Revisão ENEM ensino médio 2024 para o terceiro ano
Artigo bioterra v14_n1_07
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
80
Volume 14 - Número 1 - 1º Semestre 2014
ESTUDO FITOQUÍMICO DE Mikania lindeyana DC (ASTERACEAE)
Shayanne Vanessa Correia Henriques1; Ryan da Silva Ramos2; Ana Luzia Ferreira Farias3; Rosany Lopes Martins4;
Sheylla Susan Moreira da Silva de Almeida5
RESUMO
O uso de plantas medicinais, como alternativa terapêutica é amplamente difundida pelo mundo, pois
possui uma vasta variedade de plantas conhecidas ou desconhecidas. A espécie Mikania lindleyana
DC, conhecida como sucurijú é utilizada empiricamente para tratar dermatose, hepatite, inflamação,
úlcera gástrica crônica entre outros usos. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar
qualitativamente a constituição química da espécie Mikania lindleyana e comparar os dados obtidos
com os encontrados na literatura sobre outras espécies do mesmo gênero. Das folhas de Mikania
lindleyana foi obtido o extrato bruto etanólico para análise fitoquímica em busca das principais
classes de metabólitos secundários. Foi constada a presença de fenóis, taninos, esteroides e
triterpenoides. Plantas ricas em taninos são empregadas na medicina tradicional no tratamento
hemorragias, feridas, para problemas estomacais e processos inflamatórios. Alguns estudos mostram
que os triterpenos apresentam atividades citotóxica, antioxidante e antiinflamatória. Portanto, o
presente estudo demonstra que a espécie conhecida como sucurijú apresenta sustâncias que possuem
atividades alegadas pela população.
Palavras-chave: Sucurijú, análise fitoquímica, atividade biológica.
PHYTOCHEMICAL STUDY OF Mikania lindeyana DC (Asteraceae)
ABSTRACT
The use of medicinal plants as alternative therapy is widespread throughout the world, as it has a wide
variety of known and unknown plants. The species Mikania lindleyana DC, known as “sucurijú” is
used empirically to treat acne, hepatitis, inflammation, chronic gastric ulcer among other uses. The
present study aimed to qualitatively evaluate the chemical constitution of species Mikania lindleyana
and compare the results with those found in the literature on other species of the same genus. Leaves
of Mikania lindleyana was obtained crude ethanol extract for phytochemical analysis in search of the
main classes of secondary metabolites. The presence of phenols, tannins, triterpenoids and steroids
were found to have. Plants rich in tannins are used in traditional medicine in treating bleeding,
wounds, for stomach problems and inflammatory processes. Some studies show that the triterpenes
exhibit cytotoxic, antioxidant and anti-inflammatory activities. Therefore, the present study
demonstrates that the species known as “sucurijú” has substances that have activities alleged by the
population.
Keywords: Sucurijú, phytochemical analysis, biological activity.
2. 81
INTRODUÇÃO
Desde tempos remotos as plantas são
utilizadas com finalidades terapêuticas, sendo
que a maior parte dessa utilização advém
primeiramente do conhecimento popular
tradicional (SILVA 2010). O uso de plantas
medicinais no mundo tem uma contribuição
significativa na saúde pública básica. Muitas
plantas são usadas no Brasil na forma de extratos,
infusões, emplastos etc. para tratamento de
infecções comuns sem nenhuma evidência
científica de eficácia (PIONERDO, 2010).
O estímulo ao uso destes fitoterápicos
tem como objetivo prevenir, curar ou minimizar
os sintomas das doenças, com um custo mais
acessível à população e aos serviços públicos de
saúde, comparativamente àqueles obtidos por
síntese química, que são em geral mais caros,
devido às patentes tecnológicas envolvidas
(TOLEDO et al.).
O uso de plantas medicinais, como
alternativa terapêutica barata para a população de
baixa renda, deve ser estimulado, sim, de modo
correto, por profissionais preparados e
solidamente amparados em boa bibliografia,
detentores dos conhecimentos populares e
científicos, e que sejam capazes de unir os dois,
pois o seu uso incorreto constitui risco para a
população (FERREIRA, 2010)
A Asteraceae é uma família de plantas
muito importante na flora, onde ocupa o primeiro
lugar em número de espécies seguidas pela
Poaceae e Fabaceae. Os principais ambientes
ocupados pelas Asteraceae são as savanas, os
campos de gramíneas, as margens dos rios, e os
lugares onde a mata natural foi destruída por
incêndios (FREIRE, 2006).
