1. Folha de S.Paulo - Londres - Clóvis Rossi: Obama, o bom vizinho - 02/04/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009
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CLÓVIS ROSSI
Obama, o bom vizinho
LONDRES - Antes de mais nada, uma explicação ao leitor:
comecei a ler o noticiário internacional quando da revolta
húngara contra o comunismo, em 1956. Tinha 13 anos.
Portanto, o interesse pelo mundo não é recente.
Desenvolvi uma verdadeira obsessão por conhecer
quot;newsmakersquot;, as pessoas que fazem notícias, e vê-los em
ação. Presidentes dos Estados Unidos são dos mais clássicos
quot;newsmakersquot; do planeta.
Um presidente como Barack Obama, ainda mais pelos
motivos que todo mundo já sabe.
Por isso, um entusiasmo juvenil me assolou ao receber a
confirmação de que estava na lista dos jornalistas
autorizados a acompanhar a entrevista coletiva que Obama
daria ao lado de Gordon Brown, o premiê britânico.
Visto como quot;newsmakerquot;, não me impressionou. O
noticiário a respeito está páginas adiante, e você pode julgar
por si mesmo.
Visto como pessoa física, é outra história. É o único
presidente norte-americano de todos os que conheci (desde
Richard Nixon) que não exala o odor do império. Mesmo
Bill Clinton, simpático, inteligente, superpreparado, não
escondia o peito estufado ao falar (figuradamente, claro).
Obama, ao contrário, parece o vizinho simpático que entra
sem precisar de permissão na casa da gente. Eu sempre fico
com medo de transmitir impressões pessoais, porque podem
ser falsas.
Só me animei a fazê-lo porque chequei com um membro da
delegação brasileira que esteve com Lula no encontro com
Obama e ficou com a mesmíssima impressão de quot;gente como
a gentequot;, se me perdoa o lugar-comum.
Até no encontro com a rainha, Obama e a mulher, Michelle,
se comportavam com a reverência que os netos de
antigamente tinham com os avôs. Pode até ser um fracasso
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como presidente, mas, como gente, é um bom personagem.
crossi@uol.com.br
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moucos
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3. Folha de S.Paulo - Gilberto Dimenstein: Deus de papel - 29/03/2009 Page 1 of 3
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São Paulo, domingo, 29 de março de 2009
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GILBERTO DIMENSTEIN
Deus de papel
Com tantas limitações, a
sobrevivência emocional de Gilvã
estava ligada à poesia -era seu
espaço de realização
OS DEDOS atrofiados e a dificuldade de teclar no
computador eram apenas mais um obstáculo para Gilvã
Mendes executar o maior projeto -escrever um livro sobre
como lhe era difícil escrever um livro. Gilvã é uma síntese de
quase todas as marginalidades possíveis. É negro, pobre,
nordestino, mora num bairro contaminado pelo tráfico de
drogas e sofre de paralisia cerebral, o que dificulta os
movimentos do corpo e da fala. Para completar, depende de
uma cadeira de rodas para circular em Salvador, com suas
ladeiras. A deficiência fez com que, por muito tempo, não
tenha sido aceito numa escola. Aos 17 anos de idade, estava
na quinta série -obviamente de uma escola pública.
O que já era difícil ficou ainda mais difícil. Quando a
primeira versão do livro ficou pronta, depois de dois anos de
trabalho e noites insones, os arquivos desapareceram da
memória do computador -um computador que, por várias
vezes, quebrou e demorava para ser consertado. Quase
desistiu. quot;Mas eu pensava que, se parasse, confirmaria tudo o
que diziam e pensavam sobre mim: que eu era inútil,
vegetativo, aleijado.quot; Depois de quatro anos, o romance
estava, enfim, pronto. Mas ele percebeu que a realidade era
muito mais forte do que a ficção e preferiu reescrever tudo e
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4. Folha de S.Paulo - Gilberto Dimenstein: Deus de papel - 29/03/2009 Page 2 of 3
fazer um relato sobre o cotidiano de sua sobrevivência,
mesclando com suas poesias.
Com tantas limitações, a sobrevivência emocional de Gilvã
estava ligada à poesia -era seu único espaço de realização.
Ser poeta é quase que divino, Homem, menino, Ser poeta é
viver, matar. Ser Deus, não como o todo- poderoso Jeová.
Ser Deus de uma folha de papel, com uma caneta. Ser poeta
é ser pateta, ser ridículo, um palhaço, ser um eterno
apaixonado, um desgraçado, um abençoado.
Por não ser aceito na escola, agarrava-se à leitura. quot;Enquanto
meus irmãos apanhavam para aprender as lições da escola,
eu olhava os livros feito um cão que deseja um frango de
padaria.quot;
Até que conseguiu ser matriculado, quando tinha 17 anos.
quot;Senti vontade de raspar a cabeça, era como se tivesse
entrado na faculdade.quot; Teve a chance de aprender a lidar
com a internet e aprender comunicação. Aí nasceu a vontade
de ser escritor, mas não tinha ideia dos obstáculos -teria de
enfrentar até as ladeiras de Salvador. Uma coisa é ver o
charme das ladeiras pelos livros de Jorge Amado; outra, pela
visão de um cadeirante.
Quem foi que disse que sou aleijado? Quem foi que disse
que só vivo numa cadeira prostrado? Quem disse que eu não
conheço de Salvador os becos, as vielas, ladeiras e botequins
imundos, sambistas, malandros, putas, poetas e vagabundos.
No ano passado, Gilvã entrou na faculdade para estudar
letras -era um de seus grandes sonhos. Mas seu grande sonho
será visto apenas amanhã, quando sair da gráfica o livro
intitulado quot;Queria Brincar de Mudar Meu Destinoquot;.
Por trabalhar com educação, sempre tento descobrir formas
de motivar os alunos a aprenderem com mais profundidade,
especialmente o prazer da leitura e da expressão -o que está
cada vez mais difícil. Tive a possibilidade de acompanhar, ao
longe, a briga de Gilvã. Por isso, quando me chegou às mãos,
na semana passada, a versão final, senti-me diante de um dos
relatos mais tocantes que já li de um estudante sobre a paixão
pela palavra.
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5. Folha de S.Paulo - Gilberto Dimenstein: Deus de papel - 29/03/2009 Page 3 of 3
PS - O título do livro é tirado de uma das poesias de Gilvã.
Coloquei em meu site (http://www.dimenstein.com.br/)
mais poesias dele, além de trechos do livro, que será lançado
na Bienal do Livro de Salvador.
gdimen@uol.com.br
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6. Folha de S.Paulo - Jorge Wilheim: Crise: o urgente e o básico<br> - 05/03/2009 Page 1 of 3
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São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009
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TENDÊNCIAS/DEBATES
Crise: o urgente e o básico
JORGE WILHEIM
Devemos considerar a crise como quot;o
fim de um mundoquot; e torná-la
fecunda, com criatividade e ousadia.
A isso devemos nos dedicar
A PRESENTE crise ultrapassa o campo financeiro e é
daquelas que, justificando as raízes etimológicas que
associam esse termo a quot;decisão e mudançaquot;, exigem a
reflexão de todos: economistas, antropólogos, sociólogos,
filósofos, intelectuais, artistas, politólogos, urbanistas.
Reflexões e até previsões, aliás, têm sido feitas há alguns
anos: desde as veementes denúncias de favelização mundial
de Mike Davis às restrições de Peter Drucker; das teses de
transformações reflexivas do capitalismo de Back, Giddens e
Lash, segundo as quais o progresso pode tornar-se
autodestruição, às críticas de Baumann sobre a gravidade do
abandono dos trabalhadores; das denúncias de Rifkin de que
a finança estava abandonando a economia às de Roubini
vaticinando a proximidade do estouro da quot;bolhaquot;.
Não adiantaram os avisos. Cobiça, lucros imediatos, negação
e fraudes -apoiados em políticas neoliberais e em ausência de
transparência e de regulamentação- levaram a melhor.
Melhor? Por ora só há falências, desemprego e recessão, um
panorama aparentemente catastrófico. Crise dessa amplitude
e profundidade, no entanto, mesmo quando traumática,
também constitui uma oportunidade a não ser desperdiçada.
