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21 BAURU, domingo, 8 de março de 2015
RITA DE CÁSSIA CORNÉLIO
U
ma pesquisa que teve
início há mais de 15
anos na Unesp de Bo-
tucatu poderia estar no mer-
cado salvando vidas daqueles
que são atacados por abelhas
africanizadas. O soro an-
tiveneno venceu as etapas
pré-clínicas, aquelas desen-
volvidas em laboratório, e
aguarda avaliação de dois ór-
gãos federais como Agência
Nacional de Vigilância Sa-
nitária (Anvisa) e Comissão
Nacional de Ética e Pesquisa
(Conep) para ser testado em
seres humanos. Sem o teste,
o soro não pode ser fabricado
e as mortes continuam acon-
tecendo. Dados do Ministério
da Saúde apontam que 10
mil casos foram registrados
em 2013, sendo que 40 deles
ocorreram no Brasil.
Recentemente, um ho-
mem de 80 anos morreu dois
dias depois de ser picado por
aproximadamente 300 abe-
lhas, em uma propriedade
rural de Botucatu. Caso o
medicamento estivesse dis-
ponível, a vítima teria chan-
ce de sobrevivência, avalia
o médico infectologista e
professor da Faculdade Me-
dicina de Botucatu da Unesp
Alexandre Naime Barbosa.
O coordenador-executivo
do Centro Virtual de Toxino-
logia (Cevap) onde o soro foi
desenvolvido, professor Rui
Seabra Ferreira, é enfático em
dizer que não existe no mundo
um tratamento específico para
as múltiplas picadas de abe-
lhas. “Não tem soro antivene-
no no mundo. Não sabemos
se vai funcionar. Temos que
testar, tanto a eficácia como
a segurança. Solicitamos uma
priorização de análise, eles
estão avaliando se pode ser
prioridade, visto que morre
gente todos os dias de picada
de abelha no País.”
Na avaliação de Barbosa,
a demora na avaliação dos ór-
gãos acarreta prejuízos incal-
culáveis. “Essas avaliações
poderiam ser feitas em seis
meses e se arrastam há dois
anos.” Por conta disso, ele diz
que o Brasil é extremamente
atrasado nas pesquisas clíni-
cas. “Os brasileiros nunca são
incluídos nas pesquisas inter-
nacionais porque os órgãos
regulatórios de avaliação des-
ses projetos em seres huma-
nos é extremamente lentos”.
A lentidão nas avaliações
não considera nem mesmo o
lado econômico do trabalho.
“Caso estivéssemos realizan-
do esse estudo, e fosse apro-
vado, uma das possibilidades
era patentear e vender o soro.
Gerando recursos às institui-
ções públicas brasileiras.”
AAnvisa foi contatada na
última semana para informar
o andamento do processo em
Brasília, mas até o fecha-
mento desta edição, não res-
pondeu aos questionamentos
do Jornal da Cidade.
Burocracia‘trava’soroantivenenoPesquisa teve início há 15 anos pela Unesp,mas medicamento contra picada de abelha aguarda autorização daAnvisa para ser testado em seres humanos
REGIONAL
22 BAURU, domingo, 8 de março de 2015
Pesquisa tem 15 anos e aguarda
para ser testada em pacientes
Fabricantes de soro não têm interesse de mudar qualquer tipo de metodologia de produção,declara o especialista Rui Seabra Ferreira Jr.
N
em todas as pesquisas
produzidas nas uni-
versidades chegam ao
mercado, ainda que sejam
direcionadas a melhorar
a vida da população. Isso
porque existe um abismo
entre a pesquisa básica e a
aplicada. A constatação é do
coordenador-executivo do
Cevap da Unesp, professor
Rui Seabra Ferreira Jr. “A
dificuldade é mundial. As
pesquisas não saem dos la-
boratórios para o papel. Os
pesquisadores publicam e
param. O desenvolvimento
do antiveneno de abelhas
começou há 15 anos e foi
evoluindo. Conseguimos
montar uma tecnologia
para esse novo soro. Isso se
deu em um estágio de pós-
-doutorado meu junto ao
Instituto Butantã entre 2006
e 2008. À época produzía-
mos esse soro em carneiros
para tentar baratear o custo,
hoje é produzido em cava-
lo.” Todo medicamento tem
um tempo de 15 a 20 anos
de maturação até chegar
efetivamente à população.
