 1-5 1 No princípio era a palavra, e a palavra estava diante de Deus, e Deus era a palavra. 2 Este estava no princípio diante de Deus. 3 Tudo através dele aconteceu, e sem ele aconteceu nenhum. O que aconteceu 4 nele vida era, e a vida era a luz dos homens: 5 e a luz na escuridão brilha, e a escuridão por si mesmo não conseguiu.
  • 14. 14 4.4. Tradução Idiomática João 1. 1-5 1 No princípio era a Palavra, e a Palavra estava diante de Deus, e Deus era a Palavra. 2 Este estava no princípio diante de Deus. 3 Tudo através dele aconteceu, e sem ele nada teria acontecido. 4 A vida estava nele, e era a luz dos homens: 5 e a luz brilha na escuridão, e a escuridão por si mesmo não consegue derrotá-la. 4.5. Comparação de Versões Almeida Revista Atualizada (ARA) João 1. 1-5 1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. 4 A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. 5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
  • 15. 15 Almeida Revista Corrigida (ARC) João 1. 1-5 1 No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. 4 Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens; 5 e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Nova Versão Internacional (NVI) João 1. 1-5 1 No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. 2 Ele estava com Deus no princípio. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. 4 Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. 5 A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram. Avaliação das versões Nas três versões apresentadas acima, pode-se verificar claramente a omissão da oração o] ge,gonen do versículo três (parte final). Tal omissão não é errônea, uma vez que em nossa língua a frase fica sem sentido de fato4. 4 Por isso, seguindo nossas traduções mais conhecidas, também optei por tal omissão na tradução idiomática, entendendo que o texto fica com melhor legibilidade.
  • 16. 16 Nenhuma das versões analisadas acrescenta termos ao texto original. Percebemos nas três versões uma escolha quanto às traduções possíveis. Em especial na última oração da perícope, observamos que há diferenças significativas entre as versões, podendo dar a impressão de acréscimo. Mesmo assim todas são aceitáveis como tradução dos termos ali apresentados, inclusive em seu sentido original. Quanto a modificações ou substituições de termos, observamos que na ARA e na ARC claramente lo,goj é traduzido como “Verbo”. Isso não chega a ser uma modificação do termo. Mas, como vimos, a tradução mais literal é Palavra, como usada na NVI. O uso de “trevas” também não é problema, uma vez que é sinônimo de “escuridão”. Isso vale também para outros exemplos encontrados, como “brilhar” e “resplandecer”. A NVI inclui “nada do que existe teria sido feito” no v.3. Embora seja justificável para o entendimento da frase no português, houve uma modificação clara aqui, pois certamente o termo para “do que existe” seria outro. Além disso, o tempo verbal no original está no passado, enquanto que na tradução está no presente. Apesar destes destaques, as versões analisadas apresentam harmonia gramatical. Mesmo com o uso de palavras diferentes, elas não comprometem o significado do texto na sua raiz, deixando clara a mensagem do mesmo. A partir da tradução literal, podemos distinguir certo grau de literalidade e qualidade para a compreensão dos textos ora analisados, como está demonstrado no quadro a seguir5: 5 O critério exegético utilizado foi o da literalidade, como forma de manter-se fiel ao texto bíblico.
  • 17. 17 Versão Grau de literalidade / qualidade Almeida Revista e Atualizada Maior literalidade / Boa Almeida Revista e Corrigida Maior literalidade / Boa Nova Versão Internacional Literalidade Média / Média A tarefa de escolher uma versão entre as apresentadas como a melhor é ao mesmo tempo simples e delicada. É simples porque nenhuma das três versões trazem diferenças significativas ao leitor em português. Por outro lado é delicado porque o termo principal de toda a perícope é a expressão o` lo,goj que é traduzida pela ARA e pela ARC como “o Verbo”. Como disse anteriormente, utilizar-se de tal tradução não é um equívoco, mas entendemos que a tradução “a Palavra” – como usado na NVI – está mais próximo da tradução literal. Além disso, é o uso mais comum em todo o N.T. para a expressão grega logos, como observamos, por exemplo, no conhecido texto de II Tm 4.2 “Prega a palavra”, entre outros. Apesar disso, como vimos acima, a NVI apresenta uma modificação que a desqualifica entre as demais (embora não seja grave na tradução final). Assim, entre a ARA e ARC, optamos pela ARA como a melhor versão. Basicamente, a opção se deu pela escolha equivocada do termo “e as trevas não a compreenderam” utilizada pela ARC no final da perícope. As trevas não “compreenderam” (não entenderam?) a luz? Acreditamos que esta tradução pode confundir o leitor final.
  • 18. 18 5. ANÁLISE LITERÁRIA 5.1. Delimitação A perícope que estamos estudando faz parte do prólogo joanino, que se inicia no v.1 e se estende até o v.18. Desta forma, por se tratar de um início de escrito, não possui delimitação superior, uma vez que o livro se inicia na perícope analisada. O trecho em análise se trata de uma das características mais marcantes deste Evangelho. Isso se dá pela apresentação de Jesus como o eterno Logos, ou Palavra – como vimos -, i. e. aquele que revela o Pai. O motivo de nossa delimitação até o verso 5 se deu pela impossibilidade6 de tratar em detalhes um trecho da Escritura com tanta riqueza de conteúdo e doutrina. É possível notar claramente que a partir do v.6 há um novo parágrafo, uma nova fala, onde é apresentado João Batista, portanto, é uma nova perícope. Assim, entendemos que a delimitação até o v.5 apresenta o essencial de todo o prólogo, a saber, que Cristo revela o Pai porque compartilha da divindade do Pai. Ele é quem criou o universo (v.3). Como se pode ver adiante no Evangelho, ele é uno com o Pai, o “EU SOU” (5.18; 8.58; 10.30-33; cf. Êx 3.14)7. 6 Baseando-se no objetivo do presente trabalho. 7 Bíblia de Estudo de Genebra.
