1) O documento discute o uso das tecnologias na educação e como os professores podem aproveitar recursos como computadores e a internet para melhorar o ensino.
2) É destacado que os professores precisam se atualizar sobre as novas tecnologias para motivarem os alunos, e que recursos online podem ser usados para apoiar o ensino presencial.
3) Ambientes virtuais de aprendizagem na internet podem ser úteis não só para o ensino a distância, mas também para complementar o ensino presencial e acompan
1. Suplemento Pedagógico APASE 1
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Ano XI nº 26 - Outubro de 2010
O Emprego das Tecnologias na Educação
Editorial
“A revolução que está em curso atualmente na informática e nos meios de comunicação coloca grandes desafios para a educação. O
que se observa é que tanto os educadores como os comunicadores têm tido os papéis de formar e informar. O conceito que explica isso, e
que ganha cada vez mais destaque é o de ‘sociedade do conhecimento’ - aquela em que o conhecimento é cada vez mais central para o
sucesso individual e coletivo.” (Fontes em Educação: guia para jornalistas.- Brasília, DF: Midia&Educação, 2001.p.73)
H oje em dia, ninguém mais
duvida do fascínio que os
eletrônicos exercem sobre as
crianças e jovens. De modo geral a
escola não fica alheia a essa
constatação. O Governo do Estado de
do ponto de vista quantitativo, maiores
nas escolas que se valem da tecnologia
no processo de ensino. Isto significa dizer
que, embora todos gostem e alguns
cheguem até a ter certo fascínio pelos
números, de um ponto de vista qualitativo,
metodologia feitos na idade certa e
num contexto adequado. Noções de
neurociência sobre o funcionamento
do cérebro são tão ou mais importantes
para o professor do que o domínio do
conteúdo a ser ensinado.
São Paulo e mesmo o Ministério da numa análise das variáveis que agem e Este Suplemento Pedagógico
Educação e os Municípios tratam de interagem num processo ensino- apresenta os artigos de renomados enquanto outros, por motivo de baixo
enviar computadores para as escolas e aprendizagem, a análise se torna mais especialistas sobre o tema Tecnologia salário, não têm condições de manter a
também oferecer oportunidade para os rica e mais precisa, decorrendo daí uma Educacional que, certamente, serão atualização dos equipamentos e
professores de compra de computadores. conclusão sobre a relatividade de uma utilizados pelos supervisores de ensino, programas da informatização. Outro
A Internet também passou a ser análise apenas numérica. como subsídio para seu trabalho de problema que a Internet apresenta é o
providenciada para as escolas. O Governo se vale dos números, o acompanhamento e orientação das risco das crianças terem acesso a
Sabemos, no entanto, que essas que é politicamente interessante, mas escolas, bem como para colaboração programas impróprios, agressões,
medidas estão longe de serem os especialistas em educação não têm conjunta com o sistema nas decisões a ameaças e riscos morais e afetivos.
suficientes. Não se trata de querer essa visão míope de análise de serem tomadas. O texto “Tecnologia e Educação:
endeusar ou demonizar essas medidas, resultados. Estudos de psicologia e O Professor Ubirajara Carnevale artefatos tecnológicos na dependência de
mas de entendê-las como um instrumento neurociência indicam que muitas são as de Moraes, doutor em Engenharia da mediadores transformadores” do
a mais e importante para desencadear possibilidades de a escola estimular a Comunicação contribui, com seu artigo Professor José Dujardis da Silva
e/ou manter o ensino-aprendizagem, prendizagem do aluno. didático, ao esclarecimento do uso da apresenta a evolução da informação
aproveitando o que as crianças e Três fatores se sobressaem como informática na escola. Ele destaca o administrativa e a introdução da
adolescentes gostam e o que a Internet determinantes no processo ensino- papel do professor como guia no universo informática nas escolas públicas. Destaca,
e outros meios de comunicação de massa aprendizagem: do conhecimento. Para isso terá que porém, que as tecnologias implicam
podem oferecer. mudar sua concepção sobre os novos numa formação de professores voltada
1. Competência do professor para
A questão fundamental é saber alunos nesta sociedade em transição. para o domínio dos recursos tecnológicos
utilizar adequadamente cada recurso
detectar onde esses recursos estão Segundo ele, a informática oferece associada à uma análise crítica das suas
tecnológico, motivando o aluno e
realmente sendo utilizados. Como a novos recursos à teoria pedagógica do implicações na educação e na cultura.
promovendo explicações para que ele
informática se enquadra no currículo? professor que, como responsável pela Zélia Ribas Varajão T. Soares,
possa se modificar a partir da
Qual é a vantagem que um aluno tem reflexão crítica, terá possibilidades em seu artigo ”A tecnologia na educação”
experiência com o uso do recurso;
quando utiliza o computador na escola? maximizadas em seu trabalho e tece considerações sobre a Educação a
Todos os recursos que a escola possui 2. Utilização de outros recursos descobrirá parcerias que serão fontes Distância, sua identidade própria e as
estão sempre disponíveis? O número de vivenciais de ordem social, política, necessárias à execução das ações resistências e os cuidados relevantes à sua
equipamentos é suficiente para todos que artística, ecológica, esportiva, que propostas tanto por ele, quanto pelos utilização. Destaca, ainda, a importância
pretendem utilizá-los? possam proporcionar experiências alunos. A forte tendência será o lidar com do preparo do conteúdo programático, do
E o professor? Como ele se vale do significativas nessas áreas do projetos que envolvam situações- material didático e da constante avaliação
computador para preparar aulas, conhecimento “...A experiência não é problema, levantamento de hipóteses, dos alunos e das equipes de profissionais
acompanhar os alunos, esclarecer apreendida para ser repetida, seleção, análise e organização de envolvidos nesse processo.
dúvidas e avaliar o processo educativo passivamente transmitida; ela acontece informações e novas formas de trabalho
de sua classe? Como é feita a para recriar, potencializar outras em grupo que irão enriquecer e apoiar Comissão organizadora:
comparação entre as classes similares e vivências”(1); o ensino presencial. Isso significa dizer . Albino Astolfi Neto
como essas informações servem de 3. O conhecimento que o professor também que o aluno será motivado ao
subsídios para os Supervisores de Ensino deve ter de como o cérebro processa autoestudo e a continuar aprendendo. . Eliene Bonetti
utilizarem no acompanhamento das o conhecimento, pois sabe-se que este Pedro Demo destaca em seu artigo . Irene Machado Pantelidakis
escolas da rede de ensino? não se reduz à mera informação. O “Novas Tecnologias em Educação”, a . Maria Antonia de Oliveira Vedovato
Se, por um lado, evidenciamos professor deve saber que cada criança, Educação a Distância como uma . Maria Cecília Mello Sarno
algumas escolas que aproveitam adolescente ou mesmo adulto projeta modalidade que “veio para ficar” tanto
no dia a dia, uma atitude, um com- . Maria Clara Paes Tobo
significativamente esses recursos no mundo quanto no Brasil. Como
tecnológicos, por outro, os números portamento tão enriquecedor tanto obstáculo ao uso da Educação a . Maria José Antunes Rocha R. da Costa
mostram que os melhores resultados quanto foi a introjeção da experiência Distância, Demo cita o fato de muitos . Maria Lúcia Morrone
obtidos na avaliação dos alunos não são, por meio de um conteúdo e uma professores não aceitarem o desafio, . Rosângela Aparecida Ferini V. Chede
(1)
LOPES, D. A delicadeza: estética, experiência e paisagens, Brasília:UnB, 2007 In Schettino,P.BC- Da pedra ao nada: a viagem da imagem, SP: LCTE, 2009: p.12.
