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Ricardo Miguel Teixeira da Silva
Actividade Física, Índice de Massa Corporal e Frequência Alimentar




                                                                                Actividade Física, Índice de Massa
                                                                                 Corporal e Frequência Alimentar


                                                                            Estudo realizado em Jovens Portugueses dos 12 aos 19 Anos de Idade




                                                                     Ricardo Miguel Teixeira da Silva


                                                                     Outubro de 2006
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto




Actiiviidade Fíísiica,, ÍÍndiice de Massa Corporall e Frequênciia Alliimentar
Act v dade F s ca nd ce de Massa Corpora e Frequênc a A mentar

    Estudo realizado em Jovens Portugueses dos 12 aos 19 Anos de Idade




                              Dissertação apresentada com vista à obtenção do
                              grau de Mestre (Decreto-Lei nº216/92, de 13 de
                              Outubro)   em   Ciências     do   Desporto   área   de
                              especialização de Desporto de Recreação e Lazer,
                              sob a orientação do Professor Doutor Jorge Mota




              Trabalho Orientado por: Professor Doutor Jorge Mota


                        Ricardo Miguel Teixeira da Silva
                           - Porto, Outubro de 2006 -
Silva, R. (2006). Actividade Física, Índice de Massa Corporal e Frequência
Alimentar – Estudo realizado em Jovens Portugueses dos 12 aos 18 anos de
idade. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto especialização em
Desporto de Recreação e Lazer. Faculdade de Desporto – Universidade do
Porto.




PALAVRAS-CHAVE:            ÍNDICE      DE      MASSA        CORPORAL;
ACTIVIDADE           FÍSICA;         FREQUÊNCIA            ALIMENTAR;
ADOLESCENTES.
Agradecimentos


Num trabalho deste tipo, conta-se, inevitavelmente, com o apoio e incentivo
de diversas pessoas e entidades. Neste sentido, gostaria de expressar um
sincero agradecimento a todos aqueles que tornaram possível a sua
realização:



Ao Prof. Doutor Jorge Mota, pela forma como orientou o presente estudo,
pela atenção, disponibilidade, pelos ensinamentos e pertinência das suas
críticas e sugestões.



À Manuela, um agradecimento muito especial, pela companhia, pelos
conselhos, por tudo o que me tem dado ao longo destes anos e pelo começo
de uma nova etapa de vida…



À minha família sempre presente ao longo de toda a minha vida académica
e, em especial, aos meus Pais, pelo apoio e incentivo constante. Obrigado
por tudo...



Ao Bruno, Cláudia, Filipe, Luísa e Carla pela ajuda na recolha de dados, o
meu profundo obrigado.



A todos os alunos que aceitaram participar neste estudo…




                                   V
Índice Geral
Agradecimentos                                                                                                                                         V
Índice Geral                                                                                                                                           VII
      Índice de Figuras                                                                                                                                IX
      Índice de Quadros                                                                                                                                XI
      Índice de Abreviaturas                                                                                                                           XIII
Resumo                                                                                                                                                  XV
Abstract                                                                                                                                               XVII
Résumé                                                                                                                                                 XIX
1. Introdução..........................................................................................                                                23

2. Revisão da Literatura...........................................................................                                                    31

      2.1 A c t i v i d a d e F í s i c a . ........................................................................................................   31

                    2.1.1.Os Benefícios da Actividade Física…...............................................................                           33

                    2.1.2. Relações entre Actividade Física / Aptidão Física e Saúde…….....................                                            36

      2.2. Alimentação………………………......................................................................................                                  39

                 2.2.1. Padrão Alimentar Saudável….............................................................................                        39

                 2.2.2. Hábitos Alimentares e Necessidade Energéticas de Adolescentes…................                                                 43

      2.3. Obesidade…………….......................................................................................................                       45

3 . M a t e r i a l e M é t o d o s . . . . ........................................................................................................   55

      3.1. Caracterização da Amostra..............................................................................................                     55

      3.2. Índice de Massa Corporal……………………...................................................................                                         56

      3.3. Actividade Física………………………………………………………………………………...                                                                                          56

      3.4. Frequência Alimentar……………………………………………………………………………                                                                                           57

      3.5. Procedimento na recolha de dados.................................................................................                           57

      3.6. Procedimentos Estatísticos..............................................................................................                    57

4 . A p r e s e n t a ç ã o d o s R e s u l t a d o s . . . . ...................................................................................      61

      4.1. Índice de Massa Corporal………………............................................................................                                  61

      4.2. Actividade Física…………………………...........................................................................                                      62

      4.3. Frequência Alimentar……………………………………………………………………………                                                                                           66

5. Discussão dos Resultados…………………………………………………………………………….                                                                                              73

      5.1. Índice de Massa Corporal e Actividade Física….……………………………………………                                                                             73

      5.2. Frequência Alimentar……………………………………………………………………………                                                                                           75

6. Conclusões.................................................................................................................................         79

7. Referências Bibliográficas........................................................................................................                  83




                                                                                VII
Índice de Figuras




Figura 1: Distribuição dos sujeitos por anos de escolaridade………………………………………...   55




                                          IX
Índice de Quadros
                                                                                                                                                Pág.
Quadro 1: Principais diferenças e semelhanças entre actividade física e exercício...............................                                 33

Quadro 2: Distribuição dos sujeitos por idade...........................................................................................         55


Quadro 3: Características da amostra…………………………………………………..... . . . . . . . . . . . . .                                                           61


Quadro 4: Associação do IMC (2 pontos de corte) por género…............................................................                          61


Quadro 5: Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o género…………..........................                                             62


Quadro 6: Índice AF…………………………………………………………………………………...                                                                                            62


Quadro 7: Associação do índice de AF pelo IMC e género – Pouco activos...........................................                                63


Quadro 8: Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Pouco activos.............................                                       63


Quadro 9: Associação do índice de AF pelo IMC e género – Moderadamente activos.........................                                          64


Quadro 10: Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Moderadamente activos…....                                                      64


Quadro 11: Associação do índice de AF pelo IMC e género – Muito activos…………….....................                                                65


Quadro 12: Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Muito activos………….......                                                        65


Quadro 13: Coeficiente de correlação de Spearman entre a AF e o género………………................                                                     66


Quadro 14: Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o índice de AF................................                                    66


Quadro 15: Número de refeições total.......................................................................................................      66


Quadro 16 – Refeições discriminadas..........................................................................................................    67


Quadro 17: Associação do nº refeições por ponto de corte IMC.............................................................                        68


Quadro 18: Análise do IMC por nº refeições..............................................................................................         68

Quadro 19: Análise do nº refeições por grupo de índice de AF...............................................................                      69

Quadro 20: Coeficiente de correlação de Spearman entre o número de refeições total com o índice
de AF e o IMC……………………………………………………………………………………………….....
                                                                                                                                                 69




                                                                           XI
Índice de Abreviaturas




ACSM     American College of Sports Medicine

AF       Actividade Física

AHA      American Heart Association

APA      American Psychiatric Association

DP       Desvio Padrão

EUA      Estados Unidos da América

FIMS     Fédération Internationale de Médicine Sportive

ICSSPE   International Council of Sport Sciences and Physical Education

IMC      Índice de Massa Corporal

Kcal     Quilocalorias

Kg       Quilograma

m        Metro

nº       Número

OMS      Organização Mundial de Saúde

SPEO     Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade

SPSS     Statistical Package for the Social Sciences

USDHHS   United States Department of Health and Human Services

WHO      World Health Organization

X2       Qui-Quadrado




                              XIII
Resumo


       Com o presente estudo pretendeu-se, partindo dos dados recolhidos,

conhecer os valores do índice de massa corporal dos alunos estudados, os

seus níveis de actividade física e verificar a existência de relações entre o

sobrepeso/obesidade, a actividade física e o número de refeições.

       A amostra do estudo é constituída por 886 alunos de cinco concelhos

diferentes: Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela

(376) e Trofa (88). Os níveis de escolaridade dos indivíduos estão

compreendidos entre o 6º e o 10º anos de escolaridade e as idades dos

inquiridos variam entre os 12 e os 19 anos.

       À nossa amostra foram aplicados os pontos de corte da definição de

excesso de peso e obesidade de Cole et al. (2000), para as diferentes idades e

para cada género. Para a avaliação da actividade física foi utilizado um

questionário desenvolvido por Telama et al. (1997) que já foi aplicado à

população portuguesa por Ledent et al. (1997). A frequência alimentar diária foi

analisada adicionando uma pergunta ao questionário utilizado para a avaliação

da actividade física.

       A análise estatística foi efectuada em SPSS 14.0, tendo sido calculada a

percentagem de indivíduos, de ambos os géneros, com excesso de peso e com

peso normal em diferentes grupos etários e as percentagens dos níveis de

actividade física e do número de refeições, nos diferentes grupos de IMC, para

os dois géneros. Para determinar as diferenças, entre as proporções de

indivíduos nos diferentes grupos, utilizou-se o teste do Qui-Quadrado (X2). A

correlação entre o índice de massa corporal, o índice de actividade física, o

género e o número de refeições foi calculada a partir do coeficiente de


                                      XV
correlação de Spearman.

       Os resultados obtidos mostraram que a percentagem de indivíduos com

excesso de peso é superior nos rapazes relativamente às raparigas. Por outro

lado, os rapazes apresentam índices superiores de actividade física em relação

às raparigas.

       No que diz respeito ao índice de massa corporal, este parece ser

influenciado pelo número de refeições.

       Relativamente ao número de refeições, os resultados do nosso estudo

sugerem que quanto mais elevado o índice de actividade física dos indivíduos,

maior o número de refeições realizadas por eles.

      Em síntese, os dados do nosso estudo parecem evidenciar uma relação

entre o índice de massa corporal, a actividade física e o número de refeições.




Palavras chave: ÍNDICE DE MASSA CORPORAL; ACTIVIDADE

FÍSICA; FREQUÊNCIA ALIMENTAR; ADOLESCENTES.




                                      XVI
Abstract


         With the present study it was intended, going from the collected data, to

know the values of the body mass index of the studied students', their levels of

physical activity and to verify the existence of relationships between the

overweight/obesity, the physical activity and the number of meals.

         The sample of the study is constituted by 886 students of five different

councils: Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela

(376) and Trofa (88). The levels of education are between the 6th and the 10th

grade and the ages of those inquired fluctuate between the 12 and the 19

years.

         It was applied to our sample, the points of cut of the definition of

overweight and obesity of Cole et al. (2000), for the different ages and for each

gender. For the evaluation of the physical activity a questionnaire was used

developed by Telama et al. (1997) that was already applied to the Portuguese

population by Ledent et al. (1997). The daily alimentary frequency was analyzed

adding a question to the questionnaire used for the evaluation of the physical

activity.

         The statistical analysis was computed in SPSS 14.0, having been

calculated the individuals’ percentage, of both genders, with overweight and

with normal weight in different age groups, and the percentages of the physical

activity levels and of the number of meals, in the different groups of IMC, for the

two genders. To determine the differences, among the individuals' proportions

in the different groups, the test of the Qui-square was used (X2). The correlation




                                        XVII
among the body mass index, the physical activity index, the gender and the

number of meals was calculated using the Spearman’s coefficient of correlation.

       The obtained results showed that the individuals' percentage with

overweight is superior in the boys relatively to the girls. On the other hand, the

boys present superior physical activity indexes in relation to the girls.

       In what concerns the body mass index, this seems to be influenced by

the number of meals.

       Relatively to the number of meals, the results of our study suggest that

the higher the index of physical activity of the individuals, the higher the number

of meals accomplished by them.

       In synthesis, the data of our study seem to evidence a relationship

among the body mass index, the physical activity and the number of meals.




KEYWORDS: BODY MASS INDEX; PHYSICAL ACTIVITY; DIETARY

FREQUENCY; ADOLESCENTS.




                                        XVIII
Résumé


       Avec présente étude il s'est prétendu, en partant des données

rassemblées, connaître les valeurs de l'indice de masse corporelle des élèves

étudiés, leurs niveaux d'activité physique et vérifier l'existence de relations entre

le poids excessif/obésité, l'activité physique et le nombre de repas.

       L'échantillon de l'étude est constitué par 886 élèves de cinq communes

différentes : Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela

(376) et Trofa (88). Les niveaux de scolarité des personnes sont compris entre

la 6º et la 10º années de scolarité et les âges enquêtés varient entre les 12 et

19 années.

       À notre échantillon ont été appliqués les points de coupe de la définition

d'excès de poids et l'obésité de Cole et al. (2000), pour les différents âges et

pour chaque type. Pour l'évaluation de l'activité physique a été utilisé un

questionnaire développé par Telama et al. (1997) que déjà a été appliqué à la

population portugaise par Ledent et al. (1997). La fréquence alimentaire

quotidienne a été analysée en ajoutant une question au questionnaire utilisé

pour l'évaluation de l'activité physique.

       L'analyse statistique a été effectuée dans SPSS 14.0, en ayant été

calculé le pourcentage de personnes, des tous les deux les types, avec de

l'excès de poids et avec je pèse normal dans de différents groupes étaires et

les pourcentages des niveaux d'activité physique et du nombre de repas, nous

différents groupes d'IMC, pour les deux types. Pour déterminer les différences,

entre les proportions de personnes nous différents groupes, l'essai a utilisé du

Qui-Quadrado (X2). La corrélation entre l'indice de masse corporelle, l'indice




                                            XIX
d'activité physique, le type et le nombre de repas a été calculé à partir du

coefficient de corrélation de Spearman.

         Les résultats obtenus ont montré que le pourcentage de personnes avec

excès de poids est supérieur nous jeunes à l'égard des jeunes filles. D'autre

part, les jeunes présentent des indices supérieurs d'activité physique

concernant les jeunes filles.

         En ce qui concerne à l'indice de masse corporelle, celui-ci semble être

influencé par le nombre de repas.

         À l'égard du nombre de repas, les résultats de notre étude suggèrent

que plus élevé l'indice d'activité physique des personnes le plus grand le

nombre de repas réalisés par eux.

         Dans synthèse, les données de notre étude semblent prouver une

relation entre l'indice de masse corporelle, l'activité physique et le nombre de

repas.




MOTS-CLEF:          INDICE      DE   MASSE      CORPORELLE;         ACTIVITE

PHYSIQUE; FREQUENCE ALIMENTAIRE; ADOLESCENTS.




                                       XX
1 - INTRODUÇÃO
Introdução


1. Introdução


        Ao longo dos tempos, o desporto tem sofrido uma evolução significativa,

a ponto de se constituir num dos grandes temas da nossa época. A actividade

física é inerente ao homem, sendo um legado inequívoco de milhares de anos.

        A par das evidências de que o homem contemporâneo utiliza cada vez

menos as suas potencialidades corporais e de que o baixo nível de actividade

física é factor decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas,

sustenta-se a hipótese da necessidade de se promoverem mudanças no seu

estilo de vida, levando-o a incorporar a prática de actividades físicas no seu

quotidiano, bem como da melhoria dos seus hábitos alimentares (Assumpção

et al., 2000; Manore et al., 2000).

        Alguns autores (Paffenbarger et al., 1993; Almeida, 2001) atribuem

consistência à hipótese de que a actividade física, quando inserida num estilo

de vida saudável, permite aumentar a esperança de vida, provavelmente

devido ao efeito redutor do exercício sobre as causas de mortalidade.

        É pois indispensável que o indivíduo adquira hábitos de um estilo de vida

activo, de modo a ter uma vida mais saudável, produtiva, lúdica e de fruição

dos tempos de lazer.

        Segundo Costa (1997), nunca a saúde foi tão referenciada e interligada

à actividade física, podendo constatar-se que as pessoas cada vez mais a

vêem como um meio de melhoria dos níveis de saúde, de bem-estar físico,

mental e social e de obtenção de hábitos de vida saudável.

        Embora não existam evidências definitivas acerca das causas e efeitos

da relação entre um aumento da actividade física habitual e os benefícios

esperados para a saúde, há pelo menos um conjunto de informações


Ricardo Silva                                                                  23
Introdução


suficientemente importantes para admitir que estilos de vida activos, em

conjugação com outras componentes positivas, podem ser benéficos para a

saúde (Blair, 1993; Montoye et al., 1996; Powell e Pratt, 1996; Sardinha et al.,

1999 e Bonafonte, 2001).

        Umas destas componentes positivas que se pode mostrar decisiva e

benéfica para o indivíduo é a nutrição (Martínez, 1998).

        A nutrição pode ser definida como o conjunto dos processos de ingestão

e conversão das substâncias alimentares em nutrientes que possam ser

usados para manter as funções corporais. Os nutrientes podem ser usados

como fonte de energia (hidratos de carbono, lípidos e proteínas), para sintetizar

e reparar tecidos (proteínas, lípidos e minerais), para sintetizar e manter o

sistema esquelético (cálcio, fósforo e proteínas) e para regular a fisiologia

corporal (vitaminas, minerais, lípidos, proteínas e água).

        Não existe dúvida alguma de que aquilo que o indivíduo ingere pode

afectar a sua saúde, o seu peso e composição corporal e a disponibilidade de

substratos durante a actividade física (Clark, 1994; Manore et al., 2000).

        Actualmente a relação saúde-nutrição é cada vez mais estreita, tendo a

investigação permitido a descoberta de novas substâncias nos alimentos ou

nutrientes já conhecidos como aminoácidos, vitaminas e minerais que, em

determinadas doses, previnem e tratam várias doenças (Garambone, 2000).

        A nutrição não é essencial só para o bom funcionamento do organismo

humano, ela é essencial no tratamento de vários doenças como a diabetes,

problemas gastrointestinais, assim como em distúrbios psiquiátricos do

comportamento, na dependência de drogas e em alguns tipos de doenças de

natureza mental.



Ricardo Silva                                                                   24
Introdução


        Os indivíduos devem assegurar uma dieta saudável, variada e realizar

uma correcta hidratação em termos de quantidade e qualidade, antes, durante

e após a actividade física, exigindo-se adequadas quantidades de glícidos,

proteínas, lípidos, vitaminas, sais minerais e água (Foods, Nutrition and Sports

Performance, 1992; Kirkendall, 1993; Manore et al., 2000).

