1) O documento discute a necessidade de se reverter o rompimento entre educação e negócios, diz Ken Robinson.
2) Robinson afirma que o sistema educacional destrói talentos e desperdiça potencial humano.
3) Ele defende uma revolução na educação para personalizá-la e preparar melhor os estudantes para os desafios do futuro.
EDUCAÇÃO EMPRENDEDORA PARA JOVENS COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL – FOMENT...
Destruindo talentos
1. AltA gerênciA
É preciso
reverter o
rompimento
entre negócios
e educação com
urgência, diz
ken robinson,
em entrevista
exclusiva
A entrevista é de Adriana Salles
gomes, editora-executiva de
HSM MAnAgeMent.
“DESTRUÍMOS
TALENTOS”
Foto: Divulgação
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2. c omo diagnosticou recentemente Carlos Arruda, espe- Sabe o que mudou essencialmente? Ficou muito mais
cialista em competitividade da Fundação Dom Cabral, o forte a ideia de que temos a tendência de fazer pouco uso
Brasil não tem capacidade humana para se sustentar como institucional do talento das pessoas e que assistimos a um
um país desenvolvido. A raiz disso pode ser distinta do que enorme desperdício de potencial humano e possibilidades.
pensa a maioria, contudo, pois talentos não faltam; eles são
sistematicamente destruídos. É o que diz sir Ken Robinson, Mas as empresas entendem de fato que há esse desperdício
uma das maiores autoridades mundiais em inovação e de potencial humano e que ele afeta os negócios?
educação, não apenas sobre o Brasil, mas sobre boa par- Esse desperdício afeta a economia inteira! A educação das
te do planeta. Esse britânico que migrou para a Califórnia pessoas e a economia são coisas intimamente ligadas e
afirma que, pior do que isso, a relação entre a educação e essa área vai muito mal. Vejo que algumas empresas estão
os negócios foi rompida e o resultado pode ser desastroso. começando a entender a gravidade do problema. Um pon-
Em entrevista exclusiva à editora-executiva Adriana to favorável ao mundo dos negócios é que, nele, as pessoas
Salles Gomes, Robinson alerta para uma revolução silen- estão sinceramente interessadas na inovação, apenas não
ciosa (indesejável para as empresas) já em curso, diz que sabem como promovê-la.
a solução está na personalização da educação, compara a Por anos e anos as empresas partiram do pressuposto de
inovação com o rock e recomenda aos líderes que se con- que, ao serem formalmente instruídas, as pessoas terão as
centrem em criatividade, entre outros conselhos práticos. habilidades, aptidões e competências de que os negócios
precisam. Os pais, por sua vez, também presumiam que,
Você escreveu o livro Out of Our Minds 11 anos atrás e agora uma vez educados, seus filhos teriam emprego e renda. Só
o está relançando com grande impacto —no Brasil, será in- que essa relação entre negócios e educação está rompida;
titulado libertando o Poder criativo. Quero saber se quem nós destruímos talentos.
leu a primeira edição precisa ler essa também...
Eu digo às pessoas que leram a primeira edição que a jo- São fortes essas afirmações, sir Ken.
guem fora e comprem esta [risos]. É um livro completa- Sim, e são absolutamente realistas. As escolas estão sendo
mente novo. Muito do que falei em 2001 ainda é verdade, sufocadas com essas exigências de testes padronizados e,
só que aconteceram milhares de coisas nesses anos que por isso, passam uma visão estreita de habilidades. O re-
não podiam ser previstas, da recessão mundial aos smart- sultado é que os futuros adultos perdem o contato com sua
phones, iPads e redes sociais. Se um livro é sobre a neces- criatividade, ironicamente a habilidade mais necessária às
sidade e a forma de mudar, tudo isso pesa. empresas na atualidade.