2. Suplemento Pedagógico APASE
2 Abordagem
Recursos Tecnológicos na Educação
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Ubirajara Carnevale de Moraes (*)
“Em toda parte do mundo há um amor apaixonado entre crianças e computadores. Trabalhei com crianças e computadores na África, na Ásia, na
América, em cidades, subúrbios, fazendas e selvas. Trabalhei com crianças pobres e ricas; com filhos de pais letrados e analfabetos. Estas diferenças
não parecem ter importância. Por toda parte, com muito poucas exceções, eu vi o mesmo brilho nos olhos, o mesmo desejo de se apropriar daquela
coisa. E mais do que querer isso, eles parecem saber que no fundo eles já a possuem. Eles sabem que podem comandá-la mais facilmente e mais
naturalmente do que os seus pais. Eles sabem que são a geração dos computadores.” (Seymour Papert)
A tecnologia está presente nos
diversos segmentos da
Sociedade. Mesmo em casa,
podemos desempenhar vários papéis e
realizar uma série de tarefas utilizando
deve atualizar-se e planejar mudanças em
sua prática pedagógica. O “novo”
professor deve estar familiarizado com os
últimos recursos tecnológicos a que seus
alunos têm acesso.
aluno, protagonista no processo de
ensino-aprendizagem como um cola-
borador ativo.
A posição de detentor exclusivo do
saber cederá lugar ao de um guia no
agradável, interativo e estimulante.
É nesse contexto que podemos fazer
uso dos recursos tecnológicos em prol da
educação. A criação de espaços na
Internet que permitam o acesso a
aparelhos eletrônicos. Um exemplo deste Ele deve estar preocupado em universo do conhecimento. Dessa forma, conteúdos, atividades e até interação com
potencial moderno é a possibilidade de favorecer a motivação de seus alunos, o professor deverá ser o orientador, o colegas e professores fora da escola, a
conectarmos um computador à Internet, utilizando estímulos modernos e coordenador e o incentivador do qualquer momento do dia ou da noite
responsável pela intercomunicação e troca adequados, definindo objetivos de seu aprimoramento das funções de como inovação educativa estende a
de informações entre vários pontos do ensino, organizando, estrategicamente, o pensamento. atuação do docente além do momento
planeta. conteúdo que o aluno precisa saber, Sua tarefa será a de estimular os alunos presencial e atrai o aluno, já que o uso
A possibilidade do estabelecimento de dentro da realidade que está presente em a navegar pelo conhecimento e realizar da tecnologia faz parte de seu dia a dia.
um intercâmbio cultural online, entre sua vida tecnologicamente ativa. suas próprias descobertas. O Na verdade, esses espaços ou
pessoas com uma gama de serviços à Realmente, o professor deve relacionamento entre professores e alunos ambientes virtuais de aprendizagem
disposição dos usuários, aponta para a preocupar-se em dominar a mesma tende a ser mais descontraído e (AVAs), podem ser utilizados não apenas
grande importância que os recursos linguagem de seus alunos e utilizar interpessoal. pelo ensino online, mas também como
tecnológicos podem trazer no cenário métodos que não pareçam obsoletos, A informática se apresenta como uma uma ótima estratégia de apoio ao ensino
escolar. maximizando o interesse e a assimilação, das ferramentas mais utilizadas da nova presencial.
O aluno do século XXI vive em um além de favorecer a relação professor- tecnologia, estando em permanente Segundo Moran (2007, p. 129): “O
habitat repleto de tecnologia onde aluno, fator que vem ao encontro de um atualização e mantendo-se sempre como semipresencial tende avançar... porque
encontramos celulares, palmtops, tablets, dos principais instrumentos do processo recurso adequado, atrativo, eficiente e crianças e jovens já têm uma relação com
ipods, TV a cabo, microcomputadores de ensino-aprendizagem, a empatia entre envolvente no processo educacional em a Internet, redes, celular e multimídia ...
multimídia, entre outros equipamentos. docente e discente. todos os níveis e áreas de ensino. Ela Eles já vivem o semipresencial em muitas
Esse aluno dispõe de recursos A Ciência continua dando novos permite integrar os novos meios e outras situações, a escola é que não os
audiovisuais e eletrônicos que possi- frutos com a utilização da Informática e recursos à teoria pedagógica do professor está acompanhando”.
bilitam acesso às informações de forma dos recursos tecnológicos modernos. interessado em refletir criticamente sobre Existem diferentes tipos de AVAs na
rápida e precisa. Resta apenas que o professor acompanhe seu trabalho em sala de aula (e fora dela) Internet. Cada um tem suas vantagens e
Esta situação favorece o contato, bem essas transformações, tomando conhe- e em descobrir parcerias na construção diferentes características de uso. Alguns
como a incorporação de conceitos, cimento e usufruindo de suas vantagens. de sua prática pedagógica. geram custos elevados e outros são de
valores e informações que antes eram Na busca dos benefícios esperados e Essa atitude do professor refletirá, domínio público, como é o caso do
obtidos de forma mais lenta e, às vezes, funcionando como uma alavanca para um inevitavelmente, em um maior aprovei- Moodle.
desatualizada. modelo educacional mais eficiente, o tamento por parte do aluno. O Modular Object Oriented
Esse “novo” aluno dirige-se à Escola processo de utilização dos recursos São inúmeras as possibilidades de uso Dynamic Learning Environment oferece
em busca de novos conhecimentos que tecnológicos na Escola poderá trazer da Informática na Educação e com a inúmeros recursos tais como criação de
venham a ser adicionados àqueles já alterações na metodologia tradicional de disseminação e uso da Internet são fórum de discussão, salas de bate-papo
obtidos até então. ensino. grandes as possibilidades de uso dos (chat), páginas Web, glossário, galeria de
Nestas condições, a Escola deve estar A tecnologia sozinha não é solução seguintes recursos tecnológicos: imagens, blog, questionários, livros,
preparada para acolher esse novo perfil nem a única condutora desse processo. Ambientes Virtuais avaliações online, pesquisa de opinião,
de um contingente dinâmico e Colher benefícios que os recursos lições informatizadas, além de permitir
informatizado. tecnológicos podem oferecer requer, Na educação tradicional encontramos links a sites que serão previamente
A modernização da Escola não implica antes de tudo, atividades que propiciem um ambiente controlado, com tempo selecionados pelos professores.
