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Crise econômica internacional



                                        O capitalismo em
                        DOSSIÊ


                                      crise histórica e suas
                                      tentativas de escapar
                                          da depressão
Gilson Dantas                                                          econômica dos países centrais e, mais agudamente, nos
                                                                        elos mais frágeis da corrente, como a Grécia, a Espanha,
     Introdução                                                         Portugal e mesmo a Inglaterra.
     Diante da mais grave crise econômica desde os                            Analistas comprometidos com a ordem, como
anos 30, deflagrada em 2008 no centro do capitalismo,                   Machado (200), depois de constatarem que a recessão
nos Estados Unidos, a reação dos governos centrais                      perdeu força em vários lados – ou o que PIB parou de
foi basicamente uma: resgatar os grandes oligopólios                    cair - reconhecem que persiste total incerteza nos Estados
financeiro-industriais em geral. O Estado norte-                        Unidos e na Europa do euro, que respondem por mais
americano entrou em ação e derramou uma montanha                        da metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial
de vários trilhões de dólares nos cofres dos bancos,                    e não por acaso são os principais importadores dos
financeiras e grandes corporações tratando de impedir                   produtos finais das economias emergentes. Admitem que
sua quebra maciça. Ao mesmo tempo tomou medidas de                      a melhora na economia mundial se deve não à retomada
certo estímulo ao consumo. Por essa via, o déficit fiscal               orgânica do consumo, da produção e do investimento
e a dívida pública norte-americanos foram às alturas,                   mas fundamentalmente aos anabolizantes fiscais, o que
romperam barreiras históricas mas o objetivo prático                    prenuncia uma longa temporada de arrocho tributário,
imediato dessa intervenção maciça, histórica, na base                   corte de gastos públicos e aumento dos juros para restaurar
do dinheiro público, dentro da lógica do governo, foi                   a solvência nacional e prevenir convulsões inflacionárias.
alcançado. A escalada depressiva foi freada.                            Dizem, com todas as letras, que a depressão teria vindo
     Este artigo pretende contribuir ao debate sobre o                  arrasadora se os governos não tivessem “mandado às
seguinte problema: considerando que a chamada “saída”                   favas os escrúpulos e entrado com tudo para reverter a
da crise através da política de ação preventiva do Estado,              insolvência formal do sistema financeiro” (MACHADO,
resgatando as grandes corporações e o sistema financeiro                200).
tem suas implicações, seus efeitos, a questão a ser aqui                      Quanto ao atual crescimento, além de relativo,
examinada será a das conseqüências, para a economia,                    vem acompanhado de uma Europa vivendo sua maior
dessa política de tentar impedir a queima maciça de                     crise enquanto o pólo imperialista alemão trata de tirar
capitais. O efeito esperado pelos governos já vimos no                  proveito da zona do euro2. A Grécia deve 300 bilhões de
amortecimento da marcha para a depressão. Aqui serão                    euros enquanto seu PIB não vai além dos 240 bilhões.
problematizados alguns dos demais – e previsíveis                       E sua economia encolheu 2 % em 2009. A zona do euro
– efeitos dessa operação política de tentar impedir a                   (6 países) vive sua pior crise desde a II Guerra com taxa
limpeza de capitais, de ativos tóxicos.                                 de desemprego média em dezembro e janeiro em 9,9 %,
                                                                        a maior desde 998 (outubro). Na Grécia (dezembro),
     A crise continua                                                   chegou a 0 %, país que em pouco tempo atravessou
     Em primeiro lugar é importante considerar – outros                 duas greves gerais.
artigos deste número focalizam essa questão - que o                           Na verdade “os superávits da Alemanha se tornaram
sistema não saiu da sua escalada depressiva, não emergiu                possíveis por meio dos déficits dos outros países e, por
da sua grande crise. Esta foi freada, ou amortecida                     extensão, a estabilidade alemã se tornou possível através
momentaneamente, mas os indícios de que o processo                      da instabilidade dos demais países (...) com implicações
depressivo está em marcha são visíveis na vida social e
                                                                        2 Zona do euro: esta zona – também conhecida como Eurolândia ou
 Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, escreveu EUA:     Eurozona - é composta pelos Estados-membros da União Europeia
militarismo e economia da destruição, Achiamé, Rio de Janeiro, 2007     que adotaram o euro como moeda nacional. Até agora são a Bélgica,
e organizou O capital de Karl Marx: resumo (Engels, Lenine, Trotski),   Alemanha, Grécia, Espanha, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo,
Ícone, Brasília, 2008.                                                  Países Baixos, Áustria, Portugal e Finlândia.
Contra a Corrente                                                                                                        

profundamente negativas para a economia mundial”                        vida com base em dinheiro público ou de reestruturação
(WOLF, 200). Um default grego poderia arrastar Irlanda                 com futuro incerto, como CIT, GM, Chrysler, Saab,
e Espanha. E é importante – como parte do dominó – não                  Opel, Karstad, Quelle, Ibéria, Alitália, e que na
esquecer que o PIB da Irlanda teve queda de 7, % em                    aparência funcionam como se tudo estivesse normal,
                                                                        mas em matéria de saúde econômica estamos diante
2009: é o pior resultado já registrado pelo país (Brasil
                                                                        de um amontoado de verdadeiros zumbis; na China
Econômico 26/03/200).                                                  também temos as fábricas-zumbis que se mantêm em
     Nos Estados Unidos as vendas de casas novas                        funcionamento sem clientes graças às subvenções
caiu ,2% em janeiro, batendo um recorde de baixa;                     do Estado; todos estes mortos-vivos econômicos
o Departamento do Comércio informou que a queda                         representam a passagem progressiva à economia real
de janeiro em relação a dezembro reduziu o ritmo                        dos 20 a 30 trilhões de dólares de ativos-fantasmas
anualizado de vendas para 309 mil unidades, o menor                     mundo afora” (OS ESTADOS FACE... 2009).
nível em quase meio século, ou seja, o setor de casas deu
outro grande passo para trás, apesar da ajuda do governo               Este é o quadro atual em meio à reanimação da
(Valor Econômico 25/2/0). E enquanto as vendas de                economia. Afinal, levada a cabo a intervenção dos
casas estão em queda, a retomada de imóveis por falta             Bancos Centrais, depois de certo tempo, ao final de 2009,
de pagamento está em alta; isso sinaliza que o setor de           indicadores revelaram uma economia que se reanimava.
construção civil não dará grande impulso à recuperação
econômica; o programa do governo Obama para evitar                      Como foi amortecida a marcha para a
a retomada de imóveis tem sido um fracasso (Valor                 depressão
Econômico, 6/03/200). E a capacidade ociosa da                        No entanto, o próprio Wall Street Journal
indústria americana já se encontra abaixo dos níveis dos          reconhece o ponto fraco desse crescimento movido,
anos 60 (MILLER, 200).                                           como reconhecem, a estímulo fiscal e monetário mais
     E mais:                                                      a ansiedade dos empresários em preencher estoques
                                                                  vazios e ao final argumentam que “pelo padrão de outras
       “o volume de mercadorias impagáveis e invendáveis          recuperações, todavia, o crescimento não é tão veloz. Os
       revelados pela crise, são maiores que os de todas as       consumidores americanos, agora mais parcimoniosos,
       crises passadas; e há, ainda por cima, um endividamento    hesitam em gastar. Os bancos não querem emprestar.
       geral das empresas e das famílias. Isso eleva as           As empresas não querem contratar. O governo não quer
       dificuldades da crise atual a um grau nunca visto. Os
                                                                  injetar mais estímulos” (WESSEL, 200).
       bancos não estão apenas com falta de caixa para atender
       correntistas eventualmente assustados; estão também
                                                                        Os pacotes de estímulos econômicos frearam a
       abarrotados de títulos que representam, além de créditos   queda nos estoques – que as empresas vinham liquidando
       irrecuperáveis, um enorme capital fictício evaporado.      na recessão – e foi assim que recomposição de estoque,
       As empresas não estão apenas com vendas inferiores         que não é propriamente crescimento orgânico, apareceu,
       às esperadas, mas também arcando com prejuízos de          nas estatísticas, como crescimento.
       operações de hedge, fracassadas porque a economia                No fundo, controlando o euro e controlando o dólar, o
       mundial mudou de modo inesperado, além de estarem          imperialismo norte-americano e o alemão tentam proteger
       perdendo os ganhos financeiros “normais”, esperados        seus oligopólios contra os demais, ao mesmo tempo em
       no sistema de gestão corporativa dominante. E as           que deslocam a crise para suas contas públicas. Cada
       famílias não estão simplesmente com renda insuficiente
                                                                  imperialismo trata de proteger-se da concorrência com o
       para manter seu consumo normal, estão devendo parte
       de sua renda insuficiente, além de terem perdido grande
                                                                  rival: Alemanha vem propondo restringir a circulação dos
       parte de suas reservas, desfeitas pela crise financeira”   hedge funds “de fora” no mercado europeu, os Estados
       (LETIZIA. 2009).                                           Unidos se movem com suas medidas protecionistas.
                                                                  Obama, por seu lado, com alto desemprego, vê sua
     O próprio The Economist (3/06/09) argumenta                 popularidade em queda. O déficit fiscal dos Estados
que a grande crise no horizonte é a maciça dívida                 Unidos está em torno dos  % do PIB e a dívida pública
pública, que levará o governo à fome de receita, de               deste tradicional emprestador de última instância já anda
fundos, comprometendo crescimento econômico, além                 nos 85 % do PIB.
do perigo de alta inflação na tentativa oficial de cortar
endividamento. E a OCDE reconhece que globalmente                      Implicações da atual política anti-crise: lucros e
a fatura da crise foi de 27 milhões de desempregados a            investimentos
mais desde 2007 com tendência de mais perda de vagas                   A crise agora deflagrada em 2008 vinha sendo
nas economias ricas (MOREIRA, 200).                              adiada. As breves ondas de prosperidade continuavam
     Temos                                                        se alimentando de dívidas por um lado e, na base, na
                                                                  extração de mais-valia, desfrutavam da superexploração
       “empresas em falência mantidas artificialmente em          do trabalho em espaços como a China, e outros como o
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão                                                      

México. Estabelecera-se uma certa divisão mundial do               dificuldade esta que igualmente se manifestava na
trabalho principalmente com a China funcionando como               “preferência” pelos lucros financeiros, pela esfera da
plataforma industrial para as grandes corporações norte-           especulação, do capital fictício. A financeirização não
americanas e, no outro pólo, os Estados Unidos, (e parte           surgiu por “escolha” ou política de Estado mas sobretudo
dos emergentes) como mercado de consumo.                           pela dificuldade de valorização do capital na produção.

