O Romantismo e a valorização da subjetividade e da natureza
1.
2. Valorizava o indivíduo;
Dava rédea solta a imaginação;
Exprimia sentimentos íntimos;
Buscava as raízes dos diferentes povos;
Retratava um espírito sentimental, afetivo,
apaixonado ( semelhante a música popular)
3. Os inúmeros avanços tecnológicos
possibilitados pela Revolução Industrial
transformaram a vida nas cidades e os
costumes da população;
As máquinas substituíam trabalhadores , ao
mesmo tempo em que baixavam os custos das
mercadorias e aceleravam o ritmo na produção
(Tempos modernos, 1936 – Charles Chaplin)
4. O transporte era mais ágil e alguns produtos antes
fabricados em casa (manteiga, pão e mesmo
roupas) passaram a ser acessíveis para compra;
O trabalho em casa diminuía e uma pequena
burguesia passou a contar com mais tempo para o
lazer, o que levou a VALORIZAR A LEITURA E A
EDUCAÇÃO.
Com isso, o escritor deixou de ser uma espécie de
protegido de uma classe social interessada em sua
arte e passou a ter suas obras circulando como
mercadoria, que, se agradasse ao público, seria
consumida da mesma liberdade que não era
necessariamente verdadeira: O ARTISTA SE
SENTIA LIVRE PARA ESCOLHER SOBRE O QUE
ESCREVER.
5. 1808: chegada da família real Portuguesa,
acompanhada por parte da Corte e do
funcionalismo – acelerou o ritmo do progresso,
inclusive intelectual do Rio de Janeiro.
Chegou logo após a Independência e
prolongou-se até o final do século XIX.
(inspirou a criação de obras voltadas para a
história, a língua e a cultura nacionais)
6. Do ponto de vista econômico, foi um período de
desenvolvimento do comércio, da indústria e da
agricultura.
Inauguração da primeira estrada de ferro (1845)
por conta da importação de produtos
manufaturados;
Reforma do ensino;
Criação de escolas de nível superior (Faculdade
de Direito de São Paulo e Recife- 1827)
Importação de livros
Criação de tipografias que permitiam a edição de
livros e jornais
7. Criação da Companhia Dramática Nacional(1833)
Criação do Teatro Nacional (1834)
Fundação do Instituto Histórico e Geográfico
(1838)
Fundação do Conservatório Nacional (1854)
Progresso nas áreas de educação e cultura
A superioridade cultural saiu dos conventos para
ter nas atividades independentes de qualquer
doutrina religiosa.
8. Os escritores românticos brasileiros elegeram como
tema de suas obras:Questões sociais e políticas,
Sofrimento amoroso,
Religiosidade,
Eventos históricos,
Cotidiano popular.
Cenário: natureza tropical
Artistas plásticos: buscaram retratar fatos
históricos, empenhados na construção da
identidade nacional.
As produções musicais e teatrais tematizaram: o
amor, a liberdade, o nacionalismo, o folclore
9. OBSERVAÇÃO: Ainda no ARCADISMO,
Claudio Manuel da Costa e Tomás Antônio
Gonzaga já antecipavam algumas tendências
do ROMANTISMO, como nacionalismo,
valorização da natureza.
10. O domínio da razão foi substituído pela
predominância da EMOÇÃO e da FANTASIA.
Valorização do mistério e da subjetividade.
Ele enxergava na natureza seu refúgio,
mostrando que não aprovava a sociedade
urbana.
Sentimento nacionalista.
Ligação entre o ESTADO DE ÂNIMO dos
personagens e a NATUREZA (Se o
personagem se encontra triste, desiludido, o
céu fica nublado, o tempo frio...)
11. O escritor romântico rejeitou formas fixas de
escrita,misturando gêneros e criando uma
literatura de expressão mais livre.
Idealização dos personagens e valorização do
amor.
O amor é visto como um sentimento capaz de
transformar o mundo e também como objeto
central da vida das pessoas.