“Como acontece diariamen-
te na universidade, essa pes-
quisa ficou na bancada. Não
avançou, naquela época.
Os produtores de soro são
quatro no País, não tinham
interesse de mudar qualquer
tipo de metodologia de pro-
dução, mesmo sendo para
um produto novo. Eles pro-
duzem soro e vendem para
que o Ministério da Saúde
distribua.”
Em 2010, o Instituto Vi-
tal Brasil resolveu apostar
nessa ideia. “Mudamos a
metodologia para a produ-
ção em cavalos e aprimora-
mos a tecnologia para reali-
zação nesse tipo de animal.
Por que lá? Porque eles já
são uma ‘fábrica’, com toda
a certificação para fazer os
testes pré-clínicos, toda a
parte de produção, a Anvisa
reconhece isso. Produzem
outros soros. Nós juntos
juntamos a eles.”
Em 2012, o professor
Benedito Barra Vieira, que
é o médico da Faculdade
de Medicina, aprovou um
projeto junto ao Ministério
da Saúde para realizar os
ensaios clínicos em pacien-
tes humanos com esse novo
soro. Desde então estamos
reunindo toda a documenta-
ção comprovatória que esse
soro foi produzido dentro
das boas práticas de fabri-
cação, seguindo protocolos
padrão, a farmacopeia bra-
sileira. Ainda falta submeter
o projeto às comissões da
Anvisa e Conep. Quando
for avaliado testaremos em
30 pacientes e depois em
número maior.”
“A dificuldade
é mundial.
As pesquisas
não saem dos
laboratórios, do
papel”
Rui Seabra Ferreira Jr.
Coord. executivo do Cevap
[[
‘
O médico infectologis-
ta Alexandre Naime Barbo-
sa ressalta que o estudo em
humanos pode nem aconte-
cer. “Eles acabam matando
a pesquisa. Temos um finan-
ciamento da Finep, que é um
órgão federal de quase R$ 2
milhões para esse projeto. Eu
tenho prazos a cumprir. Ou
seja, tenho que prestar contas,
mas não consigo fazer o estu-
do. Se o prazo não for obede-
cido, não há financiamento e o
estudo em humanos pode nem
acontecer.”
Ele lembra que, caso o
soro tivesse sido avaliado e
aprovado, estaria disponível.
“Temos um estoque do soro
pronto para uso em seres hu-
manos. Produto está pronto,
se ele funciona ou não ainda
não sabemos. Em 99% dos
casos de acidentes com abe-
lhas são com as africanizadas.
O problema não é levar pou-
cas picadas, mas acima de 200,
quando ocorre uma concentração
maior de veneno e pode levar a
vítima à morte.”
A pessoa atacada por abelhas
morre de insuficiência renal, ex-
plica o médico. “Um dos compo-
nentes do veneno da abelha faz
com que o rim pare de funcionar.
A abelha africanizada é predomi-
nante no Brasil e todo o continen-
te africano e Estados Unidos.”
A cidade de Botucatu é ser-
vida por um serviço de retirada
de enxame de abelhas. O traba-
lho é fruto de uma parceria da
Vigilância Ambiental de Saúde
e a Unesp de Botucatu. No ano
passado foram retiradas 1.239
enxames na área urbana. Deste
total 611 eram de abelhas africa-
nizadas e 628 de vespas.
