SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 6
Downloaden Sie, um offline zu lesen
PARAÍSO DOS
                                                 AGROTÓXICOS
                                                                             Substâncias já
                                                                       proibidas em vários
                                                                         países encontram
                                                                        mercado fértil em
                                                                          terras brasileiras
FOTO ©ISTOCKPHOTO.COM/DUŠAN KOSTI




                                    20 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
CIÊNCIAS AMBIENTAIS




O Brasil é a lixeira tóxica do planeta. Desde 2008, somos os maiores consumidores globais de in-
sumos químicos para agricultura. Mas, diante de uma balança comercial envaidecida por núme-
ros sedutores, discutir os reveses desse modelo agrário tornou-se tabu. A eterna e robusta econo-
mia agroexportadora, baseada em bens primários de baixo valor agregado, insiste em se reafirmar
– ainda que assombrada por uma crise de percepção e acompanhada de temerosas dívidas sociais
e ambientais.
HENRIQUE KUGLER
Ciência Hoje/RJ




                              Brasil vive um drama: ao acordar do sonho de uma economia agrária pu-
                                jante, o país desperta para o pesadelo de ser, pelo quinto ano consecuti-
                                 vo, o maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Balança comercial
                                 tinindo; agricultura a todo vapor. Mas quanto custa, por exemplo, uma
                                 saca de milho, soja ou algodão? Será que o preço de tais commodities
                                 – que há tempos são o motor de uma economia primária à la colonialis-
                                mo moderno – compensa os prejuízos sociais e ambientais negligen-
                               ciados nos cálculos do comércio internacional?
                                “Pergunta difícil”, diz o economista Wagner Soares, do Instituto Brasi-
                        leiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Bolsa de Chicago define o preço da
soja; mas não considera que, para se produzir cada saca, são aplicadas generosas doses de agrotó-
xicos que permanecem no ambiente natural – e no ser humano – por anos ou mesmo décadas. “Ao
final das contas, quem paga pela intoxicação dos trabalhadores e pela contaminação ambiental é a
sociedade”, afirma Soares. Em seu melhor economês, ele garante que as “externalidades negativas”
de nosso modelo agrário continuam de fora dos cálculos.
   Segundo o economista do IBGE, que recentemente estudou propriedades rurais no Paraná, cada
US$ 1 gasto na compra de agrotóxicos pode custar aos cofres públicos US$ 1,28 em futuros gastos
com a saúde de camponeses intoxicados. Mas este é um valor subestimado. Afinal, Soares contabili-
zou apenas os custos referentes a intoxicações agudas. Levando-se em conta os casos crônicos, acres-
cidos da contaminação ambiental difusa nos ecossistemas, os prejuízos podem atingir cifras assus-
tadoramente maiores. “Estamos há décadas inseridos nesse modelo agrário, e estudos mensurando
seus reais custos socioambientais são raros ou inexistentes”, diz.                                                            >>>




                                                 Trajando equipamentos de proteção, agricultor pulveriza agrotóxico em
                                                       sua lavoura. Segundo economista do IBGE, cada US$ 1 gasto na
                                                    compra de agrotóxicos pode custar aos cofres públicos US$ 1,28 em
                                                             futuros tratamentos de saúde de camponeses intoxicados



                                                                                                      296 | SETEMBRO 2012 | CIÊNCIAHOJE | 21
Seja na agricultura familiar, seja nas grandes proprie-     Veneno nosso de cada dia_Estão registrados
dades rurais, “os impactos dos agrotóxicos na saúde pú-        no mercado brasileiro 434 ingredientes ativos, que, com-
blica abrangem vastos territórios e envolvem diferentes        binados, resultam em pelo menos 2.400 formulações
grupos populacionais”, afirma dossiê publicado em abril        de agrotóxicos amplamente utilizadas em nossas lavou-
pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco),        ras. O cardápio é eclético: inseticidas, fungicidas, herbi-
entidade que reúne pesquisadores de diversas univer-           cidas, nematicidas, acaricidas, rodenticidas, moluscidas,
sidades do país. Milhares de casos de contaminação             formicidas e por aí vai – os responsáveis pela regulação
são registrados todos os anos pelo Sistema Nacional de         e controle de tais produtos são os ministérios da Saúde
Informações Tóxico-Farmacológicas, gerido pela Funda-          (MS), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
ção Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Sistema de Notifica-         e do Meio Ambiente (MMA).
ções em Vigilância Sanitária, da Agência Nacional de Vi-           Das 50 substâncias mais usadas em terras brasileiras,
gilância Sanitária (Anvisa). Mas, segundo a Organização        24 já foram banidas nos Estados Unidos, Canadá, Europa
Mundial da Saúde, para cada 50 quadros de intoxica-            e, algumas, mesmo na Ásia. Atualmente, apenas 14 delas
ção por agrotóxico no mundo, apenas 1 é notificado.            estão em processo de reavaliação pela Anvisa – procedi-
   Não são apenas agricultores e suas famílias que inte-       mento que se arrasta desde 2008.
gram grupos de risco. Todos os milhares de profissionais           Alguns notórios destaques: o endossulfam, amplamen-
envolvidos no comércio e manipulação dessas substân-           te utilizado em culturas de soja, café, algodão e cacau, é
cias são potenciais vítimas. E, além deles, “todos nós, dia-   sucesso de vendas no Brasil. Se as previsões da Anvisa se
riamente, a cada refeição, ingerimos princípios ativos de      concretizarem, seu uso será banido – como já é em 45 paí­
agrotóxicos em nossos alimentos”, garante a médica Ra-         ses – até 31 de julho de 2013. É um provável desregulador
quel Rigotto, da Universidade Federal do Ceará (UFC).          endócrino, responsável também por danos irreparáveis ao
O agricultor Jeferson Matias da Rosa, de Boa Vista das         sistema reprodutivo. A cihexatina, empregada até muito
Missões (RS), reafirma: “Hoje, todo mundo come veneno”.        recentemente em plantações de café, laranja, maçã, mo-
   Nenhuma novidade até aqui. O que nem todos sabem            rango e pêssego, também entrou para a lista negra da An-
é que o Brasil é destino certo para insumos agroquímicos       visa, e foi proibida somente no final de 2011. Carcinogêni-
que, por elevados graus de toxicidade, já foram banidos em     ca e neurotóxica, a substância é ilegal na Austrália, China,
diversos países.                                               Japão, Tailândia, Líbia, Paquistão, Canadá e Estados Uni-




