1. 95 anos da Revolução Russa de 1917
Revolução Russa: sua importância histórica e
seus ensinamentos para a luta do socialismo
Transcrição da palestra realizada em novembro
de 2012 sobre o aniversário da Revolução
Russa
Rui Costa Pimenta
Bom dia companheiros. Nós dividimos essa
atividade de palestras em dois temas
diferentes. Aqui nós vamos tratar da
importância histórica da Revolução Russa e na
segunda palestra da importância da revolução
do ponto de vista da luta política revolucionária
nos dias de hoje. Nela, iremos tratar de um
conjunto de polêmicas que dão lugar a muita
confusão, sobre as consequências da
Revolução Russa, o stalinismo e os problemas
que normalmente se discute sobre a ditadura e
a democracia no socialismo.
Gostaria de começar chamando a atenção para
o fato de que a Revolução Russa além de ser
talvez o mais importante acontecimento político
da história da humanidade, é também o mais
2. polêmico dos últimos cem anos. Talvez seja o
acontecimento que mais deu lugar a polêmicas
em toda a história política da cultura humana.
Normalmente, não temos a ideia do volume de
críticas, de calúnias, de interpretações de todos
os tipos, mas principalmente de interpretações
negativas que existem sobre a Revolução
Russa. Eu calculo, embora isso seja difícil de
saber com certeza, que milhões de livros,
ensaios etc. foram escritos sobre esse tema. É
um dos assuntos, sem dúvida, mais discutidos
dos últimos cem anos, senão o mais discutido.
Daí que o problema seja naturalmente confuso
para quem aborda a questão. Minha intenção
com essa palestra é dar uma contribuição no
sentido do esclarecimento das questões
centrais que dizem respeito à Revolução
Russa.
Uma primeira delas e essa é uma das maiores
deformações sobre o assunto, serve como
indicativo da dimensão dessa polêmica.
Discute-se, sobretudo, a legitimidade, a
viabilidade, o benefício da Revolução Russa.
Os ideólogos da direita, do capitalismo, do
imperialismo, procuram a todo momento
3. colocar em questão o fato de se a Revolução
Russa teria sido um acontecimento histórico
positivo, progressista, que teria promovido um
progresso para a humanidade.
A primeira coisa que devemos esclarecer é que
esse debate, embora atraia muito a atenção, é
na realidade um debate secundário e em
grande medida distracionista. Porque se nós
estamos interessados na luta política dos dias
de hoje, a Revolução Russa deve ser vista
antes de mais nada como um laboratório da
política revolucionária. Como um
acontecimento que encerra um conjunto de
ensinamentos para quem está travando a luta
política aqui e agora e não uma coisa que se
discute como se fosse um fenômeno de tipo
religioso, que tivesse um valor moral A ou B,
que é a discussão que normalmente se faz.
Esse aspecto da Revolução Russa, como
ensinamento da luta política aqui e agora,
normalmente não é discutido. A tal ponto que
podemos ouvir pessoas em todas as facções
da esquerda brasileira e internacional
argumentarem frequentemente que a
Revolução Russa é um acontecimento em
4. alguma medida ultrapassado. Então se
falamos, por exemplo, que “na Revolução
Russa aconteceu tal e tal coisa”, logo algum
desses esquerdistas responde: “mas a
Revolução Russa foi há 95 anos!”, ou seja, está
implícito nessa consideração que a Revolução
Russa estaria desatualizada. Ela estaria para a
suposta revolução dos dias de hoje, que ainda
não conhecemos, como a máquina de
datilografia está para o computador. Isso é
falso.
É uma impressão que as pessoas tiram sem
nenhuma fundamentação. A Revolução Russa
não é uma tecnologia, é um processo social e
como um processo social tem uma
continuidade, principalmente se estamos
falando dos processos sociais de uma
determinada época, que guarda uma unidade
econômica, política, como a época atual, que
embora mude e se transforme, mantém, na
base da situação características homogêneas.
Quando foi feita a Revolução Russa, havia o
capitalismo, hoje há também o capitalismo. Na
época, o capitalismo já havia evoluído para sua
etapa imperialista, hoje continuamos nessa
etapa. Quando foi feita a Revolução Russa o
5. mundo estava dividido entre países opressores,
imperialistas e países coloniais, oprimidos, hoje
há a mesma coisa. O capitalismo estava em
crise, hoje ele vive a mesma crise, mas ainda
maior. Há uma base comum para a análise da
Revolução Russa, assim como há uma base,
não tão extensa, para que nós possamos
aprender, para os dias de hoje, com a
Revolução Francesa, da mesma forma como
Marx aprendeu com a Revolução Francesa
para discutir a revolução na época capitalista.
Há essa continuidade.