“As vespas são soltas em
mata. As abelhas africanizadas
são as produtoras de mel e são
utilizadas no desenvolvimento
de pesquisa então levamos para
a Unesp. Mais de 90% dos enxa-
mes retirados estavam em área
urbana. Na área rural os mora-
dores têm contato com apicultor
particular que retiram. As ocor-
rências são registradas especial-
mente no período de novembro
a março, por conta da florada,”
comenta o diretor de Departa-
mento de Planejamento e Ser-
viços de Saúde, Rodrigo Iais da
Silva. Em Botucatu só 3% das
solicitações são repassas para o
Corpo de Bombeiros. “Quando
o local é muito alto e a retira-
da depende do equipamento de
rapel. Especialmente embaixo
de viadutos. Temos uma equi-
pe treinada pela Unesp que faz
plantão das 13h às 21h. A reti-
rada como é preconizado pelo
setor deve ser feita a noite. Pe-
ríodo em que parte da popula-
ção deixa as ruas e o risco de
acidente é menor. As abelhas
se reúnem a noite dentro da
colmeia, porque de dia elas es-
tão polinizando.”
Para fazer a retirada dos en-
xames, os agentes usam roupas
apropriadas e fumegadores. “O
equipamento é fornecido pela
Secretaria da Saúde. O material
de captura, as caixas são forne-
cidas pelo setor de apicultura
da Unesp. Nós levamos as cai-
xas com abelhas. Eles retiram e
passam para as caixas deles de
cria e produção. Devolvem as
caixas prontas para uma próxi-
ma retirada.”
Botucatu tem serviço de retirada de enxames
[[
Dos enxames
retirados pela
Vigilância
Ambiental de
Saúde estavam
em área urbana
MAIS DE 90%
O professor da Faculdade de Medicina
(FMB) médico infectologista Alexandre
Naime Barbosa comenta que a participação dele
na pesquisa é o desenvolvimento do protocolo
da pesquisa em seres humanos. “O soro tem uma
história de desenvolvimento muito longa, mais
de uma década. Os ensaios que a gente chama
de estudos pré-clínicos estão prontos há cerca de
dois anos.” Vencida essa fase, que mostra que é
possível fazer um soro antiveneno, é que começa
a ser testada em seres humanos. “Fui contatado
para fazer a transposição desses estudos para
seres humanos. No final de 2013, o trabalho foi
submetido aos órgãos regulatórios que no Brasil
são dois: um que sobre a ética em pesquisa e
outro faz a regularização, respectivamente, o
Conep e a Anvisa.”
Pesquisas
AlexandreNaimeBarbosateveparticipaçãonoestudo
Rui Seabra Ferreira Jr. diz que pesquisa
começou em estágio de pós-doutorado
Teste em humano pode não ocorrer
Divulgação/PMB
No ano passado foram retirados 1.239 enxames na área urbana de Botucatu, número bem alto
REGIONAL
Abelhas atacam para
proteger o seu espaço
Ferrão libera um odor de hormônio que alerta as demais para protegerem o seu território
BAURU, domingo, 8 de março de 2015 23
A
s abelhas atacam suas
vítimas, animais ou se-
res humanos sempre
que sentem que seu território
está ameaçado. O comporta-
mento das abelhas acompanha
o dos demais animais, segun-
do o médico veterinário e es-
pecialista no assunto Ricardo
Orsi, da Unesp de Botucatu.
Ele explica que as abelhas
africanizadas, as que temos
no Brasil, são conhecidas por
terem comportamento extre-
mamente defensivo.
Essa abelha surgiu em
1956 do acasalamento da ori-
gem europeia com as africa-
nas. “Esse híbrido predomina
em todo o continente ameri-
cano. O acidente acontece,
geralmente, quando alguém
por descuido entra no território
que as abelhas entendem como
necessário de defesa. Elas não
são agressivas, agem como
qualquer animal que se sente
ameaçado.”
As primeiras, ao picarem,
chamam as demais pelo odor.
“A abelha ferroa (só a fêmea
faz isso) a vítima e o deixa na
pele do invasor, do qual libera
um cheiro de hormônio que
atrai outras abelhas que tam-
bém vão fazer a defesa. É uma
forma de potencializar a prote-
ção da colmeia”.
