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Era uma vez uma fada chamada
Oriana, que era muito bonita e
boa.
  Vivia alegra e feliz dançando nos
campos, nos montes, nos jardins e
nas praias.
  Um dia, a Rainha das Fadas
chamou-a e ela foi ao seu
encontro.
- Oriana, entrego-te
esta Floresta!
Certa manhã de Abril, Oriana acordou ainda mais cedo que o habitual e, mal o primeiro raio de
Sol entrou na floresta, ela saiu de dentro do tronco de carvalho onde dormia todas as noites,
e respirou fundo os perfumes da madrugada.
Todos os dias, logo pela manhã, Oriana ia visitar a velha, uma senhora de muita idade,
por quem ela sentia um carinho especial e que vivia sozinha numa casa muito velha.
A seguir, passava pela casa do lenhador e do moleiro e ajudava-os também.
À noite, ia ter com o poeta solitário, que era a única pessoa crescida que a podia ver
e conversava com ele toda a noite.
Ora um dia, ao abeirar-se do rio para ajudar um peixe, Oriana viu a sua cara reflecti-
 da na água. Viu os seus olhos azuis como safiras, os seus cabelos loiros como searas
a sua pele branca como lírios e as suas asas cor do ar, claras e brilhantes.
A partir daquele dia passou a ir com frequência ao rio para admirar a sua beleza.
Pouco a pouco, Oriana foi
 abandonando a floresta,
 os animais e os amigos.




 Deixou de visitar a
velha e até o poeta.




Os animais começaram a partir e as plantas
iam morrendo pouco a pouco...
Quando apareceu a Rainha das Fadas e viu o abandono da floresta ficou tão zangada
que a castigou severamente, tirando-lhe as asas e a sua varinha de condão.
Arrependida, Oriana suplica-lhe que a perdoe...
Oriana, lembrando-se dos amigos antigos que abandonara e que deixara de
visitar, chorou numa tristeza profunda e suplicou, de novo, à Rainha das Fadas
para que esta lhe devolvesse as asas e a varinha de condão, mas a Rainha esta-
va muito desiludida com ela que não a desculpou. Disse-lhe, apenas, que as de-
volveria se e quando ela fizesse algo para as merecer.
Levantando-se, Oriana limpou as lágrimas e começou a percorrer a floresta. Pensou,
pensou e, determinada a recuperar a confiança dos seus amigos, decidiu ir à cidade
conversar com o poeta. No caminho para a cidade, avistou a velha junto do abismo...
Pôs-se, então, a correr muito depressa, com a esperança de a alcançar.
Mas, quando lá chegou já a velha estava a cair do abismo.
Então, mesmo sem asas, Oriana não hesitou por um momento sequer, em saltar do
abismo para a agarrar.
De súbito, como um relâmpago, apareceu no ar a Rainha das Fadas...
A Rainha das Fadas estendeu o seu braço, tocou em Oriana com a
sua varinha de condão e, no mesmo instante, ela parou de cair e ficou
imóvel, suspensa no ar, segurando a velha. Levou-a para sua casa e,
já no regresso pôde, finalmente, perceber que tudo aquilo tinha sido
possível graças à bondade da Rainha das Fadas que lhe devolvera as
suas asas e a sua varinha de condão.
Agora tudo fazia sentido na sua cabecinha linda e bondosa...
Levantando a sua varinha de condão, devolveu à floresta todo o
encanto e magia que a mãe Natureza a dotara.

                     Sophia Mello Breyner Andresen
                            ( adaptado )

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A história da fada Oriana que salvou a velha do abismo

  • 1. Era uma vez uma fada chamada Oriana, que era muito bonita e boa. Vivia alegra e feliz dançando nos campos, nos montes, nos jardins e nas praias. Um dia, a Rainha das Fadas chamou-a e ela foi ao seu encontro.
  • 3. Certa manhã de Abril, Oriana acordou ainda mais cedo que o habitual e, mal o primeiro raio de Sol entrou na floresta, ela saiu de dentro do tronco de carvalho onde dormia todas as noites, e respirou fundo os perfumes da madrugada.
  • 4. Todos os dias, logo pela manhã, Oriana ia visitar a velha, uma senhora de muita idade, por quem ela sentia um carinho especial e que vivia sozinha numa casa muito velha.
  • 5. A seguir, passava pela casa do lenhador e do moleiro e ajudava-os também.
  • 6. À noite, ia ter com o poeta solitário, que era a única pessoa crescida que a podia ver e conversava com ele toda a noite.
  • 7. Ora um dia, ao abeirar-se do rio para ajudar um peixe, Oriana viu a sua cara reflecti- da na água. Viu os seus olhos azuis como safiras, os seus cabelos loiros como searas a sua pele branca como lírios e as suas asas cor do ar, claras e brilhantes. A partir daquele dia passou a ir com frequência ao rio para admirar a sua beleza.
  • 8. Pouco a pouco, Oriana foi abandonando a floresta, os animais e os amigos. Deixou de visitar a velha e até o poeta. Os animais começaram a partir e as plantas iam morrendo pouco a pouco...
  • 9. Quando apareceu a Rainha das Fadas e viu o abandono da floresta ficou tão zangada que a castigou severamente, tirando-lhe as asas e a sua varinha de condão. Arrependida, Oriana suplica-lhe que a perdoe...
  • 10. Oriana, lembrando-se dos amigos antigos que abandonara e que deixara de visitar, chorou numa tristeza profunda e suplicou, de novo, à Rainha das Fadas para que esta lhe devolvesse as asas e a varinha de condão, mas a Rainha esta- va muito desiludida com ela que não a desculpou. Disse-lhe, apenas, que as de- volveria se e quando ela fizesse algo para as merecer.
  • 11. Levantando-se, Oriana limpou as lágrimas e começou a percorrer a floresta. Pensou, pensou e, determinada a recuperar a confiança dos seus amigos, decidiu ir à cidade conversar com o poeta. No caminho para a cidade, avistou a velha junto do abismo...
  • 12. Pôs-se, então, a correr muito depressa, com a esperança de a alcançar. Mas, quando lá chegou já a velha estava a cair do abismo. Então, mesmo sem asas, Oriana não hesitou por um momento sequer, em saltar do abismo para a agarrar. De súbito, como um relâmpago, apareceu no ar a Rainha das Fadas...
  • 13. A Rainha das Fadas estendeu o seu braço, tocou em Oriana com a sua varinha de condão e, no mesmo instante, ela parou de cair e ficou imóvel, suspensa no ar, segurando a velha. Levou-a para sua casa e, já no regresso pôde, finalmente, perceber que tudo aquilo tinha sido possível graças à bondade da Rainha das Fadas que lhe devolvera as suas asas e a sua varinha de condão. Agora tudo fazia sentido na sua cabecinha linda e bondosa... Levantando a sua varinha de condão, devolveu à floresta todo o encanto e magia que a mãe Natureza a dotara. Sophia Mello Breyner Andresen ( adaptado )