12. O amor é uma ilusão ou um sentimento que
leva ao sofrimento, quando não correspondido;
Nos textos românticos, uma das figuras
centrais é a do herói romântico, aquele que
busca destemidamente a concretização de seus
ideais tanto políticos quanto amoroso.
O período romântico é rico em gênero e
produções. Na poesia, encontramos poemas de
valorização extrema dos sentimentos e estados
de alma e outros voltados para a busca da
liberdade e a contestação social.
13. Principal projeto dos escritores românticos
REESCREVER OU CRIAR UMA NOVA
HISTÓRIA PARA O BRASIL.
A literatura esteve presente nos principais
meios de formação da opinião: nos jornais, nos
púlpitos e nas tribunas políticas e era
considerada o principal cimento para soldar as
opiniões na construção da nacionalidade.
14. A fim de concretizar esse projeto os escritores
buscaram diferenciais tipicamente brasileiros.
As matas abundantes, os bosques brasileiros,
passaram, no Romantismo, a se constituir um
símbolo de nacionalidade.
A figura do indígena passou a ser modelo de
coragem, retidão e respeito aos valores cristãos e à
natureza.
Luis Gama e Castro Alves iniciaram a valorização
de afrodescendentes, atuando contra a escravidão
e recriando a imagem dos negros, vistos na poesia
de ambos como fortes, valentes e obstinados na
luta contra as injustiças.
15. No século XIX, as mulheres leitoras, assim
como havia acontecido na Europa,
impulsionaram a venda de jornais.
Como produção literária do Romantismo foi
bastante extensa, vamos examinar
separadamente : A POESIA
A PROSA
O TEATRO.
16. No caso da poesia, uma das maneiras de
estudar esses escritos de modo mais
sistemático é dividi-los em gerações com
características temáticas e estilos semelhantes.
17.
18. O marco inicial do Romantismo no Brasil:
lançamento da revista Niterói, tendo como um
dos responsáveis pela revista GONÇALVES
DE MAGALHÃES, autor do livro de poemas:
19. O poeta mais expressivo dessa primeira geração
foi Gonçalves Dias:
Responsável pela construção da imagem do
indígena como uma figura poética heroica e pela
representação da natureza brasileira como
exuberante e, ao mesmo tempo, acolhedora.
20. Antônio Gonçalves Dias
Maranhense
Nasceu em 1823
Filho de uma mestiça de negro e
indígena com um comerciante
português.
Formou-se em Latim e Letras
Clássicas na Universidade de
Coimbra.
Retornou ao Brasil em 1845
Em 1846 foi morar no Rio de Janeiro,
onde publicou seu primeiro livro de
poemas “Primeiros Cantos”, depois
“Segundos cantos”, “Sextilha de Frei
Antão”...
1846: Morreu aos 41 anos, vítima de
um naufrágio do navio de Boulogne.
Sua poesia destaca-se pelo uso
expressivo do ritmo
Em sua obra, o indígena está
integrado a sua tribo, revelam-se
os costumes e valores que lhes são
adaptados ao sentimento de honra
e virtude.
Nas obras do Romantismo o índio
se comporta como um cavaleiro
medieval, mas vem cercado de
todo o exotismo de seu modo de
vida.
A poesia se apresenta de modo
particular na obra gonçalviana. Ela
é, ao mesmo tempo: registro de
ambiente, projeção de sentimentos,
imagem maior, símbolo da pátria.
21. Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar �sozinho, à noite�
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
De Primeiros cantos (1847)
Foi pela natureza que ele
escolheu representar a
saudade que sentia da terra
natal, em seu exílio
voluntário.
Ele demonstra em seu poema
não apenas a chamada
“inspiração romântica”, mas
também seu trabalho racional
de poeta, aliando ritmo,
rimas e conteúdo num poema
que resistiu ao tempo e que
com vários outros dialoga,
22.
23.
24.
25. Influenciada pelo subjetivismo byroniano (A
vida sedutora do poeta inglês Lord Byron,
cujas aventuras incluíam viagens por lugares
exóticos, amantes...)