Para ter segurança, o espe-
cialista orienta que é preciso
manter moradias, criação de
animais e estradas a pelo me-
nos 300 metros de distância
dos enxames de abelhas afri-
canizadas. “Quando alguém
se aproxima do raio de ação
de defesa, elas promovem o
ataque. Recentemente um ho-
mem de 80 anos foi atacado
em Botucatu e morreu.”
Para fugir do ataque de
abelhas, o melhor é mergu-
lhar em água. Porém, como
nem sempre isso é possível, o
professor ensina: “Um tecido
grosso tipo cobertor pode pro-
teger a vítima. Ele evita que o
ferrão entre direto no organis-
mo. Dependendo da quantida-
de de abelhas, a pessoa pode
correr sempre em zigue-zague
para que as abelhas se atrapa-
lhem. As abelhas africanizadas
perseguem o invasor por até
100 metros.”
Os ataques, ao contrário
do que muitos pensam, acon-
tecem em sua maioria na área
urbana. “São enxames que es-
tão alojados em casas ou que
estão migrando e param para
descansar. Tem uma migração
muito grande de abelhas por
conta da ação do homem que
desmata cada vez mais.”
Para retirar o enxame é
preciso chamar algum apicul-
tor que tenha conhecimento
técnico, orienta Orsi. “Ele
retira e leva para o apiário,
dando o destino adequado,
coloca na colmeia. Jogar ve-
neno mata a abelha, mata um
polinizador de grande impor-
tância e prejudica a produção
de mel, a biodiversidade, além
de contaminar ambiente com
agroquímico.”
O soro antiveneno desen-
volvido em Botucatu neutra-
liza cerca de 90% dos proble-
mas causados pelas picadas
de abelhas africanizadas. O
soro é recebido por via intra-
venosa e cerca de 20 milili-
tros levam ao organismo uma
quantidade de anticorpos ca-
O manuseio das colmeias deve ser feito só por quem conhece
paz de minimizar os efeitos
das múltiplas picadas.
Um adulto picado por mais
de 200 insetos recebe uma
quantidade de veneno suficien-
te para causar lesões nos rins,
fígado e coração, debilitando
esses órgãos. A maioria das
mortes acontece pela falên-
cia dos rins. Durante o verão,
quando as altas temperaturas e
os temporais são mais comuns,
aumenta a probabilidade dos
acidentes com abelhas que po-
dem ser fatais. Em 9 de feve-
reiro, o ataque de abelhas afri-
canizadas levaram à morte um
homem que tomou cerca de
300 picadas. Mesmo levado
para o hospital da Unesp, ele
não resistiu à ação do veneno.
Quioshi Goto

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Projeto APIS Jornal da Cidade - Bauru - SP (07.03.2015)

  • 1. 21 BAURU, domingo, 8 de março de 2015 RITA DE CÁSSIA CORNÉLIO U ma pesquisa que teve início há mais de 15 anos na Unesp de Bo- tucatu poderia estar no mer- cado salvando vidas daqueles que são atacados por abelhas africanizadas. O soro an- tiveneno venceu as etapas pré-clínicas, aquelas desen- volvidas em laboratório, e aguarda avaliação de dois ór- gãos federais como Agência Nacional de Vigilância Sa- nitária (Anvisa) e Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) para ser testado em seres humanos. Sem o teste, o soro não pode ser fabricado e as mortes continuam acon- tecendo. Dados do Ministério da Saúde apontam que 10 mil casos foram registrados em 2013, sendo que 40 deles ocorreram no Brasil. Recentemente, um ho- mem de 80 anos morreu dois dias depois de ser picado por aproximadamente 300 abe- lhas, em uma propriedade rural de Botucatu. Caso o medicamento estivesse dis- ponível, a vítima teria chan- ce de sobrevivência, avalia o médico infectologista e professor da Faculdade Me- dicina de Botucatu da Unesp Alexandre Naime Barbosa. O coordenador-executivo do Centro Virtual de Toxino- logia (Cevap) onde o soro foi desenvolvido, professor Rui Seabra Ferreira, é enfático em dizer que não existe no mundo um tratamento específico para as múltiplas picadas de abe- lhas. “Não tem soro antivene- no