        Se o aporte dietético não for de encontro às necessidades nutricionais

originadas pela actividade física, a prática desportiva poderá influenciar

negativamente o desenvolvimento e a maturação biológica dos indivíduos,

impedindo o normal desenvolvimento muscular, afectando o desempenho

cognitivo (Beals, 2001).

        Uma adequada nutrição tem sido associada com vários factores

benéficos à saúde, tais como, uma diminuição dos factores de risco

cardiovasculares, diabetes não insulino-dependente e baixo índice de massa

corporal (USDHHS, 2001; WHO, 1998).

        A actividade física tem sido associada a estes benefícios para a saúde e

é também associada a um aumento da força muscular e resistência aeróbia,

estrutura óssea mais forte, níveis de ansiedade e stress mais baixos e melhoria

da autoconfiança (USDHHS, 2002).

        Os hábitos nutricionais e de actividade física são estabelecidos durante

a infância e continuam até à idade adulta (Crespo et al., 2001). Deste modo,

alimentação saudável e actividade física durante a infância e a adolescência

têm o potencial de diminuir o risco de inúmeras doenças crónicas na idade

adulta (Kelder et al., 1994). Contudo, muitos adolescentes não são

suficientemente activos para alcançar benefícios para a sua saúde, e muitos

não são sequer activos. A juventude está a passar mais tempo a ver televisão,



Ricardo Silva                                                                 25
Introdução


jogar videojogos e a usar o computador, e estes comportamentos sedentários

estão positivamente associados ao excesso de peso (Crespo, et al. 2001). Tal

facto é, certamente, devido à substituição da actividade física e do dispêndio

energético por actividades sedentárias e intakes energéticos aumentados.

        A prevalência do excesso de peso em adolescentes está a aumentar

(Miech et al., 2006) a um ritmo muito superior ao dos adolescentes com

subpeso. A média nacional norte-americana de adolescentes com sobrepeso

(15,5%) é aproximadamente o triplo da verificada no final dos anos 70 (Ogden

et al., 2002).

        Existem diferentes comportamentos e consequências para a saúde

derivadas quer do sobrepeso ou subpeso quando comparados com

adolescentes de peso normal (APA, 1994).

        Os argumentos apresentados parecem-nos justificar a realização do

presente trabalho, tal estudo poderá permitir coligir um conjunto de informações

cuja consciencialização, pode valorizar a intervenção futura de professores,

técnicos e demais pessoas ligados à área da Actividade Física.



Objectivos do estudo:

    1. Conhecer os valores do índice de massa corporal dos alunos estudados

        e verificar a existência de sobrepeso e/ou obesidade por género;

    2. Conhecer os seus níveis de actividade física habitual;

    3. Verificar a existência de relações entre o sobrepeso/obesidade, a

        actividade física e o número de refeições.




Ricardo Silva                                                                     26
Introdução


        No intuito de responder aos objectivos propostos, a estrutura do trabalho

integra os seguintes sete capítulos:

        •   Capítulo 1 – procura situar o tema e enuncia os objectivos do

            trabalho;

        •   Capítulo 2 – apresenta a revisão da literatura, dividida por

            subcapítulos;

        •   Capítulo 3 – inclui a metodologia utilizada, caracteriza a amostra e os

            procedimentos utilizados na recolha e tratamento dos dados;

        •   Capítulo 4 – apresenta a análise dos resultados;

        •   Capítulo 5 – apresenta a discussão dos resultados;

        •   Capítulo 6 – enuncia as principais conclusões deste estudo;

        •   Capítulo 7 – apresenta a bibliografia consultada ao longo deste

            estudo.




Ricardo Silva                                                                    27
2- REVISÃO DA LITERATURA
2. Revisão da Literatura

        2.1 Actividade Física

         A actividade física é inerente ao homem, sendo um legado inequívoco

de milhões de anos. Contudo, desde a necessidade de sobrevivência aos

aspectos lúdicos e de fruição estética, vai um largo percurso pleno de

aquisições tecnológicas e culturais.

         A sociedade moderna, pós-revolução industrial, cheia de novas

tecnologias, veio alterar o estilo de vida dos cidadãos e, por conseguinte, a

magnitude, expressão e sentido das actividades corporais (que são cada vez

mais reduzidas), implicando uma redução substancial no esforço físico.

        A conquista de mais tempo livre parece ter seduzido as sociedades

industrializadas a desenvolver o sedentarismo, aumentando assim o risco de

aquisição de sérios problemas de saúde.

        A par das evidências de que o homem contemporâneo utiliza cada vez

menos as suas potencialidades corporais e de que o baixo nível de actividade

física é factor decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas,

sustenta-se a hipótese da necessidade de se promoverem mudanças no seu

estilo de vida, levando-o a incorporar a prática de actividades físicas no seu

quotidiano. Nessa perspectiva, o interesse em conceitos como “Actividade

Física”, “Estilo de Vida” e “Qualidade de Vida” tem vindo a adquirir relevância,

levando à produção de vários trabalhos científicos. Desta forma, constitui-se

um movimento no sentido de valorizar acções voltadas para a determinação e

operacionalização de variáveis que possam contribuir para a melhoria do bem-

estar do indivíduo por meio do incremento do nível de actividade física habitual

da população (Assumpção et al., 2000).



Ricardo M. T. Silva                                                           31
Revisão da Literatura


         O estudo da actividade física tem sido percorrido por diferentes vias,

nomeadamente a sociocultural, a psicológica e a biológica. A explosão de

pesquisas centradas no paradigma epidemiológico surge a partir da informação

cada vez mais sólida de que a inactividade e o sedentarismo aumentam a

mortalidade e reduzem a longevidade (Bouchard e Shephard, 1994).

        A longevidade permite avaliar o estado de saúde de um indivíduo. Daí

ser um facto que pessoas fisicamente activas vivam mais tempo do que

aquelas que levam uma vida sedentária (inactividade). Isto significa que os

benefícios da actividade física diminuem os riscos de morte (Blair, 1993;

Montoye et al., 1996; Powell e Pratt, 1996; Sardinha et al., 1999 e Bonafonte,

2001). Apesar do reconhecimento universal do efeito positivo do exercício físico

na qualidade de vida, a investigação científica sugere que a prática regular e

sistemática de exercício físico, quando inserida num estilo de vida saudável,

permite aumentar a esperança de vida ao diminuir as taxas de mortalidade e

morbilidade (Paffenbarger et al., 1993; Bonafonte, 2001).

        É pois indispensável que o indivíduo adquira hábitos de um estilo de vida

activo, de modo a ter uma vida mais saudável, produtiva, lúdica e de fruição

dos tempos de lazer.

        Em investigações de carácter epidemiológico tem sido usual mencionar

de forma sinónima actividade física e exercício físico. Contudo, também como

referem Casperson et al., (1985), há que clarificar os dois conceitos para evitar

confusões desnecessárias. Como tal, podemos observar no quadro n.º 1 as

principais semelhanças e diferenças existentes entre os conceitos de

actividade física e de exercício físico.




Ricardo M. T. Silva                                                               32
Revisão da Literatura


  Quadro n.° 1 - Principais diferenças e semelhanças entre actividade física e exercício (adaptado de Casperson et aI., (1985).

                Actividade Física                                                  Exercício Físico
 Qualquer movimento corporal realizado - Movimento corporal, realizado pelos músculos esqueléticos,
 pelos músculos esqueléticos;                           planeado, estruturado e repetitivo;
 Resulta em dispêndio energético;                       Resulta em dispêndio energético;
 A energia despendida (Kcal) varia, de
                                                        A energia despendida (Kcal) varia, de uma forma
 uma forma contínua, de níveis baixos até
                                                        contínua, de níveis baixos até níveis mais elevados;
 níveis mais elevados;
                                                        Positivamente relacionada com a aptidão física;
 Positivamente relacionada com a aptidão O objectivo é manter ou aumentar os valores das
 física                                                 componentes da aptidão física.




          2.1.1. Os Benefícios da Actividade Física

              Falar dos benefícios da actividade física torna-se ao mesmo tempo

   fácil e difícil. Fácil porque é reconhecido por todos o papel que ela pode

   desempenhar na vida da criança, do jovem ou do adulto; difícil porque

   existem alguns aspectos sobre a sua prática que não são consensuais.

              Almeida (2001) refere que apesar dos benefícios documentados na

   literatura sobre a actividade física na saúde na idade adulta, a grande

   dificuldade tem sido influenciar o comportamento das crianças e jovens para

   manterem um comportamento activo e dinâmico ao longo das suas vidas.

   Ou seja, não estão ainda completamente resolvidas questões como: que

   género de actividade física se deve fornecer às crianças e jovens para que

   esta se mantenha pela vida fora e que quantidade e qualidade de

   actividades físicas são necessárias para que se produzam benefícios na

   saúde.

              Embora não existam evidências definitivas acerca das causas e

   efeitos da relação entre um aumento da actividade física habitual e os

   benefícios esperados para a saúde, há pelo menos um conjunto de


Ricardo M. T. Silva                                                                                                               33
Revisão da Literatura


   informações suficientemente importantes para admitir que estilos de vida

   activos, em conjugação com outras componentes positivas, podem ser

   benéficas para a saúde (Blair, 1993; Montoye et al., 1996; Powell e Pratt,

   1996; Sardinha et al., 1999 e Bonafonte, 2001).

            Sallis (1993) observou que, entre os 6 e os 16 anos de idade, ocorre

   uma redução de actividade de cerca de 2,7% e 7,4%, por ano, para rapazes

   e raparigas, respectivamente, tendendo as raparigas a ser 15% a 25%

   menos activas que os rapazes. Este facto aponta as raparigas como uma

   população em risco de diminuir os níveis de actividade física, o que poderá

   marcar os seus hábitos de actividade física na vida adulta.

            O objectivo principal do aumento da actividade física durante a

   infância não é produzir benefícios na saúde, mas iniciar um padrão de

   comportamento que será seguido também na vida adulta, idade em que os

   hábitos comportamentais têm demonstrado produzir efeitos sobre a saúde

   (Malina e Bouchard, 1991; Lopes et al., 2003).

            Enquanto que para alguns deverá preferir-se actividades que se

   aproximam mais das actividades dos adultos, como por exemplo o “jogging”,

   a natação e o ciclismo, para outros estas actividades, que se ajustam ao

   tempo e às condições, isto é, às oportunidades do adulto, são aborrecidas

   para os mais jovens que preferem os jogos e os desportos de equipa

   (Haywood, 1991).

        Matsudo et al. (2002) afirmam que os principais benefícios para a saúde

que advêm da prática de actividade física referem-se aos aspectos

antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Os efeitos

metabólicos apontados pelos autores são o aumento do volume sistólico, o

Ricardo M. T. Silva                                                                34
Revisão da Literatura


aumento da potência aeróbia, o aumento da ventilação pulmonar, a melhoria

do perfil lipídico, a diminuição da pressão arterial, a melhoria da sensibilidade à

insulina e a diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho

submáximo. Em relação aos efeitos antropométricos e neuromusculares

ocorre, segundo os autores, a diminuição da gordura corporal, o incremento da

força e da massa muscular, da densidade óssea e da flexibilidade.

        De acordo com Cruz (1996), a prática de exercício físico e de actividade

física também acarretam benefícios psicológicos evidentes, influenciando

positivamente a auto-estima e a imagem corporal, o funcionamento cognitivo, o

aumento das percepções de controlo e a auto-eficácia pessoal bem como, a

melhoria da auto-confiança.

        Para Sallis e Mckenzie (1991), a Educação Física deve concentrar-se na

promoção do desenvolvimento de padrões de actividade física habitual fora das

aulas, que tenham o potencial de continuidade na idade adulta. A Educação

Física Escolar, que é concebida com o objectivo de promover uma vida activa,

deve igualmente realçar capacidades de movimento, úteis para os desportos

de equipa na infância e para outras actividades mais comuns na idade adulta.

        O American College of Sport Medicine (1993) defende que, se estamos

interessados em estabelecer padrões de actividade física habitual que

promovam a saúde, em vez de promover a boa aptidão física, há indícios que

suportam a hipótese de que as actividades de intensidade moderada são um

alvo de intervenção particularmente desejada.

        As recomendações para a prática de actividades moderadas não

pretendem desencorajar as crianças a envolverem-se em exercícios vigorosos,

mas sim ampliar o leque de actividades a serem consideradas promotoras da


Ricardo M. T. Silva                                                                35
Revisão da Literatura


saúde, de modo a que estas tenham mais opções no desenvolvimento de um

padrão de actividade física habitual, que satisfaça as suas necessidades.

        Desta forma, segundo Almeida (2001), a preocupação fundamental

traduzir-se-á numa actuação que permitirá à criança ou jovem adquirir

conhecimentos e atitudes que o possam ajudar a manter hábitos de actividade

física regular com repercussões na sua vida.



        2.1.2. Relações entre Actividade Física/ Aptidão Física e Saúde


        Recentemente, a relação entre actividade física e saúde vem sendo

gradualmente substituída pelo enfoque da qualidade de vida, o qual tem sido

incorporado no discurso da Educação Física e das Ciências do Desporto. Tem

tido na relação positiva estabelecida entre actividade física e melhores padrões

de qualidade de vida, a sua maior expressão (Assumpção et al., 2000).

        Fora      dos   círculos   académicos,   os   meios    de    comunicação

constantemente veiculam informações a respeito da necessidade do homem

contemporâneo melhorar a sua qualidade de vida por meio da adopção de

hábitos mais saudáveis no seu quotidiano.

        Um dos principais objectivos das políticas de saúde pública é o de

incrementar a prática de actividades físicas, enquanto promotoras da aptidão

física com vista à melhoria da saúde, sendo a Educação Física um veículo

fundamental para a realização desse objectivo, sobretudo no que diz respeito

às crianças (Almeida, 2001).

        Segundo Blair (1993), relativamente à actividade física e à aptidão física

relacionada com a saúde, podemos ainda realçar os seguintes aspectos:



Ricardo M. T. Silva                                                                36
Revisão da Literatura


        •    Constatação da inactividade como um factor de risco para a saúde;

        •    Importância de uma consciencialização individual e pública dos

             benefícios da actividade física na construção de um estilo de vida

             saudável,

        •    Importância da intervenção dos vários níveis e organismos sociais na

             divulgação/promoção e implementação de programas de actividade

             física;

        •    Necessidade de aumentar o número de indivíduos a praticar

             actividades físicas;

        •    Necessidade de procurar determinar qual a intensidade mínima de

             actividade física que leve à obtenção de benefícios para a saúde.



        Entidades ligadas à Educação Física e às Ciências do Desporto, como a

Organização Mundial de Saúde (OMS), o Conselho Internacional de Ciências

do Desporto e Educação Física (ICSSPE), o Centro de Controlo e Prevenção

de Doença - USA (CDC), o Colégio Americano de Medicina Desportiva

(ACSM), a Federação Internacional de Medicina Desportiva (FIMS) e a

Associação Americana de Cardiologia (AHA), preconizam que sessões de trinta

minutos de actividades físicas por dia, na maior parte dos dias da semana,

desenvolvidas continuamente ou mesmo em períodos cumulativos de 10 a 15

minutos, em intensidade moderada, já são suficientes para a promoção da

saúde (Matsudo et al., 2002).

        O relatório do Surgeon General (U.S. Department of Health and Human

Services, 1996), sugere que as pessoas de todas as idades, homens e

mulheres, beneficiam de actividade física regular. Alguns benefícios de saúde



Ricardo M. T. Silva                                                                37
Revisão da Literatura


significativos podem ser obtidos por uma quantidade moderada de actividade

física (por exemplo, 30 minutos de andar vivo ou apanhar folhas do jardim, 15

minutos de corrida, ou 45 minutos a jogar voleibol) na maioria, se não em todos

os dias da semana. Benefícios de saúde adicionais podem ser obtidos com

maiores quantidades de actividade física. Pessoas que possam manter um

regime regular de actividade de duração mais longa ou de intensidade mais

vigorosa poderão retirar maiores benefícios.

        Ainda o mesmo relatório do Surgeon General (1996), torna claro que os

benefícios na saúde da actividade física não são limitados aos adultos. A

participação regular em actividade física durante a infância e adolescência:

        -    Ajuda a formar e a manter os ossos, músculos e articulações

             saudáveis;

        -    Ajuda a controlar o peso, a formar massa magra (músculo), e reduz a

             gordura;

        -    Previne ou retarda o desenvolvimento de pressões sanguíneas altas

             e ajuda a reduzir a pressão sanguínea em alguns adolescentes com

             hipertensão;

        -    Reduz sentimentos de depressão e ansiedade.



        Assim, um dos maiores benefícios da actividade física, relacionada com

a saúde, é o facto das crianças e jovens fisicamente activos apresentarem

tendências para serem adultos activos. Benefícios adicionais para a saúde,

podem ser obtidos com o aumento da actividade física, e é hoje reconhecido

que os maiores ganhos para a saúde se adquirem quando se passa de uma

situação de inactividade física para moderadamente activo (Pate et al., 1999).



Ricardo M. T. Silva                                                               38
Revisão da Literatura


        2.2 Alimentação

        2.2.1. Padrão Alimentar Saudável

        Para Peres (2003), os alimentos necessários para um dia devem

repartir-se por várias refeições para que os intervalos entre elas não sejam

longos. Não tomar o primeiro almoço e intervalar muito as refeições acarreta

vários problemas: hipoglicemia; os sintomas podem ser variados e inclusive

simular crises de tensão arterial ou acompanharem-se mesmo de abaixamento

da tensão arterial, cansaço, esvaimento, visão turva, transpiração excessiva,

perda de força muscular, cisão de movimentos e de linguagem, enjoos e

vómitos.

        Este mesmo autor, aponta para que a hipoglicemia possa induzir quebra

de atenção na escola com prejuízo para o aproveitamento; e de eficácia na

segurança de movimentos.

        Não tomar o primeiro almoço e passar horas e horas sem comer obriga

o organismo a dois balanços metabólicos desfavoráveis: o primeiro consiste em

usar as suas proteínas estruturais para, a partir delas, produzir alguma glicose

que minore a hipoglicemia; o segundo, consequente ao elevado valor

energético das refeições que se fazem para compensar a hipoglicemia, traduz-

se em armazenamento no tecido adiposo, depois de transformadas em

gordura, das calorias ingeridas que excedem as necessidades (Peres, 2003).