As civilizações se urbanizaram, as favelas cresceram, o
espaço e o tempo encolheram graças à conectividade global,
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7. Folha de S.Paulo - Jorge Wilheim: Crise: o urgente e o básico<br> - 05/03/2009 Page 2 of 3
as desigualdades e as injustiças sociais e de direitos
tornaram-se insuportáveis, a quot;saúdequot; do planeta foi colocada
em perigo em razão de ações predatórias do mercado. Isso
constitui uma pauta nova.
Para atender à emergência, é preciso investir recursos
públicos em defesa do trabalho digno e da diminuição das
desigualdades, na contramão da nefasta ação dos bem
remunerados quot;job killersquot; da última década. Porém há que
fazê-lo com critério. Automontadoras seriam socorridas
somente se firmassem compromisso de acelerar a fabricação
de veículos que consumam menos combustível, não-
poluidores, provavelmente elétricos com baterias de
hidrogênio.
Crédito bancário ao consumidor final a juros baixos, teto
para os altos salários, transparência e controle acionário
social seriam condições para bancos receberem recursos
públicos. Ajuda financeira pública à habitação deveria
implicar mais regulado e limitado uso do solo urbano,
substituindo a voracidade que consome o espaço das cidades
por uma maior qualidade de vida para todos. E, em todos os
casos, financiamentos públicos devem ser ponderados por
critérios ambientais e pelo número de empregos mantidos ou
gerados e devem ainda depender de entendimento prévio
entre empregados e empregadores.
Além das emergências, há no entanto uma questão básica de
fundo: o que está em jogo nesta década é, a meu ver, quais os
processos e os mecanismos sociais e políticos mais
adequados para hoje operar a economia de mercado. Suas
leis básicas -oferta e demanda, excedente de produção,
acumulação e valor- foram estabelecidas muito antes da
invenção do capitalismo e mesmo antes da criação da moeda.
Se o capitalismo, seus bancos -originários da Itália
renascentista-, seus juros e demais jogos financeiros
desenvolvidos no mercantilismo fizeram do sistema um
operador ágil para o financiamento da Revolução Industrial
do século 19 e sua expansão comercial, isso não quer dizer
que ele continue sendo, no formato atual, o operador ideal da
economia de mercado do século 21 em diante.
Encerrado dramaticamente o triste episódio do
neoliberalismo, cabe ao Estado e à sociedade reverem, em
nova articulação, quais são os limites de ação do mercado.
Essa nova articulação, a resultar em uma economia de
mercado de nova gestão, coerente com o interesse público e
socialmente monitorada -embora mantendo sua criatividade-,
é, no fundo, o desafio da crise que explodiu quando ocorreu
o transtorno causado por uma das pontas do iceberg: a
aventura financeira irresponsável, desnudada pela queda, no
setor imobiliário, da primeira pedra de dominó.
Concluindo: para planejar no século 21, devemos encontrar
as sementes de inovação que se encontram nas dobras das
múltiplas rupturas que ocorreram na última década do século
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8. Folha de S.Paulo - Jorge Wilheim: Crise: o urgente e o básico<br> - 05/03/2009 Page 3 of 3
20. Até mesmo na atual ruptura entre finanças e economia,
entre lucro e trabalho. Devemos considerar a crise como quot;o
fim de um mundoquot; e torná-la fecunda, com criatividade e
ousadia. Essa é a tarefa intelectual e política a que devemos,
todos, nos dedicar.
JORGE WILHEIM, 80, é arquiteto e urbanista. Foi secretário
municipal de Planejamento Urbano de São Paulo (governo Marta
Suplicy), secretário-geral da Conferência Habitat 2 da ONU
(Organização das Nações Unidas), secretário estadual de Economia e
Planejamento (governo Paulo Egydio) e secretário estadual do Meio
Ambiente de São Paulo (governo Quércia).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal.
Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos
problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do
pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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9. Folha de S.Paulo - Londres - Clóvis Rossi: A mãe de todos os males - 15/03/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, domingo, 15 de março de 2009
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CLÓVIS ROSSI
A mãe de todos os males
LONDRES - A desigualdade é, pelo menos para o meu
gosto, inaceitável do ponto de vista ético e moral. Mas é
também quot;a mãe de todos os malesquot;, segundo o jornal
britânico quot;The Guardianquot;, em levantamento com base no
livro quot;O Nível do Espírito: por que sociedades mais
igualitárias quase sempre se saem melhorquot;, de Richard
Wilkinson e Kate Pickett.
Ele é pesquisador do Centro para Ciências da População da
Universidade de Nottingham. Ela, do Departamento de
Ciências da Saúde da Universidade York.
Dois exemplos: sociedades com alto nível de desigualdade
registram três vezes mais doenças mentais do que países com
bom nível de coesão social; nascem dez vezes mais bebês de
mães adolescentes em sociedades desiguais do que nas mais
iguais.
No mundo desenvolvido, os Estados Unidos são os
campeões da desigualdade: os 20% mais ricos têm renda 8,5
vezes superior a dos 20% mais pobres. O Japão é o mais
igualitário: os ricos têm 3,4 vezes mais que os pobres.
Detalhe sobre o Reino Unido: foi no governo Margaret
Thatcher, a mãe mundial do ultraliberalismo, que a
desigualdade disparou. Começou, em 1979, com 101 (a base
de comparação é 1974, com 100), e chegou a 130 em 1989,
quando ela deixou o posto para John Major.
Hoje, depois de dez anos de trabalhismo, está em 140.
Os dados sobre desigualdade no Brasil são sabidamente
obscenos.
Mas igualmente obscena é a lenda da queda da desigualdade
que alguns acadêmicos vêm espalhando, mesmo sabendo
que a única desigualdade que caiu foi entre assalariados. Não
caiu, até aumentou, a desigualdade relevante que é entre o
rendimento do capital e o rendimento do trabalho.
Espalhar essa lenda significa anestesiar, no governo e na
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1503200903.htm 1/5/2009
10. Folha de S.Paulo - Londres - Clóvis Rossi: A mãe de todos os males - 15/03/2009 Page 2 of 2
sociedade, a necessidade de combater a quot;mãe de todos os
malesquot;.
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11. Folha de S.Paulo - Londres - Clóvis Rossi: A pedagogia da rua - 29/03/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, domingo, 29 de março de 2009
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CLÓVIS ROSSI
A pedagogia da rua
LONDRES - Por imposição industrial, escrevo antes de que
termine a manifestação de ontem no Hyde Park, a primeira
do que pretende ser uma série de protestos contra a cúpula
do G20 e contra a crise. O lema geral de ontem (na semana
que vem, é outro o grito) era quot;Put People Firstquot; ou, em livre
tradução, quot;As pessoas em primeiro lugarquot;.
Pena que as pessoas -ao menos as que se engajam no rico
caleidoscópio de entidades da sociedade civil que anima
esses movimentos- estejam sendo colocadas não em primeiro
lugar nem em segundo nem mesmo em último. Foram
simplesmente expulsas do mundo político quot;mainstreamquot;. E
também da mídia quot;mainstreamquot;.
A superestrutura política virou um dueto monocórdico, com
perdão da contradição em termos. É democratas x
republicanos nos Estados Unidos, conservadores x
trabalhistas no Reino Unido, social-democratas x democrata-
cristãos na Alemanha, PT x PSDB no Brasil -todos brancos e
de olhos azuis, para usar a metáfora de Lula, embora muito
petista se ache preto ou índio. Pura demagogia.
Criou-se um déficit democrático em que outras vozes não
entram talvez porque digam verdades incômodas. Ou entram
apenas para terem suas verdades apropriadas pela corrente
principal, como já aconteceu com a mudança climática e
repete-se com a crise. Esse pessoalzinho, em geral simpático,
mas às vezes agressivo demais, dizia faz tempo que o
modelo era intolerável. Agora, Paul Krugman, Nobel de
Economia e como tal perfeito quot;mainstreamquot;, decreta quot;o
fracasso de todo um modelo de banca, de um setor financeiro
que cresceu demais e causou mais dano que bemquot;.
É óbvio que nem sempre esses movimentos têm razão. Mas,
hoje por hoje, é possível aprender mais na rua, mesmo sob a
chuva fina e o friozinho bem londrinos, do que nos
gabinetes.