       O dinheiro mundial vem sendo acoplado ao “déficit                     “As transformações do sistema financeiro devem ser
       em conta corrente dos EUA. Tal acoplamento cinde                      analisadas com base em duas tendências essenciais
       a contradição entre entesouramento e circulação de                    que ocorrem desde o Início dos anos 80. A primeira é a
       mercadorias, ao desenvolver uma complementaridade                     alta tendencial da taxa de exploração: em quase todo o
       entre o entesouramento negativo dos EUA e o                           mundo, a parte da riqueza produzida que corresponde
       entesouramento hipertrofiado dos países que sustentam                 aos assalariados está em baixa, e os países emergentes
       esse dinheiro mundial. O resultado disso é que a máxima               não são a exceção a esta tendência. Inclusive o FMI
       circulação internacional de mercadorias passa a exigir,               ou a Comissão Européia constam isso. Esta baixa da
       nos EUA, um déficit constante em conta corrente e,                    parte relativa aos salários permitiu uma recuperação
       nos demais países, um superávit, cujo efeito é restringir             espetacular da taxa média de lucro a partir de meados
       seu consumo interno e, portanto, gerar um crescimento                 dos anos 80. Mas a segunda tendência mostra que a taxa
       econômico contraposto ao desenvolvimento real”                        de acumulação continuou a flutuar em um nível inferior
       (LETIZIA, 2009).                                                      ao que existia previamente à crise. Dito de outra forma,
                                                                             a punção sobe os salários não foi utilizada para ampliar
      Este foi o quadro estabelecido nas últimas décadas,                    os investimentos. O ‘teorema de Schmidt’ do início dos
especialmente através da “divisão do trabalho” entre a                       anos 80 (“o lucro de hoje são as inversões de amanhã
China e os Estados Unidos. Na crise atual esse equilíbrio                    e os empregos de depois de amanhã”) não funcionou”
                                                                             (HUSSON, 2009).
começou a ser violentamente rompido: a grande boca
consumidora norte-americana começou a encolher com a
inadimplência dos portadores de hipotecas (sub-prime).                  Este processo pode ser graficamente perceptível;
      É, importante considerar, em primeiro lugar que              os ganhos em rentabilidade para o capital, na fase
a crise atual estava em desenvolvimento desde longa                “neoliberal” podem ser vistos no gráfico abaixo, mais
data, desde a crise dos anos 70, dentro de uma dinâmica            claramente nos anos 80 e 90, referente aos Estados
estagnacionista, em um processo onde o sistema                     Unidos:
capitalista se debatia ante a dificuldade arrastada em
conseguir levantar a taxa média de lucro. Conseguira
alcançar taxas mais elevadas de lucro em nichos (como
as plataformas de produção da China e regiões de mão
de obra quase escrava, barata) mas não se tratava de um
processo global, extensivo aos países centrais como um
todo, pelo contrário.
      O que se desenvolvia nessas décadas era uma
espécie de globalização de nicho.
      Prova disso é que a taxa média de lucro que crescia,
mais recentemente, após uma longa ofensiva do capital
contra o trabalho, se desenvolvia em aberto descompasso
com a taxa de acumulação do capital.
      Há estudos mostrando (HUSSON, 2008) que a partir
dos anos 80 acumula-se mais-valia não investida (“não-
acumulada”). Ou em outras palavras, a ofensiva política
anti-operária neoliberal, dos anos 80, 90, não resultou
em taxas de extração de mais-valia proporcionalmente
maiores, correspondentemente maiores, na esfera da
                                                                   Fonte: Seisdedos, Paul Cooney, 2009. A crise atual e o papel do
acumulação do capital.
                                                                   capital fictício, 2009. 6º. Colóquio Internacional MARX e Engels,
      Os investimentos globais não acompanhavam a taxa             UNICAMP, Campinas, 3//2009
de lucro na produção, nos nichos produtivos. Tinha-se
uma situação historicamente nova, onde o sistema fugia à                 O descompasso entre o crescimento da rentabilidade
sua regra de fazer acompanhar a taxa de lucro de uma taxa          e a taxa de acumulação já foi analisado mais de uma vez
de acumulação à altura. Esta contradição era reveladora            por Husson (2008) que, depois de chamar a atenção para
das dificuldades do capital para obter rentabilidade,              esse processo – de crescente massa de mais-valia não-
Contra a Corrente                                                                                                          

acumulada – como sendo a raiz da financeirização da               somente conseguiu uma relativa recuperação, na Grande
economia mundial, adverte:                                        Depressão dos anos 30 (por volta de 933) depois de
                                                                  quatro anos de destruição de forças produtivas, de capitais
       “No entanto, não podemos aplicar ao capitalismo            e de desvalorização da força de trabalho (rebaixamento
       contemporâneo uma leitura “financista” que consistiria     salarial, desemprego etc) e contando com a vantagem
       em diferenciar uma tendência autônoma para a               de que os Estados Unidos de então eram uma potência
       financeirização que estaria parasitando o funcionamento    capitalista emergente com amplas reservas de ouro dentre
       normal do “boom” capitalismo industrial. Isto viria a
                                                                  outras bases que se foram.
       dissociar artificialmente o papel das finanças e da luta
       de classes pela repartição do valor agregado. Deve-se            O capitalismo daquela época, é bom lembrar ainda
       articular corretamente a análise dos fenômenos: a partir   era relativamente juvenil nos EUA, com um mercado de
       do momento no qual a taxa de lucro aumenta graças          trabalho há pouco plenamente constituído (a ocupação
       ao retrocesso salarial sem produzir oportunidades de       do Oeste só terminara às vésperas da Grande Guerra
       acumulação rentável, as finanças começam a jogar           de 94-8) e uma base rural importante de pequenos
       um papel funcional na reprodução procurando saídas         agricultores (LETIZIA, 2009). E, no fim de contas,
       alternativas à demanda salarial: o consumo dos             superar mesmo a depressão só foi possível por meio da
       rentistas e o sobre-endividamento dos trabalhadores. A     carnificina da II Guerra, da aguda e brutal destruição
       característica principal do capitalismo contemporâneo      de forças produtivas. E tomando de conjunto, por outro
       não reside então na oposição entre um capital financeiro
                                                                  lado, a maciça intervenção do Estado com Roosevelt de
       e um capital produtivo, mas na hiper-concorrência entre
       capitais como resultado da financeirização” (HUSSON,       um lado e Hitler de outro exprimem o esgotamento de
       2009).                                                     um sistema que já não consegue se safar da crise através
                                                                  do ciclo, dos mecanismos semi-automáticos do ciclo
      A crise atual encontra o sistema, portanto, em um           econômico.
patamar nunca visto de acumulação do capital. Em                        A primeira questão da política anti-crise atual pode
especial na esfera financeira. É comum que técnicos               ser assim formulada: o sistema lançou mão de suficiente
do sistema falem em empresas “zumbi”, em massas de                destruição de forças produtivas? O grande capital encontra
ativos “tóxicos”, em obsolescência de muitas das grandes          o estímulo para produzir (e realizar sua produção) com
corporações frente às novas tecnologias de produção.              base no dinheiro público que recebeu de presente?
No entanto, a “saída” do governo à crise foi justamente                 Ora, o primeiro problema, portanto, da atual
salvar esses oligopólios ‘grandes demais para se deixar           tentativa de resgatar – inchando a dívida pública - essas
quebrar’. Veremos que isso, no fundo, só aumenta as               grandes corporações (industriais/financeiras) encontra-se
contradições da situação anterior.                                no fato de que grandes investidores só vão entrar em ação
      Aqui é preciso lembrar da clássica e atualíssima            se reencontrarem uma taxa média de lucro à altura do
observação de que, por si mesma, a acumulação capitalista         seu porte. O capital-zumbi foi preservado, já sabemos;
é engendradora de crise. A teoria marxista da acumulação          a questão é se o grande capital irá para a produção. Ora
do capital já contém, em si mesma, a teoria da crise do           ele não se encontra mais presente na produção pela razão
capitalismo, um sistema impossibilitado de qualquer tipo          de que não encontrava rentabilidade em produzir. Mais
de equilíbrio harmônico (GILL, 2002). Menos ainda em              vantajoso era emprestar a juros, sobretudo aos governos,
sua fase de declínio (leia-se quando se estreitam as bases        perspectiva que atualmente continua de pé.
históricas de valorizações do capital). O próprio processo              A falsa idéia de que irrigando o grande investidor
de reprodução ampliada do capital engendra o aumento da           com massas de recursos públicos isso fará com que ele se
composição orgânica do capital, da massa de capital fixo,         lance a aplicar capitais na produção ao ponto de superar
o que, tendencialmente, tende a derrubar a taxa média             a tendência depressiva não encontra respaldo. E aqui o
de lucro. O capital, portanto, em seu funcionamento de            argumento de Mandel continua atual:
conjunto, constrói, necessariamente, dificuldades para
sua auto-valorização, independente dos processos na                     “Os capitalistas não estão obrigados a reinvestir seus
                                                                        lucros suplementares na produção. Podem optar por
esfera da inflação, dos juros, dos salários etc: reafirma-
                                                                        entesourá-los ou utilizá-los com fins estritamente
se aqui sua condição de processo histórico, transitório                 especulativos. Mesmo quando os investem pode
e, nos dias atuais, destrutivo por excelência, ecocida e                ser na condição de inversões de racionalização que
reacionário em toda linha.                                              suprimem empregos em vez de criá-los. Os capitalistas
      Essa dificuldade de valorização se concentra e                    não trabalham para o ‘interesse geral’. O que buscam
explode em crise: sem a maciça destruição de capitais                   é aumentar ao máximo seus lucros. Esta conduta é a
(bens, equipamentos; desemprego, rebaixamento da força                  que acaba por provocar o crescimento periódico da
de trabalho etc), o sistema não como tentar reencontrar a               estagnação e as crises econômicas mais ou menos longas.
taxa de lucro.                                                          No curso destas crises, o volume e a taxa de lucro caem.
      Um exemplo histórico: o sistema capitalista                       A restauração da taxa de lucro é uma prioridade absoluta
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão                                                 

       para a burguesia. O aumento da taxa de exploração dos         burguesia a não investir (elevar a taxa de acumulação)
       assalariados – em termos marxistas, a taxa de mais-valia      está justamente dado pelo que a crise expressa: a
       – é o meio que utiliza para isso. A política de austeridade   necessidade de queimar capitais hoje comprometidos
       se converte em seu programa. A deflação monetarista e         – na sua capacidade de auto-valorização – por uma
       a inflação keynesiana não são mais que variantes dessa
                                                                     elevada produtividade. “Nas sociedades ricas em capital
       mesma orientação fundamental” (992).