        As consequências finais são, portanto, desnutrição protéica (perda do

tecido muscular, da matriz protéica dos ossos, envelhecimento cutâneo, etc.) e

aumento da gordura corporal armazenada.




Ricardo M. T. Silva                                                              39
Revisão da Literatura


        Estudos anteriores demonstraram uma relação inversa entre a

frequência do número de refeições e a prevalência de sobrepeso e obesidade

nos indivíduos (Toschke et al., 2005).

        Estes mesmos autores revelaram um efeito protector de uma frequência

alimentar aumentada, relativamente ao número de refeições, o qual aparenta

ser independente de outros factores de risco da obesidade pediátrica. As

causas para tal facto poderão ser três:

        1. uma termogénese diária aumentada devido a um maior número de

             refeições;

        2. diferentes níveis de actividade física entre nibblers (comem pouco de

             cada vez e muitas vezes ao dia) e gorgers (comem muito de uma vez

             e poucas vezes ao dia);

        3. metabolismo da insulina (baixos níveis de concentração desta

             hormona após o regime nibbler).



        Esta associação entre um número elevado de refeições e a diminuição

da obesidade e sobrepeso pediátricos sublinha a importância dos padrões de

ingestão alimentar durante a infância. O negligenciar refeições poderá não ser

o melhor método para reduzir o risco de obesidade nas crianças (Toschke et

al., 2005).

        Existem algumas normas práticas que, se seguidas, poderão contribuir

para o chamado padrão alimentar saudável (Peres, 2003):

        -    Logo após acordar, ou pouco depois, tomar sempre um verdadeiro

             primeiro     almoço   completo,   variado,   equilibrado   e    ajustado

             caloricamente às necessidades;



Ricardo M. T. Silva                                                                  40
Revisão da Literatura


        -    Comer a intervalos médios de 3 horas e meia. Se a manhã for longa

             merendar a meio. Merendar à tarde e, eventualmente, cear, de modo

             a não passar mais de 10 horas nocturnas sem comer;

        -    Mastigar e ensalivar bem tudo o que se come;

        -    Utilizar leite ou seus substitutos nas quantidades ajustadas às

             necessidades de cada período de vida;

        -    Abusar de hortaliças, legumes e frutas em natureza (43% do peso

             dos alimentos a ingerir diariamente devem ser destes grupos

             alimentares);

        -    Afastar bebidas alcoólicas de crianças, adolescentes, grávidas e

             aleitantes;

        -    Restringir francamente a utilização de óleos, gorduras, alimentos

             gordos e produtos industrializados ricos em gordura;

        -    Eliminar ou reduzir drasticamente o gasto de sal na cozinha e

             conservação de alimentos e rejeitar refeições prontas e produtos

             industrializados salgados;

        -    Preferir pão e produtos cerealíferos mais grosseiros;

        -    Reduzir deliberadamente o uso de açúcar;

        -    Adoptar uma alimentação completa, equilibrada e variada de acordo

             com a Roda dos Alimentos;

        -    Consumir a quantidade necessária de comida tendo em atenção

             ajustar o fornecimento calórico às necessidades do organismo;

        -    Beber água potável em quantidades liberais para que a diurese se

             mantenha abundante.




Ricardo M. T. Silva                                                                    41
Revisão da Literatura


        A alimentação saudável não depende apenas de conhecer e satisfazer

as necessidades nutricionais do organismo. Depende também da boa utilização

e do equilíbrio entre os alimentos que satisfazem aquelas necessidades. Por

isso, não existe apenas um padrão alimentar saudável, são possíveis vários,

tão diferentes como japoneses rurais ou europeus mediterrânicos, desde que

cumpram algumas condições (Peres, 2003):

        1. Ajuste perfeito do valor energético da alimentação às características

             biológicas   de   cada   um,   diferentes   necessidades     das     fases

             sucessivas do ciclo da vida, estatura, actividade física e clima;

        2. Distribuição repartida da comida necessária por várias refeições a

             intervalos de 3 a 4 horas, com o cuidado de um primeiro almoço

             suficiente, completo e equilibrado, e atendendo a que o jejum

             nocturno não deve ultrapassar 10 horas;

        3. Equilíbrio perfeito entre fontes alimentares de energia de acordo com

             o referido padrão nutricional adequado;

        4. Equilíbrio entre grupos de alimentos nas proporções sugeridas pela

             Roda dos Alimentos;

        5. Utilização de alimentos de boa qualidade higiénica;

        6. Adopção de preparações culinárias simples e gastronómicas que

             combinem alimentos e temperos de forma agradável e fácil de digerir,

             sem destruição de nutrimentos, com pouco ou nenhum sal e sem

             adulterar as gorduras usadas para cozinhar




Ricardo M. T. Silva                                                                   42
Revisão da Literatura


        2.2.2. Hábitos Alimentares e Necessidades Energéticas de
Adolescentes

        As necessidades energéticas são elevadas durante a adolescência e

incluem três componentes principais: o custo energético da taxa de

metabolismo basal, o custo do crescimento diário e o custo da actividade física,

que varia em intensidade e duração. A actividade física é composta por

actividade básica na escola (mais ou menos comparável para cada grupo

idade/género) e por uma actividade física e/ou desportiva altamente variável

para cada indivíduo (Cavadini et al., 2000).

        Dois importantes comportamentos ligados aos estilos de vida estão

obviamente aliados ao balanço energético: o nível de actividades físicas e

desportivas (Pate et al., 1996; Deheeger et al, 1997) e os hábitos nutricionais –

intake energético deve estar de acordo com o gasto energético.

        Considerando a prevalência do sobrepeso e obesidade em diferentes

países e o potencial risco do desenvolvimento a longo prazo de doenças

cardiovasculares, é de supor que o gasto e o intake energético não estão em

equilíbrio para uma crescente parte da população (Seidell, 1995).

        As três principais refeições são consumidas pela maioria dos

adolescentes suiços (95%) e 90% realiza um lanche a meio da tarde até aos 15

anos. Os lanches a meio da manhã são praticados por 60 a 80% dos

adolescentes, enquanto que durante a tarde chega aos 80-90% e à noite (ceia)

decresce para os 45-65%. Relativamente à actividade física, 69% dos rapazes

e 48% das raparigas a frequentar o 8º ano realizavam uma actividade

desportiva 2 a 3 vezes por semana, valor que diminui respectivamente para




Ricardo M. T. Silva                                                               43
Revisão da Literatura


56% e 38% para os adolescentes do 10º e 11º ano (15 anos ou mais de idade)

(Cavadini et al., 2000).

        Comparativamente aos países nórdicos (Dinamarca, Noruega, Islândia,

Finlândia e Suécia), o estudo de Samuelson (2000) mostrou que o primeiro

almoço é regularmente “saltado” pelos adolescentes (13-18 anos de idade). A

maioria (50%) na Finlândia e Suécia não consome o almoço gratuitamente

fornecido nas escolas preferindo as sanduíches, leite com cereais ou iogurtes.

Na Dinamarca, os adolescentes trazem uma refeição à base de pão para a

escola, todos os dias. Na Noruega também trazem sanduíches mas, na escola

o leite é gratuito, assim como a fruta e os vegetais. Os lanches e snacks,

durante os dias da semana e até mesmo no fim-de-semana, são comuns em

todos os Países Nórdicos com uma tendência crescente entre os 13 e os 18

anos. O jantar é consumido regularmente por 80% dos adolescentes Nórdicos

entre os 13 e 18 anos de idade. No que diz respeito à actividade física, o tempo

despendido, por exemplo, a praticar desporto ocupa 0,5 – 1h por dia, enquanto

que o tempo em inactividade soma 9-10h por dia.

        No estudo que mais nos interessará (Amorim Cruz, 2000), verificou-se

que os adolescentes dos países do Sul da Europa (Espanha, Itália, Portugal e

Grécia) consomem 3 a 4 refeições principais e que não “saltam” o primeiro

almoço tanto como em outros países industrializados. Os “snacks” são

consumidos menos regularmente e a frequência de comer fora em restaurantes

é menor do que nos EUA e nos países Nórdicos. No entanto, verifica-se um

padrão alimentar rico em gorduras, principalmente de ácidos gordos

monoinsaturados devido ao alto consumo de azeite. Contudo, vão-se perdendo

duas das características mais importantes da chamada dieta mediterrânica



Ricardo M. T. Silva                                                              44
Revisão da Literatura


(baixo consumo de ácidos gordos saturados e alto consumo de hidratos de

carbono complexos) devido ao aumento do consumo de carne, produtos

lácteos, confeitaria, óleos e gorduras e devido à diminuição do consumo de pão

escuro a favor do chamado pão branco. No geral, os adolescentes do Sul da

Europa apresentam uma elevada prevalência de sobrepeso e obesidade com

uma percentagem à volta dos 15-25%, que se apresenta superior à encontrada

nos países Nórdicos, mas inferior à dos EUA.

         Um adolescente obeso tem fortes probabilidades de ser um adulto obeso

(Dietz, 1998 e Amorim Cruz, 2000), como tal os países do Sul da Europa

deveriam ter em atenção esta mudança de hábitos dos seus adolescentes, que

poderá resultar num aumento da taxa de morbilidade e mortalidade devido a

doenças cardiovasculares e outras doenças crónicas em paralelo com a

deterioração do estilo de vida das suas populações.

         O estilo de vida sedentário está extremamente envolvido na prevalência

da obesidade (Bar-Or et al., 1998), assim como, a modernização nos

transportes, os aparelhos que permitem ao homem trabalhar menos e o

aumento do tempo a assistir televisão (OMS/WHO, 1998; Salmon et al. 2005).

         A solução deverá passar pela implementação de estratégias preventivas

que envolvam educação nutricional e programas de actividade física (Martínez,

2000).


         2.3 Obesidade


         Actualmente a ciência encara a obesidade como um estado patológico

que se caracteriza pelo desenvolvimento exagerado do tecido adiposo. Esta

acumulação de gordura pode atingir proporções capazes de afectar a saúde,



Ricardo M. T. Silva                                                              45
Revisão da Literatura


tanto mais que, uma vez instalada, tende a autoperpetuar-se constituindo-se

como uma verdadeira doença crónica. Assim, o excesso de massa gorda

propicia, por si só, maior risco de morbilidade e mortalidade (Bray, 1998;

SPEO, 2001; Fisberg et al., 2004).

        Sabe-se hoje que há uma relação estreita entre obesidade e a diabetes

tipo 2, as dislipidemias, a insulinoresistência, as disfunções respiratórias

(incluindo a apneia do sono) e as doenças da vesícula biliar. A Organização

Mundial de Saúde (OMS) considera estas relações de risco muito elevado. Por

seu lado, a doença coronária, a hipertensão arterial, a osteoartite, a

hiperuricemia e a gota são consideradas relações de risco moderadamente

elevado. As associações com determinados tipos de cancro, anomalias

hormonais com repercussão na reprodução, doença do ovário poliquístico,

alterações da fertilidade, dor lombar, risco anestésico e defeitos fetais estão

descritas como risco ligeiramente elevado (WHO, 1998).

        Em termos rigorosos a classificação da obesidade deverá ter em conta

o valor de massa gorda, devendo esta representar 10 a 15% do peso no

homem, e 20 a 25% na mulher (WHO, 1998). Os métodos usados são

dispendiosos          e   mais    ou    menos     complexos:   densidade      corporal,

tomodensitometria, ressonância magnética nuclear e medida de potássio

corporal total, entre outros. No entanto, o Índice de Massa Corporal (IMC)

(peso.altura-2) é um método que recorre a medidas simples e fornece uma

avaliação satisfatória da obesidade para as necessidades clínicas e

epidemiológicas (Bouchard e Blair, 1999; SPEO, 2001; Fisberg et al., 2004).

        Deste         modo,   através   de   um   organismo    apropriado,    a   OMS

estandardizou e interpretou valores de IMC no sentido de classificar sujeitos



Ricardo M. T. Silva                                                                    46
Revisão da Literatura


com sobrepeso (25-30 kg.m-2) ou obesidade (> 30 kg.m-2). Essas definições

estatísticas de referência fundamentam-se, também, na noção de risco

aumentado de morbilidade e de mortalidade ligados ao excesso de peso

(OMS/WHO, 1998).

        Sabe-se hoje que a gravidade da obesidade esta ligada não só ao grau

como ao tipo morfológico da sua distribuição. Assim, relativamente à morfologia

consideram-se dois subgrupos (WHO, 1998; SPEO, 2001):

    Obesidade ginóide ou periférica – a acumulação de gordura predomina na

    parte inferior do corpo – cinta, coxa e glúteos, manifesta-se, sobretudo, nas

    mulheres;

    Obesidade andróide ou central – a acumulação de gordura predomina no

    abdómen, tronco, cintura escapular e pescoço, ocorre principalmente nos

    homens.

        As investigações têm vindo a revelar que a deposição de gordura a nível

abdominal parece estar particularmente associada a um maior risco de

doenças metabólicas e cardiovasculares do que a obesidade geral. De facto,

nos últimos anos tem-se demonstrado que algumas das complicações

(hiperinsulinismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias, doença

cardiovascular, doença vascular cerebral) estão associadas a obesidade

andróide (Goran, 1998; Flegal, 1999; Lemieux, 2001).

        Alguns autores referem mesmo que a gordura abdominal excessiva é,

por si só, um factor preditivo independente de doença, pois esta pode

acompanhar complicações metabólicas, mesmo que a sobrecarga ponderal

não seja muito elevada (Lemieux, 2001; Medina et al., 2002).

        Dados de praticamente todos os países industrializados, e até do



Ricardo M. T. Silva                                                               47
Revisão da Literatura


terceiro mundo, demonstram que uma grande proporção da população tem

excesso de peso ou é obesa. Estima-se que exista um total de 250 milhões de

adultos obesos em todo o mundo, o que representa cerca de 7% da população

mundial adulta. Contudo, na maior parte dos países a prevalência de

sobrepeso corporal (IMC entre 25 e 30 kg.m-2) é cerca de duas a três vezes

superior à da obesidade, o que significa que quase um bilião de pessoas são

obesas ou possuem sobrepeso corporal (Seidell, 2000).

        Cerca de 50% dos adultos nos Estado Unidos, Canadá e mais alguns

países da Europa Ocidental possuem IMC de 25 kg.m-2 ou superior. Nos

últimos anos a prevalência da obesidade severa duplicou nos Estados Unidos

(Bouchard, 2000; Villareal et al., 2005).

        Actualmente, de acordo com o estudo da Sociedade Portuguesa para o

Estudo da Obesidade (SPEO), também no nosso país, entre 50 e 55% da

população sofre de excesso de peso ponderal tendo 13 a 15% uma obesidade

franca (SPEO, 2001).

        O aumento dos níveis de obesidade na população adulta repercute-se

agora, na infantil e juvenil (Cole et al., 2000; Raustorp et al., 2004).

   Resultados da literatura revelam que, de facto, durante as ultimas três

décadas, a incidência de crianças e adolescentes com obesidade aumentou

drasticamente em todo o mundo, incluindo países subdesenvolvidos e regiões

onde a cultura ocidental se está a propagar (Goran, 1998; Flegal, 1999; Silva et

al., 2005).

        A obesidade, definida pela OMS como uma doença crónica, é hoje

considerada a doença nutricional mais prevalente a nível mundial e a epidemia

do século XXI. A prevalência da obesidade infantil tem aumentado muito nos



Ricardo M. T. Silva                                                                   48
Revisão da Literatura


últimos anos na maioria dos países, não existindo de momento, pela ausência

de um estudo transversal nacional representativo, a possibilidade de

caracterizar com rigor a situação em Portugal (Rego et al., 2004).

        Correntemente, cerca de 22 milhões de crianças com menos de 5 anos

são obesos (Goran, 1998; Deckelbaum e Williams, 2001).

        Para além desta elevada prevalência, também está descrito o facto da

criança e o adolescente com adiposidade mais acentuada apresentarem fortes

propensões a tornarem-se adultos obesos (Bar-Or et al., 1998; Dietz, 1998;

Goran, 1998; Amorim Cruz, 2000; Walters et al., 2000; Rego et al., 2004; Mota

et al. 2006).

        De acordo com alguns estudos, cerca de 50% dos adolescentes obesos

tornam-se adultos com este estado patológico e cerca de 1/3 dos adultos

obesos já o eram em crianças (Dietz, 1998). Outros investigadores referem

valores mais elevados ao afirmar que 40% das crianças obesas e 70% de

adolescentes obesos tornar-se-ão adultos obesos (Bar-Or et al., 1998). Como

tal, uma criança sob estas condições é motivo de preocupação para os

profissionais de saúde (Walters et al., 2000).

        A centralização em torno deste problema é ainda reforçada pelo facto da

obesidade infantil e juvenil representar um nítido incremento de risco para a

diabetes tipo 2, intolerância à glicose, maturação precoce, hipertensão e

problemas ortopédicos (Brooks et al., 1996).

        Em crianças, a relação entre a distribuição de gordura e factor de risco

de doença ainda não está tão clarificada como está na população adulta

(Maffeis et al., 2001). No entanto, estudos epidemiológicos suportam a hipótese

de que, também nas crianças e adolescentes, a distribuição de gordura a nível



Ricardo M. T. Silva                                                              49
Revisão da Literatura


abdominal poderá identificar sujeitos com maior risco para certas doenças,

nomeadamente          dislipidemias,   concentrações   adversas       de    insulina     e

hipertensão arterial (Higgings et al., 2001; Maffeis et al., 2001).

        Para Rego et al. (2004) é bem patente a dificuldade em abordar o

tratamento da obesidade pediátrica, registando-se menos adesão e maior taxa

de insucesso nos adolescentes.