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12. Folha de S.Paulo - Londres - Clóvis Rossi: A pedagogia da rua - 29/03/2009 Page 2 of 2
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azuisquot;, o surto chavista
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13. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 1 of 7
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São Paulo, domingo, 29 de março de 2009
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Verde Aguado
ANTHONY GIDDENS FALA DE quot;A POLÍTICA DE
MUDANÇA CLIMÁTICAquot;, RECÉM-LANÇADO NO
REINO UNIDO, E DIZ QUE A REUNIÃO DO G20, NA
PRÓXIMA QUINTA, IRÁ RESULTAR EM UM
ACORDO quot;DE FACHADAquot;
Alexandra Winkler-5.jan.03/Reuters
Homem caminha em várzea alagada devido à chuva em Kallmünz, na
Alemanha; aquecimento global é tema do novo livro do sociólogo inglês,
que é ex-reitor da London School of Economics
Vejo o Brasil como o negociador
entre Europa, EUA e China
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Um dos sociólogos mais influentes da atualidade, Anthony
Giddens, 71, afirma que a crise financeira global vai redefinir
radicalmente a sociedade em que vivemos, mas quot;muito ainda
depende de um fenômeno em cujas mãos ainda estamos -o
mercadoquot;.
Para ilustrar sua opinião, reforça: quot;Toda vez que uma decisão
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14. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 2 of 7
é tomada, as pessoas querem saber como os mercados vão
reagirquot;. A reunião do G20 na próxima quinta, em Londres,
produzirá um acordo -ainda que quot;de fachadaquot;-, porque os
mercados e as pessoas precisam ser quot;tranquilizadosquot;, diz ele.
Giddens avalia que quot;estamos no estágio inicial de descobrir o
que seria um novo modelo de capitalismo responsável e
globalquot; e prevê uma convergência no debate sobre a grande
recessão e os desafios da mudança climática.
quot;Em ambos os casos, estamos falando de um papel forte para
o Estado e de mais regulação, de um planejamento de mais
longo prazo que não tivemos no passado, de controlar
mecanismos de mercado mais efetivamente do que nos
últimos 30 anos pelo menos, de mais inovações
tecnológicas.quot;
Principal ideólogo da Terceira Via, a busca de um caminho
alternativo entre o liberalismo radical e as tendências
estatizantes tradicionais da social-democracia, Giddens agora
volta sua atenção para o tema do aquecimento global, em
livro lançado na semana passada: quot;The Politics of Climate
Changequot; (A Política de Mudança Climática, Polity Press, 256
págs., 12,99, R$ 43).
Ex-reitor da London School of Economics, lorde Giddens
defende que os países ricos têm de arcar com 95% dos custos
da luta contra o aquecimento global pelos próximos anos,
pois quot;não é moralmente correto nem seria factível na prática
impedir os países em desenvolvimento de se desenvolveremquot;.
Por outro lado, o sociólogo cobra o fim da quot;atitude passivaquot;
dos países em desenvolvimento em relação ao tema e enxerga
o Brasil exercendo um papel de liderança, como mediador
entre EUA, China e União Europeia.
Giddens deu a entrevista à Folha no pub da Câmara dos
Lordes, depois de uma pequena volta explicativa pelo local (a
palavra quot;lobbyquot; vem do sistema britânico, em que os
parlamentares favoráveis e contrários são separados em
antessalas distintas antes de votar, os lobbies). No final, foi
para casa de metrô. A seguir, os principais trechos da
entrevista.
FOLHA - Em seu livro, o sr. lança o quot;paradoxo de
Giddensquot;: uma vez que os perigos do aquecimento global
não são visíveis no dia a dia, apesar de parecerem terríveis,
as pessoas não irão agir; contudo, esperar até que se
tornem visíveis e sérios para então tomar uma atitude será
tarde demais. Como lidar com isso?
ANTHONY GIDDENS - Eu aplico o paradoxo de Giddens
especialmente aos países desenvolvidos, porque são eles que
têm que tomar a liderança. Por exemplo, para alguém que
caminha pelas ruas de Londres, as enchentes de Bangladesh
não são algo que afete o dia a dia das pessoas. Para lidar com
isso, é preciso romper com as estratégias do passado. As
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15. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 3 of 7
coisas que têm saído pré-Copenhague [em dezembro haverá
uma conferência na capital dinamarquesa para definir o
mundo pós-protocolo de Kyoto], com os cientistas dizendo
que quot;é muito pior do que pensávamosquot;, passam longe da
realidade das pessoas nas ruas. Muitas questões que parecem
apocalípticas, que saem nos jornais e na mídia, são iguais a
filmes que as pessoas não conseguem distinguir da realidade.
É bem difícil esperar que as pessoas comecem a agir com
base nisso. Por isso proponho uma reorganização
fundamental do pensamento, para focar muito mais nos
investimentos, para ver os lados positivos do aquecimento
global. Podemos criar uma genuína economia verde, quebrar
a dependência do Oriente Médio, garantir segurança
energética e levar a uma vida melhor por meio dessas
transformações. Dizer para os empresários que eles podem se
tornar mais competitivos. Não sou contra regulação ou metas
para reduzir a emissão de carbono. Na verdade, sou a favor
dessas coisas, mas não acho que elas possam mobilizar as
pessoas. Olhe para o tipo de abordagem que o presidente [dos
EUA, Barack] Obama produziu, é muito diferente de todos, é
muito mais afirmativa. Não sabemos se vai ter sucesso, claro,
porque estamos falando aqui em mudar o quot;estilo de vida
americanoquot;. No entanto ele fala disso como um projeto
inspirador, que tem muito mais ressonância.
FOLHA - O sr. fala que o movimento verde sequestrou o
debate sobre mudança climática e que é preciso sair dessa
armadilha. Como assim?
GIDDENS - O movimento verde começou da metade para o
final do século 19, fortemente influenciado pela ideia
romântica de uma crítica do industrialismo, a nostalgia de
uma terra que não havia sido modificada pelas indústrias. Sua
força motriz era a conservação, a proteção da natureza e do
ambiente. Realmente deveríamos ter deixado a natureza em
paz, só que agora é tarde demais, e maior intervenção na
natureza será absolutamente necessária. A mudança climática
é muito diferente das preocupações tradicionais dos verdes e,
para lidar com ela, temos de nos livrar de alguns dos
preconceitos que os verdes -não todos, mas alguns- têm, de
não interferir muito na natureza, de um princípio da
precaução. O caminho para lidar com a mudança climática
deve ser de ousadia, inovação, o máximo uso da tecnologia.
Não quero descartar completamente o movimento verde, pois
tem um importante papel de trazer esses assuntos para a
agenda, e isso tem valor. No entanto, se você olhar para o
manifesto dos verdes globais, muito pouca coisa tem a ver
com mudança climática. E um dos problemas é que alguns
grupos se veem como operando fora da política,
extremamente críticos das atividades das grandes
corporações. Mas o vital agora para a mudança climática é
trazer para o centro do debate algo que 60%, 70% da
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16. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 4 of 7
população possa compreender.
FOLHA - Num artigo recente, o sr. mencionou que a crise
financeira global, seus desdobramentos e o desafio de como
lidar com a mudança climática levaram ao fim do fim da
história. Por quê?
GIDDENS - [Francis] Fukuyama inventou a versão moderna
da frase do fim da história, e o que ele quis dizer foi que
chegamos a uma fase da história em que não podemos ver
nada diferente do mundo em que vivemos: de um lado, a
democracia parlamentarista e, de outro, o sistema capitalista,
com competição e mercados abertos. Acho que não se pode
mais tomar essa posição como aceitável, pois uma sociedade
de baixo carbono provavelmente mudará bastante o
comportamento das pessoas, o modo como veem o mundo.
Pode envolver uma crítica forte de viver num tipo de
sociedade baseada no consumo, sem outros valores. O que
quis dizer foi que temos de nos preparar para pensar
novamente de modo muito radical lá na frente. É claro que,
agora, temos de lidar com o mundo como o vemos. Mas sou a
favor de um retorno parcial a certo utopismo. O mundo que
criamos é insustentável, sabemos que não podemos continuar
como estamos.
FOLHA - O sr. fala que as nações em desenvolvimento
deveriam ser autorizadas a emitir mais carbono no curto
prazo, mas isso não funciona. Os EUA e a União Europeia,
com medo de perderem competitividade, já disseram que
isso é inaceitável. Como resolver essa equação?