O sistema de educação é baseado em uma série de mal-
A economia e a tecnologia influenciam tanto assim? -entendidos entre as comunidades educacionais e as de
Nem é a tecnologia em si que influencia, mas a maneira negócios —e os propósitos comuns de ambas.
como as pessoas a usam, que é imprevisível. Quando o
Twitter foi lançado alguns anos atrás, sinceramente, ele como desfazer o nó? Por exemplo, no caso do Brasil, testes
me pareceu a mais ridícula das ideias. Mas, nos últimos padronizados são a regra absoluta, no acesso ao ensino su-
cinco anos, virou esse fenômeno global, tomando parte perior, na métrica de desempenho enem.
em revoluções e tendências de mercado, e ajudou a mu- É necessário fazer uma revolução na educação. Uma das
dar a forma como as pessoas se comunicam e os assun- razões é que o mundo já se encontra em estado de revolu-
tos de que tratam. Até eu me converti ao Twitter. ção, pois vem mudando rápida e profundamente. Os desa-
As ferramentas da internet e os games podem ajudar fios que nossos filhos enfrentarão não têm precedentes, seja
muito a excitar a imaginação e a energizar crianças e jo- na área de energia, nas questões culturais, nos alimentos
vens, o que é urgente. Agora, não substituem as pessoas —temos epidemias de inanição e obesidade ao mesmo tem-
na educação. Hans Zimmer, que é um dos compositores po! Há uma gigantesca e dificílima agenda para a humani-
de músicas para filmes mais bem-sucedidos do mundo dade enfrentar no futuro próximo. O que permitirá que li-
todo —e curiosamente foi expulso de cinco escolas—, me dem com isso? Nos anos 1920, H.G. Wells, escritor de ficção
contou recentemente que compõe todas suas músicas no científica, dizia: “A civilização está em uma corrida entre
computador, mas faz questão de gravá-las no estúdio com a educação e a catástrofe”. A educação o permitirá, só que
músicos tocando, porque nenhum software substitui a revolucionada. E a revolução já está em curso; como todas
vitalidade e a sensibilidade humanas. Eu tinha tudo isso as revoluções, começou embaixo e não em cima.
a dizer e muito mais. Aprendi muito nesses dez anos de
intenso contato com as empresas, por exemplo; isso enri- O sonho revolucionário da maioria das empresas no Brasil é
queceu demais minha experiência, que era principalmente o modelo educacional sul-coreano. O que você pensa dele?
com escolas, universidades e governos. E também vir para O modelo é de diversos países da Ásia, como Taiwan, Chi-
a Califórnia foi um grande aprendizado. na, e aconteceu no Japão também. Seu princípio é o de pro-
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3. AltA gerênciA
mover uma hipercompetição entre as crianças, fazendo-as nam e o que fazem na sala de aula, estarão revolucionando
esforçar-se para absorver mais informações, passar em pro- o sistema educacional. É exatamente assim que funciona a
vas, fazer tarefas. Acho que é um engano terrível, pois se ba- mudança social. Quando eu era jovem, na Inglaterra, todos
seia numa regra válida no século 20 que agora expirou: “Se fumavam e ninguém usava cinto de segurança em carro.
fizer tudo certo na escola e na universidade, você arrumará Hoje, quase ninguém fuma e todos usam cinto. Uma vez que
emprego”. Por que expirou? Porque isso só funciona quan- os hábitos mudam e uma nova ideia se torna vital, ela se
do poucas pessoas têm diploma universitário. E, além de espalha e revoluciona a cultura rapidamente.
não haver mais essa garantia, os profissionais que chegam
às empresas não têm a competência de que elas precisam, As empresas podem ter um papel a cumprir aí? Você costuma
porque pagaram um preço enorme por essa obsessão com- falar em parcerias criativas entre empresas e escolas...
petitiva. Cada criança que passou por esse tipo de sistema Gosto de citar a iniciativa “capitalismo consciente”, que par-
e não conseguiu ir para a universidade certa tornou-se um tiu do empresário John Mackay, da varejista Whole Foods
ser humano frustrado, ansioso, deprimido. Então, desperdi- Market, e vem atraindo cada vez mais empresas. Seu racio-
çamos, ou destruímos, uma quantidade incomensurável de cínio é de que, apesar de as companhias serem criadas para
talentos em nome de um propósito que não é mais verdade. gerar lucros, elas já podem escolher entre formas éticas e
não éticas de fazê-lo. No futuro, tal-
vez precisem ser éticas, desenvol-
vendo novos papéis ligados a res-
ponsabilidade e sustentabilidade em
“a insatisfação com a educação conjunto com as comunidades. Isso
vale tanto para a educação criativa
tradicional leva as pessoas dentro da própria empresa, como
faz o Google, por exemplo, quanto
para as tecnologias virtuais” para sua conexão com a comunida-
de externa, que pode ser feita com as
escolas. Nos EUA, há toda uma rede
de escolas chamadas Big Picture
Schools, em que as crianças podem
Você falou em revolução. Que sinais podemos ver? passar dois dias por semana trabalhando em organizações
Um dos motivos pelos quais as pessoas estão usando tanto que estão fazendo o que lhes interessa, como estúdios de
as tecnologias virtuais é sua insatisfação com a educação design, clínicas veterinárias, delegacias de polícia etc. E isso
tradicional. Preferem aprender sozinhas online. E, quanto está provando ser muito eficaz. Além disso, muitas empre-
mais baratos ficarem os computadores e aparelhos móveis, sas mantêm programas internos de educação, contabilizan-
mais gente fará isso até tomar o controle da própria educa- do isso como parte do trabalho, e é muito bom. A maioria vê
ção, sem deixar espaço para as instituições. como investimento, não despesa, e não corta o orçamento
A mudança de paradigma genuína acontece assim. No na hora do aperto.
