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DE POVOADO À CIDADE:

O lento processo de transformação do município de Riachão do Dantas
                                                        (1853- 1938)


                                                                 Rosana Oliveira Silva
                                                Graduanda em licenciatura em História
                                                 pela Universidade Federal de Sergipe.
                                                Contato: rosanabitencurt@hotmail.com


       RESUMO

          O objetivo do presente trabalho é analisar o processo de transformação do
povoado Riachão no atual município de Riachão do Dantas. Para tanto procuramos
inserir a história do município no contexto histórico em que vivia a Província de
Sergipe no século XIX. A povoação que deu origem a Riachão do Dantas formou-se na
primeira metade do século XIX, em torno da capela dedicada a Nossa Senhora do
Amparo em terras de João Martins Fontes. A partir desse momento a história do
município foi marcada por idas e vindas. Em 1855 a povoação é transformada na
Freguesia de Nossa senhora do Amparo do Riachão. Em 09 de maio de 1870, a
freguesia é elevada a categoria de vila, emancipando-se do município de Lagarto. A vila
tornou-se cidade em 15 de dezembro de 1938. O nome Richão provem do riacho que
passa junto a localidade: o riacho da Limeira. O complemento “do Dantas” foi acrescido
em homenagem a João Dantas Martins dos Reis que desempenhou papel importante na
emancipação do município.



       PALAVRAS-CHAVE

          Riachão do Dantas, freguesia, vila, João Dantas Martins dos Reis.



          As origens do atual município de Riachão do Dantas datam do início do
século XIX em terras da fazenda Riachão, pertencente a João Martins Fontes. Foram as
margens do riacho da Limeira que se construíram as primeiras habitações. Segundo
fontes históricas seria este riacho, quase rio, o responsável pelo nome da cidade. O
processo emancipatório do município é marcado por um lento processo de
transformação que perdurou por várias décadas do século XIX.

       Mesmo residindo no engenho Campo da Barra, em Itabaianinha, João Martins
Fontes mandou construir em sua propriedade uma capela dedicada a Nossa Senhora do
Amparo. Não se conhece uma data precisa, entretanto estima-se que foi antes de 1836
que Martins fontes mudou-se para o Riachão. Este se destacou na localidade, ocupando
cargos de governança e mais ainda, participando do processo de Independência do
Brasil auxiliando o general Pedro Labatut, quando de sua presença em terras sergipanas.

          O processo de desenvolvimento do povoado ocorreu lentamente. Foi ao redor
da capela que se desenvolveu as primeiras moradias, desta forma associamos a
povoação do município à religião, pois surgiu em função de uma igreja edificada.
Antonio Lindvaldo Souza nos diz que “as igrejas tiveram papel importante nos núcleos
de povoamento na difusão e manutenção dos princípios do padroado” (SOUZA, 2010,
p. 46). Podemos ressaltar também, que a Província de Sergipe vivia um momento de
prosperidade econômica no século XIX, devido ao crescimento da produção algodoeira
e principalmente açucareira. Segundo João Dantas Martins dos Reis, em seu livro A
cidade do Riachão do Dantas, como começou o povoado foi aumentando “com a
situação e plantação de sítios e edificação dos primeiros engenhos da circunvizinhaça” (
REIS, 1949, p. 175).

          João Martins Fontes morreu em 1848 e foi enterrado na capela que mandara
construir. Em 28 de abril de 1853 seus herdeiros se reúnem na Vila do Lagarto e em
termos da doação oferecem a capela e as terras referentes ao povoado a Nossa Senhora
Amparo para tornar-se matriz. João oliva descreve a doação:

                       Aos 28 de abril de 1853, na vila do Lagarto, a cuja jurisdição, como já
                       foi dito, pertenciam as terras do Riachão, reuniram-se, em casa do
                       capitão-mor Joaquim Martins Fontes, juntamente a ele e sua mulher
                       D. Ana Maurícia da Silveira Fontes, o comandante superior Antonio
                       Martins Fontes e sua mulher, D. Maria Francisca da Costa Fontes, o
                       tenente-coronel Domingos José de Carvalho Oliveira e sua mulher, D.
                       Ana Francisca da Silveira Carvalho, o tenente- coronel João Dantas
                       Martins dos Reis e sua mulher, D. Mirena Maria da Silveira Dantas, o
                       coronel Joaquim da Silveira e sua mulher, D. Micaela Maria do
                       sacramento, o tenente- coronel José Martins da Silveira Fontes e sua
                       mulher, D. Quitéria Maria de Magalhães, Paulo Freire de Mesquita e
sua mulher, D. Maria Francisca da Silveira, todos herdeiros de João
                         Martins Fontes e ali passaram uma escritura, perante o tabelião de
                         oficio da vila, doando a Nossa Senhora do amparo os terrenos que lhes
                         pertenciam por herança e que compreendem a área onde hoje se
                         localiza a cidade de Riachão do Dantas ( ALVES, 1959, p. 423).

           Embora João Martins Fontes seja considerado o fundador do município de Riachão
do Dantas, coube a João Dantas Martins dos Reis - seu neto, afilhado, herdeiro e um dos
doadores das terras a santa padroeira da capela – os louros de ter seu sobrenome anexado ao
nome da cidade. O Comendador Dantas, como ficara conhecido, ingressou na política sergipana
tornando-se um dos baluartes do Partido Conservador e um dos maiores defensores da
emancipação do município.

           Em 27 de abril de 1855 Inácio Joaquim Barbosa sancionou a Resolução Nº 419
criando assim a Freguesia de Nossa Senhora do Amparo do Riachão, desmenbrando-a da
Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto. Quem destaca os limites da nova freguesia
é Felisbelo Freire em seu livro História Territorial de Sergipe de 1995. Em 20 de agosto de
1856, a freguesia foi aprovada canonicamente. Cabe destacar a atuação do primeiro pároco da
nova freguesia, o padre João Batista de Carvalho Daltro (1828-1910) que enfrentou um
paroquiato bastante turbulento, devido à epidemia de cólera morbus - que assolava a Província
entre 1855 e 1856 - e as constantes secas, mas “nem tudo corria mal para o vigário Daltro”(
FONTES, 1992, p. 118), pois em 1863 ele conseguiu realizar a primeira Santa Missão na
freguesia, coisa que a muito tempo almejava.

           Nove anos após a criação da freguesia, Riachão foi elevado à categoria de vila pela
Resolução Provincial Nº 666 de 23 de maio de 1864. Arivaldo Silveira Fontes em seu livro
Figuras e Fatos de Sergipe afirma que essa elevação só foi possível devido à influência do
Coronel Dantas. Entretanto, no ano seguinte devido à subida do Partido Liberal ao poder – o
Cel. João Dantas Martins dos Reis fazia parte do Partido Conservador - revogou-se o ato
emancipatório e em15 de maio de 1865, através da Revolução Nº730, a Freguesia de Nossa
Senhora do Amparo do Riachão volta a pertencer ao município de Lagarto.

           A atuação de João Dantas Martins dos Reis deve ser ressaltada, pois mesmo não
sendo um riachãoense de origem, foi “adotado” pelo município como sendo um de seus filhos
mais ilustres. O Coronel Dantas nasceu em Camuciatá em Itapicuru, a 18 de maio de 1830,
passando a residir nas terras do Riachão em 1851, no engenho Fortaleza de sua propriedade.
Segundo Silveira Fontes, o Coronel Dantas atuou desde cedo na política de Sergipe e exerceu
cargos de representação em Lagarto e Riachão, sendo grande batalhador pela autonomia deste
ultimo.
O Partido Conservador reassume o poder e em 09 de maio de 1870 ocorreu à
emancipação política definitiva de Riachão do Dantas. Através da Resolução Nº 888 cria-se o
município de Riachão. Convém lembrar que a Vila do Riachão surge com a mesma função das
demais vilas em Sergipe no século XIX, segundo afirma José Silvério Leite Fontes estas vilas
funcionavam “como centros religiosos e administrativos de uma sociedade rural,
diversificadamente estruturada em áreas geoeconômicas, ricas e prosperas, tendo por
fundamento o açúcar e o gado” (FONTES, 1974, p.565). Em 15 de dezembro de 1938, a vila do
Riachão foi elevada a condição de cidade por uma lei federal que determinava que toda sede de
município fosse elevada a esta categoria.