O gênero Mikania pertence à família
Asteraceae e à tribo Eupatoriae, tem cerca de 430
espécies distribuídas principalmente na América
do Sul. No Brasil, o gênero com 171 espécie
ocorre de norte a sul (BUDEL, 2008). As
espécies mais utilizadas são Mikania glomerata
Sprengel e Mikania laevigata Shultz Bip. Ex
Baker, conhecidas popularmente como guaco
(BOLINA, 2009). Estas são usadas pela
medicina popular no tratamento de diversas
enfermidades, principalmente por suas
propriedades antimicrobiana, antiinflamatória e
analgésica.
A espécie Mikania lindleyana DC.,
conhecida como sucurijú, é caracterizada por ser
trepadeira sobre árvores na beira de igapó, por
possuir flor branca e cheirosa. É utilizada
empiricamente para tratar dermatose, hepatite,
inflamação, úlcera gástrica crônica e varicose.
Também é utilizada como diurética, analgésica e
antihipertensivo. È administrada por via oral na
forma de chás das folhas (MARTINS et al.,
2008). A M. lindleyana também é utilizada por
comunidade quilombola para tratar febre da
malária e problemas de pele através de emplastos
(SILVA, 2002).
Baia et al. (2011) comprovou que o
extrato aquoso de cipó de sicurijú (Mikania
lindleyana DC.) apresenta efeitos fungicidas in
vitro. A espécie sucurijú é muito popularmente
utilizada como fitoterápico, porém não há muitos
registros ou comprovação de seus efeitos.
A literatura existente aponta a presença
de cumarinas, triterpenos, esteróides e
heterosídeos flavônicos no extrato metanólico de
M. glomerata e M. laevigata. Geninas e
heterosídeos antracênicos, saponinas, geninas
flavônicas, alcalóides, heterosídeos carditônicos,
taninos e polifenóis simples não foram
encontrados em amabas as esp´ceis. Entretanto,
espécies pertencentes a um mesmo gênero
podem apresentar diferenças na constituição
química (BOLINA, 2009).
Há poucos estudos fitoquímicos e
farmacológicos das partes aéreas da Mikania
lindleyana que comprovem cientificamente seu
uso popular (VANDERLINE et al., 2012).
Dentro deste contexto, a presente pesquisa teve
como objetivo avaliar qualitativamente a
constituição química da espécie Mikania
lindleyana e comparar os dados obtidos com os
dados encontrados na literatura com outras
espécies do mesmo gênero.
MATERIAIS E MÉTODOS
As folhas de Mikania lindleyana foram
coletadas no município de Macapá. O material
foi seco em estufa de ar circulante à temperatura
de 40ºC. Após secagem as folhas forma trituradas
em moinho elétrico. Uma quantidade de 17,84 g
de material vegetal seco e moído foi extraída á
quente sob refluxo com 750 mL de etanol por 45
min. À 45ºC, este processo repetido por mais
duas vezes com o mesmo material vegetal,
3. 82
trucando apenas o líquido extrator.
Posteriormente foi filtrado e o solvente
evaporado em rotaevaporador, obtendo-se 8,74 g
de Extrato Bruto Etanólico.
Para a análise fitoquímica foi realizada
seguindo a metodologia de Barbosa (2001) para
determinar as principais classes de metabolitos
secundários, tais como: fenóis, taninos, açúcares
redutores, flavonóides, saponinas espumídicas,
esteróides, triterpenoides, depsídeos, depsidonas,
antraquinonas e alcalóides.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na análise fitoquímica preliminar foi
constado a presença de fenóis, taninos, esteróides
e triterpenoides (Tabela 1).
Tabela 1 – Resultado da análise fitoquímica do extrato bruto das folhas de M. lindleyana.
Metabólitos secundários Resultado da análise
Fenois e taninos Positivo
Açúcares redutores Negativo
Flavonoides Negativo
Saponinas espumídicas Negativo
Esteróides e triterpenoides Positivo
Depsideos e depsidonas Negativo
Antraquinonas Negativo
Alcaloides Negativo
Os resultados encontrados para M.
lindleyana está de acordo com o encontrado na
literatura para o gênero (VANDERLINDE et al.,
2012). Baratto et al. (2008) encontraram taninos
e triterpenos como metabólitos de M. laevigata,
assim como Oliveira (2007) constatou a presença
de triperpenoides no extrato de M. cordifolia. Na
literatura pesquisa sobre o gênero Mikania
encontra-se este metábolito em diversas espécies.
Por meio da pesquisa utilizada para M.
lindleyana não foi possível verificar a presenças
de flavonóides no extrato bruto etanólico, sendo
que este já foi observado em outras espécies
(OLIVEIRA, 2007; BOLINA, 2009; REHDER,
2006).
Quanto à atividade biologia dessas
classes de metabólito secundários observados em
M. lindleyana nesta pesquisa, os taninos
apresentam a capacidades de combinar-se com
macromoléculas, côo as proteínas e
polissacarídeos, formando complexos insolúveis
em água. Plantas ricas em taninos são
empregadas na medicina tradicional no
tratamento de hemorragias, feridas, problemas
estomacais e processos inflamatórios.
Santos e Mello (2010) expõem que as
atividades farmacológicas dos taninos são devido
as suas características gerais: habilidade de
complexar com outras moléculas, como já foi
mencionado anteriormente; complexação com
íons metálicos e sua atividade antioxidante e
seqüestradora de radicais livres. Os taninos
ajudam no processo de cura de feridas e
inflamação por meio da formação de camada
protetora formada por complexos tanino-proteínas
sobre a pele ou mucosa danificada,
permitindo que abaixo ocorra a reestruturação do
epitélio e a formação de novos vasos,
justificando o uso desta espécie.
Os triterpenos são compostos
pentacíclicos cuja diversidade estrutural inclui
uma grande variedade de grupos funcionais.
Estudos mostraram que compostos desta classe
de compostos apresentam atividade citotóxica,
antitumoral, antimalárica, antioxidante e
antiinflamatória (NASSER, 2007), sendo que, o
mecanismo de ação ainda não está bem
esclarecido, podendo apenas correlacionar estas
atividades com as que formam relatadas para M.
lindleyana corroborando seu uso para algumas
dessas atividades.
CONCLUSÃO
O estudo fitoquímico de Mikania
lindeyana (sucurijú) utilizada pela medicina
tradicional como antiinflamatória, problemas
estomacais, entre outras, possui certo
fundamento quando se verifica a presença de
compostos presentes na espécie com estas
atividades, demonstrando que o uso desta espécie
vegetal está de acordo com o que foi encontrado
na literatura, devendo no entanto, ser realizados
estudos mais aprofundados em busca dos
princípios ativos.
4. 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAIA, A, D. B.; CARVALHO, A. C. de;
COSTA, C. A. da. Uso do extratos vegetais
aquoso in vitro sobre Sclerotium rolfsii no
controle de mancha foliar em antúrio (Anthurium
andraeanum). Anais do 9º Seminário de
Iniciação Científica, 19ª, 21 de outubro de 2011.
BARATTO, L. et al. Investigação das atividades
alelopática e atimicrobiana de Mikania laevigata
(Asteraceae) obtida de cultivos hidropônico e
tradicional. Brazilian Journal of
Pharmacognosy, v. 18, n. 4, p. 577-582, 2008.
BARBOSA, W. L. R. et al. Manual de Análise
Fitoquímica e Cromatográfica de Extratos
Vegetais (Edição revisada). Revista Científica da
UFPA, v. 4, 2004. Disponível em:
<http://www.ufpa.br/rcientifica>. Acesso em:
09.06.2011.
BOLINA, R. C.; GARCIA, E. F.; DUARTE, M.
G. R. Estudo comparativo da composição
química das espécies vegetais de Mikania
glomera Sprengel e Mikania laevigata Schultz
Bip. Ex Baker. Brazilian Journal of
Pharmacognosy, v. 19 (1B), p. 294-298, 2009.
BUDEL, J. M. et al. Contribuição ao estudo
farmacognóstico de Mikania laevigata Sch. Bip.
Ex Baker (guaco), visando o controle de
qualidade da matéria-prima. Brazilian Journal of
Pharmacognosy, v. 19 (2B), p. 545-552, 2009.
FRAGA, B. M. Natural sesquiterpenoids. Nat.
Prod. Rep, v. 23, p. 943-972, 2006.
FREIRE, S. E. et al. Inventario de la
biodiversidad vegetal de la provincial de
Misiones: Asteraceae. Darwiniana. v. 44, p. 375-
452, 2006.
GASPARETO, J. C. et al. Mikania glomerata
Spreng. e M. laevigata Sch. Bip. exBaker,
Asteraceae: estudos agronômicoa, genéticos,
morfoanatômicos, químicos, farmacológicos,
toxicológicos e uso nos programas de fitoterapia
do Brasil. Brazilian Journal of Pharmacognosy,
v. 20, p. 627-640, 2010.