                                                                     do centro do sistema, a principal restrição à acumulação
     Não há nenhum indício concreto, portanto e nem
                                                                     não é o fato de a economia não ser produtiva o bastante e,
argumento teórico, que sustente a idéia de que essa enorme
                                                                     sim, de ser produtiva demais” (FOSTER, 200).
bolha de dívida pública ou de capitais superacumulados,
                                                                           A crescente tecnificação (elevadíssima composição
venha nos marcos atuais, a traduzir-se em investimentos
                                                                     orgânica do capital) e a dificuldade em obter lucros
na produção, em reanimação orgânica da economia.
                                                                     na produção em países como os Estados Unidos ou os
     Esta enorme bolha de dívida pública – caso
                                                                     europeus, o Japão, atingiu a um nível muito elevado (o
“puro” de capital fictício segundo Marx já que não tem
                                                                     que tendencialmente joga para baixo a taxa média de
contrapartida alguma em termos de criação real de valor
                                                                     lucro) e o que precisa ser levado em conta é que nada
– envolve
                                                                     disso chega a ser substancialmente alterado por essa
                                                                     política de resgate dos países ricos.
       “dinheiro barato que não está indo para a economia
       real. Ao contrário, a maior parte da emissão monetária
       está guardada nos bancos ou foi para a Bolsa, seja                  Implicações sobre o Estado
       porque os bancos não querem usar esse dinheiro para                 Outra dimensão – e grave problema – da atual política
       oferecer créditos, seja porque a indústria não deseja         anti-crise é o de que a pirâmide da especulação continua
       endividar-se. Nestes marcos, não surpreende que os            rodando, agora mais que nunca na esfera dos cofres e
       atores econômicos (...) encontrem o crédito escasso           dívidas públicas. E mais que antes comprometendo
       e de alto custo. Os diferenciais (spreads) são maiores        receitas e capacidade de investimento público, de
       que antes e mesmo as taxas absolutas são, como regra,         empréstimo público.
       mais altas em mercados como o hipotecário onde a FED                O consumo de massa crescente, por parte dos
       interveio.
                                                                     Estados Unidos, já era inflado, descolado da produção,
       (...) Mas, ao mesmo tempo, as baixas taxas estão
                                                                     alimentado a dívidas. As grandes massas de capitais
       permitindo aos bancos fazer dinheiro (certamente não          estavam lucrando na especulação, no crédito, nas
       é difícil conseguir ganhos quando se dispõe de dinheiro       seguradoras, nos papéis do governo.
       emprestado pela Reserva Federal quase sem juros e                   O governo impediu a quebra colossal desses capitais
       se empresta depois ao Governo a 3,5%), melhorando             anunciada pela crise. E não apenas se trata de esfera
       seus balanços. Esta política busca deliberadamente            financeira: as grandes corporações industriais estavam e
       uma alta dos ativos com a peregrina crença de que             estão metidas até o pescoço com ganhos especulativos
       isto impulsionará a economia real. As autoridades se          (no caso do Brasil quem não lembra do exemplo da
       opuseram a um saneamento dos bancos como forma de             Parmalat que ganhava mais especulando que produzindo
       lidar com a crise financeira priorizando, pelo contrário,
                                                                     leite e a Votorantim, salva da quebra pelo governo e
       uma restauração da bolha naqueles ativos nos quais os
       bancos e firmas do mercado de capitais estão fortemente
                                                                     que ia à falência também no mesmo processo, em seu
       expostos. Os três ou quatro bancos que dominam o              engajamento na especulação, com banco próprio?)
       setor nos Estados Unidos, que têm uma posição quase                 A extrema irracionalidade da situação atual, em
       monopólica, estão usando toda sua influência para             meio a tamanha sobre-acumulação de capitais, está na
       proteger seus negócios” (CHINGO, 200, 7). Grifo             volta dos banqueiros “aos negócios como de costume”,
       nosso.                                                        nas palavras de Foster (200). E a China, como detentora
                                                                     maior de papéis públicos norte-americanos, não está fora
      E não será demasiado lembrar que capitais                      desse processo.
“sobrantes” e podres não são compartimentos separados                      Na opinião do ex-economista-chefe do Fundo
da produção se tomamos o capitalismo de conjunto. Não                Monetário Internacional (FMI), “a reação chinesa à
se trata de crise do capital fictício, mas antes de mais             recente crise financeira aumentou claramente os riscos
nada, do capital. Capacidade ociosa, sobreprodução,                  de que a China tenha uma bolha alimentada a dívidas
sobreacumulação de capital (fixo portanto), desemprego               na economia” (ROGOFF..., 200). Em 2008, a China
estrutural são expressões concretas da crise, portanto da            cortou os juros, começou a implementar um pacote de
baixa rentabilidade do capital que acumulou mais-valia               gastos de 4 trilhões de iuans (US $ 586 bilhões) e aboliu
movido mais a crédito, a bolhas de empréstimos para                  as cotas que limitavam os empréstimos dos bancos,
consumo, dinheiro barato; aqui se encontra o chão da                 para combater a queda nas exportações. Os valores dos
crise, o substrato ou as razões do parasitismo.                      imóveis em Xangai e Pequim descolaram da realidade
      Um dos problemas de fundo que leva a grande                    (ROGOFF... 200).
Contra a Corrente                                                                                                     

      Ou seja, um dos mecanismos que conduziu à crise             relação à sua possibilidade real de geração de valor em
está sendo usado como “remédio” anti-crise. O exemplo             aberta contradição com uma base ainda menor de auto-
do crédito ao consumidor é ainda mais patente. E a                valorização.
opção do Estado se lançar à oferta maciça de crédito ao                 Em conseqüência tem-se a exacerbação da
consumidor esbarra nas barreiras criadas no processo tal          concorrência por um espaço menor de rentabilidade,
como ele se desenvolve até aqui:                                  assim como os movimentos por parte dos Estados em
       “A nova versão do crédito ao consumidor levou, com o       proteção dos grupos oligárquicos. Em conseqüência tem-
       passar do tempo, à criação de uma grande capacidade        se uma piora do comércio internacional (que ano passado
       de consumo falsa, isto é, não baseada em ganhos            sofreu sua maior queda) e isso em uma fase em que o
       reais, a qual foi enormemente facilitada pela expansão     governo norte-americano já vinha depreciando o dólar
       dos cartões de crédito, que permitem endividamento
                                                                  desde antes, procurando estimular suas exportações por
       instantâneo, sem contrato específico de empréstimo.
       Essa falsa procura, criada por artifício financeiro,       essa via. Aliás mesmo com o dólar sendo depreciado (3
       poderia, em tese, permitir o adiamento indefinido da       % na década passada) os Estados Unidos não conseguem
       crise de ruptura da barreira do capital, desde que fosse   reduzir o déficit comercial (foi de 2,8 % do PIB em 999
       possível expandi-la indefinidamente.                       para 4,8 % em 2008).
       Evidentemente, isso não é possível, porque dar mais              Outros efeitos lógicos são a onda de fusões e
       crédito a consumidores que estão perdendo benefícios       aquisições de empresas mais vulneráveis pelas maiores e
       sociais e tendo sua renda disponível amputada implica      mais fortes, assim como a pressão dos setores mais fortes
       onerá-los cada vez mais com o pagamento de juros, o        do imperialismo sobre os elos mais fracos, sobre países
       que tende a desembocar em castelos de dívidas para         como a Grécia, a Espanha mas também sobre a China
       pagar dívidas e, finalmente, em restrição de consumo.
                                                                  para que se “abra” à produção dos países imperialistas
       O fato de que, um ano após o estouro da chamada
       “bolha imobiliária” americana, tenha sobrevindo uma        aumentando seu consumo interno de elite.
       onda de demissões de trabalhadores nos EUA (as crises            Ao mesmo tempo, a tentativa de escapar da depressão
       financeiras precedentes, ou foram setoriais ou não         através do deslocamento dos problemas da esfera privada
       aconteceram nos EUA), cuja população está altamente        para a da dívida pública e crise fiscal tem como seqüela
       endividada em cartão de crédito, é significativo da        o fortalecimento dos mais poderosos grupos financeiro-
       natureza desta crise e explica a ineficácia das medidas    industriais, das forças imperialistas dos Estados Unidos
       de socorro à finança tomadas até agora. Esse tipo de       e Alemanha, por exemplo, enredadas com a China, o
       dificuldade aponta para algo pior do que a ‘recessão       que desemboca em acirramento da concorrência entre
       mais longa’, anunciada pela maioria dos analistas          os gigantescos centros do capital. O resultado é maior
       econômicos” (LETIZIA, 2009).
                                                                  fricção e tensão entre esses grupos imperialistas e os
                                                                  Estados que os sustentam, para ver quem paga o custo da
     Mesmo que se conceba explosão da crise e a                   escalada da crise.
entrada da dívida pública como mercado de substituição,                 De 996 a 2008 o superávit comercial da Alemanha
gerador de demanda, amortecedor da contradição mais               com os demais membros da Europa passou de 20 bilhões
profunda da economia, o fato, analisado desta vez por             de euros para 00 bilhões por ano. E a Alemanha, mesmo
Mandel, é que “a hora da verdade pode ser atrasada                dando passos adiante na produtividade, consegue manter
mas não indefinidamente. O endividamento crescente                20% do emprego total na manufatura, enquanto os
alimenta inevitavelmente a inflação. A partir de um               demais países da zona do euro não chegam aos 6% e
certo limiar, em vez de estimular a expansão, começa a            em processo de queda (BELUZZO, 200). Esse processo
estrangulá-la”(992). E a situação atual norte-americana          é a expressão acabada de uma fase – “o equilíbrio”
corresponde a enorme volume de capital ocioso a pesar             capitalista anterior – onde se desenvolveu um processo
sobre a economia real, grandes empresas salvas mas                de espoliação imperialista dos países mais débeis pelos
em retirada do processo reprodutivo e as famílias ainda           mais fortes, também em plena Europa, na zona do euro;
endividadas e com sua capacidade de consumo diminuída             com industrialização relativa de um pólo (Alemanha) às
(LETIZIA, 2009). E a injeção maciça de dinheiro público           custas do enfraquecimento (colonização) do outro.
não melhorou substancialmente a escassez de crédito.                    A Alemanha segurou os custos da mão de obra
Esta continua existindo. Produzir não é tão estimulante           tornando suas exportações capazes de concorrer em preço
como especular ou lucrar com juros que os Estados terão           a despeito de um euro valorizado, segundo Blackstone
que oferecer, para não serem engolfados pelas dívidas.            (200). E, de toda forma, não se trata de um processo
                                                                  onde a Alemanha ou o conjunto dos países imperialistas
     Impasses na dinâmica atual                                   viessem desenvolvendo aumento da massa salarial.