  • 19. 19 5.2. Segmentação8 1a No princípio era a Palavra, 1b e a Palavra estava diante de Deus, 1c e Deus era a Palavra. 2 Este estava no princípio diante de Deus. 3a Tudo através dele aconteceu, 3b e sem ele nada teria acontecido. 4a A vida estava nele, 4b e era a luz dos homens: 5a e a luz brilha na escuridão, 5b e a escuridão por si mesmo não consegue derrotá-la. 5.3. Palavras-Chaves lo,goj = Palavra (v.1) O termo “palavra” ou “verbo” – em algumas traduções – é a tradução do grego logos. Designa Deus, o Filho, referindo-se à sua Divindade. Na filosofia grega, o logos era a "razão" ou a "lógica", uma força abstrata que trazia ordem e harmonia ao universo. Mas quando analisamos o Evangelho de João, assim como seus demais escritos, percebemos que o logos faz referência à Pessoa de Cristo. 8 Baseada na tradução idiomática.
  • 20. 20 Na filosofia neo-platônica e na heresia gnóstica (segundo e terceiro séculos d.C.), o logos era visto como um dos muitos poderes intermediários entre Deus e o mundo9. Os gregos usavam não apenas referente à palavra falava, mas a palavra ainda na mente – a razão10. Os judeus, por outro lado, usavam tal expressão como meio de se referir a Deus. Assim, o uso da expressão por João foi significativo tanto para judeus quanto para gregos zwh = Vida (v. 4) O uso da expressão “A vida estava nele” (v. 4) é mais uma afirmação de divindade. O autor do Evangelho quer destacar que assim como o Pai, o Filho também tem vida em si mesmo. Tal afirmação é categórica no capítulo 5, verso 26, do mesmo Evangelho. Além disso, “vida” é um dos conceitos principais do Evangelho de João – encontramos 36 vezes11. Assim, vemos que a “vida” é dádiva de Cristo (10.28), e ele é a própria “vida” (14.6). Associa-se a tal conceito a idéia de “luz”, expressa ainda no v.4 e também no v.5 – onde se contrapõe à trevas. Como o detentor da “vida”, é de Cristo que vem toda a iluminação espiritual, sendo a “luz do mundo”, único a oferecer de fato esperança aos homens. As trevas são usadas como contraste, não apenas aqui, mas em todo o Evangelho. 9 Bíblia de Estudo de Genebra. 10 DODD, Charles H. A Interpretação do quarto Evangelho. p. 387. 11 Bíblia de Estudo NVI.
  • 21. 21 5.4. Gênero Literário Os ensinos de Cristo predominam neste Evangelho. Contudo, não em forma de parábolas, como nos sinóticos, mas em forma de primorosos discursos. Isso significa que, enquanto estava na Judéia, falando aos líderes judeus, ou aos discípulos no Cenáculo, Cristo considerou a forma não-parabólica de ensino como a mais apropriada para aquela situação particular12. Quanto ao gênero do escrito, O Evangelho de João se distingue pela profundidade com que penetra na vida de Jesus. Sem criar nada falso ou artificial o evangelista quis descobrir, com a visão de um crente e a intuição de um místico, todo o significado dos atos e palavras do Verbo de Deus feito homem13. O princípio de interpretação é de importância para quem procura expor o significado deste Evangelho. O Evangelho de João difere dos demais Evangelhos, pois contém um grande número de passagens que não se encontram nestes, e omite outras que eles registram. Nenhum evangelista apresentou exposições tão completas sobre a divindade de Jesus Cristo, da justificação por meio da fé, das distintas funções do Filho, das operações do Espírito Santo e das prerrogativas dos crentes14. Embora os demais evangelistas não omitam tais conceitos, é no estilo literário de João que encontramos tais conceitos de maneira mais proeminente. 12 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 56. 13 BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. p. 9. 14 RYLE, J. C. Comentário do Evangelho Segundo São João. p. 9.