           Foi somente em 31 de dezembro de 1943 através do Decreto Estadual Nº 377, que se
estabeleceu o nome do município como Riachão do Dantas. Alteração foi feita devido a uma lei
federal que modificava os nomes dos municípios em que houvesse duplicidade. João de Oliva
Alves relata o porquê da escolha de “do Dantas” como complemento:

                         Na escolha do designativo (do Dantas) introduzido para alterar o
                         topônimo, influiu, ao mesmo tempo, o propósito de homenagear um
                         dos maiores benfeitores da terra [João Dantas Martins dos Reis] e o
                         próprio costume de grande parte da população principalmente da
                         classe do povo, que já vinha chamando o lugar pela forma de
                         “Riachão Dantas”. (ALVES, 1959, p.422)

           Desta forma entende-se a história do atual município de Riachão do Dantas
como repleta de “idas e vindas” e inserida num lento processo de transformação
ocorrido durante o século XIX. Desta forma ressaltamos o papel da igreja que teve
grande importância na ocupação do território, mas também o desempenho econômico da
Província de Sergipe. Assim como, se faz necessário lembrar o momento político em
que se vivia notadamente marcado pelas rivalidades entre o Partido Liberal e o Partido
Conservador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




ALVES, João Oliva. Riachão do Dantas. In: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros.
Rio de Janeiro: IBGE, 1959. Vol.XIX.




FONTES, Arivaldo Silveira. Figuras e Fatos de Sergipe. Porto Alegre: CFP SENAI de
Artes Gráficas Henrique d’Ávila Bertaso, 1992.




         . Riachão do Dantas, os primeiros tempos. As origens. In: Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, 1965-1978. Nº27.




FONTES, José Silvério Leite. Cidades e Vilas de Sergipe no século XIX. In: Anais do
VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História. São Paulo,
1974, p. 565.




FREIRE, Felisbelo. História Territorial de Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de
Sergipe/ SEC/FUNDEPAH, 1995, p. 98-99.




REIS, João Dantas Martins dos. A cidade do Riachão do Dantas, como começou. In:
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, 1960. Nº 25/2.




SOUZA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão:
Universidade Federal de Sergipe/ CESAD, 2010.