A São Paulo de meados do século XIX não
passava de uma cidade pacata,sem as seduções
da corte carioca. Suas noites frias, sua garoa
constante, poucos atrativos culturais
propiciavam o cultivo dos sentimentos que
marcaram a geração ultrarromântica : O
SPLEEN E O TÉDIO
26. PRODUÇÕES DESSA
GERAÇÃO:
Pessimista;
Exageradamente
sentimental;
Pouco conectados com a
realidade;
Assuntos preferenciais: A
MORTE, O TÉDIO e a
TRISTEZA;
Descrição exclusiva dos
estados de alma
individuais.
O poeta pretendia
transmitir para o leitor
toda comoção que ele
sentiu no momento que
compôs;
Varar madrugada
bebendo e fumando
charutos, entregando-se à
boemia e ao cultivo de
uma poesia
profundamente
sentimental era o costume
dos jovens poetas da
época
27.
28. Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-
1852) nasceu em São Paulo no dia 12 de
setembro. Filho do Doutor Inácio Manuel
Alvares de Azevedo e Dona Luísa Azevedo,
foi um filho dedicado a sua mãe e a sua
irmã. Aos dois anos de idade, junto com sua
família, muda-se para o Rio de Janeiro. Em
1836 morre seu irmão mais novo, fato que o
deixou bastante abalado. Foi aluno
brilhante, estudou no colégio do professor
Stoll, onde era constantemente elogiado. Em
1945 ingressou no Colégio Pedro II.
Em 1848, Álvares de Azevedo volta para São
Paulo, ingressa na Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco, onde passa a
conviver com vários escritores românticos.
Nessa época fundou a revista da Sociedade
Ensaio Filosófico Paulistano; traduziu a
obra Parisina, de Byron e o quinto ato de
Otelo, de Shakespeare, entre outros
trabalhos.
Álvares de Azevedo vivia em meio a livros
da faculdade e dedicado a escrever suas
poesias. Toda sua obra poética foi escrita
durante os quatro anos que cursou a
faculdade. O sentimento de solidão e
tristeza, refletidos em seus poemas, era de
fato a saudade da família, que ficara no Rio
de Janeiro.
Álvares de Azevedo doente, abandona a
faculdade. Vitimado por uma tuberculose e
sofrendo com um tumor, é operado mas não
resiste. Morre no dia 25 de abril de 1852,
com apenas 21 anos.
Impasse entre a concepção
amorosa romântica e a
impossibilidade de realização
desse amor no mundo terreno
Efeito irônico ( especialmente
aqueles que contrapõem o
sublime ao prosaico)
O sentido da vida (nascer,
morrer, religião (batismo),
política)
os valores tradicionais perdem
seu tom sublime quando são
postos em confronto com a
necessidade cotidiana de
dinheiro para superar os
desafios da vida, inclusive o
amor.
29. foi um poeta, escritor e contista, da segunda
geração romântica brasileira. Suas poesias
retratam o seu mundo interior. É conhecido
como "o poeta da dúvida". Faz parte dos
poetas que deixaram em segundo plano, os
temas nacionalistas e indianistas, usados na
primeira geração romântica, e mergulharam
fundo em seu mundo interior. Seus poemas
falam constantemente do tédio da vida, das
frustrações amorosas e do sentimento de
morte. A figura da mulher aparece em seus
versos, ora como um anjo, ora como um ser
fatal, mas sempre inacessível. Álvares de
Azevedo é Patrono da cadeira nº 2, da
Academia Brasileira de Letras.
Álvares de Azevedo deixa transparecer em
seus textos, a marca de uma adolescência
conflitante e dilacerada, representando a
experiência mais dramática do Romantismo
brasileiro. De todos os poetas de sua geração,
é o que mais reflete a influência do poeta
inglês Byron, criador de personagens
sonhadores e aventureiros.
Em alguns poemas, Álvares de Azevedo
surpreende o leitor, pois além de poeta triste e
sofredor, mostra-se irônico e com um grande
senso de humor, como no trecho do poema
"Lagartixa": "A lagartixa ao sol ardente vive,/ E
fazendo verão o corpo espicha:/ O clarão de
teus olhos me dá vida,/ Tu és o sol e eu sou a
lagartixa".