                                                                                                                        FOTO AS-PTA - PR




       Plantação de fumo no Paraná. Ao longo da última
       década, o consumo de agrotóxicos no mundo cresceu
       93%. Mas, no Brasil, tal crescimento foi de 190%



22 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
CIÊNCIAS AMBIENTAIS




dos. Não menos emblemático é o caso do metamidofós,
poderoso genotóxico e neurotóxico, já proibido na Euro-
pa, China, Índia e Indonésia. Usado principalmente em
plantações de alface e tomate, sua comercialização,
                                                                   A HISTÓRIA SE REPETE
por aqui, só foi proibida em junho último.                         Uma viagem no tempo. O excerto
   Os demais 11 produtos na mira da Anvisa estão devi-             que você está prestes a ler foi
damente elencados no relatório da Abrasco, disponí-                publicado em Ciência Hoje no
vel no sítio da instituição – que lançou, recentemente, em         distante ano de 1986 – e qualquer
parceria com a Fiocruz e dezenas de instituições pelo              coincidência com o presente será
                                                                   mera semelhança com a triviali-
Brasil afora, o Abaixo-assinado por banimento de banidos.          dade da história que não hesita
A ideia é cobrar do governo federal a proibição dos prin-          em se repetir. “Registram-se no
cípios ativos já vetados em outros países. “É inaceitável          Brasil, até hoje, produtos banidos
que o Brasil continue sendo a grande ‘lixeira tóxica’ do           de outros países; vendem-se, sem
planeta”, lê-se no documento.                                      restrições, substâncias proibidas;
                                                                   usam-se, fora dos padrões, vene-
                                                                   nos perigosos. E pouco se conhece
Agroquímicas na casa da mãe Joana_Se os                            sobre as consequências: aciden-
princípios ativos permitidos em lei já são motivo de preo-         tes e casos de intoxicação são acompanhados de forma assimétrica
cupação, o que dizer de agrotóxicos ilegais, adulterados e         (...). É hora de reavaliar as condições de uso desses produtos, cujo
fora da validade? Por mais escabroso que pareça, fiscali-          consumo, altamente estimulado por sucessivos governos, saltou, em
                                                                   10 anos, de 27 mil para 80 mil toneladas.”
zações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos              Definitivamente, pouco mudou. Exceto pelo fato de que, em 2011, o
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Anvisa vêm,              consumo de agrotóxicos no Brasil foi de 936 mil toneladas.
nos últimos anos, sistematicamente encontrando, em
propriedades rurais e nos estoques de indústrias agro-
químicas em todo o Brasil, lotes de insumos fora dos pa-
drões de segurança e toxicidade exigidos em lei.                   Fiscalizar insumos agrícolas é tarefa desafiadora. Se-
    Em fevereiro, o Ibama apreendeu 876 kg de agrotóxi-        gundo o engenheiro e economista Victor Pelaez, da Uni-
cos irregulares em São José do Rio Preto (SP). Além de         versidade Federal do Paraná (UFPR), uma das maiores
produtos vencidos e misturados de forma inadequada,            dificuldades, no Brasil, é a “limitada quantidade de fun-
os fiscais também encontraram brometo de metila – proi-        cionários alocados na regulação de agrotóxicos”, mesmo
bido no Brasil desde 1987, quando o país assinou o Pro-        sendo o país o maior mercado para esses produtos. Em
tocolo de Montreal, comprometendo-se a banir o uso da          recente levantamento, Pelaez contabilizou que, ao to-
substância, empregada em culturas de fumo e hortali-           do, temos apenas 77 funcionários para dar conta de gerir
ças. Ao todo, as multas aplicadas nas propriedades fis-        e fiscalizar as atividades do setor em todo o território
calizadas somaram R$ 91 mil.                                   nacional (28 na Anvisa, 30 no Ibama e 19 no MAPA). Nos
    Fiscais da Anvisa não trouxeram melhores notícias.         Estados Unidos, segundo maior mercado mundial de agro-
Operações conduzidas entre 2009 e 2010, em diversos            químicos, os quadros técnicos somam 620 funcionários.
estados, encontraram irregularidades em todas as 10 fá-            Comparando os dois países, o economista ainda cita
bricas de agrotóxicos vistoriadas naquele período. A lista é   outro dado passível de reflexão. Enquanto o registro de
extensa: a empresa agroquímica suíça Syngenta, uma das         ingredientes ativos, nos Estados Unidos, custa em média
líderes mundiais do setor, guardava em seus estoques 1,15      US$ 630 mil, no Brasil é cerca de US$ 53 mil a US$ 100
milhão de litros de agrotóxicos adulterados, com direito       mil. Além disso, os norte-americanos cobram valores pe-
também a produtos vencidos; a alemã Bayer não ficou pa-        riódicos de reavaliação, em torno de US$ 150 mil; enquan-
ra trás, com 1 milhão de litros de insumos com fórmulas        to, por aqui, as indústrias são isentas desse tipo de taxa.
adulteradas; e sua conterrânea Basf apresentou 800 mil             Falando em isenção, “é notável a generosidade dos
litros de produtos irregulares. Enquanto isso, a norte-        governos estaduais e federal em relação aos agrotóxi-
-americana Monsanto foi autuada por omissão de in­             cos”, lembra Rigotto. Segundo a médica da UFC, em alguns
formações relacionadas ao processo de produção de seus         estados, como no Ceará, a isenção fiscal chega a 100%.
agrotóxicos; e, nas fábricas de todas as demais concorren-
tes – Dow AgroSciences, Nufarm, Milenia Agrociências,          Números envenenados_Ao longo da última déca-
Ilhabras, Sipicam Isagro Brasil e FMC Química do Brasil        da, o consumo de agrotóxicos no mundo cresceu 93%. Mas
– foram encontradas irregularidades análogas. Ao todo,         no Brasil, segundo a Anvisa, esse crescimento foi de 190%.
quase 10 milhões de litros de agroquímicos adulterados,        Hoje o país consome um quinto da produção mundial de
vencidos ou fora dos padrões de segurança e toxicidade         ‘defensivos agrícolas’ – eufemismo publicitário utilizado
exigidos pela Anvisa estavam prestes a ser destinados às       para amenizar a negatividade do termo ‘agrotóxico’.
lavouras brasileiras. Os procedimentos administrativos de         Na safra de 2011, nossa agricultura consumiu nada
autuação ainda estão em andamento.                             menos que 936 mil toneladas de insumos químicos, dos >>>