        Assim sendo, este Grupo de Estudo da Obesidade Pediátrica registou as

principais conclusões do 1º Simpósio Português sobre Obesidade Pediátrica

que podem ser utilizadas como linhas gerais na prevenção e tratamento desta

patologia:

    As organizações não governamentais deverão ter um papel activo no

    controle da publicidade associada à junk-food;

    Os programas de actividade física estruturados representam uma estratégia

    eficaz na promoção e incremento dos índices de actividade física diária e de

    prevenção do excesso de peso. O sucesso da adesão e permanência em

    programas de actividade física regular é influenciado e facilitado quando

    existe um envolvimento activo dos pais;

    Para se obterem benefícios para a saúde e numa situação de obesidade,

    provavelmente serão necessários 90 minutos de actividade diária de

    moderada a elevada intensidade. Sendo decisiva a actividade física no

    metabolismo da glicose, bem como da relação entre actividade física e

    agregação de factores de risco cardiovascular.



        Estes mesmos autores defendem que a obesidade infanto-juvenil deve

começar a ser encarada no nosso país, à semelhança do que já acontece em



Ricardo M. T. Silva                                                                     50
Revisão da Literatura


outros países, como aquilo que realmente ela é: uma doença crónica, com uma

forte estabilidade da idade pediátrica para a idade adulta, e associada a

elevada comorbilidade registada já em idade pediátrica.




Ricardo M. T. Silva                                                          51
3- MATERIAL E MÉTODOS
Material e Métodos


3. Material e Métodos

           3.1. Caracterização da Amostra

           A amostra do presente estudo foi constituída por 886 alunos de cinco

locais diferentes do Norte de Portugal: Boticas (155), Braga (89), Marco de

Canaveses (178), Mirandela (376) e Trofa (88).

           Os níveis de escolaridade dos indivíduos estão compreendidos entre o

6º e o 10º anos de escolaridade.

           As idades dos inquiridos variam entre os 12 e os 19 anos.

           O quadro 2 apresenta o número e a idade dos alunos por sexo e na

totalidade da amostra.

           Quadro nº2 Distribuição dos sujeitos por idade

                                                        Idade dos Alunos
    Sexo                           Média                DP           Mínimo           Máximo           A.V.
Masculino                              14,50           1,470             12             19             12-19

Feminino                               14,46           1,550             12             19             12-19
     Total                             14,48           1,511             12             19             12-19


           No gráfico seguinte, apresentamos as características da amostra no que

diz respeito à sua distribuição pelos diferentes anos de escolaridade.

           Figura nº1 Distribuição dos sujeitos por anos de escolaridade


                                  40




                                  30
                    Percentagem




                                  20




                                  10




                                   0
                                               6ºano    7ºano    8ºano        9ºano    10ºano




Ricardo M. T. Silva                                                                                            55
Material e Métodos




        3.2. Índice de Massa Corporal

         À nossa amostra foram aplicados os pontos de corte da definição de

excesso de peso e obesidade de Cole et al. (2000), para as diferentes idades e

para cada género.

         Devido ao facto de se encontrar uma baixa percentagem de obesos,

optámos por adoptar a utilização de apenas dois grupos, num incluímos os

inquiridos da nossa amostra com sobrepeso e obesidade a que demos o nome

de “Excesso de peso”, os restantes foram incluídos no grupo denominado de

“Peso normal”.


        3.3. Actividade Física

         Para a avaliação da actividade física foi utilizado um questionário

desenvolvido por Telama et al. (1997) que já foi aplicado à população

portuguesa por Ledent et al. (1997).

         Este questionário pretende identificar as práticas físicas e desportivas

extracurriculares dos inquiridos, bem como a sua frequência e intensidade.

         Com a pontuação obtida nas respostas a estas questões foi definido um

índice de actividade física, para nos permitir determinar o nível geral de

participação em actividades físicas dos inquiridos, apresentando uma avaliação

de 0 a 22 que resultam do somatório dos pontos obtidos nas cinco questões

existentes no questionário. O índice obtido foi validado por Raitakari et al.

(1994).

         Com os resultados obtidos construíram-se quatro grupos distintos de

actividade física (Ledent et al., 1997). Assim, os inquiridos que apresentavam

um índice de actividade física inferior ou igual a cinco, foram classificados



Ricardo M. T. Silva                                                              56
Material e Métodos


como “Sedentários”; aqueles que se situaram de seis a dez, como “Pouco

activos”; os que se encontravam com valores de onze a quinze correspondem

ao nível “Moderadamente activos”; e os que se situam acima do índice quinze

correspondem ao nível “Muito activos”.

         De acordo com a nossa amostra, a maioria dos inquiridos incluíam-se

no grupo dos “Moderadamente activos”. O grupo dos “Pouco activos” e “Muito

Activos” apresentavam aproximadamente a mesma percentagem (26,7% e

26,1%), pelo que decidimos agrupar o grupo “Sedentários” (3,2%) e “Pouco

activos” num só, seguindo esta última terminologia.


        3.4. Frequência Alimentar

         Para analisar a frequência alimentar diária e quais as refeições

efectuadas, foi adicionada uma pergunta ao questionário utilizado para a

avaliação da actividade física.

         No questionário poderiam ser seleccionadas seis refeições (pequeno-

almoço, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia), não sendo

levados em consideração eventuais “snacks” entre estas mesmas refeições.



        3.5 Procedimento na recolha de dados

        Os dados foram recolhidos através de um questionário de auto-

preenchimento aplicado aos alunos na aula de Educação Física, entre

Fevereiro e Março de 2006. Antes de entregar o questionário, foi explicada a

razão do nosso estudo e garantido o anonimato no preenchimento e tratamento

do mesmo.


        3.6. Procedimentos estatísticos

         Na análise estatística dos dados foi utilizado o programa SPSS


Ricardo M. T. Silva                                                          57
Material e Métodos


(Statistical Package for the Social Sciences) versão 14.0, para o Windows, com

os procedimentos estatísticos que a seguir se descrevem.

         As frequências e as percentagens das variáveis sócio-demográficas

como o género, a idade, nível de escolaridade e escola a que pertencem foram

calculadas através da estatística descritiva.

         Utilizamos na estatística descritiva o crosstabs para calcularmos a

percentagem de indivíduos, de ambos os géneros, com excesso de peso e com

peso normal em diferentes grupos etários. As percentagens dos níveis de

actividade física e do número de refeições nos diferentes grupos de IMC, para

os dois géneros, foi calculada da mesma forma.

         Para determinar as diferenças entre as proporções de indivíduos nos

diferentes grupos utilizou-se o teste do Qui-Quadrado (X2).

         A correlação entre o IMC, o índice de AF, o género e o número de

refeições foi calculada a partir do coeficiente de correlação de Spearman.

         O valor de significância estatística foi colocado em ρ≤0,05.




Ricardo M. T. Silva                                                                58
4- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Apresentação dos Resultados


      4. Apresentação dos Resultados

                No quadro seguinte apresentam-se as medidas descritivas da amostra

      estudada, referentes à idade, ao índice de massa corporal, ao índice de

      actividade física e ao número de refeições.

      Quadro nº3 Características da amostra

                                   Idade         Peso      altura            IMC                 AF             Número de
                                  (anos)         (Kg)     (metros)         (Kg.m-2)                              refeições


Média                             14,48          54,67      1,67               20,92             1,96             4,55
Moda                              13,00          55,00      1,55               20,20             2,00             5,00
Desvio Padrão                      1,51          12,10      1,75               3,57              0,75             0,98
Mínimo                            12,00          19,00      1,30               0,02              1,00             1,00
Máximo                            19,00          125,4     53,50               41,52             3,00             6,00




                4.1. Índice de Massa Corporal (IMC)


                No quadro 4 podemos verificar os resultados do IMC (com dois pontos

      de corte) em ambos os géneros.

      Quadro nº4 Associação do IMC (2 pontos de corte) por género

                                                              IMC (2 pontos de corte)                 Total

                                                             Peso normal          Excesso
                                                                                  de peso
                                     Feminino                        53,90%        44,40%                52%
                    % IMC
                                     Masculino                       46,10%            55,60%            48%


                    Masculino
                                     Nº                                 323               100            423
                                     %                               76,40%            23,60%           100%
                    Feminino         Nº                                 378                80            458
                                     %                               82,50%            17,50%           100%

            Total amostra            Nº                                  701               180            881
                                     %                               79,57%            20,43%           100%

           X2= 5,155 ρ=0,023



      Ricardo M. T. Silva                                                                                         61
Apresentação dos Resultados


        Verificamos que, na totalidade da amostra, temos 701 indivíduos com

peso normal (79,57%) e 180 com excesso de peso (20,43%). Dentro dos

grupos “género” verificamos que 23,60% de indivíduos com excesso de peso

são rapazes e 17,50% raparigas. No que diz respeito ao IMC da amostra total,

constatamos que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de raparigas é

superior à de rapazes (53,90% vs. 46,10%), e no grupo “excesso de peso”

valores de 44,40% vs. 55,60%.

        O quadro 5 apresenta a análise correlacional do IMC com o género.

Quadro nº5 Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o género.


                                                                      IMC (2 pontos corte)



                                                  R                                  0,076
                Género
                                                  ρ                                  0,012




        Como se pode verificar, existe uma correlação positiva fraca, mas

estatisticamente significativa, com o género.


        4.2. Actividade Física

        No quadro 6 podemos verificar os resultados do índice de AF para a

amostra total.

Quadro nº6 Índice AF

                                                                            Percentagem

                 Pouco activos                                                 30,00
                 Moderadamente activos                                         44,10
                 Muito activos                                                 25,80
Total amostra                                                                  100,00




Ricardo M. T. Silva                                                                           62
Apresentação dos Resultados


          Observamos que, aproximadamente, 45% (44,10%) da amostra total é

  “moderadamente activa”, 30% é “pouco activa” e cerca de 26% (25,80%) é

  “muito activa”.

          O quadro 7 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC e género

  para o grupo dos “pouco activos”.

  Quadro nº7 Associação do índice de AF pelo IMC e género – Pouco activos
     Índice AF                                               IMC (2pontos de corte)          Total
                                                         Peso normal    Excesso de peso

                                    Feminino               79,30%           60,00%         75,30%
                        % IMC
Pouco activos
                                    Masculino              20,70%           40,00%         24,70%

  X2=8,732 ρ=0,003


          No que diz respeito aos grupos de pontos de corte do IMC, constatamos

  que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de raparigas é superior à de

  rapazes (79,30% vs. 20,70%), sendo encontrados valores no grupo “excesso

  de peso” de 60% vs. 40%.

          O quadro 8 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC para o

  mesmo género no grupo dos “pouco activos”.

  Quadro nº8 Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Pouco activos
     Índice AF                                              IMC (2pontos de corte)           Total
                                    Feminino             Peso normal    Excesso de peso
                                    N                       165               33             198
                                    %                      83,30%           16,70%          100%

Pouco activos                       Masculino
                                    N                        43               22             65
                                    %                      66,20%           33,80%          100%

                                    Total                   208                55            263
  X2=8,732 ρ=0,003



          Verificamos que, dentro dos grupos “género” a percentagem de

  indivíduos com excesso de peso é superior nos rapazes relativamente às



  Ricardo M. T. Silva                                                                           63
Apresentação dos Resultados


   raparigas (33,80% vs. 16,70%). Ou seja, quase 34% dos rapazes pouco activos

   têm excesso de peso, enquanto que perto de 17% das raparigas apresenta

   excesso de peso.

           O quadro 9 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC e género

   para o grupo dos “moderadamente activos”.

   Quadro nº9 Associação do índice de AF pelo IMC e género – Moderadamente activos
      Índice AF                                                IMC (2pontos de corte)          Total
                                                           Peso normal    Excesso de peso

                                      Feminino               54,2%             43,9%          52,1%

Moderadamente activos     %IMC
                                      Masculino              45,8%             56,1%          47,9%


   X2=2,763 ρ=0,096

           No que diz respeito aos grupos de pontos de corte do IMC, verificamos

   que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de raparigas é superior à de

   rapazes (54,20% vs. 45,80%), sendo encontrados valores no grupo “excesso

   de peso” de 43,90% vs. 56,1%.

           O quadro 10 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC para o

   mesmo género no grupo dos “moderadamente activos”.

   Quadro nº10 Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Moderadamente activos
      Índice AF                                               IMC (2pontos de corte)           Total
                                                           Peso normal    Excesso de peso
                                      Feminino
                                      N                       167               36             203
                                      %                      82,30%           17,70%          100%

Moderadamente activos     Género      Masculino
                                      N                       141               46             187
                                      %                      79,00%           21,00%          100%

                                      Total                   308                82            390
   X2=2,763   ρ=0,096

           Observamos que, dentro dos grupos “género” a percentagem de

   indivíduos com excesso de peso é mais uma vez superior nos rapazes

   relativamente às raparigas (21% vs. 17,70%).



   Ricardo M. T. Silva                                                                           64
Apresentação dos Resultados


           No quadro 11 podemos verificar a associação do índice de AF pelo IMC

   e género para o grupo dos “muito activos”.

   Quadro nº11 Associação do índice de AF pelo IMC e género – Muito activos
      Índice AF                                                IMC (2pontos de corte)          Total
                                                           Peso normal    Excesso de peso

                                      Feminino               24,90%           25,60%         25,00%

Muito activos             %IMC
                                      Masculino              75,10%           74,40%         75,00%


   X2=0,010 ρ=0,922

           No que diz respeito aos grupos de pontos de corte do IMC, constatamos

   que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de rapazes é superior à de

   raparigas (75,10% vs. 24,90%), sendo encontrados valores no grupo “excesso

   de peso” de 74,40% vs. 25,60%. Estes valores para o grupo de pontos de corte

   de IMC estão dependentes do número de rapazes no grupo dos “muito activos”

   ser três vezes superior ao de raparigas (171 vs. 57).

           O quadro 12 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC para o

   mesmo género no grupo dos “muito activos”.

   Quadro nº12 Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Muito activos
      Índice AF                                               IMC (2pontos de corte)           Total
                                                           Peso normal    Excesso de peso
                                      Feminino
                                      N                        46               11             57
                                      %                      80,70%           19,30%          100%

Muito activos             Género      Masculino
                                      N                       139               32             171
                                      %                      81,30%           18,70%          100%

                                      Total                   185                43            228
   X2=0,010 ρ=0,922

           Verificamos que, dentro dos grupos “género” a percentagem de

   indivíduos com excesso de peso é ligeiramente superior, pela primeira vez, nas

   raparigas relativamente aos rapazes (19,30% vs. 18,70%).



   Ricardo M. T. Silva                                                                           65
Apresentação dos Resultados


          O quadro 13 apresenta a análise correlacional do índice de AF com o

género.

Quadro nº13 Coeficiente de correlação de Spearman entre a AF e o género.
                                                                                                    Índice AF



                                                               Coeficiente correlação
   Rho de Spearman                                                                                    0,377
                                Género
                                                               ρ                                      0,000




          Como        se      pode       verificar,      existe       uma       correlação          positiva       e

estatisticamente significativa, com o género.

          No quadro seguinte podemos observar a análise correlacional do índice

de AF com o IMC.

Quadro nº14 Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o índice de AF.
                                                                                                  Índice AF



                                                               Coeficiente correlação                 -0,018
                                IMC
        Rho de Spearman
                                (2pontos corte)
                                                               ρ                                      0,296


          Existe uma correlação negativa entre o índice de AF e o IMC contudo,

não é estatisticamente significativa.


          4.3. Frequência Alimentar
          No quadro 15 podemos verificar os resultados do número de refeições

total para toda a amostra.

Quadro nº15 Número de refeições total
                                                          Frequência                       Percentagem
                           ≤3                                 118                               13,40
                           4                                  277                               31,30
                           5                                  352                               39,80
                           >5                                 138                               15,60
Total                                                         885                              100,00
1: X2=2,000 ρ=0,368; 2: X2=6,294 ρ=0,043; 3: X2=0,708 ρ=0,702; 4: X2=0,148 ρ=0,929; 5: X2=2,568 ρ=0,277; 6: X2=4,089
ρ=0,129.




Ricardo M. T. Silva                                                                                               66
Apresentação dos Resultados



         Aproximadamente 40% (39,80%) da amostra total realiza cinco (5)

refeições diárias, 31% (31,30%) quatro (4) refeições diárias, enquanto que nos

extremos temos seis indivíduos (0,70%) que realizam apenas uma refeição

diária e quase 16% (15,60%) que realizam seis refeições diárias.

         No quadro 16 observamos a quantidade de indivíduos que realiza cada

refeição.


Quadro nº16 Refeições discriminadas

                                      Frequência              Percentagem

Pequeno-almoço
n=885                 não                78                        8,80
                      sim                807                     91,20

Lanche da manhã
n=886                 não                                        40,50
                                         359
                      sim                527                     59,50
Almoço
n=886
                      não                                          1,90
                                         17
                      sim                869                     98,10
Lanche da tarde
n=886
                      não                                        16,90
                                         150
                      sim                736                     83,10
Jantar
n=886
                      não                                          1,70
                                         15
                      sim                871                     98,30
Ceia
n=886
                      não                666
                                                                   75,20

                      sim
                                         220                       24,80




         Verificamos que mais de 90% dos indivíduos tomam o “pequeno-

almoço”, o “almoço” e o “jantar” (respectivamente 91,20%; 98,10% e 98,30%).




Ricardo M. T. Silva                                                             67
Apresentação dos Resultados


As refeições realizadas pela menor percentagem de indivíduos são a “ceia” e o

“lanche da manhã” (respectivamente 24,80% e 59,50%).

        O quadro 17 apresenta a associação do número de refeições realizadas

por ponto de corte do IMC (peso normal ou excesso de peso).


Quadro nº17 Associação do nº refeições por ponto de corte IMC
                                                        IMC (2pontos de corte)       Total

                                                       Peso normal      Excesso de
                                                                           peso
                        ≤3                                      11,4%       21,2%     13,5%
      Número de
                        4       % IMC                           30,6%      33,9%      31,3%
      refeições
      total
                        ≥5                                       58%         45%      55,4%


                                Total                           79,5%      20,5%     100,0%
        X2=22,935     ρ=0,000

        Verificamos que o grupo dos sujeitos que realizam 5 ou mais refeições é

o único em que a percentagem de indivíduos com “excesso de peso” é inferior

à dos que apresentam “peso normal” (45% vs. 58%).

        O quadro seguinte apresenta a análise do IMC (peso normal ou excesso

de peso) detalhada por número de refeições.


