O documento fornece informações sobre o tanca, um estilo de poesia japonesa. O tanca consiste em poemas de 31 sílabas distribuídas em 5 versos. Sua origem remonta a mais de 1400 anos atrás e era originalmente recitado ao invés de escrito. O tanca aborda sentimentos humanos de forma subjetiva, diferentemente do haicai que é mais objetivo e ligado à natureza. O tanca chegou ao Brasil através de imigrantes japoneses e foi divulgado por poetas como
2. Etimologia
• Tanca significa:
Tan (curto) + Ka: (poema)
O termo foi criado no século XX pelo poeta
Masaoka Shiki para definir um estilo de
poesia que, anteriormente, era chamado
waka (poema japonês, literalmente), ou
simplesmente uta (canção, poema).
3. Características formais
O tanca é um poema com 31 sílabas métricas*.
Estas 31 sílabas são distribuídas em 5 versos.
*No Ocidente, este padrão de sílabas métricas não é tão rigoroso, pois trata-se de uma
adaptação das unidades de som (onji) japonesas, que pouco tem a ver com o
nosso sistema métrico.
4. Exemplo
Shirogane mo - 5 O que são pra mim
Kogane mo tama mo - 7 Prata, ouro ou joias?
Nanisen ni - 5 Como eles poderiam
Masareru takara - 7 Se igualar ao maior tesouro,
Koni shikame yamo - 7 Que é ter um filho?
Tanca escrito por Yamanoue no Okura (660-733)
5. Sobre o tanca
O tanca é uma forma poética praticada há mais de 1400 anos.
Antes de ser um poema escrito, o tanca era um poema cantado, às
vezes acompanhado por música, para celebrar as vitórias nas
batalhas, por motivos religiosos ou para exaltar o amor.
Hoje, o tanca aborda qualquer assunto.
Assim como o haicai é um poema objetivo, o tanca é subjetivo.
Assim como o haicai é ligado à natureza, o tanca é ligado aos
sentimentos humanos.
6. Alguns boatos sobre o tanca
De acordo com alguns autores, a principal utilidade do tanca era
transmitir mensagens secretas entre amantes.
Os poemas faziam uma síntese do que as noitadas de sexo
haviam representado para o autor, servindo como uma “nota
de agradecimento” à amante.
O tanca era enviado num leque ou amarrado em uma flor
através de mensageiros. Quem recebia, mandava outro em
resposta.
O poema deveria ser sutil em suas referências, pois caso o
intermediário se atrevesse a ler o tanca, não entenderia o
ocorrido.
7. Man'yōshū
• O livro Man'yōshū é a mais antiga antologia
poética de waka. Seus 20 volumes possuem
mais de 4500 poemas: mais de 4.200 deles
são tancas.
• O livro foi compilado por volta de 759 d.C.,
provavelmente por Ōtomo no Yakamochi.
• Estavam ali reunidos poemas tanto de
imperadores quanto de pescadores.
8. Exemplo de Tanca no Man'yōshū
Tradução:
Minahito Convidam ao repouso
Neyotonokanewa a todos sem exceção,
Utsunaredo sinos que ressoam
Kimioshiomoeba mas esvai-se o sono em mim,
Inekatenukamo de tanto pensar em ti...
Poema de Kasano Iratsume, volume 4, nº 607
9. Kokinshū
• Organizada durante a Era Heian (794-1185),
Kokin Wakashū foi a primeira antologia de
tancas.
• O livro é dividido em 20 partes temáticas, como
as estações do ano, viagens, amor, lamentos,
entre outros.
• O livro foi compilado pelo imperador Daigo.
• O estilo dos poemas inseridos no Kokinshū
influenciou a forma poética japonesa até o
século XIX.
10. Exemplo de Tanca no Kokinshū
Tradução:
utsusemi no Elas não são
yo ni mo nitaru ka como este mundo efêmero?
hanazakura Flores de cerejeira:
saku no mishi ma ni Mal chegam a florescer
katsu chirinikeri E já estão caindo.
Poema de autor anônimo.
11. Você sabia que o hino do
Japão é um tanca?
Tradução:
Kimiga yo wa Possa seu reinado
chiyoni tachiyoni Continuar por oito mil gerações,
sazareishino Até que seixos
iwa o to narite Cresçam nos penhascos
koke no musumade Cobertos de musgo verde-claro.
O hino tem origem num tanca de escritor anônimo, inserido na antologia Kokin
Wakashu.
12. Tanca imperial
• Todo começo de ano, é tradição no Japão a
família imperial apresentar seus tancas.
