1. GERONTOLOGIA
v. 9 - n. 1
São Paulo
jun., 2006
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2. GERONTOLOGIA
v. 9 - n. 1
revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277
ISSN 1516-2567
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3. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri/PUC-SP“
Revista Kairós : gerontologia / Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento. Programa de Estudos
Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP. Ano 1, n. 1 (1998) – São Paulo : EDUC, 1998-
Anual até 2000
Semestral a partir de 2001 (v. 4, n. 1)
Cadernos Temáticos: Estética e envelhecimento (2002); Psicogerontologia: contribuições da psicanálise
ao envelhecimento (2002)
ISSN 1516-2567
1. Gerontologia – Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Núcleo de Estudo e Pesquisa
do Envelhecimento (NEPE). Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia.
CDD 618.97005
Publicação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP
Indexada no Index Psi Periódicos (www.bvs-psi.org.br) e na base de dados LILACS – Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde/BIREME.
Editoras Responsáveis
Beltrina Côrte
Suzana A. Rocha Medeiros
Editora Assistente
Vera T. Brandão
Secretária
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Conselho
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Promotion (NPH) World Health Organization, Geneva), Andre Chevance (Université de Picardie
Jules Verne/Faculté de Philosophie Sciences Humaines et Sociales), Anita Liberalesso Neri (Uni-
camp), Diana Singer (Universidad Maimónides/Argentina), Ecléa Bosi (USP), Edvaldo
Souza Couto (UFBA), Jack Messy (Université Paris 12/França), José Ferreira-Alves (Univer-
sidade do Minho/Portugal), Maria de Lurdes Quaresma (Gerontologia Social do ISSSL/Portugal),
Marília Smith (Unifesp/EPM), Nara Costa Rodrigues (ANG), Sára Nigri Goldman (UFRJ), Sergio
Antonio Carlos (UFRS), Teresinha da Silva (Harvard University), Vani Moreira Kenski (USP)
Pareceristas
A cada 8 volumes, divulgar-se-á a lista dos pareceristas.
EDUC – Editora da PUC-SP
Direção Revisão de Textos em Inglês
Marcos Cezar de Freitas Carolina Siqueira M. Ventura
Coordenação Editorial Editoração Eletrônica
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4. Revista Kairós
A revista Kairós, surgida em 1998, é o resultado da dedicação e do empenho
de um grupo de pesquisadores ligados ao Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento
(Nepe) e ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, da PUC-SP com ,
o objetivo de publicar estudos relacionados ao tema envelhecimento.
Ela funda-se na interdisciplinaridade, pretendendo romper com concepções
estereotipadas e fragmentadas. Seu propósito primordial concentra-se na busca de uma
visão de síntese, considerando a velhice como totalidade.
Pretende ser um veículo de divulgação de um novo saber relativo ao processo de
envelhecimento e da velhice e está aberta à participação de todos os estudiosos que, com
suas reflexões, ajudem a superar a carga pejorativa que tem acompanhado essa etapa da
vida humana.
O nome dado à revista é uma homenagem ao professor Joel Martins, que demons-
trou com sua vida que o ser humano pode sempre se desenvolver. Que não somos apenas
Cronos, um tempo determinado, mas Kairós, energia acumulada pelas experiências
vividas.
Em 2001, a revista, que era anual, passa a ser semestral e, a partir de então,
toda a edição lançada em junho ganha uma apresentação editorial diferenciada, uma
vez que sempre será a socialização dos resultados obtidos, sistematizados e impressos das
Semanas de Gerontologia, eventos realizados anualmente pelo próprio Programa e
que fazem parte de um novo método de trabalho acadêmico, a partir da troca de idéias
e a permanência da crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a longevidade.
Portanto, um dos números, sempre o ímpar (n. 1), da revista, que tem a intenção
de resgatar e atualizar o papel da teoria a partir de debates, mesas-redondas, depoimen-
tos, histórias de vida, etc., em uma perspectiva interdisciplinar, terá um formato editorial
diferente, não diferindo, contudo, no plano da preocupação teórico-intelectual das revis-
tas científicas em Ciências Humanas, que incluem artigos, pesquisas, resenhas, como se
enquadra a edição número par da revista Kairós.
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5. Caderno Kairós
O Caderno Temático da revista Kairós é mais uma modalidade de apresentação
dos trabalhos desenvolvidos no Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia,
da PUC-SP. Ele nasce com a intenção de ser um veículo de fácil circulação, ágil e de
leituras temáticas, buscando refletir sobre as múltiplas dimensões do envelhecimento e da
velhice vivida.
Longe de representar qualquer solução de continuidade ante o perfil já consagra-
do da revista, o lançamento de edições centradas na análise e reflexão de temas específicos é
uma resposta, do Programa, às demandas explicitadas, em várias ocasiões, por alunos,
professores e por muitos dos que participam das atividades promovidas pelo Nepe.
Dentre os objetivos dos números temáticos, ocupa lugar central a socialização dos
exercícios interdisciplinares realizados por diversas atividades do Programa, alicerçados
em três dimensões da existência humana – Família, Comunidade e Estado. Espaços
especialmente ricos, criativos e estimulantes que buscam a edificação de um novo saber
sobre a velhice e o processo de envelhecimento. Exercícios que vêm perseguindo, ao longo
do tempo, a difícil tarefa de promover a superação das tradicionais fronteiras que separam
e isolam os saberes específicos.
Por isso, os artigos reunidos em cada número do Caderno Temático da revista
Kairós devem ser pensados como parte de um movimento que, estreitamente afinado às
diretrizes que norteiam o Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia,
orienta-se na e pela construção de um pensamento complexo. De um pensamento que,
em nome da recomposição do todo, sabe, como bem salientou Edgar Morin, que não é nem
onisciente, nem completo, nem certo; que é sempre local, situado que está em um tempo e
um lugar.
As opiniões emitidas não expressam necessariamente a posição da revista/caderno.
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
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6. Política editorial
A revista Kairós tem se consolidado como um veículo de divulgação de
um novo saber relativo ao processo de envelhecimento, promovendo uma outra
percepção da velhice, a qual procura entender o sentido dessa etapa da vida
humana muito além das fronteiras da biologia, da genética e da fisiologia.
A proposta editorial da revista/caderno temático Kairós funda-se, por-
tanto, na interdisciplinaridade a partir da troca de idéias e do exercício da crítica
intelectual ante os desafios que nos impõe a velhice como totalidade e a lon-
gevidade, concentrando-se na busca de uma visão de síntese, uma vez que se
orienta na e pela construção de um pensamento complexo.
A publicação periódica de artigos que trazem o universo novo de conhe-
cimento gestado pela Gerontologia e que fazem uma reflexão sobre essas
etapas da existência humana tem resgatado e atualizado o papel da teoria a
partir de debates, mesas-redondas, depoimentos, histórias de vida, relatos, além
de artigos, pesquisas e resenhas.
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7. Editorial 9
Sumário
Editorial ....................................................................................... 13
Artigos
Gerontologia e Gerontologia Social: contributos para a análise
de um percurso ............................................................................. 19
(Gerontology and Social Gerontology: contributions
to the analysis of a pathway)
Maria de Lourdes Quaresma
O papel das convenções da ONU na elaboração de uma
cultura gerontológica ................................................................... 43
(The role of the UN’s conventions in the elaboration
of a gerontological culture)
Anna Cruz de Araujo Pereira da Silva
Oficina de reflexão temática / Thematic reflection workshop
Aposentadoria: agonia ou êxtase? ................................................. 59
(Retirement: agony or ecstasy?)