apenas em reformas em sua infra- aos professores mudarem de concepções, regular e a constante supervisão dos A grande vantagem nesse ambiente
estrutura, elemento que sempre esteve que possam acarretar em novos professores. Há uma interação entre os além de todas os recursos disponíveis, é
identificado com a necessidade de comportamentos, posturas e atitudes, alunos e nem sempre é sobre o conteúdo a possibilidade de modelar sua aparência
atualização mas, principalmente, requer podendo levá-los a assumir novos projetos que está sendo ministrado naquele e atividades de acordo com o público
que o desempenho do professor seja curriculares. Isso evidencia uma mudança momento. O contato físico e o uso dos alvo e integrar diversos recursos.
equivalente à realidade dos educandos. substancial nos modelos ainda adotados, sentidos geram uma situação diferente Diferente de outros ambientes virtuais,
Em outras palavras, o professor deve estar o que nos coloca diante de uma daquela que se encontra no ensino online. o Moodle facilita a customização do
apto a acompanhar e a compreender a metodologia inovadora, o professor Nele, a separação física entre professor e layout, personalizando o curso em
evolução de seus alunos. assumindo o papel de especialista, aluno durante a maior parte do tempo deve função de sua área de atuação, faixa
Para viver essa realidade, o professor mediador, articulador e facilitador e o ser amenizada de forma a criar um ambiente etária e características do curso que se
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Abordagem 3
pretende ministrar. • a troca de informações entre • a participação de listas de discussão como apoio ao ensino presencial, tanto
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A partir de um modelo genérico, o professores que lecionam a mesma ou fóruns sobre o assunto de interesse; para professores como para alunos.
professor poderá com apenas alguns disciplina, uniformizando os conteúdos • a maior flexibilidade nos horários de Alguns desafios ainda são encontrados
cliques organizar seu ambiente, programáticos transmitidos em todas estudo; como despertar a conscientização do
construindo um novo espaço que as turmas; e, • o reforço da aprendizagem e apoio corpo docente para a necessidade de se
enriquecerá ainda mais sua prática • a oportunidade de desenvolver com conteúdos digitais educacionais; manterem atualizadas as informações do
pedagógica. experiências pioneiras no âmbito da • a maximização do aproveitamento do ambiente virtual ou ainda certa resistência
Moraes (2007, p. 258) afirma: “A Tecnologia Educacional em todas as horário em sala de aula para ou falta de familiarização em utilizar todos
forma de conquistar o aluno para que áreas do conhecimento humano orientações, dúvidas e estudos; os recursos que o ambiente virtual oferece.
permaneça entretido na “Moodlesfera” de presentes na Escola. • o acesso do conteúdo visto em sala
Webquest
seu curso é através do uso integrado dos Para os alunos são destacadas as de aula, mesmo não tendo
recursos que o professor dispõe: a seguintes vantagens: comparecido; No ambiente virtual é possível
modelagem do ambiente, sua mediação desenvolver páginas Web e inserir links
pedagógica constante e um planejamento a outros sites ou mesmo a páginas e
das atividades que serão desenvolvidas arquivos do próprio ambiente.
dentro e fora do ambiente. Essa Com o amadurecimento de uso do
estratégica representa a metodologia de ambiente virtual, o professor poderá
uso do ambiente virtual”. utilizar outras aplicações dos recursos
Dessa forma, o professor pode tecnológicos, aliadas ao acervo de
adaptar o seu ambiente virtual criando informações que a Internet oferece. Sites
áreas de interação para os alunos, correlatos ao conteúdo de seu interesse
disponibilizando arquivos para download, ou uma WebQuest poderão ser
bem como links a sites indicados para o implementados nas atividades do
conteúdo que se pretenda explorar. ambiente.
São inúmeras as vantagens para o A WebQuest permite a execução de
professor, tais como: atividades orientadas e investigativas de
maneira que o assunto seja apresentado
• o acompanhamento passo a passo do
de forma criativa e que utilize a Internet
desempenho dos alunos;
como recurso e fonte de consulta para o
• a maior interação entre os alunos e
desenvolvimento das atividades.
deles com o professor;
Na verdade, a WebQuest é uma
• a valorização da aula presencial, já
metodologia na qual a cooperação faz
que nessa ocasião, o aluno perceberá
parte da proposta em que todos os
por si só a importância do momento
participantes trocam informações e
presencial quando for desenvolver as
experiências. Segundo Abar e Barbosa
atividades remotas;
(2008) a WebQuest é uma atividade
• o oferecimento do material para o aluno
estruturada de forma que os alunos se
de forma programada, podendo até
envolvam no desenvolvimento de uma
mesmo deixar disponíveis conteúdos
tarefa de investigação usando princi-
para uma leitura anterior à aula ou, em
palmente (mas não exclusivamente) os
seguida, para complementá-la;
recursos da Internet. Na verdade, existe
• a valorização da produção intelectual
uma grande vantagem no professor
do aluno de modo particular por meio
desenvolver a WebQuest, já que nela ele
de sua participação em atividades
seleciona previamente os sites que serão
como o fórum ou o chat;
acessados pelos alunos, evitando contato
• a publicação imediata e de fácil acesso
com fontes e materiais não confiáveis e
do material do curso. Leituras
também define como será a avaliação final
complementares e exercícios de
permitindo que os alunos tenham
fixação;
consciência desde o início da atividade
• a promoção de grupos colaborativos,
do critério adotado, bem como dos
estimulando por conseguinte o sentido
resultados esperados.
de comunidade, as relações inter-
pessoais e a socialização das discussões Cada WebQuest está estruturada em
e descobertas; tópicos pré-estabelecidos pelo seu
• a revisão periódica dos conteúdos, • O acesso ininterrupto ao conteúdo • a formação de comunidades e grupos idealizador, Bernie Dodge, que de-
atividades e avaliações das aulas, das aulas e atividades propostas a de interesse; e, terminam como a atividade será apre-
permitindo seu constante refinamento; qualquer hora, dia ou local; • o desenvolvimento da organização sentada aos alunos:
• o reaproveitamento do material utilizado • a comunicação com colegas e pro- pessoal para o autoestudo e o senso de • Introdução: breve apresentação sobre
de um ano letivo para o outro, fessores de forma eletrônica (assíncrona responsabilidade. o tema de maneira instigadora
incorporando as experiências vivenciadas ou síncrona) para dirimir dúvidas, A sistemática do ambiente virtual no motivando o interesse dos alunos pelo
no ambiente virtual, enriquecendo suas obter informações da disciplina ou desenvolvimento de conteúdos cria uma assunto;
versões subsequentes; mesmo para reforçar o vínculo social; nova cultura para a utilização da Internet • Tarefa: definição do que o aluno
4. Suplemento Pedagógico APASE
4 Abordagem
deverá executar para completar a Ensino onde foi elaborada, o programa o significado de um novo conceito quando que mais conceitos, ideias, informações
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atividade. É desafiadora em busca de dentro do qual a WebQuest foi inserida, consegue associá-lo com tudo aquilo que surjam, enriquecendo a aprendizagem.
