Este documento discute práticas de avaliação no ciclo de alfabetização e fornece sugestões para a avaliação de estudantes. Ele aborda a evolução histórica da avaliação educacional, princípios que orientam a avaliação formativa, instrumentos e aspectos a serem avaliados como leitura, produção textual e oralidade. O documento também fornece exemplos de atividades e roteiros que podem ser usados para a avaliação de estudantes no ciclo de alfabetização.
1. Avaliação no Ciclo de Alfabetização:
Reflexões e Sugestões
Gisele Gelmi
Pólo de Marília – SP
Ano: 2013
2. O que é AVALIAR ?
verificar estimar
representar julgar
situar
dar uma opinião determinar
3. 1. PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO: Fundamentos e Reflexões
De 1920 a 1930 (avaliação com enfoque técnico):
Mensuração, utilização de testes e exames.
De 1930 a 1940 (avaliação com papel descritivo):
“Avaliação Educacional”, com foco em descrever padrões e critérios.
Dos finais dos anos 60 até final dos 80 (avaliação centrada no
julgamento):
Com enfoque psicossocial, o mérito e a relevância como essenciais ao
juízo de valor.
4. 1. PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO: Fundamentos e Reflexões
Dos finais dos anos 80 e início dos anos 90 (negociação):
Enfoque construtivista. Processo interativo e dialógico entre avaliador e
avaliado. Aspectos qualitativos.
Não é vista mais como TRADICIONALISTA
SOMATIVA, ou seja, com interesses voltados à análise de resultados do tipo
sim / não, passa / não passa.
Mas, com enfoque... PROGRESSISTA
FORMATIVA, pois permite intervir nas ações de ensino e aprendizagem com o
curso desse PROCESSO ainda em desenvolvimento.
Intenção: Coletar dados que permitam a revisão
do programa.
Ação que...
Inclui vários sujeitos / intencional / multidirecional
5. 1. PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO: Fundamentos e Reflexões
AVALIAÇÃO:
INTERNA: da Aprendizagem (formativa / do
estudante). Ponto de partida para se avaliar a própria escola.
EXTERNA: de controle.
• Provinha Brasil:
- Nível de conhecimento da leitura e da apropriação do
sistema de escrita. Oralidade e a produção textual não são
contempladas;
- Realizar outras atividades para coletar informações sobre
os diferentes eixos de ensino;
Qual o grande problema da Avaliação hoje???
• Avaliação do Sistema de Ensino (Estados e Municípios)
6. 1. PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO: Fundamentos e Reflexões
AVALIAÇÃO:
Compreensão do processo de construção das aprendizagens
pelos estudantes e de reflexão sobre as estratégias de ensino do
professor(a). E não para reprovar ou excluir os estudantes.
INSTRUMENTOS VARIADOS:
Que permitam analisar a progressão dos estudantes
e suas relações com as estratégias didáticas adotadas.
CLAREZA DOS OBJETIVOS:
“Quem sabe onde quer chegar, escolhe o caminho certo e o jeito de
caminhar."
Delimitar o que as crianças precisam aprender...
O que se pretende dos(as) estudantes???
7. Exemplo:
Avaliação Administrativa de Professores(as)
Grelha de Realidade
Itens de avaliação leitura observável
pontualidade e
assiduidade retrato indivíduo
robô concreto
atividade e
ideal captado
eficiência
por meio de
autoridade e alguns sinais
prestígio
8. Avaliação é o ato pelo qual se formula
um juízo de “valor” incidindo num objeto
determinado (indivíduo, situação, ação,
projeto, etc) por meio de um confronto
entre duas séries de dados: do fato em si
e do ideal. (Hadji, 1994)
9.
10. 2. AVALIAÇÃO ESCOLAR: Envolvimento em Rede
Avaliação do currículo:
Realizada por diferentes participantes do processo educativo: equipes
pedagógicas das secretarias e das escolas, professores, comunidade.
Projeto Político Pedagógico:
• Definir coletivamente as prioridades de ensino, as estratégias didáticas e os
projetos a serem elaborados;
• Construir opções variadas para atender aos estudantes / considerar
diferentes necessidades;
• Construção e a avaliação permanente do PPP da escola. Monitoramento e a
avaliação contínua das ações;
• Prever modos de avaliação coletiva da própria escola;
• A avaliação do(a) professor(a);
• Autoavaliação: reflexão de própria ação;
• A avaliação feita pelos pais e pelos estudantes auxilia o(a) professor(a) a
pensar seus “pontos fortes” e onde ele pode melhorar.
11. 2. DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO: Sugestões
Atividade diagnóstica:
Antes do processo de ensino, com a intenção de programar
adequadamente. Orientada pelos objetivos.
Avaliação Contínua:
Redefinições das estratégias de ensino no processo.
Atenção: aos Direitos de aprendizagem inseridos nos cadernos da
Unidade 1. O que se espera ensinar na etapa escolar?
Apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA):
Importância dos registros de acompanhamento: elucidam formas
de sistematização de informações sobre os(as) estudantes. (Ano 1, 2
e 3 – Unidade 1. Habilidades / competências e conhecimentos, p. 38 -
40)
12. 2. DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO: Sugestões
AVALIAÇÃO DA LEITURA:
• Localizar informação explícita no texto;
• Inferir: é importante verificar a capacidade da criança em utilizar
conhecimentos prévios ou resgatar partes de um texto para inferir
alguma informação;
• Compreender a finalidade do texto;
• Apreender assuntos / temas tratados em textos;
• Estabelecer relação de intertextualidade.
13. 2. DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO: Sugestões
AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO TEXTUAL:
Esforço da criança em manter a unidade de sentido, em estabelecer
relações coesivas, em atentar para a sequência do texto;
Pode-se analisar diferentes aspectos:
Linguísticos: utilização de mecanismos coesivos; organização
sequencial do texto, a progressão temática; organização de texto em
partes/ parágrafo; pontuação; escrita com correção ortográfica; escrita
com correção quanto à acentuação;
Sociocomunicativos: reflexões sobre o gênero / finalidades da escrita /
contexto de produção;
14. 2. DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO: Sugestões
Oralidade (Competências Discursivas):
• Não se reduz à fala cotidiana, mas aos usos em instâncias mais
públicas de interação / espaços diversos / atividades de escuta e
produção de textos orais;
• Ler em voz alta, conversar e discutir. Suporte para o
desenvolvimento de outras competências;
• Avaliar algumas habilidades voltadas para oralidade é traçar roteiros
de observação considerando as expectativas de aprendizagem da
etapa correspondente e as peculiaridades da comunidade na qual a
escola está inserida.
15. 2.1 ROTEIRO DE ATIVIDADES: Sugestões
Contação de histórias:
1. Pesquisar na biblioteca ou no cantinho de leitura
da sala quais as obras que registram lendas.
2. Listar os títulos de algumas lendas para a turma.
3. Fazer uma votação para eleger qual lenda a professora contará.
4. Organizar uma roda para contação da lenda escolhida.
5. Após, organizar a turma em duplas ou grupos e pedir para que elas
escolham uma lenda para apresentar para a outra turma.
6. Solicitar às duplas que leiam a lenda e ensaiem a melhor forma de
contar para os alunos de outra turma.
16. 2.1 ROTEIRO DE ATIVIDADES: Sugestões
Entrevista:
1. Apresentar à turma a proposta de entrevistar funcionários da escola
para conhecer as atividades realizadas por esses profissionais e as
razões pelas quais estão trabalhando na função.
2. Elaborar coletivamente um roteiro de perguntas para conhecer as
pessoas que trabalham na escola, as atividades realizadas por
elas, os motivos pelos quais trabalham na escola e as razões pelas
quais escolheram a profissão.
3. Organizar a turma, em duplas ou trios, para entrevistar os
funcionários da escola.
4. Orientar que, no momento da entrevista, prestem atenção nas
respostas, anotando tudo em uma folha de papel.
5. Gravar a entrevista e analisá-la (Roteiro).
17. 2.1 ROTEIRO DE ATIVIDADES: Sugestões
Debate (Resolução de problemas):
1. Sugerir para a turma que seja realizado um debate para resolver um
problema que tem solução, mas ele não é conhecido e é preciso
elaborá-lo coletivamente, explorando as contribuições de cada um.
2. Organizar a turma em dois grupos, solicitando que elenquem quais
pontos de vista serão defendidos (mesmo se tratando de um gênero
oral, essa atividade pode ser realizada por escrito).
3. Após a leitura de textos, cada grupo deverá elaborar seu discurso
para apresentar para o grupo oponente.
4. Definir as regras que serão utilizadas durante o debate.
5. Durante o debate fazer com que os alunos percebam a capacidade de
retomada do discurso do outro, capacidade crítica dos grupos,
capacidade de escuta e respeito pelo outro, capacidade de tomar
posição.
18. 2.1 ROTEIRO DE ATIVIDADES: Sugestões
Seminário escolar:
1. Apresentar à turma sugestões de temáticas para a elaboração do
seminário escolar. (temáticas que tenham relação às vivências dos
alunos no período da realização das atividades);
2. Organizar a turma em pequenos grupos para a apresentação dos
seminários;
3. Solicitar que as crianças realizem pesquisas na internet e na
biblioteca da escola sobre as temáticas que foram selecionadas para
os seminários;
4. Seleção e sistematização das informações colhidas durante a
pesquisa para elaboração de cartazes que serão utilizados nas
apresentações dos seminários;
5. Realização de ensaios para a apresentação dos seminários e
posteriormente, apresentação.
19. 3. AVALIAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO : Sugestões e Considerações
Importante:
• Ler e compreender textos de gêneros diversos para atender a diferentes
finalidades. Buscar neles a construção de sentidos;
• Leitor: alguém que INTERAGE (ASSOCIA, POSICIONA-SE, FAZ INFERÊNCIAS)
com textos escritos, muito antes de conseguir apropriar-se do SEA;
• Introduzir / Aprofundar / Consolidar;
• Interação: mediada por outras pessoas / intencionalidade pedagógica;
• Envolve: sala de aula, biblioteca escolar, laboratório de informática, pátio (nas
festividades e culminâncias de projetos) e os corredores;
• Ter clareza que o gênero textual escolhido pode ser mais ou menos indicado
para avaliar algumas dessas habilidades;
• Priorizados textos completos. A leitura de palavras também pode ser utilizada
nas avaliações diagnósticas, mas sem deixar de lado as atividades de compreensão
textual;
20. 3. AVALIAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO : Sugestões e Considerações
• “Indiferença às diferenças”, (tratar todos(as) como iguais, ao
passo que os aprendizes são desiguais. O ciclo de alfabetização
propõe, ao contrário, uma pedagogia diferenciada, na qual a criança
deve progredir a cada ano no ciclo, porém com efetiva aprendizagem
(Bourdieu, 1998);
• Diferentes atividades: bingo de letras e palavras, formação de
palavras com alfabeto móvel, escrita espontânea de palavras,
identificação de palavras que rimam ou que começam com o mesmo
som, completar palavras com letras ou sílabas, cruzadinhas, dentre
outras;
• Ditado, não precisamos artificializar a pronúncia;
• Conhecimentos sobre as convenções do sistema de escrita:
escreve da esquerda pra direita? Lê letra cursiva? Escreve com qual
letra?;
• Aspectos ortográficos também podem ser avaliados;
21. 3. AVALIAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO : Sugestões e Considerações
• Nem sempre é possível avaliar ao mesmo tempo todas as
habilidades, planeje e garanta momentos para diagnosticar /
redimensione sua prática, buscando a progressão;
• Clareza quanto aos conhecimento a cada ano: que ações devem ser
desenvolvidas em cada etapa? O que se vai avaliar em cada uma
dessas atividades e para que se está avaliando.
29. “A atividade que faz sentido para a criança é, então a
chave com a qual a criança entra em contato com o
mundo, aprende a usar os objetos que os homens foram
criando ao longo da história – os instrumentos, a
linguagem, os costumes, as técnicas, os objetos materiais
e não-materiais, tais como a filosofia, a dança, o teatro –
é isso que garante o nascimento de aptidões,
capacidades, habilidades, em cada um de nós.”
(MELLO, 1999, p. 21)
Todas as imagens exibidas nesta apresentação foram autorizadas pelos pais ou responsáveis.
30. A escola pode ser avaliada em diferentes perspectivas
Rubem Alves
Há a história daquele genro, recém-casado, em viagem de
núpcias por deliciosos países exóticos... Tudo seria perfeito
não fossem as imagens de uma sogra feroz e voraz que o
perseguiam...Ah! Preço caro tivera de pagar pelas delícias do
leito conjugal: a sogra, que não abandonava a filha, já se
comportava como governanta da casa. E ele pensava no que
poderia fazer para conquistar aquele rosto terrível. Foi
quando se lembrou de que ela dissera, certa vez, que
gostava muito de pássaros. Estava passando em frente de
uma casa de aves exóticas e logo pensou que ali haveria de
encontrar o presente perfeito. Lá estava ele: multicolorido,
brilhante, aquele canto maravilhoso... Comprou-o a peso de
ouro e enviou, via aérea, como oferenda de paz. Presente
digno de uma rainha que amaciaria qualquer sogra.
31. Terminada a viagem, voltam os recém-casados a casa e ao
encontro da sogra dona Ferocidade.
- E o pássaro, que tal achou? Ele foi logo perguntando.
Ao que ela respondeu transfigurada:
- Absolutamente delicioso...
O homem ignorava que há muitas formas de avaliar um
pássaro. Para ele, a ave era objeto estético, para deleite dos
olhos e dos ouvidos. Mas a sogra era movida por
sensibilidades outras e, segundo seus cânones, um pássaro
não se avalia com os olhos, nem com os ouvidos, mas sim
com a boca e o estômago.
Ele gostava muito de pássaros. E a sogra também. Mas os
pássaros que ele amava nada tinham a ver com os pássaros
que a sogra devorava. Ambos trabalhavam com critérios de
avaliação rigorosos e distintos.
32. Digo isto a propósito do ensino.
Pobres pássaros. Todos dizem que gostam dele. Só que uns
buscam ouvir o seu canto e ver suas cores. Outros, ao
contrário, falam sobre isto enquanto palitam os dentes...
O ensino é para ser avaliado de que jeito? Que é que se
avalia nele? Em qual das suas partes se enfia o avaliador? É
na chegada ou na travessia?
O que vale é o que acontece no fim ou o que acontece
enquanto se está indo?
Coisa para ser usada – ferramenta – ou coisa para ser fruída
– experiência de prazer?
33. Leio, nos prospectos das escolas, as descrições do que elas
fazem. Formam profissionais. O interessante, mesmo, é a
forma como o profissional, esta coisa que aparece no fim da
linha de montagem chamada escola, é definido. Do jeitinho
como se define ferramenta. Chave: instrumento que, metido
nas fechaduras, serve para abrir ou fechar portas ou janelas...
Serrote: lâmina de aço dentada que serve para cortar
madeira... E, assim por diante, para qualquer tipo de
ferramenta. É sempre necessário dizer para que serve, qual a
utilidade, como deve ser usada. É apenas um meio para outra
coisa. E assim são definidos os engenheiros, os advogados, os
médicos, os dentistas, os agrônomos: como o conjunto de
operações que eles são capazes de executar, do mesmo jeito
como se definem as ferramentas. Com uma única diferença:
ferramentas são feitas de metal e materiais parecidos, mas os
profissionais são feitos de carne e sangue...
34. Ora, de uma ferramenta pouco importa como ela foi feita. Se
foi produzida com técnica capitalista ou comunista, se caiu do
céu ou se foi produto de feitiçaria. O que interessa é o produto
final, o objetivo pronto, o que está lá, além da travessia, a coisa
pronta para ser usada. O que aconteceu no processo de
produção é irrelevante. E este processo irrelevante é
justamente aquilo que acontece durante os anos de escola:
currículos, aulas, laboratórios, provas... Por que é que ele é
irrelevante? A resposta é muito simples: se o seu único
objetivo é produzir o profissional/ferramenta, o bom mesmo
seria que este produto fosse obtido num abrir e fechar de
olhos, por um passe de mágica. O forno de microondas é
melhor do que os velhos fornos a lenha...Se o importante é
chegar, então ir de carro é melhor do que ir a pé...
35. Se o que se deseja é lenha para queimar, então o negócio é
plantar eucaliptos e não jequitibá. O tempo que se gasta, até
que a coisa fique pronta, é pura perda de tempo. Vazio. Sem
sentido. Só vale porque, no fim, a ferramenta vai aparecer.
Mas não seria muito melhor se ela aparecesse sem tanto
tempo perdido? A escola: um grande tempo perdido. O
importante só irá acontecer, quando os
profissionais/ferramentas aparecerem.
Acontece que há coisas que só são belas enquanto vão
indo, enquanto não chegaram: uma sonata de Mozart, uma
partida de xadrez, um poema, Guimarães Rosa, os abraços
de amor, a própria vida...
E a educação: é ferramenta ou sonata?
É produto final ou abraço sem fim?