Oriana era uma fada que vivia feliz na floresta, mas acabou se afastando para admirar sua beleza no rio. Quando a Rainha das Fadas viu o abandono da floresta, puniu Oriana tirando suas asas. Mais tarde, Oriana salvou uma velha de cair de um abismo, mesmo sem asas, e recuperou seus poderes da Rainha.
A história da fada Oriana que salvou a velha do abismo
1. Era uma vez uma fada chamada
Oriana, que era muito bonita e
boa.
Vivia alegra e feliz dançando nos
campos, nos montes, nos jardins e
nas praias.
Um dia, a Rainha das Fadas
chamou-a e ela foi ao seu
encontro.
3. Certa manhã de Abril, Oriana acordou ainda mais cedo que o habitual e, mal o primeiro raio de
Sol entrou na floresta, ela saiu de dentro do tronco de carvalho onde dormia todas as noites,
e respirou fundo os perfumes da madrugada.
4. Todos os dias, logo pela manhã, Oriana ia visitar a velha, uma senhora de muita idade,
por quem ela sentia um carinho especial e que vivia sozinha numa casa muito velha.
5. A seguir, passava pela casa do lenhador e do moleiro e ajudava-os também.
6. À noite, ia ter com o poeta solitário, que era a única pessoa crescida que a podia ver
e conversava com ele toda a noite.
7. Ora um dia, ao abeirar-se do rio para ajudar um peixe, Oriana viu a sua cara reflecti-
da na água. Viu os seus olhos azuis como safiras, os seus cabelos loiros como searas
a sua pele branca como lírios e as suas asas cor do ar, claras e brilhantes.
A partir daquele dia passou a ir com frequência ao rio para admirar a sua beleza.
8. Pouco a pouco, Oriana foi
abandonando a floresta,
os animais e os amigos.
Deixou de visitar a
velha e até o poeta.
Os animais começaram a partir e as plantas
iam morrendo pouco a pouco...
9. Quando apareceu a Rainha das Fadas e viu o abandono da floresta ficou tão zangada
que a castigou severamente, tirando-lhe as asas e a sua varinha de condão.
Arrependida, Oriana suplica-lhe que a perdoe...
10. Oriana, lembrando-se dos amigos antigos que abandonara e que deixara de
visitar, chorou numa tristeza profunda e suplicou, de novo, à Rainha das Fadas
para que esta lhe devolvesse as asas e a varinha de condão, mas a Rainha esta-
va muito desiludida com ela que não a desculpou. Disse-lhe, apenas, que as de-
volveria se e quando ela fizesse algo para as merecer.
11. Levantando-se, Oriana limpou as lágrimas e começou a percorrer a floresta. Pensou,
pensou e, determinada a recuperar a confiança dos seus amigos, decidiu ir à cidade
conversar com o poeta. No caminho para a cidade, avistou a velha junto do abismo...
12. Pôs-se, então, a correr muito depressa, com a esperança de a alcançar.
Mas, quando lá chegou já a velha estava a cair do abismo.
Então, mesmo sem asas, Oriana não hesitou por um momento sequer, em saltar do
abismo para a agarrar.
De súbito, como um relâmpago, apareceu no ar a Rainha das Fadas...
13. A Rainha das Fadas estendeu o seu braço, tocou em Oriana com a
sua varinha de condão e, no mesmo instante, ela parou de cair e ficou
imóvel, suspensa no ar, segurando a velha. Levou-a para sua casa e,
já no regresso pôde, finalmente, perceber que tudo aquilo tinha sido
possível graças à bondade da Rainha das Fadas que lhe devolvera as
suas asas e a sua varinha de condão.
Agora tudo fazia sentido na sua cabecinha linda e bondosa...
Levantando a sua varinha de condão, devolveu à floresta todo o
encanto e magia que a mãe Natureza a dotara.
Sophia Mello Breyner Andresen
( adaptado )