  • 22. 22 6. ANÁLISE DO CONTEXTO DO LIVRO 6.1. Autoria É geralmente aceito que o autor do Evangelho foi um judeu que viveu na Palestina, porém muitos comentaristas não o identificam com João, o apóstolo. Entretanto, há convincentes provas de que ele é o autor deste Evangelho. Admite- se sem questionamentos que o Evangelho tenha sido escrito por uma testemunha ocular15. Apesar da obra não identificar claramente o autor, o discípulo a quem Jesus amava e que estava presente à última ceia e, finalmente, à crucificação e ao túmulo vazio é o mesmo "que dá testemunho destas coisas" - Jo 21.24. Estes fatos a respeito da testemunha ocular advogam a autoria de João, o apóstolo. Além disso, existem evidências internas que são decisivamente favoráveis à identificação do discípulo amado com João, o apóstolo. Seu conhecimento de costumes, festas e topografia judaicos é incontestável. Muitos críticos, entretanto, aceitam como autor do Evangelho um certo João, o presbítero, que foi um discípulo do apóstolo. Esta hipótese é baseada na evidência de Papias, bispo de Hierápolis, que se refere a dois João em sua Exposição dos oráculos do Senhor um dos quais ele chama o "Presbítero". Outros prestam certo respeito à posição tradicional, sugerindo que João, o Presbítero, fosse apenas o amanuense do apóstolo. Entendemos que a autoria de João, o apóstolo, é testificada pelo fato de se tratar do único Evangelho que se refere a um dos apóstolos com a expressão “a 15 Novo Comentário da Bíblia. Software Biblos.
  • 23. 23 quem Jesus amava” (13.23) em lugar do seu nome. Isso fica evidente quando observamos que João, filho de Zebedeu, um dos mais destacados discípulos, não é mencionado pelo nome no Evangelho. É difícil explicar esta omissão, a não ser que se admita que o Evangelho foi escrito por João e que ele evitou identificar- se16. 6.2. Ocasião e Propósito Sobre a ocasião do escrito, deve-se fazer uma análise histórica por dedução. Temos a informação de que Inácio conheceu o Evangelho, logo este deve ter sido escrito antes de 115 d. C. Por outro lado, se Marcos e Lucas foram usados em sua composição, a data deve ser depois do ano 85 d. C. Um fragmento do Evangelho encontrado recentemente no Egito é datado entre 130 e 150 d. C. Daí se deduz que o Evangelho foi publicado alguns anos antes de ter sido possível sua circulação naquele país. Mas ainda outro fragmento de extratos do Evangelho, o qual é datado entre 110 e 150 d. C., faz uso também do quarto Evangelho. Concluímos, portanto, que o Evangelho em grego foi escrito, provavelmente, entre 90 e 110 d. C., ainda que haja possibilidade de o epílogo (21.1-25) ter sido escrito tempos mais tarde17. Considerando o lugar onde foi escrito, Irineu menciona o apóstolo residindo em Éfeso, e a tradição da Igreja sempre liga o quarto Evangelho com 16 Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1226. 17 Novo Comentário da Bíblia. Acesso via Software Biblos.
  • 24. 24 esta cidade. O próprio autor descreve seu propósito ao escrever: “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31). Esta expressão também pode ter o sentido de “continuem crendo” o que nos leva a um propósito não apenas evangelístico, mas também de edificar os crentes. Provavelmente João teve em mente os leitores gregos, que estavam em contato com influências heréticas, mas sua intenção primordial é evangelística. 6.3. Contexto Remoto 6.3.1. Contexto Remoto Anterior Não temos contexto remoto anterior por motivos claros: se trata do início do escrito, o quarto Evangelho. O que se pode realizar é um estudo comparativo com o conteúdo dos Evangelhos sinóticos. Percebe-se, por exemplo, que João ignora a fase de nascimento e desenvolvimento de Jesus, iniciando seu relato já em seu batizado Não é nosso objetivo tecer detalhes quanto a estas diferenças entre o Evangelho de João e os sinóticos, mas vale destacar que, aparentemente, há divergências na apresentação e duração do ministério de Jesus e no conteúdo de seus ensinos. Contudo, é fácil exagerar estas diferenças. Jo 7.1 mostra conhecimento do ministério de Jesus na Galiléia, ao qual os sinóticos dão testemunho principal. Eles, por sua vez, confirmam certo ministério em algum tempo no sul do país, desde que se referem a discípulos por lá. É bem razoável
  • 25. 25 acreditar num ministério, tendo Jerusalém como centro, assim como narra este Evangelho. 5.3.2. Contexto Remoto Posterior Nos versículos subseqüentes à perícope em análise, encontramos a continuação do prólogo do livro, que se estende até o v.18. Tal prólogo não é um mero prefácio ou introdução, mas uma declaração do tema central e básico no ensino do Filho de Deus, a saber, a encarnação do Verbo. O evangelista pinta o pano de fundo necessário para a revelação do evento redentor, isto é, o Verbo feito carne. O prólogo é poético na sua forma e estrutura, e constitui um hino à Palavra de Deus18. Apesar de se constituir um único prólogo, fica evidente que nele há perícopes bem distintas, como a reservada para nossa análise (1.1-5), além de 1.6- 13 e 1.14-1819. 6.4. Contexto Imediato 6.4.1. Contexto Imediato Anterior Como observado acima, nossa análise parte dos primeiros versículos do Evangelho, não possuindo então um contexto imediato anterior 18 Novo Comentário da Bíblia. Acesso via software Biblos. 19 Alguns autores, como Werner de Boor, sugerem outras divisões entre estes versículos.