GIDDENS - Não podemos impedir os países em
desenvolvimento de se desenvolverem. Não seria moralmente
correto nem seria factível, na prática. Parte desse
desenvolvimento tende a depender pesadamente de
combustíveis fósseis e, logo, de emissões de carbono. É por
isso que os países já industrializados têm de arcar com 95%
do fardo pelos próximos 10, 15, 20 anos até, para reduzir as
emissões. Por outro lado, é preciso que o mundo em
desenvolvimento assuma um papel importante, não mais a
posição passiva, de que isso quot;não tem nada a ver com a
gentequot;. Mas, no caminho, precisamos de avanços
tecnológicos e de grandes áreas daquilo que chamo de
quot;convergência econômica e convergência políticaquot;, para que
os países em desenvolvimento sigam um caminho diferente
do que o que estão seguindo agora. Em primeiro lugar,
estamos atrás de avanços tecnológicos que sejam capazes de
levar os países em desenvolvimento a pular algumas etapas
de desenvolvimento. Em segundo lugar, estamos procurando
vários acordos bilaterais, não apenas a conferência de
Copenhague, especialmente entre EUA e China, que
produzem quase 50% das emissões. Idealmente, é necessário
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17. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 5 of 7
algum acordo entre os dois, como os EUA permitirem acesso
a inovações tecnológicas, com a suspensão de patentes, em
troca de algum tipo de concessão da China para os EUA. Mas
isso é determinado politicamente. Se não há como repetir o
modelo de desenvolvimento, temos de encontrar avanços. Até
agora, não conseguimos. A China ainda está fazendo usinas
de carvão. Os políticos se sentem muito confortáveis,
prometendo cortar as emissões em 80% até 2050, mas não
ficam nem um pouco felizes quando você diz que precisam
começar agora. Existe muita retórica vazia nesse debate e
temos de ver como superar isso para que os acordos sejam
atingidos. Temos de olhar para o que pode ser feito, de modo
a produzir uma combinação de competitividade e mudança
tecnológica. Estou convencido de que países que seguirem o
caminho tradicional de desenvolvimento industrial não serão
competitivos no médio prazo.
FOLHA - Como o sr. vê o papel do Brasil nesse debate
sobre o clima? O que o país deveria fazer?
GIDDENS - Vejo o Brasil como um negociador ou uma
terceira parte nas negociações entre os EUA, a União
Europeia e a China. Vejo o Brasil capaz de ter uma liderança
entre os países de industrialização recente para levar os
outros países a uma posição decente. O país pode ter um
papel bastante importante, e seria desejável se de fato o
exercesse. Mas isso também depende de uma liderança
política forte.
FOLHA - Estamos vivendo a pior crise econômica desde a
Grande Depressão. Quais serão seus efeitos?
GIDDENS - Depende de em que nível você está falando. Nos
próximos dois anos e no momento, ninguém sabe realmente o
que acontecerá, independentemente de suas credenciais
acadêmicas. Se haverá declínio contínuo com desemprego
crescente ou se, nesse período, haverá algum tipo de
recuperação, pelo menos em algumas áreas. Ambos são
possíveis. Muito depende de um fenômeno do qual ainda
estamos nas mãos: o mercado. Toda vez que uma decisão é
tomada, as pessoas querem saber como os mercados irão
reagir. Ainda estamos nas mãos do mercado global, para o
bem e para o mal. No médio prazo, pessoas como eu
deveriam estar pensando em um modelo de capitalismo
responsável. Pois existe uma convergência entre o debate
sobre mudanças climáticas e a recessão, por razões óbvias.
Nos dois casos, estamos falando de um papel forte do Estado
e de mais regulação, de um planejamento de longo prazo que
não houve antes, de controlar mecanismos de mercado de
modo mais efetivo do que foi feito nos últimos 30 anos, de
inovações tecnológicas. Mas ainda estamos no estágio inicial
de descobrir o que seria um novo modelo de capitalismo
mhtml:file://C:Documents and SettingsAdministradordesktopPENDENTESIMPORTAN... 1/5/2009
18. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 6 of 7
responsável e global. A crise é mundial, não importa o que a
Europa ou os EUA façam. Essa é uma questão em aberto,
pois os países não têm sido bons em chegar a acordos, mesmo
quando é de seu interesse. A Rodada Doha e a Organização
Mundial do Comércio são exemplos perfeitos.
FOLHA - Muitos teóricos têm falado em quot;desglobalizaçãoquot;,
como no caso do aumento do protecionismo.
GIDDENS - A globalização é um termo que abarca muitas
mudanças, e é preciso quebrá-lo em várias partes. Há alguns
aspectos muito improváveis de serem revertidos, como a
revolução das comunicações, uma das maiores forças da
globalização. Goste-se ou não, isso ainda será o futuro: o
mundo estará integrado imediatamente pela tecnologia e
quase certamente isso continuará a ter avanços. Nesse
sentido, a globalização está aqui para ficar. Mas, quando se
fala em livre mercado, é diferente. Alguns aspectos podem
ser revertidos, isso já aconteceu antes, e, em uma situação de
recessão, as pessoas tendem a se voltar para seus países. Mas,
se sabemos alguma coisa de teoria econômica, é que
protecionismo, no final, prejudica sua própria economia.
Nenhuma economia que se isolou do mercado global
conseguiu realmente prosperar. Pessoalmente, não acho que o
protecionismo voltará, como nos anos 1930.
FOLHA - Quais são suas expectativas para o encontro do
G20?
GIDDENS - Acho que tem mais chances de chegar a um
acordo do que a imprensa diz, pois esta é a primeira vez em
que houve tal grau de reconhecimento da natureza global da
crise. Poderá haver acordos para aumentar a transparência ou
para expandir o papel do FMI. Mas será preciso verificar em
que extensão serão implementadas no mundo real. O que
certamente ocorrerá será um acordo de fachada. Haverá a
apresentação de um acordo -ele de fato ocorrendo ou não-,
pois todo mundo reconhece que precisamos tranquilizar o
público e o mercado -ele de novo!
FOLHA - Em uma palestra, o sr. afirmou que o clima do
mundo vai mudar irremediavelmente, mas não vê isso como
uma ameaça iminente.
GIDDENS - O que disse é que o debate quanto à mudança
climática é sobre riscos e sobre como analisar esse riscos. No
momento existem várias formas de medição de risco feitas
pelos cientistas, e o consenso parece ser que a mudança
climática é mais iminente e mais perigosa do que
pensávamos, mas não está claro completamente o que querem
dizer com isso. É sensato dizer que as emissões na atmosfera
já estão produzindo efeitos, mas, se se está falando de 2050,
quem sabe dizer o que poderemos fazer para responder a
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19. Folha de S.Paulo - Verde Aguado - 29/03/2009 Page 7 of 7
isso? Existem muitas divergências na comunidade científica
sobre quão iminentes essas coisas são, e posso dizer isso
porque passei os últimos dois anos estudando o tema. É muito
importante para países como o Brasil, com algumas
condições climáticas violentas, pensar em se adaptar a esse
novo contexto, fazer estudos de vulnerabilidade, encontrar
meios de convergência para procedimentos que ajudarão em
caso de mudanças significativas no clima. Por exemplo,
proteção contra enchentes, ao mesmo tempo melhorando
práticas de agricultura. Existe uma boa área de desconhecido
nos próximos 20, 30 anos. Quem sabe o mundo possa ter um
mecanismo de adaptação sozinho, talvez a própria natureza
produza uma solução. Mas o que sabemos até agora é que,
uma vez que as emissões forem lançadas na atmosfera, não
sabemos como tirá-las, e os principais gases do efeito estufa
podem permanecer lá por 400 anos. Há cientistas que já
conseguem [retirar os gases da atmosfera] em pequena escala,
mas não sabemos se será possível em grande escala. As
pessoas estão muito confusas, apesar da grande educação
formal.
ONDE ENCOMENDAR - Livros em inglês podem ser encomendados
pelo site
http://www.amazon.co.uk/
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risco de descrédito
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20. Folha de S.Paulo - Ensaio: Administrando a empresa em tempos bicudos - 06/04/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009
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Ensaio
Kelley Holland
Administrando a empresa em tempos
bicudos
Pense nisso: milhões de postos de trabalho foram perdidos
desde que a recessão global começou, o que significa que
inúmeros administradores tiveram de demitir funcionários,
viram colegas perderem seus empregos ou foram eles
próprios cortados.
Além disso, a tecnologia muda freneticamente, e os gestores
que se formaram na época dos memorandos em papel estão
repentinamente preocupados com o Twitter, com blogs e
com as escapadas virtuais dos seus empregados.
