Em um ano, valor médio das pendências cresce 23% e já supera o dobro da renda média do brasileiro. Problemas financeiros e emocionais podem contribuir para o endividamento.
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45% dos inadimplentes não têm condições de pagar suas dívidas nos próximos três meses
1. 45% dos inadimplentes não têm condições
de pagar suas dívidas nos próximos três
meses, revela pesquisa do SPC Brasil
Em um ano, valor médio das pendências cresce 23% e já supera o dobro da renda
média do brasileiro. Problemas financeiros e emocionais podem contribuir para o
endividamento
“Devo, não nego. Pago quando puder”. A famosa expressão descreve bem como
muitos brasileiros se encontram atualmente. Diante do agravamento da crise
econômica, mais consumidores têm enfrentado dificuldades para colocar a vida
financeira em ordem. Um estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC
Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as
capitais revela que quatro em cada dez (45%) brasileiros inadimplentes não têm
condições financeiras de pagar suas dívidas atrasadas em um intervalo de até três
meses. O levantamento mostra também que a perspectiva de continuar inadimplente
é mais frequente nas classes C, D e E (46%) do que nas classes A e B (32%). Além
disso, 44% dos devedores ouvidos pelo SPC Brasil afirmaram que a situação
financeira atual deles está pior se comparada ao ano passado.
Quando indagados sobre os principais empecilhos para realizarem o pagamento dos
débitos, a maioria dos consumidores (52%) justifica que a dívida contraída é muito
superior aos seus ganhos mensais, mas há também aqueles que relutam em
incorporar hábitos de economia no dia a dia, como deixar de consumir produtos que
gostam (23%). “A resistência em cortar despesas e em mudar o padrão de consumo,
abrindo mão de pequenos prazeres, são alguns dos erros mais comuns para quem
precisa sair do vermelho. O dado revela um comportamento imprudente e de alto
risco para as finanças”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Brasileiro deve duas vezes e meia a própria renda
A dívida do brasileiro está mais cara. Na comparação entre 2014 e 2015, o valor
médio das dívidas em atraso passou de aproximadamente R$ 4 mil para R$ 5,4 mil,
o que representa um aumento real, já descontada a inflação, de 23%. Ao cruzar os
valores médios dos compromissos pendentes e a renda média dos entrevistados, a
pesquisa verificou que o montante das obrigações financeiras representa duas vezes
2. e meia o valor da renda familiar mensal no país. Considerando, por exemplo, as
famílias que têm uma remuneração de um a dois salários mínimos (entre R$ 789 e
R$ 1.576,00), a dívida equivale a quase quatro vezes o valor da renda (R$ 4,4 mil).
O mau uso do chamado ‘dinheiro de plástico’ é o principal responsável pela
inadimplência do consumidor brasileiro. As parcelas a pagar no cartão de crédito,
citadas por 42% dos inadimplentes, ao lado das parcelas no cartão de lojas (41%),
são as contas que mais resultaram na inclusão do nome em instituições de proteção
ao crédito. “Para quem sabe utilizar com prudência, o cartão de crédito pode ser um
grande aliado porque traz conveniência e segurança. O grande erro é não quitar o
valor integral da fatura e cair no efeito bola de neve do rotativo”, afirma a
economista Marcela Kawauti.
Os empréstimos junto aos bancos e financeiras (25%), as contas de telefone (11%),
a utilização do cheque especial (10%) e as parcelas a pagar no carnê, boleto ou
cheque pré-datado (10%) completam o ranking dos atrasos que motivaram a
inadimplência. Para as mulheres, o atraso das faturas do cartão de loja é o que mais
se destaca na comparação com os homens (46% contra 33%), enquanto entre a
parcela masculina de entrevistados, o destaque é o não pagamento de empréstimos
em bancos e financeiras (32% contra 20% das mulheres).
Desemprego vira o principal vilão
O levantamento concluiu também que o desemprego ultrapassou a falta de
planejamento financeiro como o principal motivo da inadimplência. Neste ano, 33%
dos consumidores com contas em atraso citaram a perda do emprego como causa
dos atrasos – no ano passado eram 24%. O descontrole financeiro e a falta de
planejamento no orçamento vêm em segundo lugar entre as justificativas mais
recorrentes para a inadimplência: 21% em 2015, contra 33% em 2014. A diminuição
da renda (11%), o empréstimo do nome para terceiros (8%) e estar com o salário
atrasado (5%) também são citados como razões que impossibilitaram o pagamento
da dívida que está em aberto.
“Mesmo que o desemprego seja um acontecimento alheio à própria vontade, ao qual
todos estão expostos, sobretudo quando o país se encontra em crise, o consumidor
deve estar prevenido e contar com uma reserva financeira emergencial para manter
3. as despesas sob controle”, afirma o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’,
José Vignoli.
O estudo sugere, também, que problemas de ordem financeira podem agravar ainda
mais o endividamento. Mais da metade da amostra (56%) disse que estava
passando por problemas financeiros quando fez a dívida que resultou na
inadimplência. A ansiedade (28%), a baixa autoestima com a própria aparência
(11%), a insatisfação com o trabalho (10%), a perda de um ente querido (7%) e o
término de um relacionamento (6%) também são apontados como aspectos
emocionais que motivaram o atraso das contas.
47% já ficaram com o nome sujo mais de duas vezes
O estudo revela que as mulheres representam 60% dos inadimplentes entrevistados.
Dentre os que possuem contas em atraso, a faixa que mais se destaca é a de
pessoas com idade entre 25 e 34 anos (37%) e 79% possuem no máximo o ensino
médio completo. Além disso, 47% são reincidentes. Ou seja, já estiveram com o
‘nome sujo’ pelo menos duas vezes nos últimos cinco anos. Já em relação à classe
social, a pesquisa de 2015 mostrou uma diferença significativa com a do ano
passado. Em 2014, as pessoas da classe C representavam 86% dos inadimplentes
brasileiros, hoje eles são 90% do total de devedores.
Estratégias para renegociar a dívida
Dentre os consumidores que reúnem condições para o pagamento da dívida atrasada
(52%), a estratégia mais comum é o acordo junto aos credores (37%), segundo
apurou a pesquisa. Em seguida aparecem os cortes no orçamento (11%) e as
atividades extras para geração de renda, como o famoso ‘bico’ (9%). Dentre os
entrevistados que pretendem economizar para deixar a inadimplência, 60% dizem
que vão cortar despesas de lazer, mas também são mencionados os cortes nos
gastos com vestuário e calçados (45%), alimentação fora de casa (34%) e produtos
de beleza (23%).
Para Marcela Kawauti, ao propor um acordo com o credor, é possível reduzir o
tamanho das prestações, obter juros menores e prazos mais alongados para a
4. quitação do débito. “Se a intenção for pagar a dívida à vista, é possível até pedir um
desconto no valor total. O devedor precisa demonstrar interesse em regularizar a
dívida e oferecer uma contraproposta dentro de suas possibilidades. Além disso, é
necessário que o consumidor mantenha a disciplina, fazendo cortes de gastos
desnecessários do orçamento e não realize novas compras enquanto estiver pagando
as prestações”, orienta a economista.
Acesse a pesquisa na íntegra e a metodologia clicando em “baixar arquivos” no link
https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas
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