Délia C. Golfarb, Regina Pilar G. Arantes e Vera Brandão
revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277
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8. 10 Editorial
Se parar de trabalhar eu morro: o lugar do trabalho na vida
de idosos que participam do mercado informal .............................. 85
(If I stop working, I die: the role of work in the life
of the elderly that participate in the informal market)
Rosa Maria da Exaltação Coutrim
Por que contratar idosos? Um estudo de caso da Festiva .............. 107
(Why should companies hire elderly workers? A case study
of Festiva)
Ana Maya Goto Uyehara e Beltrina Côrte
Segurança social do idoso: a relação entre Previdência
e Assistência Social ..................................................................... 123
(The elderly’s social safety: The relation between Social
Security and Social Services)
Ademir Alves da Silva
Alternativas possíveis para a Previdência ..................................... 149
(Possible alternatives for Social Security)
Adriano Biava e Wagner Balera
A aposentadoria como atividade financeira.................................. 175
(Retirement as a financial activity)
Evaldo Vieira
Perfil previdenciário de idosos internados em um hospital
da rede pública da cidade de São Paulo ....................................... 197
(Social welfare profile of elderly patients at a public hospital
in the city of São Paulo)
Arlete Camargo de Melo Salimene, Bernadete Oliveira, Claudia Cristina
Mussolini, Rosângela Novembre, Débora Zagabria, Ilka Custódio, Maria
Angélica Schlickmann Pereira Hayar, Soraya Maitins Alencar, Ursula
M. Karsch e Viviane Bianco
revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277
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9. Editorial 11
Previdência é notícia ................................................................... 221
(Social welfare is news)
Ana Maria Ramos Sanchez Varella e Viviam Cristina H. Lemos
Anais ......................................................................................... 233
(Proceedings)
Normas para publicação .......................................................... 275
revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277
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10. Editorial 13
Editorial
A questão do envelhecimento é uma dimensão da vida que não
se reduz unicamente a uma dimensão biológica ou ao tratamento da
velhice a partir de suas patologias, mas compõem-se de uma afirmação
de suas potencialidades de invenção de múltiplos modos de existência.
Tem-se, de um lado, a conquista da longevidade pelo homem, permitida
pelo avanço das ciências naturais e de saúde; de outro, as exigências dessa
conquista colocadas, tanto para o campo da reflexão quanto para o das
ações públicas e privadas.
A assistente social portuguesa, Maria de Lourdes Quaresma, faz
uma análise do percurso de uma área do conhecimento, a Gerontologia,
a partir das interdependências entre o envelhecimento humano e social,
no âmbito do impacto dos fenômenos do envelhecimento nas estruturas
familiares, na economia, na proteção social, no direito, nas representa-
ções sociais sobre a vida, a morte e a velhice, nas práticas culturais e na
relação com o tempo. Assim, a multidisciplinaridade tem sido invocada,
partindo de dois pontos de vista: como o indivíduo é afetado pelo enve-
lhecimento e como uma população que envelhece muda a sociedade.
Em relação a isso, Anna Cruz de Araujo Pereira da Silva, em
“O papel das convenções da ONU na elaboração de uma cultura
gerontológica”, traça o papel dessa instituição como fomentadora de
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11. 14 Kairós
políticas afirmativas e antidiscriminatórias voltadas ao idoso, em abor-
dagem que recai essencialmente sobre as últimas três décadas, tendo
como marco a Convenção promovida pela ONU em 1982, em Viena e,
posteriormente, a Segunda Convenção do Idoso em 2002, em Madri.
Na ocasião, já se dizia que as melhorias de condições de vida, jun-
tamente com o surgimento de novos remédios, provocaram a diminui-
ção da mortalidade infantil, da fecundidade e maior longevidade. O
resultado disso é a mudança do perfil demográfico, cujo impacto, no
Brasil, está sendo muito profundo. É sobre isso que a ONU vem aler-
tando os países em desenvolvimento há praticamente três décadas.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
apontam o crescimento da população idosa no país. Para quem não sabe,
são as pessoas com mais de 60 anos. Em 2020, o Brasil terá 13%, isto é,
cerca de 27 milhões de idosos. E a tendência é continuar crescendo, cres-
cendo, crescendo... Como ficará o sistema previdenciário, baseado em
pessoas em idade ativa – de 15 a 60 anos –, as quais garantem, por meio
de suas contribuições, os recursos para pagar os benefícios da previdência?
Para refletir sobre essa questão, este número da revista Kairós trata
de um tema que nos apavora: o futuro previdenciário de todos nós. Pela
Constituição de 1988, previdência social, saúde e assistência social for-
mam um único sistema, o da seguridade social. No entanto, nunca a
população se sentiu tão desprotegida, especialmente quando dele mais
precisam. Por isso, diversos especialistas foram chamados para falar,
durante a VIII Semana de Gerontologia, intitulada “Longevidade e
Previdência: a política social privilegia os idosos?”. A troca de idéias entre
eles e os exigentes participantes permitiu a crítica intelectual ante os
desafios que nos impõe a velhice: transmitimos essa troca aos nossos lei-
tores para que, ausentes dessa discussão, possam também refletir sobre
essa etapa da vida. Outros autores também foram chamados para estar
presentes na revista, com o objetivo de ampliar esse debate, iniciado com
uma oficina de reflexão temática que perguntava a muitos profissionais
que atuam na área do envelhecimento se a aposentadoria era agonia ou
êxtase, permitindo assim uma troca de saberes.
Dessas reflexões ficou visível o não-lugar do aposentado, tanto na
sociedade como no lar, onde, às vezes, é visto como um intruso, alertando-
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12. Editorial 15
nos para a necessidade de não deixarmos de lado nossos planos e espe-
ranças, mesmo quando aposentados.
A presença dos idosos no mercado de trabalho é uma realidade no
mundo todo. O artigo de Rosa Maria da Exaltação Coutrim discute o
papel do trabalho na vida de idosos e idosas que retiram seu sustento e
de seus familiares, na maioria desempregados ou subempregados, das
ruas das metrópoles. Por meio de uma pesquisa qualitativa com entre-
vistas a camelôs, engraxates, pipoqueiros, etc., ela constatou que o tra-
balho para esses idosos representa mais do que a complementação de
renda. Ele também é uma fonte de poder e um locus de socialização.
Mas “por que contratar idosos?”. É o que Ana Maya Goto Uyehara
perguntou aos funcionários da fábrica de biscoitos Festiva (SP). Obteve
como resposta que a mão-de-obra idosa transforma-se em um desafio
para uma reorganização social que articule de forma mais propícia a
valorização dos recursos humanos existentes e como fator macroeconô-
mico e demográfico a ser considerado no planejamento estratégico das
empresas. O profissional envelhece na mesma proporção que o consu-
midor e a sua experiência acumulada, além de manter viva a memória
organizacional, pode agregar valor ao produto/serviço das empresas.
No entanto, a aposentadoria é tratada por muitos como se não
fosse um direito social, mas uma usurpação. Outros, mais raros, mos-
tram que uma suposta crise alimenta o mercado financeiro. A máquina
do Estado privilegia o superávit para pagamento da dívida externa, em
detrimento das políticas sociais. E questionam: se a seguridade social é
superavitária, a previdência, saúde e assistência social também deveria ser.
Entre eles está a economista Denise Gentil, que, em sua tese de
doutorado intitulada A falsa crise do sistema de Seguridade Social no Brasil,
mostra que o “discurso do déficit” é uma construção recente, das duas
últimas décadas, e que veio para justificar cortes de benefícios na segu-
ridade social, especialmente no setor previdenciário. Mas “tudo o que a
seguridade arrecada paga as despesas globais de previdência, saúde
e assistência social, e ainda sobram muitos recursos – estes sim, vão
patrocinar a União no seu orçamento fiscal”, diz ela à grande imprensa.
O que é confirmado pelos nossos convidados.
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13. 16 Kairós
O cientista político Evaldo Vieira, da USP é categórico: “os pro-
,
blemas da Previdência estão relacionados com o desvio de verbas e tam-
bém com o desemprego, porque está diminuindo o número de
contribuintes”. Segundo ele, do mesmo modo que se provoca perda para
os aposentados, em razão do cálculo errado do fator previdenciário, do
empréstimo bancário aos aposentados e pensionistas com desconto em
folha de pagamento, agora se contrapõem os idosos à população jovem.