Quadro nº18 Análise do IMC por nº refeições
                                                        IMC (2pontos de corte)

                                                       Peso normal      Excesso de
                                                                           peso
                        1                                       50,0%       50,0%

                        2                                       46,2%      53,8%

                        3                                       71,7%      28,3%
      Número de
      refeições                         %
                        4                                       77,8%      22,2%
      total
                        5                                       81,7%      18,3%

                        6                                       87,7%      12,3%

                                Total                           79,5%      20,5%     100,0%
X2=22,935 ρ=0,000


Ricardo M. T. Silva                                                                             68
Apresentação dos Resultados


         Como se pode observar no quadro 18, a percentagem de indivíduos com
excesso de peso diminui à medida que aumenta o número de refeições.
         No quadro 19 observamos a análise do número de refeições por grupo

de índice de AF.


Quadro nº19 Análise do nº refeições por grupo de índice de AF
                                                                       índice AF                            Total
                                                    Pouco activos     Moderadamente     Muito activos
                                                                         activos
                 1                                           0,4%              1,0%             0,4%             0,7%
                 2                                           2,3%              1,5%             0,4%             1,5%
Número de        3                                         12,4%             11,0%             10,1%            11,2%
refeições                         % AF
                 4                                         32,0%             32,0%             29,4%            31,3%
total
                 5                                         43,2%             39,1%             36,8%            39,8%
                 6                                           9,8%            15,3%             22,8%            15,6%
                           % Total                         30,1%             44,2%             25,8%        100,0%
X2=19,723   ρ=0,032


         Observamos que à medida que aumenta o número de refeições, vai

aumentando também a percentagem de indivíduos “moderadamente activos”

(1,0% até 39,1%) e “muito activos” (0,4% até 36,8%). A excepção acontece

para o grupo que realiza seis (6) refeições. No entanto, o grupo que realiza seis

(6) refeições, é o único onde a percentagem de indivíduos “muito activos” é

superior à dos “pouco activos” e “moderadamente activos”.

         No quadro seguinte, podemos observar a análise correlacional do

número de refeições total com o índice de AF e o IMC.


Quadro nº20 Coeficiente de correlação de Spearman entre o número de refeições total com o índice de AF e o IMC.
                                                                                   IMC (2pontos     índice AF
                                                                                     de corte)



                                                      Coeficiente correlação          -0,134            0,093
Rho de Spearman            Nº refeições total
                                                      ρ                               0,000             0,003




Ricardo M. T. Silva                                                                                             69
Apresentação dos Resultados


         Verifica-se que existe uma correlação negativa entre o número de

refeições total e o IMC, enquanto que entre o número de refeições total e o

índice    de     AF   encontramos   uma   correlação   positiva,   sendo     ambas

estatisticamente significativas. Estes dados sugerem que quanto maior for o

número de refeições menor será o IMC, e que quanto mais activos forem os

indivíduos maior será o número de refeições diárias efectuadas.




