Semelhante a Minicurso: Racismos, Relações de Gênero e Ideologias Políticas nas Histórias em Quadrinhos: perspectivas de ensino e pesquisa - Parte 2 (20)
2. Meninas, HQs e Gênero
Meninas lêem quadrinhos,
mesmo os que não foram
feitos para elas.
Algumas abandonam os
quadrinhos quando crescem
ou porque não encontram
material de seu interesse.
As HQs ao representarem
as mulheres e meninas, e
ajudam a construir e
perpetuar papéis de gênero.
3. Mas o que é Gênero?
Gênero é uma categoria feminista que se
refere aos papéis femininos/masculinos em
uma determinada sociedade.
Segundo Joan W. Scott, trata-se de um “(...)
saber a respeito das diferenças sexuais. (...)
com o significado de compreensão
produzida pelas culturas e sociedades sobre
as relações humanas, no caso, relações
entre homens e mulheres. (...) saber é um
modo de ordenar o mundo e, como tal,
não antecede a organização social, mas é
inseparável dela”.
4. Rosa é para Meninas e Azul para
Meninos. Sempre foi assim?
A naturalização dos
papéis de gênero e das
suas “marcas”, faz com
que não questionemos
por quais motivos certas
coisas “são como são”.
A repetição e a
recitação naturalizam e
criam novas práticas e
deslocam antigas.
5. Rosa é para Meninas e Azul para
Meninos. Sempre foi assim?
Um artigo do Ladies’ Home
Journal de 1918 disse:
"A regra geralmente aceita
é cor de rosa para os
meninos, e azul para as
meninas. A razão é
que rosa, sendo uma
cor mais decidida e forte, é
mais adequado para o
menino, enquanto o azul,
que é mais delicado
e gracioso, é mais
bonito para a menina.”
6. Rosa é para Meninas e Azul para
Meninos
Mas tais representações já estão firmes no
imaginário social.
“O imaginário opera (...) em dois registros: o da
paráfrase, a repetição do mesmo sob outro
invólucro; e o da polissemia, na criação de
novos sentidos, de um deslocamento de
perspectivas que permite a implantação de
novas práticas. Assim, o imaginário (...) reforça
os sistemas vigentes/instituídos e ao mesmo
tempo atua como poderosa corrente
transformadora.” Tânia Navarro Swain
7. Feminizar é Preciso
Tutorial de desenho ensinando a desenhar uma
“abelha rainha”. O animal é carregado de marcas de
gênero como corações no abdômen e a cor lilás.
8. Feminizar é Preciso
Entender gênero como uma categoria histórica,
entretanto, é aceitar que gênero, compreendido como
uma forma de culturalmente configurar um corpo, está
aberto a contínua reconfiguração, e que “anatomia” e
“sexo” não estão dissociados de um enquadramento
cultural (...) A própria atribuição de feminilidade aos
corpos femininos como se fosse natural ou uma
propriedade necessária se dá dentro de um quadro
normativo no qual a atribuição de feminilidade aquilo
que é desprovido dela é um mecanismo de produção de
gênero nele mesmo. Termos tais como “masculino”e
“feminino” são notoriamente mutáveis; existe uma
história social atrelada a cada termo; seus significados
mudam radicalmente a depender das fronteiras
10. Questões de Gênero na Ordem do
Dia
O SECAD (Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação)
tem produzido uma série de materiais que tem como
objetivo discutir questões relacionadas com gênero,
identidade de gênero, sexualidade e orientação sexual,
que requerem a adoção de políticas públicas
educacionais que promovam a igualdade, pois: “A
escola e, em particular, a sala de aula, é um lugar
privilegiado para se promover a cultura de
reconhecimento da pluralidade das identidades e dos
comportamentos relativos a diferenças. Daí, a
importância de se discutir a educação escolar a partir
de uma perspectiva crítica e problematizadora, (...)”.
11. Marcas de Gênero nas HQs
Toda mídia (HQs, Cinema,
novelas, etc.) cria e/ou
reforça representações e
práticas.
No Brasil, as telenovelas
são o veículo de maior
amplitude nesse aspecto,
junto com o cinema norte
americano.
Vide a foto ao lado, do
filme A Mulher Gato.
12. Marcas de Gênero nas HQs
Através do que Teresa de Lauretis chama de
tecnologias de gênero, isto é, “(...) o conjunto
de efeitos produzidos em corpos,
comportamentos e relações sociais” são
criados homens e mulheres, com contornos
próprios e hierarquizados.
Isso não é natural, daí, a necessidade da
repetição.
Para Judith Butler, o gênero é performativo,
isto é, um efeito produzido pela atuação
contínua.
Por isso, a necessidade de repetir, reiterar,
13. Marcas de Gênero nas HQs
Características que podem
aparecer associadas ao
feminino:
1. Sexualização,
2. Futilidade,
3. Debilidade física,
4. Infantilização,
5. Narcisismo,
6. Instabilidade emocional,
7. Irracionalidade, Fonte:
http://eschergirls.tumblr.com
8. etc.