Álvares de Azevedo encara a morte como
solução de sua crise e de suas dores, como
expressou no seu famoso poema "Se eu
morresse amanhã": "Se eu morresse amanhã,
viria ao menos/ Fechar meus olhos minha triste
irmã;/ Minha mãe de saudades morreria/ Se eu
morresse amanhã!".
30. "Se Eu Morresse
Amanhã!", escrita
alguns dias antes de
sua morte, foi lida, no
dia de seu enterro,
pelo escritor Joaquim
Manuel de Macedo.
Álvares de Azevedo
não teve nenhuma
obra publicada em
vida. O livro "Lira dos
Vinte Anos", foi a
única obra preparada
pelo poeta.
Se Eu Morresse Amanhã!Se eu
morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu
futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove
n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
31.
32. O nome da ave lhe serviu de símbolo.
Os poetas condoreiros buscavam uma poesia
que falasse mais alto e pudesse trazer ao centro
da cena os temas políticos.
Influenciados pelas ideias do francês Victor
Hugo, autos de grande ação política em seu
país.
Na sociedade brasileira da década de 1860, a
escravidão estava por toda parte.
Por outro lado, crescia o número de homens
públicos que defendiam a libertação dos
escravos e a Proclamação da República.
33. Castro Alves (1847-1871) foi um poeta brasileiro. O último
grande poeta da terceira geração romântica no Brasil.
Expressou em suas poesias a indignação aos graves
problemas sociais de seu tempo. Denunciou a crueldade
da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao
romantismo um sentido social e revolucionário que o
aproxima do realismo. Foi também o poeta do amor, sua
poesia amorosa descreve a beleza e a sedução do corpo da
mulher. É patrono da cadeira nº7 da Academia Brasileira
de Letras.
34. Castro Alves (1847-1871) nasceu no município de Muritiba, Bahia, em 14 de
março de 1847. Filho do médico Antônio José Alves, e também professor da
Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro.
No ano de 1853, vai com sua família morar em Salvador. Estudou no
colégio de Abílio César Borges, onde foi colega de Rui Barbosa,
Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perde sua
mãe. Em 24 de janeiro de 1862 seu pai casa com Maria Rosário Guimarães e
nesse mesmo ano foi morar no Recife. A capital pernambucana efervescia
com os ideais abolicionistas e republicanos e Castro Alves recebe
influências do líder estudantil Tobias Barreto.
Castro Alves publica em 1863, seu primeiro poema contra a escravidão "A
Primavera", nesse mesmo ano conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara
que se apresentava no Teatro Santa Isabel no Recife. Em 1864 ingressa na
Faculdade de Direito do Recife, onde participou ativamente da vida
estudantil e literária, mas volta para a Bahia no mesmo ano e só retorna ao
Recife em 1865, na companhia de Fagundes Varela, seu grande amigo.
Castro Alves inicia em 1866, um intenso caso de amor com Eugênia
Câmara, dez anos mais velha que ele, e em 1867 partem para a Bahia, onde
ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a
Revolução de Minas". Em seguida Castro Alves parte para o Rio de Janeiro
onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios
literários. Vai para São Paulo e ingressa no terceiro ano da Faculdade de
Direito do Largo do São Francisco.
Em 1868 rompe com Eugênia. De férias, numa caçada nos bosques da Lapa
fere o pé esquerdo, com um tiro de espingarda, resultando na amputação
do pé. Em 1870 volta para Salvador onde publica "Espumas Flutuantes".
Antônio Frederico de Castro Alves morreu em Salvador no dia 6 de julho
de 1871, vitimado pela tuberculose.
35. I
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................
36. Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a
esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as
gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
37. III
Desce do espaço imenso, ó águia do
oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode
olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue
voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro
d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras!
...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu
Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras
voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
38. V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
39. Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
Esta, que é a parte mais comovente e intensa
do poema "Navio Negreiro" vai aqui
declamada com brilhantismo por Paulo
Autran para o seu deleite
VI
Existe um povo que a bandeira
empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira
é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
40. Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea
plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!