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História do Rock: dos primórdios aos anos 70



Por João Paulo Andrade
Em 01/01/00



Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais
marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos trazidos da
África para as plantações de algodão dos Estados Unidos, a criação da
estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos entoados
pelos negros durante o trabalho, no início do século XX dariam origem ao
Blues (do inglês azul, usado para designar pessoa de pele escura, bem
como tristeza ou melancolia). Focado basicamente no vocal, o blues era
geralmente acompanhado apenas por violão.




Índice das partes desta matéria

   •   Parte 01 - Os Primórdios
   •   Parte 02 - Anos 50
   •   Parte 03 - Anos 60
   •   Parte 04 - Anos 70

Parte 01 - Os Primórdios

Enquanto o blues se desenvolvia nos campos e pequenas cidades, nas grandes
cidades por sua vez tocava-se o jazz, baseado na improvisação e marcado por
bandas maiores e arranjos mais elaborados, com percussão e instrumentos de
sopro.

Por um outro lado, nas igrejas evangélicas desenvolvia-se a música gospel
negra, que embora obedecendo as escalas de blues, caracterizavam-se por
rítmo frenético ou mesmo sensual, canções de redenção e esperança para um
povo oprimido. A música era acompanhada por piano ou órgão.

A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria havia levado mais
gente dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e
negros e a tensão social e racial mas também favorecendo a influência mútua
entre a música negra (blues e seus derivados) e a música branca
(principalmente country e jazz). Da fusão do blues original com os rítmos
mais dançantes dos brancos surgiu o rhythm and blues, que levou a música
negra ao conhecimento da população consumista.

No início da década de 50, com o final da Segunda Guerra Mundial e da
Guerra da Coréia, os Estados Unidos despontavam como grande potência
mundial. Mais do que em qualquer outro momento da história era incentivado
o gozo da vida, marcada que estava a sociedade pelos anos de sofrimento da
guerra. A população de maneira geral e inclusive as minorias pela primeira
vez tinha dinheiro para gastar com supérfluos como música. Com o anúncio
da explosão de bombas atômicas pela União Soviética e um possível "fim do
mundo" a qualquer momento, a ordem geral era aproveitar cada momento
como se fosse o último.

Numa época de mudanças surgia uma corrente intelectual inédita contrária à
antiga política, rebeldia esta refletida na literatura, como no livro O
Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, mas mais notadamente no
cinema com a glorificação da antítese dos antigos valores em filmes como O
Selvagem (em que Marlon Brando interpreta um delinquente).

Em pleno crescimento econômico capitalista o consumo era considerado fator
primordial para geração de empregos e divisas, bem como o melhor antídoto
contra o comunismo, e a busca por novos mercados consumidores era
incessante. Obviamente a parcela mais jovem da população rapidamente se
mostrou mais facilmente influenciavel e ao público adolescente pela primeira
vez foi dado o direito de ter produtos destinados ao seu consumo exclusivo,
bem como poder de escolha.

Estranhamente porém os jovens brancos em grande parte se negavam a
consumir a música normalmente consumida pela maioria branca. Começaram
a buscar na música dos guetos algo diferente. Com a indústria fonográfica de
grande porte não preparada para suprir o público consumidor com este tipo de
música ganharam importância selos pequenos de música negra.

A aceitação deste tipo de música pelo público de maior poder aquisitivo levou
a incipiente indústria fonográfica da época a investir na evolução do estilo e
procura e contratação de novos talentos, principalmente na procura de um
jovem branco que pudesse domar aquele estilo aliando a ele uma imagem que
pudesse ser vendida mais facilmente. Tornaram-se comuns os relançamentos
de versões de músicas dos negros regravadas por artistas brancos, que
terminavam por tirar os verdadeiros criadores do estilo do topo das paradas.

Uma outra grande revolução de costumes estava em curso. Sexo deixava de
ser tabu e passava a ser considerado diversão (tanto para o homem como para
as mulheres). As canções de amor por pressão do público comprador
passavam a dar lugar a letras mais sacanas, embora muitas vezes fosse
necessário criar versões atenuadas de versos mais diretos.

A mistura explosiva da empolgante música negra com o consumismo branco
adolescente havia sido feita... a explosão era questão de tempo....

Mas quem teria sido o homem que mereceria ser coroado como responsável
pela "criação" do rock and roll? Obviamente um estilo musical tão complexo
não poderia Ter sua invenção atribuida incontestavelmente a apenas um
indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém merecesse ter seu nome
associado à "criação" do rock como o conhecemos este alguém não seria Elvis
ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader. O
"inventor" do termo rock and roll e grande responsável pela difusão do estilo
foi o disk jokey Allan Freed, radialista de programas de rhythm and blues de
Cleveland, Ohio, que primeiro captou e investiu na carência do público jovem
consumista por um novo tipo de música mais energética e primeiro percebeu o
potencial comercial da música negra.

O termo rock and roll era uma gíria dos negros americanos, referente ao ato
sexual, presente inclusive em muitas letras de blues (a exemplo de My Daddy
Rocks Me With a Steady Roll da cantora Trixie Smith, de 1922). Allan Freed
foi o responsável por usar o nome sonoro para denominar o novo estilo
musical em que estava investindo.

Em 1951 Allan Freed criou o programa Moon Dog Show mais tarde
renomeado para Moon Dog Rock and Roll Party ao mesmo tempo em que
promovia festas de dança com o mesmo nome, movidas inicialmente a blues e
rhythm & blues e mais tarde pelo rítmo que havia ajudado a definir e divulgar.
Suas festas apesar dos constantes atritos e reclamações por parte das
autoridades eram um sucesso. Tumultos lhe valeram dezenas de processos por
incitação à violência.

Enquanto a juventude adotava o novo rítmo como sua marca registrada os
adultos, principalmente das parcelas mais conservadoras da sociedade, a
taxavam como causa de toda delinquência juvenil... apesar do exagero dos
protestos, não estavam de todo errados, o gosto pelo rock era realmente parte
do estilo das gangues juvenis.

Parte 02 - Anos 50

Musicalmente falando, quem primeiro definiu o estilo rock and roll foi Bill
Haley, que baseado principalmente no country criou uma batida diferente
acentuada no segundo e quarto tempos de uma marcação 4x4. A data mais
comumente aceita como a da criação do rock and roll é a do lançamento da
música (We’re Gonna) Rock Around The Clock de Bill Haley and The
Comets, em 12 de Abril de 1954, embora dezenas de gravações anteriores já
apresentassem um ou outro fator do que viria a se cristalizar como rock and
roll (o próprio Bill Haley havia gravado no mesmo ano, um pouco antes, a
música Shake Rattle and Roll).

O sonho de encontrar um branco capaz de cantar como um negro havia sido
realizado por Sam Phillips, de um pequeno selo chamado Sun Records. Em
seu início de carreira com o single de Thats All Right e Blue Moon of
Kentucky, logo seguido por Good Rockin’ Tonight e I Don’t Care If The Sun
Dont Shine, poucos poderiam acreditar que o Elvis Presley que ouviam no
rádio era um branco. Obviamente parecia mais saudável à sociedade
conservadora e racista aceitar aquele tipo de música vindo de um rapaz com
rosto de bom moço. Qualquer boa intenção porém era desmentida pela
maneira agressiva e sensual de dançar.

Embora criado um ano antes o rock and roll só viria a explodir
definitivamente em 1955, em grande parte influenciado pela inclusão de Rock
Around The Clock como música de abertura do filme Blackboard Jungle
(Sementes da Violência) sobre relações tumultuadas entre alunos e
professores (uma analogia a algo muito mais amplo, o relacionamento entre o
stablishment e a ânsia por mudanças). Uma juventude a cada dia mais
delinquente e em busca de herois sem relações com herois do passado
rapidamente adotou (para pavor da parcela mais conservadora da sociedade) a
rebeldia (mesmo que sem causa) como exemplo a ser seguido, e por tabela a
música do filme como catalisador desta rebeldia. Obviamente o novo tipo de
música passou rapidamente a ser associado à degeneração da juventude, o que
tornava ainda maior seu fascínio, em um ciclo vicioso irresistível.