     Em síntese, a dinâmica atual, com grandes                          Trata-se de uma fase do capitalismo na qual, como
corporações e bancos sendo salvos, continua tendo                 explica Letizia, pôde até ter havido aumento salarial em
como pano de fundo a super-acumulação de capitais em              números brutos, porém
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão                                                

                                                                   capital.
       “na fase atual do capitalismo, mesmo salários crescentes          Temos um sistema que, de relativamente reacionário
       se traduzem em renda líquida disponível decrescente,        passa a ser “absolutamente reacionário”, mesmo que
       uma vez que boa parte dos anteriores ganhos indiretos       atravessando bolhas de crescimento. “O declínio do
       em produtos subsidiados de empresas estatais (que           capitalismo tem a ver com o fato de que as de relações de
       foram privatizadas) e em serviços sociais (que deixaram
                                                                   valor possuem uma base mais estreita. A lei do valor, a lei
       de ser gratuitos) desapareceu. E não poderia haver
       aumentos salariais que compensassem tais perdas,
                                                                   básica do capitalismo, encontra crescentes dificuldades
       porque esta fase capitalista é a da pressão permanente      para desenvolver-se automaticamente. É isto que declina
       pelo rebaixamento dos trabalhadores do mundo ao nível       e o que está por trás dos esforços cada vez mais custosos
       dos min gong da indústria chinesa” (2009).                  do capitalismo para sua sobrevivência” (MERCATANTE,
                                                                   2007, 47).
      Quando se leva em conta que a necessidade premente                 Na China (ou na Alemanha) houve crescimento
do sistema é levar adiante o processo de rebaixamento              relativo, parcial, de forças produtivas, mas como parte
e precarização da força de trabalho, destruir forças               de um processo mais amplo, histórico, do declínio de um
produtivas, queimar capitais, ao mesmo tempo em que                sistema, do não desenvolvimento histórico das forças
pressiona os elos mais fracos, pode-se deduzir que a               produtivas. Cada fase ou foco de crescimento tornou-
depressão está no horizonte.                                       se parte de um processo de decadência, decomposição.
      Eles mesmos reconhecem o dilema: o Finantial                 Basta examinar o peso dos gastos militares em épocas
Times, dirigindo-se à China e Alemanha em editorial                “de paz”, o gigantismo das dívidas - o porte histórico da
intitulado Líderes mundiais estão escolhendo a recessão,           dívida pública -, ou o a escala astronômica alcançada
argumenta que “o mundo enfrenta uma escolha: ou os                 pela especulação e pelo parasitismo sob todas as suas
exportadores em série podem optar por consumir mais e              formas.
reequilibrar a economia mundial através do crescimento                   Setores como o ponto.com e imobiliário foram parte
ou podem sentar sobre suas mãos e permitir que a                   de um momento de crescimento. Mas basta focarmos seu
demanda desabe e reequilibrar a economia mundial                   aspecto de bolha para se ter claro o que se quer dizer
através da estagnação” (22/3/200).                                por decadência; especialmente se consideramos aquele
                                                                   argumento anterior de que toda essa sobre-acumulação
      Declínio de um sistema                                       de capitais não vem lado a lado com uma elevação, à
      Em outras palavras – e voltando a uma questão de             altura, da taxa média de lucro.
fundo - não queimar capitais na magnitude necessária                     Ao tratar de impedir a queima de capitais, os
para o sistema significa ter que arcar com: - taxa média           Estados Unidos terão que tomar medidas para favorecer
de lucro que não retorna a um nível capaz de dar fôlego            suas grandes corporações na busca de rentabilidade;
ao capitalismo; - manter o Estado sufocado com dívida              no espaço-mundo isto significa forçar a compra de
pública (e menor capacidade de investimento, de crédito,           mercadorias norte-americanas, forçar toda medida que
de demanda); - significa também que a tendência                    melhore a posição dos capitais dos Estados Unidos no
depressiva é apenas contornada, maquiada e que continua            mundo. Certamente tensionar a China3. E, de uma maneira
contida a capacidade de gerar emprego na produção.                 geral, os agentes do sistema necessitam avançar sobre o
      Na outra ponta do dilema: destruir capitais significa        patrimônio público que seja capaz de gerar lucros.
ter que criar a correlação de forças políticas para isso, para           O sistema precisa, ao mesmo tempo, aumentar o
uma empreitada de magnitude histórica de devastação da             consumo interno sendo que nos Estados Unidos temos
força de trabalho e do capital acumulado. Cabe observar            o consumidor em potencial endividado ao extremo –
o quanto esse dilema reflete decadência: incapacidade de           como foi argumentado antes - e parte dele sob ameaça
desenvolver, historicamente, as forças produtivas a não            de desemprego ou de hipoteca da casa. E o dilema dos
ser como forças destrutivas.                                       Estados Unidos vai mais longe: “se as famílias aumentam
      O processo de fundo é de declínio histórico de um            sua taxa de poupança, o consumo se reduz e o crescimento
sistema ou decadência. Quando certos autores marxistas             não poderia voltar a deslanchar. Se o gasto público toma
mencionam esta condição estão querendo dizer que o                 seu lugar, o déficit comercial exterior vai aprofundar-
sistema enfrenta crescente disfuncionalidade diante da             se outra vez, e o fluxo de capital necessário para seu
sua lei básica, que rege seu funcionamento, que o mantém           financiamento pode converter-se em um problema”
de pé: a lei do valor (MERCATANTE, 2007, 47). O
sistema pode ter momentos de crescimento, de equilíbrio            3 A ilusão de muitos “de que estaríamos diante de uma
relativo (como a fase anterior, onde se estabeleceu a              divisão internacional do trabalho harmoniosa, em que a China
ponte ou “divisão mundial do trabalho” Estados Unidos-             funcionaria como provedora de manufaturas e os Estados
China) mas invariavelmente trata-se de um processo que             Unidos como consumidores em última instância, começou
reflete aquela crescente dificuldade para valorização do           a ruir a partir do advento da crise capitalista” (ISHIBASHI,
                                                                   2009, 46).
Contra a Corrente                                                                                                                 

(HOUSSON, 2009).                                                  Europe Anticipation Bulletin n.39, de 5//2009. GEAB.
     Em suma, se é certo que o governo norte-americano            Disponível em: http://resistir.info/crise/geab_39
tenta a jogada de buscar evitar a plena e aguda depressão               RIBEIRO, Alex, 200. Obama sob pressão para declarar
econômica que estava na pauta ano passado (já que                 que China controla iuan. Valor Econômico, 5/3/200, p.A3.
                                                                        ROGOFF PREVÊ BAQUE PARA A CHINA. Valor
não via condições políticas e econômicas de suportar a
                                                                  Econômico 25/2/200, p. A.
ampla queima de capitais e seu impacto político-social) é               SEISDEDOS, Paul Cooney, 2009. A crise atual e o papel
igualmente verdade que o resgate das finanças e grandes           do capital fictício, 2009. 6º. Colóquio Internacional MARX e
corporações – sua política atual – revela não apenas a            Engels, UNICAMP, Campinas, 3//2009.
miséria de um sistema mas também que a descarga                         TOUSSAINT, Eric, 200. Si no hay uma salida
plena da crise será dirigida contra os que vivemos                anticapitalista a esta crisis, habrá una salida capitalista,
apenas do nosso trabalho. O próximo lance está com a              8/3/200. Disponível em: www.rebelion.org. Acessado em
classe trabalhadora. Neste momento, com os gregos, os             20/3/200.
espanhóis e o proletariado europeu sobre quem as forças                 WESSEL, David, 200. Ásia puxa retomada global, mas
imanentemente destrutivas do capital esperam buscar sua           será que o fôlego vai durar? Valor Econômico, 25/2/200, p.
                                                                  A.
válvula de escape.
                                                                        WOOLF, Martins, 200. O debate na zona do euro. Valor
                                                                  Econômico, 24/03/200, p. A-3.

      Bibliografia
      BELUZZO, Luis G., A Alemanha e a Eurolândia. Valor
econômico, 2/03/200, p. A-3.
      BLACKSTONE, Brian, 200. Competitividade alemã                      “O caso argentino nos demonstra que, ao contrário
assusta vizinhos, Valor Econômico, 22/3/200, p. A5.                     do que afirmaram alguns autores que decretaram o
      CHINGO, Juan, 200. La difícil vuleta aun nuevo                    fim da classe operária ou do trabalho, o cenário dos
equilíbrio capitalista, revista Estratégia Internacional, n.26,        anos noventa expressou grande debilitamento da classe
Buenos Aires, marzo 200, p. a 53.                                       trabalhadora, pois sua força social foi atacada ao
                                                                                jogar para fora da produção milhares de
      FOSTER, Bellamy, McCHESNEY, Robert, 200. O
                                                                                assalariados. Mas mesmo neste cenário,
dilema do escorpião, Retrato do Brasil, n. 3, fev 200, p. 8                        encontramos a sobrevivência
a 25.                                                                    e o resgate de métodos de luta da tradição operária,
      GILL, Louis, 2002. Fundamentos y limites del                             do classismo, no interior do movimento de
capitalismo. Madrid: Trotta.                                             desempregados. (...) O resultado da luta em Zanon,
      HUGHES, Jennifer, 200. Em crise fiscal, Europa avalia                  a sua gestão operária, é fruto do resgate das
novo ciclo de privatizações. Valor Econômico, 7/3/200, p.               concepções classistas. É uma pequena experiência
A.                                                                         de luta da classe trabalhadora que contou com
      HUSSON, Michel, 2008. Le capitalisme toxique.                           grandes lições para o seu conjunto. Ela foi a
                                                                            prova evidente de que os trabalhadores, mesmo
Disponível em: www.hussonet.free.fr/toxicapw.pdf. Acessado:
                                                                           num contexto em que sofreu profundos ataques,
2/4/2009.                                                                     continuam vivos enquanto sujeitos sociais e
      HUSSON, Michel, 2009. La dictadura de la economia va                         políticos da transformação social”.
a volverse más brutal. El Aromo (Argentina), n. 49, 2009.