no mundo. Não sabemos se vai funcionar. Temos que testar, tanto a eficácia como a segurança. Solicitamos uma priorização de análise, eles estão avaliando se pode ser prioridade, visto que morre gente todos os dias de picada de abelha no País.” Na avaliação de Barbosa, a demora na avaliação dos ór- gãos acarreta prejuízos incal- culáveis. “Essas avaliações poderiam ser feitas em seis meses e se arrastam há dois anos.” Por conta disso, ele diz que o Brasil é extremamente atrasado nas pesquisas clíni- cas. “Os brasileiros nunca são incluídos nas pesquisas inter- nacionais porque os órgãos regulatórios de avaliação des- ses projetos em seres huma- nos é extremamente lentos”. A lentidão nas avaliações não considera nem mesmo o lado econômico do trabalho. “Caso estivéssemos realizan- do esse estudo, e fosse apro- vado, uma das possibilidades era patentear e vender o soro. Gerando recursos às institui- ções públicas brasileiras.” AAnvisa foi contatada na última semana para informar o andamento do processo em Brasília, mas até o fecha- mento desta edição, não res- pondeu aos questionamentos do Jornal da Cidade. Burocracia‘trava’soroantivenenoPesquisa teve início há 15 anos pela Unesp,mas medicamento contra picada de abelha aguarda autorização daAnvisa para ser testado em seres humanos
  • 2. REGIONAL 22 BAURU, domingo, 8 de março de 2015 Pesquisa tem 15 anos e aguarda para ser testada em pacientes Fabricantes de soro não têm interesse de mudar qualquer tipo de metodologia de produção,declara o especialista Rui Seabra Ferreira Jr. N em todas as pesquisas produzidas nas uni- versidades chegam ao mercado, ainda que sejam direcionadas a melhorar a vida da população. Isso porque existe um abismo entre a pesquisa básica e a aplicada. A constatação é do coordenador-executivo do Cevap da Unesp, professor Rui Seabra Ferreira Jr. “A dificuldade é mundial. As pesquisas não saem dos la- boratórios para o papel. Os pesquisadores publicam e param. O desenvolvimento do antiveneno de abelhas começou há 15 anos e foi evoluindo. Conseguimos montar uma tecnologia para esse novo soro. Isso se deu em um estágio de pós- -doutorado meu junto ao Instituto Butantã entre 2006 e 2008. À época produzía- mos esse soro em carneiros para tentar baratear o custo, hoje é produzido em cava- lo.” Todo medicamento tem um tempo de 15 a 20 anos de maturação até chegar efetivamente à população. “Como acontece diariamen- te na universidade, essa pes- quisa ficou na bancada. Não avançou, naquela época. Os produtores de soro são quatro no País, não tinham interesse de mudar qualquer tipo de metodologia de pro- dução, mesmo sendo para um produto novo. Eles pro- duzem soro e vendem para que o Ministério da Saúde distribua.” Em 2010, o Instituto Vi- tal Brasil resolveu apostar nessa ideia. “Mudamos a metodologia para a produ- ção em cavalos e aprimora- mos a tecnologia para reali- zação nesse tipo de animal. Por que lá? Porque eles já são uma ‘fábrica’, com toda a certificação para fazer os testes pré-clínicos, toda a parte de produção, a Anvisa reconhece isso. Produzem outros soros. Nós juntos juntamos a eles.” Em 2012, o professor Benedito Barra Vieira, que é o médico da Faculdade de Medicina, aprovou um projeto junto ao Ministério da Saúde para realizar os ensaios clínicos em pacien- tes humanos com esse novo soro. Desde então estamos reunindo toda a documenta- ção comprovatória que esse soro foi produzido dentro das boas práticas de fabri- cação, seguindo protocolos padrão, a farmacopeia bra- sileira. Ainda falta submeter o projeto às comissões da Anvisa e Conep. Quando for avaliado testaremos em 30 pacientes e depois em número maior.” “A dificuldade é mundial. As pesquisas não saem dos laboratórios, do papel” Rui Seabra Ferreira