Ricardo M. T. Silva                                                               70
5- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Mestrado 2006
Mestrado 2006
Mestrado 2006
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Mestrado 2006
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  • 1. Ricardo Miguel Teixeira da Silva Actividade Física, Índice de Massa Corporal e Frequência Alimentar Actividade Física, Índice de Massa Corporal e Frequência Alimentar Estudo realizado em Jovens Portugueses dos 12 aos 19 Anos de Idade Ricardo Miguel Teixeira da Silva Outubro de 2006
  • 2. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Actiiviidade Fíísiica,, ÍÍndiice de Massa Corporall e Frequênciia Alliimentar Act v dade F s ca nd ce de Massa Corpora e Frequênc a A mentar Estudo realizado em Jovens Portugueses dos 12 aos 19 Anos de Idade Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre (Decreto-Lei nº216/92, de 13 de Outubro) em Ciências do Desporto área de especialização de Desporto de Recreação e Lazer, sob a orientação do Professor Doutor Jorge Mota Trabalho Orientado por: Professor Doutor Jorge Mota Ricardo Miguel Teixeira da Silva - Porto, Outubro de 2006 -
  • 3. Silva, R. (2006). Actividade Física, Índice de Massa Corporal e Frequência Alimentar – Estudo realizado em Jovens Portugueses dos 12 aos 18 anos de idade. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto especialização em Desporto de Recreação e Lazer. Faculdade de Desporto – Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: ÍNDICE DE MASSA CORPORAL; ACTIVIDADE FÍSICA; FREQUÊNCIA ALIMENTAR; ADOLESCENTES.
  • 4. Agradecimentos Num trabalho deste tipo, conta-se, inevitavelmente, com o apoio e incentivo de diversas pessoas e entidades. Neste sentido, gostaria de expressar um sincero agradecimento a todos aqueles que tornaram possível a sua realização: Ao Prof. Doutor Jorge Mota, pela forma como orientou o presente estudo, pela atenção, disponibilidade, pelos ensinamentos e pertinência das suas críticas e sugestões. À Manuela, um agradecimento muito especial, pela companhia, pelos conselhos, por tudo o que me tem dado ao longo destes anos e pelo começo de uma nova etapa de vida… À minha família sempre presente ao longo de toda a minha vida académica e, em especial, aos meus Pais, pelo apoio e incentivo constante. Obrigado por tudo... Ao Bruno, Cláudia, Filipe, Luísa e Carla pela ajuda na recolha de dados, o meu profundo obrigado. A todos os alunos que aceitaram participar neste estudo… V
  • 5.
  • 6. Índice Geral Agradecimentos V Índice Geral VII Índice de Figuras IX Índice de Quadros XI Índice de Abreviaturas XIII Resumo XV Abstract XVII Résumé XIX 1. Introdução.......................................................................................... 23 2. Revisão da Literatura........................................................................... 31 2.1 A c t i v i d a d e F í s i c a . ........................................................................................................ 31 2.1.1.Os Benefícios da Actividade Física…............................................................... 33 2.1.2. Relações entre Actividade Física / Aptidão Física e Saúde……..................... 36 2.2. Alimentação………………………...................................................................................... 39 2.2.1. Padrão Alimentar Saudável…............................................................................. 39 2.2.2. Hábitos Alimentares e Necessidade Energéticas de Adolescentes…................ 43 2.3. Obesidade……………....................................................................................................... 45 3 . M a t e r i a l e M é t o d o s . . . . ........................................................................................................ 55 3.1. Caracterização da Amostra.............................................................................................. 55 3.2. Índice de Massa Corporal……………………................................................................... 56 3.3. Actividade Física………………………………………………………………………………... 56 3.4. Frequência Alimentar…………………………………………………………………………… 57 3.5. Procedimento na recolha de dados................................................................................. 57 3.6. Procedimentos Estatísticos.............................................................................................. 57 4 . A p r e s e n t a ç ã o d o s R e s u l t a d o s . . . . ................................................................................... 61 4.1. Índice de Massa Corporal………………............................................................................ 61 4.2. Actividade Física…………………………........................................................................... 62 4.3. Frequência Alimentar…………………………………………………………………………… 66 5. Discussão dos Resultados……………………………………………………………………………. 73 5.1. Índice de Massa Corporal e Actividade Física….…………………………………………… 73 5.2. Frequência Alimentar…………………………………………………………………………… 75 6. Conclusões................................................................................................................................. 79 7. Referências Bibliográficas........................................................................................................ 83 VII
  • 7.
  • 8. Índice de Figuras Figura 1: Distribuição dos sujeitos por anos de escolaridade………………………………………... 55 IX
  • 9.
  • 10. Índice de Quadros Pág. Quadro 1: Principais diferenças e semelhanças entre actividade física e exercício............................... 33 Quadro 2: Distribuição dos sujeitos por idade........................................................................................... 55 Quadro 3: Características da amostra…………………………………………………..... . . . . . . . . . . . . . 61 Quadro 4: Associação do IMC (2 pontos de corte) por género…............................................................ 61 Quadro 5: Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o género………….......................... 62 Quadro 6: Índice AF…………………………………………………………………………………... 62 Quadro 7: Associação do índice de AF pelo IMC e género – Pouco activos........................................... 63 Quadro 8: Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Pouco activos............................. 63 Quadro 9: Associação do índice de AF pelo IMC e género – Moderadamente activos......................... 64 Quadro 10: Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Moderadamente activos….... 64 Quadro 11: Associação do índice de AF pelo IMC e género – Muito activos……………..................... 65 Quadro 12: Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Muito activos…………....... 65 Quadro 13: Coeficiente de correlação de Spearman entre a AF e o género………………................ 66 Quadro 14: Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o índice de AF................................ 66 Quadro 15: Número de refeições total....................................................................................................... 66 Quadro 16 – Refeições discriminadas.......................................................................................................... 67 Quadro 17: Associação do nº refeições por ponto de corte IMC............................................................. 68 Quadro 18: Análise do IMC por nº refeições.............................................................................................. 68 Quadro 19: Análise do nº refeições por grupo de índice de AF............................................................... 69 Quadro 20: Coeficiente de correlação de Spearman entre o número de refeições total com o índice de AF e o IMC………………………………………………………………………………………………..... 69 XI
  • 11.
  • 12. Índice de Abreviaturas ACSM American College of Sports Medicine AF Actividade Física AHA American Heart Association APA American Psychiatric Association DP Desvio Padrão EUA Estados Unidos da América FIMS Fédération Internationale de Médicine Sportive ICSSPE International Council of Sport Sciences and Physical Education IMC Índice de Massa Corporal Kcal Quilocalorias Kg Quilograma m Metro nº Número OMS Organização Mundial de Saúde SPEO Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade SPSS Statistical Package for the Social Sciences USDHHS United States Department of Health and Human Services WHO World Health Organization X2 Qui-Quadrado XIII
  • 13.
  • 14. Resumo Com o presente estudo pretendeu-se, partindo dos dados recolhidos, conhecer os valores do índice de massa corporal dos alunos estudados, os seus níveis de actividade física e verificar a existência de relações entre o sobrepeso/obesidade, a actividade física e o número de refeições. A amostra do estudo é constituída por 886 alunos de cinco concelhos diferentes: Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela (376) e Trofa (88). Os níveis de escolaridade dos indivíduos estão compreendidos entre o 6º e o 10º anos de escolaridade e as idades dos inquiridos variam entre os 12 e os 19 anos. À nossa amostra foram aplicados os pontos de corte da definição de excesso de peso e obesidade de Cole et al. (2000), para as diferentes idades e para cada género. Para a avaliação da actividade física foi utilizado um questionário desenvolvido por Telama et al. (1997) que já foi aplicado à população portuguesa por Ledent et al. (1997). A frequência alimentar diária foi analisada adicionando uma pergunta ao questionário utilizado para a avaliação da actividade física. A análise estatística foi efectuada em SPSS 14.0, tendo sido calculada a percentagem de indivíduos, de ambos os géneros, com excesso de peso e com peso normal em diferentes grupos etários e as percentagens dos níveis de actividade física e do número de refeições, nos diferentes grupos de IMC, para os dois géneros. Para determinar as diferenças, entre as proporções de indivíduos nos diferentes grupos, utilizou-se o teste do Qui-Quadrado (X2). A correlação entre o índice de massa corporal, o índice de actividade física, o género e o número de refeições foi calculada a partir do coeficiente de XV
  • 15. correlação de Spearman. Os resultados obtidos mostraram que a percentagem de indivíduos com excesso de peso é superior nos rapazes relativamente às raparigas. Por outro lado, os rapazes apresentam índices superiores de actividade física em relação às raparigas. No que diz respeito ao índice de massa corporal, este parece ser influenciado pelo número de refeições. Relativamente ao número de refeições, os resultados do nosso estudo sugerem que quanto mais elevado o índice de actividade física dos indivíduos, maior o número de refeições realizadas por eles. Em síntese, os dados do nosso estudo parecem evidenciar uma relação entre o índice de massa corporal, a actividade física e o número de refeições. Palavras chave: ÍNDICE DE MASSA CORPORAL; ACTIVIDADE FÍSICA; FREQUÊNCIA ALIMENTAR; ADOLESCENTES. XVI
  • 16. Abstract With the present study it was intended, going from the collected data, to know the values of the body mass index of the studied students', their levels of physical activity and to verify the existence of relationships between the overweight/obesity, the physical activity and the number of meals. The sample of the study is constituted by 886 students of five different councils: Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela (376) and Trofa (88). The levels of education are between the 6th and the 10th grade and the ages of those inquired fluctuate between the 12 and the 19 years. It was applied to our sample, the points of cut of the definition of overweight and obesity of Cole et al. (2000), for the different ages and for each gender. For the evaluation of the physical activity a questionnaire was used developed by Telama et al. (1997) that was already applied to the Portuguese population by Ledent et al. (1997). The daily alimentary frequency was analyzed adding a question to the questionnaire used for the evaluation of the physical activity. The statistical analysis was computed in SPSS 14.0, having been calculated the individuals’ percentage, of both genders, with overweight and with normal weight in different age groups, and the percentages of the physical activity levels and of the number of meals, in the different groups of IMC, for the two genders. To determine the differences, among the individuals' proportions in the different groups, the test of the Qui-square was used (X2). The correlation XVII
  • 17. among the body mass index, the physical activity index, the gender and the number of meals was calculated using the Spearman’s coefficient of correlation. The obtained results showed that the individuals' percentage with overweight is superior in the boys relatively to the girls. On the other hand, the boys present superior physical activity indexes in relation to the girls. In what concerns the body mass index, this seems to be influenced by the number of meals. Relatively to the number of meals, the results of our study suggest that the higher the index of physical activity of the individuals, the higher the number of meals accomplished by them. In synthesis, the data of our study seem to evidence a relationship among the body mass index, the physical activity and the number of meals. KEYWORDS: BODY MASS INDEX; PHYSICAL ACTIVITY; DIETARY FREQUENCY; ADOLESCENTS. XVIII
  • 18. Résumé Avec présente étude il s'est prétendu, en partant des données rassemblées, connaître les valeurs de l'indice de masse corporelle des élèves étudiés, leurs niveaux d'activité physique et vérifier l'existence de relations entre le poids excessif/obésité, l'activité physique et le nombre de repas. L'échantillon de l'étude est constitué par 886 élèves de cinq communes différentes : Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela (376) et Trofa (88). Les niveaux de scolarité des personnes sont compris entre la 6º et la 10º années de scolarité et les âges enquêtés varient entre les 12 et 19 années. À notre échantillon ont été appliqués les points de coupe de la définition d'excès de poids et l'obésité de Cole et al. (2000), pour les différents âges et pour chaque type. Pour l'évaluation de l'activité physique a été utilisé un questionnaire développé par Telama et al. (1997) que déjà a été appliqué à la population portugaise par Ledent et al. (1997). La fréquence alimentaire quotidienne a été analysée en ajoutant une question au questionnaire utilisé pour l'évaluation de l'activité physique. L'analyse statistique a été effectuée dans SPSS 14.0, en ayant été calculé le pourcentage de personnes, des tous les deux les types, avec de l'excès de poids et avec je pèse normal dans de différents groupes étaires et les pourcentages des niveaux d'activité physique et du nombre de repas, nous différents groupes d'IMC, pour les deux types. Pour déterminer les différences, entre les proportions de personnes nous différents groupes, l'essai a utilisé du Qui-Quadrado (X2). La corrélation entre l'indice de masse corporelle, l'indice XIX
  • 19. d'activité physique, le type et le nombre de repas a été calculé à partir du coefficient de corrélation de Spearman. Les résultats obtenus ont montré que le pourcentage de personnes avec excès de poids est supérieur nous jeunes à l'égard des jeunes filles. D'autre part, les jeunes présentent des indices supérieurs d'activité physique concernant les jeunes filles. En ce qui concerne à l'indice de masse corporelle, celui-ci semble être influencé par le nombre de repas. À l'égard du nombre de repas, les résultats de notre étude suggèrent que plus élevé l'indice d'activité physique des personnes le plus grand le nombre de repas réalisés par eux. Dans synthèse, les données de notre étude semblent prouver une relation entre l'indice de masse corporelle, l'activité physique et le nombre de repas. MOTS-CLEF: INDICE DE MASSE CORPORELLE; ACTIVITE PHYSIQUE; FREQUENCE ALIMENTAIRE; ADOLESCENTS. XX
  • 21.
  • 22. Introdução 1. Introdução Ao longo dos tempos, o desporto tem sofrido uma evolução significativa, a ponto de se constituir num dos grandes temas da nossa época. A actividade física é inerente ao homem, sendo um legado inequívoco de milhares de anos. A par das evidências de que o homem contemporâneo utiliza cada vez menos as suas potencialidades corporais e de que o baixo nível de actividade física é factor decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas, sustenta-se a hipótese da necessidade de se promoverem mudanças no seu estilo de vida, levando-o a incorporar a prática de actividades físicas no seu quotidiano, bem como da melhoria dos seus hábitos alimentares (Assumpção et al., 2000; Manore et al., 2000). Alguns autores (Paffenbarger et al., 1993; Almeida, 2001) atribuem consistência à hipótese de que a actividade física, quando inserida num estilo de vida saudável, permite aumentar a esperança de vida, provavelmente devido ao efeito redutor do exercício sobre as causas de mortalidade. É pois indispensável que o indivíduo adquira hábitos de um estilo de vida activo, de modo a ter uma vida mais saudável, produtiva, lúdica e de fruição dos tempos de lazer. Segundo Costa (1997), nunca a saúde foi tão referenciada e interligada à actividade física, podendo constatar-se que as pessoas cada vez mais a vêem como um meio de melhoria dos níveis de saúde, de bem-estar físico, mental e social e de obtenção de hábitos de vida saudável. Embora não existam evidências definitivas acerca das causas e efeitos da relação entre um aumento da actividade física habitual e os benefícios esperados para a saúde, há pelo menos um conjunto de informações Ricardo Silva 23
  • 23. Introdução suficientemente importantes para admitir que estilos de vida activos, em conjugação com outras componentes positivas, podem ser benéficos para a saúde (Blair, 1993; Montoye et al., 1996; Powell e Pratt, 1996; Sardinha et al., 1999 e Bonafonte, 2001). Umas destas componentes positivas que se pode mostrar decisiva e benéfica para o indivíduo é a nutrição (Martínez, 1998). A nutrição pode ser definida como o conjunto dos processos de ingestão e conversão das substâncias alimentares em nutrientes que possam ser usados para manter as funções corporais. Os nutrientes podem ser usados como fonte de energia (hidratos de carbono, lípidos e proteínas), para sintetizar e reparar tecidos (proteínas, lípidos e minerais), para sintetizar e manter o sistema esquelético (cálcio, fósforo e proteínas) e para regular a fisiologia corporal (vitaminas, minerais, lípidos, proteínas e água). Não existe dúvida alguma de que aquilo que o indivíduo ingere pode afectar a sua saúde, o seu peso e composição corporal e a disponibilidade de substratos durante a actividade física (Clark, 1994; Manore et al., 2000). Actualmente a relação saúde-nutrição é cada vez mais estreita, tendo a investigação permitido a descoberta de novas substâncias nos alimentos ou nutrientes já conhecidos como aminoácidos, vitaminas e minerais que, em determinadas doses, previnem e tratam várias doenças (Garambone, 2000). A nutrição não é essencial só para o bom funcionamento do organismo humano, ela é essencial no tratamento de vários doenças como a diabetes, problemas gastrointestinais, assim como em distúrbios psiquiátricos do comportamento, na dependência de drogas e em alguns tipos de doenças de natureza mental. Ricardo Silva 24
  • 24. Introdução Os indivíduos devem assegurar uma dieta saudável, variada e realizar uma correcta hidratação em termos de quantidade e qualidade, antes, durante e após a actividade física, exigindo-se adequadas quantidades de glícidos, proteínas, lípidos, vitaminas, sais minerais e água (Foods, Nutrition and Sports Performance, 1992; Kirkendall, 1993; Manore et al., 2000). Se o aporte dietético não for de encontro às necessidades nutricionais originadas pela actividade física, a prática desportiva poderá influenciar negativamente o desenvolvimento e a maturação biológica dos indivíduos, impedindo o normal desenvolvimento muscular, afectando o desempenho cognitivo (Beals, 2001). Uma adequada nutrição tem sido associada com vários factores benéficos à saúde, tais como, uma diminuição dos factores de risco cardiovasculares, diabetes não insulino-dependente e baixo índice de massa corporal (USDHHS, 2001; WHO, 1998). A actividade física tem sido associada a estes benefícios para a saúde e é também associada a um aumento da força muscular e resistência aeróbia, estrutura óssea mais forte, níveis de ansiedade e stress mais baixos e melhoria da autoconfiança (USDHHS, 2002). Os hábitos nutricionais e de actividade física são estabelecidos durante a infância e continuam até à idade adulta (Crespo et al., 2001). Deste modo, alimentação saudável e actividade física durante a infância e a adolescência têm o potencial de diminuir o risco de inúmeras doenças crónicas na idade adulta (Kelder et al., 1994). Contudo, muitos adolescentes não são suficientemente activos para alcançar benefícios para a sua saúde, e muitos não são sequer activos. A juventude está a passar mais tempo a ver televisão, Ricardo Silva 25
  • 25. Introdução jogar videojogos e a usar o computador, e estes comportamentos sedentários estão positivamente associados ao excesso de peso (Crespo, et al. 2001). Tal facto é, certamente, devido à substituição da actividade física e do dispêndio energético por actividades sedentárias e intakes energéticos aumentados. A prevalência do excesso de peso em adolescentes está a aumentar (Miech et al., 2006) a um ritmo muito superior ao dos adolescentes com subpeso. A média nacional norte-americana de adolescentes com sobrepeso (15,5%) é aproximadamente o triplo da verificada no final dos anos 70 (Ogden et al., 2002). Existem diferentes comportamentos e consequências para a saúde derivadas quer do sobrepeso ou subpeso quando comparados com adolescentes de peso normal (APA, 1994). Os argumentos apresentados parecem-nos justificar a realização do presente trabalho, tal estudo poderá permitir coligir um conjunto de informações cuja consciencialização, pode valorizar a intervenção futura de professores, técnicos e demais pessoas ligados à área da Actividade Física. Objectivos do estudo: 1. Conhecer os valores do índice de massa corporal dos alunos estudados e verificar a existência de sobrepeso e/ou obesidade por género; 2. Conhecer os seus níveis de actividade física habitual; 3. Verificar a existência de relações entre o sobrepeso/obesidade, a actividade física e o número de refeições. Ricardo Silva 26
  • 26. Introdução No intuito de responder aos objectivos propostos, a estrutura do trabalho integra os seguintes sete capítulos: • Capítulo 1 – procura situar o tema e enuncia os objectivos do trabalho; • Capítulo 2 – apresenta a revisão da literatura, dividida por subcapítulos; • Capítulo 3 – inclui a metodologia utilizada, caracteriza a amostra e os procedimentos utilizados na recolha e tratamento dos dados; • Capítulo 4 – apresenta a análise dos resultados; • Capítulo 5 – apresenta a discussão dos resultados; • Capítulo 6 – enuncia as principais conclusões deste estudo; • Capítulo 7 – apresenta a bibliografia consultada ao longo deste estudo. Ricardo Silva 27
  • 27.
  • 28. 2- REVISÃO DA LITERATURA
  • 29.
  • 30. 2. Revisão da Literatura 2.1 Actividade Física A actividade física é inerente ao homem, sendo um legado inequívoco de milhões de anos. Contudo, desde a necessidade de sobrevivência aos aspectos lúdicos e de fruição estética, vai um largo percurso pleno de aquisições tecnológicas e culturais. A sociedade moderna, pós-revolução industrial, cheia de novas tecnologias, veio alterar o estilo de vida dos cidadãos e, por conseguinte, a magnitude, expressão e sentido das actividades corporais (que são cada vez mais reduzidas), implicando uma redução substancial no esforço físico. A conquista de mais tempo livre parece ter seduzido as sociedades industrializadas a desenvolver o sedentarismo, aumentando assim o risco de aquisição de sérios problemas de saúde. A par das evidências de que o homem contemporâneo utiliza cada vez menos as suas potencialidades corporais e de que o baixo nível de actividade física é factor decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas, sustenta-se a hipótese da necessidade de se promoverem mudanças no seu estilo de vida, levando-o a incorporar a prática de actividades físicas no seu quotidiano. Nessa perspectiva, o interesse em conceitos como “Actividade Física”, “Estilo de Vida” e “Qualidade de Vida” tem vindo a adquirir relevância, levando à produção de vários trabalhos científicos. Desta forma, constitui-se um movimento no sentido de valorizar acções voltadas para a determinação e operacionalização de variáveis que possam contribuir para a melhoria do bem- estar do indivíduo por meio do incremento do nível de actividade física habitual da população (Assumpção et al., 2000). Ricardo M. T. Silva 31
