O documento descreve a ética do dever de acordo com Kant. Resume os principais pontos da teoria kantiana: 1) o dever é um imperativo categórico que deve valer para toda ação moral; 2) as ações devem seguir os princípios do universalismo, antropocentrismo e racionalismo; 3) a teoria foi criticada por ser muito formal e racional em detrimento dos aspectos emocionais.
1. A ética do dever ser em Kant
"A moral propriamente dita, não é doutrina que nos ensina como
sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade."
(Immanuel Kant)
2. Contexto histórico: Quem foi Kant?
• Kant nasceu (22.04.1724), viveu e morreu
(12.02.1804) em Königsberg, na antiga Prússia
Oriental, hoje chamada de Kaliningrado, na
Rússia;
• Teve educação pietista (ramo do luteranismo)
e frequentou a universidade como estudante
de matemática e filosofia, tornando o
primeiro grande filósofo a lecionar em uma
faculdade;
• Demonstrou enorme simpatia pela causa da
Independência da América e em seguida pela
Revolução Francesa. Foi um verdadeiro
partidário do sistema político-social dos que
lutavam pela paz mundial permanente e pelo
desarmamento das nações.
3. Contexto histórico: Quem foi Kant?
• Em um cenário iluminista, foi influenciado por Berkeley, Descartes,
Hume, Leibnitz, Locke, Spinoza, Montaigne e Rousseau e influenciou
Hegel, Fitche, Schelling, Schopenhauer, Peirce, etc.;
• Didaticamente, as suas obras podem ser divididas em 2 períodos:
• Pré-Crítico (até 1770): Composto por trabalhos na área de matemática,
sismologia, astronomia e filosofia (influenciado principalmente por Leibniz e
Wolf);
• Crítico (de 1770 até sua morte): Com 46 anos, lê a obra de Hume, o que lhe
provocou bastante inquietação e culminou com a publicação da obra “Crítica
da Razão Pura” (1781) e anos seguintes de produção incessante;
4. Contexto histórico: Quem foi Kant?
• Principais Obras:
• Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível (1770);
• Crítica da Razão Pura (1781);
• Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência (1783);
• Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita (1784);
• Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785);
• Fundamentos da metafísica da moral (1785);
• Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786);
• Crítica da Razão Prática (1788);
• Crítica do Julgamento (1790);
• A Religião dentro dos limites da mera razão (1793);
• A Paz Perpétua (1795);
• Doutrina do Direito (1796);
• A Metafísica da Moral (1797);
• Antropologia do ponto de vista pragmático (1798).
• Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura;
5. Características
• Pré-requisitos para entender a
Ética do Dever:
Nós nascemos com um
“equipamento” ou “aparato” corporal
com capacidades e habilidades inatas;
A mente processa e trabalha o
conhecimento que nos vem através
dos sentidos e das experiências.