O primeiro problema, portanto, é justamente
esse. A Revolução Russa é objeto de uma
discussão moral, que procura debater se ela foi
“boa”, “ruim”, se ela teria um “valor positivo” ou
se teria um “valor negativo”. Mas ela deve ser
acima de tudo um terreno para o aprendizado
da revolução. Lênin e Trótski, que foram seus
principais dirigentes e teóricos, sendo Trótski o
principal historiador da Revolução Russa,
consideravam que sim. Lênin considerava que
a Revolução Russa nada mais era que o
ensaio geral da revolução mundial. Ela seria a
última apresentação que se faz no teatro,
quando os atores estão vestidos a caráter e
6. ensaiam a peça toda para ver se tudo está
correto.
Eu gostaria de chamar a atenção aqui para
essa comparação que Lênin faz da revolução
com o teatro. Ela é muito importante, porque a
revolução tem que ser praticada, pelo menos
da parte dos revolucionários. Se a sociedade
não pode praticar a revolução, no seu conjunto,
os revolucionários devem praticá-la. Quer dizer,
a revolução se desenvolve através do
aprendizado, como qualquer coisa que os
seres humanos fazem. Antes da Revolução
Russa, houve uma série de episódios
revolucionários menores. Houve inclusive uma
revolução em 1905, que os revolucionários
disseram ser o ensaio geral da Revolução de
1917; e a Revolução de 1917, o ensaio geral
da revolução mundial.
Sobre essa ideia, que é muito importante,
vejam uma coisa: a burguesia diz (não sei se
todos aqui já perceberam quando veem essa
polêmica) que a classe operária, o marxismo, o
comunismo, fizeram a Revolução Russa. É
isso. Se deu certo, ótimo, se deu errado,
pronto; está provado que não dá certo.
7. Finalmente, a burguesia daria à classe
operária, porque a burguesia é uma classe
muito generosa, uma única oportunidade de
acertar. Isso é totalmente absurdo. Totalmente.
Por isso Lênin diz que a Revolução Russa não
é um acontecimento definitivo; não é a última
palavra da história; não é tudo o que poderia
ser feito. Não é nem mesmo a revolução
mundial: é apenas e tão somente o ensaio
geral da revolução mundial. Um ensaio. Vejam
que Lênin poderia ser uma pessoa mais
vaidosa e exaltar a revolução que ele dirigiu
como sendo a coisa mais maravilhosa que já
aconteceu. Mas ele era uma pessoa, nesse
sentido, bastante concreta, bastante realista a
ponto de dizer: “A revolução que fizemos aqui
na Rússia, que teve um impacto tremendo na
vida de todos, nada mais é que o ensaio geral
da revolução mundial”.
Vocês vejam que a revolução burguesa teve,
calculando grosso modo, no mínimo 500 anos
para se desenvolver. No século XIV, a
burguesia de Lisboa, de nossos patrícios e
antepassados, realizava uma revolução
burguesa que levou o famoso Mestre de Avis,
que depois seria Dom João I ao poder. Um rei
8. a partir do qual irão se desenvolver as grandes
navegações. Um empreendimento tipicamente
da burguesia, que só foi possível em virtude
dessa revolução, que impôs uma derrota à
nobreza portuguesa, aos partidários da Coroa
espanhola e deu a supremacia no poder
político do País, à pequena nobreza e aos
comerciantes de Portugal. Isso foi em 1383. A
época das revoluções burguesas termina em
1871, com a revolução da Comuna de Paris.
Façam as contas, do século XIV ao século XIX.
Foram 500 anos para que a burguesia
conseguisse consolidar seu poder político
sobre o mundo.
Já da revolução proletária, espera-se que ela
conclua tudo em alguns anos. Logicamente que
não faz sentido esse tipo de avaliação. Nós não
estamos aqui esperando a revolução proletária
demore 500 anos, mas também não
esperamos que demore 15 anos. Até porque já
não demorou; ela começou há 95 anos.
Quer dizer, há todo um processo político e esse
é o processo de desenvolvimento de uma
época revolucionária que é a revolução
proletária. Não é a Revolução Russa que é a
9. revolução proletária; a Revolução Russa é um
episódio, um capítulo, da revolução proletária
mundial. E segundo um de seus dirigentes,
seria o ensaio geral da revolução mundial. Se
ela é um ensaio geral, logicamente que nós
temos que aprender daquilo que aconteceu
naquele ensaio geral. Se estamos interessados
nesse drama, nessa peça que é a revolução
mundial, então nós temos que começar nos
interessando pela primeira grande realização,
que foi a Revolução Russa de 1917.
Uma segunda ideia que eu gostaria de colocar
aqui está ligada à ideia anterior. A Revolução
Russa inaugura uma nova época na história da
humanidade. É muito importante que tenhamos
isso claro. Não é a época do socialismo; ela
inaugura a época da transição do capitalismo
para o socialismo. Nós temos um período de
estabilização social e temos os períodos em
que a sociedade começa a mudar, que são os
períodos de transição.