Jr. Coord. executivo do Cevap [[ ‘ O médico infectologis- ta Alexandre Naime Barbo- sa ressalta que o estudo em humanos pode nem aconte- cer. “Eles acabam matando a pesquisa. Temos um finan- ciamento da Finep, que é um órgão federal de quase R$ 2 milhões para esse projeto. Eu tenho prazos a cumprir. Ou seja, tenho que prestar contas, mas não consigo fazer o estu- do. Se o prazo não for obede- cido, não há financiamento e o estudo em humanos pode nem acontecer.” Ele lembra que, caso o soro tivesse sido avaliado e aprovado, estaria disponível. “Temos um estoque do soro pronto para uso em seres hu- manos. Produto está pronto, se ele funciona ou não ainda não sabemos. Em 99% dos casos de acidentes com abe- lhas são com as africanizadas. O problema não é levar pou- cas picadas, mas acima de 200, quando ocorre uma concentração maior de veneno e pode levar a vítima à morte.” A pessoa atacada por abelhas morre de insuficiência renal, ex- plica o médico. “Um dos compo- nentes do veneno da abelha faz com que o rim pare de funcionar. A abelha africanizada é predomi- nante no Brasil e todo o continen- te africano e Estados Unidos.” A cidade de Botucatu é ser- vida por um serviço de retirada de enxame de abelhas. O traba- lho é fruto de uma parceria da Vigilância Ambiental de Saúde e a Unesp de Botucatu. No ano passado foram retiradas 1.239 enxames na área urbana. Deste total 611 eram de abelhas africa- nizadas e 628 de vespas. “As vespas são soltas em mata. As abelhas africanizadas são as produtoras de mel e são utilizadas no desenvolvimento de pesquisa então levamos para a Unesp. Mais de 90% dos enxa- mes retirados estavam em área urbana. Na área rural os mora- dores têm contato com apicultor particular que retiram. As ocor- rências são registradas especial- mente no período de novembro a março, por conta da florada,” comenta o diretor de Departa- mento de Planejamento e Ser- viços de Saúde, Rodrigo Iais da Silva. Em Botucatu só 3% das solicitações são repassas para o Corpo de Bombeiros. “Quando o local é muito alto e a retira- da depende do equipamento de rapel. Especialmente embaixo de viadutos. Temos uma equi- pe treinada pela Unesp que faz plantão das 13h às 21h. A reti- rada como é preconizado pelo setor deve ser feita a noite. Pe- ríodo em que parte da popula- ção deixa as ruas e o risco de acidente é menor. As abelhas se reúnem a noite dentro da colmeia, porque de dia elas es- tão polinizando.” Para fazer a retirada dos en- xames, os agentes usam roupas apropriadas e fumegadores. “O equipamento é fornecido pela Secretaria da Saúde. O material de captura, as caixas são forne- cidas pelo setor de apicultura da Unesp. Nós levamos as cai- xas com abelhas. Eles retiram e passam para as caixas deles de cria e produção. Devolvem as caixas prontas para uma próxi- ma retirada.” Botucatu tem serviço de retirada de enxames [[ Dos enxames retirados pela Vigilância Ambiental de Saúde estavam em área urbana MAIS DE 90% O professor da Faculdade de Medicina (FMB) médico infectologista Alexandre Naime Barbosa comenta que a participação dele na pesquisa é o desenvolvimento do protocolo da pesquisa em seres humanos. “O soro tem uma história de desenvolvimento muito longa, mais de uma década. Os ensaios que a gente chama de estudos pré-clínicos estão prontos há cerca de dois anos.” Vencida essa fase, que mostra que é possível fazer um soro antiveneno, é que começa a ser testada em seres humanos. “Fui contatado para fazer a transposição desses estudos para seres humanos. No final de 2013, o trabalho foi submetido aos órgãos regulatórios que no Brasil são dois: um que sobre a ética em pesquisa e outro faz a regularização, respectivamente, o Conep e a Anvisa.” Pesquisas AlexandreNaimeBarbosateveparticipaçãonoestudo Rui Seabra Ferreira Jr. diz que pesquisa começou em estágio de pós-doutorado Teste em humano pode não ocorrer Divulgação/PMB No ano passado foram retirados 1.239 enxames na área urbana de Botucatu, número bem alto