soluções e quanto mais corresponder agradecimentos, fontes de imagens, lhe é familiar. Quando ele consegue
aos objetivos que se deseja alcançar em textos e demais materiais que estão estabelecer diversas relações está
Considerações Finais
relação às descobertas e à apren- presentes na WebQuest e cuja autoria preparado para aplicar esse conceito em Percebe-se que, com os recursos
dizagem, mais os alunos assumirão o deve estar registrada. diversas circunstâncias, inclusive tecnológicos, novas interfaces surgirão
papel de colaboradores e participantes • Orientação a professores: sugestões diferentes das situações discutidas em sala mais úteis, práticas e atrativas, dimi-
ativos na construção do conhecimento. aos educadores de como podem utilizar de aula”. nuindo tradicionais resistências no
• Processo: sequência de passos a presente WebQuest. Assim, para registrar os conceitos e processo ensino-aprendizagem.
necessários para o desenvolvimento da Esta estrutura tem uma razão de ser: a as relações estabelecidas entre eles que o A qualidade dessa estratégia pode ser
tarefa. Neste momento é apresentada, atividade executada pelos alunos possui as cientista norte-americano Joseph Novak garantida na medida em que os
de forma clara, a dinâmica da ati- características de um projeto, na medida desenvolveu os mapas conceituais, professores não estarão limitados a um
vidade. Os procedimentos delineados em que inicialmente, surge uma ideia; em baseando-se na teoria da aprendizagem software educativo, a um único aplicativo
no processo poderão envolver apenas seguida, definem-se os objetivos do significativa de David Ausubel. ou a uma lição. Eles poderão reunir uma
um aluno ou ainda um grupo de alunos projeto; faz-se o plano das ações que devem Mapas conceituais são diagramas que gama de recursos integrados graças à sua
em que haverá a divisão de papéis e ser executadas; e apresentam-se os recursos indicam as relações entre conceitos ou inerente criatividade, empenho e
responsabilidades. No caso da apren- e fontes necessárias à execução das ações entre palavras que representam conceitos. experiência profissional.
dizagem das dinâmicas de grupo, serão (ABAR; BARBOSA, 2008). Eles podem ser construídos com uma Os novos projetos educacionais
exploradas também a integração do Barato (2004) observa que as simples régua geométrica em papel ou podem ser viabilizados pelo maior uso
grupo, troca de informações e for- WebQuests fornecem orientações de novos recursos tecnológicos a serviço
no software de apresentação com as
mação de consenso. Algumas concretas para tornar possível e efetivo o da Educação. Não basta, entretanto,
autoformas ou ainda por meio de
informações sobre como organizar as uso da Internet, e é uma maneira de colocar os velhos conteúdos e as antigas
ferramentas informatizadas disponíveis
informações adquiridas poderão ser praticar uma educação sintonizada com formas de ensinar nos novos meios. É
gratuitamente na Internet como é o caso
fornecidas por meio de questões os tempos atuais. preciso que os educadores estabeleçam
do CmapTools (http://cmap.ihmc.us) e
orientadoras, perguntas desafiadoras ou A metodologia da WebQuest também uma relação crítica permanente com o
Nestor (www.gate.cnrs.fr/~zeiliger/
por Mapas Conceituais. poderá ser realizada com a utilização de mundo que os cerca, com a realidade de
• Recursos: fonte de informações aplicativos como software de apresentação nestor/nestor.htm).
seus alunos e com os valores da sociedade
necessárias para que a tarefa seja ou mesmo editor de textos, onde o aluno Suas principais aplicações são: em transformação.
cumprida. O professor pode definir o receberá as instruções de forma • Organizar determinado assunto em
material a ser consultado pelos alunos, organizada e sistemática. Referências bibliográficas
uma sequência lógica de conceitos,
especialmente sites da Internet, A atividade por meio de situações fornecendo assim a instrução ABAR, C. A. A. P; BARBOSA, L. M.
tornando a navegação mais segura, pois problema é uma das fortes tendências na Webquest um desafio para o professor:
necessária sobre uma atividade a ser
serão caminhos a serem percorridos busca pela eficiente assimilação de uma solução inteligente para o uso da
executada;
pelos alunos e que já foram avaliados conteúdos, pois alunos e professores Internet. São Paulo: Avercamp, 2008.
• Facilitar a modelagem e o
pelo professor previamente. levantam hipóteses, analisam, organizam, BARATO, J. N. Um jeito novo, simples
aprimoramento dos conceitos na
• Avaliação: critério de avaliação selecionam informações, buscam novas e moderno de educar. Rio de Janeiro:
estrutura cognitiva, ou seja, orientar
claramente definido com os fatores que formas de comunicação, refletem, criam, Zahar, 2004.
o aluno para que ele faça as conexões
serão considerados na composição da exercitam interdisciplinaridade, discutem CARNEVALE, U.(org) Tecnologia
nota final. Esse critério pode vir em em grupo, criticam, enfim permitem o das novas informações ensinadas com
Educacional e Aprendizagem: o uso dos
forma de avaliação por rubrica, em que desenvolvimento da capacidade de os conhecimentos que já havia
recursos digitais. São Paulo:
serão destacados pelo professor, os aprender e continuar aprendendo. adquirido;
LivroPronto, 2007.
pontos mais importantes do processo • Difundir o conhecimento por meio
Mapas Conceituais LUCENA, M. Um modelo de Escola
em termos de reflexão e aprendizagem de suas estruturas hierárquicas; e Aberta na Internet – Kidlink no Brasil.
dos alunos. É muito importante nesse Há sempre um grande desafio para o • Permitir ao aluno que demonstre seus Rio de Janeiro, 1997.
momento que os alunos possam professor em estimular seus alunos. conhecimentos por meio da cons- MORAN, J. M. A educação que
identificar e analisar as interações e Muitas vezes os alunos buscam atividades trução de seu próprio mapa conceitual. desejamos: novos desafios e como chegar
descobertas realizadas para alcançar a e situações novas e nem sempre aprendem lá. Campinas: Papirus, 2007.
Uma vez construído o mapa
conclusão da tarefa com sucesso. com facilidade. OKADA, A. L. P. Mapas conceituais em
conceitual, o professor poderá fazer as
• Conclusão: apresenta um resumo das A aprendizagem significativa é um projetos e atividades pedagógicas. In
interpretações junto ao aluno, chamando
aprendizagens aos alunos, bem como processo dinâmico em que o aluno CARNEVALE, U.(org) Tecnologia
atenção para novas trilhas possíveis, mais
assuntos que poderão ser retomados em aprende o que não conhecia por meio de Educacional e Aprendizagem: o uso dos
relações estabelecidas com o que já significativas de acordo com interesses e
atividades futuras para motivar a recursos digitais. São Paulo: LivroPronto,
continuidade da investigação para conhece. conhecimento prévios. Essa análise
2007, p.115-127.
outros espaços (virtuais ou concretos) Em relação à aprendizagem significativa permitirá ao aluno refletir mais sobre o
• Créditos e referências: menção aos Okada (2007, p.115) considera que: “o assunto e buscar novos conceitos. A
autores da atividade, da instituição de aluno tem mais facilidade de compreender atitude de reformulação do mapa fará com
(*) Doutor em Engenharia da Computação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre
em Ciência da Computação. Licenciado e Bacharel em Matemática. Atualmente é professor na
Universidade Presbiteriana Mackenzie e no Colégio Dante Alighieri (SP). É coordenador do
curso de Pós-graduação em Tecnologia Educacional da UPM.