      ISHIBASHI, Simone, 2009. China: salvação do                             (Ricardo Festi, tese mestrado sobre a ocupação
capitalismo ou palco de inflexões? Uma leitura crítica de Adam             operária da fábrica de Cerâmicas Zanon, na Argentina
                                                                               intitulada ZANON, FÁBRICA SEM PATRÃO:
Smith em Pequim. In Iskra, n.2, São Paulo, nov.2009, p. 38-
                                                                                    um debate sobre classismo e controle
57.                                                                                      operário, Unicamp 200).
      LETIZIA, Vito, 2009. Enfrentar a grande crise. In O Olho
da História, Salvador, BA, julho 2009.
      MACHADO, Os EUA respiram, Antônio Machado,
Correio Braziliense 30/0/200, p. 5
      MANDEL, Ernest, 992. Déficit presupuestario e
internacionalizacion del capital en la teoria marxista.                      “A propriedade privada nos fez tão cretinos e
Disponível em: www.rebelion.org. Acessado em: 0/3/200.                     unilaterais que um objeto somente é o nosso
      MERCATANTE, Esteban, 2007. Entre el escepticismo y                 [objeto] se o temos, portanto, quando existe para nós
la catástrofe inminente. Revista Lucha de Clases n. 7, Buenos             como capital ou é por nós imediatamente possuído,
Aires, junio 2007, pp 35-5.                                             comido, bebido, trazido em nosso corpo, habitado
      MILLER, Rich, 200. Risco de deflação preocupa os                   por nós etc., enfim, usado. [...] O lugar de todos os
Estados Unidos. Valor Econômico, /3/200, p. A.                        sentidos físicos e espirituais passou a ser ocupado,
      MOREIRA, Assis, 200. Fim prematuro de estímulos                   portanto, pelo simples estranhamento de todos esses
                                                                                     sentidos, pelo sentido do ter”
deve gerar crise social, diz OIT, Valor Econômico, 22/3/200,
                                                                          (Karl Marx, Manuscritos Econômico-Filosoficos).
p.A3.
      Os Estados face às três opções brutais de 200: inflação,
forte pressão fiscal ou cessação de pagamentos, 200. Global

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  • 1. Crise econômica internacional O capitalismo em DOSSIÊ crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão Gilson Dantas econômica dos países centrais e, mais agudamente, nos elos mais frágeis da corrente, como a Grécia, a Espanha, Introdução Portugal e mesmo a Inglaterra. Diante da mais grave crise econômica desde os Analistas comprometidos com a ordem, como anos 30, deflagrada em 2008 no centro do capitalismo, Machado (200), depois de constatarem que a recessão nos Estados Unidos, a reação dos governos centrais perdeu força em vários lados – ou o que PIB parou de foi basicamente uma: resgatar os grandes oligopólios cair - reconhecem que persiste total incerteza nos Estados financeiro-industriais em geral. O Estado norte- Unidos e na Europa do euro, que respondem por mais americano entrou em ação e derramou uma montanha da metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de vários trilhões de dólares nos cofres dos bancos, e não por acaso são os principais importadores dos financeiras e grandes corporações tratando de impedir produtos finais das economias emergentes. Admitem que sua quebra maciça. Ao mesmo tempo tomou medidas de a melhora na economia mundial se deve não à retomada certo estímulo ao consumo. Por essa via, o déficit fiscal orgânica do consumo, da produção e do investimento e a dívida pública norte-americanos foram às alturas, mas fundamentalmente aos anabolizantes fiscais, o que romperam barreiras históricas mas o objetivo prático prenuncia uma longa temporada de arrocho tributário, imediato dessa intervenção maciça, histórica, na base corte de gastos públicos e aumento dos juros para restaurar do dinheiro público, dentro da lógica do governo, foi a solvência nacional e prevenir convulsões inflacionárias. alcançado. A escalada depressiva foi freada. Dizem, com todas as letras, que a depressão teria vindo Este artigo pretende contribuir ao debate sobre o arrasadora se os governos não tivessem “mandado às seguinte problema: considerando que a chamada “saída” favas os escrúpulos e entrado com tudo para reverter a da crise através da política de ação preventiva do Estado, insolvência formal do sistema financeiro” (MACHADO, resgatando as grandes corporações e o sistema financeiro 200). tem suas implicações, seus efeitos, a questão a ser aqui Quanto ao atual crescimento, além de relativo, examinada será a das conseqüências, para a economia, vem acompanhado de uma Europa vivendo sua maior dessa política de tentar impedir a queima maciça de crise enquanto o pólo imperialista alemão trata de tirar capitais. O efeito esperado pelos governos já vimos no proveito da zona do euro2. A Grécia deve 300 bilhões de amortecimento da marcha para a depressão. Aqui serão euros enquanto seu PIB não vai além dos 240 bilhões. problematizados alguns dos demais – e previsíveis E sua economia encolheu 2 % em 2009. A zona do euro – efeitos dessa operação política de tentar impedir a (6 países) vive sua pior crise desde a II Guerra com taxa limpeza de capitais, de ativos tóxicos. de desemprego média em dezembro e janeiro em 9,9 %, a maior desde 998 (outubro). Na Grécia (dezembro), A crise continua chegou a 0 %, país que em pouco tempo atravessou Em primeiro lugar é importante considerar – outros duas greves gerais. artigos deste número focalizam essa questão - que o Na verdade “os superávits da Alemanha se tornaram sistema não saiu da sua escalada depressiva, não emergiu possíveis por meio dos déficits dos outros países e, por da sua grande crise. Esta foi freada, ou amortecida extensão, a estabilidade alemã se tornou possível através momentaneamente, mas os indícios de que o processo da instabilidade dos demais países (...) com implicações depressivo está em marcha são visíveis na vida social e 2 Zona do euro: esta zona – também conhecida como Eurolândia ou Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, escreveu EUA: Eurozona - é composta pelos Estados-membros da União Europeia militarismo e economia da destruição, Achiamé, Rio de Janeiro, 2007 que adotaram o euro como moeda nacional. Até agora são a Bélgica, e organizou O capital de Karl Marx: resumo (Engels, Lenine, Trotski), Alemanha, Grécia, Espanha, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Ícone, Brasília, 2008. Países Baixos, Áustria, Portugal e Finlândia.
  • 2. Contra a Corrente profundamente negativas para a economia mundial” vida com base em dinheiro público ou de reestruturação (WOLF, 200). Um default grego poderia arrastar Irlanda com futuro incerto, como CIT, GM, Chrysler, Saab, e Espanha. E é importante – como parte do dominó – não Opel, Karstad, Quelle, Ibéria, Alitália, e que na esquecer que o PIB da Irlanda teve queda de 7, % em aparência funcionam como se tudo estivesse normal, mas em matéria de saúde econômica estamos diante 2009: é o pior resultado já registrado pelo país (Brasil de um amontoado de verdadeiros zumbis; na China Econômico 26/03/200). também temos as fábricas-zumbis que se mantêm em Nos Estados Unidos as vendas de casas novas funcionamento sem clientes graças às subvenções caiu ,2% em janeiro, batendo um recorde de baixa; do Estado; todos estes mortos-vivos econômicos o Departamento do Comércio informou que a queda representam a passagem progressiva à economia real de janeiro em relação a dezembro reduziu o ritmo dos 20 a 30 trilhões de dólares de ativos-fantasmas anualizado de vendas para 309 mil unidades, o menor mundo afora” (OS ESTADOS FACE... 2009). nível em quase meio século, ou seja, o setor de casas deu outro grande passo para trás, apesar da ajuda do governo Este é o quadro atual em meio à reanimação da (Valor Econômico 25/2/0). E enquanto as vendas de economia. Afinal, levada a cabo a intervenção dos casas estão em queda, a retomada de imóveis por falta Bancos Centrais, depois de certo tempo, ao final de 2009, de pagamento está em alta; isso sinaliza que o setor de indicadores revelaram uma economia que se reanimava. construção civil não dará grande impulso à recuperação econômica; o programa do governo Obama para evitar Como foi amortecida a marcha para a a retomada de imóveis tem sido um fracasso (Valor depressão Econômico, 6/03/200). E a capacidade ociosa da No entanto, o próprio Wall Street Journal indústria americana já se encontra abaixo dos níveis dos reconhece o ponto fraco desse crescimento movido, anos 60 (MILLER, 200). como reconhecem, a estímulo fiscal e monetário mais E mais: a ansiedade dos empresários em preencher estoques vazios e ao final argumentam que “pelo padrão de outras “o volume de mercadorias impagáveis e invendáveis recuperações, todavia, o crescimento não é tão veloz. Os revelados pela crise, são maiores que os de todas as consumidores americanos, agora mais parcimoniosos, crises passadas; e há, ainda por cima, um endividamento hesitam em gastar. Os bancos não querem emprestar. geral das empresas e das famílias. Isso eleva as As empresas não querem contratar. O governo não quer dificuldades da crise atual a um grau nunca visto. Os injetar mais estímulos” (WESSEL, 200). bancos não estão apenas com falta de caixa para atender correntistas eventualmente assustados; estão também Os pacotes de estímulos econômicos frearam a abarrotados de títulos que representam, além de créditos queda nos estoques – que as empresas vinham liquidando irrecuperáveis, um enorme capital fictício evaporado. na recessão – e foi assim que recomposição de estoque, As empresas não estão apenas com vendas inferiores que não é propriamente crescimento orgânico, apareceu, às esperadas, mas também arcando com prejuízos de nas estatísticas, como crescimento. operações de hedge, fracassadas porque a economia No fundo, controlando o euro e controlando o dólar, o mundial mudou de modo inesperado, além de estarem imperialismo norte-americano e o alemão tentam proteger perdendo os ganhos financeiros “normais”, esperados seus oligopólios contra os demais, ao mesmo tempo em no sistema de gestão corporativa dominante. E as que deslocam a crise para suas contas públicas. Cada famílias não estão simplesmente com renda insuficiente imperialismo trata de proteger-se da concorrência com o para manter seu consumo normal, estão devendo parte de sua renda insuficiente, além de terem perdido grande rival: Alemanha vem propondo restringir a circulação dos parte de suas reservas, desfeitas pela crise financeira” hedge funds “de fora” no mercado europeu, os Estados (LETIZIA. 2009). Unidos se movem com suas medidas protecionistas. Obama, por seu lado, com alto desemprego, vê sua O próprio The Economist (3/06/09) argumenta popularidade em queda. O déficit fiscal dos Estados que a grande crise no horizonte é a maciça dívida Unidos está em torno dos % do PIB e a dívida pública pública, que levará o governo à fome de receita, de deste tradicional emprestador de última instância já anda fundos, comprometendo crescimento econômico, além nos 85 % do PIB. do perigo de alta inflação na tentativa oficial de cortar endividamento. E a OCDE reconhece que globalmente Implicações da atual política anti-crise: lucros e a fatura da crise foi de 27 milhões de desempregados a investimentos mais desde 2007 com tendência de mais perda de vagas A crise agora deflagrada em 2008 vinha sendo nas economias ricas (MOREIRA, 200). adiada. As breves ondas de prosperidade continuavam Temos se alimentando de dívidas por um lado e, na base, na extração de mais-valia, desfrutavam da superexploração “empresas em falência mantidas artificialmente em do trabalho em espaços como a China, e outros como o
