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Dois gumes

Raphael Vaz

Os Estados Unidos queriam um território que fazia parte do México. Tanto queriam que anexaram-no aos seus
domínios. Os mexicanos, por sua vez, consideraram o Texas (território em questão) como um Estado rebelde,
não reconheceram a anexação e reivindicaram a região. Não é preciso ser “expert” para saber no que deu essa
história. Em 13 de maio de 1846, após as batalhas do Palo Alto e da Resaca de La Palma, nos dias oito e nove,
respectivamente, os Estados Unidos, através do presidente democrata James Knox Polk, declararam guerra ao
México. Resultado: o México perdeu não só o Texas como mais três estados e áreas territoriais nos estados do
Colorado e Arizona.

Cento e treze anos depois os Estados Unidos declararam guerra ao Vietnã tendo como pretexto um ataque de
tropas vietnamitas a dois de seus navios que patrulhavam o Golfo de Tonquim. Estes ataques foram originados em
função da intromissão estadunidense no processo eleitoral do país. Nesse meio tempo, os americanos ainda toma-
ram parte nas duas grandes guerras mundiais e atravessaram uma das mais violentas batalhas de sua história, a
Guerra da Secessão, onde aproximadamente 970 mil pessoas morreram.

Intimidade?

A teoria não é tão nova. No entanto, torna-se cada vez mais difundida e conhecida. Mais que interesse em ter-
ritórios ou na propagação do “maravilhoso” estilo democrático de se governar existe outra motivação por trás das
batalhas americanas. É o que afirmou, por exemplo, em entrevista a Veja (2002) o editor da publicação americana
especializada em relações internacionais Foreign Policy, Moisés Naim. “Há razões de natureza psicológica e de
política doméstica. Uma guerra para distrair de problemas internos, que são muitos”.

Faz coro ao editor no artigo O que pensar da guerra e da paz o ex-professor de Sociologia da Universidade de
Binghamton, Nova York, James Petras. “Perante a expansão externa e o declínio interno, aparecem pelo menos
duas políticas imperiais importantes: uma defende a criação de novas ‘crises’ (...) A segunda escola defende que
novas guerras irritarão a oposição interna, que a propaganda de ‘medo’ e ‘chauvinista’ pró-guerra já perderam o
seu impacto perante as perdas materiais sofridas pelas massas, e que é altura de entrar pela diplomacia (compro-
meter rivais imperialistas), reduzir as forças armadas colonialistas”, teoriza.

A última dessas investidas na direção de propagar a democracia ou na tentativa de nublar seus próprios problemas
se deu em 2003, quando os Estados Unidos em união com outros países invadiram o Iraque em busca de armas
de destruição em massa, que supostamente o governo iraquiano teria em estoque e o que, segundo o então
presidente George W. Bush representava risco ao seu país.

A guerra não se resolveu até hoje. Os noticiários e jornais ainda pautam conflitos, atentados e dificuldades que
as tropas americanas possuem na instalação do processo democrático. Mais que isso, George Bush deixa para
o próximo presidente uma herança de crise financeira, uma população descontente com o sentimento de perca
em função do prolongamento de uma batalha que tem prazo vencido pra terminar e que teme a continuação da
guerra do Iraque.

Veja

A mídia brasileira é célebre. Não costuma perder tempo em acusar, muito menos em cobrar o que acreditar ser
correto. Não usa de meios termos, sempre pendendo para um dos lados envolvidos. E quando falamos da Guerra
do Iraque, é possível notar que ela perdeu até mesmo a vergonha de se posicionar. Arrancou-se a aura de “imp-
rensa” isenta e imparcial para imperar aquela que usa do partidarismo. Que se apóia em bases unilaterais e cor-
religionárias.

Em análise de generalização, pode-se obter panorama de todo um corpo de mídias nacionais através dos compor-
tamentos editorias de apenas dois veículos. As revistas Veja e Carta Capital retrataram de forma autêntica este
disparate que se deu na hora de colocar em páginas tupiniquins as opiniões sobre o assunto.

