Este documento fornece informações biográficas e literárias sobre três poetas portugueses: Eugénio de Andrade, Mário de Sá-Carneiro e Vinicius de Moraes. Resume a vida e obra de cada um, destacando datas e locais importantes, bem como alguns de seus principais poemas.
2. EUGÉNIO DE ANDRADE
Vida e Obra
Eugénio de Andrade foi um pseudónimo de José
Fontinhas. Este poeta português nasceu na freguesia
de Póvoa de atalaia, no Fundão, a 19 de Janeiro de
1923. Quando a sua mãe se separou do pai, com
apenas dez anos, mudou-se para Lisboa. (Frequentou
o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de
Castro)
Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde
regressou depois de completar o serviço militar. Devido
ao seu futuro trabalho como funcionário público,
mudou-se para o Porto em 1950. Anos mais tarde, e
até à data da sua morte, fez diversas viagens, travando
amizades com algumas personalidades influentes da
época.
Durante a sua vida, sempre se distanciou da
vida social, literária ou mundana, fazendo então raras
aparições públicas.
3. EUGÉNIO DE ANDRADE
Vida e Obra
Recebeu um sem número de distinções, entre as
quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos
Literários (1986), Prémio D. Dinis da Fundação Casa
de Mateus (1988), Grande Prémio de Poesia
da Associação Portuguesa de Escritores (1989)
e Prémio Camões (2001). A 8 de Julho de 1982 foi feito
Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada e a 4 de Fevereiro de 1989 foi agraciado com a
Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
Faleceu a 13 de Junho de 2005, vítima de uma
doença neurológica prolongada.
Com a sua alma, deixou também várias obras,
não só em poesia: As palavras interditas (1951), Rente
ao dizer (1992), Os lugares do lume (1998), como em
prosa: Os afluentes do silêncio (1968), À sombra da
memória (1993), Aquela nuvem e as outras (1986). Foi
também tradutor de algumas obras.
4. EUGÉNIO DE ANDRADE
Ano Acontecimento
1923 Nasce no dia 19 de Janeiro no Fundão
1933
Muda-se para Lisboa com a mãe, devido à
separação dos pais, onde frequenta o Liceu Passos
Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro
1933
Dá-se início ao Estado Novo, regime político
autoritário, autocrata e corporativista que vigorou
em Portugal durante 41 anos.
1939 Estreia-se com a obra “Narciso”
1942 Escreve o livro “Versos Adolescente”
1943
Muda-se para Coimbra depois de ter completado o
serviço militar
1947
Torna-se funcionário público, exercendo as funções
de Inspector Administrativo do Ministério da
Saúde
1948 Escreve a obra “As mãos e os frutos”
1950
Muda-se para o Porto devido ao seu trabalho de
funcionário público
5. EUGÉNIO DE ANDRADE
Ano Acontecimento
1950 Publica a obra “Os amantes sem dinheiro”
1982
É feito Grande-Oficial da Ordem Militar de
Sant’lago da Espada
1986
Recebe o prémio da Associação Internacional de
Críticos Literários
1989
Recebe o grande prémio de Poesia da Associação
Portuguesa de Escritores
1992 Publica a obra “Rente ao dizer”
2003
A sua obra “Os sulcos da sede” foi distinguida com
o prémio de poesia do Pen Clube Português
2005
Morre no dia 13 de Junho no Porto, devido a uma
doença neurológica prolongada
6. “POEMA À MÃE”
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se
demora
e noites rumorosas de águas
matinais.
Por isso, às vezes, as palavras
que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas
brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as
rosas,
talvez não enchesses as horas de
pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas
cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é
enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a
beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de
mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
7. ANÁLISE DO “POEMA À MÃE”
Tema
O tema do poema é o amor materno e a relação entre
o sujeito poético e a sua mãe, aquilo porque passaram e as
recordações que guardam na sua memória.
Assunto
O assunto do poema está muito ligado à figura
materna e ao crescimento do eu poético, que consigo trás a
necessidade de se distanciar da sua mãe protetora para
viver a sua vida com autonomia. Em resultado do passar do
tempo, o poeta sente que traiu a mãe, ao deixar de ser a
criança que ela protegia, mas apesar disso, realça que não
esqueceu a sua mãe e guarda no seu coração todas as
recordações de tempos da sua infância. Em suma, o poeta
quer transmitir que apesar de estar mais velho, e de já não
ser o menino que a mãe envolvia nos seus braços, não
deixará de amar aquela que será sempre a sua mãe.
8. ANÁLISE DO POEMA “À MÃE”
Nível formal
Este poema é constituído por 13 estrofes, não
tendo todas o mesmo número de versos. Apesar
disso, predominam os tercetos (estrofes de três
versos), tendo também um monóstico, dois
dísticos, uma quadra e uma quintilha.
Neste poema não existe rima, sendo então
uma composição poética de versos soltos. No que
diz respeito à medida do poema, o número de
silabas métricas não é constante ao longo dos
versos.