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  • 1. DE POVOADO À CIDADE: O lento processo de transformação do município de Riachão do Dantas (1853- 1938) Rosana Oliveira Silva Graduanda em licenciatura em História pela Universidade Federal de Sergipe. Contato: rosanabitencurt@hotmail.com RESUMO O objetivo do presente trabalho é analisar o processo de transformação do povoado Riachão no atual município de Riachão do Dantas. Para tanto procuramos inserir a história do município no contexto histórico em que vivia a Província de Sergipe no século XIX. A povoação que deu origem a Riachão do Dantas formou-se na primeira metade do século XIX, em torno da capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo em terras de João Martins Fontes. A partir desse momento a história do município foi marcada por idas e vindas. Em 1855 a povoação é transformada na Freguesia de Nossa senhora do Amparo do Riachão. Em 09 de maio de 1870, a freguesia é elevada a categoria de vila, emancipando-se do município de Lagarto. A vila tornou-se cidade em 15 de dezembro de 1938. O nome Richão provem do riacho que passa junto a localidade: o riacho da Limeira. O complemento “do Dantas” foi acrescido em homenagem a João Dantas Martins dos Reis que desempenhou papel importante na emancipação do município. PALAVRAS-CHAVE Riachão do Dantas, freguesia, vila, João Dantas Martins dos Reis. As origens do atual município de Riachão do Dantas datam do início do século XIX em terras da fazenda Riachão, pertencente a João Martins Fontes. Foram as margens do riacho da Limeira que se construíram as primeiras habitações. Segundo
  • 2. fontes históricas seria este riacho, quase rio, o responsável pelo nome da cidade. O processo emancipatório do município é marcado por um lento processo de transformação que perdurou por várias décadas do século XIX. Mesmo residindo no engenho Campo da Barra, em Itabaianinha, João Martins Fontes mandou construir em sua propriedade uma capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo. Não se conhece uma data precisa, entretanto estima-se que foi antes de 1836 que Martins fontes mudou-se para o Riachão. Este se destacou na localidade, ocupando cargos de governança e mais ainda, participando do processo de Independência do Brasil auxiliando o general Pedro Labatut, quando de sua presença em terras sergipanas. O processo de desenvolvimento do povoado ocorreu lentamente. Foi ao redor da capela que se desenvolveu as primeiras moradias, desta forma associamos a povoação do município à religião, pois surgiu em função de uma igreja edificada. Antonio Lindvaldo Souza nos diz que “as igrejas tiveram papel importante nos núcleos de povoamento na difusão e manutenção dos princípios do padroado” (SOUZA, 2010, p. 46). Podemos ressaltar também, que a Província de Sergipe vivia um momento de prosperidade econômica no século XIX, devido ao crescimento da produção algodoeira e principalmente açucareira. Segundo João Dantas Martins dos Reis, em seu livro A cidade do Riachão do Dantas, como começou o povoado foi aumentando “com a situação e plantação de sítios e edificação dos primeiros engenhos da circunvizinhaça” ( REIS, 1949, p. 175). João Martins Fontes morreu em 1848 e foi enterrado na capela que mandara construir. Em 28 de abril de 1853 seus herdeiros se reúnem na Vila do Lagarto e em termos da doação oferecem a capela e as terras referentes ao povoado a Nossa Senhora Amparo para tornar-se matriz. João oliva descreve a doação: Aos 28 de abril de 1853, na vila do Lagarto, a cuja jurisdição, como já foi dito, pertenciam as terras do Riachão, reuniram-se, em casa do capitão-mor Joaquim Martins Fontes, juntamente a ele e sua mulher D. Ana Maurícia da Silveira Fontes, o comandante superior Antonio Martins Fontes e sua mulher, D. Maria Francisca da Costa Fontes, o tenente-coronel Domingos José de Carvalho Oliveira e sua mulher, D. Ana Francisca da Silveira Carvalho, o tenente- coronel João Dantas Martins dos Reis e sua mulher, D. Mirena Maria da Silveira Dantas, o coronel Joaquim da Silveira e sua mulher, D. Micaela Maria do sacramento, o tenente- coronel José Martins da Silveira Fontes e sua mulher, D. Quitéria Maria de Magalhães, Paulo Freire de Mesquita e