Veja não titubeia. É clara em se posicionar e se firmar como aliada americana. Basta ler o trecho publicado em
23 de fevereiro de 2006, em matéria que especulava o porquê de a população global odiar George Bush. “Sen-
timento em geral inconseqüente, o antiamericanismo ressurgiu na semana passada como uma força política
global”. Foi esta a forma que o repórter Eurípedes Alcântara iniciou sua reportagem. Classificando de ingênuos
àqueles que se incomodavam com a ambição do presidente americano.

E a reportagem não se limita a isso. Além de caracterizar os contrários a Bush e a decisão americana de guerrear
de tolos, Veja ainda culpa este sentimento por motivação “prosaica”. Uma espécie de vingança de uma popula-
ção global que peca pela inveja de um modelo de prosperidade constante como os estadunidense. “Os Estados
Unidos têm valores, como a democracia e a liberdade absoluta de manifestação de idéia e crenças, que chocam
todos aqueles que aprovam regimes totalitários, entre eles os radicais islâmicos”.

Veja demoniza de forma implacável o “inimigo americano”. Ela foi clara em retratar a necessidade da guerra
como uma luta entre bem e mal, onde terrorismo, nazismo, comunismo e totalitarismo respondem pelas mes-
mas coisas e habitam o mesmo balaio. É ingênua e até mesmo prosaica (olhai a trave no seu olho antes de ver
o cisco no olho do teu irmão) em julgar e considerar os Estados Unidos como uma nação que visa unicamente
repartir com o mundo as contribuições de um regime democrata.

Carta Capital

Se Veja quer unir as pessoas na idéia geral de que os Estados Unidos são os mocinhos a guerra, Carta Capital
percorre o caminho totalmente inverso. Baseada no iluminismo coloca a razão ocidental como uma das formas
de resistir e anti-hegemonizar a população no quesito guerra iraquiana.

“Quem torcia por uma nova ordem internacional vai ter de esperar mais algum tempo. Talvez alguns séculos. O
que estamos observando é uma involução para práticas da força bruta no âmbito dos negócios internacionais” ou
“O sinhô do fim da história e da cidadania sem fronteiras transformou-se no pesadelo em que todos são vítimas
prováveis do embate entre o desespero dos que não têm rosto – porque não tem pátria – e uma estrutura de
‘poder global’ que se pretende absoluta, encarnada no rosto da pátria americana” são dois dos trechos que se
pode encontrar nas páginas de Carta em repulsa à guerra americana.

A visão editorial da revista restringe a guerra como parte de um projeto de poder americano e parte do pres-
suposto de que o fundamentalismo americano é pior que o terrorismo do Islã, pelo agravante do poderio militar
que os americanos possuem. No entanto, silencia quanto ao assunto Sadan Hussein, razão de toda essa dis-
cussão na época, concentrando todas as suas críticas aos Estados Unidos.

Efeito Colateral

O maior espanto agora, em que as prévias americanas estão a todo vapor, é constatar que Veja, a mesma que
endeusou Bush, os Estados Unidos e seus métodos de semear a democracia pelo mundo torna-se apática num
dos momentos em que o assunto guerra é uma das peças chaves no tabuleiro eleitoral. Talvez o assunto tenha
cansado. Talvez Veja tenha se desiludido com seu “deus” americano. Depois de muito tempo sem pautar os Es-
tados Unidos, Veja se limitou em sua última edição (23 de abril) a publicar matéria alegando que o número de
pobres no país sofreu crescimento. Talvez em função daquela mesma guerra que a revista apoiou no princípio.
Talvez em função da má administração do governante que Veja classificou como o combatente do anticristo
“(Saddam? Obama?)”.

Carta continua na mesma toada. Além de matérias, dedicou até capa aos candidatos americanos. Anda não
perdeu a noção de que para mostrar os problemas futuros, é preciso dentro das suas possibilidades, ajudar na
construção da realidade do hoje, do atual.

É apenas lamentável que tanto uma quanto a outra insistam em fazê-lo da maneira errada. Ao invés de con-
scientizar na formação do pensamento e da crítica de seu próprio povo, querem apenas socar goela abaixo um
conceito já formado, que cada qual se julgou no direito de determinar como a verdade absoluta. Esquecem que
com atitudes como essa, nublam possibilidades futuras dentro do próprio país, onde desde muito tempo neces-
sitamos de mais que leitores. Onde precisamos de pessoas que se façam agir pela interpretação daquilo que
absorveram através da própria mídia.