9. ANÁLISE DO POEMA “À MÃE”
Nível estético
O discurso utilizado pelo sujeito poético é meigo e
justificativo, na medida em que pretende mostrar à mãe que
não a vai abandonar. A linguagem utilizada é simples e de
fácil compreensão, apesar de conter muitas figuras de estilo.
O uso da personificação é frequente, por exemplo nos
versos “o retrato adormecido/no fundo dos teus olhos”, em que
o poeta pretende dizer que já não é o menino que estava nas
fotografias. No último verso, “Boa noite. Eu vou com as aves”,
o poeta usa um eufemismo, pois com esta expressão diz de
forma mais branda, que ele vai crescer e que se vai distanciar
um pouco. Existe também uma antítese, no verso “e noites
rumorosas de águas matinais”, pois são expressas ideias
antagónicas no mesmo verso.
É frequente também o uso da palavra “noite” em
substituição de “vida”, por exemplo “Mas – tu sabes – a noite é
enorme,/e todo o meu corpo cresceu”, ou no verso “eu saí da
moldura” quer dizer que cresceu. Usa-se então uma perífrase.
10. URGENTEMENTE
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas
palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas
espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
11. ANÁLISE DO POEMA
“URGENTEMENTE”
Este poema tem como tema o incentivo, por parte
do sujeito poético, às pessoas, para que estas se
deixem guiar pelas coisas boas da vida, indo à
procura da felicidade e que deixem de praticar as
coisas más como a violência e a guerra, que
deixem de ser cruéis para passarem a semear o
amor.
É urgente que se descubra a beleza, para que
vivamos num mundo melhor, eliminando as
coisas negativas e vivendo o amor.
13. MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
Ano Acontecimento
19 de Maio de 1890 Nasce Mário de Sá-Carneiro em Lisboa
1892 Perde a sua mãe ficando aos cuidados dos seus avós
1902 Entra no mundo da poesia
1905/1906 Começa a traduzir poemas de Victor Hugo, Goethe e Schiller
1911 Entra na faculdade de Direito em Coimbra mas não conclui o
curso;
Viaja até Paris disposto a continuar os estudos;
1912 Publica “Amizade” e “Princípio”
1913/1914 Publica “Memórias de Paris”;
Vem várias vezes a Portugal;
Integra o grupo da revista literária Orpheu;
Publica “A confissão de Lúcio” e “Dispersão”;
1915 Publica “Céu em Fogo”;
Regressa a Paris
26 de Abril de 1916 Suicida-se num hotel em Paris
14. POEMA “FIM”
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
15. ANÁLISE DO POEMA “FIM”
Mário de Sá Carneiro era um homem
melancólico, deprimido e pessimista, o que é
revelado através dos seus poemas. Neste poema
em particular, o eu-poético manifesta o desprezo
e desvalorização que sente em relação a si e à sua
vida. Na opinião do poeta, a sua vida não era
digna, e todos o que o rodeavam partilhavam da
mesma opinião.
17. VINICIUS DE MORAES
Ano Acontecimento
1913 Nasce no dia 19 de Outubro, no Rio
de Janeiro
1924 Ingressa no Colégio Santo Inácio
1930 Ingressa na Faculdade Nacional de
Direito
1933 São gravadas várias músicas da sua
autoria
1933 Gradua-se em Ciências Jurídicas e
Sociais
1933 Publica o seu primeiro livro de
poemas, “O Caminho para a
Distância”
1936 Obteve o emprego de censor de
cinematográfico
1936 Lança o livro “Ariana, a Mulher”
18. VINICIUS DE MORAES
Ano Acontecimento
1938 Ganha uma bolsa do Conselho
Britânico para estudar língua e
literatura inglesa na Universidade de
Oxford
1941 Regressa ao Brasil, onde trabalha no
jornal “A Manhã”
1946 Assume o primeiro posto diplomático
em Los Angeles
1954 Publica uma peça teatral da sua
autoria “Orfeu da Conceição
1957 Viaja para Montevidéu, onde
permanece 3 anos devido à sua
carreira diplomática
1962 Compõe com Tom Jobim a música “A
Garota de Ipanema”
1980 Falece no dia 9 de Julho com 67 anos
19. POEMA “TOMARA”
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem
se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
20. ANÁLISE DO POEMA “TOMARA”
Neste poema, o sujeito poético escreve para
alguém que lhe é querido, e pede-lhe que não o
abandone, como já fizera no passado. O poeta,
devido ao seu medo da solidão, pede à pessoa que
o melhor é ficarem juntos, pois a vida vale mais a
pena se tiverem alguém ao seu lado, e que viver
na solidão não é um caminho para a felicidade.
23. FIM
"As palavras são a nossa condenação. Com
palavras se ama, com palavras se odeia. E,
suprema irrisão, ama-se e odeia-se com as
mesmas palavras!“
Eugénio de Andrade