O documento discute o sujeito discursivo contemporâneo através do exemplo do sujeito da pichação. Analisa como o Estado individualiza sujeitos capitalistas e como o sujeito pichador, ligado à sociedade da qual faz parte, busca um lugar através de sua escrita nas paredes, resistindo à sua individualização. Questiona até que ponto essas formas de resistência podem afetar a forma histórica do sujeito.
2. INTRODUÇÃO
“O sujeito discursivo implica a
relação do simbólico com o
político” (p. 11)
“Como exemplo do sujeito
contemporâneo, a análise do
sujeito da pichação” (p. 16)
3. Para Francine Mazière “a questão do sujeito,
organizada pela ideologia e pelo inconsciente
pode ser mais completamente explorada.”
Ressalta a variedade de produções no Brasil, seu
corpora diversificados e como é constante “o
cuidado em pensar um lugar do sujeito, na difícil
(impossível) localização, ou na perda de
localização e de posição.” (2007,p.66)
As análises em AD são capazes de fazer emergir
teoricamente novos elementos;
Não era a questão do sujeito que Orlandi visava,
apesar de ser recorrente em seus estudos. É então
que surge a necessidade de uma síntese dessas
recorrências: Do sujeito no histórico e no simbólico.
4. Em Pêcheux - o indivíduo é interpelado em
sujeito pela ideologia;
Em Orlandi - ao inscrever-se na língua o
indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia,
daí resultando uma forma sujeito histórica.
É no pressuposto de interpelação que a teoria
materialista do discurso critica as duas formas de
evidências – constituição do sujeito e do sentido do
discurso – da filosofia idealista da linguagem
(pensamento filosófico-linguístico dominante no início
do século XX:
o subjetivismo idealista: A enunciação partiria do
interior para o exterior do sujeito, a linguagem é uma
representação fiel daquilo que existe na mente
humana;
O objetivismo abstrato: Há o domínio da estrutura
linguística sobre o sujeito.
5. “O sujeito se submete à língua mergulhado em
sua experiência de mundo e determinado a
significar-se. E o faz em um gesto, um movimento
sócio-historicamente situado, em que se reflete
sua interpelação pela ideologia.” (p.12)
“A materialidade dos lugares dispõe a vida dos
sujeitos e, ao mesmo tempo a resistência desses
sujeitos constitui outras posições que vão
materializar novos (ou outros) lugares. (...) Como
se dá a resistência?” (p.12)
6. Na interpelação não há separação entre
exterioridade e interioridade, mas para o sujeito
sim, e é nessa evidência que ele constrói a ilusão
de ser a origem do dizer e da literalidade do
sentido;
Essa ilusão se assenta no des-conhecimento de
um duplo movimento na compreensão da
constituição do sujeito:
I – Da interpelação do indivíduo em sujeito pela ideologia
(assujeitamento) resulta a forma sujeito é histórica com sua
materialidade;
II – Em um novo movimento em relação aos processos
identitários e de subjetivação, é agora o Estado, com suas
instituições e as relações materializadas pela formação social
que lhe corresponde que individualiza a forma-sujeito
histórica(...) (p.13)
O SUJEITO CAPITALISTA: UM
EXEMPLO
7. QUEM É ESSE SUJEITO
INDIVIDUALIZADO?
“Uma vez interpelado em sujeito pela ideologia em um
processo simbólico, o indivíduo, agora como sujeito,
determina-se pelo modo como, na história, terá sua forma
individual concreta (...) temos o sujeito indiviloalizado,
caracterizado pelo percurso bio-psico-social. O que fica de
fora quando se pensa o sujeito já idividualizado é
justamente o simbólico, o histórico e a ideologia, que
tornam possível a interpelação do indivíduo em sujeito.”
(p.13)
Pode o sujeito, ao resistir aos processos de sua
individualização afetar a forma-histórica do
sujeito e por aí chegar até mesmo a atingir seu
modo de interpelação?
8. DOIS EXEMPLOS
A língua nacional (submissão do sujeito ao modo
como o Estado o individualiza):
Noção de sujeito de direito (p.14)
Em relação à Gramática, não é em seu conteúdo mas no
modo como se estrutura seu discurso em função de um
sujeito de conhecimento que se encontra a marca da
interpelação. (O sujeito que deve se relacionar com o
saber a língua). (p.14)
A gramática em seu processo de produção faz muito
mais do que ser um lugar de conhecimento ou norma.
Ela é a forma da relação da língua com a sociedade na
história (...) o sujeito não pode resistir à língua sem ser
marginalizado ao cair fora da norma. (lugar de
resistência)
9. ENTEDENDO O PROCESSO SOCIAL
Segundo Schaller (2001) a questão do século XXI
é viver juntos ao mesmo tempo iguais e
diferentes;
(p.15)
Ver alguns pontos do texto. (p.15)
10. “[...] nessa perspectiva que tomamos, como
exemplo do sujeito contemporâneo, a análise do
sujeito da pichação e o modo como ele enfrenta
sua dificuldade através da simbolização.”(p. 16)
11. Referência: o quadro urbano (a escrita).
“como a cidade se significa, ou seja, como o social
se constitui” (p. 16) imaginário contemporâneo
Nesse espaço acima, encontramos o sujeito e os
seus modos de significar(-se).