                                                                                                          296 | SETEMBRO 2012 | CIÊNCIAHOJE | 23
FOTO RICARDO AZOURY




                                                                                                   FOTO © FERNANDO BUENO / TYBA
                      Em 2006, o consumo médio de agrotóxicos era inferior a 7kg por hectare; em   Trabalhador manipula embalagens de agrotóxicos. Das 50 substâncias mais
                      2011, passou para mais de 10kg, aumento de 43,2%                             utilizadas em terras brasileiras, 24 já foram banidas em diversos países




                      quais 80% foram destinados a cultivos de soja, milho, algo-                  Agroecologia: um horizonte possível?_Pro-
                      dão e cana-de-açúcar. Na ponta do lápis, isso equivale a                     dutores e especialistas alinhados ao modelo convencional
                      cerca de 5 kg anuais de agrotóxicos per capita, que é, na                    de produção agrícola insistem: sem agrotóxicos seria im-
                      verdade, a média de consumo dos brasileiros ao longo dos                     possível alimentar uma população mundial em constante
                      últimos anos. Dados da Anvisa, levantados no Programa                        expansão. Esses venenos seriam, portanto, um mal neces-
                      de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, em                       sário. “Quem critica os agrotóxicos não lembra que a po-
                      2010, apontam que pelo menos um terço das 2.488 amos-                        pulação precisa comprar alimento a custos acessíveis”,
                      tras de frutas, verduras e legumes coletadas foram con-                      argumenta a senadora Kátia Abreu, principal voz do agro-
                      sideradas insatisfatórias. “Encontramos diversas irre-                       negócio no Brasil. “É a única forma de produzir alimento
                      gularidades, como quantidades de agrotóxicos muito                           barato, infelizmente.”
                      acima do permitido, presença de ingredientes ativos                              Nem todos concordam. O agricultor Fernando Ataliva,
                      inapropriados para a cultura em que foram detectados,                        de Indaiatuba (SP), garante que “não há nenhuma difi-
                      além de produtos proibidos pela legislação”, disse na épo-                   culdade técnica em se produzir alimentos orgânicos,
                      ca José Agenor Álvares da Silva, diretor da Anvisa.                          sem agrotóxicos, para alimentar a população”. Cita o exem-
                          Alerta máximo para o pimentão (teve 91% das amos-                        plo de seu sítio, mantido no sistema agroecológico, que
                      tras com níveis de toxicidade acima do permitido), mo-                       produz 300 toneladas anuais de alimento. Histórias seme-
                      rango (63%), pepino (57%), alface (54%) e cenoura (49%)                      lhantes estão reunidas no documentário O veneno está na
                      – o relatório completo está disponível no sítio da Anvisa.                   mesa, de Silvio Tendler, que traça um panorama amplo e
                                                                                                   atual da problemática no Brasil. Segundo Ataliva, “a huma-
                                                                          O tomate é uma das       nidade domina a agricultura há pelo menos 10 mil anos, e
                                                                    culturas agrícolas em que      o modelo imposto no século 20 vem apagando a herança
                                                                       são utilizadas grandes      e o acúmulo de conhecimento dos métodos tradicionais”.
                                                                   quantidades de agrotóxicos          A engenheira agrônoma Flavia Londres, da Assessoria
                                                                                                   e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA),
                                                                                                   no Rio de Janeiro, assina embaixo. Autora de recente obra
                                                                                                   de referência sobre o tema, ela defende que precisamos de
                                                                                                   outra estrutura agrária – baseada em propriedades me-
                                                                                                   nores, com produção diversificada e privilegiando mer-
                                                                                                   cados locais, contemplando a conservação da biodiversi-
                                                                                                   dade. “Monoculturas são grandes desertos verdes”, diz. “A
                        FOTO INGO MEYER / TYBA




                                                                                                   agroecologia, portanto, requer uma mudança paradig-
                                                                                                   mática no modelo agrário, que resultaria, na verdade, em
                                                                                                   uma mudança cultural.”


                      24 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
CIÊNCIAS AMBIENTAIS




                                                                               NA TERRA, NA ÁGUA, NO AR...
                                                                               No jargão da agronomia, é corrente o uso do termo ‘deriva técnica’. Trata-se
                                                                               da dispersão do agrotóxico que, após pulverizado, não atinge seu alvo
                                                                               – espalhando-se, portanto, pelo entorno das propriedades rurais pela ação
                                                                               dos ventos e das águas. Em seus cálculos, engenheiros agrônomos esti-
                                                                               mam que tal deriva é, em média, pelo 30%, podendo chegar, em muitos
                                                                               casos – especialmente nas pulverizações aéreas –, a 70%. Por isso, segun-
                                                                               do alguns, o chamado ‘uso seguro’ dos referidos insumos químicos não
                                                                               passa de um mito. “Afinal, não existe aplicação de agrotóxicos sem
                                                                               contaminação do ambiente que circunda a área tratada e, consequente­
                                                                               mente, das populações que trabalham ou vivem nesse entorno”, afirma
                                                                               a engenheira agrônoma Flávia Londres.




                                                                                                                                                                         FOTO CAROLINASMITH / VEER
    Comentando sobre a corrente comparação entre os                            descentralizados têm muito mais condições de produzir (e
dois mundos possíveis, Londres questiona: “Em termos                           distribuir) alimentos em quantidade e qualidade. “Mas
de capacidade de produção, não podemos comparar de                             confesso que o cenário é desfavorável”, lamenta. “Com as
igual para igual o agronegócio – que há décadas tem                            lideranças atuais, incluindo a bancada ruralista que man-
sido agraciado com benefícios econômicos e fiscais do to-                      da no Brasil, não devemos ir muito longe.”
dos os tipos – com os sistemas de produção alternativos                           Tal pessimismo é compartilhado por Rigotto. “Basta
 – que ainda são marginais e carecem de incentivo e polí-                      analisar os números oficiais”, sugere a médica da UFC.
ticas públicas expressivas”.                                                   O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), en-
    Mas a pergunta que não quer calar é: será que um mo-                       carregado das políticas agroecológicas, teve orçamento
delo dito ‘alternativo’ teria potencial para alimentar uma                     de R$ 16 bilhões em 2011; enquanto o MAPA, encarrega-
população que, até 2050, deverá chegar a 9 bilhões? “Cer-                      do de fomentar o agronegócio, teve nada menos que R$ 107
tamente tem muito mais potencial do que o agronegócio,                         bilhões. “É desproporcional”, comenta, mencionando que,
que, hoje, não dá conta de alimentar nem 7 bilhões”, re-                       enquanto a soma destinada ao agronegócio beneficia pou-
truca a engenheira. Segundo ela, sistemas de produção                          co mais de 5 mil empresas, o montante destinado à agricul-
                                                                               tura alternativa fomenta 32 milhões de trabalhadores ru-
                                                                               rais. Segundo Rigotto, o governo federal está determi-
                                                                               nado a priorizar o modelo de desenvolvimento agroex-
                                                                               portador baseado em mercadorias de baixo valor agrega-
    BREVE HISTÓRIA DO                                                          do, ainda que a altíssimos custos sociais e ambientais.