século 19, a cidade de Londres dependia de cavalos, que
puxavam carruagens e carroças, e havia um pânico geral Que reforma você sugeriria para o governo brasileiro?
por causa de toda a urina dos animais acumulada nas ruas, Certamente eu aconselharia o Brasil a olhar menos para a
contribuindo para espalhar doenças. As pessoas não acha- Coreia e mais para a Finlândia, embora entenda que é di-
ram uma forma de se livrar da urina, mas se livraram dos fícil comparar um país pequeno com um grande. Observe
cavalos —quando inventaram o carro. o sistema PISA, da OCDE [Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico], que compara a performan-
Vão se livrar das escolas... Algum governo já acusa o golpe? ce de alunos de diferentes países em matemática e ciências,
Parece que não, tanto que os governos reagem no sentido particularmente: a Finlândia sempre se destaca no topo das
contrário, porque estreitam ainda mais a visão nas escolas, avaliações PISA, mas não pratica testes padronizados, nem é
aumentam sua dependência de testes padronizados e des- obcecada por matemática e ciências. Reforça humanidades,
personalizam cada vez mais a educação, tornando-a um artes, educação física, projetos práticos, jogos e, por incrível
processo ainda mais industrial. Eles estão fechando os olhos. que pareça, vai muito bem em ciências e matemática. En-
quanto a taxa de desistência da escola nos Estados Unidos
Anarquia na educação soa como fazer justiça com as próprias fica em torno de 30%, na Finlândia é zero.
mãos... É saudável ficar sem instituições? Há como reagir?
Sempre digo a professores e diretores de escolas, pelos quais Por conta da necessidade de inovar, o Brasil também anda
tenho grande respeito, que, se mudarem o jeito como ensi- muito preocupado com a falta de interesse das crianças
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4. “DESTRUÍMOS
TALENTOS”
em matemática e ciências. Humanidades lhes interessam
muito mais. O que explica o caso finlandês?
Em primeiro lugar, é preciso entender que criatividade e
inovação não dependem nem só das ciências, nem só das
o ritual
importa,
artes, mas de como as duas áreas trabalham em conjun-
to; hoje o crescimento econômico de um país depende de
múltiplos talentos. Agora, há um estudo muito interessan-
te do professor Vivek Wadhwa [autoridade em inovação do
Vale do Silício] sobre o histórico educacional dos líderes de por Ken Robinson
cerca de 650 empresas de alta tecnologia do Vale. Contra o
senso comum, 60% ou mais deles têm formação em artes
ou humanidades, e mesmo os cientistas que lideram essas
empresas foram para escolas com método alternativo, como
Montessori, quando eram crianças. Curioso, não?! Como é tornar-se um sir? Você vai ao Palácio de Bu-
ckingham, em Londres, curva-se diante da Rainha
Muito curioso! Você conhece o educador brasileiro Paulo Elizabeth II e ela coloca uma espada em seu ombro.