12. Para tanto, reflete a relação escrita e o espaço
urbano contemporâneo através do muro como um
gesto que significa socialmente.
“Não se pode pensar a linguagem como se ela
estivesse separada do seu meio natural, das suas
condições, da conjuntura em que aparece”.(p. 16-
17)
Pensar nas manifestações de linguagem, na
organização da linguagem em relação à
organização do espaço de significação.
13. A pichação vista como inscrições indecifráveis
(grifo da autora), mas “o indecifrável, o
ininteligível que faz sentido” (p. 17).
A escrita da década de 60 ≠ A escrita do sujeito
capitalista (FDs diversas)
“Não são o mesmo recorte da ideologia ainda que
sejam igualmente contestatórias. Isso é a história
e o político.” (p. 17)
14. “O pichador elabora seu sistema e não se
submete ao parâmetro do certo/errado, da norma
escolar. Ele resiste com sua letra indecifrável,
fazendo deslizar sua escritura, produzindo um
efeito metafórico da letra, produzindo um sistema
de escrita urbano. Sua ilegitimidade é então
construída em outro lugar: o direito de usar
(sujar) ou não os muros.” (p. 17)
15. O Estado
individualiza
sujeitos capitalistas
O sujeito pichador
ligado à sociedade de que fazem parte
(o sujeito capitalista e o sujeito pichador)
“busca um lugar num movimento de fora para dentro”
16. Pichação enquanto comunicação
“Há uma ordem significante e há sujeitos que
significam [...] irrompem com o social.” (p. 18)
Análise: “Eu sou periferia” Identificação do
sujeito com o lugar, sendo este discursivo e não
puramente como lugar social.
17. Revuz (1997)
modos do desemprego de significar-se o “ter”
“Ter um emprego (colocação) é ter seu lugar entre
os outros e encontrar-se assim intimado a
elaborar uma maneira de ser com os outros”
(p.18) = encontrar seu lugar discursivo
18. “Se observarmos o sujeito, para além de sua adaptação a
comportamento e a sistemas de representação já dados na
realidade social, (1) é preciso perguntar como esses
elementos do mundo social (individualização pelo
Estado) existem para o sujeito enquanto
representações psíquicas inconscientes, ideológicas, e
(2) como podem ser objetos de identificação, no
sentido discursivo do termo. É preciso então atentar
para a desigualdade que existe segundo o “lugar” a que
pertencemos com sua visibilidade social. Essa visibilidade
jogando sobre os outros mas sobretudo sobre o próprio
sujeito, em seus processos de identificação, e em termos de
retorno da imagem sobre a pessoa: que retorno acolhe
aquele que enuncia “eu sou periferia”? Como podemos ver,
há uma relação complexa ideologicamente na
identificação, que afasta e que aproxima. Que cria
distância e que cria vínculo. São esses processos que
vemos mobilizados na pichação.” (p. 18) (numeração e grifos
nossos)
19. Palavras-chaves: individualização e identificação.
“Em um movimento que contraria a relação de
mão única com que o Estado o individualiza
enquanto forma sujeito histórica, a do
capitalismo, atado com seu corpo ao social, sem
lhe dar condições de realizar vínculos, o sujeito
pichador contraditoriamente produz um gesto
social.” (p. 19)
“Essa é uma forma de resistência entre outras.”
(p.19)
20. “Até que ponto
essas formas de resistência
são capazes de afetar
a forma histórica do sujeito?” (p.
19)
21. “Certamente esse gesto em si pode apenas afetar
a forma de individualização do sujeito e não
atingir a forma histórica do sujeito. Para isso é
preciso que ecoe na história e deixe de ser apenas
uma repetição para ser ruptura.” (p. 19)
Birman
- Número de pichações é importante (repetições)
- O risco do sujeito pichador “(...) resiste ao não-
sentido e busca a simbolização.” (p.20)
22. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo dialoga com a psicanálise: Revuz e
Birman.
“Mas chegar-se a articular o verdadeiro a
propósito das materialidades discursivas
acompanham-se de deslocamentos de
fronteiras entre as disciplinas, afetando
profundamente seu regime de verdade, enquanto
elas (as disciplinas) são provocadas por suas
margens, ou em suas margens (M. Pêcheux,
1981).” (p. 20) (grifo nosso)
23. “São estas margens que roçamos o tempo todo
quando trabalhamos com discurso. E como diz M.
Pêcheux (idem) tocar este triplo real da língua, da
história, do inconsciente, sem pressupor uma
teoria mais ou menos geral do objeto do discurso,
exige explorar a rede de questões que aí circulam:
nossos terrenos de encontros problemáticos. Para a
análise de discurso fica o encargo de trabalhar com a
noção de ideologia que é o vestígio desse
encontro de terrenos problemáticos. E é com a
ideologia que, na análise de discurso, tratamos de
questões como a falta e o resto (o a-mais, o que
excede), ambos derivando do fato de que há
versões, de que a diferença faz sentido na
repetição, de que não existe uma separação estanque
e inequívoca entre paráfrase e polissemia. Daí,
pensarmos o sujeito, a linguagem, a história, em
seu movimento, em suas rupturas e em seus
deslocamentos.” (p. 20) (grifos nossos)