  • 3. REGIONAL Abelhas atacam para proteger o seu espaço Ferrão libera um odor de hormônio que alerta as demais para protegerem o seu território BAURU, domingo, 8 de março de 2015 23 A s abelhas atacam suas vítimas, animais ou se- res humanos sempre que sentem que seu território está ameaçado. O comporta- mento das abelhas acompanha o dos demais animais, segun- do o médico veterinário e es- pecialista no assunto Ricardo Orsi, da Unesp de Botucatu. Ele explica que as abelhas africanizadas, as que temos no Brasil, são conhecidas por terem comportamento extre- mamente defensivo. Essa abelha surgiu em 1956 do acasalamento da ori- gem europeia com as africa- nas. “Esse híbrido predomina em todo o continente ameri- cano. O acidente acontece, geralmente, quando alguém por descuido entra no território que as abelhas entendem como necessário de defesa. Elas não são agressivas, agem como qualquer animal que se sente ameaçado.” As primeiras, ao picarem, chamam as demais pelo odor. “A abelha ferroa (só a fêmea faz isso) a vítima e o deixa na pele do invasor, do qual libera um cheiro de hormônio que atrai outras abelhas que tam- bém vão fazer a defesa. É uma forma de potencializar a prote- ção da colmeia”. Para ter segurança, o espe- cialista orienta que é preciso manter moradias, criação de animais e estradas a pelo me- nos 300 metros de distância dos enxames de abelhas afri- canizadas. “Quando alguém se aproxima do raio de ação de defesa, elas promovem o ataque. Recentemente um ho- mem de 80 anos foi atacado em Botucatu e morreu.” Para fugir do ataque de abelhas, o melhor é mergu- lhar em água. Porém, como nem sempre isso é possível, o professor ensina: “Um tecido grosso tipo cobertor pode pro- teger a vítima. Ele evita que o ferrão entre direto no organis- mo. Dependendo da quantida- de de abelhas, a pessoa pode correr sempre em zigue-zague para que as abelhas se atrapa- lhem. As abelhas africanizadas perseguem o invasor por até 100 metros.” Os ataques, ao contrário do que muitos pensam, acon- tecem em sua maioria na área urbana. “São enxames que es- tão alojados em casas ou que estão migrando e param para descansar. Tem uma migração muito grande de abelhas por conta da ação do homem que desmata cada vez mais.” Para retirar o enxame é preciso chamar algum apicul- tor que tenha conhecimento técnico, orienta Orsi. “Ele retira e leva para o apiário, dando o destino adequado, coloca na colmeia. Jogar ve- neno mata a abelha, mata um polinizador de grande impor- tância e prejudica a produção de mel, a biodiversidade, além de contaminar ambiente com agroquímico.” O soro antiveneno desen- volvido em Botucatu neutra- liza cerca de 90% dos proble- mas causados pelas picadas de abelhas africanizadas. O soro é recebido por via intra- venosa e cerca de 20 milili- tros levam ao organismo uma quantidade de anticorpos ca- O manuseio das colmeias deve ser feito só por quem conhece paz de minimizar os efeitos das múltiplas picadas. Um adulto picado por mais de 200 insetos recebe uma quantidade de veneno suficien- te para causar lesões nos rins, fígado e coração, debilitando esses órgãos. A maioria das mortes acontece pela falên- cia dos rins. Durante o verão, quando as altas temperaturas e os temporais são mais comuns, aumenta a probabilidade dos acidentes com abelhas que po- dem ser fatais. Em 9 de feve- reiro, o ataque de abelhas afri- canizadas levaram à morte um homem que tomou cerca de 300 picadas. Mesmo levado para o hospital da Unesp, ele não resistiu à ação do veneno. Quioshi Goto