- Jonas Ridderstrale argumenta que as empresas do futuro serão organizadas em torno de um sonho compartilhado, no qual todos possam crer, para inspirar experimentação contínua.
- Líderes devem selecionar equipes talentosas e diversas, dando ênfase à inteligência emocional e capital social dos funcionários.
- Para ter sucesso, líderes precisam construir sistemas de fé nas organizações contando histórias inspiradoras que motivem as pessoas.
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A empresa é um sonho!
1. Alta gerência
A empresa
é um sonho
Jonas Ridderstrale, especialista em liderança e autor do best-seller
Funky Business, afirma que os líderes do futuro serão sonhadores
e contadores de histórias. Em entrevista exclusiva, ele antevê que
as organizações serão sistemas de fé
J onas Ridderstrale não combina com SINOPSE
o estereótipo do economista acadêmi-
co clássico. Mais que um especialista • Para que não sejam sufocadas nem pela gestão
em liderança, ele se parece com um tradicional nem pela mudança constante, as empresas
artista nórdico da música eletrônica:
só têm uma saída: energizar-se e tornar-se sempre
é alto, careca, usa grandes anéis bri-
diferentes mantendo a essência.
lhantes e abotoaduras de caveira.
Considerado um dos pensadores de • Como? Devem organizar-se em torno de um sonho, no qual
negócios mais influentes da Europa, todos possam crer e buscar inspiração para experimentar
no ano 2000 Ridderstrale irrompeu na continuamente. Também têm de lembrar que são as pessoas
cena internacional com seu best-seller talentosas que carregam o maior valor de uma companhia e
Funky Business, lançado no Brasil pela
que talento diz respeito ao capital psicológico e social do indivíduo,
editora Makron Books com o subtítulo
Talento Movimenta Capitais. O livro por meio do qual ele aprende com os outros.
foi sucesso imediato, reflexo fiel des- • E como é o líder da empresa-sonho? Ele tem orelhas grandes e
tes tempos. Nele, o autor argumenta boca pequena para ouvir seus talentos, porque, se fracassar na
que, no mundo atual, ou na “aldeia seleção da equipe, destinará o negócio à ruína. E a capacidade de
funk”, a competitividade deve apoiar-
contar histórias é um de seus principais atributos.
-se em elementos dos quais raramente
se fala no ambiente de negócios: emo-
ções e imaginação.
Desde então, Ridderstrale perma-
nece na vanguarda de uma nova proeminentes pensadores do mun-
geração de “gurus” da gestão. Em do e no quinto entre os europeus. A entrevista é de Francisca Pouiller,
2009, o ranking Thinkers 50 posi- Em entrevista exclusiva dada em colaboradora de HSM MANAGEMENT, e
cionou-o no 23º lugar entre os mais Milão a HSM Management, cujos prin- foi escrita no formato de artigo.
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2. O MODELO E A MODELO
Jonas Ridderstrale avalia três aspectos 2. Como escolher a equipe adequada?
práticos que dizem respeito ao gestor de hoje Em vez de ler currículos para conhecer candidatos, por que
e, principalmente, de amanhã não pedir que demonstrem suas habilidades? “Por exemplo,
todos os aspirantes a um cargo devem jogar um esporte
1. Onde buscar novos modelos de gestão e de de equipe. Assim, sua capacidade de colaboração pode
melhores práticas? verdadeiramente ser apreciada.”
Em entrevista recente publicada pela edição italiana da
revista Wired, Ridderstrale citou uma fonte inusitada: o 3. Como será o líder de amanhã?
famoso videogame World of Warcraft (WoW). “O modelo de Não será um Steve Jobs, um Bill Gates ou um Mark
organização dos personagens nessa ficção origina-se na base Zuckerberg. “Será uma mulher: jovem, cosmopolita e
da pirâmide. Não há estrutura hierárquica convencional e formada em psicologia. Nada de economistas ou engenheiras.
todos colaboram para cumprir objetivos bem precisos.” A nova líder dirigirá equipes com muita eficiência.”