E quando todos pensavam que nada pior poderia influenciar em tão grande
escala a juventude americana eis que um negro, Chuck Berry, sobe às paradas
com uma versão para o hit country Ida Red, renomeado para Maybelline (da
qual consta o nome de Allan Freed como autor embora este não tenha ajudado
na composição). Embora nunca tenha conseguido para si o título que lhe
poderia ser devido de rei do rock (usurpado pelo branco Elvis) sua
importância nunca foi discutida.

Ainda mais assustadora para os conservadores porém seria a aparição nas
paradas de um segundo negro, Little Richard, este ainda por cima afeminado,
maquiado e com um penteado no mínimo exótico, cantando em seu primeiro
verso o que viria a ser para sempre o grito de guerra mais conhecido do rock
and roll, tão indecifrável quanto contagiante... "a wop bop a loo bop a lop bam
boom".. a música... Tutti Frutti.
A prova definitiva de que o rock and roll seria a mais lucrativa música de
consumo dos próximos anos viria com o pagamento de inéditos 45.000
dólares pelo passe de Elvis Presley (que chegara a ser aconselhado a voltar a
dirigir caminhões menos de dois anos antes) para a gravadora major RCA
Victor.

Em 1956 enquanto Elvis Presley consolidava seu sucesso com novos hits
como Heartbreak Hotel, Blue Suede Shoes (que deveria ter sido lançada pelo
seu autor, Carl Perkins, não tivesse este sofrido um grave acidente de carro
que o deixou paralisado um ano) e regravações de músicas já consagradas
como Tutti Frutti (com Little Richard) e Shake Rattle and Roll (com Bill
Haley) tornava-se urgente para outras gravadoras achar artistas que pudessem
rivalizar Elvis ou ao menos conseguir alguma repercussão usando de seu
estilo.

A Sun tentando se livrar do estigma que a perseguiria de ser apenas a
gravadora que descobriu Elvis e o vendeu por (apenas depois isso seria óbvio)
uma ninharia, lançava Roy Orbison com Ooby Dooby. Como pianista já tinha
em seus estúdios aquele que viria em pouco tempo a ser seu grande trunfo e
tentativa mais eficiente de igualar o sucesso de Elvis, Jerry Lee Lewis. A
Capitol Records responderia a Elvis com Gene Vincent and The Blue Caps,
marcado pelo estilo do vocalista que balançava em torno de sua perna parada
(na verdade paralisada em virtude de um acidente de moto) e pelo hit Be Bop
A Lula.

Com uma sonoridade um pouco diferente, mais marcada pela música negra de
origem, principalmente gospel, começava a despontar o talento de James
Brown com o quase soul Please Please Me.

Já sobre o comando do empresário Tom Parker o talento de Elvis era
aproveitado também no cinema no filme The Reno Brothers, logo renomeado
para Love Me Tender em virtude do grande sucesso da canção tema. Não
tardam a aparecer outros filmes com participações de astros do rock, como
Rock Around The Clock e Don’t Knock The Rock (apresentando Bill Haley e
Allan Freed), The Girl Can’t Help It (Little Richard, Gene Vincent, Eddie
Cochran), entre outros. Enquanto isso, na Inglaterra, com algum atraso, o
filme Blackboard Jungle levava o rock and roll ao reino unido.

Com o alistamento obrigatório de Elvis Presley nas forças armadas em 1957 o
fim do rock and roll foi anunciado pela primeira vez. Afinal o que haveria
neste rítmo que o poderia fazer mais durável do que tantos outros como o cha-
cha-cha, a rumba, o calipso, o mambo?

Contrariando todas as previsões novos hit makers surgem de onde menos se
espera. Se juntando à banda Crickets o até então inexpressivo Buddy Holly, de
Nashville, prova com os hits açucarados That Will Be The Day e Peggy Sue
que o rock poderia ser domado e usado associado a um bom moço e letras
românticas sem segundas intenções.

As esperanças de menos rebeldia e dias mais calmos no radio não se
concretizariam, obviamente. Seja por lançamentos como School Days de
Chuck Berry (uma ode ao fim das aulas) ou pela explosão tardia de Jerry Lee
Lewis com Crazy Arms e Whole Lotta Shakin’ Going On.

Com o ingresso de Elvis nas forças armadas (a despeito de este ter deixado
gravado material para dezenas de lançamentos e um filme gravado, King
Creole) Jerry Lee Lewis era o candidato natural para seu posto, rebelde,
carismático... e branco. Seu apelo ao público era proporcional ao seu ego e
Great Balls Of Fire rapidamente se tornou o sucesso do ano de 1958. Sua
carreira viria a derrocar de maneira tão meteórica quanto surgira em virtude de
vir a público seu casamento com a prima de 13 anos, Myra Gale Brown, e de
ele nem ao menos ter tido o cuidado de desmanchar um de seus casamentos
anteriores, sendo portanto um bígamo, o que era demais para a sociedade da
época.

1958 vê ainda Chuck Berry lançar dois dos maiores clássicos do rock de todos
os tempos, Sweet Little Sixteen (sim, sobre garotas adolescentes) e Johnny B.
Goode (quase auto biográfica). O Rock bonzinho e romântico por sua vez
reage com All I Have To Do dos Everly Brothers. James Brow lança seu
primeiro grande hit, Try Me.

O ano negro de 1959 começou marcado pelo acidente de avião que em
janeiro, em Clear Lake, Iowa, matou Buddy Holly, Big Booper e o recém
descoberto chicano Ritchie Valens (do sucesso La Bamba). Após uma
apresentação conjunta durante uma mal-sucedida turnê de inverno chamada
Winter Dance Party , o avião que transportava o grupo de uma cidade para
outra, em meio a uma tempestade de neve e com um piloto inexperiente, caiu
pouco após a decolagem, não deixando sobreviventes.

A década termina com Chuck Berry sendo preso por cruzar uma fronteira
estadual com uma prostituta (que teoricamente havia sido contratada para
trabalhar em um clube de sua propriedade em Saint Louis). Seu grande crime
obviamente era ser negro em uma sociedade racista e ter alcançado tanto
sucesso. Berry foi julgado e condenado a dois anos de cadeia.

Os fatos citados acima eram emblemáticos e fáceis de notar mas os problemas
do rock não se reduziam a estes. O estilo estava gasto em virtude da
superexposição e mesmo grandes nomes como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis
estavam tomando o caminho mais lucrativo do country. Elvis Presley, de volta
de seu serviço nas forças armadas, passaria de rockeiro rebelde a entertainer
familiar, gravando praticamente apenas baladas. A juventude finalmente
notara que Bill Haley e Allan Freed afinal já não tinham idade para serem
ídolos jovens. Talvez o rock finalmente tivesse morrido. Ou talvez apenas
precisasse de algumas mudanças.

Parte 03 - Anos 60

Continuando a série de fatalidades entre os rockstars iniciadas em 1959, já em
abril de 1960 morreria Eddie Cochran em uma colisão de um táxi contra um
poste de energia elétrica. No mesmo carro estava Gene Vincent que
juntamente com a namorada de Eddie sofreu apenas ferimentos. O impacto
emocional do acidente talvez tenha sido o motivo pelo qual Gene Vincent não
mais apresentou a mesma performance e iniciou o declínio de sua careira
(chegando a desmaiar no palco durante uma tour pela Inglaterra).

No final da primeira fase do rock and roll também foi emblemática a
perseguição ao criador do estilo, Allan Freed, processado e condenado ao
pagamento de uma multa de mais de US$30.000 por ter recebido pagamentos
em troca da execução de determinadas músicas em seus programas e festas.
Alegava-se que as atitudes anti-éticas de Allan Freed haviam sido
responsáveis pelo sucesso do rock and roll que de outra forma não poderia ter
atingido tamanha repercussão. Allan Freed após a divulgação deste escândalo
foi obrigado a se retirar da atenção do público.

Mas enquanto o rock declinava sensivelmente no seu pais de origem, do outro
lado do Atlântico, na Inglaterra, principalmente nas cidades portuária (por
terem estas acesso mais fácil às músicas que vinham do continente
americano), crescia o interesse pelo rock and roll. Billy Furry foi o primeiro
artista de rock inglês a ter alguma repercussão nos Estados Unidos, ainda
baseado nos conceitos comerciais do rock original, com músicas feitas por
encomenda. Na cidade de Liverpool estava tomando forma um movimento
cultural que tomou o nome de um fanzine musical local, Mersey Beat. Entre
as bandas locais já destacavam-se os Beatles.

