2. Célula - tronco
As células-tronco, células-mães ou células estaminais são células que possuem a
melhor capacidade de se dividir dando origem a duas células semelhantes às
progenitoras. As células-tronco de embriões têm ainda a capacidade de se
transformar, num processo também conhecido por diferenciação celular, em
outros tecidos do corpo, como ossos, nervos, músculos e sangue. Devido a essa
característica, as células-tronco são importantes, principalmente na aplicação
terapêutica, sendo potencialmente úteis em terapias de combate a doenças
cardiovasculares, neurodegenerativas, Diabetes mellitus tipo, acidentes vasculares
cerebrais, doenças hematológicas, traumas na medula espinhal neuropatias.
3. O principal objetivo das pesquisas com células-tronco é usá-las para recuperar
tecidos danificados por essas doenças e traumas. No Zoológico de Brasília(Brasil),
uma fêmea de lobo-guará, vítima de atropelamento, recebeu tratamento com
células-tronco. Este foi o primeiro registro do uso de células-tronco para curar
lesões num animal selvagem.
São encontradas em células embrionárias e em vários locais do corpo, como
no cordão umbilical, na medula óssea, no sangue, no fígado, na placenta e
no líquido amniótico, conforme descoberta de pesquisadores da Escola de
Medicina da Universidade de Wake Forest, no estado norte-americano da Carolina
do Norte, noticiada pela imprensa mundial nos primeiros dias de 2007.
4. Significado do seu nome
O adjetivo estaminal refere-se aos estames e provém
da palavra latina 'staminale', adjetivo relacionado com o substantivo latino
‘stamine’, do qual deriva a palavra portuguesa estame, que significa: fio de tecer e,
em botânica, folha floral fértil que produz o pólen.
O vocábulo provém do inglês "stem", que provém da palavra germânica "stamln",
que significa caule ou tronco. Este conceito relaciona-se com o processo de
diferenciação e especialização celulares, que "entronca" em células pluripotentes e
se ramifica em células progressivamente unipotentes. Esta tradução literal do
termo inglês não é adotada em Portugal.
5. Extração das células-tronco
Há três possibilidades de extração das células-tronco. Podem
ser adultas, mesenquimais ou embrionárias:
Embrionárias – São encontradas no embrião humano e são classificadas
como totipotentes ou pluripotentes, devido ao seu poder de diferenciação celular
de outros tecidos. A utilização de células estaminais embrionárias para fins
de investigação e tratamentos médicos varia de país para país, em que alguns a
sua investigação e utilização é permitida, enquanto em outros países é ilegal. O
STF autorizou as pesquisas no Brasil.
Adultas – São encontradas em diversos tecidos, como a medula
óssea, sangue, fígado, cordão umbilical, placenta, e outros. Estudos recentes
mostram que estas células-tronco têm uma limitação na sua capacidade de
diferenciação, o que dá uma limitação de obtenção de tecidos a partir delas.
6. Mesenquimais – Células-tronco mesenquimais, uma população de células do
estroma do tecido (parte que dá sustentação às células), têm a capacidade de se
diferenciar em diversos tecidos. Por conta desta plasticidade, essas células têm
sido utilizadas para reparar ou regenerar tecidos danificados como ósseo,
cartilaginoso, hepático, cardíaco e neural. Além disso, essas células apresentam
uma poderosa atividade imunossupressora, o que abre a possibilidade de sua
aplicação clínica em doenças imunomediadas, como as autoimunes e também
nas rejeições aos transplantes. Em adultos, residem principalmente na medula
óssea e no tecido adiposo.
7. Legislação sobre a sua utilização
Segue-se uma lista das leis em vigor sobre a clonagem de células-tronco em
alguns países:
África do Sul - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem
terapêutica. É o único país africano com legislação a respeito.
Alemanha - permite a pesquisa com linhagens de células-tronco existentes e sua
importação, mas proíbe a destruição de embriões.
Brasil - permite a utilização de células-tronco produzidas a partir
de embriões humanos para fins de pesquisa e terapia, desde que sejam embriões
inviáveis ou estejam congelados por mais de três anos. Em todos os casos, é
necessário o consentimento dos pais. A comercialização do material biológico é
crime. Em 29 de maio de 2008 o Supremo Tribunal Federal confirmou que a lei em
questão é constitucional, ratificando assim o posicionamento normativo dessa
nação.