Em momentos como este, é fácil que os gestores embarquem
numa mentalidade de bunker. De fato, quem quer conversar
com os funcionários quando a única coisa a comunicar são
demissões, férias coletivas, cortes draconianos de gastos ou
tudo isso junto?
Mesmo para gestores que não se inibem pode ser difícil dar
alguma orientação útil aos empregados. Mas é essencial que
eles deixem suas próprias preocupações de lado e ajudem
sua equipe a lidar com este ambiente novo e assustador. Em
tempos de incerteza, os funcionários precisam de liderança.
Assim, é hora de espanar o pó de alguns preceitos
consagrados da gestão que podem ajudar nestes tempos
difíceis.
Primeiro, lembre-se de que liderar significa tratar os
empregados como adultos responsáveis, não como crianças
voluntariosas que podem ser mandadas ou amaciadas com
meias verdades. Repetidos estudos mostram que as
organizações funcionam melhor quando seus integrantes
estão informados e com poderes e quando são convidados a
contribuir e demonstrar iniciativa.
É preciso também que os gestores sejam diretos quando se
trata de dar más notícias. Se os empregados ouvem rumores
de demissões, por exemplo, possivelmente passarão seus
dias numa nuvem de preocupação sobre a tragédia iminente,
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21. Folha de S.Paulo - Ensaio: Administrando a empresa em tempos bicudos - 06/04/2009 Page 2 of 2
justo quando seria crucial que estivessem no seu momento
mais produtivo.
Por essa e muitas outras razões, os gestores precisam ir além
do seu círculo íntimo —ou emergir dos seus bunkers
metafóricos— para descobrir o que está realmente
acontecendo no resto da empresa e do setor.
Um pouco de inteligência emocional também faz maravilhas.
As pessoas trabalham melhor quando acreditam que seus
gestores e colegas as entendem e respeitam, quando podem
concluir suas frases nas reuniões e quando sentem que suas
ideias e opiniões são ouvidas.
A justiça é outro preceito básico da administração que
frequentemente acaba perdido em meio à confusão. Tratar as
pessoas com justiça não significa necessariamente tratá-las
como iguais. Mas estudos demonstram que empregados que
entendem a base das decisões administrativas e as percebem
como sendo justas se sentem mais confiantes de que suas
próprias contribuições serão reconhecidas e, portanto, ficam
mais motivados e engajados. Gestores inteligentes também
permitem que os empregados tragam mais de si mesmos para
o trabalho —e às vezes isso inclui coisas profundamente
pessoais, como religião ou orientação sexual.
Talvez o mais importante seja que os bons gestores
encontrem prazer no trabalho e deixem que todos saibam
disso. Quando as chefias se entusiasmam com a criação de
um novo anúncio ou com a obtenção de uma nova conta
importante, o local de trabalho fica com um clima
completamente diferente, mais energizado.
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Para exportar, Hollywood refaz filmes
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22. Folha de S.Paulo - Marina Silva: Potência e compromisso - 06/04/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009
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MARINA SILVA
Potência e compromisso
EM LUZIÂNIA, município goiano perto de Brasília,
acontece até quarta-feira uma conferência nacional na qual o
país deveria estar de olho. Ali se consolida um movimento
capaz de causar grande impacto social, embora pouco o
percebamos hoje.
É a 3ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio
Ambiente, promovida pelos ministérios do Meio Ambiente e
da Educação, com o tema quot;Mudanças Ambientais Globaisquot;.
A primeira, em 2003, envolveu cerca de cinco milhões de
pessoas de 4.000 municípios, em conferências estaduais que
convergiram para a nacional.
No sábado, participei, juntamente com o professor José Eli
da Veiga, de diálogo com os 669 delegados de 11 a 14 anos.
Voltei entusiasmada e tocada pela qualidade das
intervenções. Confirmei meu prognóstico de seis anos atrás,
de que essas conferências seriam paradoxalmente âncora e
alavanca para transformar o paradigma de educação e
também o de cidadania, incorporando-lhes questões
essenciais para o advento da sociedade que esse momento de
profunda crise global parece anunciar.
Falamos sempre do que podemos fazer pelas gerações
futuras. Em Luziânia, vi o que elas podem fazer por nós,
agora. Um dos efeitos de seu engajamento nas propostas de
um mundo mais sustentável e justo é a pressão exercida
junto a pais e adultos em geral para assumirem novas
atitudes em casa, nos espaços coletivos e profissionais, na
política.
Já ouvi depoimentos de empresários que mudaram o perfil de
seus negócios após cobranças de filhos e netos. Podem
parecer casos isolados, mas a verdade é que a infância e a
juventude estão tendo papel inovador vital em suas casas,
nas suas escolas e em outras instituições.
A medir pelos cerca de 12 milhões de jovens que
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23. Folha de S.Paulo - Marina Silva: Potência e compromisso - 06/04/2009 Page 2 of 2
participaram das três conferências, novos valores e práticas
se firmam no horizonte: respeito ao meio ambiente,
processos mais democráticos, horizontais, multiculturais,
diversificados. Um exemplo são os documentos que
encerram as conferências. Em lugar de lista de
reivindicações, entregam ao presidente da República, a
ministros e a outras autoridades a quot;Carta de Compromissosquot;,
que diz o que os próprios jovens pretendem fazer. Desde
medidas práticas, como limpar rios, até ações de
conscientização e organização.
Eles não têm poder, mas têm a potência dos sonhos e
compromisso com causas. Ensinam a quem, mesmo tendo
poder e ferramentas, faz muito pouco. Na terça-feira, estarão
em Brasília para a Caminhada Vamos Cuidar do Brasil.
Espera-se que os adultos tenham sensibilidade e humildade
para ouvir e aprender.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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Woodstock
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24. Folha de S.Paulo - Música vira receita médica contra doenças - 06/04/2009 Page 1 of 3
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São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009
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Música vira receita médica contra
doenças
Por MATTHEW GUREWITSCH
O fato de que a música nos toca no próprio cerne de nosso
ser é uma descoberta tão antiga quanto a consciência
humana. Mas será que a música pode ser considerada
medicamento?
Uma especialista que aposta nisso é Vera Brandes, diretora
do programa de pesquisas com música e medicina da
Universidade Médica Privada Paracelsus, em Salzburgo,
Áustria.
“Sou a primeira farmacologista musical”, disse Brandes no
ano passado em Viena. Como tal, ela vem desenvolvendo
medicamentos na forma de música, prescritos como receita
médica. Para promover a linha de produtos, ela ajudou a
fundar a Sanoson (http://www.sanoson.at/), empresa que
também cria sistemas de música sob medida para hospitais e
clínicas.
“Estamos preparando o lançamento de nossas terapias na
Alemanha e na Áustria no final de 2009 e prevemos o
lançamento nos EUA em 2010”, disse.
O tratamento funciona assim: uma vez dado o diagnóstico
médico, o paciente é enviado para casa com um protocolo
musical para ouvir e músicas carregadas num tocador
semelhante ao iPod. O timing é essencial. “Se você ouvir
música para acalmar quando estiver num ponto ascendente
de seu ciclo circadiano, isso não o acalmará”, explicou
Brandes. “Pode até deixá-lo irritado.”
Brandes e seus colaboradores analisam músicas de todo tipo
para retirar seus “ingredientes ativos”, que então são
misturados e balanceados para formar compostos medicinais.
Embora eles não procurem tratar patologias graves ou
doenças infecciosas, afirmam que seus métodos têm
aplicações amplas em desordens psicossomáticas,
administração de dor e o que Brandes descreve como
“doenças da civilização”: ansiedade, depressão, insônia e
determinados tipos de arritmia. A farmacopeia contém até
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25. Folha de S.Paulo - Música vira receita médica contra doenças - 06/04/2009 Page 2 of 3
agora cerca de 55 faixas de música medicinal, e novas faixas
estão sendo planejadas.
Num estudo piloto, que em 2008 foi citado na reunião
científica anual da Sociedade Psicossomática Americana,
Brandes e seus colaboradores estudaram os efeitos da música
sobre pacientes com hipertensão sem causas orgânicas. “O
tratamento convencional para pacientes hipertensos é com
betabloqueadores, que suprimem seus sintomas”, disse
Brandes. “A música pode tratar as causas psicossomáticas
originais.”
Segundo seu estudo, depois de ouvir um programa musical
criado especialmente para o paciente, por 30 minutos por
dia, cinco dias por semana, durante quatro semanas, os
pacientes apresentaram melhoras significativas na variação
do ritmo cardíaco, um indicador importante da função
nervosa autônoma.