Em oposição ao rock juvenil e inocente da década de 50, começaram a surgir
nos Estados Unidos artistas mais preocupados em passar mensagens
importantes através da música. Com base na música folk e tocando em bares
surgiam artistas como Bob Dylan e Joan Baez, que em muito breve viriam a
mudar o rosto do rock. O movimento intelectual chamado de Beatnik foi de
grande importancia na formação deste novo estilo. O Beat era caracterizado
pela valorização da individualidade, do livre arbítrio, da experimentação e da
mudança, em contradição à manutenção dos antigos valores considerados
importantes pela burguesia.
Em 1963 Bob Dylan já era um astro de relativa repercussão e suas letras
inteligentes chamavam a atenção de público e crítica, fato inédito até então na
música pop. Em abril fez seu primeiro grande show em New York, e teve uma
apresentação no programa de TV de Ed Sullivan cancelada em virtude do
conteúdo "revolucionário" de suas letras. Já em maio ocorreria na Califórnia o
Monterey Festival reunindo Bob Dylan e Joan Baez, além de outros artistas do
estilo como Peter Seeger e o trio Peter, Paul & Mary. Rapidamente a música
folk e principalmente Bob Dylan seriam taxados de comunistas e
degenerados, o que obviamente atraiu a atenção do público jovem e aumentou
o apelo do novo estilo.

Do rock ao estilo antigo talvez a única grande novidade no início da década de
60 tenham sido os Beach Boys, banda a início dirigida basicamente à
comunidade de surfistas mas que terminou por ter uma inesperada repercussão
com o hit Surfin’ Usa (um plágio descarado a Sweet Little Sixteen de Chuck
Berry, por quem seriam processados neste mesmo ano). Em seu rastro
surgiriam outros artistas com temas de surf, como Jan and Dean.

Na Inglaterra, contratados por George Martin da EMI, após terem sido
desprezados pela gravadora Decca, em 1963 osBeatles já eram um sucesso
sem precedentes usando a formula de juntar o apelo fácil de músicas
cativantes a grande presença, bom humor e algum cinismo em entrevistas, que
chamavam a atenção da imprensa. Era estranho também para a época que
fossem os próprios membros da banda responsáveis por grande parte de suas
composições. Com um cover de Come On (música de Chuck Berry) estreava
também na Inglaterra, ainda sem grande repercussão, a banda Rolling Stones.

As novidades já não levavam tanto tempo para se espalhar por outros
paises. Bob Dylan e outros artistas folk dos Estados Unidos penetravam
finalmente o mercado inglês enquanto paralelamente os Beatles conquistavam
a américa. Curiosamente em abril de 1964 Bob Dylan era número um na
Inglaterra com a música The Times They Are A Changin enquanto
os Beatlesocupavam as cinco primeiras posições na parada americana (com
Cant Buy Me Love em primeiro lugar). Não haviam atritos ou disputa entre os
estilos musicais opostos... as letras e a postura política de Bob Dylan sempre
foram abertamente elogiadas pelos Beatles.

Os Rolling Stones se tornavam também um grande sucesso mundial com sua
ida aos Estados Unidos pouco após os Beatles (a atitude irreverente dos
Stones, com seus frequentes escândalos, era a antítese perfeita à educação e
boa aparência dos Beatles, conquistando a parcela mais rebelde do público).
Outras bandas inglesas como Herman’s Hermits, The Kinks e The Animals
também despontavam.
A partir de 1965, com a banda Yardbirds (de carreira tão curta quanto
influente, que teve entre seus membros ninguém menos que Eric Clapton,
Jimmy Page e Jeff Beck) e The Who, o rock começava a ganhar uma
agressividade inédita, com guitarras mais ditorcidas e mais amplificação.

Em 1966, com o single Substitute o The Who finalmente levava o hard rock
pela primeira vez ao topo das paradas (em grande parte devido à repercussão
do quebra quebra generalizado promovido após os shows pela banda no palco
e pelo público na platéia), enquanto Eric Clapton forma o power trio Cream.
Nos Estados Unidos as novidades eram menos agressivas: a fusão definitiva
entre o folk e o rock da banda The Byrds e Simon & Garfunkel e as harmonias
vocais da banda The Mammas and The Pappas.

As influências das temáticas mais complexas do folk rock eram flagrantes
(vide a evolução dos Beatles com o álbum Revolver) e paralelamente às letras
mais instigantes os músicos buscavam também levar adiante as sonoridades,
explorando instrumentosexóticos e arranjos mais complexos, experimentais e
inexperados.

As drogas não mais eram apenas consumidas para eliminar o cansaço, mas
sim para buscar prazer e estados alterados de percepção. A música da época
foi fortemente influenciada por drogas como LSD, seja porque era composta
sobre seu efeito ou porque era composta de maneira a simular ou tentar
ampliar seus efeitos. O novo tipo de música foi chamado de psicodélico.

Sobre o efeito de LSD os Beatles gravaram o que possivelmente foi o álbum
mais revolucionário da história do rock, Sht Peppers’ Lonely Hearts Club
Band, em 1967. Pela primeira vez uma banda de rock rompeu definitivamente
com o formato extremamente comercial da música hit single, lançando uma
obra em que cada música era apenas uma parte do todo. Tendo gasto mais de
700 horas e seis meses de gravação, tratou-se de um álbum instigante desde a
sua capa (uma colagem de personalidades admiradas pelos Beatles) até o
último sulco do disco (um ciclo sem fim).

Para muitos Sgt Peppers é considerado o nascimento do rock progressivo (que
não se prende a nenhum conceito predefinido, baseado na experimentação e
no ineditismo). Divide esta glória com um outro álbum, curiosamente gravado
no mesmo estúdio e ao mesmo tempo, The Pipers At The Gates Of Dawn, da
banda Pink Floyd, que havia ficado famosa pelas suas performances
audiovisuais no underground londrino, capitaneada pelo gênio movido a LSD
de Syd Barret.

Descoberto e levado para a Inglaterra pelo ex-Animals Chas Chendler, Jimi
Hendrix seria uma outra grande revelação de 1967. Com seu segundo single,
Purple Haze (o primeiro havia sido Hey Joe, um ano antes) Hendrix captou a
atenção não apenas do público, mas de astros como Eric Clapton e Mick
Jagger, criando uma nova sonoridade e ampliando definitivamente o papel e
os recursos da guitarra elétrica no rock.

Baseados na agressão ao stablishment e na liberdade (sexual e de
experimentação) herdada do pensamento beat, surgia nos Estados Unidos o
movimento hippie, concentrado principalmente em San Francisco, e tendo
como expoentes bandas como Gratefull Dead, Jefferson Airplane (claramente
influenciadas por drogas) e The Doors (com seu primeiro single, Light My
Fire) e artistas derivados da música folk como Janis Joplin. São marcos da
época as flores no cabelo (daí o termo flower power), os cabelos longos e as
comunidades alternativas. O símbolo de três pontas relacionado ao lema "paz
e amor" foi tomado da sinalização militar que significava "cessar
bombardeio". Nada mais adequado em época de Guerra do Vietnan.

O grande evento do ano de 1967 seria o Monterey Pop Festival que reuniu na
California Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Animals, Simon and Garfunkel,
Bufallo Springfield, entre outros.

Em 1968 com o final da banda Yardbirds Jimmy Page forma o New Yardbirds
logo renomeado para Led Zeppelin, ao mesmo tempo em que o Cream
alcançava um merecido sucesso. Uma outra banda de hard rock, Sttepenwolf,
na música Born To Be Wild, cunhava pela primeira vez o termo ‘heavy
metal’. A sonoridade do Led Zeppelin era inédita, e embora muito baseada no
blues, mais agressiva do que qualquer música anterior. Instrumentistas
virtuosos, solos e improvisações de tempo indeterminado começavam a se
destacar. O hard rock iniciava seu período de apogeu ao mesmo tempo em que
os clássicos como Beatles ePink Floyd, passavam por problemas de
convivência cada vez maiores (embora os Beatles ainda fossem levar sua
carreira adiante por quase dois anos, o Pink Floyd sofreria uma grande
mudança com a saída de Syd Barret).