Para os analistas de gastos sociais, os recursos dos jovens são devorados
pelos gastos da Previdência Social, restando menos dinheiro para a saúde
e a educação. Porém, tais “mestres na análise de gastos sociais”, envol-
vidos com seu marketing social, não devem saber que no Brasil, há
tempos, pretende-se desvincular da Constituição Federal de 1988 as úni-
cas verbas exclusivamente destinadas à saúde e à educação. A Previdên-
cia Social foi criada para reduzir a pobreza na velhice, e jogar no mercado
financeiro a aposentadoria contraria o princípio da dignidade humana.
O professor Ademir da Silva, da PUC-SP, defendeu a necessidade
de outras formas de financiamento para a seguridade social. Em sua
análise “estamos pagando mais, contribuindo mais tempo, aposentando
mais velhos e recebendo menos”.
O economista Adriano Biava, também da USP, traçou um
panorama das perspectivas econômicas da Previdência. Já o jurista
Wagner Balera falou sobre os problemas jurídicos do atual modelo
previdenciário.
Enfim, a sociedade está se dando conta de que o país dos jovens
– do futuro – envelheceu! Não somos mais um país de predominância
jovem, pois o número de velhos já é grande, e as previsões são alarman-
tes. De futuro só temos os problemas a serem resolvidos desde hoje. O
envelhecimento da população é um processo estrutural que traz mudan-
ças nos mais diversos aspectos da vida.
Para começar, as famílias não são mais compostas como até pouco
tempo. Hoje, os arranjos familiares, mais complexos, são compostos de
três gerações. Também é crescente o número de pessoas sós. Nas famílias
sem idosos as crianças são mais pobres. A reprodução está abaixo da
reposição. Para as mulheres idosas, a viuvez trouxe redução de pobreza.
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14. Editorial 17
A aposentadoria, embora baixa, reduziu as desigualdades na área rural,
enquanto na área urbana ela reflete a desigualdade já existente. Há um
maior empoderamento entre as mulheres... Enfim, dados que a demó-
grafa Ana Amélia Camarano vem divulgando pelo país afora.
O que fazer?
Uma série de questões relativas ao envelhecimento da população
brasileira tem sido discutida pela sociedade em geral. Notamos, com
freqüência preocupante, nessas discussões, duas abordagens: o idoso
sendo tratado com a benevolência dedicada aos tolos ou como um fardo
social – um “excesso” – a ser penosamente suportado por todos. Quando
o assunto é Previdência é esta segunda abordagem a que predomina.
Na análise das possíveis alternativas possíveis para a Previdência,
a constatação é, digamos minimamente, desanimadora. Segundo os
especialistas, não há perspectivas de melhoria e nem esperanças! A si-
tuação da Previdência e dos aposentados é sem saída! A política social
privilegia o capital e o mercado!
Um gosto amargo fica da constatação do “sem saída”! Pergunta-se,
então, não estaríamos “acomodados” ante as sérias dificuldades, em vários
níveis, que atingem a maioria das pessoas, e os velhos em particular?
É da competência e dever de todos, Estado e sociedade civil –
incluindo a Universidade –, procurar alternativas. Não vamos nos satis-
fazer apenas com estatísticas e constatações. Os dados são fundamentais
para uma visão realista e profunda, mas não devem nos paralisar em uma
posição passiva.
Repetimos o que nossos convidados disseram: admitimos que a
política social vigente privilegia o capital e não os idosos, enquanto a
Reforma da Previdência não tranqüiliza as pessoas que se sentem con-
fiscadas. Ante essa realidade, devemos defender que a política brasileira
deveria privilegiar os brasileiros, especialmente os que estão em condi-
ções de injustiça. Devemos pensar qual Estado e qual política queremos.
A política deve ser tratada na esfera dos direitos.
E, nessa esfera, a discussão deve ser em torno da arrecadação de
impostos, outras formas de financiamento da seguridade social, de fi-
nanciamento das políticas sociais, da distribuição da riqueza e não em
torno da oposição entre idosos e crianças, trabalhadores do setor público
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15. 18 Kairós
e privado. Para o Professor Ademir da Silva, “o desafio é enfrentar a
reafirmação do papel social do Estado, defender a esfera pública como
esfera universal, a política como instância privilegiada de equacionamen-
to do interesse público e da vida coletiva”.
Para se compreender melhor a questão previdenciária, convida-
mos dois grupos de pesquisa que vêm desenvolvendo estudos sobre o
envelhecimento. Um deles, Epidemiologia do Cuidador, trata do perfil
previdenciário de idosos internados em um hospital da rede pública. A
partir de um recorte de uma pesquisa realizada em 2004, tendo em vista
a implementação de um Centro de Referência do Idoso em um complexo
hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, o grupo en-
trevistou pacientes de ambos os sexos e observou que a maioria das
mulheres não recebia benefício previdenciário e que grande parte dos
homens recebia algum tipo de aposentadoria. Observou ainda que a
mulher idosa é mais vulnerável à pobreza, pois tem baixo rendimento
ou dependência financeira do cônjuge, da família ou da assistência so-
cial. Verificou que mesmo com rendimento mensal muito baixo, os ido-
sos, devido às dificuldades econômicas das famílias, acabam assumindo
a responsabilidade pelo sustento dos filhos e netos.
O outro grupo de pesquisa, Longevidade, Envelhecimento e
Comunicação (LEC), por meio de uma pesquisa sobre a cobertura da
imprensa escrita da cidade de São Paulo sobre o envelhecimento, apre-
senta uma análise dos aspectos previdenciários cobertos pelo jornal im-
presso Valor Econômico, um veículo de comunicação rico em informações
sobre a Previdência e questões afins. E comprovaram, de fato, que a Pre-
vidência é notícia!
Por fim, apresentamos aos nossos leitores a seção Anais, que conta
com os resumos de trabalhos que foram apresentados durante a VIII
Semana de Gerontologia e por meio dos quais observa-se a diversidade
de velhices e, conseqüentemente, de pesquisas sobre o processo de en-
velhecimento.
A todos uma excelente leitura!
Beltrina Côrte
Suzana A. Rocha Medeiros
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16. Gerontologia e Gerontologia Social 19
Gerontologia e Gerontologia Social:
contributos para a análise de um percurso
Maria de Lourdes Quaresma
RESUMO: Este artigo analisa a construção de uma área transdisciplinar do conhe-
cimento, chamada Gerontologia Social, a partir das interdependências entre o
envelhecimento humano e social, ao nível do impacto dos fenómenos do envelhe-
cimento, e os contributos que uma e outra área têm dado à reflexão e controlando
as questões epistemológicas que têm separado as diferentes correntes de pensa-
mento nesta área do conhecimento.
Palavras-chave: Gerontologia Social; transdisciplinar; envelhecimento.
ABSTRACT: This article analyses the construction of a cross-disciplinary area of
knowledge called Social Gerontology, based on the interdependences between
human and social aging, regarding the impact of the aging phenomena. It also
approaches the contributions that both areas have given to reflection, controlling
the epistemological questions that have separated the different lines of thought in
this area of knowledge.
Key-words: Social Gerontology; cross-disciplinary; aging.
Quer se trate do processo de envelhecimento ou das consequências
do avanço em idade sobre a situação das pessoas (estado de
saúde, implicações psicológicas, papel e lugar na sociedade)
encontramo-nos perante fenónemos complexos e multifactoriais,
“combinações” de interacções entre o “dado pessoal” e o ambiente
exterior, entre os factores individuais e colectivos.
Henriette Gardent
revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42
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17. 20 Maria de Lourdes Quaresma
O envelhecimento humano e a velhice foram durante muito tem-
po e quase exclusivamente objectos de estudo da medicina. A partir de
meados do século XX um outro questionamento é construído. As alte-
rações demográficas verificadas durante o século findo, produzidas no
contexto das profundas transformações sociais e económicas que atra-
vessam as nossas sociedades, levantam novas questões.
A procura do saber sobre as interdependências entre o envelhe-
cimento humano e social, ao nível do impacto dos fenónemos do enve-
lhecimento nas estruturas familiares, na economia, na protecção social,
no direito, nas representações sociais sobre a vida, a morte e a velhice,
nas práticas culturais, na relação com o tempo, deu lugar à construção
de uma área transdisciplinar do conhecimento a que chamamos Geron-
tologia Social.