  • 3. O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão México. Estabelecera-se uma certa divisão mundial do dificuldade esta que igualmente se manifestava na trabalho principalmente com a China funcionando como “preferência” pelos lucros financeiros, pela esfera da plataforma industrial para as grandes corporações norte- especulação, do capital fictício. A financeirização não americanas e, no outro pólo, os Estados Unidos, (e parte surgiu por “escolha” ou política de Estado mas sobretudo dos emergentes) como mercado de consumo. pela dificuldade de valorização do capital na produção. O dinheiro mundial vem sendo acoplado ao “déficit “As transformações do sistema financeiro devem ser em conta corrente dos EUA. Tal acoplamento cinde analisadas com base em duas tendências essenciais a contradição entre entesouramento e circulação de que ocorrem desde o Início dos anos 80. A primeira é a mercadorias, ao desenvolver uma complementaridade alta tendencial da taxa de exploração: em quase todo o entre o entesouramento negativo dos EUA e o mundo, a parte da riqueza produzida que corresponde entesouramento hipertrofiado dos países que sustentam aos assalariados está em baixa, e os países emergentes esse dinheiro mundial. O resultado disso é que a máxima não são a exceção a esta tendência. Inclusive o FMI circulação internacional de mercadorias passa a exigir, ou a Comissão Européia constam isso. Esta baixa da nos EUA, um déficit constante em conta corrente e, parte relativa aos salários permitiu uma recuperação nos demais países, um superávit, cujo efeito é restringir espetacular da taxa média de lucro a partir de meados seu consumo interno e, portanto, gerar um crescimento dos anos 80. Mas a segunda tendência mostra que a taxa econômico contraposto ao desenvolvimento real” de acumulação continuou a flutuar em um nível inferior (LETIZIA, 2009). ao que existia previamente à crise. Dito de outra forma, a punção sobe os salários não foi utilizada para ampliar Este foi o quadro estabelecido nas últimas décadas, os investimentos. O ‘teorema de Schmidt’ do início dos especialmente através da “divisão do trabalho” entre a anos 80 (“o lucro de hoje são as inversões de amanhã China e os Estados Unidos. Na crise atual esse equilíbrio e os empregos de depois de amanhã”) não funcionou” (HUSSON, 2009). começou a ser violentamente rompido: a grande boca consumidora norte-americana começou a encolher com a inadimplência dos portadores de hipotecas (sub-prime). Este processo pode ser graficamente perceptível; É, importante considerar, em primeiro lugar que os ganhos em rentabilidade para o capital, na fase a crise atual estava em desenvolvimento desde longa “neoliberal” podem ser vistos no gráfico abaixo, mais data, desde a crise dos anos 70, dentro de uma dinâmica claramente nos anos 80 e 90, referente aos Estados estagnacionista, em um processo onde o sistema Unidos: capitalista se debatia ante a dificuldade arrastada em conseguir levantar a taxa média de lucro. Conseguira alcançar taxas mais elevadas de lucro em nichos (como as plataformas de produção da China e regiões de mão de obra quase escrava, barata) mas não se tratava de um processo global, extensivo aos países centrais como um todo, pelo contrário. O que se desenvolvia nessas décadas era uma espécie de globalização de nicho. Prova disso é que a taxa média de lucro que crescia, mais recentemente, após uma longa ofensiva do capital contra o trabalho, se desenvolvia em aberto descompasso com a taxa de acumulação do capital. Há estudos mostrando (HUSSON, 2008) que a partir dos anos 80 acumula-se mais-valia não investida (“não- acumulada”). Ou em outras palavras, a ofensiva política anti-operária neoliberal, dos anos 80, 90, não resultou em taxas de extração de mais-valia proporcionalmente maiores, correspondentemente maiores, na esfera da Fonte: Seisdedos, Paul Cooney, 2009. A crise atual e o papel do acumulação do capital. capital fictício, 2009. 6º. Colóquio Internacional MARX e Engels, Os investimentos globais não acompanhavam a taxa UNICAMP, Campinas, 3//2009 de lucro na produção, nos nichos produtivos. Tinha-se uma situação historicamente nova, onde o sistema fugia à O descompasso entre o crescimento da rentabilidade sua regra de fazer acompanhar a taxa de lucro de uma taxa e a taxa de acumulação já foi analisado mais de uma vez de acumulação à altura. Esta contradição era reveladora por Husson (2008) que, depois de chamar a atenção para das dificuldades do capital para obter rentabilidade, esse processo – de crescente massa de mais-valia não-
  • 4. Contra a Corrente acumulada – como sendo a raiz da financeirização da somente conseguiu uma relativa recuperação, na Grande economia mundial, adverte: Depressão dos anos 30 (por volta de 933) depois de quatro anos de destruição de forças produtivas, de capitais “No entanto, não podemos aplicar ao capitalismo e de desvalorização da força de trabalho (rebaixamento contemporâneo uma leitura “financista” que consistiria salarial, desemprego etc) e contando com a vantagem em diferenciar uma tendência autônoma para a de que os Estados Unidos de então eram uma potência financeirização que estaria parasitando o funcionamento capitalista emergente com amplas reservas de ouro dentre normal do “boom” capitalismo industrial. Isto viria a outras bases que se foram. dissociar artificialmente o papel das finanças e da luta de classes pela repartição do valor agregado. Deve-se O capitalismo daquela época, é bom lembrar ainda articular corretamente a análise dos fenômenos: a partir era relativamente juvenil nos EUA, com um mercado de do momento no qual a taxa de lucro aumenta graças trabalho há pouco plenamente constituído (a ocupação ao retrocesso salarial sem produzir oportunidades de do Oeste só terminara às vésperas da Grande Guerra acumulação rentável, as finanças começam a jogar de 94-8) e uma base rural importante de pequenos um papel funcional na reprodução procurando saídas agricultores (LETIZIA, 2009). E, no fim de contas, alternativas à demanda salarial: o consumo dos superar mesmo a depressão só foi possível por meio da rentistas e o sobre-endividamento dos trabalhadores. A carnificina da II Guerra, da aguda e brutal destruição característica principal do capitalismo contemporâneo de forças produtivas. E tomando de conjunto, por outro não reside então na oposição entre um capital financeiro lado, a maciça intervenção do Estado com Roosevelt de e um capital produtivo, mas na hiper-concorrência entre capitais como resultado da financeirização” (HUSSON, um lado e Hitler de outro exprimem o esgotamento de 2009). um sistema que já não consegue se safar da crise através do ciclo, dos mecanismos semi-automáticos do ciclo A crise atual encontra o sistema, portanto, em um econômico. patamar nunca visto de acumulação do capital. Em A primeira questão da política anti-crise atual pode especial na esfera financeira. É comum que técnicos ser assim formulada: o sistema lançou mão de suficiente do sistema falem em empresas “zumbi”, em massas de destruição de forças produtivas? O grande capital encontra ativos “tóxicos”, em obsolescência de muitas das grandes o estímulo para produzir (e realizar sua produção) com corporações frente às novas tecnologias de produção. base no dinheiro público que recebeu de presente? No entanto, a “saída” do governo à crise foi justamente Ora, o primeiro problema, portanto, da atual salvar esses oligopólios ‘grandes demais para se deixar tentativa de resgatar – inchando a dívida pública - essas quebrar’. Veremos que isso, no fundo, só aumenta as grandes corporações (industriais/financeiras) encontra-se contradições da situação anterior. no fato de que grandes investidores só vão entrar em ação Aqui é preciso lembrar da clássica e atualíssima se reencontrarem uma taxa média de lucro à altura do observação de que, por si mesma, a acumulação capitalista seu porte. O capital-zumbi foi preservado, já sabemos; é engendradora de crise. A teoria marxista da acumulação a questão é se o grande capital irá para a produção. Ora do capital já contém, em si mesma, a teoria da crise do ele não se encontra mais presente na produção pela razão capitalismo, um sistema impossibilitado de qualquer tipo de que não encontrava rentabilidade em produzir. Mais de equilíbrio harmônico (GILL, 2002). Menos ainda em vantajoso era emprestar a juros, sobretudo aos governos, sua fase de declínio (leia-se quando se estreitam as bases perspectiva que atualmente continua de pé. históricas de valorizações do capital). O próprio processo A falsa idéia de que irrigando o grande investidor de reprodução ampliada do capital engendra o aumento da com massas de recursos públicos isso fará com que ele se composição orgânica do capital, da massa de capital fixo, lance a aplicar capitais na produção ao ponto de superar o que, tendencialmente, tende a derrubar a taxa média a tendência depressiva não encontra respaldo. E aqui o de lucro. O capital, portanto, em seu funcionamento de argumento de Mandel continua atual: conjunto, constrói, necessariamente, dificuldades para sua auto-valorização, independente dos processos na “Os capitalistas não estão obrigados a reinvestir seus lucros suplementares na produção. Podem optar por esfera da inflação, dos juros, dos salários etc: reafirma- entesourá-los ou utilizá-los com fins estritamente se aqui sua condição de processo histórico, transitório especulativos. Mesmo quando os investem pode e, nos dias atuais, destrutivo por excelência, ecocida e ser na condição de inversões de racionalização que reacionário em toda linha. suprimem empregos em vez de criá-los. Os capitalistas Essa dificuldade de valorização se concentra e não trabalham para o ‘interesse geral’. O que buscam explode em crise: sem a maciça destruição de capitais é aumentar ao máximo seus lucros. Esta conduta é a (bens, equipamentos; desemprego, rebaixamento da força que acaba por provocar o crescimento periódico da de trabalho etc), o sistema não como tentar reencontrar a estagnação e as crises econômicas mais ou menos longas. taxa de lucro. No curso destas crises, o volume e a taxa de lucro caem. Um exemplo histórico: o sistema capitalista A restauração da taxa de lucro é uma prioridade absoluta