    MUNDO AGROQUÍMICO
    Dizem as más línguas que a indústria agroquímica é filha da indústria
    da guerra. Intriga da oposição? Não necessariamente. Tamanha a
    surpresa dos que navegam pela página virtual da Monsanto e acessam
                                                                                  Sugestões para leitura
    a informação nua e crua de que, sim, “a empresa fabricou o agente
    laranja de 1965 a 1969”. Junto com a Dow Chemical e outras corpora-           LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida.
    ções do setor – muitas das quais, hoje, atuam no ramo agrícola –, a           Rio de Janeiro: AS-PTA, 2011.
    Monsanto foi uma das fornecedoras de insumos que o governo norte-             PERES, F. (Org.) É veneno ou é remédio? Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003.
    -americano utilizava na guerra do Vietnã. Mas, finda a guerra, onde tais      HANNIGAN, J. Sociologia ambiental. Lisboa: Instituto Piaget, 1995.
    companhias encontrariam semelhante filão de mercado? A agricultura            ROBIN, M. Le monde selon Monsanto. Paris: Éditions La Découverte, 2008.
    despontava como promissor segmento de atuação.




                                                                                                                                296 | SETEMBRO 2012 | CIÊNCIAHOJE | 25

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica
Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológicaManejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica
Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológicaJoão Siqueira da Mata
 
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013Agroecologia
 
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicosJoão Siqueira da Mata
 
Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...
Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...
Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...Natália Lima
 
Cartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_webCartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_webMaria Da Penha Silva
 
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.Feab Brasil
 
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Feab Brasil
 
PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...
PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...
PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...João Siqueira da Mata
 
Proyecto InterFruta Universidad de Azores
Proyecto InterFruta Universidad de AzoresProyecto InterFruta Universidad de Azores
Proyecto InterFruta Universidad de AzoresPTMacaronesia
 
Aplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manualAplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manualPaulo Heroncio
 
Jornal Valor Econômico APTA - Banana
Jornal Valor Econômico APTA - BananaJornal Valor Econômico APTA - Banana
Jornal Valor Econômico APTA - BananaAgricultura Sao Paulo
 
Manejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no Brasil
Manejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no BrasilManejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no Brasil
Manejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no BrasilPNMF
 
Controle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificações
Controle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificaçõesControle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificações
Controle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificaçõesLeonardo Minaré Braúna
 
Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por agrotóxicos
Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicosEfeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos
Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por agrotóxicosJoão Siqueira da Mata
 
Espécies invasoras de PE
Espécies invasoras de PEEspécies invasoras de PE
Espécies invasoras de PEvfalcao
 

Was ist angesagt? (20)

Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica
Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológicaManejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica
Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica
 
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013Apresentação wanderlei pignati   cba agroecologia 2013
Apresentação wanderlei pignati cba agroecologia 2013
 
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
2013 boletim epidemiologico_monitoramento_agrotoxicos
 
Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...
Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...
Agrotóxicos e Trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador r...
 
Aprimorando a percepção
Aprimorando a percepçãoAprimorando a percepção
Aprimorando a percepção
 
Cartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_webCartilha defensivos alternativos_web
Cartilha defensivos alternativos_web
 
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
 
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
 
PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...
PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...
PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra d...
 
Proyecto InterFruta Universidad de Azores
Proyecto InterFruta Universidad de AzoresProyecto InterFruta Universidad de Azores
Proyecto InterFruta Universidad de Azores
 
Artigo bioterra v15_n1_02
Artigo bioterra v15_n1_02Artigo bioterra v15_n1_02
Artigo bioterra v15_n1_02
 
Aplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manualAplicacao agrotoxicos manual
Aplicacao agrotoxicos manual
 
Jornal Valor Econômico APTA - Banana
Jornal Valor Econômico APTA - BananaJornal Valor Econômico APTA - Banana
Jornal Valor Econômico APTA - Banana
 
Agricultura
AgriculturaAgricultura
Agricultura
 
Dossiê pe versão final 280309
Dossiê pe versão final 280309Dossiê pe versão final 280309
Dossiê pe versão final 280309
 
Manejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no Brasil
Manejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no BrasilManejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no Brasil
Manejo Sustentável de Moscas-das-Frutas no Brasil
 
Controle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificações
Controle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificaçõesControle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificações
Controle biológico de pragas e doenças, organismos de controle e especificações
 
Biodiversidade & Consumo
Biodiversidade & ConsumoBiodiversidade & Consumo
Biodiversidade & Consumo
 
Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por agrotóxicos
Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicosEfeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos
Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por agrotóxicos
 
Espécies invasoras de PE
Espécies invasoras de PEEspécies invasoras de PE
Espécies invasoras de PE
 

Ähnlich wie Brasil, maior consumidor de agrotóxicos do mundo

Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12João Siqueira da Mata
 
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambienteOs danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambienteSergio Adreliane
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoAgricultura Sao Paulo
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoAgricultura Sao Paulo
 
Agrotóxico MATA
Agrotóxico MATAAgrotóxico MATA
Agrotóxico MATAFETAEP
 
Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)
Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)
Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)Paula Brustolin Xavier
 
Panfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vida
Panfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vidaPanfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vida
Panfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vidacontraosagrotoxicospe
 
Caderno de formacao um
Caderno de formacao umCaderno de formacao um
Caderno de formacao umEliege Fante
 
Conversa sobre Agrotóxicos
Conversa sobre AgrotóxicosConversa sobre Agrotóxicos
Conversa sobre AgrotóxicosPET. EAA
 
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019Gazeta Santa Cândida
 
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019Adilson Moreira
 
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.pptApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.pptQUIMICAJAURU
 
Guerra conjunta à mosca dos-estábulos
Guerra conjunta à mosca dos-estábulosGuerra conjunta à mosca dos-estábulos
Guerra conjunta à mosca dos-estábulosRenato Villela
 
Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog ht...
Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog      ht...Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog      ht...
Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog ht...Rodrigo Penna
 

Ähnlich wie Brasil, maior consumidor de agrotóxicos do mundo (20)

Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
Agrotóxicos no brasil uso e impactos ao meio ambiente e a saúde pública dez 12
 
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambienteOs danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
 
Agrotoxico e meio ambiente -3ºA
Agrotoxico  e meio ambiente -3ºAAgrotoxico  e meio ambiente -3ºA
Agrotoxico e meio ambiente -3ºA
 
Agrotóxicos
AgrotóxicosAgrotóxicos
Agrotóxicos
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
 
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxicoO risco do mercado ilegal de agrotóxico
O risco do mercado ilegal de agrotóxico
 
Agrotóxico MATA
Agrotóxico MATAAgrotóxico MATA
Agrotóxico MATA
 
Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)
Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)
Posicionamento do inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15 (1)
 
Panfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vida
Panfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vidaPanfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vida
Panfleto campanha permanente_contra_os_agrotoxicos_e_pela_vida
 
Caderno de formacao um
Caderno de formacao umCaderno de formacao um
Caderno de formacao um
 
Caderno de formacao um
Caderno de formacao umCaderno de formacao um
Caderno de formacao um
 
Conversa sobre Agrotóxicos
Conversa sobre AgrotóxicosConversa sobre Agrotóxicos
Conversa sobre Agrotóxicos
 
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
 
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
GAZETA DO SANTA CÂNDIDA, AGOSTO 2019
 
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.pptApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
ApresentacaoAgrotoxicos.pptx.ppt
 
Dossie abrasco 02
Dossie abrasco 02Dossie abrasco 02
Dossie abrasco 02
 
Dossie abrasco 01
Dossie abrasco 01Dossie abrasco 01
Dossie abrasco 01
 
Campanha Brasil Inteligente - Contra o uso de agrotóxicos
Campanha Brasil Inteligente - Contra o uso de agrotóxicosCampanha Brasil Inteligente - Contra o uso de agrotóxicos
Campanha Brasil Inteligente - Contra o uso de agrotóxicos
 
Guerra conjunta à mosca dos-estábulos
Guerra conjunta à mosca dos-estábulosGuerra conjunta à mosca dos-estábulos
Guerra conjunta à mosca dos-estábulos
 
Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog ht...
Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog      ht...Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog      ht...
Aplicações das radiações à Agroindústria - Conteúdo vinculado ao blog ht...
 

Mehr von João Siqueira da Mata

Meditação para a Qualidade de Vida no Trabalho
Meditação para a Qualidade de Vida no TrabalhoMeditação para a Qualidade de Vida no Trabalho
Meditação para a Qualidade de Vida no TrabalhoJoão Siqueira da Mata
 
A Arte de se relacionar e a Meditação
A Arte de se relacionar e a MeditaçãoA Arte de se relacionar e a Meditação
A Arte de se relacionar e a MeditaçãoJoão Siqueira da Mata
 
Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...
Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...
Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...João Siqueira da Mata
 
Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1
Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1
Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1João Siqueira da Mata
 
Barbara marcianiakmensageirosdoamanhecer
Barbara marcianiakmensageirosdoamanhecerBarbara marcianiakmensageirosdoamanhecer
Barbara marcianiakmensageirosdoamanhecerJoão Siqueira da Mata
 
EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...
EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...
EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...João Siqueira da Mata
 
Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...
Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...
Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...João Siqueira da Mata
 
Como Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno Porte
Como Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno PorteComo Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno Porte
Como Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno PorteJoão Siqueira da Mata
 
Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01
Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01
Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01João Siqueira da Mata
 

Mehr von João Siqueira da Mata (20)

Meditação no Trabalho
Meditação no TrabalhoMeditação no Trabalho
Meditação no Trabalho
 
Meditação para a Qualidade de Vida no Trabalho
Meditação para a Qualidade de Vida no TrabalhoMeditação para a Qualidade de Vida no Trabalho
Meditação para a Qualidade de Vida no Trabalho
 
A Arte de se relacionar e a Meditação
A Arte de se relacionar e a MeditaçãoA Arte de se relacionar e a Meditação
A Arte de se relacionar e a Meditação
 
Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...
Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...
Workshop- Como gerenciar o estresse e melhorar a qualidade de vida através da...
 
E book terapia transgeracional
E book terapia transgeracionalE book terapia transgeracional
E book terapia transgeracional
 
Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1
Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1
Meditação e gerenciamento do stress no trabalho 1
 
Horta caderno2
Horta caderno2Horta caderno2
Horta caderno2
 
Barbara marcianiakmensageirosdoamanhecer
Barbara marcianiakmensageirosdoamanhecerBarbara marcianiakmensageirosdoamanhecer
Barbara marcianiakmensageirosdoamanhecer
 
Miolo transgenicos 29_07
Miolo transgenicos 29_07Miolo transgenicos 29_07
Miolo transgenicos 29_07
 
Mesa controversias web
Mesa controversias webMesa controversias web
Mesa controversias web
 
EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...
EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...
EFT –EMOTIONAL FREEDON TECHNIQUES. TÉCNICA DE LIBERTAÇÃO EMOCIONAL OU ACUPUNT...
 
Xxi n6 pt ciência para a vida
Xxi n6 pt ciência para a vidaXxi n6 pt ciência para a vida
Xxi n6 pt ciência para a vida
 
2 edicao gestao-sustentavel completo
2 edicao gestao-sustentavel completo2 edicao gestao-sustentavel completo
2 edicao gestao-sustentavel completo
 
Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...
Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...
Anvisa recebe dossê sobre impactos do 2,4-D e das plantas transgênicas associ...
 