A Revolução Russa foi uma revolução de
grandes proporções. Um terço da população
mundial esteve envolvida nessa revolução e
dezenas de países. Essa é uma coisa também
10. que muita gente não leva em conta quando
pensa nesse acontecimento. A Revolução
Russa não foi feita em um único país, mas em
um conjunto de países que fazia parte do
império do czar. Em cada um desses lugares a
revolução foi tomando conta; não foi tudo de
uma vez e não foi somente com a tomada do
poder dos bolcheviques em Petrogrado em
outubro de 1917. Em alguns lugares, o
processo se desenvolveu inclusive
posteriormente. Com a queda da União
Soviética, esses países inclusive se separaram
porque já eram anteriormente países
separados, como a Ucrânia ou a Geórgia. A
União Soviética, que veio a se formar como
resultado da revolução era uma república
federativa de vários países, não era um único
país. Ela foi feita no sentido de constituir um
país único, mas dela participaram vários
países. Ou seja, era uma revolução de grande
proporção e marca, de maneira indiscutível, a
abertura desse período de transição. Nós
podemos discutir aqui, como muitos discutem,
se o socialismo morreu ou não morreu, o que
até debateremos na segunda palestra dessa
atividade, mas uma coisa tem que ficar clara.
11. Com a Revolução Russa e com os
acontecimentos posteriores, as centenas de
revoluções que aconteceram depois no mundo,
fica claro que o mundo entrou em uma época
revolucionária e que ele continua nessa etapa,
por mais que a imprensa capitalista procure
apresentar tudo como uma grande estabilidade,
como não havendo uma revolução. As guerras
e revoluções, as catástrofes sociais que são
extremamente familiares para nós, são parte do
período de transição. Do período de transição
da época capitalista para a época socialista.
Nós estamos no meio desse período e pode
acontecer muita coisa, muitas idas e vindas,
pois esses períodos não são um
desenvolvimento em linha reta, muito pelo
contrário, mas esse processo é irreversível.
Não adianta a imprensa capitalista falar que
acabou o socialismo. Isso não tem a menor
importância. Precisaria se reverter o período de
transição, que marca uma crise profunda do
capitalismo e o capitalismo rejuvenescer, coisa
que, obviamente, logicamente, é impossível de
acontecer, nunca aconteceu com nada. Só
acontece no mito. No mito há o
rejuvenescimento, há o mito da fonte da
12. juventude, mas no mundo real as coisas
costumam crescer, amadurecer, envelhecer e
morrer. O destino do capitalismo é esse e nós
estamos na fase final de desenvolvimento do
capitalismo, que é a etapa de transição. O
período de ouro do capitalismo já passou há
muito tempo. Todos os males que nós vemos
vêm daí.
Uma terceira ideia que eu gostaria de colocar
aqui diz respeito à importância histórica da
Revolução Russa, que é algo também
propositalmente ignorado. Marx, quando
descreve o processo da revolução, quando
descreve que a revolução é toda uma época de
revolução social e não um ato único, destaca
também que a revolução proletária é diferente
das revoluções que aconteceram
anteriormente. Isso porque essas revoluções
anteriores acabaram por reestabelecer alguma
forma de sociedade de classe, de sociedade
contraditória dividida entre exploradores e
explorados, oprimidos e opressores, entre
pobres e ricos. A revolução proletária, por sua
vez, não apenas acaba com o capitalismo, que
é uma forma específica de sociedade
contraditória, mas acaba com milhares de anos
13. de uma sociedade dividida em classes. Ela
coloca em pauta a reunificação interna dessa
sociedade, abolindo essa contradição entre
ricos e pobres, entre exploradores e oprimidos.
A Revolução Francesa acabou com o
feudalismo, que era uma forma de sociedade
contraditória, dividida em classes, e deu lugar
ao capitalismo que é outra forma de sociedade
contraditória dividida em classes. A revolução
proletária socialista tem a tarefa não só de
acabar com uma determinada forma de
exploração, como de acabar com toda a
exploração.
A classe operária é a última forma de classe
explorada. Ela não é, como acontecia com a
burguesia, uma classe potencialmente
opressora e exploradora. Ao abolir a sociedade
capitalista, a classe operária não se constitui
como classe dominante, ela abole também a
sua própria existência enquanto classe social.
Então, quando falamos em revolução socialista,
nós estamos falando de uma mudança social
que é muito maior que a revolução burguesa ou
as revoluções anteriores. É uma mudança
muito mais radical na história da humanidade.
Por isso Marx fala que com o capitalismo
14. encerra-se a pré-história da humanidade, pois
ele considerava que, do capitalismo para trás,
não há uma verdadeira história humana, mas
uma história prévia, uma história preparatória.
Isso porque o grau de controle que o ser
humano tem sobre a sociedade onde ele vive
no capitalismo é praticamente nenhum, e o
socialismo daria ao ser humano um controle
consciente de sua própria sociedade. Essa é
uma transformação muito profunda, é o que
Engels chamou de “o salto do reino da
necessidade para o reino da liberdade”.