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Canal da Imprensa - 85

  • 1. Dois gumes Raphael Vaz Os Estados Unidos queriam um território que fazia parte do México. Tanto queriam que anexaram-no aos seus domínios. Os mexicanos, por sua vez, consideraram o Texas (território em questão) como um Estado rebelde, não reconheceram a anexação e reivindicaram a região. Não é preciso ser “expert” para saber no que deu essa história. Em 13 de maio de 1846, após as batalhas do Palo Alto e da Resaca de La Palma, nos dias oito e nove, respectivamente, os Estados Unidos, através do presidente democrata James Knox Polk, declararam guerra ao México. Resultado: o México perdeu não só o Texas como mais três estados e áreas territoriais nos estados do Colorado e Arizona. Cento e treze anos depois os Estados Unidos declararam guerra ao Vietnã tendo como pretexto um ataque de tropas vietnamitas a dois de seus navios que patrulhavam o Golfo de Tonquim. Estes ataques foram originados em função da intromissão estadunidense no processo eleitoral do país. Nesse meio tempo, os americanos ainda toma- ram parte nas duas grandes guerras mundiais e atravessaram uma das mais violentas batalhas de sua história, a Guerra da Secessão, onde aproximadamente 970 mil pessoas morreram. Intimidade? A teoria não é tão nova. No entanto, torna-se cada vez mais difundida e conhecida. Mais que interesse em ter- ritórios ou na propagação do “maravilhoso” estilo democrático de se governar existe outra motivação por trás das batalhas americanas. É o que afirmou, por exemplo, em entrevista a Veja (2002) o editor da publicação americana especializada em relações internacionais Foreign Policy, Moisés Naim. “Há razões de natureza psicológica e de política doméstica. Uma guerra para distrair de problemas internos, que são muitos”. Faz coro ao editor no artigo O que pensar da guerra e da paz o ex-professor de Sociologia da Universidade de Binghamton, Nova York, James Petras. “Perante a expansão externa e o declínio interno, aparecem pelo menos duas políticas imperiais importantes: uma defende a criação de novas ‘crises’ (...) A segunda escola defende que novas guerras irritarão a oposição interna, que a propaganda de ‘medo’ e ‘chauvinista’ pró-guerra já perderam o seu impacto perante as perdas materiais sofridas pelas massas, e que é altura de entrar pela diplomacia (compro- meter rivais imperialistas), reduzir as forças armadas colonialistas”, teoriza. A última dessas investidas na direção de propagar a democracia ou na tentativa de nublar seus próprios problemas se deu em 2003, quando os Estados Unidos em união com outros países invadiram o Iraque em busca de armas de destruição em massa, que supostamente o governo iraquiano teria em estoque e o que, segundo o então presidente George W. Bush representava risco ao seu país. A guerra não se resolveu até hoje. Os noticiários e jornais ainda pautam conflitos, atentados e dificuldades que as tropas americanas possuem na instalação do processo democrático. Mais que isso, George Bush deixa para o próximo presidente uma herança de crise financeira, uma população descontente com o sentimento de perca em função do prolongamento de uma batalha que tem prazo vencido pra terminar e que teme a continuação da guerra do Iraque. Veja A mídia brasileira é célebre. Não costuma perder tempo em acusar, muito menos em cobrar o que acreditar ser correto. Não usa de meios termos, sempre pendendo para um dos lados envolvidos. E quando falamos da Guerra do Iraque, é possível notar que ela perdeu até mesmo a vergonha de se posicionar. Arrancou-se a aura de “imp- rensa” isenta e imparcial para imperar aquela que usa do partidarismo. Que se apóia em bases unilaterais e cor- religionárias. Em análise de generalização, pode-se obter panorama de todo um corpo de mídias nacionais através dos compor-
  • 2. tamentos editorias de apenas dois veículos. As revistas Veja e Carta Capital retrataram de forma autêntica este disparate que se deu na hora de colocar em páginas tupiniquins as opiniões sobre o assunto. Veja não titubeia. É clara em se posicionar e se firmar como aliada americana. Basta ler o trecho publicado em 23 de fevereiro de 2006, em matéria que especulava o porquê de a população global odiar George Bush. “Sen- timento em geral inconseqüente, o antiamericanismo ressurgiu na semana passada como uma força política global”. Foi esta a forma que o repórter Eurípedes Alcântara iniciou sua reportagem. Classificando de ingênuos àqueles que se incomodavam com a ambição do presidente americano. E a reportagem não se limita a isso. Além de caracterizar os contrários a Bush e a decisão americana de guerrear de tolos, Veja ainda culpa este sentimento por motivação “prosaica”. Uma espécie de vingança de uma popula- ção global que peca pela inveja de um modelo de prosperidade constante como os estadunidense. “Os Estados Unidos têm valores, como a democracia e a liberdade absoluta de manifestação de idéia e crenças, que chocam todos aqueles que aprovam regimes totalitários, entre eles os radicais islâmicos”. Veja demoniza de forma implacável o “inimigo americano”. Ela foi clara em retratar a necessidade da guerra como uma luta entre bem e mal, onde terrorismo, nazismo, comunismo e totalitarismo respondem pelas mes- mas coisas e habitam o mesmo balaio. É ingênua e até mesmo prosaica (olhai a trave no seu olho antes de ver o cisco no olho do teu irmão) em julgar e considerar os Estados Unidos como uma nação que visa unicamente repartir com o mundo as contribuições de um regime democrata. Carta Capital Se Veja quer unir as pessoas na idéia geral de que os Estados Unidos são os mocinhos a guerra, Carta Capital percorre o caminho totalmente inverso. Baseada no iluminismo coloca a razão ocidental como uma das formas de resistir e anti-hegemonizar a população no quesito guerra iraquiana. “Quem torcia por uma nova ordem internacional vai ter de esperar mais algum tempo. Talvez alguns séculos. O que estamos observando é uma involução para práticas da força bruta no âmbito dos negócios internacionais” ou “O sinhô do fim da história e da cidadania sem fronteiras transformou-se no pesadelo em que todos são vítimas prováveis do embate entre o desespero dos que não têm rosto – porque não tem pátria – e uma estrutura de ‘poder global’ que se pretende absoluta, encarnada no rosto da pátria americana” são dois dos trechos que se pode encontrar nas páginas de Carta em repulsa à guerra americana. A visão editorial da revista restringe a guerra como parte de um projeto de poder americano e parte do pres- suposto de que o fundamentalismo americano é pior que o terrorismo do Islã, pelo agravante do poderio militar que os americanos possuem. No entanto, silencia quanto ao assunto Sadan Hussein, razão de toda essa dis- cussão na época, concentrando todas as suas críticas aos Estados Unidos. Efeito Colateral O maior espanto agora, em que as prévias americanas estão a todo vapor, é constatar que Veja, a mesma que endeusou Bush, os Estados Unidos e seus métodos de semear a democracia pelo mundo torna-se apática num dos momentos em que o assunto guerra é uma das peças chaves no tabuleiro eleitoral. Talvez o assunto tenha cansado. Talvez Veja tenha se desiludido com seu “deus” americano. Depois de muito tempo sem pautar os Es- tados Unidos, Veja se limitou em sua última edição (23 de abril) a publicar matéria alegando que o número de pobres no país sofreu crescimento. Talvez em função daquela mesma guerra que a revista apoiou no princípio. Talvez em função da má administração do governante que Veja classificou como o combatente do anticristo “(Saddam? Obama?)”. Carta continua na mesma toada. Além de matérias, dedicou até capa aos candidatos americanos. Anda não perdeu a noção de que para mostrar os problemas futuros, é preciso dentro das suas possibilidades, ajudar na construção da realidade do hoje, do atual. É apenas lamentável que tanto uma quanto a outra insistam em fazê-lo da maneira errada. Ao invés de con- scientizar na formação do pensamento e da crítica de seu próprio povo, querem apenas socar goela abaixo um conceito já formado, que cada qual se julgou no direito de determinar como a verdade absoluta. Esquecem que com atitudes como essa, nublam possibilidades futuras dentro do próprio país, onde desde muito tempo neces- sitamos de mais que leitores. Onde precisamos de pessoas que se façam agir pela interpretação daquilo que absorveram através da própria mídia.