Fotos: Cortesia Jonas Riddestrale
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3. Alta gerência
cipais pontos são aqui apresentados, disruptiva ou inovadora. No fim das O Google é um exemplo de em-
o autor sueco, conhecido pelo hu- contas, é isso que interessa.” presa que realizou bem os três
mor mordaz, definiu o líder do futu- Em seu livro de 2008, Re-energizing passos. “Eric Schmidt, atual chair-
ro com uma imagem: “O novo líder the Corporation, Ridderstrale deixa cla- man do Google, é um personagem
tem orelhas grandes e boca pequena, ro que não acredita em fórmulas. Afir- interessante. Como CEO, tinha 60
pois ouve seus talentos, em vez de ma não aceitar que haja uma série de gestores a ele diretamente subor-
silenciá-los. Afinal, definitivamente, premissas que todo líder possa aplicar dinados. Alguém poderia dizer que
quem tem valor na empresa são as a qualquer situação. “Creio que meu era obcecado por controle, porém
pessoas talentosas”. papel é colocar perguntas inteligentes era o oposto. Schmidt sabia que não
Contudo, além de distinguir o novo que iniciem o debate, questões que fa- poderia gerenciar essas 60 pessoas,
líder por sua autonomia, Ridderstrale çam pensar, que ajudem os gestores a e esse era o objetivo. Obrigava-se a
crê que o segredo do sucesso do líder encontrar um caminho para saírem do estar em uma posição que lhe impe-
está no desenvolvimento de uma “re- convencional e tornarem-se únicos. ” dia de dirigir o Google de maneira
ligião corporativa”. “Os líderes mo- A solução é a energização. É fazer tradicional. Foi inteligente o bastan-
dernos constroem empresas em que fluir. Aquilo que não flui morre. A em- te para perceber que, além de ser
as pessoas podem crer. No centro des- presa do futuro é energia em constan- um indivíduo brilhante, não pode-
sa religião corporativa, antes de exis- te vir a ser. Mantém sua essência, mas ria lidar com todas as perguntas e
tir um plano, há um sonho, porque os é sempre diferente, porque a única respostas. Buscava o debate e o diá-
sonhos são inspiradores. A pergunta coisa que permanece é a mudança. logo”, comenta Ridderstrale.
que o líder deve formular é se está li- Como se energizar para lidar com A diversidade é essencial para es-
derando uma ideia, se tem um sonho essa transformação contínua? Ridders- timular a criatividade e a inovação,
ou se a organização é apenas mais trale recorda seu modelo de liderança segundo o economista, que afirma
uma entre tantas.” em três Es: que “muitos CEOs poderiam bem
ser confundidos com as estátuas de
Pela diversidade • Envision (antevisão): fase em que se cera do museu Madame Tussauds”.
As empresas correm o risco de ser estabelece a direção da empresa e Para ele, todos esses executivos têm
assassinadas pela gestão tradicional, se identificam desafios e oportuni- a mesma aparência: senhores que
segundo o economista. “Isso se deve dades que serão aproveitadas por jogam golfe e cursaram as mesmas
ao simples fato de que essa disciplina, meio de competências e habilidades faculdades. “Não há diversidade na
tal como a conhecemos desde o sécu- existentes na organização. gestão. Por isso, não deveríamos es-
lo passado, somente indica como me- • Engagement (envolvimento): implica perar muita inovação.”
lhorar o que já é bastante bom. Está o envolvimento do talento na causa
obsoleta. Oferece ferramentas que são em questão. As dimensões do talento
proveitosas para a companhia se tor- • Execution (execução): factível só com Quando indagado se suas ideias mu-
nar mais eficiente, mas não para ser o verdadeiro envolvimento da equipe. daram desde a primeira versão de
Funky Business (atualizada sete anos
depois, em 2007, e lançada com o
título Funky Business Forever), Rid-
Saiba mais sobre JONAS RIDDERSTRALE derstrale responde: “A definição de
talento que utilizei antes era muito
restrita. O livro foi escrito em uma
Considerado um dos pensadores da gestão mais originais da atualidade, no ano época em que os nerds pareciam des-
2000, quando tinha 34 anos, Jonas Ridderstrale foi reconhecido como o jovem pontar como os grandes vencedores
acadêmico de mais destaque na Suécia, segundo a Junior Chamber International. do mundo corporativo. Eram em-
Ele fundou e está à frente da firma de consultoria Mgruppen e é autor, com presários como Bill Gates e Michael
Kjell Nordström, de Funky Business: Talento Movimenta Capitais (ed. Makron Dell. Com Nordström, equiparei ta-
Books), Funky Business Forever: How to Enjoy Capitalism (ed. Bookhouse) e lento a quociente intelectual. Agora,
Karaoke Capitalism: Management for Mankind (ed. Trans-Atlantic Publications). penso também que talento tem mui-
Com Mark Wilcox, escreveu Re-energizing the Corporation (ed. John Wiley & Sons). to a ver com inteligência emocional,
Possui MBA e doutorado em negócios internacionais pela Stockholm School of isto é, com capital psicológico ou, em
Economics, da Suécia, e é professor das escolas de administração de Ashridge, da outras palavras, com o grau em que
Grã-Bretanha, e do IE, da Espanha. uma pessoa é segura de si, otimis-
ta, esperançosa. No entanto, talento
equivale, ainda, ao capital social do
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4. indivíduo: sua habilidade e dispo- sugestão para os líderes é que apren-
sição de estabelecer relações com dam com a natureza, que façam ex-
amigos e colegas com quem pode periências e vejam o resultado. “As
aprender muito para fortalecer as
próprias competências”.