5. Suplemento Pedagógico APASE
Abordagem 5
Novas Tecnologias em Educação
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(*)
Pedro Demo
É possível aprender bem sem
novas tecnologias, como fazia
Sócrates há mais de dois mil
anos. Digo isso para evitar desde logo
qualquer panaceia. No entanto, nesta so-
mercado tornou-se já indispensável
aprender virtualmente, em nome da
aprendizagem continuada e da habilida-
de própria de produzir conhecimento.
Um dos recados de tais ambientes é que
nos é contra nossas aulas, consideradas
autoritárias, monótonas, chatas, represen-
tando uma era caduca. Hoje, dizem os
alunos, quem gosta de aula é professor.
Não é o caso fazer guerra contra aula,
vas tecnologias, aprendizagem permanen-
te, atualização constante. Não se trata de
abandonar conteúdos, porque são impres-
cindíveis para a profissionalização. Trata-
se de reconstruir os conteúdos, fazendo
ciedade – tão marcada por conhecimento aula supõe autoria. Só haverá aluno au- porque podemos ver nela expediente per- duas coisas ao mesmo tempo: estudar con-
intensivo – fluência tecnológica está se tor- tor com professor autor. tinente de orientação e avaliação, não de teúdos e aprender a estudar. Rejeita-se a
nando “compulsória”, em particular em Os alunos não são, em si, o desafio transmissão de conteúdos. Novas reprodução de conteúdos, consagrada
nome do direito das novas gerações de maior, tendo em vista que, como diz tecnologias sugerem fortemente que trans- em apostilas que alinham colégios, pro-
preparar-se adequadamente para seu fu- Prensky, eles são nativos, enquanto nós missão de conteúdos não faz sentido, não fessores e alunos a textos canônicos,
turo. Não decorre deste reconhecimento somos imigrantes. Em geral se viram bem só porque, a rigor, não podem ser “trans- vistos como bíblicos. Apostila é recla-
qualquer tipo de determinismo tecnoló- com as máquinas. O desafio mais dramá- mitidos”, mas porque o importante é sa- mo de professores que, tendo autono-
gico, porque entre sociedade e tecnologia tico é a atualização do professor, come- ber reconstruí-los na condição de autor. A mia, aceitam ser porta-vozes ou ajudan-
há influência recíproca. Novas tecnologias çando por sua inclusão digital. Até hoje é era da transmissão chama-se web 1.0, de- tes de ordens. Não se lê, estuda, pes-
não são, por sua vez, apenas meio, pois raro o compromisso de cursos de peda- signando fase deixada para trás. Próprio quisa, elabora, argumenta, porque tudo
são também alfabetização, instrumento de gogia e licenciatura com novas tecnologias. da web 2.0 e similares é a posição de par- já está pronto na apostila.
inclusão social e expressão cultural pró- Trata-se de despreparo clamoroso que ticipante interativo, produtivo, cola- O reconhecimento da importância das
pria desses tempos. Em particular, o pro- compromete a imagem docente e gera borativo. Tomando em conta o exemplo novas tecnologias para a educação não
cesso de aprendizagem vai se tornando di- dificuldades aos alunos que gostariam de da wikipedia, ocorre aí mudança consi- exime de considerar seus riscos e
gital, não totalmente, porque contato físi- aprender virtualmente também. Diz-se, derável no cenário da produção de conhe- panaceias. Uma das questões que nos ator-
co é fundamental para a relação pedagógi- por isso, que a melhor inclusão digital é cimento, agora coletiva e no contexto de mentam na escola é plágio, também por-
ca, mas em grande parte, talvez na maior aquela feita na escola, com base na atuali- novas epistemologias. Entende-se por no- que na internet é o que há de mais fácil
parte. O que se chama “educação a dis- zação docente. Nas escolas temos, quase vas epistemologias a produção dinâmica, para fazer. Não é assim que plágio é coisa
tância” já se tornou modo normal de ofer- sempre, um “laboratório de informática”, aberta e sempre incompleta de conheci- da internet. É coisa do instrucionismo,
ta educacional, ainda que continue mal afa- uma iniciativa que não deu frutos, tendo mento, como são os textos da wikipedia: antes de mais nada. “Colar” na escola é
mada, não sem razão. Seu crescimento no em vista que não faz parte da aprendiza- todos estão apenas e sempre na versão comum, e, dizem muitos, é das poucas
mundo todo é exponencial, aqui também. gem docente e discente. Primeiro passo, mais recente. Este tipo de ambiente revive coisas criativas que ainda há por lá! No
Veio para ficar. É melhor fazê-la bem, além pois, é conseguir que o professorado des- a noção dinâmica de conhecimento, não entanto, esta questão é mais complexa do
de questionar suas fragilidades. Primeiro, perte para este desafio e o resolva em si como estoque de discursos estabelecidos que parece, se levarmos em conta que bens
seria recomendável afastar o termo “dis- mesmo. Esta questão já desenha enorme e definitivos que cumpre apenas repassar. culturais deveriam estar à disposição de
tância” porque não é pedagógico. Segun- barreira, não só porque muitos professo- Conhecimento só existe como dinâmica todos para uso livre, inclusive copiar. O
do, é mais prudente combinar presença res não se interessam por este desafio ou desconstrutiva e reconstrutiva, em infinda mundo da internet inventou, para contor-
física e virtual, mesclando ambientes vir- mesmo o condenam, mas igualmente por- ebulição. O professor, por conta disso, não nar o copyright, o copyleft, como ocorre
tuais e físicos, conforme o ritmo do cur- que, com os atuais salários, é impraticá- pode mais comparecer como argumento no software livre: todos podem usar e re-
so. Terceiro, único problema realmente vel imaginar que todo professor tenha de autoridade, falando sozinho e peremp- criar, desde que este resultado fique dis-
importante da EaD é sua falta de qualida- computador sempre up-to-date e internet toriamente. Como o aluno, ele também ponível para os outros também. Este é o
de, além de usar novas tecnologias para de banda larga. Imagino que temos aí dupla precisa exercitar a autoridade do argumen- espírito do hacker: liberdade irrestrita de
replicar as mesmas velharias, em particu- invectiva: do ponto de vista da to, em ambiente sempre aberto, discutí- criação e uso, contra a apropriação do
lar a aula instrucionista. Se for bem feita, infraestrutura, seriam fundamentais pro- vel, colaborativo e incompleto. Esta visão mercado. Muitos gostariam de defender a
torna-se claro que é bem possível apren- gramas de acesso a computador e internet consagra a noção de aprendizagem per- ideia de que conhecimento é bem comum,
der a distância. Usando plataformas da web que permitissem compra e atualização manente, a vida toda, bem como a ima- pois só pode ser produzido em contexto
2.0 e similares, ambientes virtuais de constante de equipamentos, bem como gem do professor “discutível”: precisa colaborativo. Nenhuma mente é comple-
aprendizagem podem motivar a formação manutenção de banda larga de qualidade; questionar e autoquestionar-se inin- tamente original, porque, evolucionária e
de autoria, objetivo hoje considerado cen- do ponto de vista educacional, seriam terruptamente. culturalmente falando, não há mente ori-
tral da aprendizagem. A participação ne- imprescindíveis programas que facultem A nova geração percebe que a prepa- ginal. Ideia vem de outras, não do nada.