  • 26. 26 6.4.2. Contexto Imediato Posterior Na continuação deste texto (1.6-13), João Batista é apresentado como um exemplo do brilho constante da luz. Os versículos seguintes declaram o propósito de seu comissionamento (v. 7 e 8), pois a natureza de sua obra precisava ser esclarecida20. Depois, João dá prosseguimento à sua exposição. O v. 9 conecta-se diretamente ao v. 521. Os versos 10 a 13, para alguns estudiosos, são o centro do prólogo. Neles são descritos a diversa acolhida que os homens reservaram ao “Verbo” vindo ao mundo. São quatro frases, duas a duas, paralelas entre si. As duas primeiras acentuam a incredulidade dos homens, e as outras duas descrevem a sorte daqueles que creram22. Assim, a conclusão do prólogo ressalta a glória da “Palavra” encarnada, o clímax da graça condescendente de Deus. 7. ANÁLISE TEOLÓGICA 7.1. Diálogo com a Teologia Bíblica Temos nesta passagem o registro da revelação da Palavra encarnada, e devendo, portanto, ser estudado no seu contexto histórico. Para tanto, uma análise crítica se faz necessária. Porém a estrutura literária, a unidade de ensino, o desenvolvimento das reivindicações de Cristo, o transcrito lúcido da consciência 20 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 107. 21 BOOR, Werner de. Evangelho de João I. p. 37. 22 BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. p. 39.
  • 27. 27 de Jesus em relação aos grandes temas, exigem uma exposição teológica. O Evangelho é de tal maneira unido no seu conteúdo teológico, que é crescente o sentimento de que este é o princípio chave do seu significado interior. O ensino teológico salientado nos sete sinais, as reivindicações messiânicas de Cristo, as controvérsias entre Jesus e os judeus, e a revelação da incredulidade dos judeus, preparam o palco para eventos finais, no ministério de Cristo. Encontramos no Evangelho de João os principais temas que permeiam toda a Escritura: vida, luz, amor, entre outros. Vimos que através dele, temos a revelação de que Cristo veio dar aos homens uma vida mais abundante. Ele é a luz que estava no mundo, em conflito com as trevas, a fonte da verdadeira vida do homem. O sacrifício de sua vida para o mundo foi a expressão do amor de Deus para com o homem. É a história da redenção sendo fechada. O ápice de todo o relato bíblico de Gênesis a Apocalipse. Vemos isso já no prólogo estudado. “No princípio” está diretamente relacionado com o relato da criação em Gênesis. No prólogo temos a identificação do Jesus histórico com o Verbo Eterno que estava com o Pai. Apesar de certa influência do pensamento grego neste conceito – como vimos -, a principal inspiração vem da concepção do “Verbo” no Velho Testamento. O Verbo foi personificado na filosofia do Velho Testamento, e no prólogo deste Evangelho temos um reflexo deste pensamento. Isso fica evidente quando lembramos que a idéia do Verbo manifesto em carne era realmente alheia ao pensamento grego23. 23 Novo Comentário da Bíblia. Acesso via software Biblos.
  • 28. 28 7.2. Diálogo com a Teologia Sistemática Reformada Na concepção da Teologia Sistemática Reformada, o logos encarnado é o princípio norteador para a análise da Cristologia. Não há concepção, na teologia reformada, de um Cristo que não fosse totalmente Deus. Além disso, este texto nos leva a outro conceito fundamental da teologia sistemática, estudado, definido e questionado desde o Concílio de Nicéia em 325 d. C.: a Trindade. A Trindade e a Encarnação estão mutuamente integradas. A doutrina da Trindade declara que Cristo é verdadeiramente divino. A doutrina da Encarnação declara que o mesmo Cristo é também plenamente humano. Juntas, essas doutrinas proclamam a plena realidade do Salvador revelada no Novo Testamento, o Filho que veio da parte do Pai e, pela vontade do Pai, na cruz tornou-se o substituto do homem pecador. Ao se opor à idéia ariana de que Jesus era a primeira e a mais nobre criatura de Deus; a Igreja afirmou que Jesus era da mesma "substância" ou "essência" do Pai reconhecendo, inequivocadamente, a divindade de Jesus Cristo. Mais tarde, em Calcedônia (451 d. C.), a igreja se opôs à idéia nestoriana de que Jesus era duas pessoas e não uma, e à idéia eutiquiana de que a divindade de Jesus havia absorvido sua humanidade. Rejeitando ambas as idéias, o Concílio afirmou que Jesus é uma só pessoa com duas naturezas (isto é, com dois conjuntos de capacidades para a experiência, expressão e ação). As duas naturezas estão unidas nele, sem mistura e sem confusão, sem separação ou divisão, e cada natureza retêm seus próprios atributos. O texto do Evangelho de João foi a base para as definições teológicas destes períodos. O Evangelho de João abre suas narrativas de testemunha ocular
  • 29. 29 com a declaração de que Jesus é o eterno Logos divino, agente da criação e fonte da vida e da luz (vs. 1-5, 9). Tornando-se carne, o Logos foi revelado como o Filho de Deus, e a fonte da "graça e da verdade", o "unigênito do Pai" (vs. 14, 18). O conceito de criação sobre a perspectiva da Trindade também é outro tema teológico sistemático tratado pela teologia reformada à luz desta passagem. A Confissão de Fé de Westminster, ao tratar sobre a criação, coloca o Filho como participante ativo na criação: Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele há, visíveis ou invisíveis24. Além, obviamente, de tratar claramente o conceito e da encarnação e divindade de Cristo: O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem25. 24 A Confissão de Fé de Westminster. IV. I. 25 A Confissão de Fé de Westminster. VIII. II.