14. Marcas de Gênero nas HQs
Tais características podem aparecer em HQs
de qualquer origem.
São bem comuns em material que tem o
público masculino como principal alvo.
O que no Ocidente significa em boa parte dos
quadrinhos comerciais.
Parecer sexy e atraente (*ao olhar
masculino*) é a função das personagens
femininas.
Por conta disso temos poses impossíveis
(*por questões de anatomia*) e roupas
“inadequadas”.
15. Poses e Uniformes “Impossíveis”
Psyloch em uma típica pose “butt-boobs”.
16. Poses e Uniformes “Impossíveis”
Mais uniformes e poses impossíveis.
18. Poses e Uniformes “Impossíveis”
Gunbuster é um dos
casos japoneses de
uniformes absurdos.
A série de ficção
científica produzida na
época do auge da
aeróbica, as meninas-
piloto usavam roupas
de aeróbica.
Os pilotos usavam
macacões tradicionais.
19. Poses e Uniformes “Impossíveis”
• O site Escher Girls faz
um excelente trabalho
discutindo a misoginia na
representação das
mulheres no quadrinho.
• Um dos objetivos do site
é apontar os problemas
de anatomia resultante da
sexualização compulsória
das persoangens.
20. Poses e Uniformes “Impossíveis”
• Um dos pôsteres do filme Os Vingadores foi
muito criticado por reforçar estereótipos.
21. Poses e Uniformes “Impossíveis”
• A crítica feita pelo artista Kevin Bolk.
22. Corpo: Metáfora da Cultura
• Sobre o corpo, Susan Bordo escreveu:
• “O corpo — o que comemos, como nos vestimos,
os rituais diários através dos quais cuidamos dele
— é um agente da cultura. (...) é uma poderosa
forma simbólica, uma superfície na qual as normas
centrais, as hierarquias e até os comprometimentos
metafísicos de uma cultura são inscritos e assim
reforçados através da linguagem corporal concreta.
O corpo também pode funcionar como uma
metáfora da cultura (...) uma imagem mental da
morfologia corporal tem fornecido um esquema
para o diagnóstico e/ou visão da vida social e
política.” Além disso, o corpo é “(...) um lugar
prático direto de controle social”.
23. Corpo: Metáfora da Cultura
• Independente da editora, da heroína, desde
pelo menos a segunda metade dos anos 1980,
há um padrão de representação das mulheres.
24. Corpo: Metáfora da Cultura
• A sexualização também ocorre nos mangás.
A maior diferença é que as heroínas tendem a
ser adolescentes, como em Evangelion.
25. Corpo: Metáfora da Cultura
• Christopher Hart ensina a desenhar corpos
femininos e masculinos.
26. Corpo: Metáfora da Cultura
• Representada sempre
como uma mulher
obesa, Waller foi foi
interpretada no cinema
pela magra Angela
Basset.
• Com o reboot do
Esquadrão Suicida da
DC Comics, Amanda
agora é magra e
voluptuosa.
• Trata-se de uma
adequação à norma.
27. Corpo: Metáfora da Cultura
• Os padrões de beleza, no entanto, não são “naturais”.
No entanto, em uma sociedade patriarcal, o corpo
feminino deve se pautar pelo olhar masculino..
28. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
Neste volume de
Turma da Mônica
Jovem é possível
perceber a HQ como
uma “tecnologia de
gênero” em ação.
Destaca-se que a
edição tem um
caráter
assumidamente
pedagógico.
29. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
A edição no5 foi a
escolhida para ser
publicada em inglês
e espanhol.
Apesar do caráter
didático, a edição
reforça estereótipos
e ajuda a reforçar
que as meninas (e só
elas)
devem/precisam se
preocupar com sua
aparência.
30. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
É a mãe quem toma a
palavra, a mulher
adulta ensinando às
jovens “o que é ser
uma menina”. Se ela
está dizendo, deve
ser verdade.
A edição inteira é
dedicada às meninas,
os garotos não tem o
que dizer sobre si
mesmos.
31. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
Segue então a história que serve para
apresentar a personagem Denise:
1. Garotas amam se maquiar – “Antes de sair
e arrasar tem que se produzir”.
2. Garotas amam ganhar presentes ou
comprar.
3. Não há nada melhor do que dividir bons
momentos com suas amigas – “amigas
renovam nossas energias”.
4. Qual garota não ama fazer compras?
32. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
5. Que garota não ama ir ao cabeleireiro?
6. Jóias!! Garotas amam joias! – “Tudo o que
brilha atrai a atenção de uma mulher”.
7. Garotas amam perfumes.
8. Garotas amam ler tudo! – “moda, beleza e
comportamento, alimentação, fofocas”.