Os seus territórios apresentam uma diversidade e complexidade
crescentes. O envelhecimento da sociedade e de cada um de nós revela-
se profundamente interpelante e desafiante, pelo que transporta de novo
na reciprocidade da relação sociedade/sujeito. Os ganhos em anos de
vida entrosam-se em novos comportamentos, estilos de vida, expecta-
tivas e valores, com repercussões nas formas de viver e experienciar as
diferentes fases da existência e as formas de sociabilidade e convivência.
A gerontologia social, ao perspectivar uma abordagem transdis-
ciplinar dos fenónemos do envelhecimento, procura ultrapassar uma
visão “reducionista”, “monodisciplinar”, muito presente na paisagem
investigativa gerontológica: as diferentes disciplinas não se têm encon-
trado na construção dos objectos da investigação. Como diz Philippe
Pitaud “Il faut que nous fassions un effort pour passer le cap qui fasse de toutes
les disciplines qui se rencontrent au sein de la gérontologie, autre chose que des
carrefours de sciences diverses”. Aliás, o gap de que fala Pitaud não deixa de
ser revelador das divergências epistemológicas que têm separado as
diferentes teorias sobre o envelhecimento humano e das dificuldades em
abarcar a multidimensionalidade destes fenónemos. A análise critica
desenvolvida no seio das ciências sociais, ao pôr em evidência a impor-
tância do entrosamento entre os factores individuais e a historicidade
que lhes está associada deu um contributo extremamente relevante e
revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42
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18. Gerontologia e Gerontologia Social 21
decisivo para a construção da gerontologia social: novos ângulos de
análise têm enfocado a organização social, os modos de vida, as questões
culturais e políticas como dimensões estruturantes do envelhecer e dos
percursos de envelhecimento na passagem a uma vida adulta prolonga-
da pelo aumento substancial da esperança de vida.
O processo de desenvolvimento humano ao longo da vida, objec-
to da gerontologia (Michel Philibert), e os movimentos, tendências
colectivas que acompanham esses processos, objecto da gerontologia
social, são chamados a entrosar-se nos objectos da pesquisa, maximizan-
do os contributos que uma e outra têm dado à reflexão nestes domínios
e controlando as questões epistemológicas que têm separado as diferen-
tes correntes de pensamento nesta área do conhecimento.
Questões epistemológicas – algumas considerações
O estudo dos fenónemos do envelhecimento levanta questões
epistemológicas complexas. Como refere Paul Paillat, as dificuldades
começam com o próprio conceito de envelhecimento – envelhecimento
físico, envelhecimento social de base demográfica, envelhecimento so-
cial por relação à inserção na vida económica, ao factor trabalho. Os
diferentes ângulos de análise que o envelhecimento suscita são tributá-
rios de várias áreas disciplinares, cujos quadros epistemológicos podem,
por vezes, ser “conflituais” entre si. Aliás, o facto da investigação em
gerontologia ter estado longo tempo associada quase exclusivamente às
ciências médicas, não é certamente alheio a esta dificuldade. Tomemos
como exemplo a questão da idade – bem no cerne desta discussão. As
categorias usadas para medir a idade biológica, física e mental têm so-
frido alterações, mesmo no seio das disciplinas que mais as desenvolve-
ram – biologia e psicologia da corrente desenvolvimentista.
Como referem Christian Lalive D’Épinay e Jean François Bickel
(1996), esta corrente muito referenciada a Piaget marcou uma concep-
ção do estudo do desenvolvimento humano em função da idade, o que
transposto para os fenónemos do envelhecimento veio dar lugar à pes-
quisa centrada sobre as perdas, sobre as alterações dos processos bioló-
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19. 22 Maria de Lourdes Quaresma
gicos e psicológicos como consequências do processo de envelhecimen-
to, isolando-o da historicidade que o acompanha. Para estes autores, es-
tamos perante uma concepção determinista do ciclo de vida, largamente
criticada a partir de outras ópticas da pesquisa, nomeadamente da so-
ciologia, da história e da filosofia que têm vindo a demonstrar não ser
o factor idade o que melhor explica as alterações e os problemas das
pessoas que avançam em idade.
À teoria do “desengagement” (Cumming e Henry, 1961) explicativa
dos processos de envelhecimento de cariz mais determinista, contrapõe-
se a teoria da actividade (Orbach, 1979; Hochshild, 1975) e posterior-
mente a teoria da continuidade (Atchley, 1971; Rosow, 1979). Para a
primeira, as perdas dos papeis sociais, acelerando o envelhecimento do
indivíduo, são consequência do declíneo biológico e psicológico; para as
outras duas, a importância dos papeis sociais está associada à recons-
trução identitária possível no avanço em idade, sendo a teoria da con-
tinuidade a que melhor aborda o envelhecimento como um continuum da
existência. Todavia, devemos afirmá-lo, nenhuma destas teorias é genera-
lizável. O facto de vivermos em contextos marcados pela aceleração das
mudanças gera complexidades crescentes e singularidades que, cada vez
mais, escapam a regularidades fácilmente apreensíveis. Ora, se conside-
rarmos que no centro desta “revolução” estão as gerações dos que pela
primeira vez vão experienciar um tal alongamento da vida humana, não
podemos deixar de admitir que o seu impacto não será neutro na rede-
finição dos conceitos de idade a partir das alterações sociológicas asso-
ciadas à explosão das idades e das singularidades.
A importância das questões epistemológicas – a construção
do conceito de dependência como caso paradigmático
A problemática da dependência está no centro das preocupações
politicas relativas à gestão da população e também de alguma investi-
gação na Europa. As recomendações do Conselho da Europa sobre a
dependência constituem um indicador deste facto e a construção do
conceito de dependência desenvolveu-se neste contexto.
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Importa salientar que na génese do conceito de dependência entra,
por um lado, a noção de incapacidade (das ciências médicas) e, por outro
lado, a noção de risco de perda da autonomia associada à velhice, indu-
zindo uma relação de causalidade que não está provada, antes pelo con-
trário. De facto, a associação entre velhice, doença, incapacidade, depen-
dência, enquanto cadeia sequencial irreversível, contraria os resultados
de estudos epidemiológicos e longitudinais, entretanto desenvolvidos,
ao mesmo tempo que a análise das interdepedências entre doença,
deficiência, incapacidade e desvantagem (handicap) (Ennuyer, 2002), põe
em evidência o papel codeterminante dos factores sociais, económicos,
culturais e ambientais na génese destas situações. Os problemas que se
têm levantado à operacionalização do conceito de dependência não são
alheios a estas ambiguidades conceptuais.
A definição de dependência, tal como consta da legislação, pres-
supõe a definição de autonomia e de perda de autonomia, de forma a
possibilitar a medida das perdas, em função de parâmetros e com objec-
tivos precisos, o que tem constituido um problema maior. Ao optar-se
pela oposição dependência/autonomia referenciada à satisfação das ne-
cessidades básicas elementares, esvaziou-se o quadro referencial das
causalidades, diversidade, intensidade e complexidade das diferentes
situações, o que quer dizer da componente compreensiva dos sujeitos e
da historicidade dos seus percursos. As multiplas interrogações de or-
dem conceptual, ética e política suscitadas pela formulação das políticas
de protecção social da dependência e pelo corpus teórico que as acompa-
nham, radicam nesta ordem de questões (Quaresma, 2004), e pelo facto
de que a adopção de uma terminologia conceptualmente vaga e redu-
tora (Ennuyer, 2002; Pitaud, 2004) tem produzido efeitos estigmati-
zantes sobre a velhice.