1969 foi ainda o ano dos grandes festivais. A morte de um fã durante um show
dos Rolling Stones durante uma apresentação gratuita no festival de
Altamond, California, foi o marco negativo do ano. Mas mesmo esta má
impressão não seria capaz de abafar a realização do que possivelmente foi o
maior evento de música de todos os tempos, entre 15 e 17 de Agosto, em
Woodstock, interpretado por muitos como o marco do início de uma nova era
de paz e amor, com apresentações entre outros de Jimi Hendrix, Janis Joplin,
Jefferson Airplane e The Who. No Newport Jazz Festival por sua vez
apresentaram-se Led Zeppelin, Jethro Tull, John Mayall, Ten Years After, Jeff
Beck, James Brows, Johnny Winter, entre outros.

Com bandas de músicos virtuosos como Pink Floyd, Led Zepellin,
Cream, Jethro Tull e Deep Purple, e os super experimentais Mothers Of
Invention de Frank Zappa, associados aos trabalhos cada vez mais elaborados
de bandas antigas como os Beatlese o The Who (que havia lançado a ópera
rock Tommy, elevando definitivamente o rock a categoria de arte) a
simplicidade característica do rock dos primeiros tempos havia sumido.

Parte 04 - Anos 70

Em 1970 o rock, assim como os roqueiros da primeira geração, já haviam
atingido sua maioridade e a inocência dos primeiros tempos era apenas
passado. As grandes bandas em sua maioria estavam cercadas dos melhores
equipamentos de estúdio e mesmo orquestras (bastante emblemático é o
lançamento do Deep Purple, Concerto For Group And Orchestra). Um outro
grande passo para a sofisticação fora também a rápida difusão dos
sintetizadores (a início os Moogs e Minimoogs inventados por Robert Moog),
teclados capazes de criar novas tessituras e variedades sonoras antes
impraticáveis.

O fim dos Beatles foi emblemático do fim de mais uma era no rock. Haviam
sido talvez a banda que mais ajudara na transição entre o rock básico de letras
simples dos primeiros tempos ao rock mais complexo e sério musicalmente e
liricamente. Não mais apenas diversão e produto de consumo o rock era
definitivamente encarado como expressão artística e social.

O publico de rock se dividia em duas frentes, a dos adolescentes mais
interessados nos hits singles de bandas teoricamente "descartáveis" e a dos já
amadurecidos rockers dos primeiros tempos, em busca de experimentação,
letras elaboradas, álbuns completos.

O rock progressivo começava a se apresentar ao grande público e Greg Lake,
após abandonar a banda King Crimson, formava a clássica banda Emerson,
Lake & Palmer (acompanhado de Keith Emerson e Carl Palmer), cativando
um público cada vez mais sério. O álbum Deja Vu de Crosby, Stills, Nash &
Young, é o mais vendido do ano nos estados unidos. Com a aquisição do
baterista Phill Collins a banda Genesis iniciava sua careira de sucesso.

Embora o rock progressivo continuasse em expansão, bandas de musicalidade
mais simples e muito baseadas no apelo fácil da rebeldia voltavam a surgir
para suprir a nova geração, principalmente nos Estados Unidos, como Slade,
Sweet, Gary Glitter, T Rex, ou conseguiam um sucesso tardio, como David
Bowie, Bay City Rollers e Elton John. A imagem (maquiagem, cabelos,
roupas exageradas e coloridas) de músicos como Marc Bolan, do T Rex,
iniciavam a definição do estilo Glam Rock (que aproveitavam a imagem
exdrúxula e em muitos casos andrógina como fator de marketing).
Na Inglaterra, em 1970, sem requintes musicais, o Black Sabbath gravava seu
primeiro disco (conta a lenda que em apenas dois dias), auto entitulado,
expandindo as fronteiras do "peso" no hard rock e criando o que
possivelmente poderia ser o primeiro disco definitivamente heavy metal
conhecido do grande público. O limite dos escândalos envolvendo
sexo, drogas e "satanismo" também é empurrado para diante.

Munido de maquiagem e teatralidade inéditos até então Alice Cooper seria a
resposta americana ao inédito peso e atitude doBlack Sabbath. Surge para o
público em 1971 com o hit Eighteen e o álbum Love It To Death.

A cristalização do uso da imagem, do teatro e da "atitude" como fator de
marketing tão ou mais importante do que a própria música seria a banda
americana Kiss (que lançou seu álbum de estréia, auto-entitulado, em 1974)
cujos músicos tocavam maquiados, assumiam personalidades de demônio,
animal, homem espacial e deus, voavam, cuspiam fogo, vomitavam sangue e
vendiam discos, maquiagem e bonecos como nenhuma banda de simples
músicos poderia vender.

Em 1975, paralelamente ao rock elaborado das bandas progressivas ou de hard
rock (o Queen lançava seu excelente primeiro disco auto-entitulado) e ao rock
comercial glam, surgia nos pequenos bares e casas de show dos Estados
Unidos um movimento musical underground marcado por descompromisso e
cheio da autenticidade e da real rebeldia que faltava a estes primeiros. Em
pequenos locais (como o emblemático CBGB em New York) bandas como
Blondie e Ramones. O estilo era marcado pelo "do-it-yourself", a
possibilidade de qualquer um (mesmo que não sabendo tocar) montar uma
banda.

Foi responsabilidade de Malcon McLaren, até então dono de uma loja de
roupas de couro (de certa forma uma sex shop) em Londres, o aproveitamento
do novo estilo como algo comercial. Não tendo sido bem sucedido em
empresariar a banda americana New York Dolls (que já estavam em franca
decadência), McLaren voltou a Londres com a finalidade de montar ele
próprio uma banda usando o padrão que havia conhecido nos Estados Unidos.
Entre clientes de sua loja recrutou quem tivesse os parcos conhecimentos
musicais necessários para formar a banda Sex Pistols. Acrescentaram à
música simples e alucinada dos punks americanos letras anarquistas e mais
agressivas. Seu primeiro hit foi Anarchy In The Uk, em 1975.

O punk criado nos estados unidos e popularizado na Inglaterra (onde logo
viria a se tornar um movimento social do proletariado e não mais apenas um
estilo musical) foi uma resposta necessária ao rock que estava se levando a
sério demais, aos álbuns duplos conceituais, aos solos de dez minutos e às
bandas que perdiam de vista o caráter de diversão do rock. O punk embora
considerado por muitos anti-música foi na pior das hipóteses um mal
necessário para mostrar e conter alguns exageros do progressivismo.

Em 1977 o primeiro disco dos Sex Pistols, Nevermind The Bollocks entraria
direto no primeiro lugar da parada britânica. AosSex Pistols se seguiriam
dezenas de bandas inglesas e americanas como Clash, Damned, Siouxie and
The Banshees, além de serem resgatadas e tiradas do anonimato bandas
como Ramones e Blondie.

O estilo também influiria embora indiretamente na sonoridade de novas
bandas que surgiam, como Motörhead e AC/DC. O punk também absorveria
elementos de outros estilos (como o reggae, por exemplo, de temática e
musicalidade semelhantes em sua simplicidade). Bandas como The Police,
Simple Minds e Pretenders (e um pouco mais tarde U2) adotariam um estilo
que viria a ser conhecido como new wave, mais facilmente aceitável que o
punk (cuja fórmula inicial já não surtia tanto efeito comercialmente).

Mas o punk e a new wave não eram a única alternativa à onda "disco" que
assolava a música. Começava a se formar na Inglaterra com bandas
como Judas Priest, Samsom e principalmente Iron Maiden o que viria a ser
conhecido como New Wave Of British Heavy Metal, a resposta do som
pesado e elaborado à sonoridade simples do punk. O hard rock também dava
sinais de renovação com o primeiro álbum auto-entitulado da banda Van
Halen em 1978.

Apesar do fim dos Sex Pistols em 1978 (com a fórmula tão esgotada quanto os
próprios músicos após uma imensa tour pelos Estados Unidos) e da morte do
anti-heroi, símbolo do punk, Sid Vicious (de overdose, após conseguir
liberdade condicional da prisão onde estava por ter supostamente assassinado
a namorada) em 1979, o rock nunca mais seria o mesmo após a onda punk.

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      Por absoluta falta de talento, nunca conseguiria fazer algo de útil pela
música tocando algum instrumento, por isso resolveu criar o site Whiplash!
em 1996. Não está mais livre, leve, solto, desimpedido, nem muito menos
subindo pelas paredes. Meninas interessadas em dividir as venturas e
desventuras de manter o maior site de rock do Brasil, desistam, pois ele já
encontrou o amor de sua vida no www.parperfeito.com.br.