  • 31. Revisão da Literatura O estudo da actividade física tem sido percorrido por diferentes vias, nomeadamente a sociocultural, a psicológica e a biológica. A explosão de pesquisas centradas no paradigma epidemiológico surge a partir da informação cada vez mais sólida de que a inactividade e o sedentarismo aumentam a mortalidade e reduzem a longevidade (Bouchard e Shephard, 1994). A longevidade permite avaliar o estado de saúde de um indivíduo. Daí ser um facto que pessoas fisicamente activas vivam mais tempo do que aquelas que levam uma vida sedentária (inactividade). Isto significa que os benefícios da actividade física diminuem os riscos de morte (Blair, 1993; Montoye et al., 1996; Powell e Pratt, 1996; Sardinha et al., 1999 e Bonafonte, 2001). Apesar do reconhecimento universal do efeito positivo do exercício físico na qualidade de vida, a investigação científica sugere que a prática regular e sistemática de exercício físico, quando inserida num estilo de vida saudável, permite aumentar a esperança de vida ao diminuir as taxas de mortalidade e morbilidade (Paffenbarger et al., 1993; Bonafonte, 2001). É pois indispensável que o indivíduo adquira hábitos de um estilo de vida activo, de modo a ter uma vida mais saudável, produtiva, lúdica e de fruição dos tempos de lazer. Em investigações de carácter epidemiológico tem sido usual mencionar de forma sinónima actividade física e exercício físico. Contudo, também como referem Casperson et al., (1985), há que clarificar os dois conceitos para evitar confusões desnecessárias. Como tal, podemos observar no quadro n.º 1 as principais semelhanças e diferenças existentes entre os conceitos de actividade física e de exercício físico. Ricardo M. T. Silva 32
  • 32. Revisão da Literatura Quadro n.° 1 - Principais diferenças e semelhanças entre actividade física e exercício (adaptado de Casperson et aI., (1985). Actividade Física Exercício Físico Qualquer movimento corporal realizado - Movimento corporal, realizado pelos músculos esqueléticos, pelos músculos esqueléticos; planeado, estruturado e repetitivo; Resulta em dispêndio energético; Resulta em dispêndio energético; A energia despendida (Kcal) varia, de A energia despendida (Kcal) varia, de uma forma uma forma contínua, de níveis baixos até contínua, de níveis baixos até níveis mais elevados; níveis mais elevados; Positivamente relacionada com a aptidão física; Positivamente relacionada com a aptidão O objectivo é manter ou aumentar os valores das física componentes da aptidão física. 2.1.1. Os Benefícios da Actividade Física Falar dos benefícios da actividade física torna-se ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil porque é reconhecido por todos o papel que ela pode desempenhar na vida da criança, do jovem ou do adulto; difícil porque existem alguns aspectos sobre a sua prática que não são consensuais. Almeida (2001) refere que apesar dos benefícios documentados na literatura sobre a actividade física na saúde na idade adulta, a grande dificuldade tem sido influenciar o comportamento das crianças e jovens para manterem um comportamento activo e dinâmico ao longo das suas vidas. Ou seja, não estão ainda completamente resolvidas questões como: que género de actividade física se deve fornecer às crianças e jovens para que esta se mantenha pela vida fora e que quantidade e qualidade de actividades físicas são necessárias para que se produzam benefícios na saúde. Embora não existam evidências definitivas acerca das causas e efeitos da relação entre um aumento da actividade física habitual e os benefícios esperados para a saúde, há pelo menos um conjunto de Ricardo M. T. Silva 33
  • 33. Revisão da Literatura informações suficientemente importantes para admitir que estilos de vida activos, em conjugação com outras componentes positivas, podem ser benéficas para a saúde (Blair, 1993; Montoye et al., 1996; Powell e Pratt, 1996; Sardinha et al., 1999 e Bonafonte, 2001). Sallis (1993) observou que, entre os 6 e os 16 anos de idade, ocorre uma redução de actividade de cerca de 2,7% e 7,4%, por ano, para rapazes e raparigas, respectivamente, tendendo as raparigas a ser 15% a 25% menos activas que os rapazes. Este facto aponta as raparigas como uma população em risco de diminuir os níveis de actividade física, o que poderá marcar os seus hábitos de actividade física na vida adulta. O objectivo principal do aumento da actividade física durante a infância não é produzir benefícios na saúde, mas iniciar um padrão de comportamento que será seguido também na vida adulta, idade em que os hábitos comportamentais têm demonstrado produzir efeitos sobre a saúde (Malina e Bouchard, 1991; Lopes et al., 2003). Enquanto que para alguns deverá preferir-se actividades que se aproximam mais das actividades dos adultos, como por exemplo o “jogging”, a natação e o ciclismo, para outros estas actividades, que se ajustam ao tempo e às condições, isto é, às oportunidades do adulto, são aborrecidas para os mais jovens que preferem os jogos e os desportos de equipa (Haywood, 1991). Matsudo et al. (2002) afirmam que os principais benefícios para a saúde que advêm da prática de actividade física referem-se aos aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Os efeitos metabólicos apontados pelos autores são o aumento do volume sistólico, o Ricardo M. T. Silva 34
  • 34. Revisão da Literatura aumento da potência aeróbia, o aumento da ventilação pulmonar, a melhoria do perfil lipídico, a diminuição da pressão arterial, a melhoria da sensibilidade à insulina e a diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo. Em relação aos efeitos antropométricos e neuromusculares ocorre, segundo os autores, a diminuição da gordura corporal, o incremento da força e da massa muscular, da densidade óssea e da flexibilidade. De acordo com Cruz (1996), a prática de exercício físico e de actividade física também acarretam benefícios psicológicos evidentes, influenciando positivamente a auto-estima e a imagem corporal, o funcionamento cognitivo, o aumento das percepções de controlo e a auto-eficácia pessoal bem como, a melhoria da auto-confiança. Para Sallis e Mckenzie (1991), a Educação Física deve concentrar-se na promoção do desenvolvimento de padrões de actividade física habitual fora das aulas, que tenham o potencial de continuidade na idade adulta. A Educação Física Escolar, que é concebida com o objectivo de promover uma vida activa, deve igualmente realçar capacidades de movimento, úteis para os desportos de equipa na infância e para outras actividades mais comuns na idade adulta. O American College of Sport Medicine (1993) defende que, se estamos interessados em estabelecer padrões de actividade física habitual que promovam a saúde, em vez de promover a boa aptidão física, há indícios que suportam a hipótese de que as actividades de intensidade moderada são um alvo de intervenção particularmente desejada. As recomendações para a prática de actividades moderadas não pretendem desencorajar as crianças a envolverem-se em exercícios vigorosos, mas sim ampliar o leque de actividades a serem consideradas promotoras da Ricardo M. T. Silva 35
  • 35. Revisão da Literatura saúde, de modo a que estas tenham mais opções no desenvolvimento de um padrão de actividade física habitual, que satisfaça as suas necessidades. Desta forma, segundo Almeida (2001), a preocupação fundamental traduzir-se-á numa actuação que permitirá à criança ou jovem adquirir conhecimentos e atitudes que o possam ajudar a manter hábitos de actividade física regular com repercussões na sua vida. 2.1.2. Relações entre Actividade Física/ Aptidão Física e Saúde Recentemente, a relação entre actividade física e saúde vem sendo gradualmente substituída pelo enfoque da qualidade de vida, o qual tem sido incorporado no discurso da Educação Física e das Ciências do Desporto. Tem tido na relação positiva estabelecida entre actividade física e melhores padrões de qualidade de vida, a sua maior expressão (Assumpção et al., 2000). Fora dos círculos académicos, os meios de comunicação constantemente veiculam informações a respeito da necessidade do homem contemporâneo melhorar a sua qualidade de vida por meio da adopção de hábitos mais saudáveis no seu quotidiano. Um dos principais objectivos das políticas de saúde pública é o de incrementar a prática de actividades físicas, enquanto promotoras da aptidão física com vista à melhoria da saúde, sendo a Educação Física um veículo fundamental para a realização desse objectivo, sobretudo no que diz respeito às crianças (Almeida, 2001). Segundo Blair (1993), relativamente à actividade física e à aptidão física relacionada com a saúde, podemos ainda realçar os seguintes aspectos: Ricardo M. T. Silva 36
  • 36. Revisão da Literatura • Constatação da inactividade como um factor de risco para a saúde; • Importância de uma consciencialização individual e pública dos benefícios da actividade física na construção de um estilo de vida saudável, • Importância da intervenção dos vários níveis e organismos sociais na divulgação/promoção e implementação de programas de actividade física; • Necessidade de aumentar o número de indivíduos a praticar actividades físicas; • Necessidade de procurar determinar qual a intensidade mínima de actividade física que leve à obtenção de benefícios para a saúde. Entidades ligadas à Educação Física e às Ciências do Desporto, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Conselho Internacional de Ciências do Desporto e Educação Física (ICSSPE), o Centro de Controlo e Prevenção de Doença - USA (CDC), o Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM), a Federação Internacional de Medicina Desportiva (FIMS) e a Associação Americana de Cardiologia (AHA), preconizam que sessões de trinta minutos de actividades físicas por dia, na maior parte dos dias da semana, desenvolvidas continuamente ou mesmo em períodos cumulativos de 10 a 15 minutos, em intensidade moderada, já são suficientes para a promoção da saúde (Matsudo et al., 2002). O relatório do Surgeon General (U.S. Department of Health and Human Services, 1996), sugere que as pessoas de todas as idades, homens e mulheres, beneficiam de actividade física regular. Alguns benefícios de saúde Ricardo M. T. Silva 37
  • 37. Revisão da Literatura significativos podem ser obtidos por uma quantidade moderada de actividade física (por exemplo, 30 minutos de andar vivo ou apanhar folhas do jardim, 15 minutos de corrida, ou 45 minutos a jogar voleibol) na maioria, se não em todos os dias da semana. Benefícios de saúde adicionais podem ser obtidos com maiores quantidades de actividade física. Pessoas que possam manter um regime regular de actividade de duração mais longa ou de intensidade mais vigorosa poderão retirar maiores benefícios. Ainda o mesmo relatório do Surgeon General (1996), torna claro que os benefícios na saúde da actividade física não são limitados aos adultos. A participação regular em actividade física durante a infância e adolescência: - Ajuda a formar e a manter os ossos, músculos e articulações saudáveis; - Ajuda a controlar o peso, a formar massa magra (músculo), e reduz a gordura; - Previne ou retarda o desenvolvimento de pressões sanguíneas altas e ajuda a reduzir a pressão sanguínea em alguns adolescentes com hipertensão; - Reduz sentimentos de depressão e ansiedade. Assim, um dos maiores benefícios da actividade física, relacionada com a saúde, é o facto das crianças e jovens fisicamente activos apresentarem tendências para serem adultos activos. Benefícios adicionais para a saúde, podem ser obtidos com o aumento da actividade física, e é hoje reconhecido que os maiores ganhos para a saúde se adquirem quando se passa de uma situação de inactividade física para moderadamente activo (Pate et al., 1999). Ricardo M. T. Silva 38
  • 38. Revisão da Literatura 2.2 Alimentação 2.2.1. Padrão Alimentar Saudável Para Peres (2003), os alimentos necessários para um dia devem repartir-se por várias refeições para que os intervalos entre elas não sejam longos. Não tomar o primeiro almoço e intervalar muito as refeições acarreta vários problemas: hipoglicemia; os sintomas podem ser variados e inclusive simular crises de tensão arterial ou acompanharem-se mesmo de abaixamento da tensão arterial, cansaço, esvaimento, visão turva, transpiração excessiva, perda de força muscular, cisão de movimentos e de linguagem, enjoos e vómitos. Este mesmo autor, aponta para que a hipoglicemia possa induzir quebra de atenção na escola com prejuízo para o aproveitamento; e de eficácia na segurança de movimentos. Não tomar o primeiro almoço e passar horas e horas sem comer obriga o organismo a dois balanços metabólicos desfavoráveis: o primeiro consiste em usar as suas proteínas estruturais para, a partir delas, produzir alguma glicose que minore a hipoglicemia; o segundo, consequente ao elevado valor energético das refeições que se fazem para compensar a hipoglicemia, traduz- se em armazenamento no tecido adiposo, depois de transformadas em gordura, das calorias ingeridas que excedem as necessidades (Peres, 2003). As consequências finais são, portanto, desnutrição protéica (perda do tecido muscular, da matriz protéica dos ossos, envelhecimento cutâneo, etc.) e aumento da gordura corporal armazenada. Ricardo M. T. Silva 39
  • 39. Revisão da Literatura Estudos anteriores demonstraram uma relação inversa entre a frequência do número de refeições e a prevalência de sobrepeso e obesidade nos indivíduos (Toschke et al., 2005). Estes mesmos autores revelaram um efeito protector de uma frequência alimentar aumentada, relativamente ao número de refeições, o qual aparenta ser independente de outros factores de risco da obesidade pediátrica. As causas para tal facto poderão ser três: 1. uma termogénese diária aumentada devido a um maior número de refeições; 2. diferentes níveis de actividade física entre nibblers (comem pouco de cada vez e muitas vezes ao dia) e gorgers (comem muito de uma vez e poucas vezes ao dia); 3. metabolismo da insulina (baixos níveis de concentração desta hormona após o regime nibbler). Esta associação entre um número elevado de refeições e a diminuição da obesidade e sobrepeso pediátricos sublinha a importância dos padrões de ingestão alimentar durante a infância. O negligenciar refeições poderá não ser o melhor método para reduzir o risco de obesidade nas crianças (Toschke et al., 2005). Existem algumas normas práticas que, se seguidas, poderão contribuir para o chamado padrão alimentar saudável (Peres, 2003): - Logo após acordar, ou pouco depois, tomar sempre um verdadeiro primeiro almoço completo, variado, equilibrado e ajustado caloricamente às necessidades; Ricardo M. T. Silva 40
  • 40. Revisão da Literatura - Comer a intervalos médios de 3 horas e meia. Se a manhã for longa merendar a meio. Merendar à tarde e, eventualmente, cear, de modo a não passar mais de 10 horas nocturnas sem comer; - Mastigar e ensalivar bem tudo o que se come; - Utilizar leite ou seus substitutos nas quantidades ajustadas às necessidades de cada período de vida; - Abusar de hortaliças, legumes e frutas em natureza (43% do peso dos alimentos a ingerir diariamente devem ser destes grupos alimentares); - Afastar bebidas alcoólicas de crianças, adolescentes, grávidas e aleitantes; - Restringir francamente a utilização de óleos, gorduras, alimentos gordos e produtos industrializados ricos em gordura; - Eliminar ou reduzir drasticamente o gasto de sal na cozinha e conservação de alimentos e rejeitar refeições prontas e produtos industrializados salgados; - Preferir pão e produtos cerealíferos mais grosseiros; - Reduzir deliberadamente o uso de açúcar; - Adoptar uma alimentação completa, equilibrada e variada de acordo com a Roda dos Alimentos; - Consumir a quantidade necessária de comida tendo em atenção ajustar o fornecimento calórico às necessidades do organismo; - Beber água potável em quantidades liberais para que a diurese se mantenha abundante. Ricardo M. T. Silva 41
  • 41. Revisão da Literatura A alimentação saudável não depende apenas de conhecer e satisfazer as necessidades nutricionais do organismo. Depende também da boa utilização e do equilíbrio entre os alimentos que satisfazem aquelas necessidades. Por isso, não existe apenas um padrão alimentar saudável, são possíveis vários, tão diferentes como japoneses rurais ou europeus mediterrânicos, desde que cumpram algumas condições (Peres, 2003): 1. Ajuste perfeito do valor energético da alimentação às características biológicas de cada um, diferentes necessidades das fases sucessivas do ciclo da vida, estatura, actividade física e clima; 2. Distribuição repartida da comida necessária por várias refeições a intervalos de 3 a 4 horas, com o cuidado de um primeiro almoço suficiente, completo e equilibrado, e atendendo a que o jejum nocturno não deve ultrapassar 10 horas; 3. Equilíbrio perfeito entre fontes alimentares de energia de acordo com o referido padrão nutricional adequado; 4. Equilíbrio entre grupos de alimentos nas proporções sugeridas pela Roda dos Alimentos; 5. Utilização de alimentos de boa qualidade higiénica; 6. Adopção de preparações culinárias simples e gastronómicas que combinem alimentos e temperos de forma agradável e fácil de digerir, sem destruição de nutrimentos, com pouco ou nenhum sal e sem adulterar as gorduras usadas para cozinhar Ricardo M. T. Silva 42
  • 42. Revisão da Literatura 2.2.2. Hábitos Alimentares e Necessidades Energéticas de Adolescentes As necessidades energéticas são elevadas durante a adolescência e incluem três componentes principais: o custo energético da taxa de metabolismo basal, o custo do crescimento diário e o custo da actividade física, que varia em intensidade e duração. A actividade física é composta por actividade básica na escola (mais ou menos comparável para cada grupo idade/género) e por uma actividade física e/ou desportiva altamente variável para cada indivíduo (Cavadini et al., 2000). Dois importantes comportamentos ligados aos estilos de vida estão obviamente aliados ao balanço energético: o nível de actividades físicas e desportivas (Pate et al., 1996; Deheeger et al, 1997) e os hábitos nutricionais – intake energético deve estar de acordo com o gasto energético. Considerando a prevalência do sobrepeso e obesidade em diferentes países e o potencial risco do desenvolvimento a longo prazo de doenças cardiovasculares, é de supor que o gasto e o intake energético não estão em equilíbrio para uma crescente parte da população (Seidell, 1995). As três principais refeições são consumidas pela maioria dos adolescentes suiços (95%) e 90% realiza um lanche a meio da tarde até aos 15 anos. Os lanches a meio da manhã são praticados por 60 a 80% dos adolescentes, enquanto que durante a tarde chega aos 80-90% e à noite (ceia) decresce para os 45-65%. Relativamente à actividade física, 69% dos rapazes e 48% das raparigas a frequentar o 8º ano realizavam uma actividade desportiva 2 a 3 vezes por semana, valor que diminui respectivamente para Ricardo M. T. Silva 43
  • 43. Revisão da Literatura 56% e 38% para os adolescentes do 10º e 11º ano (15 anos ou mais de idade) (Cavadini et al., 2000). Comparativamente aos países nórdicos (Dinamarca, Noruega, Islândia, Finlândia e Suécia), o estudo de Samuelson (2000) mostrou que o primeiro almoço é regularmente “saltado” pelos adolescentes (13-18 anos de idade). A maioria (50%) na Finlândia e Suécia não consome o almoço gratuitamente fornecido nas escolas preferindo as sanduíches, leite com cereais ou iogurtes. Na Dinamarca, os adolescentes trazem uma refeição à base de pão para a escola, todos os dias. Na Noruega também trazem sanduíches mas, na escola o leite é gratuito, assim como a fruta e os vegetais. Os lanches e snacks, durante os dias da semana e até mesmo no fim-de-semana, são comuns em todos os Países Nórdicos com uma tendência crescente entre os 13 e os 18 anos. O jantar é consumido regularmente por 80% dos adolescentes Nórdicos entre os 13 e 18 anos de idade. No que diz respeito à actividade física, o tempo despendido, por exemplo, a praticar desporto ocupa 0,5 – 1h por dia, enquanto que o tempo em inactividade soma 9-10h por dia. No estudo que mais nos interessará (Amorim Cruz, 2000), verificou-se que os adolescentes dos países do Sul da Europa (Espanha, Itália, Portugal e Grécia) consomem 3 a 4 refeições principais e que não “saltam” o primeiro almoço tanto como em outros países industrializados. Os “snacks” são consumidos menos regularmente e a frequência de comer fora em restaurantes é menor do que nos EUA e nos países Nórdicos. No entanto, verifica-se um padrão alimentar rico em gorduras, principalmente de ácidos gordos monoinsaturados devido ao alto consumo de azeite. Contudo, vão-se perdendo duas das características mais importantes da chamada dieta mediterrânica Ricardo M. T. Silva 44
  • 44. Revisão da Literatura (baixo consumo de ácidos gordos saturados e alto consumo de hidratos de carbono complexos) devido ao aumento do consumo de carne, produtos lácteos, confeitaria, óleos e gorduras e devido à diminuição do consumo de pão escuro a favor do chamado pão branco. No geral, os adolescentes do Sul da Europa apresentam uma elevada prevalência de sobrepeso e obesidade com uma percentagem à volta dos 15-25%, que se apresenta superior à encontrada nos países Nórdicos, mas inferior à dos EUA. Um adolescente obeso tem fortes probabilidades de ser um adulto obeso (Dietz, 1998 e Amorim Cruz, 2000), como tal os países do Sul da Europa deveriam ter em atenção esta mudança de hábitos dos seus adolescentes, que poderá resultar num aumento da taxa de morbilidade e mortalidade devido a doenças cardiovasculares e outras doenças crónicas em paralelo com a deterioração do estilo de vida das suas populações. O estilo de vida sedentário está extremamente envolvido na prevalência da obesidade (Bar-Or et al., 1998), assim como, a modernização nos transportes, os aparelhos que permitem ao homem trabalhar menos e o aumento do tempo a assistir televisão (OMS/WHO, 1998; Salmon et al. 2005). A solução deverá passar pela implementação de estratégias preventivas que envolvam educação nutricional e programas de actividade física (Martínez, 2000). 2.3 Obesidade Actualmente a ciência encara a obesidade como um estado patológico que se caracteriza pelo desenvolvimento exagerado do tecido adiposo. Esta acumulação de gordura pode atingir proporções capazes de afectar a saúde, Ricardo M. T. Silva 45
  • 45. Revisão da Literatura tanto mais que, uma vez instalada, tende a autoperpetuar-se constituindo-se como uma verdadeira doença crónica. Assim, o excesso de massa gorda propicia, por si só, maior risco de morbilidade e mortalidade (Bray, 1998; SPEO, 2001; Fisberg et al., 2004). Sabe-se hoje que há uma relação estreita entre obesidade e a diabetes tipo 2, as dislipidemias, a insulinoresistência, as disfunções respiratórias (incluindo a apneia do sono) e as doenças da vesícula biliar. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera estas relações de risco muito elevado. Por seu lado, a doença coronária, a hipertensão arterial, a osteoartite, a hiperuricemia e a gota são consideradas relações de risco moderadamente elevado. As associações com determinados tipos de cancro, anomalias hormonais com repercussão na reprodução, doença do ovário poliquístico, alterações da fertilidade, dor lombar, risco anestésico e defeitos fetais estão descritas como risco ligeiramente elevado (WHO, 1998). Em termos rigorosos a classificação da obesidade deverá ter em conta o valor de massa gorda, devendo esta representar 10 a 15% do peso no homem, e 20 a 25% na mulher (WHO, 1998). Os métodos usados são dispendiosos e mais ou menos complexos: densidade corporal, tomodensitometria, ressonância magnética nuclear e medida de potássio corporal total, entre outros. No entanto, o Índice de Massa Corporal (IMC) (peso.altura-2) é um método que recorre a medidas simples e fornece uma avaliação satisfatória da obesidade para as necessidades clínicas e epidemiológicas (Bouchard e Blair, 1999; SPEO, 2001; Fisberg et al., 2004). Deste modo, através de um organismo apropriado, a OMS estandardizou e interpretou valores de IMC no sentido de classificar sujeitos Ricardo M. T. Silva 46