  • 30. 30 Outro documento elaborado pelos teólogos da grande Assembléia de Westminster, o Catecismo Maior de Westminster, também afirma em sua pergunta número 11: Donde se infere que o Filho e o Espírito Santo são Deus, iguais ao Pai? R. As Escrituras revelam que o Filho e o Espírito Santo são Deus igualmente com o Pai, atribuindo-lhes os mesmos nomes, atributos, obras e culto que só a Deus pertencem26. Louis Berkhof acentua, em sua Teologia Sistemática o papel de Cristo como Segunda Pessoa da Trindade. Ele explica o título de logos para Cristo: Este termo é aplicado ao Filho, em primeiro lugar não para expressar a Sua relação com o mundo (o que é absolutamente secundário), mas para indicar a Sua profunda relação com o Pai, relação como a que existe entre uma palavra e o orador que a profere. Diferentemente da filosofia a Bíblia apresenta o Logos como pessoal e o identifica com o Filho de Deus, Jo 1.1-14; 1 Jo 1.1-3.27 Assim, vemos o papel fundamental de tal passagem nas formulações sistemáticas no decorrer da história da igreja, em especial na teologia sistemática reformada. 26 Catecismo Maior de Westminster. Pergunta XI. 27 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 95.
  • 31. 31 7.3. Diálogo com a Teologia Contemporânea A teologia contemporânea está fortemente arraigada nos princípios racionalistas do Iluminismo do século XVIII. A crítica ao Antigo Regime e toda a estrutura de uma sociedade dita arcaica lançou ataques às concepções políticas, de gestão da economia e sócio-culturais, bem como a religião, freqüentemente relacionada ao aspecto cultural. O princípio norteador da racionalidade, tão enfatizado pelo Iluminismo e seus desdobramentos, chocou-se com qualquer pretensão de uma autoridade absoluta que fugisse a um princípio racional. Nas palavras de Grenz e Olson: ... as mudanças trazidas pelo Iluminismo também marcaram sua compreensão do que vinha a ser autoridade religiosa. Ao mesmo tempo em que considerava as Escrituras como norma única na Igreja, Kant declarou que a “religião pura da razão” – a única autêntica e universalmente válida – é o princípio interpretativo das Escrituras 28. Em síntese, o alvorecer da Teologia Liberal, em fins do século XIX e início do século XX, trouxe algumas concepções teológicas divergentes quanto à autenticidade dos escritos dos Evangelhos, estremecendo assim alguns postulados dogmáticos sobre a Segunda Pessoa da Trindade, Jesus Cristo. Foi nesse contexto que surgiu a neo-ortodoxia, para, propondo-se dialogar com o novo pensamento, reconsiderar juízos ditos absolutos sem reflexão, sem esvaziar o conteúdo da mensagem de salvação. Um de seus principais expoentes foi Karl Barth, que inicialmente deixou-se levar pela corrente liberal, mas, ao perceber que a nova teologia não satisfazia às crescentes 28 GRENZ & OLSON, A Teologia do século XX. versão digitalizada.
  • 32. 32 necessidades do púlpito de sua paróquia, refletiu sobre a importância da autoridade daquela que é a origem e a própria mensagem. Berkhof também fez uma análise histórica e contemporânea quando tratou sobre a divindade do Filho: d. A divindade do Filho. A divindade do Filho foi negada na Igreja Primitiva pelos ebionitas e pelos “alogi” (alogoa), e também pelos monarquistas e pelos arianos. Nos dias da Reforma, os socinianos seguiram o exemplo daqueles e falavam de Jesus como mero homem. A mesma posição foi tomada por Schleiermacher e Ritschl, por um batalhão de eruditos liberais, particularmente da Alemanha, pelos unitários e pelos modernistas e humanistas dos dias atuais. Esta negação só é possível para os que desconsideram os ensinos da Escritura, pois a Bíblia contém abundantes provas da divindade de Cristo. Vemos que a Escritura (1) asseverava explicitamente a divindade do Filho. Em passagens como Jo 1.1 .... 29 Assim, vemos que a importância do texto de Jo 1.1-5 para a teologia contemporânea é permeada pela identificação da Escritura como autêntica Palavra de Deus. Em nosso contexto hodierno, são poucos os pensadores cristãos que levantam questionamentos sobre as doutrinas expressas no prólogo do Evangelho de João30. Normalmente é no ateísmo que encontramos as maiores objeções tanto ao conceito de um Deus Trino quanto à divindade de Cristo31. 29 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 96-97. 30 No Brasil, destaca-se – não no meio acadêmico, mas popular – os pensamentos do Pr. Miguel Angelo, da Igreja Cristo Vive, que nega publicamente a doutrina da Trindade. Além deste, temos os mundialmente conhecidos Testemunhas de Jeová, que modificam o texto de Jo 1.1-5 para se adequar aos seus heréticos princípio. Veremos mais detalhes sobre os TJ em nossa análise hermenêutica. Contudo, não devem ser considerados em demasia por não se tratar de um grupo cristão.