HORTA EM PEQUENOS ESPAÇOS
HORTA EM PEQUENOS ESPAÇOSHORTA EM PEQUENOS ESPAÇOS
HORTA EM PEQUENOS ESPAÇOS
 
Curso eft andre_lima
Curso eft andre_limaCurso eft andre_lima
Curso eft andre_lima
 
O despertar da visão interior
O despertar da visão interiorO despertar da visão interior
O despertar da visão interior
 
Como Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno Porte
Como Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno PorteComo Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno Porte
Como Implantar e Conduzir uma Horta de Pequeno Porte
 
Manual de restauração florestal
Manual de restauração florestalManual de restauração florestal
Manual de restauração florestal
 
Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01
Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01
Livretolegislacaoambiental 120425103125-phpapp01
 

Brasil, maior consumidor de agrotóxicos do mundo

  • 1. PARAÍSO DOS AGROTÓXICOS Substâncias já proibidas em vários países encontram mercado fértil em terras brasileiras FOTO ©ISTOCKPHOTO.COM/DUŠAN KOSTI 20 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
  • 2. CIÊNCIAS AMBIENTAIS O Brasil é a lixeira tóxica do planeta. Desde 2008, somos os maiores consumidores globais de in- sumos químicos para agricultura. Mas, diante de uma balança comercial envaidecida por núme- ros sedutores, discutir os reveses desse modelo agrário tornou-se tabu. A eterna e robusta econo- mia agroexportadora, baseada em bens primários de baixo valor agregado, insiste em se reafirmar – ainda que assombrada por uma crise de percepção e acompanhada de temerosas dívidas sociais e ambientais. HENRIQUE KUGLER Ciência Hoje/RJ Brasil vive um drama: ao acordar do sonho de uma economia agrária pu- jante, o país desperta para o pesadelo de ser, pelo quinto ano consecuti- vo, o maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Balança comercial tinindo; agricultura a todo vapor. Mas quanto custa, por exemplo, uma saca de milho, soja ou algodão? Será que o preço de tais commodities – que há tempos são o motor de uma economia primária à la colonialis- mo moderno – compensa os prejuízos sociais e ambientais negligen- ciados nos cálculos do comércio internacional? “Pergunta difícil”, diz o economista Wagner Soares, do Instituto Brasi- leiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Bolsa de Chicago define o preço da soja; mas não considera que, para se produzir cada saca, são aplicadas generosas doses de agrotó- xicos que permanecem no ambiente natural – e no ser humano – por anos ou mesmo décadas. “Ao final das contas, quem paga pela intoxicação dos trabalhadores e pela contaminação ambiental é a sociedade”, afirma Soares. Em seu melhor economês, ele garante que as “externalidades negativas” de nosso modelo agrário continuam de fora dos cálculos. Segundo o economista do IBGE, que recentemente estudou propriedades rurais no Paraná, cada US$ 1 gasto na compra de agrotóxicos pode custar aos cofres públicos US$ 1,28 em futuros gastos com a saúde de camponeses intoxicados. Mas este é um valor subestimado. Afinal, Soares contabili- zou apenas os custos referentes a intoxicações agudas. Levando-se em conta os casos crônicos, acres- cidos da contaminação ambiental difusa nos ecossistemas, os prejuízos podem atingir cifras assus- tadoramente maiores. “Estamos há décadas inseridos nesse modelo agrário, e estudos mensurando seus reais custos socioambientais são raros ou inexistentes”, diz. >>> Trajando equipamentos de proteção, agricultor pulveriza agrotóxico em sua lavoura. Segundo economista do IBGE, cada US$ 1 gasto na compra de agrotóxicos pode custar aos cofres públicos US$ 1,28 em futuros tratamentos de saúde de camponeses intoxicados 296 | SETEMBRO 2012 | CIÊNCIAHOJE | 21
  • 3. Seja na agricultura familiar, seja nas grandes proprie- Veneno nosso de cada dia_Estão registrados dades rurais, “os impactos dos agrotóxicos na saúde pú- no mercado brasileiro 434 ingredientes ativos, que, com- blica abrangem vastos territórios e envolvem diferentes binados, resultam em pelo menos 2.400 formulações grupos populacionais”, afirma dossiê publicado em abril de agrotóxicos amplamente utilizadas em nossas lavou- pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), ras. O cardápio é eclético: inseticidas, fungicidas, herbi- entidade que reúne pesquisadores de diversas univer- cidas, nematicidas, acaricidas, rodenticidas, moluscidas, sidades do país. Milhares de casos de contaminação formicidas e por aí vai – os responsáveis pela regulação são registrados todos os anos pelo Sistema Nacional de e controle de tais produtos são os ministérios da Saúde Informações Tóxico-Farmacológicas, gerido pela Funda- (MS), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) ção Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Sistema de Notifica- e do Meio Ambiente (MMA). ções em Vigilância Sanitária, da Agência Nacional de Vi- Das 50 substâncias mais usadas em terras brasileiras, gilância Sanitária (Anvisa). Mas, segundo a Organização 24 já foram banidas nos Estados Unidos, Canadá, Europa Mundial da Saúde, para cada 50 quadros de intoxica- e, algumas, mesmo na Ásia. Atualmente, apenas 14 delas ção por agrotóxico no mundo, apenas 1 é notificado. estão em processo de reavaliação pela Anvisa – procedi- Não são apenas agricultores e suas famílias que inte- mento que se arrasta desde 2008. gram grupos de risco. Todos os milhares de profissionais Alguns notórios destaques: o endossulfam, amplamen- envolvidos no comércio e manipulação dessas substân- te utilizado em culturas de soja, café, algodão e cacau, é cias são potenciais vítimas. E, além deles, “todos nós, dia- sucesso de vendas no Brasil. Se as previsões da Anvisa se riamente, a cada refeição, ingerimos princípios ativos de concretizarem, seu uso será banido – como já é em 45 paí­ agrotóxicos em nossos alimentos”, garante a médica Ra- ses – até 31 de julho de 2013. É um provável desregulador quel Rigotto, da Universidade Federal do Ceará (UFC). endócrino, responsável também por danos irreparáveis ao O agricultor Jeferson Matias da Rosa, de Boa Vista das sistema reprodutivo. A cihexatina, empregada até muito Missões (RS), reafirma: “Hoje, todo mundo come veneno”. recentemente em plantações de café, laranja, maçã, mo- Nenhuma novidade até aqui. O que nem todos sabem rango e pêssego, também entrou para a lista negra da An- é que o Brasil é destino certo para insumos agroquímicos visa, e foi proibida somente no final de 2011. Carcinogêni- que, por elevados graus de toxicidade, já foram banidos em ca e neurotóxica, a substância é ilegal na Austrália, China, diversos países. Japão, Tailândia, Líbia, Paquistão, Canadá e Estados Uni- FOTO AS-PTA - PR Plantação de fumo no Paraná. Ao longo da última década, o consumo de agrotóxicos no mundo cresceu 93%. Mas, no Brasil, tal crescimento foi de 190% 22 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