• Na celebração, denominada Shin-nen-uta
gyotai, o povo também pode participar
enviando seus tancas sobre determinado
tema, definido anteriormente pelo imperador.
13. Tanca Imperial
Tradução:
Ikimono no Observando as criaturas
Orinashite ikuru Como suas vidas estão ligadas
Sama mitsutsu E entrelaçadas
Kokyo ni sumite Por quinze anos vivemos
Jugonen henu Aqui no Palácio Imperial.
Poema composto em 2008, por Sua Majestade, o Imperador.
14. O tanca no Brasil
• O tanca chegou ao Brasil através dos imigrantes japoneses*,
que vieram no início do século XX.
• Ryu Mizuno foi um dos principais responsáveis por tornar
possível a imigração japonesa para o Brasil. Ele também era
participante de vários grupos japoneses de tanca e não
deixou de lado o gênero ao chegar no Brasil.
• Outro nome importante da história da imigração japonesa é
Teijiko Suzuki. Ele também publicava tancas sob o
pseudônimo Nanju.
* Pode parecer óbvio num primeiro olhar, mas não é. O haicai, por exemplo, não
chegou ao Brasil através dos japoneses, mas sim através dos europeus.
15. Ryu Mizuno (1859 — 1951), ao centro da foto, foi um empreendedor e político japonês.
16. O tanca no Brasil
• Quem merece maior destaque como
divulgador do tanca nestas terras
tupiniquins é o poeta Kikuji Iwanami.
• Iwanami chegou ao Brasil em 1925 e se
estabeleceu na colônia Aliança, onde
pouco tempo depois reuniu outras
pessoas interessadas no tanca.
• Em 1937, fundou a primeira revista de
tanca do Brasil, a Yashiju, que tinha
circulação nacional.
17. Tancas de Kikuji Iwanami
Com quatro filhos, Ao me barbear
uns tankas imperfeitos o espelho reflete
Não mais que isso... este meu rosto,
Será dessa maneira de olhos abatidos,
que eu vou envelhecer? bochechas concavadas.
Ao entardecer Sem rir ou cantar...
que saudade eu sinto... Vendo a repetição
O raio de sol, de dias assim,
mesmo por pouco tempo, tenho presenciado
na janela da prisão. o passar de tantos anos.
18. A métrica, por Iwanami
• Iwanami não se prendia ao rigor métrico do tanca tradicional.
• De acordo com ele, a obrigatoriedade das 31 sílabas métricas
era uma questão de príncipio, apenas.
• " Os antigos costumavam dizer da necessidade de se afastar
cerca de um metro para não se pisar na sombra do mestre,
mas isso impede o progresso...
É necessário ultrapassar o mestre!”
Kikuji Iwanami
19. O tanca no Brasil
• Outra poeta que ajudou a dar
maior destaque ao tanca no
Brasil foi Helena Kolody.
• Ela publicou em dezembro de
1992 quatro tancas inéditos no
jornal literário Nicolau.
• Seus tancas, diferentemente das
tradicionais, possuem títulos e
rimas.
20. Alguns tancas de Helena Kolody
caixinha de música aquarela
Firu-liru-lim... Sol de primavera.
Melodiosa filigrana Céu azul, jardim em flor.
que uma bailarina Riso de crianças.
tece em gestos delicados Na pauta de fios elétricos,
de porcelana e marfim. uma escala de andorinhas.
pequenos motivos pirilampejo
Súbitos silêncios, O sapo engoliu
palavras inesperadas, a estrelinha que piscava
geram decisões. no escuro do brejo.
Um encontro ocasional Ficou mais sombria a noite
altera todo um destino. sem o seu pirilampejo.
21. Um tanca de minha autoria
Silenciosamente
caminho por ruas escuras
pensando em você
meu caminho se ilumina
e ganho novo vigor
22. Algumas Referências
Waka Poems by Their Majesties - http://www.kunaicho.go.jp/e-culture/odai.html
Tanka Online - http://www.tankaonline.com/
Caqui – A Tanca - www.kakinet.com/caqui/tanca.shtml
Sobre Helena Kolody - http://www.kakinet.com/caqui/kolody.php
Fundação Japão – Tanka - http://www.fjsp.org.br/guia/cap09_j.htm
Traditional Japanese Literature: An Anthology - Por Haruo Shirane
Os Tankas de Kikuji Iwanami - Esmeralda Garcia http://www.sumauma.net/artigos/artigo-esmeralda.html