Nosso corpo e mente são limitados,
mas temos a capacidade de analisar o
conhecimento e potencializar nossas
capacidades através de artefatos e
máquinas;
6. Características
• Pré-requisitos para entender a Ética do Dever:
Quando o homem ousa pensar, saindo da menoridade, abre-se perante ele a
possibilidade de seguir por sua própria razão, sem deixar-se enganar pelas
crenças, tradições e opiniões alheias;
Se não sabemos as verdades sobre o mundo “como ele é em si”, podemos
saber com certeza um grande número de coisas sobre o mundo “como ele
nos aparece”, ou seja, como nós percebemos;
Nossa ciência vê o mundo a partir de JUÍZOS ANALÍTICOS (independem da
experiência, são universais e necessários) e JUÍZOS SINTÉTICOS (baseados na
experiência e são atributos não previamente contidos);
7. Características
• Pré-requisitos para entender a Ética do Dever:
• Kant desenvolve então suas críticas, baseadas em juízos teóricos (“Crítica da Razão
Pura”), práticos (“Crítica da Razão Prática”) e estéticos (“Crítica da Faculdade do
Juízo”);
• Razão Pura Teórica x Razão Pura Prática:
• A Razão Teórica trata da realidade exterior a nós, ou seja, da Natureza, sistema de objetos
regido por leis necessárias de causa e efeito, independentes de nossa intervenção;
• A Razão Prática trata do ser humano e sua liberdade como instauração de normas e fins
éticos. As ações humanas são derivadas não por necessidade causal, mas por finalidade e
liberdade;
• As duas razões são universais: apesar do conteúdo dos conhecimentos e das ações variarem
no tempo e no espaço, as formas da atividade racional de conhecimento e da ação são
universais, ou seja, válidas para todos os homens, em qualquer região do espaço-tempo;
8. Características
• Pré-requisitos para entender a Ética do Dever:
• O Iluminismo influenciou Kant com as seguintes ideias:
• "Todos os seres humanos conseguem distinguir o bem do mal " (Rousseau);
• A razão distingue o ser humano do animal, conferindo-lhe a capacidade de
pensar por si mesmo;
• Mas Kant, ao contrários dos iluministas em geral, não desprezou a
religião:
• A fé não fundamenta a moral, mas existe em uma esfera que escapa ao escopo
da razão;
9. Características
• Pré-requisitos para entender a Ética do Dever
• Reforçando: o ser humano é sensível por natureza, condicionado
pelas suas disposições naturais; por outro lado, é um ser racional,
isto é, alguém capaz de se regular por leis que impõe a si mesmo;
• A esta imposição chamamos de DEVER: não é uma obrigação
externa, e sim a expressão da lei moral em nós, ou seja, o senso
moral inato ao ser humano e não derivado da experiência
sensorial ou religiosa;
• Disse Kant:
“Age o mais perfeitamente que puderes,
eis o fundamento primário de toda obrigação de agir.”
10. Características
• Pré-requisitos para entender a Ética do Dever
• Por dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa
ação moral e por isso somos autônomos;
• Consequentemente, o ser humano, ao contrário do animal (que está
determinado a agir desta ou daquela maneira), é um ser livre. Se deve
agir, é porque pode agir. Esta liberdade lhe traz dignidade;
• Disse Kant:
“Podes, posto que deves.”
11. Características
• Pré-requisitos para entender a Ética do Dever
• Mas este senso moral não é espontâneo: por natureza, o ser humano é:
cruel, agressivo, egoísta, ambicioso, insaciável de prazer que o leva a
mentir, matar, roubar e destruir;
• Por isso, o dever é uma forma imperativa e não indicativa, que deve
valer para toda e qualquer ação moral; não admite hipóteses, não é
uma motivação psicológica, religiosa nem intencional mas uma lei
moral interior;
• Portanto, o “dever ser” é um IMPERATIVO CATEGÓRICO;
12. Princípios
•Depois de conhecer o “dever ser”, Como deve ser
uma ação moral?
•Kant formula 3 princípios máximos que regem uma
ação moral:
•Princípio do Universalismo;
•Princípio do Antropocentrismo;
•Princípio do Racionalismo;
13. Princípios
• Princípio do Universalismo:
• Toda ação moral deve ter validade universal, ou seja,
aquilo que todo ser humano deve fazer como se fosse
uma lei inquestionável válida para todos em todo
tempo e lugar;
• Disse Kant:
“...age só segundo máxima tal que possas ao mesmo
tempo querer que ela se torne lei universal.”
14. Princípios
• Princípio do Universalismo:
• A mentira é imoral, já que se
todos mentissem, a humanidade
deveria abdicar da razão, do
conhecimento, da reflexão,
vivendo na pura ignorância;
• A Declaração Universal dos
Direitos Humanos é uma
compilação dos direitos
considerados universais de todos
os seres humanos;
15. Princípios
• Princípio do Antropocentrismo:
• A modernidade (e com isso também a pós-modernidade) é marcada pelo
fator subjetivista, do sujeito, do indivíduo. Herança essa dada pelos
humanistas da época do Renascimento, que saem da questão teocêntrica da
Idade Média e entram no antropocentrismo.
• A teoria Kantiana também é conhecida como A Revolução Copernicana do
Conhecimento.
• Se Copérnico colocou o sol no centro do universo, Kant deslocou o sujeito,
mais especificamente a razão, para o pólo central da cognição.
16. Princípios
• Princípio do Antropocentrismo:
• No Cristianismo, a supremacia da espécie humana recebe um tratamento relevante,
resumida na semelhança que possui com Deus e na superioridade em relação a outros
animais. Por sua vez, Immanuel Kant considera o ser humano como o único ser acima de
todo o preço.
• O homem deve ser sempre o fim, nunca o meio, discurso de Kant muito criticado por
Hans Jonas.
• Disse Kant:
“...age de tal modo que faças da humanidade, tanto em tua pessoa
como na pessoa do outro, sempre ao mesmo tempo um fim e nunca
simplesmente um meio.”
17. Princípios
• Princípio do Racionalismo:
• A vontade que age por dever institui um reino humano de seres morais
porque racionais e, portanto, dotados de uma vontade legisladora livre ou
autônoma.
• Isto exprime a diferença ou separação entre o reino natural das causas e o
reino humano dos fins.
• Disse Kant:
• “...age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei
universal para todos os seres racionais.”
18. Aplicabilidade às Políticas em Ciência e Tecnologia
• Vídeo sobre os Direitos Humanos:
• http://www.youtube.com/watch?v=oX1XghdlYcU
• http://www.youtube.com/watch?v=quQQrPC7WME
19. Aplicabilidade às Políticas em Ciência e Tecnologia
• Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Artigo I:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade”;
Artigo III:
“Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”;
Artigo V:
“Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante.”
20. Aplicabilidade às Políticas em Ciência e Tecnologia
• Tratado de Não-Ploriferação de Armas Nucleares:
Artigo I:
Cada Estado nuclearmente armado, Parte deste Tratado, compromete-se a não transferir, para
qualquer recipiendário, armas nucleares ou outros artefatos explosivos nucleares, assim como o
controle, direto ou indireto, sobre tais armas ou artefatos explosivos e, sob forma alguma
assistir, encorajar ou induzir qualquer Estado não-nuclearmente armado a fabricar, ou por
outros meios adquirir armas nucleares ou outros artefatos explosivos nucleares, ou obter
controle sobre tais armas ou artefatos explosivos nucleares.
Artigo II:
Cada Estado não-nuclearmente armado, Parte deste Tratado, compromete-se a não receber a
transferência, de qualquer fornecedor, de armas nucleares ou outros artefatos explosivos
nucleares, ou o controle, direto ou indireto, sobre tais armas ou artefatos explosivos; a não
fabricar, ou por outros meios adquirir armas nucleares ou outros artefatos explosivos nucleares,
e a não procurar ou receber qualquer assistência para a fabricação de armas nucleares ou
outros artefatos explosivos nucleares.
21. Críticas: Ética Racional e Formal x Ética Emotiva
• Dilema 1:
• Um jovem, chamado Henrique, se
agir por dever, não pode escolher
roubar um medicamento, por que
isso contraria o IMPERATIVO
CATEGÓRICO, uma vez que roubar
não se pode tornar numa lei
universal;
• Mas se Henrique decidir não roubar o
medicamento, para não ir preso,
então a sua ação está conforme ao
dever, mas não foi executada por
dever, uma vez que na sua base está
o medo das consequências, que é
uma inclinação sensível;
22. Críticas: Ética Racional e Formal x Ética Emotiva
• Dilema 2:
• Um pai cuida de seu filho movido
pelo “dever” da norma ou pelo afeto?