les, a exemplo da wikipedia, requer que aos docentes incluir-se digitalmente, em ração para a vida e para o mercado exige Sendo produto coletivo, como toda cultu-
se produza alguma coisa para postar. Mas especial incluir-se em ambientes de apren- dominar computador e internet, fazer tex- ra, não caberia privatizar. O mercado ale-
isto não é o principal. O mais relevante é dizagem como integrantes em sua vida de tos multimodais (para além do impresso), ga que o produtor de ideias precisa de in-
participar de produção textual, desenvol- professor para sempre. comunicar-se online e participar de gru- centivo para continuar criando novas
vendo autoria qualitativa, aprendendo a Ao mesmo tempo, esta guinada deve- pos de discussão, permutar textos própri- ideias. A “patente” garantiria isso. Outros
lidar com conhecimento, a comunicar-se ria ser aproveitada para reconstruir a pro- os. Não segue deste reconhecimento que já dizem que a contribuição colaborativa
online em processos de discussão e argu- posta docente, deixando para trás vezos todos os alunos queiram isso piamente. desinteressada é ainda mais criativa e pro-
mentação. Neste sentido, é imprescindí- instrucionistas (aula sem autoria) e assu- Muitos só querem diploma e aula. Existe dutiva, como atestaria a wikipedia: é to-
vel que a escola ofereça tais chances a mindo compromisso com a aprendizagem no mundo todo crise dramática de moti- talmente gratuita a colaboração e seu uso.
seus alunos, começando por atualizar os dos alunos. Aula pode recuar para o míni- vação, em parte também devida às chati- Seria a “economia do dom”. Reconhecen-
professores. Os professores precisam sa- mo possível, porque não é parte funda- ces da escola fora da realidade atual. Na do isto, não podemos, certamente, abo-
ber aprender virtualmente para que seus mental da aprendizagem dos alunos. Uma prática, porém, bons empregos implicam nar sem mais a cópia desbragada que se
alunos também o façam. Na vida e no das reclamações mais pungentes dos alu- naturalmente manuseio adequado das no- faz da internet, por ser fraude. Mesmo
6. Suplemento Pedagógico APASE
6 Abordagem
aceitando que autoria sempre é algo cole- máquina, vão se familiarizando e apren- duzir conhecimento precisa ser quemas mentais, a ir continuando a apren-
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tivo, usar o que o outro produziu como se dendo rapidamente. Em pouco tempo incrementada desde os primeiros anos es- der sempre. Não esperam mais conheci-
fosse próprio é apropriação indébita. E dominam o “internetês”, aquela linguagem colares. De fato, se pensarmos que nossas mento pronto e definitivo, porque acham-
não falta na internet oferta de produtos cifrada que elas gostam de usar, também crianças terão de dar conta da sociedade e no mentiroso e obsoleto. Em ambientes
prontos como dissertações e teses. para se autodefender contra os próprios economia intensivas de conhecimento, sa- virtuais, muitos jovens reencontram mo-
Mas temos outros problemas na pais. Vemos esta facilidade no celular, que ber produzir conhecimento próprio, saber tivação, em especial porque se entendem
internet. Em termos educacionais, é mun- elas quase sempre manejam melhor que pensar, alimentar autoria individual e cole-
como autores atuantes.
do arriscado para crianças, por conta de os pais. Daí não segue que professor seria tiva são habilidades cruciais. Aquela escola
Presença física vai recuando. Já não
abusos da pedofilia, pornografia, agressões, dispensado, porque é logo requerido, quan- reprodutiva, onde se “aprendiam” via aula
ameaças, roubo de identidades, exposição do entra em cena a aprendizagem da lin- instrucionista conteúdos repassados, vai fi- pode ser imposta como exclusiva, porque
excessiva da intimidade, e assim por di- guagem acadêmica, de tom formalizado, cando para trás. É entidade do século pas- chances de aprendizagem não formal (fora
ante. Acresce a voracidade do mercado ordenado, metódico como é todo texto sado. Como diz Toffler, esta escola nos en- de instituições escolares) vão aumentan-
sobre crianças, consideradas alvo prepon- escolar de qualidade. Esta linguagem é sina a nos manter ultrapassados. Para mui- do. É mania de professor instrucionista
derante para o advertising. Temos já pro- abstrata, formal, ordenada, bem diferente tos jovens, esta é também a imagem da es- exigir que o aluno só possa aprender sob
gramas específicos para crianças peque- da linguagem comum (fofoca, por exem- cola de hoje: ultrapassada. Para nós, pro- seus olhos e batuta. No fundo, teme ser
nas que, mesmo tendo aspectos educacio- plo). A mediação docente é fundamental. fessores, dói ouvir isso, também porque contestado. Como, porém, no mundo vir-
nais (por exemplo, “Discovery Kids”), são O que ocorre com o professor não é sua nosso discurso sempre foi de transforma- tual tudo que aí se posta pode ser contes-
produzidos em ambiente também dispensa. Dispensa-se, claro, a aula ção social, postado à frente dos tempos. tado, não cabe mais esta expectativa de
mercadológico. Jogos eletrônicos, de um instrucionista, porque é plágio. O profes- No entanto, não fomos capazes de nos man- controle do aluno. Vai chegando a presen-
lado, são vistos como os ambientes mais sor maiêutico, na posição de orientação e ter alerta frente aos novos desafios. A esco- ça virtual e que, possivelmente, vai pre-
motivadores existentes de aprendizagem, avaliação, é imprescindível. Aluno apren- la, infelizmente, é vista como uma das ins-
ponderar. Não acaba a presença física, mas
onde se utilizam abertamente propostas de bem com professor que aprende bem, tituições mais paradas no tempo, quase
será talvez menor que a virtual. Assim, ir
teóricas educacionais como a “zona do em especial no mundo virtual. Difícil para como uma igreja vetusta empoeirada. Aque-
todo dia à escola para escutar aula torna-
desenvolvimento proximal” de Vygotsky o professor é competir com o aluno em la noção estática, estabelecida, definitiva de
(scaffolding – metáfora do andaime para tecnologia. Como regra, não tem condi- conhecimento adotada na grade curricular se balela. Pode-se ir todo dia, mas para
construção de prédios – signo da media- ção, a ponto de alguns pesquisadores pro- é coisa do passado. Não é “conhecimento” outras finalidades, em especial produzir
ção docente), pensamento reconstrutivo de porem, como Prensky, que o professor não como dinâmica rebelde, em infinda ebuli- conhecimento sob orientação e avaliação
Piaget (sobretudo em discussões online e deveria meter-se em tecnologia, nem mes- ção. É apenas informação fora de época. docente, e em ambientes virtuais também.
pesquisa para solucionar os problemas mo no PowerPoint. Isto fica para o aluno. Desafio importante é conseguir que Aprendizagem torna-se intensamente
colocados pelo jogo), e outros. Videogame Cabe ao professor orientar e avaliar, cui- nossas crianças aprendam a pesquisar na interativa, porque este é o signo da internet
é, na prática, um belo problema que atrai dar da qualidade dos produtos autorais, internet, em vez de plagiar. Não é diferen- 2.0. Coibindo a interatividade do aluno,
jovens para sua solução cada vez mais com- motivar sempre, incentivar pesquisa e ela- te da apostila. Internet, afinal, é apostila temos desmotivação imediatamente. Cer-
plexa e exigente, mostrando que não lhes boração. Na prática, porém, sem noção gigante... Podemos apenas copiar. Pode- tamente, sempre é problemático o traba-
falta motivação. Não se motivam com mínima acerca das novas tecnologias, o mos, porém, usar a informação como lho de grupo, porque, enquanto um con-
nossas motivações. De outro, porém, além professor experimenta a posição incômo- material de pesquisa. Apostila como ma- tribui, outros nada fazem. A wiki trouxe
de haver jogos pífios e medíocres, podem da de excluído e obsoleto. É por isso que terial de pesquisa não coloca problema.
uma luz. Sendo software que grava toda
viciar, exacerbar ambientes violentos mis- penso ser desafio maior cuidar do profes- Internet também. Corremos o risco de nos
contribuição e guarda as anteriores, quem
turando agressão e sexo, ou mesmo ocu- sor. A máquina, sozinha, não faz qualquer dobrarmos ao amadorismo de textos fei-
par em excesso o tempo dos jovens. No- milagre. Pode mesmo ser esquecida ou de- tos de qualquer maneira, ou à banalização não posta nada, não aparece. Muitos au-
vas tecnologias são ambíguas, naturalmen- preciada. Quem faz milagre é o professor. dos ambientes como é comum em blogs tores consideram a produção colaborativa
te. Servem para o bem e para o mal, de- É interessante que ambientes virtuais (textos e comentários fúteis), ou à badala- princípio fundamental da aprendizagem,
pendendo de seu uso. No entanto, não cabe de aprendizagem aproveitam as teorias de ção inconsequente para apoios mútuos. também por seu valor pedagógico. Cor-
mais apenas resistir ou proibir, porque isto aprendizagem disponíveis, reconfigurando- Não é viável desfazer da aprendizagem a rem-se riscos, mas valem a pena.
apenas aguçaria a curiosidade das crian- as. Não as traduzem mecanicamente, por- necessidade de esforço. Aprender é atitu- Novas tecnologias vieram para ficar.
ças e jovens. Mais importante é educar que seria reprodução barata. Existe hoje de exigente, como sugeria Piaget, quando Não dá mais para viver sem elas. Não
para lidar ajuizadamente com riscos e discussão acalorada em torno de softwares apontava que aprender é desestruturar-se. podemos nos submeter a elas, como se
banalizações da internet. Embora haja pais desenhados para fomentar a argumentação A criança forma em sua mente “esquemas” fôssemos ventríloquos dela. Fundamental
que proíbam o acesso a computador e dos alunos, induzindo-os a pesquisar e ela- estabilizados que dão conta do que imagi- é o “olhar do educador”, que, em vez de
internet a seus filhos, esta atitude tende a borar, ou, em outras palavras, motivando a na ser real. Entrando em campo elemento resistir, sabe discernir potencialidades vir-
ser contraproducente, porque os filhos formação da autoria. Esta visão indica o que não se compatibiliza mais, ela é leva- tuais, sempre em nome do direito do alu-
podem não acessar computador em casa, quanto pretende se afastar dos maus costu- da a reestruturar sua mente (chegando as-
no de aprender bem. Precisamos urgente-
mas o fazem fora dela e com picardia. mes da sala de aula reprodutivista, introdu- sim à equilibração). Aprender implica
mente que professores se interessem por
Do ponto de vista do futuro de nossos zindo, entre outras iniciativas, pesquisa e desaprender. Esta quebra de ritmo tem seu
jovens, é fundamental levar em conta que elaboração própria como referências lado penoso, mas que agora se tornou ambientes virtuais de aprendizagem, para
fluência tecnológica é vital para eles. Por cruciais da aprendizagem, não textos pron- menos flagrante em ambientes virtuais, equilibrar as pressões. Hoje, predomina
exemplo, tendo em casa computador e tos (apostilas), conhecimento petrificado, onde quebras de ritmo são bem mais co- a pressão por parte dos peritos da máqui-
internet, é comum que nossas crianças se currículos fechados. Prensky chega a pro- muns, pela própria velocidade de inova- na, porquanto pedagogos em geral não se
alfabetizem sozinhas (com seus pares), sem por a mudança do termo “aluno”, para “pes- ção das tecnologias. As crianças se acos- sentem capazes de acompanhar a discus-
curso de computação, nem mesmo de lei- quisador”... Embora pareça provocativo, tumam mais a conviver com textos que se são. Aprendizagem virtual vem sendo fei-
tura. Mexendo desembaraçadamente na tem-se em mente que a habilidade de pro- liquefazem, a refazer constantemente es- ta à revelia. Uma pena.
(*)PhD em Sociologia pela Universidade de Saarbrücken, Alemanha, Pós-doutor pela Universidade
de Los Angeles, Califórnia e, atualmente, é Professor Emérito de Sociologia da UnB.
7. Suplemento Pedagógico APASE
Abordagem 7
Tecnologia e Educação: artefatos tecnológicos na
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dependência de mediadores transformadores
José Dujardis da Silva (*)
O avanço tecnológico dos anos
80, o impacto da informa-
tização e o processo crescente
de internacionalização da econo-
mia passaram a exigir um novo perfil de ci-
dadão: criativo, inteligente, capaz de soluci-
cesso de ensino e aprendizagem (PAR-
REIRAS, 2000, p. 102).
A tecnologia adquiriu importância na
vida de pessoas e de empresas, porém
tem beneficiado, de forma direta, ape-
nistrativa da rede pública estadual.
Nesse período as diretrizes traçadas pela
Secretaria de Estado da Educação, para eli-
minar as disfuncionalidades do sistema edu-
cacional, se organizaram em três eixos de in-
tervenção, subordinados à lógica da
nejamento tecnológico das escolas para fa-
cilitar a adesão ao projeto estadual de
informática na educação; formar
continuadamente os professores e as equi-
pes técnico-administrativas das escolas e
assessorar pedagogicamente para uso da
nas uma parcela da população. Muitos
onar problemas, de se adaptar às mudanças racionalidade econômica: tecnologia no processo de ensino-aprendi-
continuam distantes das inovações
do processo produtivo e, principalmente, 1) Melhoria da Qualidade de Ensino, zagem. Os profissionais que trabalham nos
tecnológicas em decorrência da exclusão
capaz de gerar, selecionar e interpretar in- socioeconômica à qual se agrega a exclu- 2) Mudanças nos Padrões de Gestão e 3) NRTE são formados continuamente pelo
formações. são ou não-inclusão digital. O termo “não Racionalização Organizacional. A racio- ProInfo/SEE/FDE para auxiliar as escolas
Os computadores chegaram à educa- inclusão” aplica-se àquelas pessoas que nalização organizacional compreendia: a) em todas as fases do processo de incorpo-
ção graças às mudanças tecnológicas que têm alguma informação e recursos sufi- enxugamento da máquina e eliminação ração das novas tecnologias.