Não há dúvida que a relação dicotómica que resultou da delimi-
tação do conceito de dependência referenciado à autonomia não tem
fundamento científico, como o prova a nossa própria experiência e o
conhecimento disponível sobre os processos de desenvolvimento huma-
no. Cada um de nós existe e constrói a sua identidade, a consciência de
si (Ricoeur), no jogo das interdependências com as quais e através das
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quais faz a sua própria história. A produção do sujeito individual e social
é acompanhada da autoprodução do sujeito do interior de si mesmo. Da
dialéctica entre estas duas instâncias resulta a representação de si, num
processo necessáriamente dinâmico e constante.
Sabemos que cada indivíduo vive numa relação permanente de
dependência funcional com outros indivíduos (sendo por demais eviden-
te que o autónomo é, em si mesmo, limitado, como referem alguns
autores) que dá lugar a um conjunto de funções essenciais à construção
das relações dos homens entre si, a que chamamos sociedade (Elias). A
dependência constitui, assim, fundamento do sujeito e da coesão social,
pelo que, neste sentido, ela é também essencial e estruturante da história
de vida, condicionando os capitais económico, cultural, simbólico com
que contamos na velhice.
Ou seja, se a dependência é inerente à existência humana, atra-
vessando todas as fases da vida, numa dialéctica permanente face à
autonomia como afirmação de si, a necessidade de cuidados e de apoios
na velhice não pode legitimar um conceito de dependência como atribu-
to da velhice.
O que está em causa são, pois, os referenciais filosóficos, cientí-
ficos, éticos e políticos do conceito e das políticas, pelo que a exigência
epistemológica que acompanha a análise desta problemática à luz de
diferentes disciplinas tem dado um impulso significativo à pesquisa neste
domínio, nomeadamente ao nível das repercussões nas representações
sociais de velhice e nos fenónemos de exclusão (o conceito de papel vazio,
que veremos adiante, pode sustentar alguma desta investigação).
A passagem da dependência à categorização de grupos de depen-
dentes remete para a dependência como construção social no quadro
das medidas de protecção social às pessoas que precisam de ajuda nas
actividades quotidianas, para satisfação das suas necessidades básicas,
resulta da análise sociológica. Como tem sublinhado A. M. Guillemard,
a dependência, como objecto das políticas sociais,
[...] não escapou ao processo de categorização inerente a uma
das lógicas dominantes do funcionamento das políticas sociais –
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22. Gerontologia e Gerontologia Social 25
elaborar e manipular estatutos que têm como consequência
trabalhar sobre as identidades dos grupos sociais abrangidos
e sobre a sua possibilidade de aceder ao estatuto que confere
direitos. (2000)
Aliás, o incremento dos estudos centrados na análise dos défices
e dos custos de aplicação das medidas de protecção social da dependên-
cia, a par da escassez trabalhos que questionem a normatização subja-
cente à aplicação das políticas, é revelador do enviezamento e da deriva
conceptual neste domínio. Ou seja, por um lado, a análise dos custos
transporta um critério de valor, valor da velhice “não autónoma”, numa
lógica de contabilidade social, e, por outro lado, a definição dos parâme-
tros de medida dos deficits ou das perdas, vem desembocar na constru-
ção de categorias de dependentes, reforçando as imagens desvalorizadas
da velhice, e produzindo novos estereótipos sobre esta fase da vida.
A contabilização dos déficits, como instrumento decisivo no aces-
so à protecção social, induz a minimização da compreensão da singula-
ridade dos sujeitos e das condições socio-históricas que atravessam a sua
construção identitária. Ao centrar a análise nas alterações e consequên-
cias nefastas do envelhecimento, isolando-as da história de vida dos
indivíduos, segue uma lógica determinista, tecendo um écran espesso
entre a sociedade e os sujeitos: reduz a comunicação e a capacidade de
compreensão dos fenómenos na sua totalidade e na sua globalidade, e
contribui para a cristalização da associação entre envelhecimento, dete-
rioração e decadência das capacidades físicas, psíquicas e intelectuais,
segundo Pitaud.
Quando assistimos ao desenvolvimento da concepção dualista do
envelhecimento, articulada entre bom envelhecimento (activo, autóno-
mo) e envelhecimento dependente (estigmatizado pelos déficits e, em
especial, pelos riscos da demência), não podemos deixar de considerar
que ele tem aqui a sua génese e de sublinhar a importância da discussão
epistemológica em torno do conceito de dependência que pôs de novo
em evidência os limites das correntes deterministas e os riscos da sua
aplicação em termos políticos.
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23. 26 Maria de Lourdes Quaresma
É por demais evidente que a não consideração do factor gera-
cional e do percurso de vida reduz drástica e perigosamente a possibili-
dade de compreensão dos fenónemos da dependência no avanço em idade.
Induz a construção de tipologias isoladas das problemáticas que elas
transportam, negligencia a análise das causalidades e não favorece a com-
preensão do sujeito na sua história como tem sido evidenciado pela análise
multidisciplinar que tem sustentado o questionar das formas de catego-
rização da velhice e da dependência.
Sabemos que o envelhecimento é fortemente condicionado pelas
capacidades de adaptação ao longo da vida, mas estas não dependem
apenas, nem sobretudo, de factores individuais: as condições objectivas
da existência têm um papel fundamental. A comprová-lo está o facto do
acréscimo do número de situações problemáticas não ser directamente
proporcional ao aumento do número de pessoas que atingem idades
avançadas, como se temia nos anos 70. Estudos longitudinais, entretan-
to desenvolvidos, têm revelado uma clara melhoria dos níveis de auto-
nomia nas actuais gerações de pessoas com 85e+anos, o que não será
alheio à diferenciação positiva dos seus percursos e dos quadros sociais
que os acompanharam (Pérès, 2001).
Para Michel Philibert (1980),
Je crains que parler de 3ème et de 4ème âge n’engage les esprits un peu
paresseux à imaginer que la nature a prévu pour la vie humaine quatre
étapes successives... Rien de plus faux. La dépendance et l’infirmité
n’accompagnent pas fatalement le grand âge. Elles l’accompagnent
parfois, parfois la devancent et le plus souvent l’épargnent. Elle dépend
d’une conjonction de facteurs dont certains échappent à notre contrôle,
mais dont d’autres sont liés à nos manières de vivre, de travailler, de nous
soigner, et peuvent être prévenus, contenus, corrigés.
Gerontologia social – Contributos da Sociologia
A sociologia do envelhecimento tem estado fortemente associada
ao desenvolvimento da gerontologia social. Neste percurso podemos
salientar alguns marcos conceptuais e metodológicos.
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24. Gerontologia e Gerontologia Social 27
A constução da sociologia da idade, desenvolvida tanto nos EUA
como na Europa, partiu da necessidade de compreender o impacto do
aumento da esperança de vida na organização das sociedades indus-
trializadas (Riley et al., 1972, EUA; Guillemard, 1972, França). Uma
nova abordagem da idade como elo entre trajectórias individuais e
quadros sociais tem marcado a investigação sociológica das últimas
décadas. O questionamento da idade como marcador biológico e social
radica neste quadro investigativo, vindo a demonstrar que o factor idade
não explica as variações que ocorrem ao longo da vida dos indivíduos
(Riley), propondo alguns autores quatro combinações para a análise da
variável idade (D’Épinay e Bickel, 1996):
• Idade como indicador do programa genético do indivíduo;
• Idade como indicador da posição do indivíduo face ao(s)
estatuto(s) social(is) ao longo do percurso de vida – historici-
dade da idade;
• A idade, datação histórica, referência dos acontecimentos so-
cietais que marcam e mudam os comportamentos dos indiví-
duos, conjunturalmente ou de forma duradoura;
• A idade cronológica como indicador de um processo de inser-
ção e de um percurso histórico partilhado por um conjunto de
indivíduos (geração).
Subjacentes a esta teorização estão os conceitos de percurso de
vida e de geração. Introduzem o tempo histórico na reflexão sociológica
(sobretudo relevante no caso americano, em contra corrente com as
teorias deterministas) e pôem em causa o factor idade como variável
independente. No entanto, o conceito e a abordagem metodológica
de geração diferem de acordo com as diferentes correntes da sociologia.