• Para os críticos, a ética de Kant é
muito focada na norma,
esquecendo-se do ser humano;
• Principais Críticos:
Schopenhauer, Nietzche e Hans
Jonas;
23. Críticas: Ética Universalista x Ética Relativista
• Outros críticos mais tarde
também levantaram a ideia da
historicidade dos fatos e do
pluralismo cultural; dessa
forma, nenhuma norma poderia
ter caráter universal;
• Principais Críticos: Hegel e
Habernas
24. Referências Bibliográficas
• Crítica da Razão Prática - Tradução, Immanuel Kant; Edições e Publicações Brasil Editora S.A, São Paulo, 1959
[Versão em E-book, 2004]
• Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos, Immanuel Kant; Martin Claret, São Paulo,
2004;
• A Filosofia de Immanuel Kant ao seu Alcance, Will Durant, TecnoPrint S.A , Rio de Janeiro, 1956 ;
• Filosofia, Marilena Chauí, Ed. Ática, São Paulo, 2000;
• Apontamento - A Ética do Dever (Kant), Horacio Freitas, 2013 -
http://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2011/01/apontamento-etica-do-dever-kant.html, acessado em
14.04.2014;
• O antropocentrismo entranhado, Walmir Moura Belaz, 2005 - http://jus.com.br/artigos/7781/o-
antropocentrismo-entranhado, acessado em 18.04.2014;
• O idealismo kantiano não é individualismo, Anderson Rodrigo de Oliveira -
http://meuartigo.brasilescola.com/filosofia/o-idealismo-kantiano-nao-individualismo.htm, acessado em
18.04.2014;
• Kant e a Revolução Copernicana do Conhecimento: uma Introdução, Adelino Ferreira, 2012 -
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&ved=0CEAQFjAC&url=http%3A%
2F%2Fwww.ufsj.edu.br%2Fportal2-
repositorio%2FFile%2Fexistenciaearte%2FKant_e_a_Revolucao_Copernicana_do_Conhecimento_-
_uma_Introducao.pdf&ei=RvRgU63RFIvSsASdoYDYCQ&usg=AFQjCNE_kxTgZYVMOrflC1wz7fOJ883Lyw&sig2=
Zk04sZ-IlZ4rQZCQDR2T-w&bvm=bv.65636070,d.cWc&cad=rja, acessado em 18.04.2014;
• A História dos Direitos Humanos (legenda em PT-BR), 2012 -
http://www.youtube.com/watch?v=oX1XghdlYcU, acessado em 15.04.2014;
• A História dos Direitos Humanos [DUBLADO], 2012 - http://www.youtube.com/watch?v=quQQrPC7WME,
acessado em 15.04.2014;
25. Referências Bibliográficas
• http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8d/DBP_-
_250_Jahre_Immanuel_Kant_-_90_Pfennig_-_1974.jpg, acessado em 17.04.2014;
• http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/01/NPT_Participation.svg,
acessado em 17.04.2014;
• Immanuel Kant, Caroline Cougo, 2012 -
www.slideshare.net/CarolineCougo/immanuel-kant-14485534, acessado em
18.04.2014;
• A Moral de Kant, Paulo Gomes, 2007 - www.slideshare.net/espanto.info/a-moral-
de-kant, acessado em 18.04.2014;
• As críticas de Schopenhauer à Ética de Kant, Charles Feldhaus, 2011 -
https://www.academia.edu/1092019/As_criticas_de_Schopenhauer_a_etica_de_
Kant, acessado em 18.04.2014;
• DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, UNIC/RIO/005, dezembro de
2000; Versão Ebook em
http://unicrio.org.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf, acessado em
18.04.2014;
• TRATADO SOBRE A NÃO-PROLIFERAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES -
http://www.cnen.gov.br/Doc/pdf/Tratados/TRAT0001.pdf, acessado em
18.04.2014.