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  • 1. História do Rock: dos primórdios aos anos 70 Por João Paulo Andrade Em 01/01/00 Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos trazidos da África para as plantações de algodão dos Estados Unidos, a criação da estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos entoados pelos negros durante o trabalho, no início do século XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para designar pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia). Focado basicamente no vocal, o blues era geralmente acompanhado apenas por violão. Índice das partes desta matéria • Parte 01 - Os Primórdios • Parte 02 - Anos 50 • Parte 03 - Anos 60 • Parte 04 - Anos 70 Parte 01 - Os Primórdios Enquanto o blues se desenvolvia nos campos e pequenas cidades, nas grandes cidades por sua vez tocava-se o jazz, baseado na improvisação e marcado por bandas maiores e arranjos mais elaborados, com percussão e instrumentos de sopro. Por um outro lado, nas igrejas evangélicas desenvolvia-se a música gospel negra, que embora obedecendo as escalas de blues, caracterizavam-se por rítmo frenético ou mesmo sensual, canções de redenção e esperança para um povo oprimido. A música era acompanhada por piano ou órgão. A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria havia levado mais gente dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e negros e a tensão social e racial mas também favorecendo a influência mútua
  • 2. entre a música negra (blues e seus derivados) e a música branca (principalmente country e jazz). Da fusão do blues original com os rítmos mais dançantes dos brancos surgiu o rhythm and blues, que levou a música negra ao conhecimento da população consumista. No início da década de 50, com o final da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coréia, os Estados Unidos despontavam como grande potência mundial. Mais do que em qualquer outro momento da história era incentivado o gozo da vida, marcada que estava a sociedade pelos anos de sofrimento da guerra. A população de maneira geral e inclusive as minorias pela primeira vez tinha dinheiro para gastar com supérfluos como música. Com o anúncio da explosão de bombas atômicas pela União Soviética e um possível "fim do mundo" a qualquer momento, a ordem geral era aproveitar cada momento como se fosse o último. Numa época de mudanças surgia uma corrente intelectual inédita contrária à antiga política, rebeldia esta refletida na literatura, como no livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, mas mais notadamente no cinema com a glorificação da antítese dos antigos valores em filmes como O Selvagem (em que Marlon Brando interpreta um delinquente). Em pleno crescimento econômico capitalista o consumo era considerado fator primordial para geração de empregos e divisas, bem como o melhor antídoto contra o comunismo, e a busca por novos mercados consumidores era incessante. Obviamente a parcela mais jovem da população rapidamente se mostrou mais facilmente influenciavel e ao público adolescente pela primeira vez foi dado o direito de ter produtos destinados ao seu consumo exclusivo, bem como poder de escolha. Estranhamente porém os jovens brancos em grande parte se negavam a consumir a música normalmente consumida pela maioria branca. Começaram a buscar na música dos guetos algo diferente. Com a indústria fonográfica de grande porte não preparada para suprir o público consumidor com este tipo de música ganharam importância selos pequenos de música negra. A aceitação deste tipo de música pelo público de maior poder aquisitivo levou a incipiente indústria fonográfica da época a investir na evolução do estilo e procura e contratação de novos talentos, principalmente na procura de um jovem branco que pudesse domar aquele estilo aliando a ele uma imagem que pudesse ser vendida mais facilmente. Tornaram-se comuns os relançamentos de versões de músicas dos negros regravadas por artistas brancos, que terminavam por tirar os verdadeiros criadores do estilo do topo das paradas. Uma outra grande revolução de costumes estava em curso. Sexo deixava de ser tabu e passava a ser considerado diversão (tanto para o homem como para
  • 3. as mulheres). As canções de amor por pressão do público comprador passavam a dar lugar a letras mais sacanas, embora muitas vezes fosse necessário criar versões atenuadas de versos mais diretos. A mistura explosiva da empolgante música negra com o consumismo branco adolescente havia sido feita... a explosão era questão de tempo.... Mas quem teria sido o homem que mereceria ser coroado como responsável pela "criação" do rock and roll? Obviamente um estilo musical tão complexo não poderia Ter sua invenção atribuida incontestavelmente a apenas um indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém merecesse ter seu nome associado à "criação" do rock como o conhecemos este alguém não seria Elvis ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader. O "inventor" do termo rock and roll e grande responsável pela difusão do estilo foi o disk jokey Allan Freed, radialista de programas de rhythm and blues de Cleveland, Ohio, que primeiro captou e investiu na carência do público jovem consumista por um novo tipo de música mais energética e primeiro percebeu o potencial comercial da música negra. O termo rock and roll era uma gíria dos negros americanos, referente ao ato sexual, presente inclusive em muitas letras de blues (a exemplo de My Daddy Rocks Me With a Steady Roll da cantora Trixie Smith, de 1922). Allan Freed foi o responsável por usar o nome sonoro para denominar o novo estilo musical em que estava investindo. Em 1951 Allan Freed criou o programa Moon Dog Show mais tarde renomeado para Moon Dog Rock and Roll Party ao mesmo tempo em que promovia festas de dança com o mesmo nome, movidas inicialmente a blues e rhythm & blues e mais tarde pelo rítmo que havia ajudado a definir e divulgar. Suas festas apesar dos constantes atritos e reclamações por parte das autoridades eram um sucesso. Tumultos lhe valeram dezenas de processos por incitação à violência. Enquanto a juventude adotava o novo rítmo como sua marca registrada os adultos, principalmente das parcelas mais conservadoras da sociedade, a taxavam como causa de toda delinquência juvenil... apesar do exagero dos protestos, não estavam de todo errados, o gosto pelo rock era realmente parte do estilo das gangues juvenis. Parte 02 - Anos 50 Musicalmente falando, quem primeiro definiu o estilo rock and roll foi Bill Haley, que baseado principalmente no country criou uma batida diferente acentuada no segundo e quarto tempos de uma marcação 4x4. A data mais comumente aceita como a da criação do rock and roll é a do lançamento da
  • 4. música (We’re Gonna) Rock Around The Clock de Bill Haley and The Comets, em 12 de Abril de 1954, embora dezenas de gravações anteriores já apresentassem um ou outro fator do que viria a se cristalizar como rock and roll (o próprio Bill Haley havia gravado no mesmo ano, um pouco antes, a música Shake Rattle and Roll). O sonho de encontrar um branco capaz de cantar como um negro havia sido realizado por Sam Phillips, de um pequeno selo chamado Sun Records. Em seu início de carreira com o single de Thats All Right e Blue Moon of Kentucky, logo seguido por Good Rockin’ Tonight e I Don’t Care If The Sun Dont Shine, poucos poderiam acreditar que o Elvis Presley que ouviam no rádio era um branco. Obviamente parecia mais saudável à sociedade conservadora e racista aceitar aquele tipo de música vindo de um rapaz com rosto de bom moço. Qualquer boa intenção porém era desmentida pela maneira agressiva e sensual de dançar. Embora criado um ano antes o rock and roll só viria a explodir definitivamente em 1955, em grande parte influenciado pela inclusão de Rock Around The Clock como música de abertura do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência) sobre relações tumultuadas entre alunos e professores (uma analogia a algo muito mais amplo, o relacionamento entre o stablishment e a ânsia por mudanças). Uma juventude a cada dia mais delinquente e em busca de herois sem relações com herois do passado rapidamente adotou (para pavor da parcela mais conservadora da sociedade) a rebeldia (mesmo que sem causa) como exemplo a ser seguido, e por tabela a música do filme como catalisador desta rebeldia. Obviamente o novo tipo de música passou rapidamente a ser associado à degeneração da juventude, o que tornava ainda maior seu fascínio, em um ciclo vicioso irresistível. E quando todos pensavam que nada pior poderia influenciar em tão grande escala a juventude americana eis que um negro, Chuck Berry, sobe às paradas com uma versão para o hit country Ida Red, renomeado para Maybelline (da qual consta o nome de Allan Freed como autor embora este não tenha ajudado na composição). Embora nunca tenha conseguido para si o título que lhe poderia ser devido de rei do rock (usurpado pelo branco Elvis) sua importância nunca foi discutida. Ainda mais assustadora para os conservadores porém seria a aparição nas paradas de um segundo negro, Little Richard, este ainda por cima afeminado, maquiado e com um penteado no mínimo exótico, cantando em seu primeiro verso o que viria a ser para sempre o grito de guerra mais conhecido do rock and roll, tão indecifrável quanto contagiante... "a wop bop a loo bop a lop bam boom".. a música... Tutti Frutti.