Freire? talvez por ele ser associado à esquerda, a classe em- É grandioso! Eu fiquei muito orgulhoso, por três mo-
presarial não presta muita atenção a suas lições... tivos: primeiramente, porque inspirar tanta confian-
Sou um grande admirador do trabalho de Paulo Freire e ele ça nas pessoas é um sentimento maravilhoso —você
me inspirou muito quando eu era estudante. Suas preocu- não pode se candidatar a ser “sir”, isso tem de partir
pações com a necessidade de cultivar talentos e habilidades da vontade alheia; em segundo lugar, porque enchi
individuais e educar a sensibilidade coincidem exatamente minha mãe de orgulho —ela estava com 84 anos,
com o que falo. Também compartilho suas preocupações morreu dois anos depois e creio que morreu feliz,
com essa institucionalização da educação que aumenta as porque, para sua geração, a Rainha tem uma impor-
diferenças entre os estudantes. Se precisamos de múltiplos tância significativa; em terceiro, porque a Rainha é
talentos, precisamos de todos. Todas as crianças nascem uma pessoa extraordinária, muito querida.
com talentos maravilhosos; estes só não podem ser destruí- Rituais e mitologias são extremamente importan-
dos pelo sistema, e sim alavancados. tes. Eu era estudante nos anos 1960 e 1970 e muitos
Agora, devo dizer que o Brasil não está sozinho nesse en- de meus colegas não queriam ir à cerimônia de gra-
gano: recentemente o presidente Obama falou sobre pro- duação, achando que era ultrapassada e um tanto
mover a inovação e criatividade no sistema educacional dos ridícula. Estavam errados. Esses ritos de passagem
EUA, ligando isso ao crescimento econômico, e referiu-se celebram conhecimentos e conquistas e nos propor-
apenas a ciência, tecnologia, engenharia e matemática. É cionam um momento de pausa e reflexão, rodeados
um erro gigantesco. No Reino Unido, em 1999, o governo de pessoas que amamos e/ou admiramos, para en-
me pediu para desenvolver uma estratégia para a criativi- tender melhor nossos sentimentos, preparando-nos
dade no sistema educacional, o que virou o relatório All Our para os próximos conhecimentos e conquistas na
Futures, e já naquela época montamos um grupo de 15 pes- longa busca que é nossa vida. É como a jornada do
soas que incluía desde músicos, escritores e dançarinos até herói descrita por Joseph Campbell, e o verdadeiro
economistas, cientistas e líderes empresariais. benefício desses ritos de passagem é espiritual —no
sentido de nos deixar cientes de nossas conquistas e
Dizem que a gente muda por duas coisas: amor ou medo. Os nos fazer sentir orgulho.
gestores poderão começar a agir por uma dessas emoções? Acredito que as empresas também devam utilizar
Temos uma grande chance de os gestores, e as pessoas em rituais para manter uma cultura saudável de inovação,
geral, agirem, porque também são pais, preocupados com o com o cuidado para que esses rituais não sejam artifi-
futuro de seus filhos. Estou, aliás, escrevendo um novo livro, ciais, mas tenham significado. Eu estive em Las Vegas
a ser lançado em 2013, sobre como achar “o elemento”, essa há pouco tempo, em uma empresa chamada Zappos,
paixão que todos devem procurar em si, seu talento natural. que é muito bem-sucedida, com uma cultura interna
A primeira regra é que não adianta nem os pais nem a es- maravilhosa, e a cada trimestre eles fazem um ritual
cola forçarem uma criança a aprender matemática. Se ela desses, que é uma reunião chamada “All Hands” [To-
não quer, é por achar entediante ou muito difícil. A forma das as Mãos], em que juntam todos os colaboradores
de resolver o problema é investir em professores e recursos em um grande teatro, para celebrar sinceramente as
melhores para a educação da ciência, e não empurrá-la ex- conquistas das pessoas, financeiras e de outros tipos.
cluindo outras matérias. Para comprometer as crianças com
a educação, você tem de se comprometer pessoalmente com
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elas, a fim de energizá-las. Elas querem ser estrelas do rock nos. Mas ela foi muito pragmática e isso era prioridade nos-
ou jogadores de futebol porque isso excita sua imaginação. sa. Não digo que sempre acertamos, porque é um processo
Um amigo meu, o músico de rock Brian Cox, agora é pro- e requer muito improviso. Mas o fato é que o que funciona
fessor de astronomia em Manchester, na Inglaterra, e está para uma criança não funciona necessariamente para ou-
apresentando uma série de documentários na BBC sobre tra. Quando viemos para a América, tentamos colocá-los na
astronomia. Ele se parece com um astro de rock, mas sua mesma escola e tivemos de mudar quando vimos que não
outra paixão é, e sempre foi, astronomia. O fato de ele fa- funcionava para a Kate. Podíamos ver a luz indo embora de
lar apaixonadamente sobre astronomia na BBC aumentou seus olhos e a tiramos de lá para recuperar seu brilho.