Logicamente que o homem sempre irá viver no
reino da necessidade do mundo material, disso
não há como escapar. As ações humanas são
ações necessárias, determinadas pelo mundo
material. No entanto, no que diz respeito à sua
organização social, o ser humano deixaria de
ser comandado e passaria ao comando da
sociedade. Ele passaria de ser uma vítima da
economia para comandar a economia; passaria
de sofrer passivamente os efeitos de uma
economia que ele não controla, para colocar a
economia a serviço de toda a humanidade e
assim por diante. O salto do reino da
necessidade, daquela escravidão dos fatos
15. sociais e econômicos, para o reino da
liberdade, ou seja, a liberdade que o ser
humano teria de controlar conscientemente a
sociedade em que ele vive.
Para compreendermos bem o problema da
Revolução Russa são necessárias essas
explicações prévias. Que ela foi uma
necessidade histórica, que ela é um marco
divisório da época, que ela é um primeiro
passo, um ensaio geral e que implica em uma
transformação muito maior. Esse último fato,
inclusive, é importante porque temos que
prever que para que o socialismo possa ser
implantado, a convulsão social, a
transformação social, teria que ser muito maior
do que aconteceu com as revoluções
burguesas. As revoluções burguesas
parecerão, até parecem já hoje em dia, se
olharmos bem, uma tempestade em um copo
d’água perto da convulsão que é a revolução
proletária; a transformação da sociedade
capitalista em uma sociedade socialista, dada a
profundidade da modificação que está em
pauta e a complexidade da sociedade que está
se criando. Levando-se em consideração tudo
16. isso, podemos dimensionar adequadamente
esse problema da Revolução Russa.
Dito isso, eu gostaria de chamar a atenção de
todos, porque nós não temos a possibilidade
aqui, de fazer um estudo detalhado da
revolução russa, de alguns aspectos centrais
do mecanismo político interno da revolução.
Primeiramente, é importante assinalarmos que
a Revolução Russa em grande medida é, ao
mesmo tempo, o resultado do amadurecimento
das contradições internas da sociedade russa,
e também o resultado do amadurecimento
político dos revolucionários russos.
Uma coisa que chama a atenção na Revolução
Russa é que ela foi preparada por uma longa
luta política dentro da Rússia.
As primeiras manifestações da Revolução
Russa são de 1825, quase cem anos antes da
Revolução de 1917. Nesse período, os
revolucionários foram lutando e a luta deles
tinha um caráter muito claro, no sentido de
definir uma teoria, uma compreensão da
realidade, assimilando aquilo que seria o mais
avançado da ciência social, da política
17. revolucionária, dos países europeus próximos
da Rússia.
Foram travadas inúmeras lutas e inúmeras
organizações políticas se formaram até que o
movimento operário russo assimilou, como
teoria, como doutrina, como ideia
revolucionária, o marxismo. O que vem a
acontecer já no final do século XIX.
Um dos aspectos chave da Revolução Russa é
a existência de um partido capaz de fazer
aquela revolução e o amadurecimento desse
partido foi um processo muito longo. Muitos
estudiosos falam, por exemplo, que a
Revolução de Outubro foi um “golpe de mão”
do Partido Bolchevique. Não foi. A Revolução
Russa se desenvolveu lentamente. Ela se
desenvolveu como se fossem as camadas
geológicas do planeta Terra. Houve muitos
tropeços, muitos erros, organizações que foram
destruídas pela repressão, ideias erradas que
foram sendo substituídas, até que se chegasse
em uma organização política da envergadura
do Partido Bolchevique.
Quando encontramos uma personalidade como
Lênin, que é sem dúvida nenhuma uma das
18. maiores personalidades políticas que o mundo
já viu até hoje, ficamos até dominados por um
sentimento supersticioso. De onde teria surgido
uma pessoa com tal capacidade? Mas não há
nada de sobrenatural. Ele é o desenvolvimento
de quase cem anos de luta.
Quando Lênin começa a militar, ele tinha tido a
possibilidade naquele momento de estudar
todos os processos revolucionários, todas as
teorias revolucionárias, em certo sentido, a
Rússia havia sido um laboratório da revolução.
Tudo havia sido testado. Havia sido testado o
trabalho para conscientizar os camponeses, os
atentados terroristas dos populistas
organizados contra dois czares. Havia sido
testado o trabalho clandestino, o trabalho de
imprensa legal, tudo já havia sido feito em
algum sentido. Lênin é o homem que irá
recolher de maneira mais consciente, de
maneira mais coerente, essa experiência
extremamente vagarosa, extremamente longa
da Revolução Russa. Sem a formação desse
partido, logicamente, não seria possível a
Revolução Russa.
19. Só quando a classe operária russa, através
desse processo de evolução, se coloca sob a
liderança desse partido, é que ela se unifica
como classe, é que ela se transforma em um
ator unitário e consciente da Revolução.
Esse é um aspecto chave do problema, que é
importante discutir principalmente hoje, no
Brasil, quando a crise política dos últimos anos,
com a esquerda, principalmente com o PT e
com o stalinismo também, deu lugar a uma
ampla difusão de ideias anarquistas as mais
variadas possíveis. No centro dessas ideias
anarquistas existe a rejeição à constituição de
um partido político.