  • 3. sua mulher, D. Maria Francisca da Silveira, todos herdeiros de João Martins Fontes e ali passaram uma escritura, perante o tabelião de oficio da vila, doando a Nossa Senhora do amparo os terrenos que lhes pertenciam por herança e que compreendem a área onde hoje se localiza a cidade de Riachão do Dantas ( ALVES, 1959, p. 423). Embora João Martins Fontes seja considerado o fundador do município de Riachão do Dantas, coube a João Dantas Martins dos Reis - seu neto, afilhado, herdeiro e um dos doadores das terras a santa padroeira da capela – os louros de ter seu sobrenome anexado ao nome da cidade. O Comendador Dantas, como ficara conhecido, ingressou na política sergipana tornando-se um dos baluartes do Partido Conservador e um dos maiores defensores da emancipação do município. Em 27 de abril de 1855 Inácio Joaquim Barbosa sancionou a Resolução Nº 419 criando assim a Freguesia de Nossa Senhora do Amparo do Riachão, desmenbrando-a da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto. Quem destaca os limites da nova freguesia é Felisbelo Freire em seu livro História Territorial de Sergipe de 1995. Em 20 de agosto de 1856, a freguesia foi aprovada canonicamente. Cabe destacar a atuação do primeiro pároco da nova freguesia, o padre João Batista de Carvalho Daltro (1828-1910) que enfrentou um paroquiato bastante turbulento, devido à epidemia de cólera morbus - que assolava a Província entre 1855 e 1856 - e as constantes secas, mas “nem tudo corria mal para o vigário Daltro”( FONTES, 1992, p. 118), pois em 1863 ele conseguiu realizar a primeira Santa Missão na freguesia, coisa que a muito tempo almejava. Nove anos após a criação da freguesia, Riachão foi elevado à categoria de vila pela Resolução Provincial Nº 666 de 23 de maio de 1864. Arivaldo Silveira Fontes em seu livro Figuras e Fatos de Sergipe afirma que essa elevação só foi possível devido à influência do Coronel Dantas. Entretanto, no ano seguinte devido à subida do Partido Liberal ao poder – o Cel. João Dantas Martins dos Reis fazia parte do Partido Conservador - revogou-se o ato emancipatório e em15 de maio de 1865, através da Revolução Nº730, a Freguesia de Nossa Senhora do Amparo do Riachão volta a pertencer ao município de Lagarto. A atuação de João Dantas Martins dos Reis deve ser ressaltada, pois mesmo não sendo um riachãoense de origem, foi “adotado” pelo município como sendo um de seus filhos mais ilustres. O Coronel Dantas nasceu em Camuciatá em Itapicuru, a 18 de maio de 1830, passando a residir nas terras do Riachão em 1851, no engenho Fortaleza de sua propriedade. Segundo Silveira Fontes, o Coronel Dantas atuou desde cedo na política de Sergipe e exerceu cargos de representação em Lagarto e Riachão, sendo grande batalhador pela autonomia deste ultimo.
  • 4. O Partido Conservador reassume o poder e em 09 de maio de 1870 ocorreu à emancipação política definitiva de Riachão do Dantas. Através da Resolução Nº 888 cria-se o município de Riachão. Convém lembrar que a Vila do Riachão surge com a mesma função das demais vilas em Sergipe no século XIX, segundo afirma José Silvério Leite Fontes estas vilas funcionavam “como centros religiosos e administrativos de uma sociedade rural, diversificadamente estruturada em áreas geoeconômicas, ricas e prosperas, tendo por fundamento o açúcar e o gado” (FONTES, 1974, p.565). Em 15 de dezembro de 1938, a vila do Riachão foi elevada a condição de cidade por uma lei federal que determinava que toda sede de município fosse elevada a esta categoria. Foi somente em 31 de dezembro de 1943 através do Decreto Estadual Nº 377, que se estabeleceu o nome do município como Riachão do Dantas. Alteração foi feita devido a uma lei federal que modificava os nomes dos municípios em que houvesse duplicidade. João de Oliva Alves relata o porquê da escolha de “do Dantas” como complemento: Na escolha do designativo (do Dantas) introduzido para alterar o topônimo, influiu, ao mesmo tempo, o propósito de homenagear um dos maiores benfeitores da terra [João Dantas Martins dos Reis] e o próprio costume de grande parte da população principalmente da classe do povo, que já vinha chamando o lugar pela forma de “Riachão Dantas”. (ALVES, 1959, p.422) Desta forma entende-se a história do atual município de Riachão do Dantas como repleta de “idas e vindas” e inserida num lento processo de transformação ocorrido durante o século XIX. Desta forma ressaltamos o papel da igreja que teve grande importância na ocupação do território, mas também o desempenho econômico da Província de Sergipe. Assim como, se faz necessário lembrar o momento político em que se vivia notadamente marcado pelas rivalidades entre o Partido Liberal e o Partido Conservador.
  • 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, João Oliva. Riachão do Dantas. In: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1959. Vol.XIX. FONTES, Arivaldo Silveira. Figuras e Fatos de Sergipe. Porto Alegre: CFP SENAI de Artes Gráficas Henrique d’Ávila Bertaso, 1992. . Riachão do Dantas, os primeiros tempos. As origens. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, 1965-1978. Nº27. FONTES, José Silvério Leite. Cidades e Vilas de Sergipe no século XIX. In: Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História. São Paulo, 1974, p. 565. FREIRE, Felisbelo. História Territorial de Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe/ SEC/FUNDEPAH, 1995, p. 98-99. REIS, João Dantas Martins dos. A cidade do Riachão do Dantas, como começou. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, 1960. Nº 25/2. SOUZA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD, 2010.