  • 4. CIÊNCIAS AMBIENTAIS dos. Não menos emblemático é o caso do metamidofós, poderoso genotóxico e neurotóxico, já proibido na Euro- pa, China, Índia e Indonésia. Usado principalmente em plantações de alface e tomate, sua comercialização, A HISTÓRIA SE REPETE por aqui, só foi proibida em junho último. Uma viagem no tempo. O excerto Os demais 11 produtos na mira da Anvisa estão devi- que você está prestes a ler foi damente elencados no relatório da Abrasco, disponí- publicado em Ciência Hoje no vel no sítio da instituição – que lançou, recentemente, em distante ano de 1986 – e qualquer parceria com a Fiocruz e dezenas de instituições pelo coincidência com o presente será mera semelhança com a triviali- Brasil afora, o Abaixo-assinado por banimento de banidos. dade da história que não hesita A ideia é cobrar do governo federal a proibição dos prin- em se repetir. “Registram-se no cípios ativos já vetados em outros países. “É inaceitável Brasil, até hoje, produtos banidos que o Brasil continue sendo a grande ‘lixeira tóxica’ do de outros países; vendem-se, sem planeta”, lê-se no documento. restrições, substâncias proibidas; usam-se, fora dos padrões, vene- nos perigosos. E pouco se conhece Agroquímicas na casa da mãe Joana_Se os sobre as consequências: aciden- princípios ativos permitidos em lei já são motivo de preo- tes e casos de intoxicação são acompanhados de forma assimétrica cupação, o que dizer de agrotóxicos ilegais, adulterados e (...). É hora de reavaliar as condições de uso desses produtos, cujo fora da validade? Por mais escabroso que pareça, fiscali- consumo, altamente estimulado por sucessivos governos, saltou, em 10 anos, de 27 mil para 80 mil toneladas.” zações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Definitivamente, pouco mudou. Exceto pelo fato de que, em 2011, o Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Anvisa vêm, consumo de agrotóxicos no Brasil foi de 936 mil toneladas. nos últimos anos, sistematicamente encontrando, em propriedades rurais e nos estoques de indústrias agro- químicas em todo o Brasil, lotes de insumos fora dos pa- drões de segurança e toxicidade exigidos em lei. Fiscalizar insumos agrícolas é tarefa desafiadora. Se- Em fevereiro, o Ibama apreendeu 876 kg de agrotóxi- gundo o engenheiro e economista Victor Pelaez, da Uni- cos irregulares em São José do Rio Preto (SP). Além de versidade Federal do Paraná (UFPR), uma das maiores produtos vencidos e misturados de forma inadequada, dificuldades, no Brasil, é a “limitada quantidade de fun- os fiscais também encontraram brometo de metila – proi- cionários alocados na regulação de agrotóxicos”, mesmo bido no Brasil desde 1987, quando o país assinou o Pro- sendo o país o maior mercado para esses produtos. Em tocolo de Montreal, comprometendo-se a banir o uso da recente levantamento, Pelaez contabilizou que, ao to- substância, empregada em culturas de fumo e hortali- do, temos apenas 77 funcionários para dar conta de gerir ças. Ao todo, as multas aplicadas nas propriedades fis- e fiscalizar as atividades do setor em todo o território calizadas somaram R$ 91 mil. nacional (28 na Anvisa, 30 no Ibama e 19 no MAPA). Nos Fiscais da Anvisa não trouxeram melhores notícias. Estados Unidos, segundo maior mercado mundial de agro- Operações conduzidas entre 2009 e 2010, em diversos químicos, os quadros técnicos somam 620 funcionários. estados, encontraram irregularidades em todas as 10 fá- Comparando os dois países, o economista ainda cita bricas de agrotóxicos vistoriadas naquele período. A lista é outro dado passível de reflexão. Enquanto o registro de extensa: a empresa agroquímica suíça Syngenta, uma das ingredientes ativos, nos Estados Unidos, custa em média líderes mundiais do setor, guardava em seus estoques 1,15 US$ 630 mil, no Brasil é cerca de US$ 53 mil a US$ 100 milhão de litros de agrotóxicos adulterados, com direito mil. Além disso, os norte-americanos cobram valores pe- também a produtos vencidos; a alemã Bayer não ficou pa- riódicos de reavaliação, em torno de US$ 150 mil; enquan- ra trás, com 1 milhão de litros de insumos com fórmulas to, por aqui, as indústrias são isentas desse tipo de taxa. adulteradas; e sua conterrânea Basf apresentou 800 mil Falando em isenção, “é notável a generosidade dos litros de produtos irregulares. Enquanto isso, a norte- governos estaduais e federal em relação aos agrotóxi- -americana Monsanto foi autuada por omissão de in­ cos”, lembra Rigotto. Segundo a médica da UFC, em alguns formações relacionadas ao processo de produção de seus estados, como no Ceará, a isenção fiscal chega a 100%. agrotóxicos; e, nas fábricas de todas as demais concorren- tes – Dow AgroSciences, Nufarm, Milenia Agrociências, Números envenenados_Ao longo da última déca- Ilhabras, Sipicam Isagro Brasil e FMC Química do Brasil da, o consumo de agrotóxicos no mundo cresceu 93%. Mas – foram encontradas irregularidades análogas. Ao todo, no Brasil, segundo a Anvisa, esse crescimento foi de 190%. quase 10 milhões de litros de agroquímicos adulterados, Hoje o país consome um quinto da produção mundial de vencidos ou fora dos padrões de segurança e toxicidade ‘defensivos agrícolas’ – eufemismo publicitário utilizado exigidos pela Anvisa estavam prestes a ser destinados às para amenizar a negatividade do termo ‘agrotóxico’. lavouras brasileiras. Os procedimentos administrativos de Na safra de 2011, nossa agricultura consumiu nada autuação ainda estão em andamento. menos que 936 mil toneladas de insumos químicos, dos >>> 296 | SETEMBRO 2012 | CIÊNCIAHOJE | 23