Ou seja, ao conceito de geração a partir de grupo de idades e à metodo-
logia por coortes/transversal (Riley), contrapõe-se um conceito de so-
cialização, comunidade cultural, stock de experiências históricas parti-
lhadas (Mannheim) aplicado ao estudo empírico da população e que,
embora distinga geração de classe social e de categoria socioprofissional,
não deixa de comportar dificuldades de operacionalização dado que idade,
historicidade e tempo não são variáveis independentes.
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25. 28 Maria de Lourdes Quaresma
De qualquer forma, o conceito de percurso de vida constitui um
ponto crucial da evolução decorrida entre as concepções mais determi-
nistas, pela deriva dos conceitos da biologia e psicologia desenvolvimen-
tistas, como já referimos, até uma concepção mais compreensiva e
globalizante dos fenónemos, integrando na pesquisa as variáveis histó-
ricas que acompanham e estruturam os percursos individuais.
Nesta perspectiva, os estudos sobre a cronologização das idades
e do ciclo de vida (Kohli, 1985; Guillemard, 1972, 1995), sobre o es-
tatuto do “velho” e do reformado nas sociedades contemporâneas, como
novo campo de pesquisa – construção do conceito de “papel vazio” ins-
crevendo-o na análise mais abrangente sobre os processos de exclusão
social (Castel, 1997), sobre a definição de novas etapas do ciclo vital,
sobre as mudanças face à vida e ao futuro na perspectiva do alongamento
do tempo de existência (Imhof, 1986; Kholi e Mayer, 1986) e das
mudanças na relação com a morte (D’Épinay, 1996) – constituem a marca
da importância do conceito “percurso de vida” na investigação socioló-
gica e das suas potencialidades para a investigação interdisciplinar.
O exemplo que tratámos no âmbito da análise da problemática da
dependência integra-se nesta corrente de pesquisa, acolhendo muita da
reflexão construida neste domínio.
Os trabalhos sobre o percurso de vida constituem uma contri-
buição original da sociologia europeia, em particular da socio-
logia alemã, no quadro do Desenvolvimento Humano e da
Psicologia Social. (Épinay e Bickel, 1996).
Territórios do envelhecimento e da velhice
No quadro europeu, a pesquisa gerontológica, tal como vimos
anunciando, tem privilegiado territórios como os modos de vida, esta-
tutos e papeis dos reformados, relações intergeracionais (D’Épinay, 1991,
1997; Modak, 1990; Clément e Druhle, 1992, Caradec, 1996, entre
outros), constituição dos reformados como grupos de pressão (Durandal,
2003) e também os percursos de transição actividade profissional/refor-
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26. Gerontologia e Gerontologia Social 29
ma (Kohli, 1986). Simultâneamente, a partir dos anos 80, a dependên-
cia tem vindo a constituir-se como um novo território, sobretudo para
a gerontologia social francesa. A sociologia, o direito, a antropologia, a
política social e as ciências médicas têm procurado construir um corpus
teórico/analítico sobre esta problemática, embora as velhas clivagens
entre correntes de influência “determinista” e as da “continuidade” te-
nham emergido, sobretudo no âmbito da análise epistemológica, sobre
o conceito de dependência, como já referimos.
Nos EUA, outros territórios como o fim de vida, as redes de so-
ciabilidade de grupos específicos (as viuvas, por exemplo), e as velhices
(estudos monográficos), têm dado um contributo importante ao conhe-
cimento partindo de metodologias de investigação/acção.
Em ambos os casos emerge uma perspectiva antropológica e et-
nológica que, em especial no quadro europeu, se vem também manifes-
tando através da construção de outros territórios do conhecimento como
o das trocas intergeracionais, os laços sociais, os ritos de passagem na
transição actividade /reforma.
É uma evolução marcada, sem dúvida, por uma maior centragem
no sujeito que envelhece, um claro interesse por entrar num território
quase desconhecido – o do avanço em idade e da velhice – na procura
das raízes históricas e culturais que diabolizam tanto quanto podem
idealizar a velhice e que estruturam as representações sociais de velhice e
morte. Dar a palavra aos sujeitos, interrogar os valores, as normas e os con-
ceitos/preconceitos com que as nossas sociedades gerem o envelhecimento
e as idades tem orientado um conjunto de trabalhos de análise biográfica de
muito interesse (Argoud e Pujalon, 1999; Amyot e Billé, 2004).
A gerontologia social e as grandes questões do envelhecer
nas sociedades contemporâneas
No contexto das sociedades contemporâneas mais industrializa-
das podemos afirmar que os seniores de hoje são a primeira geração a
experienciar viver uma vida adulta prolongada, marcada pela coexistên-
cia de identidades multiplas e por uma multiplicidade de papeis. Neste
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ambiente de oportunidades e de potencialidades coexistem as gerações
mais velhas que enfrentam os mais anos de vida e a velhice em situação
de maior desvantagem e dificuldade por razões não só da sua própria
história como da desadaptação dos seus contextos a esta nova realidade.
As transformações associadas a mais e melhores oportunidades
para os que hoje fazem a transição actividade/reforma são geradoras de
novos riscos face ao envelhecimento, tanto para a sociedade como para
os indivíduos, e entre estes os mais velhos estão em situação de maior
desvantagem:
• riscos sociais: isolamento e solidão – pelas mudanças nos modos
de vida e nas formas de sociabilidade e convivência, designa-
damente intrafamiliares, e pela rarefacção das relações sociais
e familiares associada sobretudo às idades mais avançadas;
• riscos ambientais: acessibilidades, habitat, vida urbana não adap-
tada a uma população urbana envelhecida, isolamento geográ-
fico dos territórios do interior;
• riscos de saúde, em especial de incapacidades por doenças cróni-
cas podendo conduzir a situações de dependência. Riscos tam-
bém pelo excessivo enfoque nas perdas e declíneo, raíz de
conceitos e preconceitos que, ao contribuir para a cristalização
de imagens do bom e mau envelhecer, correspondem a cate-
gorias que acentuam a individualização dos riscos – cada
um “deve” ser autónomo face a um pluralismo crescente de
situações.
A idade, o género e os handicaps físicos, atributos do indivíduo,
emergem como factores de clivagem social, aumentando os riscos de
exclusão na velhice pelo estigma que transporta. Clivagem que não é
neutra face ao impacto do envelhecimento na organização social, na
economia, nas políticas, no tecido social e nas sociabilidades, já de si em
mutação, aumentando o gap entre o que sabemos e o que não sabemos
e reforçando as incertezas face ao futuro – a previsibilidade reduz-se num
ambiente de profundas e rápidas mudanças.
Neste contexto, além da necessidade de definição de novos ter-
ritórios da pesquisa põe-se o problema da sua organização. A evolução
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28. Gerontologia e Gerontologia Social 31
recente mostra que, se por um lado, a prospectiva demográfica tem
contribuido para a construção das questões, a procura das respostas apela
cada vez mais ao quadro interdisciplinar. Um exemplo vem do projecto
europeu Felicie – análise prospectiva sobre as pessoas muito idosas no
horizonte 2030, na procura de saber quem irá cuidar e como se irão
estruturar os cuidados a estas pessoas em caso de deles necessitarem.
Ora, sabendo-se que serão gerações marcadas pela redução drás-
tica do numero de descendentes e por percursos construidos em contex-
tos de grandes alterações sociais e culturais, os quadros de referência de
que dispomos apenas permitem desenhar hipóteses mais ou menos aca-
démicas. Ou seja, os conceitos de geração e de percurso de vida que têm
sustentado a pesquisa em “gerações” constituidas pelos adultos que hoje
avançam em idade, terá de ajustar-se a estudos longitudinais que pers-
pectivem a análise nas actuais gerações adultas mais jovens e possibili-
tem uma outra aproximação à realidade previsivel que não seja a de
transpôr comportamentos e expectativas que hoje conhecemos e cuja
regularidade é indissociável de um tempo histórico, para um horizonte
de duas décadas marcado por um outro tempo histórico.