Essa ideia é equivalente à ideia de que a
pessoa vai participar de um tiroteio sem um
revolver. É uma ideia sem sentido, porque a
revolução proletária necessita da agregação de
toda a classe operária detrás de um programa
único de classe e isso não pode ser feito
espontaneamente; só pode ser feito por meio
de um determinado partido político operário,
revolucionário, socialista. É uma tarefa central
no mundo hoje e é a grande contradição que o
mundo enfrenta.
20. O próprio Leon Trótski, muitos anos depois da
Revolução Russa, coloca no programa de
transição a ideia que a contradição
fundamental da época atual é a contradição
entre as premissas objetivas da revolução, que
estão tão maduras que já começam até a
apodrecer, segundo ele fala, e a imaturidade
subjetiva da classe operária, que se expressa
na falta de um partido político.
O grande segredo da revolução é a
constituição desse partido político e esse
partido político, conforme estamos vendo, que
foi tão fundamental na Revolução Russa, não é
um aglomerado circunstancial, casual,
ocasional de pessoas, mas é o
amadurecimento de uma determinada ideia
revolucionária; é o agrupamento da classe
operária detrás de seu próprio programa de
classe. É a evolução da classe operária para
ter consciência de seus objetivos sociais e
políticos. É um processo social complexo, por
isso é que não ocorre também tão facilmente.
Não basta que nós proclamemos a
necessidade de um partido operário e
agrupemos pessoas para que esse partido
21. operário exista. O partido precisa ter um
programa que se torne o programa objetivo,
prático da classe operária em luta. Sem esse
processo não é possível fazer a revolução. Nós
poderíamos dizer inclusive que esse processo
é a própria essência do mecanismo
revolucionário. Nós podemos dizer que dadas
as condições materiais para a revolução, a
revolução consiste no processo de
agrupamento da classe operária detrás de um
programa que expressa a evolução da sua
consciência em um sentido revolucionário.
Quando acontece essa evolução, nós temos a
revolução. A revolução é a própria classe
operária, é o processo de desenvolvimento da
classe operária. Isso em um aspecto muito
essencial.
A primeira questão que surge da Revolução
Russa é justamente o problema do partido. O
Partido Bolchevique desempenhou um papel
fundamental. Eu gostaria de chamar a atenção
para algumas etapas e para alguns
mecanismos que são peculiares justamente da
relação entre o partido e a massa de
trabalhadores.
22. Quando a Revolução Russa acontece, Lênin,
que está no exílio, manda um telegrama para
os militantes bolcheviques que chegaram na
capital, no qual ele diz: “Nenhuma confiança no
governo provisório, temos que lutar pelo poder
dos sovietes” etc. e traça uma linha que, vendo
as coisas retrospectivamente, parece óbvia,
mas na realidade não era, porque ninguém
defendia aquele programa naquele momento. É
na realidade uma mudança, se não de 180º, de
90º na política do partido. E ela só vai ser
adotada através de uma crise no partido
bolchevique. O problema é que se ela não
fosse adotada, o que aconteceria? Qual era o
panorama da revolução dentro do qual o
partido atuava?
Toda a esquerda russa, toda ela praticamente,
era favorável a defender o poder da burguesia,
o que seria mais ou menos a política do PT,
mas em uma situação revolucionária. O único
partido que desafiou esse senso comum da
época foi o Partido Bolchevique. Como ele
desafiou esse senso comum, através de uma
luta que vai de fevereiro até outubro, ele serviu
como uma espécie de ponto de aglutinação das
massas que se desenvolviam rapidamente no
23. sentido de rejeitar o acordo com a burguesia,
ou das massas que, já tendo rejeitado essa
aliança com a burguesia, precisavam se
organizar de uma tal maneira que permitisse
que essa compreensão da rejeição da política
da burguesia se transformasse em uma política
prática e ativa para a tomada do poder. Essa
política foi organizada pelo Partido
Bolchevique. Quem conduziu em todos os
momentos o desenvolvimento dessa luta,
clareando o caminho, especificando, fazendo
propostas que permitiam um avanço, foi o
Partido Bolchevique. Sem esse partido, a
revolução seria estrangulada por uma série de
mecanismos demagogicamente democráticos
ou pseudodemocráticos. Ou, também, como
esteve para acontecer, por um golpe de
Estado. Quem bloqueou todas essas variantes
e colocou a revolução no sentido da tomada do
poder foi o Partido Bolchevique. O partido
político cumpre um papel fundamental e essa é
uma das grandes lições da Revolução Russa.