organizações têm de reprogramar-se
para atuar por meio do teste e do en- “NÃO SOU
Ridderstrale explica que a mudan-
ça consistiu em reconhecer outras
dimensões do talento e as consequên-
saio constantes. É arriscado e, de vez
em quando, falha, mas, se deixarmos
de testar, ficaremos para trás, desa
CHATO”
cias da maneira como alguém cons- tualizados. Devemos fracassar mais
trói e lidera uma organização, o que, rápido para ter sucesso antes.” Em “Quando estava em um evento social
por sua vez, afeta a sociedade. sua visão, existirão diferentes siste- e uma pessoa me perguntava o que
Na visão do especialista, muitas mas de gestão na empresa do futuro, eu fazia, tão logo eu dizia que era
coisas transformam uma empresa em sem que haja um modelo dominante, pesquisador e economista, ela dava
excelente e a diferenciam das de pois cada companhia encontrará o meia-volta e saía, com medo de que
mais. O fator mais im ortante, en-
p próprio caminho. a entediasse”, recorda Ridderstrale.
tretanto, são as pessoas que nela O líder pulsa no coração de sua “Com o livro Funky Business, quis
trabalham. “Uma organização de su- gente. Para que tenha sucesso, pre- mostrar que os negócios são —e
cesso tem algo em comum com um cisa que sua equipe confie nele, que devem ser— divertidos.”
casamento feliz”, afirma. “Se uma acredite em seu trabalho. Isso se Desde que publicou seu livro
pessoa erra ao escolher com quem se con egue pela construção de um sis
s mais famoso, há 12 anos, com Kjell
casará, enfrentará sérios problemas. tema de fé. “As pessoas creem em Nördstrom, seu colega na Stockholm
Se os líderes fracassarem ao recrutar sonhos, e a única maneira de co- School of Economics, da Suécia,
funcionários, nenhuma estratégia, municar um sonho de modo atraen- ele mantém sua teoria de que o
nem a ajuda de todos os consultores te é por meio de um relato. Contar talento, a tecnologia e a inovação
do planeta salvarão a companhia da histórias é crítico nas organizações são os principais ingredientes de um
ruína”, completa. de hoje”, alerta o autor. O sonho da negócio atraente, seja ele qual for.
Contratar pessoas inconformadas Sony, por exemplo, é estar na van-
ou com forte espírito empreendedor guarda. Lá, os inovadores são heróis.
é medida acertada? Como liderá-las? O sonho de The Body Shop é ser boa
“O líder tem de se tornar uma espé- em um mundo selvagem.
cie de apresentador de programa de Outra pergunta fundamental para
televisão, ao estilo da Oprah Winfrey. as empresas, então, é se têm narra-
Ela não é a estrela, porque as estre- dores de histórias suficientes. Con-
las são os entrevistados, mas modera tar contos deveria ser, na opinião
o debate. Uma figura semelhante é a do especialista, responsabilidade de
do curador de um museu, que reú- todos os funcionários, uma vez que
ne as peças de arte para exposição. tudo o que fazem impacta a manei-
As estrelas são os artistas, porém o ra como a organização é percebida,
curador é responsável por garantir sobretudo em um ambiente em que
que a mostra, como um todo, seja a todos competem por atenção. Ele dá
soma das partes.” uma sugestão: implantar o cargo de
narrador oficial, de diretor de con-
Questão de fé tação de histórias.
“Diversidade, um sonho em que acre “Nos próximos anos, as melhores
ditar e aprender a fluir por meio da empresas serão aquelas que tiverem
experimentação são as três cha es da
v uma religião corporativa, que cons-
empresa moderna”, ressalta Ridders- truírem um sistema de fé no qual as
trale. Em um mundo marcado pela pessoas possam crer e que, em seu
incerteza, o planejamento deu lugar núcleo, abrigarem um sonho, uma
à experimentação. Ele explica: “Todo história que inspire seus funcioná-
plano necessita de uma hipótese so- rios”, conclui Ridderstrale.
bre o futuro, e o que não é possível
planejar não pode ser estratégia. Sem
estratégia, não há orçamento”. Sua HSM Management
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