ocorreram nas últimas três décadas. Tais cientes, contudo não têm aculturação su- de duplicidades e b) informatização ad- Moran et al. (2000, p. 153) define o
mudanças fizeram com que cada vez mais ficiente para acompanhar a evolução. ministrativa. conceito de tecnologia como os
as indústrias, bancos, hospitais e as escolas A exclusão socioeconômica é um fator É preciso destacar que a informatização
[...] meios, os apoios, as ferramentas que
acompanhassem esse crescimento tendo de exclusão digital, mas quem é economi- administrativa incluía o cadastramento ge-
utilizamos para que os alunos aprendam.
como base a informática. camente incluído também pode ser um ex- ral de alunos previsto no Decreto 40.290
A forma como os organizamos em gru-
Segundo Castells (2003), no final do cluído digital. Há outros fatores que favo- de 01/09/95 e, consequentemente, a orga-
pos, em salas, em outros espaços: isso
século XX, vários acontecimentos de im- recem a exclusão digital, como por exem- nização da demanda escolar, com vistas a
também é tecnologia. O giz que escreve
portância histórica, como revolução plo, pessoas com fortes resistências ao uso eliminar os chamados “alunos fantasmas”,
na lousa é tecnologia de comunicação, e
tecnológica, globalização da economia, fim das TICs, independentemente de classe ou seja, com duplicidade de matrículas.
uma boa organização da escrita facilita –
da União Soviética e do movimento co- econômica e das possibilidades de acesso. Nesse aspecto, racionalização organiza-
e muito – a aprendizagem. A forma de
munista internacional e reestruturação ca- A inserção da informática no ambiente cional enxugou significativamente a rede,
pitalista transformaram o cenário social olhar, de gesticular, de falar com os ou-
escolar faz-se necessária, pois permite o possibilitando a sua reorganização e altera-
da vida humana, provocando mudanças tros: isso também é tecnologia. O livro,
acesso dos indivíduos a um bem cultural ções nos padrões de gestão, com a extinção
sociais, tecnológicas, econômicas e nas a revista, o jornal, o gravador, o
que deveria ser disponível para todos. Cabe das Divisões Regionais de Ensino, a
relações humanas. retroprojetor, a televisão, o vídeo, são
à escola pública propiciar às crianças e jo- municipalização do ensino e a transferên-
O surgimento das Tecnologias de Infor- tecnologias importantes e muito mal uti-
vens a apropriação dessa tecnologia por- cia de recursos financeiros para as escolas.
mação e Comunicação (TIC), que deram lizadas, em geral.
que: “É preciso haver investimento por O cadastro escolar e a informatização
origem à Sociedade da Informação (Castells, parte das autoridades governamentais na da rede (Decreto 40.290, de 01/09/95) ti- O trabalho de implantação tecnológica
2003), trouxe mudanças significativas nas melhoria da educação pública, que vise à nham como objetivos: garantir a agilidade pela Secretaria de Educação visava garantir
relações econômicas, políticas, sociais e cul- formação de uma nova geração capaz de e flexibilidade para a tomada de decisões melhores soluções de infraestrutura de
turais e, ao mesmo tempo, possibilitou a competir no mercado de trabalho e, sobre- quanto às políticas educacionais; conhecer hardware, software e conexão para atender
globalização e aumentou as diferenças so- tudo, na sociedade globalizada” (GONÇAL- a cobertura de atendimento da rede esta- as necessidades da SEE e das escolas, e do
ciais entre as pessoas que têm acesso e re- VES, 1999, p.109). dual; subsidiar o planejamento educacio- desenvolvimento de processos de produção
cursos para a utilização das tecnologias e as A partir de 1995, foi criado o Progra- nal de forma rápida, concisa e objetiva; nesse novo ambiente informatizado, além
que não têm. ma Nacional de Informática (Proinfo), cujo realocação de recursos; melhor utilização da capacitação dos envolvidos.
As Tecnologias de Informação e Comu- projeto visava à formação de Núcleos de dos equipamentos existentes; conhecer a real Para Esteve (1995) o desenvolvimento
nicação compreendem os recursos Tecnologias Educacionais (NTEs), em todo demanda escolar. de fontes de informação alternativas, basi-
tecnológicos que envolvem computadores o país. Esses núcleos deveriam ser com- Em 1997, a criação dos Núcleos Regi- camente dos meios de comunicação de
e redes telemáticas (informática + teleco- postos por professores que deveriam fazer onais de Tecnologia Educacional, em par- massa, obriga o professor a alterar o seu
municação), em especial a rede Internet, uma capacitação de pós-graduação referente ceria com o MEC, abrangendo inicialmen- papel de transmissor de conhecimentos.
que consiste no conjunto de processos e à Informática Educacional, para posterior- te 30 Diretorias de Ensino e a instalação Cada dia se torna mais necessário integrar
produtos derivados da informática, supor- mente se transformarem em multiplicadores das Salas Ambientes de Informática (SAI) na aula esses meios de comunicação, apro-
tes de informação e canais de comunica- dessa política. abriram caminho para que todas as DEs veitando a sua enorme força de penetra-
ção relacionados com o armazenamento, Em 1995, no Estado de São Paulo o dispusessem até o final do governo, dessa ção. O professor que pretenda manter-se
processamento e transmissão digitalizada de governo recém-empossado de Mário Co- infraestrutura de capacitação, destinada a no antigo papel “fonte única” de transmis-
informações. dar condições aos professores e às escolas são oral de conhecimento perde a batalha.
vas no Comunicado SE de 22/03/1995 já
[...] as TIC dão uma nova dimensão à previa em seu plano de governo o Progra- para que utilizassem as novas tecnologias O professor deve reconverter sua ação de
sala de aula. Ao serem integradas às salas ma de Modernização do Ensino Público no processo de aprendizagem (SILVA, modo a facilitar a aprendizagem e a orien-
de aula, essas novas tecnologias parecem que tinha como suporte um novo modelo 2010, p, 85). tação do trabalho do aluno.
libertar o aprendiz da massificação im- de escola e medidas de racionalização ad- Os Núcleos Regionais de Tecnologia Para alcançar os objetivos propostos, a
posta pelo modelo convencional de aula ministrativa, baseadas no conceito de Educacional que funcionam junto às Dire- SEE/SP disponibiliza os espaços bem como
centrado no professor e a estabelecer um descentralização, participação e autonomia, torias de Ensino têm os seguintes objeti- os recursos da Rede do Saber e das Ofici-
perfil de aprendiz cada vez mais autôno- financiadas pelo Banco Mundial. Dentre as vos: sensibilizar e motivar as escolas para nas Pedagógicas para a realização dos en-
mo. [...] Nesse ambiente de aprendiza- medidas de racionalização administrativa incorporação da tecnologia de informação contros presenciais de cursos e
gem, o aprendiz assume o centro do pro- ganhava destaque a informatização admi- e comunicação; apoiar o processo de pla- videoconferências.