Trótski, na História da Revolução Russa,
analisa justamente esse papel do Partido
Bolchevique. Ele diz que a revolução é como
uma caldeira a vapor. As massas
24. revolucionárias seriam uma fonte de energia,
de força extraordinariamente grande como é o
vapor, mas o vapor não é uma força em si. Ele
precisa ser canalizado, para que se crie aquela
pressão e depois nós precisamos de
determinados mecanismos que vão soltando a
pressão em um sentido funcional para que ela
possa ser usada para movimentar outra parte
daquela engrenagem. Sem essa válvula de
pressão a pressão não é uma forma. Então ele
fala: “a classe operária é essa válvula de
pressão”. Mas onde essa força se concentra e
adquire um determinado direcionamento
prático? Através do partido político. Ou seja,
não dá para a classe operária, sem um partido,
organizar essa força, é preciso que isso seja
canalizado para um mecanismo onde tenha
uma válvula, que regula e que dá vazão a essa
pressão e que a torna um fator efetivo no
funcionamento daquele mecanismo. Essa é
uma questão chave.
Uma segunda questão muito importante é o
problema da independência política da classe
operária. No Brasil nós vivemos esse problema
de forma intensa. Toda a política brasileira nos
últimos 30 ou 35 anos gira em torno do
25. problema da independência da classe operária
diante da burguesia. A classe operária, mesmo
que não saiba, e também a juventude,
esbarram nesse problema de que as
organizações políticas brasileiras atrelaram
todo mundo à burguesia e ninguém sabe como
sair. Foi o que aconteceu recentemente nas
eleições em São Paulo. A maioria da
população gostaria de derrubar o governo
Serra, se eles soubessem como, se tivessem
os meios derrubariam o governo até mesmo
por fora das eleições. Mas isso ainda não está
claro como se faz, como se chega nesse
resultado, então a população foi para eleições.
Nas eleições se apresentaram vários partidos e
esses partidos criaram um mecanismo no qual
finalmente a população foi sendo envolvida,
como se fosse um teatro onde se movimentam
os cenários, e foi por fim colocada a seguinte
questão: Serra, Haddad ou voto nulo? Serra
teve uma votação insignificante, votação essa
que em grande medida é produto do
clientelismo da prefeitura e do apoio de um
setor ultraminoritário e conservador da
burguesia e da pequena-burguesia da cidade.
A maioria das pessoas que inclusive não
26. gostam do PT, votou no PT porque não queria
que Serra ganhasse e uma outra parcela, que
não tolerava mais votar no PT, votou nulo. Mas
o fato é que a população teve que trocar Serra,
um representante da burguesia, por Haddad,
que é um outro representante da burguesia. É
como nós tivéssemos entrado num buraco e
saíssemos no mesmo lugar por onde entramos.
Tudo bem que a vitória do Haddad tem um
significado um pouco diferente, porque
finalmente quem votou nele é porque não
aguentava mais a direita, o PSDB. Quem votou
nele queria se livrar de José Serra e, portanto,
não vai aceitar que o Haddad imponha a
mesma política do PSDB, o que vai gerar uma
enorme crise. Mas, enfim, do ponto de vista
político é isso. Os trabalhadores, os
intelectuais, a juventude, criaram um partido de
trabalhadores que acaba sendo também um
partido da burguesia. É como se tudo que você
fizesse caísse no mesmo lugar.
Por exemplo, eu cheguei a participar da
fundação do PT. Em Diadema, nós
passávamos de porta em porta para legalizar o
PT. Naquele momento, o que a população
27. queria era se livrar do Arena e do MDB, por
isso íamos de porta em porta para apresentar o
PT e filiar pessoas. Agora, em 2012,
perguntamos: quem é o vice de Dilma, do PT?
É o PMDB, ou seja, é o mesmo partido que nós
queríamos nos livrar. Esse problema é chave:
como constituir um partido que seja
efetivamente o partido de todas aquelas
pessoas que decidiram se opor a todos os
partidos e políticos da burguesia?
Outro exemplo é a criação do Psol, que foi
realizada depois da decepção com a subida do
PT ao governo. Mas o que aconteceu? O Psol
fez exatamente a mesma política. Nas últimas
eleições, fizeram aliança com o DEM, o PP, o
PSDB, PSC, PT, PCdoB, produzem uma
enorme confusão política. Isso não significa
que é um defeito moral de ninguém, ou de
nenhuma organização política, mas o fato é
que esse é um processo chave na
transformação social. Essa transformação só
poderá ocorrer quando os trabalhadores, a
juventude de esquerda, chegarem à conclusão,
através de sua própria experiência, de que eles
não devem ficar a reboque da burguesia. Mais
ainda – pois essa conclusão muito deles já
28. tiraram –, quando chegarem a conclusão de
como é que se faz para não ficar a reboque da
burguesia, porque esse exemplo do PT
também é um exemplo de pessoas que
decidiram não ficar a reboque da burguesia
mas acabaram ficando de qualquer maneira.
Então é preciso que a classe operária evolua
através de sua própria experiência,
massivamente, para se separar totalmente da
burguesia, entendendo como é que se faz para
se separar totalmente da burguesia. Só assim
teremos um desenvolvimento verdadeiramente
revolucionário.