  • 5. FOTO RICARDO AZOURY FOTO © FERNANDO BUENO / TYBA Em 2006, o consumo médio de agrotóxicos era inferior a 7kg por hectare; em Trabalhador manipula embalagens de agrotóxicos. Das 50 substâncias mais 2011, passou para mais de 10kg, aumento de 43,2% utilizadas em terras brasileiras, 24 já foram banidas em diversos países quais 80% foram destinados a cultivos de soja, milho, algo- Agroecologia: um horizonte possível?_Pro- dão e cana-de-açúcar. Na ponta do lápis, isso equivale a dutores e especialistas alinhados ao modelo convencional cerca de 5 kg anuais de agrotóxicos per capita, que é, na de produção agrícola insistem: sem agrotóxicos seria im- verdade, a média de consumo dos brasileiros ao longo dos possível alimentar uma população mundial em constante últimos anos. Dados da Anvisa, levantados no Programa expansão. Esses venenos seriam, portanto, um mal neces- de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, em sário. “Quem critica os agrotóxicos não lembra que a po- 2010, apontam que pelo menos um terço das 2.488 amos- pulação precisa comprar alimento a custos acessíveis”, tras de frutas, verduras e legumes coletadas foram con- argumenta a senadora Kátia Abreu, principal voz do agro- sideradas insatisfatórias. “Encontramos diversas irre- negócio no Brasil. “É a única forma de produzir alimento gularidades, como quantidades de agrotóxicos muito barato, infelizmente.” acima do permitido, presença de ingredientes ativos Nem todos concordam. O agricultor Fernando Ataliva, inapropriados para a cultura em que foram detectados, de Indaiatuba (SP), garante que “não há nenhuma difi- além de produtos proibidos pela legislação”, disse na épo- culdade técnica em se produzir alimentos orgânicos, ca José Agenor Álvares da Silva, diretor da Anvisa. sem agrotóxicos, para alimentar a população”. Cita o exem- Alerta máximo para o pimentão (teve 91% das amos- plo de seu sítio, mantido no sistema agroecológico, que tras com níveis de toxicidade acima do permitido), mo- produz 300 toneladas anuais de alimento. Histórias seme- rango (63%), pepino (57%), alface (54%) e cenoura (49%) lhantes estão reunidas no documentário O veneno está na – o relatório completo está disponível no sítio da Anvisa. mesa, de Silvio Tendler, que traça um panorama amplo e atual da problemática no Brasil. Segundo Ataliva, “a huma- O tomate é uma das nidade domina a agricultura há pelo menos 10 mil anos, e culturas agrícolas em que o modelo imposto no século 20 vem apagando a herança são utilizadas grandes e o acúmulo de conhecimento dos métodos tradicionais”. quantidades de agrotóxicos A engenheira agrônoma Flavia Londres, da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), no Rio de Janeiro, assina embaixo. Autora de recente obra de referência sobre o tema, ela defende que precisamos de outra estrutura agrária – baseada em propriedades me- nores, com produção diversificada e privilegiando mer- cados locais, contemplando a conservação da biodiversi- dade. “Monoculturas são grandes desertos verdes”, diz. “A FOTO INGO MEYER / TYBA agroecologia, portanto, requer uma mudança paradig- mática no modelo agrário, que resultaria, na verdade, em uma mudança cultural.” 24 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
  • 6. CIÊNCIAS AMBIENTAIS NA TERRA, NA ÁGUA, NO AR... No jargão da agronomia, é corrente o uso do termo ‘deriva técnica’. Trata-se da dispersão do agrotóxico que, após pulverizado, não atinge seu alvo – espalhando-se, portanto, pelo entorno das propriedades rurais pela ação dos ventos e das águas. Em seus cálculos, engenheiros agrônomos esti- mam que tal deriva é, em média, pelo 30%, podendo chegar, em muitos casos – especialmente nas pulverizações aéreas –, a 70%. Por isso, segun- do alguns, o chamado ‘uso seguro’ dos referidos insumos químicos não passa de um mito. “Afinal, não existe aplicação de agrotóxicos sem contaminação do ambiente que circunda a área tratada e, consequente­ mente, das populações que trabalham ou vivem nesse entorno”, afirma a engenheira agrônoma Flávia Londres. FOTO CAROLINASMITH / VEER Comentando sobre a corrente comparação entre os descentralizados têm muito mais condições de produzir (e dois mundos possíveis, Londres questiona: “Em termos distribuir) alimentos em quantidade e qualidade. “Mas de capacidade de produção, não podemos comparar de confesso que o cenário é desfavorável”, lamenta. “Com as igual para igual o agronegócio – que há décadas tem lideranças atuais, incluindo a bancada ruralista que man- sido agraciado com benefícios econômicos e fiscais do to- da no Brasil, não devemos ir muito longe.” dos os tipos – com os sistemas de produção alternativos Tal pessimismo é compartilhado por Rigotto. “Basta – que ainda são marginais e carecem de incentivo e polí- analisar os números oficiais”, sugere a médica da UFC. ticas públicas expressivas”. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), en- Mas a pergunta que não quer calar é: será que um mo- carregado das políticas agroecológicas, teve orçamento delo dito ‘alternativo’ teria potencial para alimentar uma de R$ 16 bilhões em 2011; enquanto o MAPA, encarrega- população que, até 2050, deverá chegar a 9 bilhões? “Cer- do de fomentar o agronegócio, teve nada menos que R$ 107 tamente tem muito mais potencial do que o agronegócio, bilhões. “É desproporcional”, comenta, mencionando que, que, hoje, não dá conta de alimentar nem 7 bilhões”, re- enquanto a soma destinada ao agronegócio beneficia pou- truca a engenheira. Segundo ela, sistemas de produção co mais de 5 mil empresas, o montante destinado à agricul- tura alternativa fomenta 32 milhões de trabalhadores ru- rais. Segundo Rigotto, o governo federal está determi- nado a priorizar o modelo de desenvolvimento agroex- portador baseado em mercadorias de baixo valor agrega- BREVE HISTÓRIA DO do, ainda que a altíssimos custos sociais e ambientais. MUNDO AGROQUÍMICO Dizem as más línguas que a indústria agroquímica é filha da indústria da guerra. Intriga da oposição? Não necessariamente. Tamanha a surpresa dos que navegam pela página virtual da Monsanto e acessam Sugestões para leitura a informação nua e crua de que, sim, “a empresa fabricou o agente laranja de 1965 a 1969”. Junto com a Dow Chemical e outras corpora- LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. ções do setor – muitas das quais, hoje, atuam no ramo agrícola –, a Rio de Janeiro: AS-PTA, 2011. Monsanto foi uma das fornecedoras de insumos que o governo norte- PERES, F. (Org.) É veneno ou é remédio? Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003. -americano utilizava na guerra do Vietnã. Mas, finda a guerra, onde tais HANNIGAN, J. Sociologia ambiental. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. companhias encontrariam semelhante filão de mercado? A agricultura ROBIN, M. Le monde selon Monsanto. Paris: Éditions La Découverte, 2008. despontava como promissor segmento de atuação. 296 | SETEMBRO 2012 | CIÊNCIAHOJE | 25