É uma evidência que as pessoas dos grupos de idades com que
trabalhamos pertencem a gerações diferenciadas. As mais velhas vive-
ram uma grande parte das suas vidas em contextos estáveis, sem a pres-
são de grandes ou fortes movimentos de mudança. As que hoje estão
entre os 50-59 anos viveram a “jovem” idade adulta em contextos de
profundas e rápidas transformações que acompanham a sua progressão
na idade, nomeadamente as questões de género que vêm assumindo
importância crescente.
O Projecto europeu Meri, análise do envelhecer no feminino,
constitui um marco significativo ao dar visibilidade à invisibilidade das
condições de desfavorecimento que marcam todas as gerações de mu-
lheres, embora de forma mais gravosa as muito idosas, comprometendo
a qualidade do envelhecimento da maioria dos mais velhos de hoje e dos
que, no futuro, vão chegar a idades avançadas.
A construção do conhecimento neste quadro de forte diferencia-
ção geracional, levanta sérios problemas metodológicos. A discussão
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29. 32 Maria de Lourdes Quaresma
entre metodologias transversais e longitudinais faz todo o sentido. Os
pressupostos da óptica transversal/coorte não permitem a construção de
hipóteses sustentáveis no quadro actual: as diferenças/contrastes obser-
vados entre “as idades” não podem ser atribuidas ao avanço em idade,
como já referimos a propósito da análise dos conceitos de geração e
percurso de vida. Noutros contextos elas poderiam ser justificáveis, como
referem alguns autores:
Esta visão das coisas não era necessáriamente falaciosa. Numa
sociedade arcaica, estacionária, o percurso de vida individual está
traçado: representa para cada indivíduo o do pai ou da mãe.
(Kessler, Masson, 1985).
Os efeitos de geração e do tempo são negligenciáveis. Com a
aceleração da história, as gerações sucessivas vivem em contextos socio-
lógicos, económicos e politicos específicos, susceptíveis de marcar os seus
comportamentos. Atribuir ao avanço em idade os contrastes/diferenças
observados num determinado período, entre as idades, pode constituir
um erro, porque a causa dessas diferenças pode estar no facto de perten-
cer a diferentes gerações e não no avançar em idade (D’Épinay e Bickel,
1996).
A óptica longitudinal, significativamente desenvolvida a partir
dos anos 60 nas Ciências Sociais, adequa-se bem mais ao estudo destes
problemas – o envelhecimento é um processo que se inscreve no tempo
e nos tempos do desenvolvimento humano. Os estudos longitudinais,
além de melhor propiciarem a análise interdisciplinar, são orientados
para a observação ao longo do tempo: permitem uma melhor compre-
ensão da evolução dos comportamentos, das expectativas e dos proble-
mas em termos geracionais e do percurso de vida, bem como possibilitam
a identificação do que neles pode ser imputável à idade e o que sobretudo
resulta de condicionantes externas aos indivíduos – objectivo maior do
conhecimento gerontológico.
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30. Gerontologia e Gerontologia Social 33
A investigação em Gerontologia Social – história recente
na situação portuguesa
O conhecimento do impacto do envelhecimento na organização
social e económica, partindo da análise das mudanças sociodemográfi-
cas, das alterações no ciclo e percurso de vida que lhe estão associadas,
bem como das politicas enquanto elementos estruturantes do “envelhe-
cer” na nossa sociedade, tem vindo a constituir um objecto de interesse
crescente para a investigação social.
A procura dos saberes que sustentem a interpretação destas trans-
formações integrando uma visão prospectiva que contribua para nortear
e balisar a implementação das politicas que garantam o acesso dos cida-
dãos que avançam em idade aos seus direitos civicos e sociais, tem cons-
tituido um corpus de interrogações sobre quem são, como vivem, como se
projectam no futuro, como se inscrevem na nossa história e memória colectiva os
percursos de envelhecer dos que constituem as actuais gerações idosas.
Neste contexto, podemos identificar dois eixos da investigação na
área das ciências sociais: um, orientado para as questões relativas à sus-
tentabilidade dos regimes de segurança social e outro centrado sobre o
estudo das mudanças ao nível das dinâmicas intrafamiliares. Alguns
outros estudos têm ainda sido desenvolvidos no âmbito da análise das
condições de vida e das politicas de acção social, a par de outros se vêm
desenhando no quadro do envelhecimento por género, da dependência
e da psicologia.
Embora segundo perspectivas diferenciadas, estes trabalhos têm
contribuido para o melhor conhecimento das interdependências entre
a evolução dos padrões de vida e os processos de envelhecimento, sendo
também de assinalar a sua importância na discussão sobre as questões
que se põem hoje ao nível da garantia dos direitos sociais, a montante
e a jusante da situação de reforma.
No quadro da problemática familiar, os trabalhos desenvolvidos
no âmbito da sociologia da família têm vindo a aprofundar o conheci-
mento sobre a evolução das estruturas familiares e das formas através
das quais se organizam e reestruturam as teias de solidariedade. Têm
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31. 34 Maria de Lourdes Quaresma
dado um contributo relevante para a compreensão de uma cultura fa-
miliar baseada nas relações de interdependência e complementariedade,
ao mesmo tempo que permitiram identificar formas de conflitualidade,
latentes ou expressas, em parte devidas às dificuldades de gestão e de
integração no quotidiano de uma pluralidade de papeis que resultam na
complexidade crescente da organização da vida familiar. As profundas
mudanças que se operam a este nível e a persistência das funções essen-
ciais em termos dos afectos e referências intergeracionais são evidencia-
das pelos resultados da investigação. Mas eles revelam também que a
preservação do papel substantivo da familia exige outra política e outras
competências que privilegiem a criação de condições externas de com-
preensão e não de oposição às novas dinâmicas familiares.
A familia emerge como parceira, quando é chamada a prestar
cuidados, ainda que a figura da contratualização não esteja ausente:
funciona como possibilidade de gestão da mutiplicidade dos papeis com
a qual cada um dos membros da família é confrontado, o que assume
especial relevância no caso das mulheres. Dinâmicas familiares e
questões de género vêm-se revelando de importância crescente para a
investigação, convergindo na constução do envelhecimento das mulhe-
res como objecto de pesquisa. Para este interesse concorrem outros
factores. Até um passado recente os estudos sobre o envelhecimento es-
tiveram fortemente associados às questões decorrentes da saída-
ruptura com a actividade profissional, as quais afectavam sobretudo o
mundo masculino.
Na situação actual, a par das mudanças no percurso socio-profis-
sional verificadas para todos os activos, verifica-se também um aumento
substancial das taxas de actividade feminina, ao mesmo tempo que a
longevidade das mulheres mantem um claro distanciamento face à lon-
gevidade masculina. Estamos perante um quadro evolutivo em que se
acentua a feminização do envelhecimento e em que decresce a probabi-
lidade da mulher continuar a ser a principal prestadora de cuidados
intrafamiliares, designadamente aos parentes mais velhos, na sua maio-
ria também mulheres. Questões que reforçam a pertinência da investi-
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gação sobre esta problemática, integrando a perspectiva da análise do
ciclo e do percurso de vida.
Outros territórios têm vindo entretanto a definir-se como áreas
de investigação: territórios institucionais e organizacionais através dos
quais se regulam a produção e a satisfação das necessidades sociais das
pessoas mais velhas. São estudos sobre os serviços, sobretudo monográ-
ficos que, todavia, têm dado um reduzido contributo sobre o papel dos
serviços na análise interpretativa e compreensiva do que há de substan-
tivo no envelhecer. De facto, a área das politicas sociais apresenta um
déficit evidente de trabalhos de investigação, em especial sobre quem são
os beneficiários, como evoluem e como evoluem as políticas e os serviços em função
das necessidades sentidas, em confronto com as necessidades administradas.
Um estudo censitário sobre os residentes em lares de idosos, ao
integrar uma tentativa de abordagem dos percursos sociohistóricos destes
utentes, constitui excepção: procurou a identificação de perfis identitá-
rios numa lógica de recentragem sobre os sujeitos. Por outro lado e numa
outra perspectiva, um trabalho recente sobre a prospectiva da criação de
serviços neste domínio, ao procurar conhecer as aspirações das pessoas
que integram as várias gerações do grupo 50+anos confrontando com
a percepção dos promotores, revelou diferenças significativas intergera-
cionais em termos de expectativas, ainda que ao nível dos medos e dos
receios da velhice as pessoas inquiridas exprimam imagens fortemente
negativas.