  • 33. 33 8. ANÁLISE HERMENÊUTICA 8.1. Interpretação da Passagem [comentário exegético]32 Como dissemos anteriormente, a perícope em estudo está inserida no prólogo joanino. Pode-se dizer que representa um escopo do que será tratado em todo o Evangelho, cumprindo assim cabalmente seu propósito de prólogo. Fica evidente que João33 tinha em mente iniciar seu Evangelho da forma que o apresentou. Como em uma grande preleção ou num sermão bem elaborado, foi sobremaneira feliz ao tratar logo de início de um assunto tão importante de uma forma que chamasse a atenção de seus leitores – quer fossem helenistas ou judeus. O plano do Evangelho de João é muito bonito e a maneira como é arranjado é impressionante. Vemos a Palavra em sua glória pré-encarnada, para que possamos apreciar seu amor misericordioso, ao vir a terra salvar pecadores34. v.1 Destaca-se nesta passagem a apresentação de Jesus – ainda que não mencione seu nome – como o Cristo, o Filho de Deus, e as implicações desta 31 Destaca-se o estudo atual do “Jesus Histórico”, uma busca por um Jesus fora da religião e sem divindade. Um dos mais populares estudiosos desta linha é John Dominic Crossan. 32 O presente comentário exegético consta de comentários pessoais feitos a partir da tradução, da comparação de versões e dos diálogos travados com a Teologia (Bíblica, Sistemática e Contemporânea), bem como traz à lume expressivas posições de destacados comentaristas. 33 Em função da análise realizada e argumentos levantados, vamos sempre considerar o apóstolo como o autor. 34 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 96.
  • 34. 34 realidade divina na eternidade. Como analisamos, “No princípio” nos remete ao texto de Gn 1.1. Parece que João teve a intenção de usar o mesmo termo, com o propósito de afirmar que Cristo não foi criado, mas é criador. Trata-se, portanto, de um eco claro das primeiras palavras do A.T. Analisamos o termo logos em detalhes em nosso estudo. Fica claro que João o utiliza não no mesmo sentido da filosofia grega, mas no pensamento semítico. Ainda assim, é possível que seus leitores tenham feito esta correlação, o que foi favorável para o Evangelho. João afirma expressamente que o Verbo é Deus. O Logos já existia, e esta é uma maneira de afirmar a eternidade que só Deus possui. Os Testemunhas de Jeová têm observado que a palavra traduzida "Deus", aqui, não é precedida do artigo definido e, com base nisto, dizem que a expressão significa "um deus", mais do que propriamente "Deus". É um erro entender assim. O artigo é omitido por causa da ordem da palavra na sentença grega (o predicado "Deus" foi colocado antes para ser enfatizado). O Novo Testamento nunca sustenta a idéia de "um deus", expressão que implica politeísmo e conflitaria com o consistente monoteísmo da Bíblia. No Novo Testamento, a palavra grega para "Deus" ocorre freqüentemente sem o artigo definido, dependendo da exigência da gramática grega35. O uso da expressão “diante de” sugere intimidade, relação pessoal estreita, comunhão. Além disso, na última oração o predicado foi trocado, a fim de que a ênfase caísse sobre a divindade plena de Cristo. 35 Biblia de Estudo de Genebra. p. 1228.
  • 35. 35 v.2 Este verso retoma com um pronome o último termo do degrau mais alto e conclui a frase reunindo todos os elementos. É possível que a repetição se dê em tom de ênfase frente a influências heréticas do período do escrito. Cristo gozava desde toda a eternidade da comunhão amorosa do Pai. v.3 O verso é construído segundo a lei estilística do paralelismo antitético. Os pronomes referidos a “Palavra” constituem a ligação entre as duas partes. É declarado que Cristo é o Criador de todas as coisas. Importante aqui é o leitor deduzir que Cristo não poderia ter sido criado e que todas as coisas foram criadas por ele. Assim, este verso continua a dar ênfase à divindade do “Verbo”. v.4 Aqui é importante uma relação com o que será dito posteriormente, no cap. 5 v. 26 “tem vida em si mesmo”. Além disso, como será apresentado em todo o Evangelho, Cristo é a luz dos homens, que oferece a maravilhosa esperança aos homens – a redenção. A composição aqui é circular, quando analisada sob o contexto posterior de nossa perícope. Os vs 4-5 apresentam a vida do Verbo como luz dos homens; os vs 6-8 interrompem o desenvolvimento introduzindo João Batista; mas o v. 9 retoma o assunto, preparando o trecho seguinte.
  • 36. 36 Destaque para a expressão “nele” - e não “por meio dele” - encontra-se a vida. “Vida” aqui, analisada sob o contexto próximo, se refere à vida espiritual. Ao mesmo tempo é a causa, a fonte, e o princípio de toda vida física36. A humanidade é caracterizada por trevas, que é o oposto à luz. A verdade e o amor são sinônimos da luz, mas se estende também a todos os atributos de Deus. v. 5 Luz e trevas são os termos de uma antítese tipicamente joanina dentro do âmbito do N.T. Mas Battaglia ressalta que também no âmbito judaico encontramos a mesma terminologia. Aqui temos um dualismo ético. Não há dois princípios, mas somente a luz divina. Se o homem a acolhe, está na luz; se a repele, vive nas trevas37. Assim, este versículo anuncia o próprio enredo do Evangelho: uma luta entre forças da fé e da descrença. A luz continua brilhando. Há uma mudança no tempo verbal quando comparado com os versículos anteriores. A luz sempre esteve brilhando, contudo as “trevas se apropriaram dela”38. Trevas aqui se refere à humanidade, não se trata de um conceito abstrato. João também usará a expressão “mundo” depois, com o mesmo sentido. As “trevas” não apenas procedem negativamente, mas odeiam a luz. O que temos aqui é uma antítese absoluta entre luz e trevas, o reino de Deus e o mundo, e entre Cristo e as forças do maligno. 36 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. p. 102. 37 BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. p. 37. 38 Tradução sugerida por Hendriksen.