  • 5. A prova definitiva de que o rock and roll seria a mais lucrativa música de consumo dos próximos anos viria com o pagamento de inéditos 45.000 dólares pelo passe de Elvis Presley (que chegara a ser aconselhado a voltar a dirigir caminhões menos de dois anos antes) para a gravadora major RCA Victor. Em 1956 enquanto Elvis Presley consolidava seu sucesso com novos hits como Heartbreak Hotel, Blue Suede Shoes (que deveria ter sido lançada pelo seu autor, Carl Perkins, não tivesse este sofrido um grave acidente de carro que o deixou paralisado um ano) e regravações de músicas já consagradas como Tutti Frutti (com Little Richard) e Shake Rattle and Roll (com Bill Haley) tornava-se urgente para outras gravadoras achar artistas que pudessem rivalizar Elvis ou ao menos conseguir alguma repercussão usando de seu estilo. A Sun tentando se livrar do estigma que a perseguiria de ser apenas a gravadora que descobriu Elvis e o vendeu por (apenas depois isso seria óbvio) uma ninharia, lançava Roy Orbison com Ooby Dooby. Como pianista já tinha em seus estúdios aquele que viria em pouco tempo a ser seu grande trunfo e tentativa mais eficiente de igualar o sucesso de Elvis, Jerry Lee Lewis. A Capitol Records responderia a Elvis com Gene Vincent and The Blue Caps, marcado pelo estilo do vocalista que balançava em torno de sua perna parada (na verdade paralisada em virtude de um acidente de moto) e pelo hit Be Bop A Lula. Com uma sonoridade um pouco diferente, mais marcada pela música negra de origem, principalmente gospel, começava a despontar o talento de James Brown com o quase soul Please Please Me. Já sobre o comando do empresário Tom Parker o talento de Elvis era aproveitado também no cinema no filme The Reno Brothers, logo renomeado para Love Me Tender em virtude do grande sucesso da canção tema. Não tardam a aparecer outros filmes com participações de astros do rock, como Rock Around The Clock e Don’t Knock The Rock (apresentando Bill Haley e Allan Freed), The Girl Can’t Help It (Little Richard, Gene Vincent, Eddie Cochran), entre outros. Enquanto isso, na Inglaterra, com algum atraso, o filme Blackboard Jungle levava o rock and roll ao reino unido. Com o alistamento obrigatório de Elvis Presley nas forças armadas em 1957 o fim do rock and roll foi anunciado pela primeira vez. Afinal o que haveria neste rítmo que o poderia fazer mais durável do que tantos outros como o cha- cha-cha, a rumba, o calipso, o mambo? Contrariando todas as previsões novos hit makers surgem de onde menos se espera. Se juntando à banda Crickets o até então inexpressivo Buddy Holly, de
  • 6. Nashville, prova com os hits açucarados That Will Be The Day e Peggy Sue que o rock poderia ser domado e usado associado a um bom moço e letras românticas sem segundas intenções. As esperanças de menos rebeldia e dias mais calmos no radio não se concretizariam, obviamente. Seja por lançamentos como School Days de Chuck Berry (uma ode ao fim das aulas) ou pela explosão tardia de Jerry Lee Lewis com Crazy Arms e Whole Lotta Shakin’ Going On. Com o ingresso de Elvis nas forças armadas (a despeito de este ter deixado gravado material para dezenas de lançamentos e um filme gravado, King Creole) Jerry Lee Lewis era o candidato natural para seu posto, rebelde, carismático... e branco. Seu apelo ao público era proporcional ao seu ego e Great Balls Of Fire rapidamente se tornou o sucesso do ano de 1958. Sua carreira viria a derrocar de maneira tão meteórica quanto surgira em virtude de vir a público seu casamento com a prima de 13 anos, Myra Gale Brown, e de ele nem ao menos ter tido o cuidado de desmanchar um de seus casamentos anteriores, sendo portanto um bígamo, o que era demais para a sociedade da época. 1958 vê ainda Chuck Berry lançar dois dos maiores clássicos do rock de todos os tempos, Sweet Little Sixteen (sim, sobre garotas adolescentes) e Johnny B. Goode (quase auto biográfica). O Rock bonzinho e romântico por sua vez reage com All I Have To Do dos Everly Brothers. James Brow lança seu primeiro grande hit, Try Me. O ano negro de 1959 começou marcado pelo acidente de avião que em janeiro, em Clear Lake, Iowa, matou Buddy Holly, Big Booper e o recém descoberto chicano Ritchie Valens (do sucesso La Bamba). Após uma apresentação conjunta durante uma mal-sucedida turnê de inverno chamada Winter Dance Party , o avião que transportava o grupo de uma cidade para outra, em meio a uma tempestade de neve e com um piloto inexperiente, caiu pouco após a decolagem, não deixando sobreviventes. A década termina com Chuck Berry sendo preso por cruzar uma fronteira estadual com uma prostituta (que teoricamente havia sido contratada para trabalhar em um clube de sua propriedade em Saint Louis). Seu grande crime obviamente era ser negro em uma sociedade racista e ter alcançado tanto sucesso. Berry foi julgado e condenado a dois anos de cadeia. Os fatos citados acima eram emblemáticos e fáceis de notar mas os problemas do rock não se reduziam a estes. O estilo estava gasto em virtude da superexposição e mesmo grandes nomes como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis estavam tomando o caminho mais lucrativo do country. Elvis Presley, de volta de seu serviço nas forças armadas, passaria de rockeiro rebelde a entertainer
  • 7. familiar, gravando praticamente apenas baladas. A juventude finalmente notara que Bill Haley e Allan Freed afinal já não tinham idade para serem ídolos jovens. Talvez o rock finalmente tivesse morrido. Ou talvez apenas precisasse de algumas mudanças. Parte 03 - Anos 60 Continuando a série de fatalidades entre os rockstars iniciadas em 1959, já em abril de 1960 morreria Eddie Cochran em uma colisão de um táxi contra um poste de energia elétrica. No mesmo carro estava Gene Vincent que juntamente com a namorada de Eddie sofreu apenas ferimentos. O impacto emocional do acidente talvez tenha sido o motivo pelo qual Gene Vincent não mais apresentou a mesma performance e iniciou o declínio de sua careira (chegando a desmaiar no palco durante uma tour pela Inglaterra). No final da primeira fase do rock and roll também foi emblemática a perseguição ao criador do estilo, Allan Freed, processado e condenado ao pagamento de uma multa de mais de US$30.000 por ter recebido pagamentos em troca da execução de determinadas músicas em seus programas e festas. Alegava-se que as atitudes anti-éticas de Allan Freed haviam sido responsáveis pelo sucesso do rock and roll que de outra forma não poderia ter atingido tamanha repercussão. Allan Freed após a divulgação deste escândalo foi obrigado a se retirar da atenção do público. Mas enquanto o rock declinava sensivelmente no seu pais de origem, do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, principalmente nas cidades portuária (por terem estas acesso mais fácil às músicas que vinham do continente americano), crescia o interesse pelo rock and roll. Billy Furry foi o primeiro artista de rock inglês a ter alguma repercussão nos Estados Unidos, ainda baseado nos conceitos comerciais do rock original, com músicas feitas por encomenda. Na cidade de Liverpool estava tomando forma um movimento cultural que tomou o nome de um fanzine musical local, Mersey Beat. Entre as bandas locais já destacavam-se os Beatles. Em oposição ao rock juvenil e inocente da década de 50, começaram a surgir nos Estados Unidos artistas mais preocupados em passar mensagens importantes através da música. Com base na música folk e tocando em bares surgiam artistas como Bob Dylan e Joan Baez, que em muito breve viriam a mudar o rosto do rock. O movimento intelectual chamado de Beatnik foi de grande importancia na formação deste novo estilo. O Beat era caracterizado pela valorização da individualidade, do livre arbítrio, da experimentação e da mudança, em contradição à manutenção dos antigos valores considerados importantes pela burguesia.