A par estes estudos, dois trabalhos mais recentes, um sobre as
redes de solidariedade de vizinhança ás pessoas isoladas e/ou em situação
de dependência, e outro sobre os prestadores de cuidados aos doentes
Alzheimer (em curso), ambos projectos europeus pilotados por Philippe
Pitaud, inscrevem os sujeitos no núcleo central das pesquisas.
O primeiro, sendo um estudo qualitativo e tendo como metodo-
logia o estudo de caso, desenvolveu uma abordagem centrada na análise
do vivido, do experienciado numa trajectória de vida mais longa, dando
enfoque à construção das redes de sociabilidade primária, dos laços so-
ciais, da reciprocidade das trocas, tendo como referência teórica os tra-
balhos sobre o dom e contra dom de Marcel Mauss. Os relatos biográficos
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que recolhemos são mais que contributos, são um património que espe-
ramos venha a ser importante para as interrogações com que todas as
gerações se confrontam.
Vivemos mais porque vivemos melhor, mas interrogamo-nos
como gerir este percurso mais longo, como enfrentar algo que mal co-
nhecemos mas que por isso mesmo ainda mais receamos – a redução das
nossas capacidades e, muito em especial, a eventual perda de autonomia
numa cultura que a elege como atributo fundamental. Perda vivida como
uma ferida narcísica destruidora da identidade e do valor.
Ao procurarmos saber quais as interdependências entre solidão,
deficits de autonomia e papel das redes de vizinhança, encontrámos re-
lações complexas, denotando elevadas capacidades de gestão e de adap-
tação às dificuldades do quotidiano. Mas o que verificámos, também, foi
a existência de evidentes deficits, precariedades ao nível das condições de
vida, funcionando como reforço da vivência da solidão, das limitações e
de um certo isolamento. A sua importância, o que cada uma das com-
ponentes das condições de vida pesa na génese e desenvolvimento das
situações de dependência, resta como questão em aberto, exigindo mais
investigação e, seguramente, outra investigação.
Já o papel das redes primárias, de vizinhança e familiares, revela
a sua primordial importância. É a sua “qualidade” que emerge como
factor decisivo nos sentimentos de segurança afectiva e material, ou seja,
como antídoto à solidão e à percepção negativa que se associa ao precisar
de outro ou de outros para se bastar no dia a dia. A relevância destas redes,
as suas potencialidades e limites dependem da sua valorização. O que
quer dizer, do reconhecimento da sua significância em cada situação, e
dos riscos da sua utilização, fora deste quadro, numa óptica mecanicista,
como mero instrumento de substituição de outros actores, designada-
mente dos apoios formais. Aliás, as questões comunicacionais, identifi-
cadas ao longo do trabalho, são sinais claros destes limites e
constrangimentos.
Podemos entroncar aqui a dimensão tempo, factor estruturante dos
discursos, no que eles revelam da história de vida, do projecto, do sen-
tido, como um continuum até ao fim. Sentido de finitude que tanto
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reforça ou é reforçado pela vivência do precisar da ajuda de outros, como
constitui um incentivo, uma necessidade de procura do sentido que li-
gue a história de cada um à história, que dê sentido ao sentido da fini-
tude, ou que, e, sobretudo, a ultrapasse.
A vivência da dependência tem um tempo, mas este tempo não
é redutível à mera circunstância de ser marcado por dificuldades de ser
autónomo, o que redundaria em privação do essencial, na fase em que
esse essencial é também único e definitivo. Ou seja, a categorização da
dependência, a desvalorização da velhice “dependente”, a solidão que a
acompanha, representam formas de privação do sentido, do sentido da
velhice como fase da existência humana. E, como tal, são elos da cadeia
que liga categorização, deficits de conhecimento, deficits de relação, representa-
ções sociais de velhice (medos, irracionalidades, preconceitos).
Velhice autónoma e velhice dependente anunciam as duas faces
da mudança social: a primeira, uma forte individualização, a desembocar,
como sugerem alguns autores, na individualização dos riscos (Beck,
2003); a segunda, a reverter para uma certa normatização da “performan-
ce” individual, com evidentes repercussões nas relações sociais e fami-
liares, o que não será pouco importante para o processo de envelheci-
mento e para a constituição das redes de sociabilidade na velhice.
Mas, importa dizê-lo, outras perspectivas se desenham na procu-
ra da interpretação do sentido dos processos de individualização que
marcam as sociedades contemporâneas. É o caso dos que as entendem
como oportunidades de individuação, de construção do sujeito, cimenta-
da numa maior consciência de si pela interiorização do mundo exterior, liberta-
dora da subjectivação (Alain Touraine, La Recherche de Soi, 2000). O que
quer dizer, da construção da identidade, através da maior consciência do
que nela é parte da sociedade, do mundo a que pertence. E onde, dire-
mos, o outro existe e tem lugar. Na vida e na memória de cada um.
A velhice, melhor dizendo, as velhices, actuais e futuras, são tes-
temunhos vivos destas mudanças. Como tal, continuam a representar,
a retratar cada sociedade, cada comunidade, nos seus valores e sentido.
Reconstruindo a memória de si e do seu mundo. Pelo que este é, sem
dúvida, o desafio maior à construção do conhecimento gerontológico.
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A certa altura, dei-me conta de que o tempo passava tão depres-
sa que eu me sentia a correr para fora da vida. Em teoria, ter anos
é bom. O que sou, o que sei, devo-o aos anos que tenho [...]. Há
uma incomodidade profunda quando a melancolia vem. Não
tem nada que ver com a saudade porque a saudade aquece-nos
ao refazermos com a memória aquilo que vivemos um dia.
(António Alçada Baptista, O Tecido do Outono, 1999).
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Data de recebimento: 11/12/2005; Data de aceite: 15/3/2006.
Maria de Lourdes Quaresma – Licenciada em Ciências Sociais e Políticas pelo
ISCSP e em Ciências Sociais e Humanas pela UNL. DEA em Sociologia Urbana
pela Universidade de Paris X. Ex-Directora de Serviços de Investigação Social e
Relações Internacionais da Direcção Geral de Acção Social. Coordenadora da Pós-
Graduação Profissional em Gerontologia Social no Instituto Superior de Serviço
Social de Lisboa (ISSSCOOP). Professora convidada pela Universidade de Marselha.
Representante da União das Mutualidades no Conselho Nacional para a Política
de Terceira Idade. Autora e co-autora de estudos, artigos e outros trabalhos, entre
os quais, O Sentido das Idades da Vida, Interrogar a solidão e a dependência (coordenação
e co-autoria). Coordenadora do Projecto, na componente portuguesa, Solitude et
Dépendance des Personnes Âgées – Le rôle des réseaux de voisinage (ISSS de Lis-
boa, Universidade de Marselha, Universidade de Milão e Universidade Barcelona).
Participação/coordenação da componente portuguesa, CESIS, no projecto euro-
peu MERI, Mapping existing research and identifying knowledge gaps concer-
ning the situation of older women in Europe. Coordenadora do projecto, na
componente portuguesa, Exclusão e doença de Alzheimer – A problemática dos
prestadores de cuidados (ISSS de Lisboa, Universidade de Marselha, Universidade
de Milão e Universidade de Barcelona). Participante na Equipa do Projecto “En-
velhecimento e Perspectivas de Criação de Emprego e Necessidades de Formação
para a Qualificação de Recursos Humanos”, Espaço e Desenvolvimento 2005.
Responsável de missão e relatora, para a Fondation Nationale Gérontologie, Paris,
da “auscultação” à sociedade civil, em Portugal, sobre “Dependência em 2030 –
Quem vai cuidar?”, no âmbito do projecto europeu FELICIE. E-mail:
mlquaresma@netcabo.pt
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