enormemente o número de inscrições para o curso univer-
sitário de astronomia. Ele exci- como resumir as recomenda-
tou a imaginação dos jovens. O ções do robinson report?
empresário Peter Diamandis Sua essência vai no sentido
está tão interessado em via- de criar um ambiente onde as
gens no espaço porque, quan-
do criança, sua imaginação foi
“sempre defendo pessoas se sintam confiantes
para tentar, onde novas ideias
ativada pela série de TV Star
Trek [Jornada nas Estrelas]. Eu
a personalização surgirão e começarão a flo-
rescer. Inovação, assim como
sempre defendo a personali-
zação da educação, tanto pela
da educação; educação, é um processo or-
gânico, não mecanizado. Con-
percepção de quão diferentes
nossas crianças e seus talentos
deve ser vista siste em dar às pessoas um
senso de inspiração, de possi-
são como pelo reconhecimen-
to da importância de educar
como uma arte” bilidades, de encorajamento e,
principalmente, de permissão.
—a educação precisa ser vista Trabalhei com os ministros
como uma forma de arte. da Educação, Indústria e Co-
mércio e Cultura da Irlanda
Você tem dois filhos. como foi sua “educação-arte” com eles? do Norte para desenvolver um plano de implementação
A primeira observação é que eles são completamente di- do relatório chamado Unlocking Creativity [Destrancando
ferentes em termos de talentos e interesses, o que é parte a Criatividade]. Sei que muitas recomendações foram exe-
biológico, parte cultural. Essa é uma das razões pelas quais cutadas, sim; contaram-me que o relatório gerou cerca de
precisamos obrigatoriamente personalizar a educação. 160 milhões de libras de investimento na época e levou a
muitos novos negócios. Agora, Oklahoma [EUA] é que quer
isso vale para programas de desenvolvimento de empresas? aplicar essas ideias para se tornr “o estado da criatividade”.
Sem dúvida, se a empresa está interessada em inovação, e
não apenas em eficiência. no contexto corporativo, a questão também é a permissão?
Pense em cultura organizacional como hábitos mais habitat
Voltemos a seus filhos... —hábitos são as formas de comportamento e os valores que
Hoje, meu filho, James, tem 27 anos e minha filha, Kate, 23, as encorajam, a maneira como a organização é gerenciada, e
mas, quando eram crianças, minha esposa e eu estávamos o habitat é o local físico em que as pessoas trabalham. Todas
sempre prontos a tentar achar a melhor escola para cada essas coisas têm grande impacto no que as pessoas sentem
um individualmente. Minha filha, por exemplo, era muito como permitido. Se está na cultura da empresa, a inovação é
menos impelida por trabalhos acadêmicos convencionais, permitida. Se não está, não é. A maioria das companhias está
porém mostrava ser ótima escritora, dançarina, com exce- interessada em inovação, mas esta não se encontra em seus
lente gosto para design e muito hábil no relacionamento hábitos e habitat, não é permitida. E não funciona.
com as pessoas. Já meu filho é um ótimo ator, brilhante com
os idiomas, mas também muito interessado em teorias e tra- Uma organização hierárquica comporta inovação? estudos
balhos acadêmicos convencionais, com uma mente voltada antropológicos detectam muita hierarquia no Brasil.
para a abstração. Então, mais por mérito de minha esposa, Hierarquia serve a quem busca eficiência e status quo, mas
devo dizer, sempre tentamos colocá-los nos ambientes que não se surpreenda se não houver inovação nesse ambiente.
fossem melhores para eles, e que eram distintos. Inovação requer múltiplas lideranças, não uma única, como
ocorre na hierarquia. É como o rock; não há apenas um jeito
isso me parece quase heroico! Sua mulher trabalhava fora? de fazer rock, mas muitos, e essa variedade é fundamental.