Brandes, 52, já foi produtora de eventos e gravações
musicais e tem um vasto currículo na área. Mas um acidente
de carro quase fatal em 1995 a levou a pensar numa
mudança de carreira.
“Quebrei as vértebras 11 e 12, passando a um milímetro da
medula espinhal”, ela contou. “O médico disse: ‘Não vou
poder fazer nada por você durante algum tempo, mas você
pode cantar, se quiser’.” A equipe médica previa que
Brandes teria que ficar imobilizada entre 10 e 14 semanas.
Ela estava dividindo o quarto do hospital com uma budista,
cujos amigos vinham diariamente entoar cânticos para ela.
Após apenas 15 dias no hospital, uma ressonância magnética
mostrou que sua espinha estava curada. “Todo o mundo
disse que era um milagre”, contou Brandes. “Os médicos me
mandaram para casa. Aquilo me fez refletir.”
Brandes, que não tem diploma de estudos avançados em
medicina ou ciência, sabia que suas teorias jamais ganhariam
aceitação se não passassem por testes clínicos. “Desde o
início, eu estava determinada a satisfazer os mais exigentes
critérios científicos ocidentais”, disse.
Além dos esforços de Brandes, a Sourcetone Interactive
Radio, que se descreve como “o maior serviço mundial de
saúde com música”, emprega pesquisas feitas conjuntamente
pelo Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, e a
Escola de Medicina Harvard, onde o neurologista Gottfried
Schlaug estuda os efeitos da atividade musical sobre a
função e a plasticidade cerebrais. “Acho que é importante
participar, fazendo música, não apenas ouvir”, disse Schlaug.
Stefan Koelsch, pesquisador-sênior sobre o
neurorreconhecimento da música e da linguagem na
Universidade de Sussex, em Brighton, Reino Unido,
concorda e está trabalhando com tratamentos musicais
participativos para a depressão. No longo prazo, ele enxerga
possibilidades mais amplas.
“Fisiologicamente falando, é perfeitamente plausível que a
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26. Folha de S.Paulo - Música vira receita médica contra doenças - 06/04/2009 Page 3 of 3
música afete não apenas as condições psiquiátricas, mas
também as desordens endócrinas, autoimunes e do sistema
autônomo”, disse ele.
Vera Brandes também está pensando no futuro. “Digamos
que um paciente chegue sofrendo de depressão”, disse ela.
“O primeiro passo sempre é procurar um médico. Mas, a
partir disso, haverá opções de tratamento: com psicólogo,
antidepressivo ou música.”
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Para exportar, Hollywood refaz filmes
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provoca debate
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27. Folha de S.Paulo - MG muda currículo do ensino médio e provoca polêmica - 08/04/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009
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MG muda currículo do ensino médio
e provoca polêmica
Alunos do 2º ano têm de escolher se focam esforço em
humanas, exatas ou biológicas
Desde o início do ano, quem escolher por humanas, por
exemplo, não tem mais aulas de biologia, química e física
até o fim do 3º ano
BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Alunos do 2º ano do ensino médio de Minas têm agora de
optar por uma área específica (humanas, exatas ou
biológicas) para seguir até o fim do antigo colegial. A
medida do governo Aécio Neves (PSDB) está em vigor
desde o início do ano. Há 200 mil matriculados nessa série
em toda a rede estadual.
O número de aulas continua o mesmo. O que muda é que, se
o aluno escolhe humanas, passa a não ter mais aulas de
biologia, química e física nos dois últimos anos do ensino
médio.
Já o que opta por exatas e biológicas deixa de ter aulas de
história, geografia e língua estrangeira. A maioria dos
vestibulares exige todo o conteúdo.
A escolha vale para quem obtiver rendimento de 70% em
todas as disciplinas obrigatórias do 1º ano do ensino médio.
A direção da escola definirá a área para quem entrar no 2º
ano após passar por recuperação em alguma disciplina.
As normas constam de uma resolução da Secretaria da
Educação, publicada em dezembro.
quot;Em vez de aprender um pouco de muito conteúdo, o aluno
vai aprender mais aprofundadamente com menos disciplinas.
Com muita disciplina, perde-se o foco. Achamos que isso é
mais útil para o alunoquot;, afirma o secretário-adjunto da
Educação, João Filocre.
O Ministério da Educação diz que o Estado tem autonomia
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28. Folha de S.Paulo - MG muda currículo do ensino médio e provoca polêmica - 08/04/2009 Page 2 of 2
para criar sua norma desde que não se choque com a Lei de
Diretrizes e Bases, que dita as regras gerais da educação no
país.
A lei federal diz que são disciplinas obrigatórias língua
portuguesa, matemática, educação física, filosofia e
sociologia.
Alunos ouvidos pela Folha afirmam que a ausência de
disciplinas básicas poderá atrapalhá-los na hora do
vestibular.
Os alunos de Minas têm a chance cursar as disciplinas que
não constam da grade obrigatória da sua área de ênfase.
Para isso, precisam estudá-las em turno extra. O aluno
matriculado na manhã pode cursar a aula que não faz parte
do currículo à tarde ou à noite, desde que haja ao menos 20
alunos interessados. A direção da escola, então, comunica o
desejo das aulas extras à secretaria, que abre a turma.
Uma outra possibilidade, que também depende da decisão de
cada uma das 1.800 escolas estaduais de ensino médio de
Minas, é que oito aulas de 50 minutos sejam distribuídas
livremente, desde que respeitado o teto de dez disciplinas no
2º ano e de nove no 3º ano.
Isso foi feito na escola Governador Milton Campos, em Belo
Horizonte, que tem mais de 3.700 alunos no ensino médio.
Segundo a diretora, Maria José Duarte, como há seis
disciplinas obrigatórias para cada área de ênfase, além de
sociologia e filosofia, exigidas por lei federal, restaram só
duas para serem incluídas no 2º ano.
Uma votação com os alunos foi feita. Na área de humanas,
física ficou em terceiro lugar e, portanto, fora do currículo.
Uma aula de biologia e uma de química foram incluídas. Na
área de exatas e biológicas, língua estrangeira foi sacrificada.
Em um colégio menor, em São João del Rei, no interior de
Minas, a diretora decidiu colocar todos numa só área: exatas.
Texto Anterior: Edmundo Alves da Costa (1948-2009): O
triatleta não conseguiu dar o sprint final
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29. Folha de S.Paulo - Gilberto Dimenstein: Pena alternativa - 18/03/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009
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GILBERTO DIMENSTEIN
Pena alternativa
A rua de sua casa já tinha ensinado
a Alexandre que, na periferia,
muitas vezes a realidade supera a
ficção
HAVIA CINCO PONTOS de droga na rua em que
Alexandre De Maio morava na periferia de São Paulo, onde
frequentemente ocorriam tiroteios. Numa das brigas entre
quadrilhas, um bala perdida atingiu uma menina. A cena do
sangue escorrendo pelo chão teve um impacto estético em
Alexandre, que, até então, só fazia histórias em quadrinhos
inspiradas nos super-heróis americanos. quot;Logo depois que o
corpo foi retirado, me tranquei no carro para desenhar aquela
história.quot;
Desenhava-se, naquele dia, um encontro que faria com que a
mistura de periferia e arte moldasse a vida de Alexandre -os
quadrinhos chamaram a atenção de Mano Brown, líder do
Racionais MC's, que estimulou a sua publicação.
Desde que era menino, a habilidade artística tinha salvado
Alexandre do tiroteio escolar. Diante da dificuldade em
matérias como matemática, ele argumentava com os
professores que seu futuro estava em desenho, e não seria
justo repeti-lo por causa dos números. Em contrapartida,
fazia uma série de projetos de artes gráficas para a escola,
como uma espécie de pena alternativa. Numa prova de
matemática, a professora viu que ele estava apenas
desenhando um casal se beijando. Ela pediu o desenho de
presente para presentear o namorado -mais uma pena
alternativa.
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30. Folha de S.Paulo - Gilberto Dimenstein: Pena alternativa - 18/03/2009 Page 2 of 2
Seus colegas gostavam daquelas histórias em quadrinhos,
afinal eram retratados como super-heróis, com
extraordinários poderes; as meninas ficavam deslumbrantes
nas sensuais roupas do tipo Mulher Maravilha.