9. A Sobremesa
10. Que garota não gosta de receber flores?
11. E garotas amam garotos.
33. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
•A apologia ao
consumismo marcam
os pontos 2, 4, 6 e7.
• As mulheres são
apresentadas como
economicamente
dependentes ou, pior,
como aquelas que não
gastam o seu próprio
dinheiro, mas o do pai
ou parceiro.
34. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
Comprar é uma fonte
de prazer feminino.
Mulheres e meninas
tem prazer em estar
juntas com este
objetivo.
A fala de Denise
“Simples, é sua mente,
mulher” se remete a
naturalização de algo
que é aprendido.
35. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
Há a percepção na
mudança nas práticas
de consumo.
A mãe de Mônica,
mulher adulta, fala em
jóias, mas meninas têm
múltiplos interesses.
Ainda assim, a noção
de “natureza” não é
questionada.
36. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
Meninas amam ler,
mas aquilo que lêem
está dentro do círculo
de seus interesses
naturais.
Meninas não gostam
de estudar.
O humor reforça o
ridículo que é uma
menina se interessar
por física ou mesmo
história.
37. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
“Tudo a seu tempo”, diz
a mãe. No entanto,
aos 15 anos, estudar
deveria ser algo
importante.
Se as meninas têm
uma natureza, os
meninos também têm.
Eles lêem menos, mas
o que as meninas lêem
é cultural e socialmente
menos importante.
38. “Onze coisas que as meninas amam”
Turma da Mônica Jovem – Edição 5
A ênfase consumitsa
permeia toda a história.
O culto à aparência
marca os pontos 1, 5, 6,
7, 9. Somados aos
pontos 10 e 11 temos o
objetivo: atrair e agradar
os homens.
Meninas poderiam se
juntar para outras
coisas, como praticar
esportes, por exemplo.
39. Discussão de Gênero nas HQs
Enquanto alguns materiais reforçam
estereótipos de gênero, Outros questionam e
refletem sobre eles.
É o caso de Aya de Yopougon, incluído no
Programa Nacional Biblioteca da
Escola (PNBE) 2012.
40. Discussão de Gênero nas HQs
Além de discutir papéis de gênero, Aya de
Yopougon, de Marguerite Abouet, tem um
recorte autobiográfico e mostra uma África para
além dos estereótipos raciais.
41. Discussão de Gênero nas HQs
• Aya tem amigas, se preocupa com sua aparência, mas
tem horizontes amplos.
• Ela deseja ser médica em uma sociedade na qual o
estudo para as mulheres não é uma prioridade.
42. Discussão de Gênero nas HQs
• Questões
abordadas em
Aya de
Yopougon não
são estranhas
ao contexto
brasileiro e
podem ser
utilizadas para
discussão em
sala de aula.
43. Discussão de Gênero nas HQs
• Outro material muito
rico para discussões
sobre papéis de gênero
utilizando HQs é
Persépolis de Marjane
Satrapi.
• Na falta da HQ, a
animação surge como
uma boa opção.
44. Discussão de Gênero nas HQs
• Engana-se quem pensa
que Persépolis fala
somente do Irã ou da
“opressão do Islã”.
• A HQ fala da falta da
apropriação dos corpos
das mulheres.
• A violência se
justificando, pela roupa
que estão vestindo, ou
simplesmente por
serem mulheres.
45. Discussão de Gênero nas HQs
• Usando Persépolis é
possível discutir com
adolescentes como as
mulheres podem
discriminar as próprias
mulheres, as pressões
do grupo sobre o
indivíduo, ou como a
prática sexual ou
orientação sexual não
deve ser usada como
fator de discriminação.
46. Considerações Finais
As HQs ajudar a perpetuar ou
transformar as relações de
gênero.
É possível refletir sobre essas
questões e divertir ao mesmo
tempo.
Meninas são leitoras de todo
o tipo de HQs e precisam ser
reconhecidas como tal.
É preciso questionar
estereótipos, HQs podem
servir para excluir ou incluir as
meninas e mulheres.
47. REFERÊNCIAS Bibliográficas
When Did Girls Start Wearing Pink?
http://www.smithsonianmag.com/arts-culture/When-Did-Girls-
Start-Wearing-Pink.html
BORDO, Susan. O corpo e a reprodução da feminidade: uma
apropriação feminista de Foucault in Gênero, corpo e
conhecimento. In: ___, JAGGAR, Alison M. Gênero, Corpo e
Conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.
SCOTT, Joan. Prefácio a Gender and Politics of History.
Cadernos Pagu (3) 1994, p. 11-27.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero – Feminismo e
Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003.
___. Undoing gender. New York: Routledge, 2004.
LAURETIS, Teresa. ___. A Tecnologia do Gênero. in:
HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Tendências e Impasses –
O Feminismo como Crítica da Cultura. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994, p. 206-242.
ESCHER GIRLS: http://eschergirls.tumblr.com/