Na Revolução Russa, esse processo, que no
Brasil já dura mais de 35 anos, acontece como
se fosse um filme em alta velocidade. Isso
porque uma característica da revolução é que
ela concentra os problemas de uma maneira
extraordinária. Aquilo que demora 10 anos para
acontecer em tempos não revolucionários, na
revolução acontece em uma semana. A
experiência das massas é muito mais aguda
porque as contradições são muito mais agudas.
Então os trabalhadores russos que fazem a
revolução, pelas coordenadas políticas que se
29. colocam na revolução e pela ação do Partido
Bolchevique, passam a entender de que lado
está a burguesia e de que lado está a classe
operária, e o que é preciso fazer para se livrar
da burguesia.
O Partido Bolchevique compreende as
contradições da política burguesa logo num
primeiro momento. Lênin fala que a primeira
revolução russa, em fevereiro, é uma revolução
na qual as expectativas estão confusas porque
é feita pela classe operária e pela burguesia
para derrubar o czar. Porém, os objetivos da
burguesia e dos trabalhadores são diferentes e
eles são contraditórios uns com os outros, e
por isso Lênin conclui que é inevitável uma
segunda revolução.
Lênin identifica quais são as contradições. Uma
delas é a continuidade da guerra, que interessa
à burguesia e não à classe operária. Há o
problema do desabastecimento, que se tornava
cada vez mais grave na Rússia, que estava
lançando a classe operária à miséria. Por fim,
havia a questão da terra dos camponeses. Os
bolcheviques lançam então um programa
básico com as palavras de ordem de “Paz, Pão
30. e Terra”. Esse programa expressa a linha de
clivagem, de ruptura, entre a burguesia e o
proletariado, e os bolchevique fazem
propaganda nessa linha.
Enquanto que os partidos da esquerda
pequeno-burguesa procuram levar o
proletariado a apoiar a burguesia, a guerra e
procuram confundir os operários com uma série
de ideias enganosas, os bolcheviques
denunciam a todo o tempo esses golpes.
Na medida em que são feitas manobras para
iludir o proletariado, os bolcheviques vão
intervir e esclarecer que de um lado está a
burguesia e de outro a classe operária e que
esse é o aspecto chave da revolução.
Em um dado momento, eles lançam uma
palavra de ordem que foi um desafio para os
partidos da esquerda pequeno-burguesa, para
que eles assumissem todo o poder político e
expulsassem a burguesia do poder. Vejam que
os bolcheviques não pedem para si o poder
num primeiro momento; eles propõem o poder
para os partidos da esquerda pequeno-
burguesa, que na Rússia seriam o PT, o Psol
etc. No entanto, esses partidos rejeitam romper
31. com a burguesia e vão caindo em descrédito
com as massas. As massas observam a
conduta desses grupos em não querer romper,
e começa a crescer a deterioração da
autoridade desses partidos sobre as massas.
Em um determinado momento, as massas
saem às ruas para obrigar essas lideranças a
romper, porém percebem que isso não iria
acontecer. Há um enfrentamento e então as
massas percebem que é necessário romper
também com esses partidos.
No livro do John Reed, um jornalista norte-
americano que também era comunista, esse
problema está muito bem retratado de uma
maneira simples. Em dado momento ele
descreve uma cena entre um operário, um
camponês, pessoas simples da Guarda
Vermelha, que estão parados em frente a um
prédio quando chega um estudante pequeno-
burguês, que insulta os operários e afirma que
eles não sabem nada, que são ignorantes etc.
Um dos trabalhadores, embora intimidado,
reconhecendo que o estudante é uma pessoa
mais instruída diz: “Uma coisa nós sabemos,
de um lado está a classe operária, do outro a
32. burguesia e quem não está com um, está com
o outro”. Daí então, o estudante começa a ficar
irritado e acusa os soldados de terem
participado da repressão contra uma
determinada manifestação há vários anos. Os
operários então reconhecem novamente a
autoridade do estudante, mas voltam a afirmar:
“Uma coisa nós sabemos, de um lado está a
classe operária do outro a burguesia, e quem
não está com um está com o outro”. Ou seja,
esse fato simbólico, embora seja real,
demonstra que as massas haviam
compreendido, mesmo entre os setores mais
pobres, que havia uma verdadeira guerra civil
entre a classe operária e a burguesia e esse
era um problema chave. Para eles, quem não
estava com o proletariado estava com a
burguesia e nada mais.
Por aí dá para termos uma ideia de como se
processa a compreensão. Não é que aqueles
dois milicianos do Exército Vermelho tinham
uma consciência profunda dos problemas da
luta social, mas eles tinham uma compreensão
prática, concreta do que estava acontecendo,
que é o que a maioria dos trabalhadores tem
dos problemas, dos interesses em jogo etc.
33. Eles não são cientistas sociais, nem
especialistas em política. Esse problema foi
chave. A revolução acontece quando toda a
classe operária e o campesinato começam a
romper com a burguesia depois de uma
campanha gigantesca dos bolcheviques. Esses
são problemas fundamentais de todo o
desenvolvimento da revolução e nós podemos
dizer ainda que esse é o problema mais central
também de seu desenvolvimento prévio.