MARTINS, A. S. et al. Avaliação de minerais em
plantas medicinais amazônicas. Brazilian
Journal Pharmacognosy, v. 19 (2B), p. 621-625,
2009.
NASSER, A. L. M. et al. Esteroide e
triterpenoides biologicamente ativos em cascas
de Qualea parviflora Mart. Anais... I Simpósio
Paulista de Farmacognosia, 2007.
OLIVEIRA, P. A.; TURATTI, I. C. C.; DE
OLIVEIRA D. C. R. Comparative analysis of
triterpenoids from Mikania cordifolia collected
from four different locations. Brazilian Journal
of Pharmaceutical Sciences. v. 42, 2006.
OLIVEIRA, P. A. Estudo fitoquímico
comparative de Mikania cordifolia (L.f.) Wild.
2007. Tese de Doutorado (Doutorado em
Química) Ribeirão Preto-SP.
PAULA, J. A. M. et al. Estudo farmacognóstico
das folhas de Pimenta pseudocaryophyllus
(Gomes) L. R. Landrum – Myrtaceae. Brazilian
Journal of Pharmacognosy. v. 18, p. 265-278,
2008.
PIORNEDO, R. R. Atividade antiinflamatória de
Gochnatia polymorpha ssp. floccosa em
camundongos. 2010. Dissertação de Mestrado
(Mestrado em Farmacologia) – Universidade
Federal do Paraná. Curitiba-PA.
REHDER, V. L. G.; SARTORATTO, A.;
RODRIGUES, M. V. Essential oils composition
from leaves, inflorescences and seeds of Mikania
laevigata Schultz Bip. Ex Baker and Mikania
glomerata Sprengel. Rev. Bras. Pl. Med. v. 8, p.
116-118, 2006.
REIS, A. A. et al. Preliminary studies on the
volatile contituition of Mikania species.
Brazilian Journal of Pharmacognosy, v. 18,
(Supl.), p. 683-685, 2008.
SILVA, R. B. L. A etnobotânica de plantas
medicinais da comunidade de Curiaú, Macapá-
AP, Brasil. 2002. 172p. Dissertação de Mestrado
(Mestrado em Agronomia) – Universidade
Federal Rural da Amazônia. Belém-PA.
5. 84
SILVA, T. B.; RANGEL, E. T. Avaliação da
atividade antimicrobiana do extrato etanólico do
tomilho (Thymus vulgaris L.) in vitro. Revista
Eletrônica de Farmácia, v. 7, p 48-58, 2010.
TELEB-CONTINI, S. H. et al. Differences in
secondary from leaf extracts by Mikania
glomerata Sprengel obtained by
micropropagation and cutting. Brazilian Journal
of Pharmacognosy, v. 16 (Supl.), p. 596-598,
2006.
TOLEDO, A. C. O. et al. Fitoterápicos; uma
abordagem farmacotécnica. Revista Lacta, v. 21,
p.7-13, 2003.
VANDERLINDE, F. A. et al. Anti-inflammatory
and opioid-like activities in methanol extract of
Mikania lindleyana, sucuriju. Brazilian Journal
of Pharmacognosy, v. 22, p. 150-156, 2012.
SANTOS, S. dos S. Farmacognosia: da Planta
ao medicamento. 6ª Ed. Porto Alegre. Editora da
UFRGS: Florianópolis. 2010.
_____________________________________
1 - Acadêmica do Curso de Farmácia.
Laboratório de Farmacologia e Fitoquímica –
Universidade Federal do Amapá – Rodovia
Juscelino Kubistchek, KM-02, Jardim Marco
Zero – Macapá - AP.
2 - Mestrando do Programa de Pós-graduação em
Ciências Farmacêuticas. Laboratório de
Farmacologia e Fitoquímica – Universidade
Federal do Amapá – Rodovia Juscelino
Kubistchek, KM-02, Jardim Marco Zero –
Macapá - AP.
3 - Licenciada em Química. Professora da Escola
Gabriel de Almeida Café. Avenida FAB, nº 91.
Bairro Central. Macapá – AP.
4 - Licenciada e Bacharel em Biologia.
Colaboradora do Laboratório de Farmacologia e
Fitoquímica – Universidade Federal do Amapá –
Rodovia Juscelino Kubistchek, KM-02, Jardim
Marco Zero – Macapá – AP.
5 - Doutora em Química de Produtos Naturais.
Laboratório de Farmacologia e Fitoquímica –
Universidade Federal do Amapá – Rodovia
Juscelino Kubistchek, KM-02, Jardim Marco
Zero – Macapá - AP.