Até que veio a imagem da menina morta com a bala perdida
em sua rua. quot;Vi como era bobo eu ficar me inspirando com
os super-heróis.quot;
A fonte de inspiração estava bem à frente, a começar da
briga de gangues de sua rua. Nasciam assim seus quadrinhos
e a descoberta do rap, dos Racionais. Decidiu, então, ilustrar
as letras do grupo. Mano Brown mostrou as tiras para o
escritor Ferréz, que, em parceria com Alexandre, escreveu
quot;Os inimigos não mandam floresquot;.
Em meio a seus quadrinhos, Alexandre começou a fazer
publicações para relatar o movimento cultural da periferia,
quase nunca coberto pelos meios de comunicação. Foi um
dos primeiros a falar da onda de saraus poéticos que
surgiram num bar (Zé do Batidão) da zona sul.
Seu projeto mais ambicioso é fazer uma revista periódica
apenas com quadrinhos sobre a periferia -a primeira história
já está pronta, feita em parceria com Ferréz. A rua de sua
casa da adolescência já tinha ensinado a Alexandre que, na
periferia, muitas vezes a realidade supera a ficção.
PS - Coloquei em meu site
(http://www.dimenstein.com.br/) uma coleção dos
desenhos do Alexandre -entende-se como ele conseguiu
passar em matemática.
gdimen@uol.com.br
Texto Anterior: Outro lado: Prefeitura nega priorizar
propaganda e diz que obras antienchentes são mais lentas
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31. Folha de S.Paulo - TENDÊNCIAS/DEBATES<br>Gesner Oliveira: Água: escassez e uso... Page 1 of 3
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São Paulo, terça-feira, 31 de março de 2009
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TENDÊNCIAS/DEBATES
Água: escassez e uso sustentável na
crise
GESNER OLIVEIRA
Impõe-se, sobretudo aos grandes
setores usuários da água, uma
reflexão sobre o modo como tem
sido utilizado esse recurso finito
A CRISE econômica mundial, além de trazer os já
conhecidos efeitos na esfera produtiva -redução de
investimentos, desemprego, perda de ativos, entre outros-,
repercute sobre a questão da água.
Recentemente, em Washington, durante a Water Week 2009
-evento organizado anualmente pelo Banco Mundial que
reúne representantes de governos, empresas de saneamento e
ONGs-, evidenciou-se que a atual crise veio se somar às
preocupações habituais em relação à conservação da água e
ao acesso ao saneamento.
Além dos desafios associados à degradação ambiental, ao
desperdício, às mudanças climáticas, aos usos não
sustentáveis em processos produtivos, ao crescimento
populacional e à miséria, teme-se que a crise traga impactos
negativos devido à tendência de redução dos investimentos
em serviços de infraestrutura, como energia, saneamento,
transporte e irrigação. Tais impactos são danosos porque
investimentos em infraestrutura são propulsores do
crescimento econômico e da redução da pobreza.
A crise constitui, assim, ameaça à continuidade das ações
necessárias para atingir as metas estabelecidas para o
desenvolvimento do milênio.
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32. Folha de S.Paulo - TENDÊNCIAS/DEBATES<br>Gesner Oliveira: Água: escassez e uso... Page 2 of 3
Garantir a sustentabilidade ambiental é uma das metas
aprovadas em 2000 no âmbito da ONU e que compreendem
oito macro-objetivos a serem alcançados até 2015. No campo
dos recursos hídricos, o cumprimento das metas requer
implantação de instrumentos que visem à gestão integrada,
bem como o desenvolvimento de mecanismos para sua
conservação e seu uso sustentável.
A preocupação com a universalização do acesso à água, sua
conservação para fins múltiplos e a resolução de conflitos de
uso tornam o tema prioritário na agenda internacional.
Impõe-se, especialmente aos grandes setores usuários da
água, uma revisão de procedimentos e reflexão sobre o modo
como tem sido utilizado esse recurso finito e vulnerável.
Embora o Brasil possua expressivo potencial hídrico -12%
da disponibilidade mundial-, há bacias hidrográficas
localizadas em áreas que apresentam combinação de baixa
disponibilidade e grande utilização, como é o caso da bacia
hidrográfica do Alto Tietê, onde está a região metropolitana
de São Paulo.
Nesse contexto, é mais urgente acelerar investimentos em
programas de coleta e tratamento de esgoto e em ações de
redução de perdas de água. É o que a Sabesp tem feito nos
365 municípios onde opera, seguindo orientação do governo
José Serra.
O percentual de tratamento de esgoto subiu de 63% em 2006
para 72% em 2008, permitindo incorporar 1,3 milhão de
pessoas, equivalente à população de Guarulhos. A perda de
água caiu de 32% do faturamento em 2006 para 28% no ano
passado, contra média nacional de 40%. Tal declínio
propiciou economia suficiente para abastecer uma cidade de
600 mil habitantes, como São José dos Campos. A meta é
atingir 13% em 2019, que corresponde ao padrão de
eficiência dos países desenvolvidos.
Tão importante quanto o investimento em saneamento é
mobilizar a sociedade para usar a água sem desperdício e
despejar corretamente o esgoto doméstico nas redes
coletoras.
É inócuo investir em coleta e tratamento de esgotos se a
população não faz a ligação correta do imóvel às redes. E as
prefeituras devem ficar atentas e fiscalizar.
O compromisso com o meio ambiente é hoje pré-requisito
para a obtenção de financiamentos e de parcerias no Brasil e
no exterior, sem as quais não será possível viabilizar projetos
essenciais na área.
Em contraste com a maioria das empresas na atual
conjuntura, a Sabesp manteve de forma segura seu plano de
investimentos, que somarão R$ 6 bilhões entre 2007 e 2010.
A política de austeridade da Sabesp tem sido crucial para
manter o acesso a linhas de financiamento de longo prazo
com taxas de juros mais baixas e prazos adequados. Assim,
tem sido possível o apoio do Banco Mundial, do BID, da Jica
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33. Folha de S.Paulo - TENDÊNCIAS/DEBATES<br>Gesner Oliveira: Água: escassez e uso... Page 3 of 3
(Japan International Cooperation Agency), entre outras
instituições.
Nos momentos de expansão, é preciso atenção para garantir a
conservação e o uso sustentável da água. Nos momentos de
crise, tal preocupação deve ser redobrada para não
descontinuar a formação da infraestrutura básica. A
manutenção dos programas de investimento no saneamento
torna-se particularmente importante.
Daí a determinação da Sabesp de manter seu plano de
investimento e perseguir a universalização dos serviços de
saneamento.
GESNER OLIVEIRA , 52, doutor em economia pela Universidade da
Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP, é presidente da Sabesp
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Foi
presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e
colunista da Folha .
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal.
Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos
problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do
pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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perfeito
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34. Folha de S.Paulo - Emílio Odebrecht: O compromisso de cada um - 26/04/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009
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EMÍLIO ODEBRECHT
O compromisso de cada um
NO PASSADO, era normal que trabalhadores e executivos
deixassem às empresas o planejamento e a gestão de suas
carreiras. Trabalhavam muito, atualizavam-se pouco e quase
não pensavam em mudanças. Alguns ficavam décadas na
mesma função.
Raros eram os que adquiriam novas competências, ainda
mais por conta própria. No máximo, reciclavam as antigas.
A realidade mudou. Autodesenvolvimento passou a ser a
chave do êxito para os profissionais no mundo de hoje,
porque o propósito do aprimoramento constante deve ser
uma responsabilidade do indivíduo para consigo, não da
empresa para com ele.
O mundo do trabalho agora exige de quem nele se insere que
tome as rédeas de seu próprio destino.
Quem investe em si mesmo demonstra estar comprometido
com sua realização profissional -pela busca do domínio
pleno naquilo em que se especializou-, com sua realização
econômica -pelo compartilhamento dos resultados que ajuda
a empresa a gerar- e com sua realização emocional, como
um corolário do que almeja conquistar na vida.
Mas, para isso, é indispensável que principalmente o
trabalhador jovem se imponha o desafio de aprender a
aprender, o que significa ter a capacidade de interpretar a
realidade a partir das referências a seu alcance, formular
novos conceitos e levá-los à prática.
Uma condição para o aprimoramento das pessoas é esta
aptidão, que chamo de pensar conceitualmente. Outra
condição é a capacidade de autoavaliar-se e identificar com
espírito crítico carências e motivações.