  • 37. 37 8.2. Teologia da Passagem Escrito em estilo simples, o último dos quatro Evangelhos exibe uma profundeza teológica que ultrapassa à dos evangelhos sinóticos39. O apóstolo João deseja, como testemunha ocular, não apenas registrar os fatos e sinais que presenciou, mas apresentar a mensagem de salvação, as boas novas para um mundo perdido. Parece motivado também, neste processo, a defender a fé cristã de heresias que se manifestavam no meio da nascente igreja. Desta forma, sua teologia é cristocêntrica40, explicando aos seus leitores a cerne do significado dos acontecimentos que presenciaram alguns anos antes. Seu tema é: Jesus Cristo, o Filho de Deus. Por isso, a passagem que analisamos é de fundamental importância para o entendimento do apóstolo em seu escrito. É aqui que ele faz sua introdução, em formato de prólogo. Apresenta o assunto que irá tratar. Comumente entre as comunidades cristãs, coloca-se o Evangelho de João como o mais teológico. A fama não é injustificada. Percebemos no pensamento joanino uma qualidade salutar: apresentar os problemas referentes à existência e à divindade de forma surpreendente para o seu período. Isso nos leva a uma reflexão. Como seriam as formulações sistemáticas e dogmáticas de nossa teologia se tal escrito não tivesse permanecido entre nós? É interessante observar que, no mínimo, nossas concepções da divindade de Cristo, bem como de sua encarnação e a relação das Pessoas da Trindade seriam obscuras. Estes podem ser destacados como os três aspectos teológicos mais 39 GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. p. 109. 40 Embora tal elucubração do termo tenha sido cunhado séculos mais tarde, me refiro aqui a postura de apresentar o Cristo no foco de todo o pensamento.
  • 38. 38 importantes que a perícope – e todo o Evangelho – destacam. Provavelmente sem este escrito, o cristianismo hoje seria mais atacado em suas formulações dogmáticas, o que nos leva a pensar sobre seu também importante papel apologético. Assim, vemos que o propósito teológico do autor é extremamente bem sucedido: relatar sobre a maior grandeza que existe no mundo, sobre aquile que é a única magnitude realmente grande e importante, Jesus Cristo, seu viver, seu falar, atuar, sofrer, morrer e ressuscitar. Por fim, a teologia do Evangelho de João nos mostra que os dons, os feitos e as atuações de Jesus não são o mais importante, mas sim o próprio Jesus em sua pessoa, em seu maravilhoso ser. Por isso não consegue expressar o mistério da pessoa de Jesus em apenas breves palavras, mas remetendo o pensamento do leitor desde o princípio de tudo. 8.3. Teologia Aplicada No fato de João não se identificar no Evangelho destacamos que ele escreve “aquele a quem Jesus amava”, não movido pelo egoísmo, mas a fim de ressaltar que o conteúdo do Evangelho merece crença, porquanto proveio de alguém a quem Jesus confiava. Tal observação é relevante para os críticos escriturísticos de nossos tempos. João expõe temas teológicos alternando narrativas e discursos. Desta forma, as palavras de Jesus ressaltam em todo o Evangelho. Por isso, muitas ações constantes no quarto Evangelho possuem caráter simbólico. Por exemplo, a
  • 39. 39 lavagem dos pés dos discípulos por parte de Jesus, representa o efeito purificador de sua obra remidora41. Quanto à perícope de nosso estudo, destaca-se o fato de João iniciar o Evangelho com um tema teológico sob a categoria da revelação. Jesus é a Palavra revelatória de Deus. Nesse papel, ele revela a verdade, a qual é mais que mera veracidade. Trata-se da realidade última da própria pessoa e do caráter de Deus, conforme testemunhado por Jesus, pelo próprio Pai, pelo Espírito Santo, pelas Escrituras e por outros42. Esta aplicação teológica, contudo, parece distante de ser verdade em alguns círculos evangélicos. É fato muito divulgado o crescimento dos evangélicos no Brasil. Somos mais de 26 milhões segundo as pesquisas. As Igrejas têm crescido de forma rápida e muitas delas usando métodos questionáveis. No entanto, acertou o jornalista, não-cristão, em sua matéria na revista Superinteressante: Não dá mais pra fingir que não vemos. Um a cada seis brasileiros já é evangélico – e o número continua crescendo. [...] O resultado é que quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino.43 O resgate de uma teologia cristocêntrica, que exalta esta realidade revelatória de Cristo no homem, é necessário para uma real abordagem cristã para a sociedade, pois, nas palavras do apóstolo, o mundo – a sociedade humana 41 Da mesma forma, encontramos em todo o Evangelho diversos outros sinais que carregam significados teológicos. 42 GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. p. 113. 43 “Evangélicos”. Revista Superinteressante, Edição 197, Fev. 2004. Disponível também em http://super.abril.com.br/superarquivo/2004/conteudo_124376.shtml
  • 40. 40 controlada por Satanás – faz oposição à luz, e por isso torna-se objeto da ira divina. Os cristãos, em todos os tempos, poderiam ficar perturbados ante a demora de regresso de Jesus. Por isso João nos apresenta a salvação desfrutada agora44, a Palavra encarnada, a vida que é luz e vence as trevas, hoje, com o intuito de dar vida ao incrédulo que recebe esta revelação, e estabelecer firmemente os crentes na fé. 9. CONCLUSÃO A Boa Nova de Cristo é a mais sublime revelação que um ser humano pode receber. João sabia disso, e por isso escreveu seu Evangelho. Como evangelista da fé, é cristológico em seu conteúdo, salientando a divindade de Jesus. Seu Evangelho anuncia o poderoso Filho de Deus que tornou um real ser humano, com vistas à redenção da humanidade. No texto analisado a deidade de Jesus é encarecida, mas em todo o Evangelho também é posto em realce sua humanidade. Ao escrever sobre a vida de Cristo, João leva seus leitores a se colocarem face a face com o Mestre, que exige do homem uma decisão. Do início ao fim o descreve como Deus, sempre ressaltando sua humanidade, e seu propósito redentivo. A perícope do prólogo, analisada em destaque neste estudo, ressalta a mensagem apresentada em todo o Evangelho. Ali João introduz o caráter principal 44 Teologicamente chamada de “escatologia realizada” – cf C. H. Dodd.