Finalmente, há uma terceira questão, que é o
problema da insurreição. Hoje em dia, a
Revolução Russa é tratada como um fenômeno
dado. Isso pode induzir a uma incompreensão
do que acontecia na época. Naquele momento,
a ideia de que um partido poderia conduzir à
tomada do poder organizando conscientemente
uma insurreição era uma ideia que não
passava pela cabeça de ninguém.
Os grandes dirigentes da social-democracia da
época acusaram os bolcheviques, depois da
insurreição, de “blanquismo”, que foi uma
corrente política francesa, de um grande
revolucionário chamado Blanqui, que era um
especialista da luta de barricada e da
34. insurreição. Ele participou de várias
insurreições em Paris, antes e depois da
revolução de 1830. Blanqui ficou preso
dezenas de anos pela burguesia francesa e
mesmo quando os revolucionários da Comuna
de Paris propuseram trocar ele por mais de 200
prisioneiros políticos, incluindo o bispo da
cidade, a burguesia negou a proposta. O
blanquismo, portanto, era mal visto porque
subentendia-se que era uma tática equivocada.
A social-democracia, ao contrário, estava há
muito tempo comprometida pela política
eleitoral, esquecendo o problema da revolução.
Para eles, a revolução era um movimento geral
das massas, um movimento de opinião, mas
não um movimento de força.
Os bolcheviques foram os únicos que
levantaram esse problema, de que somente
uma revolução, com a utilização da força, com
a tomada do poder, poderia conduzir a classe
operária à vitória. Isso vai se tornar um divisor
de águas entre aqueles que apoiam a tomada
do poder pela força, dos que acham que não
há outro caminho; e de outros que defendem a
ideia da democracia, que em última instância
significa que ninguém nunca tomará o poder.
35. Em certo sentido, a esquerda brasileira se
apoia na ideia de que tem que haver eleições.
Não há a ideia de que as eleições são a forma
natural de perpetuação do domínio da
burguesia sobre a sociedade e que para a
sociedade se liberte, constitua um governo
operário, passe para o socialismo, é preciso
uma revolução. Não só uma revolução
espontânea, mas efetivamente a tomada
consciente do poder pelos revolucionários
organizados. Isso implica em uma grande
distinção dos métodos de ação.
Os revolucionários podem participar das
eleições. Os revolucionários podem e devem
participar da organização de sindicatos,
associações e outros. Mas para quê? Qual o
sentido dessa ação? O sentido dessa ação tem
de ser organizar a classe operária para que, no
momento em que a situação transbordar, no
momento em que se colocar o problema da
revolução, exista uma força capaz de levar a
classe operária efetivamente ao poder. Sem o
poder político da classe operária, essa seria a
quarta conclusão, não é possível nenhuma
transformação social efetiva.
36. No Brasil, por exemplo, hoje em dia muitos
acham que com o governo do PT, do Psol, ou
com um governo qualquer, é possível fazer
transformações sociais. Talvez não todas,
talvez algumas ficassem de fora, mas que daria
para transformar bastante coisa. Isso é uma
ilusão, uma fantasia. Não é possível
transformar nada, é preciso desmantelar o
mecanismo político que mantém a exploração
social para que a exploração social possa ser
atacada. Se alguém for atacar a exploração
social sem desmantelar esse mecanismo
político, vai se defrontar com uma barreira
insuperável. Toda tentativa de fazer
transformações por dentro desse mecanismo
político está fadada ao mais completo fracasso.
Nós temos aí três mandatos do PT para ver.
Não foi feito nada. Se conversarmos com
alguém do PT, a única coisa que ele dirá é que
distribuíram o Bolsa Família. Menos do que
isso também seria demais. Até a ONU é a favor
da Bolsa Família. A ONU é dirigida pelo
imperialismo, pelos bancos internacionais. Se
um governo de esquerda não é a favor de dar
comida para quem está passando fome, do que
ele seria a favor? Já quanto à reforma agrária,
37. que significaria uma modificação real na
relação real entre o capital e o trabalho; nada.
Uma modificação real na situação da mulher,
do negro, do índio, de todos os setores
oprimidos da sociedade, nada. Uma
transformação por mínima que fosse no
sistema educacional, que está totalmente falido
em todas as esferas, também não acontece.
Não há nenhum projeto nesse sentido.
Desenvolveram até o paroxismo o ensino pago,
que é um grande ônus para a população. Esse
é um exemplo prático que os brasileiros estão
experimentando.
Na Revolução Russa, a população fez uma
experiência com um governo
pseudodemocrático rapidamente, porque as
questões estavam colocadas de uma maneira
muito acesa. Aqui no Brasil, não. Aqui as
coisas vão se desenvolvendo lentamente.
Alguém poderia argumentar: “será que tal
medida não representa uma mudança?”. No
final do processo veremos que não só a
situação não melhorou nada como se
deteriorou igual aconteceu no governo Sarney,
Collor, FHC e segue ladeira abaixo.