  • 5. O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão para a burguesia. O aumento da taxa de exploração dos burguesia a não investir (elevar a taxa de acumulação) assalariados – em termos marxistas, a taxa de mais-valia está justamente dado pelo que a crise expressa: a – é o meio que utiliza para isso. A política de austeridade necessidade de queimar capitais hoje comprometidos se converte em seu programa. A deflação monetarista e – na sua capacidade de auto-valorização – por uma a inflação keynesiana não são mais que variantes dessa elevada produtividade. “Nas sociedades ricas em capital mesma orientação fundamental” (992). do centro do sistema, a principal restrição à acumulação Não há nenhum indício concreto, portanto e nem não é o fato de a economia não ser produtiva o bastante e, argumento teórico, que sustente a idéia de que essa enorme sim, de ser produtiva demais” (FOSTER, 200). bolha de dívida pública ou de capitais superacumulados, A crescente tecnificação (elevadíssima composição venha nos marcos atuais, a traduzir-se em investimentos orgânica do capital) e a dificuldade em obter lucros na produção, em reanimação orgânica da economia. na produção em países como os Estados Unidos ou os Esta enorme bolha de dívida pública – caso europeus, o Japão, atingiu a um nível muito elevado (o “puro” de capital fictício segundo Marx já que não tem que tendencialmente joga para baixo a taxa média de contrapartida alguma em termos de criação real de valor lucro) e o que precisa ser levado em conta é que nada – envolve disso chega a ser substancialmente alterado por essa política de resgate dos países ricos. “dinheiro barato que não está indo para a economia real. Ao contrário, a maior parte da emissão monetária está guardada nos bancos ou foi para a Bolsa, seja Implicações sobre o Estado porque os bancos não querem usar esse dinheiro para Outra dimensão – e grave problema – da atual política oferecer créditos, seja porque a indústria não deseja anti-crise é o de que a pirâmide da especulação continua endividar-se. Nestes marcos, não surpreende que os rodando, agora mais que nunca na esfera dos cofres e atores econômicos (...) encontrem o crédito escasso dívidas públicas. E mais que antes comprometendo e de alto custo. Os diferenciais (spreads) são maiores receitas e capacidade de investimento público, de que antes e mesmo as taxas absolutas são, como regra, empréstimo público. mais altas em mercados como o hipotecário onde a FED O consumo de massa crescente, por parte dos interveio. Estados Unidos, já era inflado, descolado da produção, (...) Mas, ao mesmo tempo, as baixas taxas estão alimentado a dívidas. As grandes massas de capitais permitindo aos bancos fazer dinheiro (certamente não estavam lucrando na especulação, no crédito, nas é difícil conseguir ganhos quando se dispõe de dinheiro seguradoras, nos papéis do governo. emprestado pela Reserva Federal quase sem juros e O governo impediu a quebra colossal desses capitais se empresta depois ao Governo a 3,5%), melhorando anunciada pela crise. E não apenas se trata de esfera seus balanços. Esta política busca deliberadamente financeira: as grandes corporações industriais estavam e uma alta dos ativos com a peregrina crença de que estão metidas até o pescoço com ganhos especulativos isto impulsionará a economia real. As autoridades se (no caso do Brasil quem não lembra do exemplo da opuseram a um saneamento dos bancos como forma de Parmalat que ganhava mais especulando que produzindo lidar com a crise financeira priorizando, pelo contrário, leite e a Votorantim, salva da quebra pelo governo e uma restauração da bolha naqueles ativos nos quais os bancos e firmas do mercado de capitais estão fortemente que ia à falência também no mesmo processo, em seu expostos. Os três ou quatro bancos que dominam o engajamento na especulação, com banco próprio?) setor nos Estados Unidos, que têm uma posição quase A extrema irracionalidade da situação atual, em monopólica, estão usando toda sua influência para meio a tamanha sobre-acumulação de capitais, está na proteger seus negócios” (CHINGO, 200, 7). Grifo volta dos banqueiros “aos negócios como de costume”, nosso. nas palavras de Foster (200). E a China, como detentora maior de papéis públicos norte-americanos, não está fora E não será demasiado lembrar que capitais desse processo. “sobrantes” e podres não são compartimentos separados Na opinião do ex-economista-chefe do Fundo da produção se tomamos o capitalismo de conjunto. Não Monetário Internacional (FMI), “a reação chinesa à se trata de crise do capital fictício, mas antes de mais recente crise financeira aumentou claramente os riscos nada, do capital. Capacidade ociosa, sobreprodução, de que a China tenha uma bolha alimentada a dívidas sobreacumulação de capital (fixo portanto), desemprego na economia” (ROGOFF..., 200). Em 2008, a China estrutural são expressões concretas da crise, portanto da cortou os juros, começou a implementar um pacote de baixa rentabilidade do capital que acumulou mais-valia gastos de 4 trilhões de iuans (US $ 586 bilhões) e aboliu movido mais a crédito, a bolhas de empréstimos para as cotas que limitavam os empréstimos dos bancos, consumo, dinheiro barato; aqui se encontra o chão da para combater a queda nas exportações. Os valores dos crise, o substrato ou as razões do parasitismo. imóveis em Xangai e Pequim descolaram da realidade Um dos problemas de fundo que leva a grande (ROGOFF... 200).
  • 6. Contra a Corrente Ou seja, um dos mecanismos que conduziu à crise relação à sua possibilidade real de geração de valor em está sendo usado como “remédio” anti-crise. O exemplo aberta contradição com uma base ainda menor de auto- do crédito ao consumidor é ainda mais patente. E a valorização. opção do Estado se lançar à oferta maciça de crédito ao Em conseqüência tem-se a exacerbação da consumidor esbarra nas barreiras criadas no processo tal concorrência por um espaço menor de rentabilidade, como ele se desenvolve até aqui: assim como os movimentos por parte dos Estados em “A nova versão do crédito ao consumidor levou, com o proteção dos grupos oligárquicos. Em conseqüência tem- passar do tempo, à criação de uma grande capacidade se uma piora do comércio internacional (que ano passado de consumo falsa, isto é, não baseada em ganhos sofreu sua maior queda) e isso em uma fase em que o reais, a qual foi enormemente facilitada pela expansão governo norte-americano já vinha depreciando o dólar dos cartões de crédito, que permitem endividamento desde antes, procurando estimular suas exportações por instantâneo, sem contrato específico de empréstimo. Essa falsa procura, criada por artifício financeiro, essa via. Aliás mesmo com o dólar sendo depreciado (3 poderia, em tese, permitir o adiamento indefinido da % na década passada) os Estados Unidos não conseguem crise de ruptura da barreira do capital, desde que fosse reduzir o déficit comercial (foi de 2,8 % do PIB em 999 possível expandi-la indefinidamente. para 4,8 % em 2008). Evidentemente, isso não é possível, porque dar mais Outros efeitos lógicos são a onda de fusões e crédito a consumidores que estão perdendo benefícios aquisições de empresas mais vulneráveis pelas maiores e sociais e tendo sua renda disponível amputada implica mais fortes, assim como a pressão dos setores mais fortes onerá-los cada vez mais com o pagamento de juros, o do imperialismo sobre os elos mais fracos, sobre países que tende a desembocar em castelos de dívidas para como a Grécia, a Espanha mas também sobre a China pagar dívidas e, finalmente, em restrição de consumo. para que se “abra” à produção dos países imperialistas O fato de que, um ano após o estouro da chamada “bolha imobiliária” americana, tenha sobrevindo uma aumentando seu consumo interno de elite. onda de demissões de trabalhadores nos EUA (as crises Ao mesmo tempo, a tentativa de escapar da depressão financeiras precedentes, ou foram setoriais ou não através do deslocamento dos problemas da esfera privada aconteceram nos EUA), cuja população está altamente para a da dívida pública e crise fiscal tem como seqüela endividada em cartão de crédito, é significativo da o fortalecimento dos mais poderosos grupos financeiro- natureza desta crise e explica a ineficácia das medidas industriais, das forças imperialistas dos Estados Unidos de socorro à finança tomadas até agora. Esse tipo de e Alemanha, por exemplo, enredadas com a China, o dificuldade aponta para algo pior do que a ‘recessão que desemboca em acirramento da concorrência entre mais longa’, anunciada pela maioria dos analistas os gigantescos centros do capital. O resultado é maior econômicos” (LETIZIA, 2009). fricção e tensão entre esses grupos imperialistas e os Estados que os sustentam, para ver quem paga o custo da Mesmo que se conceba explosão da crise e a escalada da crise. entrada da dívida pública como mercado de substituição, De 996 a 2008 o superávit comercial da Alemanha gerador de demanda, amortecedor da contradição mais com os demais membros da Europa passou de 20 bilhões profunda da economia, o fato, analisado desta vez por de euros para 00 bilhões por ano. E a Alemanha, mesmo Mandel, é que “a hora da verdade pode ser atrasada dando passos adiante na produtividade, consegue manter mas não indefinidamente. O endividamento crescente 20% do emprego total na manufatura, enquanto os alimenta inevitavelmente a inflação. A partir de um demais países da zona do euro não chegam aos 6% e certo limiar, em vez de estimular a expansão, começa a em processo de queda (BELUZZO, 200). Esse processo estrangulá-la”(992). E a situação atual norte-americana é a expressão acabada de uma fase – “o equilíbrio” corresponde a enorme volume de capital ocioso a pesar capitalista anterior – onde se desenvolveu um processo sobre a economia real, grandes empresas salvas mas de espoliação imperialista dos países mais débeis pelos em retirada do processo reprodutivo e as famílias ainda mais fortes, também em plena Europa, na zona do euro; endividadas e com sua capacidade de consumo diminuída com industrialização relativa de um pólo (Alemanha) às (LETIZIA, 2009). E a injeção maciça de dinheiro público custas do enfraquecimento (colonização) do outro. não melhorou substancialmente a escassez de crédito. A Alemanha segurou os custos da mão de obra Esta continua existindo. Produzir não é tão estimulante tornando suas exportações capazes de concorrer em preço como especular ou lucrar com juros que os Estados terão a despeito de um euro valorizado, segundo Blackstone que oferecer, para não serem engolfados pelas dívidas. (200). E, de toda forma, não se trata de um processo onde a Alemanha ou o conjunto dos países imperialistas Impasses na dinâmica atual viessem desenvolvendo aumento da massa salarial. Em síntese, a dinâmica atual, com grandes Trata-se de uma fase do capitalismo na qual, como corporações e bancos sendo salvos, continua tendo explica Letizia, pôde até ter havido aumento salarial em como pano de fundo a super-acumulação de capitais em números brutos, porém