Sim, era professora de teatro em uma escola de Liverpool; Vale a pena entender a relação entre a imaginação, a cria-
dava aulas para crianças de 10 anos em uma sala de 42 alu- tividade e a inovação numa cultura organizacional. A ima-
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6. AltA gerênciA “DESTRUÍMOS
TALENTOS”
SAIBA MAIS SOBRE
KEN ROBINSON
Em 1998, o educador Ken Robinson, professor da Universi- Autor de oito livros —entre os quais,
ty of Warwick, liderou uma comissão do governo britânico Libertando o Poder Criativo, que será
encarregada de analisar as relações entre educação, criati- lançado pela HSM Editora—, sir Ken,
vidade e economia. O resultado, o relatório All Our Futures, como costuma ser chamado, virá pela
que ficou mais conhecido como Robinson Report, teve imen- primeira vez ao Brasil em novembro próximo para falar aos
sa repercussão mundial e suas recomendações passaram a gestores na HSM ExpoManagement. Ele é admirador decla-
ser adotadas por atores tão distintos quanto o governo da rado de Paulo Freire e Miguel Nicolelis e se diz ansioso por
Irlanda do Norte (como parte do processo de paz) e o de Sin- conhecer o País, que associa a uma criatividade abundante.
gapura. Desde então, tornou-se interlocutor frequente de Nascido na Liverpool dos Beatles, o especialista morou na
líderes governamentais e empresariais em busca de inova- Stratford-upon-Avon de Shakespeare e agora vive na Cali-
ção. Robinson foi condecorado Cavaleiro do Império Britâ- fórnia de Hollywood, dedicando sua vida a garimpar talentos,
nico —“sir”— em 2003 e incluído entre “as principais vozes individual e coletivamente. Sir Ken trata disso tanto em Liber-
do mundo” em 2005 pelas revistas Time e Fortune e pela tando o Poder Criativo como em seu próximo livro, Finding
emissora de TV CNN, dos EUA. A real popularidade, contu- Your Element (uma continuação de The Element), que deve
do, veio em 2006, com uma palestra TED, que se viralizou ser lançado em maio de 2013, com dez lições que pretendem
pela internet de maneira impressionante. ajudar cada um a descobrir e explorar seu verdadeiro talento.
ginação, fundação de tudo, é a capacidade de trazer a nossa explique melhor o processo disciplinado da criatividade...
mente coisas que não são reais a nossos sentidos. Todos os Não tem nada a ver com perder o controle. Você não pode
seres humanos têm isso e devem ser encorajados a mostrar. ser um músico criativo se não sabe tocar um instrumento,
A criatividade é o processo de ter ideias originais e gerar va- nem um cientista criativo se não souber matemática.
lor a partir daí —é um processo, não um evento isolado; re- Um dos grandes líderes atuais é Richard Branson e não
quer disciplina e uma visão crítica das ideias e um balancea- por ser carismático. De um lado, ele é muito liberal, porque
mento interessante entre liberdade e controle. A inovação se limita a inspirar as pessoas a fazer as coisas, mas seu gru-
é colocar as boas ideias em prática. As empresas precisam po empresarial é bem disciplinado. Há o balanceamento.
cultivar a imaginação de seu pessoal, dar-lhe habilidades A visão crítica é fundamental e John Lennon ensina isso.
para o processo criativo e criar um ambiente em que tudo Entrevistei Paul McCartney para meu livro The Element,
isso seja valorizado e encorajado. Com esses fatores aplica- de 2009, e ele descreveu como os dois compunham: come-
dos, as ideias virão, geralmente de fontes inesperadas, não çavam com o que viesse à cabeça —frase ou acorde— e não
só das pessoas criativas, como reza a lenda. levantavam enquanto não terminassem. Ao final de uma
Mas, em uma empresa hierárquica, isso dificilmente vin- dessas sessões, saíram para beber, e Paul disse a John: “E
ga, porque muitas boas ideias vêm de baixo e porque acon- se não conseguirmos nos lembrar da música pela manhã?”.
tecem de maneira melhor quando fluem entre disciplinas E John respondeu: “Se não pudermos nos lembrar, por que
diferentes, em equipes multidisciplinares. mais alguém se lembraria?” [risos].
Você fala em líder criativo. Qualquer líder pode ser criativo? e como desenvolver a imaginação, achando seu elemento?
Sim, potencialmente. O líder não precisa entender a ino- É uma busca primeiro interna, em que se aprende mais so-
vação, e sim a criatividade. Deve pensar seriamente sobre bre si, e depois externa, para experimentar coisas novas e
ela. Como eu disse a Tony Blair [ex-primeiro-ministro bri- se pôr à prova. É a jornada dupla de descobrir a paixão e
tânico] quando ele foi eleito, educação diz respeito a pro- construir a atitude. Como? Quebrar a rotina é uma forma.
mover a criatividade e entendê-la, mas o governo tinha
políticas educacionais que a destruíam. E digo o mesmo
aos líderes de empresas. HSM Management
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