  • 41. 41 do livro – a Palavra é Deus, o Criador, o Autor da vida, aquele que foi manifestado na carne e nos revela o Pai. Destaca-se ainda em nossa perícope o vocabulário principal do livro, a saber, vida, luz e trevas, além do principal assunto: conflito. Este conflito permanece até culminar com a cruz e a ressurreição de Cristo. Nenhum dos Evangelhos pretende nos dar uma visão acabada de vida de Jesus, mas, ao contrário, uma seleção que leve ao ponto que o autor tinha em mente. João atingiu seu objetivo, descrito no próprio livro: para que os leitores creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que por intermédio da fé tenham via em seu nome (cf Jo 20.31). Devidamente inspirado, João consegue descrever esta verdade e este desafio já em seus primeiros versos, enfatizando a glória de Deus em Cristo, sendo o próprio Deus em carne humana. A profunda unidade e, ao mesmo tempo, diversidade do ser divino expressos nos primeiros versos do Evangelho de João, deu origem, como vimos, à doutrina da Trindade. Além disso, por todo o Evangelho – como também foi citado - há uma ênfase na natureza humana de Jesus. Somente alguém que fosse realmente humano poderia ser o divino redentor da raça humana. Por fim, analisar a perícope do epílogo de João é analisar o âmago do Evangelho – a boa nova de que podemos ser salvos pela fé em Jesus Cristo. A passagem consegue isso mostrando Jesus como a única pessoa homem-Deus, aquele que desceu de Deus para ser um de nós, de modo que, pela fé nele, possamos ser renovados e voltar para Deus com ele. João nos convida não apenas a olhar o que Jesus representa teoricamente na teologia, mas a refletir as implicações do Encarnado em nossa própria vida.
  • 42. 42 10. BIBLIOGRAFIA A Confissão de Fé de Westminster. 17a ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. ALAND, B., ALAND, K. et. Alli. Novum Testamentum Graece. 27º ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1994. BATTAGLIA, Alviero N. Oscar, Comentário ao Evangelho de João. Petrópolis: Vozes, 1985. BERGER, Klaus. As Formas Literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz Para o Caminho, 1990. Bibleworks for windows. Versão 6.0.005y. LLC: 2003. Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Editora Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. Bíblia de estudo NVI. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Nova, 2003. Biblos - o cd da pesquisa bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2002.
  • 43. 43 BOOR, Werner de. Evangelho de João I. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002. BROWN, Colin & COENEN, Lothar (org.) Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 2000. Dicionário Aurélio – Acessado através de Software. Dicionário Michaelis - Acessado através de Software. DODD, Charles H. A Interpretação do quarto Evangelho. São Paulo: Teológica, 2003. DUNNET, Walter M. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005. EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento. Série Bíblica Loyola, 12. Edições Loyola: São Paulo, 1994. GRENZ, Stanley & OLSON, Roger. A Teologia do Século XX. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1978.
  • 44. 44 HENRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Editora Vida Nova. Acessado através do software Biblos Novo testamento interlinear grego-português. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. O Catecismo Maior de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. O novo testamento: nova versão internacional. Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica Internacional. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2004. REGA, Lourenço Stelio; BERGMANN, Johannes. Noçoes do grego bíblico: gramática fundamental. São Paulo: Vida Nova, 2004 Revista Superinteressante, Edição 197, Artigo: “Evangélicos”. Fev. 2004. <Disponível em http://super.abril.com.br/superarquivo/2004/conteudo_124376 .shtml>. Acessado em 4 de dezembro de 2008. RUSCONI, Carlo. Dicionário do grego do novo testamento. São Paulo: Paulus, 2003.
  • 45. 45 RYLE, J. C. Comentário do Evangelho Segundo São João. São Paulo: Imprensa Metodista, 1957. SILVA, Cássio Murilo. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas, 2003 WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. Manual de Metodologia. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus, 1998. YARBROUGH, Robert W. & ELWELL, Walter A. Descobrindo o Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.