  • 7. O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão capital. “na fase atual do capitalismo, mesmo salários crescentes Temos um sistema que, de relativamente reacionário se traduzem em renda líquida disponível decrescente, passa a ser “absolutamente reacionário”, mesmo que uma vez que boa parte dos anteriores ganhos indiretos atravessando bolhas de crescimento. “O declínio do em produtos subsidiados de empresas estatais (que capitalismo tem a ver com o fato de que as de relações de foram privatizadas) e em serviços sociais (que deixaram valor possuem uma base mais estreita. A lei do valor, a lei de ser gratuitos) desapareceu. E não poderia haver aumentos salariais que compensassem tais perdas, básica do capitalismo, encontra crescentes dificuldades porque esta fase capitalista é a da pressão permanente para desenvolver-se automaticamente. É isto que declina pelo rebaixamento dos trabalhadores do mundo ao nível e o que está por trás dos esforços cada vez mais custosos dos min gong da indústria chinesa” (2009). do capitalismo para sua sobrevivência” (MERCATANTE, 2007, 47). Quando se leva em conta que a necessidade premente Na China (ou na Alemanha) houve crescimento do sistema é levar adiante o processo de rebaixamento relativo, parcial, de forças produtivas, mas como parte e precarização da força de trabalho, destruir forças de um processo mais amplo, histórico, do declínio de um produtivas, queimar capitais, ao mesmo tempo em que sistema, do não desenvolvimento histórico das forças pressiona os elos mais fracos, pode-se deduzir que a produtivas. Cada fase ou foco de crescimento tornou- depressão está no horizonte. se parte de um processo de decadência, decomposição. Eles mesmos reconhecem o dilema: o Finantial Basta examinar o peso dos gastos militares em épocas Times, dirigindo-se à China e Alemanha em editorial “de paz”, o gigantismo das dívidas - o porte histórico da intitulado Líderes mundiais estão escolhendo a recessão, dívida pública -, ou o a escala astronômica alcançada argumenta que “o mundo enfrenta uma escolha: ou os pela especulação e pelo parasitismo sob todas as suas exportadores em série podem optar por consumir mais e formas. reequilibrar a economia mundial através do crescimento Setores como o ponto.com e imobiliário foram parte ou podem sentar sobre suas mãos e permitir que a de um momento de crescimento. Mas basta focarmos seu demanda desabe e reequilibrar a economia mundial aspecto de bolha para se ter claro o que se quer dizer através da estagnação” (22/3/200). por decadência; especialmente se consideramos aquele argumento anterior de que toda essa sobre-acumulação Declínio de um sistema de capitais não vem lado a lado com uma elevação, à Em outras palavras – e voltando a uma questão de altura, da taxa média de lucro. fundo - não queimar capitais na magnitude necessária Ao tratar de impedir a queima de capitais, os para o sistema significa ter que arcar com: - taxa média Estados Unidos terão que tomar medidas para favorecer de lucro que não retorna a um nível capaz de dar fôlego suas grandes corporações na busca de rentabilidade; ao capitalismo; - manter o Estado sufocado com dívida no espaço-mundo isto significa forçar a compra de pública (e menor capacidade de investimento, de crédito, mercadorias norte-americanas, forçar toda medida que de demanda); - significa também que a tendência melhore a posição dos capitais dos Estados Unidos no depressiva é apenas contornada, maquiada e que continua mundo. Certamente tensionar a China3. E, de uma maneira contida a capacidade de gerar emprego na produção. geral, os agentes do sistema necessitam avançar sobre o Na outra ponta do dilema: destruir capitais significa patrimônio público que seja capaz de gerar lucros. ter que criar a correlação de forças políticas para isso, para O sistema precisa, ao mesmo tempo, aumentar o uma empreitada de magnitude histórica de devastação da consumo interno sendo que nos Estados Unidos temos força de trabalho e do capital acumulado. Cabe observar o consumidor em potencial endividado ao extremo – o quanto esse dilema reflete decadência: incapacidade de como foi argumentado antes - e parte dele sob ameaça desenvolver, historicamente, as forças produtivas a não de desemprego ou de hipoteca da casa. E o dilema dos ser como forças destrutivas. Estados Unidos vai mais longe: “se as famílias aumentam O processo de fundo é de declínio histórico de um sua taxa de poupança, o consumo se reduz e o crescimento sistema ou decadência. Quando certos autores marxistas não poderia voltar a deslanchar. Se o gasto público toma mencionam esta condição estão querendo dizer que o seu lugar, o déficit comercial exterior vai aprofundar- sistema enfrenta crescente disfuncionalidade diante da se outra vez, e o fluxo de capital necessário para seu sua lei básica, que rege seu funcionamento, que o mantém financiamento pode converter-se em um problema” de pé: a lei do valor (MERCATANTE, 2007, 47). O sistema pode ter momentos de crescimento, de equilíbrio 3 A ilusão de muitos “de que estaríamos diante de uma relativo (como a fase anterior, onde se estabeleceu a divisão internacional do trabalho harmoniosa, em que a China ponte ou “divisão mundial do trabalho” Estados Unidos- funcionaria como provedora de manufaturas e os Estados China) mas invariavelmente trata-se de um processo que Unidos como consumidores em última instância, começou reflete aquela crescente dificuldade para valorização do a ruir a partir do advento da crise capitalista” (ISHIBASHI, 2009, 46).
  • 8. Contra a Corrente (HOUSSON, 2009). Europe Anticipation Bulletin n.39, de 5//2009. GEAB. Em suma, se é certo que o governo norte-americano Disponível em: http://resistir.info/crise/geab_39 tenta a jogada de buscar evitar a plena e aguda depressão RIBEIRO, Alex, 200. Obama sob pressão para declarar econômica que estava na pauta ano passado (já que que China controla iuan. Valor Econômico, 5/3/200, p.A3. ROGOFF PREVÊ BAQUE PARA A CHINA. Valor não via condições políticas e econômicas de suportar a Econômico 25/2/200, p. A. ampla queima de capitais e seu impacto político-social) é SEISDEDOS, Paul Cooney, 2009. A crise atual e o papel igualmente verdade que o resgate das finanças e grandes do capital fictício, 2009. 6º. Colóquio Internacional MARX e corporações – sua política atual – revela não apenas a Engels, UNICAMP, Campinas, 3//2009. miséria de um sistema mas também que a descarga TOUSSAINT, Eric, 200. Si no hay uma salida plena da crise será dirigida contra os que vivemos anticapitalista a esta crisis, habrá una salida capitalista, apenas do nosso trabalho. O próximo lance está com a 8/3/200. Disponível em: www.rebelion.org. Acessado em classe trabalhadora. Neste momento, com os gregos, os 20/3/200. espanhóis e o proletariado europeu sobre quem as forças WESSEL, David, 200. Ásia puxa retomada global, mas imanentemente destrutivas do capital esperam buscar sua será que o fôlego vai durar? Valor Econômico, 25/2/200, p. A. válvula de escape. WOOLF, Martins, 200. O debate na zona do euro. Valor Econômico, 24/03/200, p. A-3. Bibliografia BELUZZO, Luis G., A Alemanha e a Eurolândia. Valor econômico, 2/03/200, p. A-3. BLACKSTONE, Brian, 200. Competitividade alemã “O caso argentino nos demonstra que, ao contrário assusta vizinhos, Valor Econômico, 22/3/200, p. A5. do que afirmaram alguns autores que decretaram o CHINGO, Juan, 200. La difícil vuleta aun nuevo fim da classe operária ou do trabalho, o cenário dos equilíbrio capitalista, revista Estratégia Internacional, n.26, anos noventa expressou grande debilitamento da classe Buenos Aires, marzo 200, p. a 53. trabalhadora, pois sua força social foi atacada ao jogar para fora da produção milhares de FOSTER, Bellamy, McCHESNEY, Robert, 200. O assalariados. Mas mesmo neste cenário, dilema do escorpião, Retrato do Brasil, n. 3, fev 200, p. 8 encontramos a sobrevivência a 25. e o resgate de métodos de luta da tradição operária, GILL, Louis, 2002. Fundamentos y limites del do classismo, no interior do movimento de capitalismo. Madrid: Trotta. desempregados. (...) O resultado da luta em Zanon, HUGHES, Jennifer, 200. Em crise fiscal, Europa avalia a sua gestão operária, é fruto do resgate das novo ciclo de privatizações. Valor Econômico, 7/3/200, p. concepções classistas. É uma pequena experiência A. de luta da classe trabalhadora que contou com HUSSON, Michel, 2008. Le capitalisme toxique. grandes lições para o seu conjunto. Ela foi a prova evidente de que os trabalhadores, mesmo Disponível em: www.hussonet.free.fr/toxicapw.pdf. Acessado: num contexto em que sofreu profundos ataques, 2/4/2009. continuam vivos enquanto sujeitos sociais e HUSSON, Michel, 2009. La dictadura de la economia va políticos da transformação social”. a volverse más brutal. El Aromo (Argentina), n. 49, 2009. ISHIBASHI, Simone, 2009. China: salvação do (Ricardo Festi, tese mestrado sobre a ocupação capitalismo ou palco de inflexões? Uma leitura crítica de Adam operária da fábrica de Cerâmicas Zanon, na Argentina intitulada ZANON, FÁBRICA SEM PATRÃO: Smith em Pequim. In Iskra, n.2, São Paulo, nov.2009, p. 38- um debate sobre classismo e controle 57. operário, Unicamp 200). LETIZIA, Vito, 2009. Enfrentar a grande crise. In O Olho da História, Salvador, BA, julho 2009. MACHADO, Os EUA respiram, Antônio Machado, Correio Braziliense 30/0/200, p. 5 MANDEL, Ernest, 992. Déficit presupuestario e internacionalizacion del capital en la teoria marxista. “A propriedade privada nos fez tão cretinos e Disponível em: www.rebelion.org. Acessado em: 0/3/200. unilaterais que um objeto somente é o nosso MERCATANTE, Esteban, 2007. Entre el escepticismo y [objeto] se o temos, portanto, quando existe para nós la catástrofe inminente. Revista Lucha de Clases n. 7, Buenos como capital ou é por nós imediatamente possuído, Aires, junio 2007, pp 35-5. comido, bebido, trazido em nosso corpo, habitado MILLER, Rich, 200. Risco de deflação preocupa os por nós etc., enfim, usado. [...] O lugar de todos os Estados Unidos. Valor Econômico, /3/200, p. A. sentidos físicos e espirituais passou a ser ocupado, MOREIRA, Assis, 200. Fim prematuro de estímulos portanto, pelo simples estranhamento de todos esses sentidos, pelo sentido do ter” deve gerar crise social, diz OIT, Valor Econômico, 22/3/200, (Karl Marx, Manuscritos Econômico-Filosoficos). p.A3. Os Estados face às três opções brutais de 200: inflação, forte pressão fiscal ou cessação de pagamentos, 200. Global