Ocorre que, se a prática da autoeducação é o fermento que
promove a ascensão do indivíduo, nem sempre isso é uma
tarefa fácil.
Em algumas circunstâncias, os resultados somente serão
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35. Folha de S.Paulo - Emílio Odebrecht: O compromisso de cada um - 26/04/2009 Page 2 of 2
alcançados se a predisposição de quem deseja aprender
encontrar respaldo em um líder-educador que, ao perceber o
potencial e o desejo de crescimento do liderado, tem a
coragem de lhe atribuir responsabilidades que se mostram
acima das qualificações que demonstra no momento. O
efeito imediato desse gesto é a busca do conhecimento e das
competências exigidas para a superação dos novos desafio.
Meu pai, Norberto Odebrecht, até hoje lembra com gratidão
de um pastor luterano, de nome Arnold, que lhe ensinou a ler
e, sobretudo, a entender o mundo. Era um preceptor.
No âmbito das organizações empresariais, o líder-educador
exerce esse papel. A partir de sua autoeducação, pratica a
pedagogia da presença, oferecendo tempo, presença,
experiência e exemplos àqueles que têm no
autodesenvolvimento um compromisso com o próprio
futuro.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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36. Folha de S.Paulo - Marina Silva: Com o nosso chapéu - 27/04/2009 Page 1 of 2
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São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009
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MARINA SILVA
Com o nosso chapéu
NA SEMANA que passou, a Folha trouxe excelente
reportagem (22/4, Dinheiro) de Marta Salomon mostrando,
com base em estudo da organização não governamental
Amigos da Terra (quot;A Hora da Conta: Pecuária, Amazônia e
Conjunturaquot;), o avanço da pecuária na Amazônia e,
especialmente, a migração para lá de grandes frigoríficos,
com recursos do BNDES.
Nada contra a pujança do setor. Tudo contra a maneira
anárquica e predatória como se instala na Amazônia,
alavancada por dinheiro público e sem condicionantes
sociais e ambientais. Até com certa afronta, o presidente da
associação que representa os grandes frigoríficos fecha
questão: quot;Não dá para ter condicionantes. Acabar com o
abate de gado de origem ilegal é desejável, mas
impraticávelquot;.
E como fica o governo e suas normas de proteção ambiental
(decreto presidencial do final de 2007) que determinam a
criminalização de toda a cadeia produtiva originada de
práticas ilegais?
Para conceder Bolsa Família, acertadamente são exigidas
várias contrapartidas dos beneficiários.
Por que não se faz o mesmo com outros setores, aos quais
nada se pede em troca?
O uso de ferramentas econômicas para redirecionar ou criar
novos processos em benefício de toda a sociedade é dever do
Estado, e sem isso ficaríamos sempre presos à teia dos
interesses imediatistas e de seu pragmatismo. Mas falta ao
Estado brasileiro inteligência estratégica para extrair dos
empreendimentos um plus na forma de nova qualidade na
produção, de compromissos para além da realização dos
objetivos de negócio. O BNDES, no fundo, usa recursos da
sociedade contra ela mesma. Se abre o cofre sem qualificar
social e ambientalmente o resultado que espera do
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37. Folha de S.Paulo - Marina Silva: Com o nosso chapéu - 27/04/2009 Page 2 of 2
investimento, em lugar de contribuir para o cumprimento das
leis, financia o desprezo por elas até o ponto de os
beneficiários declararem em alto e bom som que não vão
cumpri-las. E ponto final.
Nunca houve discussão séria sobre as dimensões que cercam
o apoio ao setor agropecuário. A agenda tradicional fala só
de anistia, perdão de dívida, créditos subsidiados. Com a
conivência dos governos, que não as exigem, não se fala de
contrapartidas na forma de colaboração para proteger rios e
florestas, potencializar o uso correto da biodiversidade e
outros itens de interesse coletivo.
O irônico é que os cuidados ambientais revertem em
benefício da própria produção, no longo prazo. Que parte do
agronegócio se recuse a pensar nesses termos é lastimável,
mas compreensível. O que não dá para entender -nem
aceitar- é que as instituições públicas operem na mesma
lógica.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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38. Folha de S.Paulo - Ponto de Fuga: Inteligência e afeto - 26/04/2009 Page 1 of 3
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São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009
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Ponto de Fuga
Inteligência e afeto
Tzvetan Todorov é um pensador e
teórico de primeira importância;
interroga-se, em seu livro alarmado,
sobre o que teria posto a literatura
em perigo pela teoria
JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA
Tomemos como exemplo os alunos dos cursos de letras das
universidades brasileiras: boa parte, com idades que variam
em torno dos 20 anos, pouco ou quase nada leu de nossos
romancistas ou poetas. Quase nenhum deles ouviu falar de
Baudelaire, Edgar Allan Poe, Goethe, Fernando Pessoa, e
raríssimos os leram. (...) O fato é que, até este momento, com
raras exceções, a literatura -pelo menos de maneira direta,
isto é, mediante a leitura de romances, contos, poemas etc.-
não participou de sua formação intelectual e afetivaquot;...
Quem escreve isso é Caio Meira, na introdução para quot;A
Literatura em Perigoquot;, livro de Tzvetan Todorov, que ele
traduziu com elegância para a Difel (2009).
Caio Meira atua não num departamento quot;de letrasquot;, como diz
seu texto, mas num dos departamentos quot;de teoria literáriaquot;
que se multiplicaram pelo Brasil afora. Há algumas décadas,
envergonhados de não parecerem suficientemente rigorosos
ou científicos, eles abandonaram as belas denominações
humanistas (de letras, de estudos literários ou de literatura)
para proclamar a indiscutível tirania teórica.
Nas universidades, com, felizmente, boas exceções, muitos
alunos não são levados a ampliar e assentar uma cultura
nascida pelo afeto. Leem, de maneira instrumental, sob
encomenda, o romance ou o poema ao qual se refere o
grande nome das teorias que estudam no momento. Chegam
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39. Folha de S.Paulo - Ponto de Fuga: Inteligência e afeto - 26/04/2009 Page 2 of 3
a Proust, a Dickens ou a Leopardi não pelo interesse ou pela
paixão que esses autores deveriam despertar, impondo a
urgência da leitura, mas por desencarnada necessidade
técnica ou profissional.
Mapa
Todorov é um pensador e teórico de primeira importância.
Interroga-se, em seu livro alarmado, quase manifesto, sobre
o que teria posto a literatura em perigo pela teoria e levado
quot;o ponteiro da balança a não se deter num ponto de
equilíbrioquot;.
Esmiúça várias causas. Afirma, porém, graças ao tom
pessoal e biográfico com que o livro começa, a necessidade
de um percurso íntimo com a ficção e a poesia.
Qualquer teoria pode servir como atalho, economizando a
frequentação de romances e poemas. Mas apenas essa
frequentação conduz ao saber mais profundo, em grande
parte intuitivo e silencioso.
É fácil identificar a esterilidade: está ali onde o prazer da
leitura foi substituído pela engenhosidade analítica. Quando
o pensamento astucioso eliminou os procedimentos
sedimentares que só a assimilação das obras lidas pode
provocar.
Trono
quot;Estaria eu sugerindo que o ensino da disciplina [teórica]
deve se apagar inteiramente em prol do ensino das obras?quot;,
escreve Todorov.
As diversas teorias literárias são fecundas. Para tanto, porém,
devem limitar-se ao papel de um instrumento, possível e
parcial, como servas humildes, e não tiranas triunfantes.
Antes delas vem a leitura vivida e humanista.
quot;Em nenhum caso o estudo desses meios de acesso pode
substituir o sentido da obra, que é o seu fimquot;, diz Todorov.
Caso contrário, desaparece a cultura individual, e tais meios
tornam-se a melhor alavanca para a ignorância.
Identidades
Entre os livros de Todorov está, fascinante, quot;A Conquista da
América - A Questão do Outroquot; (Martins Fontes, 1983). Ao
ler as narrativas deixadas no século 16 sobre a América
espanhola, mostra, junto ao tremendo genocídio cometido
pelos europeus, modos, tantas vezes assustadores e sempre
complexos, de delinear o perfil de si mesmo e do outro.
jorgecoli@uol.com.br
Texto Anterior: Os Dez+
Próximo Texto: Filmoteca Básica: Rashomon
Índice
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40. Folha de S.Paulo - Ponto de Fuga: Inteligência e afeto - 26/04/2009 Page 3 of 3
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