8. China - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem
terapêutica.
Coreia do Sul - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem
terapêutica.
Estados Unidos - proíbe a aplicação de verbas do governo federal a qualquer
pesquisa envolvendo embriões humanos (a exceção é feita para 19 linhagens de
células-tronco derivadas antes da aprovação da lei norte-americana). Entretanto,
estados como a Califórnia permitem e patrocinam esse tipo de pesquisa (inclusive
a clonagem terapêutica).
França - não tem legislação específica, mas permite a pesquisa com linhagens
existentes de células-tronco embrionárias e com embriões de descarte.
Índia - proíbe a clonagem terapêutica, mas permite as outras pesquisas.
Israel - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive
a clonagem terapêutica.
Itália - proíbe totalmente qualquer tipo de pesquisa com células-
tronco embrionárias humanas e sua importação.
9. Japão - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem terapêutica.
Reino Unido - tem uma das legislações mais liberais do mundo e permite a
clonagem terapêutica.
Rússia - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem
terapêutica.
Singapura - permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem
terapêutica.
Turquia - permite pesquisas e uso de embriões de descarte, todavia, proíbe a
clonagem terapêutica das células tronco.
10. Reações religiosas
A doutrina da Igreja Católica condena o uso das células-tronco
embrionárias porque essas técnicas muitas vezes envolvem a destruição de
embriões humanos, considerado uma forma de assassinato
gravemente pecaminoso pela Igreja Católica. Investigações científicas com
células-tronco embrionárias são chamadas de "um meio imoral para um bom
fim" e "moralmente inaceitável." A Igreja apoia o uso de células-tronco adultas,
que são células obtidas com o consentimento de alguém e sem pôr em causa a
vida do doador, afirmando que é um campo promissor de pesquisa e moralmente
aceitável.
12. ...células primitivas da medula óssea regeneram o miocárdio in vivo, substituindo
o tecido morto. Orlic D, et al. Nature 410:710 - 705, 2001.
A conclusão acima refere-se a um experimento em camundongos, mas seus
resultados estão começando a ser transferidos para o homem, realizando um
sonho da medicina que parecia distante há poucos anos: dispor de uma fonte
abundante de células para reparar tecidos e órgãos lesados. O princípio da
terapia celular é simples: restaurar a função de um órgão ou tecido,
transplantando novas células para substituir as células perdidas pela doença, ou
substituir células que não funcionam adequadamente devido a um defeito
genético.
13. Esse princípio não é novo em medicina. Por exemplo, a sua forma mais simples, a
transfusão de células do sangue (hemácias, granulócitos, plaquetas), é uma das
abordagens terapêuticas mais amplamente utilizadas no mundo, assim como
numerosas formas de transplantes de órgãos e tecidos, como os transplantes de
medula óssea, de rim, de fígado, de coração ou de pulmão. No entanto, esses
transplantes de órgão inteiro são limitados porque somente se aplicam a algumas
situações clínicas. Há uma escassez de doadores e os custos podem ser muito
elevados, superiores a US$ 100 mil no caso de transplante de fígado e, além
disso, são procedimentos invasivos, associados com mortalidade elevada.
Uma alternativa seria utilizar células indiferenciadas (células-tronco), injetadas na
circulação ou no local da lesão, na expectativa de que elas se diferenciem em
células especializadas daquele tecido ou órgão, substituindo as células
defeituosas ou destruídas. Para isso, é necessário dispor de um suprimento de
células-tronco e conhecer os procedimentos para dirigir sua diferenciação no
sentido desejado para aquele paciente.
14.
15. O conhecimento de que uma única célula é capaz de dar origem a mais de 200
tipos diversos de células diferenciadas de tecidos adultos não é novo, pois
constitui a premissa básica da embriologia: o óvulo fecundado divide-se, dando
origem a um pequeno número de células idênticas no início do desenvolvimento
embrionário. Com o crescimento do embrião, elas vão se diferenciando, cada uma
capaz de dar origem a um número limitado de tecidos. No entanto, a identificação
de células com esse potencial em tecidos dos adultos e a sua aplicação
terapêutica são muito mais recentes.