  • 46. Revisão da Literatura com sobrepeso (25-30 kg.m-2) ou obesidade (> 30 kg.m-2). Essas definições estatísticas de referência fundamentam-se, também, na noção de risco aumentado de morbilidade e de mortalidade ligados ao excesso de peso (OMS/WHO, 1998). Sabe-se hoje que a gravidade da obesidade esta ligada não só ao grau como ao tipo morfológico da sua distribuição. Assim, relativamente à morfologia consideram-se dois subgrupos (WHO, 1998; SPEO, 2001): Obesidade ginóide ou periférica – a acumulação de gordura predomina na parte inferior do corpo – cinta, coxa e glúteos, manifesta-se, sobretudo, nas mulheres; Obesidade andróide ou central – a acumulação de gordura predomina no abdómen, tronco, cintura escapular e pescoço, ocorre principalmente nos homens. As investigações têm vindo a revelar que a deposição de gordura a nível abdominal parece estar particularmente associada a um maior risco de doenças metabólicas e cardiovasculares do que a obesidade geral. De facto, nos últimos anos tem-se demonstrado que algumas das complicações (hiperinsulinismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias, doença cardiovascular, doença vascular cerebral) estão associadas a obesidade andróide (Goran, 1998; Flegal, 1999; Lemieux, 2001). Alguns autores referem mesmo que a gordura abdominal excessiva é, por si só, um factor preditivo independente de doença, pois esta pode acompanhar complicações metabólicas, mesmo que a sobrecarga ponderal não seja muito elevada (Lemieux, 2001; Medina et al., 2002). Dados de praticamente todos os países industrializados, e até do Ricardo M. T. Silva 47
  • 47. Revisão da Literatura terceiro mundo, demonstram que uma grande proporção da população tem excesso de peso ou é obesa. Estima-se que exista um total de 250 milhões de adultos obesos em todo o mundo, o que representa cerca de 7% da população mundial adulta. Contudo, na maior parte dos países a prevalência de sobrepeso corporal (IMC entre 25 e 30 kg.m-2) é cerca de duas a três vezes superior à da obesidade, o que significa que quase um bilião de pessoas são obesas ou possuem sobrepeso corporal (Seidell, 2000). Cerca de 50% dos adultos nos Estado Unidos, Canadá e mais alguns países da Europa Ocidental possuem IMC de 25 kg.m-2 ou superior. Nos últimos anos a prevalência da obesidade severa duplicou nos Estados Unidos (Bouchard, 2000; Villareal et al., 2005). Actualmente, de acordo com o estudo da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), também no nosso país, entre 50 e 55% da população sofre de excesso de peso ponderal tendo 13 a 15% uma obesidade franca (SPEO, 2001). O aumento dos níveis de obesidade na população adulta repercute-se agora, na infantil e juvenil (Cole et al., 2000; Raustorp et al., 2004). Resultados da literatura revelam que, de facto, durante as ultimas três décadas, a incidência de crianças e adolescentes com obesidade aumentou drasticamente em todo o mundo, incluindo países subdesenvolvidos e regiões onde a cultura ocidental se está a propagar (Goran, 1998; Flegal, 1999; Silva et al., 2005). A obesidade, definida pela OMS como uma doença crónica, é hoje considerada a doença nutricional mais prevalente a nível mundial e a epidemia do século XXI. A prevalência da obesidade infantil tem aumentado muito nos Ricardo M. T. Silva 48
  • 48. Revisão da Literatura últimos anos na maioria dos países, não existindo de momento, pela ausência de um estudo transversal nacional representativo, a possibilidade de caracterizar com rigor a situação em Portugal (Rego et al., 2004). Correntemente, cerca de 22 milhões de crianças com menos de 5 anos são obesos (Goran, 1998; Deckelbaum e Williams, 2001). Para além desta elevada prevalência, também está descrito o facto da criança e o adolescente com adiposidade mais acentuada apresentarem fortes propensões a tornarem-se adultos obesos (Bar-Or et al., 1998; Dietz, 1998; Goran, 1998; Amorim Cruz, 2000; Walters et al., 2000; Rego et al., 2004; Mota et al. 2006). De acordo com alguns estudos, cerca de 50% dos adolescentes obesos tornam-se adultos com este estado patológico e cerca de 1/3 dos adultos obesos já o eram em crianças (Dietz, 1998). Outros investigadores referem valores mais elevados ao afirmar que 40% das crianças obesas e 70% de adolescentes obesos tornar-se-ão adultos obesos (Bar-Or et al., 1998). Como tal, uma criança sob estas condições é motivo de preocupação para os profissionais de saúde (Walters et al., 2000). A centralização em torno deste problema é ainda reforçada pelo facto da obesidade infantil e juvenil representar um nítido incremento de risco para a diabetes tipo 2, intolerância à glicose, maturação precoce, hipertensão e problemas ortopédicos (Brooks et al., 1996). Em crianças, a relação entre a distribuição de gordura e factor de risco de doença ainda não está tão clarificada como está na população adulta (Maffeis et al., 2001). No entanto, estudos epidemiológicos suportam a hipótese de que, também nas crianças e adolescentes, a distribuição de gordura a nível Ricardo M. T. Silva 49
  • 49. Revisão da Literatura abdominal poderá identificar sujeitos com maior risco para certas doenças, nomeadamente dislipidemias, concentrações adversas de insulina e hipertensão arterial (Higgings et al., 2001; Maffeis et al., 2001). Para Rego et al. (2004) é bem patente a dificuldade em abordar o tratamento da obesidade pediátrica, registando-se menos adesão e maior taxa de insucesso nos adolescentes. Assim sendo, este Grupo de Estudo da Obesidade Pediátrica registou as principais conclusões do 1º Simpósio Português sobre Obesidade Pediátrica que podem ser utilizadas como linhas gerais na prevenção e tratamento desta patologia: As organizações não governamentais deverão ter um papel activo no controle da publicidade associada à junk-food; Os programas de actividade física estruturados representam uma estratégia eficaz na promoção e incremento dos índices de actividade física diária e de prevenção do excesso de peso. O sucesso da adesão e permanência em programas de actividade física regular é influenciado e facilitado quando existe um envolvimento activo dos pais; Para se obterem benefícios para a saúde e numa situação de obesidade, provavelmente serão necessários 90 minutos de actividade diária de moderada a elevada intensidade. Sendo decisiva a actividade física no metabolismo da glicose, bem como da relação entre actividade física e agregação de factores de risco cardiovascular. Estes mesmos autores defendem que a obesidade infanto-juvenil deve começar a ser encarada no nosso país, à semelhança do que já acontece em Ricardo M. T. Silva 50
  • 50. Revisão da Literatura outros países, como aquilo que realmente ela é: uma doença crónica, com uma forte estabilidade da idade pediátrica para a idade adulta, e associada a elevada comorbilidade registada já em idade pediátrica. Ricardo M. T. Silva 51
  • 51.
  • 52. 3- MATERIAL E MÉTODOS
  • 53.
  • 54. Material e Métodos 3. Material e Métodos 3.1. Caracterização da Amostra A amostra do presente estudo foi constituída por 886 alunos de cinco locais diferentes do Norte de Portugal: Boticas (155), Braga (89), Marco de Canaveses (178), Mirandela (376) e Trofa (88). Os níveis de escolaridade dos indivíduos estão compreendidos entre o 6º e o 10º anos de escolaridade. As idades dos inquiridos variam entre os 12 e os 19 anos. O quadro 2 apresenta o número e a idade dos alunos por sexo e na totalidade da amostra. Quadro nº2 Distribuição dos sujeitos por idade Idade dos Alunos Sexo Média DP Mínimo Máximo A.V. Masculino 14,50 1,470 12 19 12-19 Feminino 14,46 1,550 12 19 12-19 Total 14,48 1,511 12 19 12-19 No gráfico seguinte, apresentamos as características da amostra no que diz respeito à sua distribuição pelos diferentes anos de escolaridade. Figura nº1 Distribuição dos sujeitos por anos de escolaridade 40 30 Percentagem 20 10 0 6ºano 7ºano 8ºano 9ºano 10ºano Ricardo M. T. Silva 55
  • 55. Material e Métodos 3.2. Índice de Massa Corporal À nossa amostra foram aplicados os pontos de corte da definição de excesso de peso e obesidade de Cole et al. (2000), para as diferentes idades e para cada género. Devido ao facto de se encontrar uma baixa percentagem de obesos, optámos por adoptar a utilização de apenas dois grupos, num incluímos os inquiridos da nossa amostra com sobrepeso e obesidade a que demos o nome de “Excesso de peso”, os restantes foram incluídos no grupo denominado de “Peso normal”. 3.3. Actividade Física Para a avaliação da actividade física foi utilizado um questionário desenvolvido por Telama et al. (1997) que já foi aplicado à população portuguesa por Ledent et al. (1997). Este questionário pretende identificar as práticas físicas e desportivas extracurriculares dos inquiridos, bem como a sua frequência e intensidade. Com a pontuação obtida nas respostas a estas questões foi definido um índice de actividade física, para nos permitir determinar o nível geral de participação em actividades físicas dos inquiridos, apresentando uma avaliação de 0 a 22 que resultam do somatório dos pontos obtidos nas cinco questões existentes no questionário. O índice obtido foi validado por Raitakari et al. (1994). Com os resultados obtidos construíram-se quatro grupos distintos de actividade física (Ledent et al., 1997). Assim, os inquiridos que apresentavam um índice de actividade física inferior ou igual a cinco, foram classificados Ricardo M. T. Silva 56
  • 56. Material e Métodos como “Sedentários”; aqueles que se situaram de seis a dez, como “Pouco activos”; os que se encontravam com valores de onze a quinze correspondem ao nível “Moderadamente activos”; e os que se situam acima do índice quinze correspondem ao nível “Muito activos”. De acordo com a nossa amostra, a maioria dos inquiridos incluíam-se no grupo dos “Moderadamente activos”. O grupo dos “Pouco activos” e “Muito Activos” apresentavam aproximadamente a mesma percentagem (26,7% e 26,1%), pelo que decidimos agrupar o grupo “Sedentários” (3,2%) e “Pouco activos” num só, seguindo esta última terminologia. 3.4. Frequência Alimentar Para analisar a frequência alimentar diária e quais as refeições efectuadas, foi adicionada uma pergunta ao questionário utilizado para a avaliação da actividade física. No questionário poderiam ser seleccionadas seis refeições (pequeno- almoço, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia), não sendo levados em consideração eventuais “snacks” entre estas mesmas refeições. 3.5 Procedimento na recolha de dados Os dados foram recolhidos através de um questionário de auto- preenchimento aplicado aos alunos na aula de Educação Física, entre Fevereiro e Março de 2006. Antes de entregar o questionário, foi explicada a razão do nosso estudo e garantido o anonimato no preenchimento e tratamento do mesmo. 3.6. Procedimentos estatísticos Na análise estatística dos dados foi utilizado o programa SPSS Ricardo M. T. Silva 57
  • 57. Material e Métodos (Statistical Package for the Social Sciences) versão 14.0, para o Windows, com os procedimentos estatísticos que a seguir se descrevem. As frequências e as percentagens das variáveis sócio-demográficas como o género, a idade, nível de escolaridade e escola a que pertencem foram calculadas através da estatística descritiva. Utilizamos na estatística descritiva o crosstabs para calcularmos a percentagem de indivíduos, de ambos os géneros, com excesso de peso e com peso normal em diferentes grupos etários. As percentagens dos níveis de actividade física e do número de refeições nos diferentes grupos de IMC, para os dois géneros, foi calculada da mesma forma. Para determinar as diferenças entre as proporções de indivíduos nos diferentes grupos utilizou-se o teste do Qui-Quadrado (X2). A correlação entre o IMC, o índice de AF, o género e o número de refeições foi calculada a partir do coeficiente de correlação de Spearman. O valor de significância estatística foi colocado em ρ≤0,05. Ricardo M. T. Silva 58
  • 58. 4- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
  • 59.
  • 60. Apresentação dos Resultados 4. Apresentação dos Resultados No quadro seguinte apresentam-se as medidas descritivas da amostra estudada, referentes à idade, ao índice de massa corporal, ao índice de actividade física e ao número de refeições. Quadro nº3 Características da amostra Idade Peso altura IMC AF Número de (anos) (Kg) (metros) (Kg.m-2) refeições Média 14,48 54,67 1,67 20,92 1,96 4,55 Moda 13,00 55,00 1,55 20,20 2,00 5,00 Desvio Padrão 1,51 12,10 1,75 3,57 0,75 0,98 Mínimo 12,00 19,00 1,30 0,02 1,00 1,00 Máximo 19,00 125,4 53,50 41,52 3,00 6,00 4.1. Índice de Massa Corporal (IMC) No quadro 4 podemos verificar os resultados do IMC (com dois pontos de corte) em ambos os géneros. Quadro nº4 Associação do IMC (2 pontos de corte) por género IMC (2 pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso Feminino 53,90% 44,40% 52% % IMC Masculino 46,10% 55,60% 48% Masculino Nº 323 100 423 % 76,40% 23,60% 100% Feminino Nº 378 80 458 % 82,50% 17,50% 100% Total amostra Nº 701 180 881 % 79,57% 20,43% 100% X2= 5,155 ρ=0,023 Ricardo M. T. Silva 61
  • 61. Apresentação dos Resultados Verificamos que, na totalidade da amostra, temos 701 indivíduos com peso normal (79,57%) e 180 com excesso de peso (20,43%). Dentro dos grupos “género” verificamos que 23,60% de indivíduos com excesso de peso são rapazes e 17,50% raparigas. No que diz respeito ao IMC da amostra total, constatamos que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de raparigas é superior à de rapazes (53,90% vs. 46,10%), e no grupo “excesso de peso” valores de 44,40% vs. 55,60%. O quadro 5 apresenta a análise correlacional do IMC com o género. Quadro nº5 Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o género. IMC (2 pontos corte) R 0,076 Género ρ 0,012 Como se pode verificar, existe uma correlação positiva fraca, mas estatisticamente significativa, com o género. 4.2. Actividade Física No quadro 6 podemos verificar os resultados do índice de AF para a amostra total. Quadro nº6 Índice AF Percentagem Pouco activos 30,00 Moderadamente activos 44,10 Muito activos 25,80 Total amostra 100,00 Ricardo M. T. Silva 62
  • 62. Apresentação dos Resultados Observamos que, aproximadamente, 45% (44,10%) da amostra total é “moderadamente activa”, 30% é “pouco activa” e cerca de 26% (25,80%) é “muito activa”. O quadro 7 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC e género para o grupo dos “pouco activos”. Quadro nº7 Associação do índice de AF pelo IMC e género – Pouco activos Índice AF IMC (2pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso Feminino 79,30% 60,00% 75,30% % IMC Pouco activos Masculino 20,70% 40,00% 24,70% X2=8,732 ρ=0,003 No que diz respeito aos grupos de pontos de corte do IMC, constatamos que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de raparigas é superior à de rapazes (79,30% vs. 20,70%), sendo encontrados valores no grupo “excesso de peso” de 60% vs. 40%. O quadro 8 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC para o mesmo género no grupo dos “pouco activos”. Quadro nº8 Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Pouco activos Índice AF IMC (2pontos de corte) Total Feminino Peso normal Excesso de peso N 165 33 198 % 83,30% 16,70% 100% Pouco activos Masculino N 43 22 65 % 66,20% 33,80% 100% Total 208 55 263 X2=8,732 ρ=0,003 Verificamos que, dentro dos grupos “género” a percentagem de indivíduos com excesso de peso é superior nos rapazes relativamente às Ricardo M. T. Silva 63
  • 63. Apresentação dos Resultados raparigas (33,80% vs. 16,70%). Ou seja, quase 34% dos rapazes pouco activos têm excesso de peso, enquanto que perto de 17% das raparigas apresenta excesso de peso. O quadro 9 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC e género para o grupo dos “moderadamente activos”. Quadro nº9 Associação do índice de AF pelo IMC e género – Moderadamente activos Índice AF IMC (2pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso Feminino 54,2% 43,9% 52,1% Moderadamente activos %IMC Masculino 45,8% 56,1% 47,9% X2=2,763 ρ=0,096 No que diz respeito aos grupos de pontos de corte do IMC, verificamos que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de raparigas é superior à de rapazes (54,20% vs. 45,80%), sendo encontrados valores no grupo “excesso de peso” de 43,90% vs. 56,1%. O quadro 10 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC para o mesmo género no grupo dos “moderadamente activos”. Quadro nº10 Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Moderadamente activos Índice AF IMC (2pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso Feminino N 167 36 203 % 82,30% 17,70% 100% Moderadamente activos Género Masculino N 141 46 187 % 79,00% 21,00% 100% Total 308 82 390 X2=2,763 ρ=0,096 Observamos que, dentro dos grupos “género” a percentagem de indivíduos com excesso de peso é mais uma vez superior nos rapazes relativamente às raparigas (21% vs. 17,70%). Ricardo M. T. Silva 64
  • 64. Apresentação dos Resultados No quadro 11 podemos verificar a associação do índice de AF pelo IMC e género para o grupo dos “muito activos”. Quadro nº11 Associação do índice de AF pelo IMC e género – Muito activos Índice AF IMC (2pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso Feminino 24,90% 25,60% 25,00% Muito activos %IMC Masculino 75,10% 74,40% 75,00% X2=0,010 ρ=0,922 No que diz respeito aos grupos de pontos de corte do IMC, constatamos que dentro do grupo “peso normal” a percentagem de rapazes é superior à de raparigas (75,10% vs. 24,90%), sendo encontrados valores no grupo “excesso de peso” de 74,40% vs. 25,60%. Estes valores para o grupo de pontos de corte de IMC estão dependentes do número de rapazes no grupo dos “muito activos” ser três vezes superior ao de raparigas (171 vs. 57). O quadro 12 apresenta a associação do índice de AF pelo IMC para o mesmo género no grupo dos “muito activos”. Quadro nº12 Associação do índice de AF pelo IMC no mesmo género – Muito activos Índice AF IMC (2pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso Feminino N 46 11 57 % 80,70% 19,30% 100% Muito activos Género Masculino N 139 32 171 % 81,30% 18,70% 100% Total 185 43 228 X2=0,010 ρ=0,922 Verificamos que, dentro dos grupos “género” a percentagem de indivíduos com excesso de peso é ligeiramente superior, pela primeira vez, nas raparigas relativamente aos rapazes (19,30% vs. 18,70%). Ricardo M. T. Silva 65
  • 65. Apresentação dos Resultados O quadro 13 apresenta a análise correlacional do índice de AF com o género. Quadro nº13 Coeficiente de correlação de Spearman entre a AF e o género. Índice AF Coeficiente correlação Rho de Spearman 0,377 Género ρ 0,000 Como se pode verificar, existe uma correlação positiva e estatisticamente significativa, com o género. No quadro seguinte podemos observar a análise correlacional do índice de AF com o IMC. Quadro nº14 Coeficiente de correlação de Spearman entre o IMC e o índice de AF. Índice AF Coeficiente correlação -0,018 IMC Rho de Spearman (2pontos corte) ρ 0,296 Existe uma correlação negativa entre o índice de AF e o IMC contudo, não é estatisticamente significativa. 4.3. Frequência Alimentar No quadro 15 podemos verificar os resultados do número de refeições total para toda a amostra. Quadro nº15 Número de refeições total Frequência Percentagem ≤3 118 13,40 4 277 31,30 5 352 39,80 >5 138 15,60 Total 885 100,00 1: X2=2,000 ρ=0,368; 2: X2=6,294 ρ=0,043; 3: X2=0,708 ρ=0,702; 4: X2=0,148 ρ=0,929; 5: X2=2,568 ρ=0,277; 6: X2=4,089 ρ=0,129. Ricardo M. T. Silva 66
  • 66. Apresentação dos Resultados Aproximadamente 40% (39,80%) da amostra total realiza cinco (5) refeições diárias, 31% (31,30%) quatro (4) refeições diárias, enquanto que nos extremos temos seis indivíduos (0,70%) que realizam apenas uma refeição diária e quase 16% (15,60%) que realizam seis refeições diárias. No quadro 16 observamos a quantidade de indivíduos que realiza cada refeição. Quadro nº16 Refeições discriminadas Frequência Percentagem Pequeno-almoço n=885 não 78 8,80 sim 807 91,20 Lanche da manhã n=886 não 40,50 359 sim 527 59,50 Almoço n=886 não 1,90 17 sim 869 98,10 Lanche da tarde n=886 não 16,90 150 sim 736 83,10 Jantar n=886 não 1,70 15 sim 871 98,30 Ceia n=886 não 666 75,20 sim 220 24,80 Verificamos que mais de 90% dos indivíduos tomam o “pequeno- almoço”, o “almoço” e o “jantar” (respectivamente 91,20%; 98,10% e 98,30%). Ricardo M. T. Silva 67
  • 67. Apresentação dos Resultados As refeições realizadas pela menor percentagem de indivíduos são a “ceia” e o “lanche da manhã” (respectivamente 24,80% e 59,50%). O quadro 17 apresenta a associação do número de refeições realizadas por ponto de corte do IMC (peso normal ou excesso de peso). Quadro nº17 Associação do nº refeições por ponto de corte IMC IMC (2pontos de corte) Total Peso normal Excesso de peso ≤3 11,4% 21,2% 13,5% Número de 4 % IMC 30,6% 33,9% 31,3% refeições total ≥5 58% 45% 55,4% Total 79,5% 20,5% 100,0% X2=22,935 ρ=0,000 Verificamos que o grupo dos sujeitos que realizam 5 ou mais refeições é o único em que a percentagem de indivíduos com “excesso de peso” é inferior à dos que apresentam “peso normal” (45% vs. 58%). O quadro seguinte apresenta a análise do IMC (peso normal ou excesso de peso) detalhada por número de refeições. Quadro nº18 Análise do IMC por nº refeições IMC (2pontos de corte) Peso normal Excesso de peso 1 50,0% 50,0% 2 46,2% 53,8% 3 71,7% 28,3% Número de refeições % 4 77,8% 22,2% total 5 81,7% 18,3% 6 87,7% 12,3% Total 79,5% 20,5% 100,0% X2=22,935 ρ=0,000 Ricardo M. T. Silva 68
  • 68. Apresentação dos Resultados Como se pode observar no quadro 18, a percentagem de indivíduos com excesso de peso diminui à medida que aumenta o número de refeições. No quadro 19 observamos a análise do número de refeições por grupo de índice de AF. Quadro nº19 Análise do nº refeições por grupo de índice de AF índice AF Total Pouco activos Moderadamente Muito activos activos 1 0,4% 1,0% 0,4% 0,7% 2 2,3% 1,5% 0,4% 1,5% Número de 3 12,4% 11,0% 10,1% 11,2% refeições % AF 4 32,0% 32,0% 29,4% 31,3% total 5 43,2% 39,1% 36,8% 39,8% 6 9,8% 15,3% 22,8% 15,6% % Total 30,1% 44,2% 25,8% 100,0% X2=19,723 ρ=0,032 Observamos que à medida que aumenta o número de refeições, vai aumentando também a percentagem de indivíduos “moderadamente activos” (1,0% até 39,1%) e “muito activos” (0,4% até 36,8%). A excepção acontece para o grupo que realiza seis (6) refeições. No entanto, o grupo que realiza seis (6) refeições, é o único onde a percentagem de indivíduos “muito activos” é superior à dos “pouco activos” e “moderadamente activos”. No quadro seguinte, podemos observar a análise correlacional do número de refeições total com o índice de AF e o IMC. Quadro nº20 Coeficiente de correlação de Spearman entre o número de refeições total com o índice de AF e o IMC. IMC (2pontos índice AF de corte) Coeficiente correlação -0,134 0,093 Rho de Spearman Nº refeições total ρ 0,000 0,003 Ricardo M. T. Silva 69
  • 69. Apresentação dos Resultados Verifica-se que existe uma correlação negativa entre o número de refeições total e o IMC, enquanto que entre o número de refeições total e o índice de AF encontramos uma correlação positiva, sendo ambas estatisticamente significativas. Estes dados sugerem que quanto maior for o número de refeições menor será o IMC, e que quanto mais activos forem os indivíduos maior será o número de refeições diárias efectuadas. Ricardo M. T. Silva 70
  • 70. 5- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS