- Nasce uma ilustre brasileira em 1810 no interior do Rio Grande do Norte, chamada Dionísia Gonçalves Pinto. Sua família recebe a visita do inglês Henry Koster em 1810.
- A família muda-se para Goiana, Pernambuco em 1817, onde Dionísia tem seu primeiro contato com ideias liberais.
- Em 1819, nasce o irmão Joaquim e a família retorna para Floresta. Um casamento precoce de Dionísia aos 13 anos é anulado.
3. FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL
PRESIDENTE
JACQUES DE OLIVEIRA PENA
DIRETORES EXECUTIVOS
ELENELSON HONORATO MARQUES
FRANCISCO ASSIS MACHADO SANTOS
DIRETOR DE EDUCAÇÃO E DESPORTOS
MARCOS FADANELLI RAMOS
ASSESSORES
ADEMIR VIEIRA DOS SANTOS
CLAUDIO ALVES RIBEIRO BRENNAND
GERMANA AUGUSTA DE M. M. L. MACENA
PETROBRAS
PRESIDENTE
JOSÉ SERGIO GABRIELLI
GERENTE EXECUTIVO DA COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL COORDENAÇÃO GERAL
WILSON SANTAROSA SCHUMA SCHUMAHER
GERENTE DE RESPONSABILIDADE SOCIAL COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
LUIS FERNANDO NERY FLÁVIA DIAB
STANLEY WHIBBE
GERENTE DE PATROCÍNIOS
ELIANE COSTA COORDENAÇÃO DE ADMINISTRAÇÃO
CLÉO ASSIS
GERENTE DE PATROCÍNIOS CULTURAIS
GILBERTO BARROS TEXTO
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
COORDENADOR DE TECNOLOGIAS SOCIAIS
LENART NASCIMENTO REVISÃO DE TEXTOS
BEATRIZ DI PAOLI
REDEH – REDE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO PROJETO GRÁFICO E EDIÇÃO DE IMAGENS
LULA RICARDI – XYZDESIGN
COORDENADORA GERAL
THAIS RODRIGUES CORRAL ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO
COORDENADORA EXECUTIVA
NOÊMIA INOHAN UMA MULHER À FRENTE DO SEU TEMPO
SCHUMA SCHUMAHER PRODUÇÃO
MERCADO CULTURAL
CONSELHO CONSULTIVO
BETH VARGAS, EDUARDO CUSTÓDIO MARTINS,
HELENA TEODORO, JOIS ORTEGA,
LUCIA XAVIER, MARISTELA BEZERRA BERNARDO,
MOEMA VIEZZER
Duarte, Constância Lima
D812n Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo:
fotobiografia / Constância Lima Duarte; ilustrações de Luiz Fernando Ricardi. Brasília:
Mercado Cultural, 2006.
120 p.
ISBN 978-85-98757-05-5
ISBN 978-85-98757-05-6
Projeto Memória
1. Literatura brasileira 2. Augusta, Nísia Floresta Brasileira – Biografia – Obras ilustradas
3. Augusta, Nísia Floresta Brasileira – Vida e obra – Fotografia 4. Augusta, Nísia Floresta
Brasileira - Genealogia
I. Título
CDD 21.ed. 869.092
4. Por que a ciência
nos é inútil? Porque
somos excluídas dos
cargos públicos; e por
que somos excluídas
dos cargos públicos?
Porque não temos
ciência.
Nísia Floresta,
em Direitos das mulheres e
injustiça dos homens.
5. O preço por tal pioneirismo foi alto: seu nome foi envolvido pelo esquecimento e durante al-
gumas décadas não se ouviu falar dela. O pouco que se ouvia estava marcado pelo preconceito
ou impregnado da surpresa dos que se deparavam com uma história de vida como a sua e a
novidade de suas reflexões. Viver à frente de seu tempo custou-lhe o não-reconhecimento de
seu talento e, por isso, até hoje não é citada na história da literatura brasileira, como escritora
romântica, nem na história da educação feminina, como educadora.
Seu pensamento, no que diz respeito à condição das mulheres, extremamente subjugadas em
seu tempo, ajudou na formação de uma consciência mais crítica em relação ao que era tido
como um dos maiores atrasos do País naquela época: a negação ao sexo feminino do direito a
uma educação tal qual a que era oferecida aos homens, impedindo assim seu acesso a espaços
de poder na sociedade.
Mais do que nunca se faz importante a escolha de Nísia Floresta como a homenageada da déci-
ma edição do Projeto Memória. A divulgação de suas idéias contribuirá, de forma inequívoca,
Na história da mulher brasileira, o nome de Nísia Floresta se impõe e ocupa as primeiras pá- para nos fazer lembrar da história das mulheres brasileiras na luta pelo reconhecimento de seus
ginas, tanto pela coragem revelada em seus escritos, como pelo ineditismo e ousadia de suas direitos e de sua capacidade intelectual.
idéias. No tempo em que a grande maioria das mulheres vivia recolhida em suas casas sem Idealizado em 1997 pela Fundação Banco do Brasil, o Projeto Memória tem como objetivo ho-
nenhum direito, e o ditado popular dizia que “o melhor livro é a almofada e o bastidor”, ela menagear e levar ao conhecimento do público a trajetória de importantes nomes da história
dirigia colégios para moças, colaborava em jornais e escrevia livros e mais livros defendendo do nosso país. A iniciativa conta desde 2004 com a parceria da Petrobras e nesta edição com a
os direitos das mulheres, dos índios e dos escravizados. Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano.
Nascida em 1810, em Papari, Rio Grande do Norte, Nísia Floresta publicou seu primeiro livro, O Projeto é ainda composto por uma exposição itinerante, que percorre cerca de 800 municípios
“Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens”, em 1832, quando tinha apenas 22 anos. Abor- brasileiros, um kit-pedagógico, que é distribuido em aproxidamente 18.000 escolas públicas,
dou também, em seus textos, temas como a opressão aos índios, iniciada com a colonização um website, que pode ser acessado pelo link www.fundacaobancodobrasil.org.br, e, além deste
portuguesa, a escravidão e a imagem distorcida e preconceituosa que o Brasil possuía em ou- livro foto-biográfico, um vídeo-documentário, estes últimos enviados a 5 mil bibliotecas nos 27
tros países, tendo escrito aquele que é considerado o primeiro artigo em defesa dos aspectos po- estados da Nação.
sitivos do “gigante do porvir”, como ela definia a nação de extensão continental e com vocação Esperamos que por meio desta iniciativa possamos levar ao público o conhecimento acerca des-
para se tornar uma das maiores potências do planeta. sa ilustre norte-rio-grandense, com a certeza de estar contribuindo, de maneira decisiva, para o
fortalecimento da identidade cultural da Nação.
R E D E H . P E T R O B R A S . F U N DA Ç Ã O B A N C O D O B R A S I L
6. SUMÁRIO
.Nasce uma ilustre brasileira . 10
.O primeiro livro feminista de que se tem notícia . 18
.A educadora . 24
.A indianista . 32
.A viajante ilustrada . 38
.O retorno à pátria, – novas publicações . 42
.A abolicionista . 46
.A nacionalista . 52
.Mais viagens... França, Alemanha,
Itália, Grécia... . 56
.Obras da maturidade – os livros em
língua estrangeira . 62
.Última viagem ao Brasil . 68
.Retorno à Europa – os últimos anos . 72
.A redescoberta da escritora . 78
.Primeiras homenagens . 82
.O Rio Grande do Norte acolhe a filha ilustre . 88
.Por uma história da mulher brasileira: suas
. 98
lutas e conquistas
.Rumo à cidadania . 108
.Referências Bibliográficas . 122
7. NASCE UMA
ILUSTRE
BRASILEIRA Em um longínquo 12 de outubro de 1810, às nove horas da noite, nascia a primeira
filha do casal Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa e Antônia Clara Freire, no sítio Floresta,
em Papari, interior do Rio Grande do Norte. A menina ganhou o nome do pai: Dionísia
Gonçalves Pinto, conforme consta no Assento de Batismo da Igreja de Papari.
O pai, um advogado português de idéias liberais que ali havia chegado nos primeiros
anos do século XIX, também fazia esculturas, como a figura de uma índia sustentando
na cabeça a pia batismal, que realizou para a antiga igreja de Papari. Como ele chegou a
essa povoação do nordeste brasileiro não se sabe. Apenas, que ali conheceu e desposou
uma jovem viúva de nome Antônia, filha do Capitão-mor Bento Freire do Revorêdo e
de Mônica da Rocha Bezerra, mãe de Maria Izabel do Sacramento, fruto do primeiro
matrimônio. Além de Dionísia, o casal teve ainda dois filhos: Clara e Joaquim. Sobre
a mãe, sabe-se muito pouco: apenas o que ficou nos escritos da filha – que era uma
mulher carinhosa, inteligente e enérgica nos momentos necessários.
11
8. À direita, a igreja matriz da cidade de
Papari, que, desde 1948, passou a
chamar-se Nísia Floresta em homenagem
à ilustre filha da terra.
Na página ao lado, vista parcial da praça e
VLADEMIR ALEXANDRE
do antigo casario da cidade,
VLADEMIR ALEXANDRE
em foto de 2006.
Em novembro de 1810, quando Dionísia contava um mês de vida, o sítio Floresta recebeu a ilustre
visita de Henry Koster. Em sua viagem pelo interior do Rio Grande do Norte, o inglês travou
conhecimento com o pai de Dionísia e se hospedou em sua residência, conforme consta no livro
Viagens ao Nordeste do Brasil:
Nísia vai levar consigo as imagens da Floresta de sua meninice não só no nome, mas em inúmeras
Senhor Dionísio apresentou-me a sua mulher. referências que faz em seus livros. Os “jardins balsâmicos” da “risonha” Floresta a acompanham em
Ele é português e ela brasileira. Têm uma reminiscências até o Velho Mundo e contribuem para impregnar seu espírito de saudades da terra
pequena propriedade no vale, que me pareceu natal. Em alguns anos, grandes mudanças sofrerá a próspera Floresta e os dias tranqüilos da infância
prosperamente colocada. (...) Jantei à moda estavam no fim. A pequena Dionísia logo saberia disso.
brasileira, numa mesa colocada a seis polegadas Nos primeiros meses de 1817, chegaram notícias de uma rebelião iniciada em Recife contra
os abusos do poder estrangeiro, mais tarde conhecida como Revolução de 17, que visava
do solo, ao redor da qual nos sentamos ou
principalmente ao estabelecimento de um governo local e autônomo. Cansado das perseguições,
melhor, nos deitamos, sobre as esteiras. Não
Dionísio muda-se com a família para Goiana – um centro cultural do interior pernambucano – e
havia garfos e as facas, em número de duas ou
lá espera o fim dos acontecimentos.
três, eram destinadas a cortar unicamente os
Segundo alguns historiadores, a Revolução de 17 fracassou por excesso de idealismo dos dirigentes.
maiores pedaços de carne. Os dedos deviam Mas há quem não pense assim. E a repressão não tardou: corpos foram mutilados e cabeças dos
fazer o resto. (KOSTER: 1978, 85) líderes exibidas nas praças. Dentre os revoltosos, o nome de Bárbara Pereira de Alencar (1767-1837?)
tornou-se conhecido, por ter sido encarcerada com os filhos e sofrido privação. Em Alagoas, Ana Lins
também aderiu à causa liberal e foi ardorosa defensora da revolução pernambucana de 17.
12 13
9. PUBLICAÇÃO UM RIO DE MULHERES/REDEH
Dona Leopoldina (1797-1826),
MUSEU PAULISTA - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
primeira imperatriz do Brasil,
desempenhou importante papel
nos rumos do Brasil.
Em Goiana, Nísia ouviu as primeiras vozes liberais que a marcariam por toda a vida. Além de um centro
intelectual irradiador de novidades, a cidade abrigava o Convento das Carmelitas, onde as jovens de
famílias abastadas podiam estudar e aprender trabalhos manuais. É provável que Nísia tenha usufruído
dessas regalias, pois logo estará dominando línguas estrangeiras e se oferecendo como mestra de
primeiras letras.
Em 4 de maio de 1819, nascia o irmão Joaquim Pinto Brasil, na vila de Goiana. A irmã Clara já havia Após a Independência, era preciso criar uma identidade
nascido, não se sabe se em Floresta ou em Goiana. De Joaquim teremos mais informações porque o livro própria para o Brasil. Assim como Pedro Américo, na tela
Fragments d’un ouvrage inédit: notes biographiques [Fragmentos de uma obra inédita: notas biográficas] “O Grito do Ipiranga”, Nísia se utiliza da estética romântica
(Paris, 1878) revela traços de sua personalidade. Meses depois a família voltava para Floresta. O ambiente para criar uma imagem grandiosa do país.
em Pernambuco, mesmo abafada a revolução, tornou-se pesado aos portugueses.
Um fato pouco esclarecido marcará o ano de 1823. Aos treze anos, Dionísia casa-se com Manuel Alexandre
Seabra de Melo, mas logo se separa e volta a residir com os pais. Tal atitude, inédita para a época, vai No Rio Grande do Norte, as demonstrações de ódio aos portugueses se aproximam da residência do
contribuir para as opiniões desabonadoras de conterrâneos a seu respeito. senhor Dionísio, que decide deixar definitivamente o sítio. Após rápida passagem por Goiana, ele se
A Província de Pernambuco é foco de mais uma tentativa de separatismo de caráter republicano – instala em Olinda, onde passa a exercer a advocacia. E não era sem tempo. Ao final de 1824, um grupo
conhecida como Confederação do Equador –, dois anos após a Independência do Brasil. A retórica de Frei depreda a propriedade e saqueia os bens da família. O sítio, que tanta admiração causou a Koster, palco
Caneca inflamava os pernambucanos, dando-lhes forças para resistir, mesmo quando as tropas imperiais dos primeiros anos de Nísia Floresta, não existia mais. Permanecerá vivo apenas no nome da escritora e
invadiam as cidades. em sua memória.
14 15
10. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Vista de Recife às margens
do Rio Capiberibe, em fins O destino de Dionísio estava por se cumprir e, em 17 de agosto de 1828, ele era assassinado quando
do século XIX. retornava para casa, após haver ganho a causa de um cliente. Segundo Nísia, os poderosos de Olinda não
toleravam aquele advogado agindo contra seus interesses e o mandaram matar.
Mas a vida não será só luto e dor. Enamorada de um jovem acadêmico, Manuel Augusto de Faria Rocha,
Nísia passa a residir em sua companhia. Mais tarde, quando a escritora vai viver na França e viajar pela
Europa, ela será conhecida como Mme. de Faria, como, ainda hoje, a Biblioteca Nacional de Paris registra
seu nome.
Em 12 de janeiro de 1830, nascia Lívia Augusta de Faria Rocha, a filha a quem a mãe dedicará livros, a
companheira de viagens e futura tradutora. No ano seguinte, 1831, nasceria um segundo filho, mas “cedo
arrebatado pela morte”, segundo suas palavras, e do qual não existem outras informações.
16 17
11. O ano de 1831 foi o ano da estréia de Nísia Floresta nas letras. No Espelho das Brasileiras, um
jornal dedicado às pernambucanas, ela publica os primeiros artigos sobre a mulher em antigas
culturas. As reflexões sobre a condição feminina estavam, portanto, entre as primeiras que
motivaram e levaram Nísia Floresta a escrever. E essas mesmas questões – utilidade social
das mulheres, atitude injusta dos homens – serão retomadas em diversos outros escritos.
Em 1832, vem a público Direitos das mulheres e injustiça dos homens, assinado com o nome
O PRIMEIRO LIVRO que tornará famosa a norte-rio-grandense: Nísia Floresta Brasileira Augusta, que, ao invés
FEMINISTA DE QUE
de ocultar sob o pseudônimo, revela as opções existenciais da autora. Nísia, de Dionísia;
Floresta, para lembrar o local de sua infância; Brasileira, para afirmar o sentimento nativista;
SE TEM NOTÍCIA e Augusta, em homenagem ao companheiro Manuel Augusto.
Direitos das mulheres e injustiça dos homens foi inspirado na obra de Mary Wollstonecraft –
Vindication of the rights of woman [Reivindicação dos direitos da mulher], de 1792 –, conforme
ela mesma declarou, mas também em livros de outros autores europeus. A novidade é que, ao
invés de simplesmente fazer uma tradução, Nísia assimila antropofagicamente as concepções
estrangeiras e escreve um livro denunciando os preconceitos existentes no Brasil contra a
mulher e desmistificando a idéia dominante da superioridade masculina.
Ao mesmo tempo em que constrói a defesa de seu sexo, ela denuncia e desmascara os artifícios
masculinos de dominação. E indaga:
Se este sexo altivo quer fazer-nos acreditar
que tem sobre nós um direito natural de
superioridade, por que não nos prova
o privilégio, que para isso recebeu da
Natureza, servindo-se de sua razão para se
convencerem? (FLORESTA: 1989a, 24)
19
12. Capa da quarta edição,
São Paulo, 1989.
Têm por ventura eles alguns títulos para justificar
o direito com que reclamam os nossos serviços,
que nós igualmente não tenhamos contra eles?
(FLORESTA: 1989a, 42)
Por isso Direitos das mulheres e injustiça dos homens deve ser considerado o texto fundante do feminismo
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
brasileiro, pois não há notícia de outro anterior. Quando Manuel de Macedo publica A moreninha, em
1844, romance de valor documental pela hábil fixação de tipos humanos e da vida social da época, ele
faz referências explícitas ao Direitos das mulheres, o que comprova sua divulgação.
Em novembro de 1832, Manuel Augusto conclui o bacharelado em Direito na Academia de Olinda e se
transfere com Nísia, a filha, D. Antônia, Clara e Izabel, para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Apenas
Capa da segunda edição de
Joaquim Pinto Brasil permaneceu em Olinda, pois estava ingressando na Faculdade de Direito.
Direitos das mulheres e injustiça
dos homens, publicado em A mudança aparentemente repentina de Olinda para Porto Alegre deu motivo a muitas especulações. Uns
Porto Alegre em 1833. acharam que Nísia foi obrigada a sair de Pernambuco devido às ameaças do primeiro marido de processá-
la por adultério. Outros divulgaram que Manuel Augusto foi para o sul a convite de um irmão que lá
20 21
13. “Proclamação da
República de Piratini”,
MUSEU ANTÔNIO PARREIRA, NITERÓI, RJ
de Antônio Parreira
(1836), retrata um
momento importante da
Revolução Farroupilha.
Com a guerra, o clima
A inglesa Mary Wollstonecraft
em Porto Alegre torna-
(1759-1797) é autora do livro
Vindication of the rights of se hostil para uma
woman, de 1792, que defende família de mulheres
a igualdade entre os sexos. Essa e crianças, e Nísia se
foi uma das obras que inspirou muda, em 1837, para
as reflexões de Nísia Floresta o Rio de Janeiro.
sobre o papel da mulher
na sociedade.
morava. Mas não importa se foi este ou aquele o motivo da mudança. Importa que, em Porto Alegre, nova
vida a aguardava. E, em 12 de janeiro de 1833, nascia o outro filho, Augusto Américo de Faria Rocha,
coincidentemente no mesmo dia em que Lívia havia nascido três anos antes. O fato de no Assento de
Batismo ele estar registrado como filho legítimo do casal – Nísia e Manuel Augusto – parece confirmar a
existência do segundo casamento da escritora. Anita Garibaldi (1821-1849), natural de Santa
Em 29 de agosto, um infeliz acontecimento marcará Nísia Floresta: Manuel Augusto morre repentinamente, Catarina, participou ao lado de seu companheiro,
o italiano Giuseppe Garibaldi (1807-1882), da Revolta
aos vinte e cinco anos, deixando-a com os filhos pequenos. A dor pela morte prematura do marido e as
dos Farrapos, no sul do País, iniciada em 1835.
saudades da mulher apaixonada pontuarão seus escritos, como a testemunhar a fidelidade ao companheiro
Neste período Nísia manteve amizade com eles,
morto. Muitos anos depois, e vivendo em terras italianas, ela escrevia: que, mais tarde, ficariam conhecidos como
“heroína e herói de dois mundos”.
Dia de eterno luto para o meu coração. Esta aurora surge
aos meus olhos depois de uma série de longos anos,
sempre carregada de tristeza! É excessivo deplorar a
perda, mesmo prematura, de um esposo, pensarão talvez. O espírito revolucionário – Nísia logo o saberia – não era privilégio dos nordestinos. O pensamento liberal
Mas eu sinto com toda a minha alma que é cedo demais se espalhava com rapidez e chegava aos campos gaúchos, semeando o descontentamento e aguçando
para esquecer um anjo que não fez mais do que passar a rivalidade entre portugueses e nativistas, simpatizantes do partido republicano. Era a guerra civil,
um momento sobre a terra para difundir em minha alma pejorativamente chamada Farroupilha, por alusão aos farrapos com que os rebeldes se vestiam. Em 20 de
o encanto de uma felicidade cujo segredo ele levou para setembro de 1835, os revolucionários ocupam Porto Alegre e Rio Grande, as mais importantes vilas da
o céu! (FLORESTA: 1871, 48) região, obrigando a população a se posicionar a favor ou contra um dos lados.
É desse período o início da amizade de Nísia com Anita e Giuseppe Garibaldi, o italiano responsável pelo
A vida continua. Nos quatro anos em que reside em Porto Alegre, Nísia dedica-se ao magistério e reedita comando da marinha da República Rio-Grandense. Muitos anos depois, Nísia reencontrará Garibaldi na
Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Uma das irmãs, Maria Izabel, casa-se com um jovem da Itália e, no livro escrito na ocasião, dedicará páginas elogiosas ao herói.
família Silva Arouca; o irmão, Joaquim Pinto Brasil, casa-se com uma moça de Pernambuco; e Clara vai Com o o avanço da Revolução, o clima tenso na capital gaúcha torna-se difícil para uma mulher chefe
casar-se no Rio de Janeiro com o Dr. José Henrique de Medeiros, um português fidalgo da Casa Real de de família. Por isso, em fins de 1837, Nísia se transfere com os filhos e a mãe para o Rio de Janeiro. Mais
Portugal, depois convertido à homeopatia. uma vez, nova cidade, nova vida.
22 23
14. O Rio, apesar de ser a capital do país, tinha graves problemas. O lixo se acumulava nas ruas,
a iluminação era deficiente, os chafarizes eram poucos, e volta e meia a cidade era assolada
por epidemias. Em compensação, havia grande interesse pelo ensino, o que se constata nas
dezenas de escolas que aí funcionavam, dirigidas em sua maioria por estrangeiros. Nísia
não perdeu tempo. Em 31 de janeiro de 1838, estampa, no Jornal do Comércio, o anúncio
do estabelecimento de ensino que estava inaugurando:
A EDUCADORA D. Nísia Floresta Brasileira Augusta tem a honra de
participar ao respeitável público que ela pretende abrir
no dia 15 de fevereiro próximo, na rua Direita n° 163,
um colégio de educação para meninas, no qual, além
de ler, escrever, contar, coser, bordar, marcar e tudo o
mais que toca à educação doméstica de uma menina,
ensinar-se-á a gramática da língua nacional por um
método fácil, o francês, o italiano, e os princípios mais
gerais da geografia. Haverão igualmente neste colégio
mestres de música e dança. Recebem-se alunas internas
e externas. A diretora, que há quatro anos se emprega
nesta ocupação, dispensa-se de entreter o respeitável
público com promessas de zelo, assiduidade e aplicação
no desempenho dos seus deveres, aguardando ocasião
em que possa praticamente mostrar aos pais de família
que a honrarem com a sua confiança, pelos prontos
progressos de suas filhas, que ela não é indigna da árdua
tarefa que sobre si toma.
25
15. Fachada do Colégio Augusto,
Em 18 de dezembro de 1846 que ficava situado no centro
era publicada no Jornal do do Rio de Janeiro.
Comércio, do Rio de Janeiro, Desenho retirado do Mapa
a lista da banca examinadora Arquitetural da Cidade do
e das alunas que se Rio de Janeiro, 1874.
destacaram nos exames
finais do Colégio Augusto.
A filha Lívia aparece
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
como uma das premiadas
em latinidade.
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
ao Rio de Janeiro com a família. Após residir em várias cidades, decide-se pela capital, onde exerce a
advocacia e leciona no Colégio D. Pedro II. Mais tarde, torna-se chefe de Secretaria do Ministério da
Agricultura e fundador do Instituto Psicológico.
A Rua Direita foi o primeiro endereço do Colégio Augusto, cujo nome revela uma homenagem ao
Esses serão anos particularmente agitados para a jovem escritora. Em plena capital do Império, Nísia
companheiro falecido. Depois foi transferido para a Rua Dom Manuel nº. 20, com entrada pela Travessa
Floresta fez conferências defendendo a emancipação dos escravos, a liberdade de cultos religiosos e a
do Paço, nº. 23, bem em frente ao Palácio da Justiça. As novidades pedagógicas adotadas pela diretora
federação das províncias. Todos que escreveram sobre ela referiram-se a tais palestras, com elogios ao seu
enfrentavam resistências, e não foram poucas as notas anônimas nos jornais ironizando o ensino do
liberalismo. Segundo Ignez Sabino, em Mulheres Illustres do Brazil, os espectadores:
latim, por exemplo, e a ênfase no estudo de línguas estrangeiras. Os mais conservadores relutavam em
aceitar uma mulher que ousava competir com as estrangeiras, que escrevia livros defendendo os direitos
de seu sexo e, ainda, publicava em jornais. Um dia, um jornalista, surpreso com a qualidade do ensino Saíam dali deslumbrados não só pela presença
que ali era ministrado, escreveu o seguinte: “Trabalhos de língua não faltaram; os de agulha ficaram no
agradável da jovem senhora, como pela audácia
escuro. Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos”.
Em 1839, surge no Rio de Janeiro a terceira edição de Direitos das mulheres e injustiça dos homens,
da sua inteligência de primeira água e ainda
conforme o anúncio do Jornal do Comércio de 25 de abril desse ano, informando que o livro se encontrava mais... um horror para aquele tempo!... por
à venda na Casa do Livro Azul, na rua do Ouvidor, 121, por 55 réis. ousar a ilustre dama falar em abolição e em
Em janeiro de 1840, o irmão Joaquim Pinto Brasil, tendo terminado o Curso de Direito em Olinda, chega
federalismo. (SABINO: 1996, 172)
26 27
16. Capa da edição italiana de
Conselhos à minha filha,
publicada em Florença, em 1858.
À esquerda, segunda edição
brasileira, de 1845.
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
É de 1842 a publicação de Conselhos à minha filha, dedicado a Lívia como presente de aniversário. Ao
concebê-lo, a mãe-escritora com certeza não imaginou que esse seria seu livro mais editado e traduzido.
Em 1845, saía a segunda edição acrescida de quarenta pensamentos em versos; mais tarde, surgem
duas em italiano, em 1858 e em 1859, e outra em francês, em 1859. As virtudes e os deveres filiais aí
apresentados podem ser assim resumidos: a menina educada deve ser simples, modesta, obediente aos
pais, respeitosa com os idosos e decidir-se sempre pelo oprimido.
Em 1847, três novas publicações vêm à luz no Rio de Janeiro, e todas dirigidas às alunas do Colégio:
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Daciz ou a jovem completa, Fany ou o modelo das donzelas e o Discurso que às suas educandas dirigiu
Nísia Floresta Brasileira Augusta. Nos anos seguintes, surgem mais escritos dedicados à educação, como
Opúsculo humanitário, de 1853, “O abismo sob as flores da civilização”, “Um passeio no Jardim de
Luxemburgo” e “A mulher”, sendo que os três últimos foram escritos em italiano e publicados no volume
Scintille d’un’anima brasiliana [Cintilações de uma alma brasileira], de 1859.
29
17. Capa da segunda edição do
Opúsculo humanitário, de 1989.
Por fim, trata do Brasil e defende a tese de que o progresso de uma sociedade depende da educação
oferecida à mulher. E provoca:
Edição bilíngüe de
Cintilações de uma alma Povos do Brasil, que vos dizeis civilizados!
brasileira, de 1997.
Governo, que vos dizeis liberal! Onde está
a doação mais importante dessa civilização,
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
desse liberalismo? (FLORESTA: 1989b, 43).
“Um passeio no Jardim de Luxemburgo” é o único que contém referências explícitas à doutrina positivista,
por valorizar a função social da mulher, e expressões elogiosas ao filósofo Auguste Comte, justamente por
tê-la concebido. E em “A mulher” Nísia trata do costume francês de se enviar os filhos para serem criados
Opúsculo humanitário consiste na reunião de artigos que foram publicados nos jornais do Rio e contém a longe da casa materna, em casa de mulheres pagas para isso. Os altos índices de mortalidade infantil,
síntese do pensamento de Nísia Floresta sobre a educação formal e informal de meninas. Revela ainda a ou as tristes histórias de crianças abandonadas, não eram suficientes para sensibilizar as famílias, que
erudição da autora, sua experiência no magistério e na direção de escolas. Neste livro, ela recupera parte continuavam enviando os filhos para as amas-de-leite. Ao condenar com veemência tal costume e valorizar
da história da condição feminina em diversas civilizações, relacionando o desenvolvimento intelectual e a função materna, Nísia se antecipa ao debate que só ocorrerá na França nas últimas décadas do século
material do país – ou o seu atraso – com o lugar ocupado pelas mulheres na sociedade. XIX e dá uma contribuição para a reflexão e para a mudança de comportamento da mulher francesa.
30 31
18. No livro A lágrima de um Caeté, a
escritora retrata o índio inconformado
com a colonização de suas terras,
em flagrante rompimento
com os ideais românticos da época.
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
A INDIANISTA
Outros temas – como a causa indígena e o negro escravo – também mobilizaram Nísia
Floresta e foram tratados com paixão em seus escritos. O poema intitulado “A lágrima
de um Caeté”, de 1849, que assinou com o pseudônimo de Telesila, por exemplo, revela
o posicionamento da autora frente à questão indígena. Nele encontram-se alguns
traços inconfundíveis da estética romântica, como o elogio da natureza e a exaltação
de valores indígenas. Sua grande novidade é trazer o ponto de vista do índio vencido
e inconformado com a opressão de sua raça pelo branco invasor e não a visão do índio
herói, como a maioria dos textos indianistas do período romântico.
Era da natureza o filho altivo,
Tão simples como ela, nela achando
Toda a sua riqueza, o seu bem todo...
O bravo, o destemido, o grão selvagem,
O Brasileiro era... – era um Caeté!
(FLORESTA, 1997a, 36)
33
19. Capa da primeira edição
do poema A Lágrima de
um Caeté, de 1849.
A terceira edição
ocorreu em 1897.
Além disso, o poema reúne ainda duas tendências românticas – a questão indígena e os conflitos
político-sociais – ao tratar também da derrota dos liberais na Revolução Praieira, ocorrida em
Pernambuco, em 1848. A Lágrima de um Caeté lamenta tanto a dizimação das tribos, como o
fim melancólico da revolução, a partir de uma mesma perspectiva: a do oprimido pela força dos
dominantes. E o discurso da narradora – às vezes até se confundindo com o do índio – acentua um
dado fundamental, que é o da perda de identidade do “silvícola”:
Indígenas do Brasil, o que sois vós?
Selvagens? os seus bens já não gozais...
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Civilizados? não... vossos tiranos
Cuidosos vos conservam bem distantes
Dessas armas com que ferido tem-vos.
De sua ilustração, pobres caboclos!
Nenhum grau possuís!... Perdestes tudo,
Exceto de covarde o nome infame...
(FLORESTA, 1997a, 39)
34 35
20. Antes de 1500, os índios no
Brasil possuíam uma cultura de
interdependência com a natureza.
Com a colonização, começaram a ser
expulsos de suas terras, provocando
até hoje conflitos territoriais
e a ameaça aos importantes
valores culturais indígenas.
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
O índio de Nísia Floresta não é inocente, nem personifica a bondade natural idealizada nas teorias
filosóficas européias. E seu pranto representa não apenas o epitáfio poético da Revolução Praieira, mas,
principalmente, o fim da resistência indígena frente ao branco invasor.
Onde estão, fero Luso ambicioso,
Estes bens, que eram nossos?
Porangaba perdi, perdi os filhos...
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Ai de mim! Inda vivo!
Com a Pátria lá foram esses tesouros!
O pranto só me resta!
(FLORESTA, 1997a, 42)
Ao assinar esse trabalho como Telesila, Nísia parece revelar a intenção de sempre resistir, como fez a
heroína grega de quem tomou de empréstimo o nome. Como ela, Nísia também era uma guerreira que
lutava contra a opressão do colonizador, pela liberdade dos povos oprimidos e pelos direitos da mulher.
36 37
21. A VIAJANTE O romance Dedicação
ILUSTRADA
de uma amiga, publicado
em Niterói, em 1850, em
dois volumes, assinados
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
com as iniciais B.
Em novembro de 1849, Nísia embarcou com os filhos rumo ao Velho Mundo, a bordo da
galera Ville de Paris. Lívia havia sofrido um acidente com um cavalo nas comemorações
do 7 de setembro, e o médico aconselhou a mudança de ares. Houve quem dissesse que
a saúde da filha era um pretexto para que ela se ausentasse do país, incomodada com a
campanha difamatória dos jornais contra seu colégio, e o sucesso do livro que elogiava uma
revolução contrária aos interesses do Imperador. Pode ser. Afinal, a mãe preocupada era
também a escritora polêmica.
Assim, após cinqüenta e dois dias em alto mar, Nísia Floresta chegava na mais importante
capital européia daquele tempo, e, na Seção de Passaportes dos Arquivos Nacionais da
França, entre os passageiros estrangeiros, ainda hoje lê-se o seguinte: “Mme. Augusta, Nísia
Floresta Brasileira – 39 anos, acompanhada de seu filho e sua filha. Origem: Rio de Janeiro.
Domicílio real: Rio de Janeiro. Destino: Paris. Profissão: Rendas”.
39
22. Vista do Rio Sena e da Catedral
de Notre Dame, de Paris, uma das
cidades onde Nísia residiu após 1849.
À direita, uma das poucas imagens
conhecidas da escritora.
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
No início de 1850, apesar de a autora estar a milhares de quilômetros do Brasil, era publicado em
Niterói um romance seu – Dedicação de uma amiga – em dois volumes, assinado com as iniciais B.
A. Segundo Inocêncio, no Dicionário Bibliográfico, esta obra devia se compor de quatro volumes, mas
apenas dois teriam sido publicados.
Entre os contatos com intelectuais, cientistas e aristocratas que Nísia fez no Velho Mundo, o mais
conhecido foi a amizade que manteve com Auguste Comte. Em 1851, a brasileira era uma das pessoas
que afluíam ao Auditório do Palácio Cardinal para assistir às conferências do Curso de História
Geral da Humanidade, que Comte ministrava para divulgar suas idéias. Mas apenas em 1856 ela se
aproxima do filósofo e pode manifestar suas impressões acerca da filosofia positivista. Em julho de
1851, decide visitar Portugal, onde permanece até janeiro do ano seguinte, quando embarca no navio
Treviot, rumo ao Brasil.
40 41
23. A chegada de Nísia não foi festejada apenas pelos familiares. O Jornal das Senhoras, de
Joana Paula Manso de Noronha, em 22 de fevereiro de 1852, saudou a escritora e deu
notícias de sua vida na Europa, nestes termos:
O RETORNO Sentimos vivo prazer em anunciar às nossas
À PÁTRIA, NOVAS
assinantes a chegada da Sra. D. Nísia Augusta
Floresta, brasileira, tão conhecida entre nós pela
PUBLICAÇÕES sua inteligência e ilustração; tão respeitada pelo
seu longo magistério, há 16 anos empregado
com desvelos na educação de suas patrícias; e
tão louvável e digna de nossa admiração por sua
dedicada constância ao amor e à sabedoria e ao
engrandecimento de sua pátria. A sra. D. Nísia
estava ausente de nós há dois anos e meio, viajando
neste intervalo à França e à Inglaterra, onde
visitou os melhores colégios de instrução, os mais
abalizados literatos, donde voltou a nossos braços,
admirando os Herculanos, Garrets, Castilhos e
outros varões respeitáveis na ciência.
Está pois entre nós a Sra. D. Nísia, demos-lhe um
abraço de viva amizade e gratidão, em nome do
nosso sexo.
43
24. E ela permanece no país por alguns anos. Assim, quando sua mãe D. Antônia Clara Freire adoece, vindo
a falecer em 25 de agosto de 1855, ela estava a seu lado. Esta morte, somada à do pai e à do companheiro,
será constantemente lembrada pela autora como a “tríplice perda”, que passa a considerar o mês de
agosto um mês funesto para si. No texto intitulado “O pranto filial”, depois publicado em O Brasil
Ilustrado, de 1856, Nísia expõe abertamente a sua dor. Aliás, tornar público o que é privado será
uma constante na vida desta autora.
FOTO MARC FERREZ - ACERVO BIBLIOTECA NACIONAL
Lágrimas de íntima dolorosa saudade, correi
livremente na solidão deste quarto funerário,
santuário de meus tristes pensamentos, onde
ofereço em holocausto as dores de um coração
contraído, de um espírito torturado, depois que
não respira mais aquela que me amamentou na
infância e me consolou na vida de mulher!
Nísia retorna ao Rio de Janeiro
Correi até que a alma encontre em vós um lenitivo
em 1852, onde permanece por
quase três anos. às angústias que a oprimem!...
Vista da cidade em que se
vêem a Praia de Botafogo e
antigas edificações. Nessa época, a febre amarela mais uma vez se abatia sobre a cidade do Rio de Janeiro, interrompendo as
atividades sociais. Movida pela solidariedade, Nísia Floresta se apresenta como voluntária e trabalha por
todo o semestre na Enfermaria do Hospital de Nossa Senhora da Conceição, situada na rua da Quitanda,
nº. 40. Também foi enfermeira, neste mesmo hospital, Maria Josephina Matilde Durocher – a primeira
parteira a se formar em Obstetrícia pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1832.
E em 1856 é editado um livro de versos intitulado “Pensamentos”.
44 45
25. Entre os títulos atribuídos a Nísia Floresta, encontra-se com destaque o de abolicionista.
Aliás, foi justamente este – junto com o de defensora dos direitos das mulheres – o que mais
A ABOLICIONISTA lhe granjeou estima e admiração.
Realmente, o repúdio à
escravidão e a denúncia das
injustas relações entre senhores
e escravizados constituem um
dos temas mais frequentes de sua
obra e também das conferências
que teria realizado no Rio de
Janeiro, na década de 1840.
47
26. O potiguar Henrique
Castriciano era admirador
de Nísia Floresta e foi quem
iniciou as pesquisas sobre a Abaixo:
trajetória da escritora. Caderno manuscrito que
ESCOLA DOMÉSTICA DE NATAL - RN
pertenceu a Henrique Castriciano,
contendo o texto “Páginas de uma
vida obscura”, de Nísia Floresta,
entre outras anotações.
Inês Sabino, em 1899, Henrique Castriciano, em 1909, e Oliveira Lima, em 1919, por exemplo, destacaram
seu ineditismo em pregar publicamente o abolicionismo naqueles tempos tão remotos. Infelizmente,
são apenas estes os registros sobre o fato, pois não há notícias na imprensa, nem se as conferências
teriam sido publicadas. Restam seus escritos para testemunhar que Nísia Floresta foi realmente uma das
primeiras mulheres no Brasil a se manifestar contra o sistema escravocrata, ao lado apenas da professora
negra maranhense Maria Firmina dos Reis, autora de Ursula, de 1859.
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Tela de Johann Moritz Rugendas,
pintor alemão que retratou o Brasil
no século XIX. Em sua obra, Nísia
também chamou a atenção para
a crueldade com que os
negros eram tratados.
ESCOLA DOMÉSTICA DE NATAL - RN
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27. FOTOGRAFIA DE CONSTANTINO BARZA, PE, C.1880. ACERVO FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Ama de leite, uma das atividades
desempenhadas pelas mulheres escravizadas,
preocupação constante na obra de Nísia.
Acima, Ursula, da maranhense negra Maria
Firmina dos Reis, considerado um dos
primeiros romances escrito por uma mulher A tragédia da escravidão retratada por Rugendas no século XIX.
brasileira, em 1859.
seguidos de uma viagem à Grécia, de 1864 e 1871 –, ela faz referências ao cativeiro. Mas é natural que a
autora, em tão grande espaço de tempo – de 1849 a 1871 –, tenha alterado substancialmente seu modo
Outras mulheres – como Narcisa Amália, Ana Aurora do Amaral Lisboa, Luciana de Abreu, Benedita de ver o problema. Enquanto no poema de 49 há uma condenação rápida ao tráfico dos africanos e, no
Bormann, Maria Amélia de Queiróz, Ismênia Santos, Revocata de Melo, Luiza Regadas, Corina Coaracy, Opúsculo humanitário, as referências já são extensas, a pregação explícita da abolição só ocorrerá em Três
Chiquinha Gonzaga e Maria Josephina Mathilde Durocher, por exemplo – também denunciaram anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia, quando a escravidão será considerada “a vergonha da
literariamente o cativeiro ou participaram de campanhas abolicionistas. Mas, apesar do empenho civilização moderna”.
dessas autoras, e da repercussão que seus trabalhos alcançaram na época, nenhuma logrou obter o
reconhecimento público, como aconteceu com os escritores homens, que inscreveram seus nomes no Ó minha pátria querida, Éden desse mundo imenso
movimento, independentemente até do mérito dos trabalhos realizados. Mas quando essa mobilização e extraordinário, reaparecido ao olhar deslumbrado
ocorreu, a década de 1870 estava no fim e se aproximava a de 1880. A opinião pública internacional havia de Colombo, deixa, ah! deixa livremente explodir
se posicionado contra a escravatura e era evidente a contradição do Império, que se dizia liberal mas de teu nobre peito o grito humanitário, que sufocas
mantinha o regime escravocrata. penosamente, por força dos deploráveis preconceitos
E aí está o mérito de Nísia Floresta e de Maria Firmina dos Reis, como vozes precursoras contra a transmitidos por teus antigos dominadores de além-
escravatura, ainda em 1840 e 1850. No caso de Nísia, desde os primeiros escritos – A lágrima de um Caeté, mar! Sê conseqüente com as instituições livres que te
de 1849; Opúsculo humanitário, de 1853; Passeio ao Aqueduto da Carioca, de 1855; e Páginas de uma regem, com a religião que professas: quebra, oh! quebra
vida obscura, de 1855 –, ela toca na questão nevrálgica da escravidão. Também nos livros que se seguiram os grilhões de teus escravos! (FLORESTA: 1998b, 41)
– Cintilações de uma alma brasileira, de 1859; O Brasil, de 1871; os dois volumes de Três anos na Itália,
50 51
28. A NACIONALISTA Desenho feito por
Manuel Bandeira, publicado em
Livro do Nordeste, Pernambuco,
em 1925.
Nísia viveu intensamente o seu tempo. Como os demais escritores, ela também se
considerava portadora de uma “missão” e queria contribuir para dotar o país de uma
literatura, mesmo residindo fora e escrevendo em línguas estrangeiras. A opção pelo
nacional era ostentada com orgulho tanto na forma como assinava os escritos como no
título – Mme. Brasileira – com que se tornou conhecida na Europa.
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29. “Entrada do Porto por
Laranjeiras”, obra de
William Gore Ouseley, diplomata
e pintor inglês que também
retratou o Brasil no século XIX.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Nísia projetava um Brasil de futuro grandioso –
o “gigante do porvir”. Apesar de todos os contrastes
Uma narrativa resume essa declaração de amor à pátria. Conhecedora dos equívocos e preconceitos e desigualdades, o país pode se orgulhar hoje de ser
divulgados no exterior sobre o Brasil e os brasileiros, ela publica um texto – primeiro em italiano, depois uma das maiores economias do mundo.
em francês – intitulado “O Brasil”, com entusiasmadas descrições da natureza, das lutas pela libertação,
e com projeções de um futuro grandioso para o país. A intenção era influenciar o leitor estrangeiro e Todos os povos civilizados da terra precisam conhecer
também se alinhar aos que construíam uma imagem positiva para a pátria, mediante o tom ufanista na este amplo e rico país da América meridional, que se
abordagem das coisas do Brasil. estende desde o majestoso Amazonas, o maior rio do
mundo, até o Prata. Aí se encontram, além de uma
O Brasil de hoje em dia não inveja infinidade de outros rios navegáveis, grandiosas
nenhuma nação do mundo; já florestas, reclinadas, a maior parte, por todo o seu
que, tal como observamos, ele perímetro em forma de admiráveis curvas: excelsos
encerra em seu seio todos os montes, cujos cumes parecem tocar o céu; pradarias
risonhas de uma eterna vegetação: cheios uns e
materiais para tornar-se uma
outras de quanto têm de flores e frutos o antigo e
das mais importantes entre o novo mundo. A essas magnificências da natureza
elas. (FLORESTA: 1997b, 53) juntam-se os prazeres de uma civilização progressiva,
espalhada em muitas de suas partes.
(FLORESTA: 1997b, 09)
54 55
30. Auguste Comte (1798-1857),
fundador da filosofia positivista
– que, no seu início, atribuía
à mulher um papel de
destaque junto à família –
MAIS VIAGENS... e um dos grandes amigos de
Nísia na Europa.
FRANÇA, ALEMANHA,
ITÁLIA, GRÉCIA... Em 10 de abril de 1856, Nísia Floresta seguiu com a filha Lívia para a segunda viagem
por terras estrangeiras. Seu filho Augusto Américo permaneceu no Rio estudando.
Naquele momento, talvez ela não imaginasse como seria longa essa ausência, pois
só depois de dezesseis anos tornará a ver a paisagem carioca de que tanto gostava,
bem como os parentes que ficavam no cais. O Colégio Augusto anunciou pela última
vez os seus cursos e, após dezessete ou dezoito anos de funcionamento, fechava
finalmente as portas.
No ano de 1856, e no seguinte, a escritora se aproximará de Auguste Comte, recebendo-
o algumas vezes em sua residência: primeiro à Rua d’Enferm, 11, e depois à Rua Royer
Collard, 9, que, por sinal, ficava próxima do Jardim de Luxemburgo, da Universidade
de Sorbonne e da Rua Monsieur Le Prince, 10, endereço de Comte. Também é dessa
época a correspondência trocada entre eles, zelosamente guardada pelos adeptos do
Positivismo no Brasil e na França.
57
31. O parque que ficava próximo das
residências de Nísia e Comte, em Paris,
que serviu de cenário para
“Um Passeio ao Jardim de Luxemburgo”,
de 1859, um dos poucos textos
em que ela se utiliza de
Último endereço de conceitos positivistas.
Nísia Floresta em Paris, à rua
Royer Collard, nº 9.
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Na Igreja da Humanidade, ou Apostolado Positivista do Brasil, no Rio de Janeiro, encontram-se as sete
cartas que Comte dirigiu a Nísia Floresta, datadas de 19 de agosto, 9 de dezembro e 18 de dezembro de
1856, 18 de abril, 24 de maio, 24 de agosto e 29 de agosto de 1857. E, em Paris, na Maison d’Auguste
Comte, antiga residência do filósofo, hoje transformada em museu, estão as respostas de Nísia, com as
seguintes datas: 19 de agosto e 17 de dezembro de 1856, e 5 de abril, 17 de abril, 23 de maio e 1º de julho
de 1857, num total de seis cartas. Essa correspondência – motivo de orgulho para os positivistas – resume-
se a cartas de cortesia, com agradecimentos pela remessa de um retrato ou de um livro, de pêsames pelo CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
aniversário de morte de Clotilde de Vaux, a mulher por quem Comte foi apaixonado, e alusões a doenças e
a tratamentos. São, sem dúvida, amistosas e revelam a amizade que existiu entre os dois, mas estão longe
de serem cartas íntimas de cunho amoroso, como muitos sugeriram.
58 59
32. Residência de
Auguste Comte, em
Paris, situada na rua
Monsieur Le Prince, 10,
hoje transformada
em museu.
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Reprodução de uma
das cartas de Nísia
Floresta dirigida a
Auguste Comte, datada
A presença de Comte numa reunião em casa de Nísia Floresta, em Paris, foi relatada ao positivista Antônio
de 17 de abril
de 1857. Pereira Simões por um senhor de engenho pernambucano que aí estava. O registro é de Ivan Lins, em
História do Positivismo no Brasil. Segundo o relato, o filósofo:
era recebido sempre com testemunhos de profunda
consideração e respeito pelos que freqüentavam o salão
da escritora brasileira. Esta ia pessoalmente recebê-lo à
entrada de seu apartamento e dizia aos presentes, com visível
entusiasmo, formulando um gesto de silêncio: “Aí está o Sr.
Comte, a maior glória da França. Procurem ouvi-lo e me
darão razão. Não é um homem como os outros. É um gênio.
A originalidade de suas concepções é tão sedutora como o
cavalheirismo de que é feito o seu coração. Os clarões de sua
inteligência transfiguram-no num homem belo, quando ele
expõe seus grandes pensamentos sobre a moral, sobre política,
sobre medicina. Sabe tudo, e todos o respeitam como a maior
cabeça do século. Orgulhemo-nos de apertar-lhe a mão. Voilà
un titre de gloire [Eis um título de glória]!”(LINS: 1964, 21-2)
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Nísia Floresta foi uma das quatro mulheres que acompanhou o cortejo fúnebre do filósofo até o Cemitério
Père Lachaise, ao lado de Sophie Bliaux, filha adotiva de Comte, de Mme. Laveyssière, irmã de Sophie, e
de Mme. Maria Robinet, casada com um positivista.
60 61
33. O castelo de Heidelberg,
descrito por Nísia em
Itinerário de uma viagem à
Alemanha, em 1857.
OBRAS DA
MATURIDADE, OS Em 1857, quando Flaubert publicava Madame Bovary, Baudelaire, As flores do mal, e, no
Brasil, Alencar trazia a público O Guarani, Nísia editava em Paris Itinéraire d’un voyage en
LIVROS EM LÍNGUA Allemagne [Itinerário de uma viagem à Alemanha], assinando Mme. Floresta A. Brasileira. O
ESTRANGEIRA
livro foi organizado sob a forma de cartas dirigidas ao filho e aos irmãos e contém o relato da
viagem que ela realizou através de cidades alemãs. A primeira carta foi escrita em Bruxelas,
em 26 de agosto de 1856, e a última, em Estrasburgo, em 30 de setembro do mesmo ano,
num total de trinta e quatro cartas. Nísia privilegia em seu relato não a história das cidades
que visita, ou a descrição de cada etapa do percurso, mas a própria subjetividade, pois se
coloca de tal forma no centro da narrativa, que tudo o mais parece girar à sua volta.
Viajar, repito-lhes, é o meio mais seguro
de aliviar o peso de uma grande dor
que nos mina lentamente. Desde que
deixei Paris para visitar a Bélgica e a
Alemanha, os dias não mais parecem
ter a lentidão que me matava.
(FLORESTA: 1998a, 129)
63
34. À esquerda, capa da primeira
edição de Itinéraire d’un voyage en
Allemagne, de 1857. Abaixo e página
ao lado, traduções de 1982 e 1998.
O que realmente importa – para ela e, por conseqüência, para os leitores – são as suas impressões diante
do que vê. E, como ocorre em quase todos os seus livros, a narradora confunde-se com a autora e não
esconde a condição biográfica da escritura. Ao contrário, revela-a com informações precisas de sua vida,
como o nome dos filhos e irmãos, as datas de morte da mãe e do esposo, além de inúmeras outras
referências passíveis de serem confirmadas em sua biografia.
E Nísia toma gosto pelas viagens. Nos anos seguintes, ela visita Roma, Nápoles, Florença, Veneza, Verona,
Milão, Torino, Livorno, Pádua, Mântua, Pisa, Mombasilio e Mandovi. Também conheceu várias cidades
da Sicília e da Grécia, detendo-se sempre nas que mais lhe agradavam.
Aos cinqüenta anos de idade, instalou-se em Florença e assistiu a cursos de Botânica ministrados por
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Parlatore, um antigo colaborador de Humboldt. Em Paris ela já havia assistido aulas dessa matéria no
Colégio da França e no Museu de História Natural, segundo menciona no livro de viagem. Em Florença,
publicou Scintille d’ un’ anima brasiliana [Cintilações de uma alma brasileira], em 1859, assinando
Floresta Augusta Brasileira, que contém cinco ensaios: “O Brasil”, “O abismo sob as flores da civilização”,
“A mulher”, “Viagem magnética”, “Um passeio no jardim de Luxemburgo”. Alguns deles receberão
traduções para outras línguas e edições independentes. No ano seguinte, saía a edição italiana de Le
lagrime de un Caeté [A lágrima de um Caeté], cujo tradutor – Ettore Marcucci –, além de um prefácio
elogioso, anexou quarenta e uma notas sobre o vocabulário, relacionando o poema nisiano com versos de
Dante, de Ariosto, e com a Bíblia.
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35. Edição italiana de
Cintilações de uma alma
brasileira, 1859.
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
Em junho de 1861, Nísia Floresta decide regressar a Paris e montar residência na cidade após três anos
ausente. Alguns anos depois, em 1864, surge o primeiro volume de Trois ans en Italie, suivis d’un voyage
en Grèce [Três anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia], assinado “par une Brèsilienne” [por uma
CONSTÂNCIA LIMA DUARTE
brasileira]. Neste livro, escrito como um diário de viagem, Nísia descreve o modo de vida, a história e as
manifestações culturais da Itália. Como sua excursão ocorreu justamente no período da revolução pela
unificação do país, o texto se constitui também em importante testemunho de uma estrangeira a respeito
dos principais acontecimentos da história italiana.
Em Londres, em 1865, era publicado Woman [Mulher], um dos ensaios de Cintilações de uma alma Páginas de Mulher, um dos
brasileira, traduzido pela filha. Em 1867, surge em Paris o romance Parsis, que, apesar de citado em ensaios de Cintilações de
todas as bibliografias da autora, nunca teve um exemplar localizado. Em 1871, também em Paris, outro uma alma brasileira, traduzido
ensaio de Scintille é traduzido por Lívia Augusta – Brésil [Brasil], que, aliás, assina neste livro como para o inglês por sua filha
Lívia Augusta e publicado em
Lívia Augusta Gade. Entre as inúmeras lacunas relativas a Nísia e seus familiares, uma diz respeito ao
Londres, em 1865.
casamento de Lívia com um alemão de sobrenome Gade. Apenas foi possível saber que ela ficou viúva
com quatro meses de casada, não teve filhos e nem se casou novamente.
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