  • 8. Em 1963 Bob Dylan já era um astro de relativa repercussão e suas letras inteligentes chamavam a atenção de público e crítica, fato inédito até então na música pop. Em abril fez seu primeiro grande show em New York, e teve uma apresentação no programa de TV de Ed Sullivan cancelada em virtude do conteúdo "revolucionário" de suas letras. Já em maio ocorreria na Califórnia o Monterey Festival reunindo Bob Dylan e Joan Baez, além de outros artistas do estilo como Peter Seeger e o trio Peter, Paul & Mary. Rapidamente a música folk e principalmente Bob Dylan seriam taxados de comunistas e degenerados, o que obviamente atraiu a atenção do público jovem e aumentou o apelo do novo estilo. Do rock ao estilo antigo talvez a única grande novidade no início da década de 60 tenham sido os Beach Boys, banda a início dirigida basicamente à comunidade de surfistas mas que terminou por ter uma inesperada repercussão com o hit Surfin’ Usa (um plágio descarado a Sweet Little Sixteen de Chuck Berry, por quem seriam processados neste mesmo ano). Em seu rastro surgiriam outros artistas com temas de surf, como Jan and Dean. Na Inglaterra, contratados por George Martin da EMI, após terem sido desprezados pela gravadora Decca, em 1963 osBeatles já eram um sucesso sem precedentes usando a formula de juntar o apelo fácil de músicas cativantes a grande presença, bom humor e algum cinismo em entrevistas, que chamavam a atenção da imprensa. Era estranho também para a época que fossem os próprios membros da banda responsáveis por grande parte de suas composições. Com um cover de Come On (música de Chuck Berry) estreava também na Inglaterra, ainda sem grande repercussão, a banda Rolling Stones. As novidades já não levavam tanto tempo para se espalhar por outros paises. Bob Dylan e outros artistas folk dos Estados Unidos penetravam finalmente o mercado inglês enquanto paralelamente os Beatles conquistavam a américa. Curiosamente em abril de 1964 Bob Dylan era número um na Inglaterra com a música The Times They Are A Changin enquanto os Beatlesocupavam as cinco primeiras posições na parada americana (com Cant Buy Me Love em primeiro lugar). Não haviam atritos ou disputa entre os estilos musicais opostos... as letras e a postura política de Bob Dylan sempre foram abertamente elogiadas pelos Beatles. Os Rolling Stones se tornavam também um grande sucesso mundial com sua ida aos Estados Unidos pouco após os Beatles (a atitude irreverente dos Stones, com seus frequentes escândalos, era a antítese perfeita à educação e boa aparência dos Beatles, conquistando a parcela mais rebelde do público). Outras bandas inglesas como Herman’s Hermits, The Kinks e The Animals também despontavam.
  • 9. A partir de 1965, com a banda Yardbirds (de carreira tão curta quanto influente, que teve entre seus membros ninguém menos que Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck) e The Who, o rock começava a ganhar uma agressividade inédita, com guitarras mais ditorcidas e mais amplificação. Em 1966, com o single Substitute o The Who finalmente levava o hard rock pela primeira vez ao topo das paradas (em grande parte devido à repercussão do quebra quebra generalizado promovido após os shows pela banda no palco e pelo público na platéia), enquanto Eric Clapton forma o power trio Cream. Nos Estados Unidos as novidades eram menos agressivas: a fusão definitiva entre o folk e o rock da banda The Byrds e Simon & Garfunkel e as harmonias vocais da banda The Mammas and The Pappas. As influências das temáticas mais complexas do folk rock eram flagrantes (vide a evolução dos Beatles com o álbum Revolver) e paralelamente às letras mais instigantes os músicos buscavam também levar adiante as sonoridades, explorando instrumentosexóticos e arranjos mais complexos, experimentais e inexperados. As drogas não mais eram apenas consumidas para eliminar o cansaço, mas sim para buscar prazer e estados alterados de percepção. A música da época foi fortemente influenciada por drogas como LSD, seja porque era composta sobre seu efeito ou porque era composta de maneira a simular ou tentar ampliar seus efeitos. O novo tipo de música foi chamado de psicodélico. Sobre o efeito de LSD os Beatles gravaram o que possivelmente foi o álbum mais revolucionário da história do rock, Sht Peppers’ Lonely Hearts Club Band, em 1967. Pela primeira vez uma banda de rock rompeu definitivamente com o formato extremamente comercial da música hit single, lançando uma obra em que cada música era apenas uma parte do todo. Tendo gasto mais de 700 horas e seis meses de gravação, tratou-se de um álbum instigante desde a sua capa (uma colagem de personalidades admiradas pelos Beatles) até o último sulco do disco (um ciclo sem fim). Para muitos Sgt Peppers é considerado o nascimento do rock progressivo (que não se prende a nenhum conceito predefinido, baseado na experimentação e no ineditismo). Divide esta glória com um outro álbum, curiosamente gravado no mesmo estúdio e ao mesmo tempo, The Pipers At The Gates Of Dawn, da banda Pink Floyd, que havia ficado famosa pelas suas performances audiovisuais no underground londrino, capitaneada pelo gênio movido a LSD de Syd Barret. Descoberto e levado para a Inglaterra pelo ex-Animals Chas Chendler, Jimi Hendrix seria uma outra grande revelação de 1967. Com seu segundo single, Purple Haze (o primeiro havia sido Hey Joe, um ano antes) Hendrix captou a
  • 10. atenção não apenas do público, mas de astros como Eric Clapton e Mick Jagger, criando uma nova sonoridade e ampliando definitivamente o papel e os recursos da guitarra elétrica no rock. Baseados na agressão ao stablishment e na liberdade (sexual e de experimentação) herdada do pensamento beat, surgia nos Estados Unidos o movimento hippie, concentrado principalmente em San Francisco, e tendo como expoentes bandas como Gratefull Dead, Jefferson Airplane (claramente influenciadas por drogas) e The Doors (com seu primeiro single, Light My Fire) e artistas derivados da música folk como Janis Joplin. São marcos da época as flores no cabelo (daí o termo flower power), os cabelos longos e as comunidades alternativas. O símbolo de três pontas relacionado ao lema "paz e amor" foi tomado da sinalização militar que significava "cessar bombardeio". Nada mais adequado em época de Guerra do Vietnan. O grande evento do ano de 1967 seria o Monterey Pop Festival que reuniu na California Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Animals, Simon and Garfunkel, Bufallo Springfield, entre outros. Em 1968 com o final da banda Yardbirds Jimmy Page forma o New Yardbirds logo renomeado para Led Zeppelin, ao mesmo tempo em que o Cream alcançava um merecido sucesso. Uma outra banda de hard rock, Sttepenwolf, na música Born To Be Wild, cunhava pela primeira vez o termo ‘heavy metal’. A sonoridade do Led Zeppelin era inédita, e embora muito baseada no blues, mais agressiva do que qualquer música anterior. Instrumentistas virtuosos, solos e improvisações de tempo indeterminado começavam a se destacar. O hard rock iniciava seu período de apogeu ao mesmo tempo em que os clássicos como Beatles ePink Floyd, passavam por problemas de convivência cada vez maiores (embora os Beatles ainda fossem levar sua carreira adiante por quase dois anos, o Pink Floyd sofreria uma grande mudança com a saída de Syd Barret). 1969 foi ainda o ano dos grandes festivais. A morte de um fã durante um show dos Rolling Stones durante uma apresentação gratuita no festival de Altamond, California, foi o marco negativo do ano. Mas mesmo esta má impressão não seria capaz de abafar a realização do que possivelmente foi o maior evento de música de todos os tempos, entre 15 e 17 de Agosto, em Woodstock, interpretado por muitos como o marco do início de uma nova era de paz e amor, com apresentações entre outros de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jefferson Airplane e The Who. No Newport Jazz Festival por sua vez apresentaram-se Led Zeppelin, Jethro Tull, John Mayall, Ten Years After, Jeff Beck, James Brows, Johnny Winter, entre outros. Com bandas de músicos virtuosos como Pink Floyd, Led Zepellin, Cream, Jethro Tull e Deep Purple, e os super experimentais Mothers Of
  • 11. Invention de Frank Zappa, associados aos trabalhos cada vez mais elaborados de bandas antigas como os Beatlese o The Who (que havia lançado a ópera rock Tommy, elevando definitivamente o rock a categoria de arte) a simplicidade característica do rock dos primeiros tempos havia sumido. Parte 04 - Anos 70 Em 1970 o rock, assim como os roqueiros da primeira geração, já haviam atingido sua maioridade e a inocência dos primeiros tempos era apenas passado. As grandes bandas em sua maioria estavam cercadas dos melhores equipamentos de estúdio e mesmo orquestras (bastante emblemático é o lançamento do Deep Purple, Concerto For Group And Orchestra). Um outro grande passo para a sofisticação fora também a rápida difusão dos sintetizadores (a início os Moogs e Minimoogs inventados por Robert Moog), teclados capazes de criar novas tessituras e variedades sonoras antes impraticáveis. O fim dos Beatles foi emblemático do fim de mais uma era no rock. Haviam sido talvez a banda que mais ajudara na transição entre o rock básico de letras simples dos primeiros tempos ao rock mais complexo e sério musicalmente e liricamente. Não mais apenas diversão e produto de consumo o rock era definitivamente encarado como expressão artística e social. O publico de rock se dividia em duas frentes, a dos adolescentes mais interessados nos hits singles de bandas teoricamente "descartáveis" e a dos já amadurecidos rockers dos primeiros tempos, em busca de experimentação, letras elaboradas, álbuns completos. O rock progressivo começava a se apresentar ao grande público e Greg Lake, após abandonar a banda King Crimson, formava a clássica banda Emerson, Lake & Palmer (acompanhado de Keith Emerson e Carl Palmer), cativando um público cada vez mais sério. O álbum Deja Vu de Crosby, Stills, Nash & Young, é o mais vendido do ano nos estados unidos. Com a aquisição do baterista Phill Collins a banda Genesis iniciava sua careira de sucesso. Embora o rock progressivo continuasse em expansão, bandas de musicalidade mais simples e muito baseadas no apelo fácil da rebeldia voltavam a surgir para suprir a nova geração, principalmente nos Estados Unidos, como Slade, Sweet, Gary Glitter, T Rex, ou conseguiam um sucesso tardio, como David Bowie, Bay City Rollers e Elton John. A imagem (maquiagem, cabelos, roupas exageradas e coloridas) de músicos como Marc Bolan, do T Rex, iniciavam a definição do estilo Glam Rock (que aproveitavam a imagem exdrúxula e em muitos casos andrógina como fator de marketing).
  • 12. Na Inglaterra, em 1970, sem requintes musicais, o Black Sabbath gravava seu primeiro disco (conta a lenda que em apenas dois dias), auto entitulado, expandindo as fronteiras do "peso" no hard rock e criando o que possivelmente poderia ser o primeiro disco definitivamente heavy metal conhecido do grande público. O limite dos escândalos envolvendo sexo, drogas e "satanismo" também é empurrado para diante. Munido de maquiagem e teatralidade inéditos até então Alice Cooper seria a resposta americana ao inédito peso e atitude doBlack Sabbath. Surge para o público em 1971 com o hit Eighteen e o álbum Love It To Death. A cristalização do uso da imagem, do teatro e da "atitude" como fator de marketing tão ou mais importante do que a própria música seria a banda americana Kiss (que lançou seu álbum de estréia, auto-entitulado, em 1974) cujos músicos tocavam maquiados, assumiam personalidades de demônio, animal, homem espacial e deus, voavam, cuspiam fogo, vomitavam sangue e vendiam discos, maquiagem e bonecos como nenhuma banda de simples músicos poderia vender. Em 1975, paralelamente ao rock elaborado das bandas progressivas ou de hard rock (o Queen lançava seu excelente primeiro disco auto-entitulado) e ao rock comercial glam, surgia nos pequenos bares e casas de show dos Estados Unidos um movimento musical underground marcado por descompromisso e cheio da autenticidade e da real rebeldia que faltava a estes primeiros. Em pequenos locais (como o emblemático CBGB em New York) bandas como Blondie e Ramones. O estilo era marcado pelo "do-it-yourself", a possibilidade de qualquer um (mesmo que não sabendo tocar) montar uma banda. Foi responsabilidade de Malcon McLaren, até então dono de uma loja de roupas de couro (de certa forma uma sex shop) em Londres, o aproveitamento do novo estilo como algo comercial. Não tendo sido bem sucedido em empresariar a banda americana New York Dolls (que já estavam em franca decadência), McLaren voltou a Londres com a finalidade de montar ele próprio uma banda usando o padrão que havia conhecido nos Estados Unidos. Entre clientes de sua loja recrutou quem tivesse os parcos conhecimentos musicais necessários para formar a banda Sex Pistols. Acrescentaram à música simples e alucinada dos punks americanos letras anarquistas e mais agressivas. Seu primeiro hit foi Anarchy In The Uk, em 1975. O punk criado nos estados unidos e popularizado na Inglaterra (onde logo viria a se tornar um movimento social do proletariado e não mais apenas um estilo musical) foi uma resposta necessária ao rock que estava se levando a sério demais, aos álbuns duplos conceituais, aos solos de dez minutos e às bandas que perdiam de vista o caráter de diversão do rock. O punk embora
  • 13. considerado por muitos anti-música foi na pior das hipóteses um mal necessário para mostrar e conter alguns exageros do progressivismo. Em 1977 o primeiro disco dos Sex Pistols, Nevermind The Bollocks entraria direto no primeiro lugar da parada britânica. AosSex Pistols se seguiriam dezenas de bandas inglesas e americanas como Clash, Damned, Siouxie and The Banshees, além de serem resgatadas e tiradas do anonimato bandas como Ramones e Blondie. O estilo também influiria embora indiretamente na sonoridade de novas bandas que surgiam, como Motörhead e AC/DC. O punk também absorveria elementos de outros estilos (como o reggae, por exemplo, de temática e musicalidade semelhantes em sua simplicidade). Bandas como The Police, Simple Minds e Pretenders (e um pouco mais tarde U2) adotariam um estilo que viria a ser conhecido como new wave, mais facilmente aceitável que o punk (cuja fórmula inicial já não surtia tanto efeito comercialmente). Mas o punk e a new wave não eram a única alternativa à onda "disco" que assolava a música. Começava a se formar na Inglaterra com bandas como Judas Priest, Samsom e principalmente Iron Maiden o que viria a ser conhecido como New Wave Of British Heavy Metal, a resposta do som pesado e elaborado à sonoridade simples do punk. O hard rock também dava sinais de renovação com o primeiro álbum auto-entitulado da banda Van Halen em 1978. Apesar do fim dos Sex Pistols em 1978 (com a fórmula tão esgotada quanto os próprios músicos após uma imensa tour pelos Estados Unidos) e da morte do anti-heroi, símbolo do punk, Sid Vicious (de overdose, após conseguir liberdade condicional da prisão onde estava por ter supostamente assassinado a namorada) em 1979, o rock nunca mais seria o mesmo após a onda punk. Esta é uma matéria antiga do site Whiplash! Quer saber por que destacamos matérias antigas? Enviar correção | Estatísticas | Publicar em seu site História do Rock: dos primórdios aos anos 70 http://w hiplash.net/materias 0 Outras matérias e temas relacionados à matéria acima Todas as matérias da seção Especial Comente sobre a matéria acima
  • 14. Poste usando login do FACEBOOK, HOTMAIL, AOL ou YAHOO. O cadastro leva poucos minutos. Os comentários são postados usando logins e scripts do FACEBOOK, não estão hospedados no Whiplash.Net, não refletem a opinião dos editores do site, e são de exclusiva e integral autoria e responsabilidade dos usuários que fizeram uso deste sistema. Caso você considere justo que qualquer comentário seja apagado, entre em contato. Os responsáveis pelo site podem excluir comentários que julgarem inadequados e fornecer informações sobre os posts a reclamantes se solicitados. Sobre esta seção: Especial Matérias especiais sobre temas relacionados a Rock e Metal. Todas as matérias da seção Especial Sobre João Paulo Andrade Por absoluta falta de talento, nunca conseguiria fazer algo de útil pela música tocando algum instrumento, por isso resolveu criar o site Whiplash! em 1996. Não está mais livre, leve, solto, desimpedido, nem muito menos subindo pelas paredes. Meninas interessadas em dividir as venturas e desventuras de manter o maior site de rock do Brasil, desistam, pois ele já encontrou o amor de sua vida no www.parperfeito.com.br.