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RIO DE JANEIRO
janeiro de 2009
Brasil é
referência
mundial
no setor
de energia
Brasil é
referência
mundial
no setor
de energia
É preciso
diversificar
as fontes
energéticas e
de suprimento
É preciso
diversificar
as fontes
energéticas e
de suprimento
2 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 3Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Brasil é referência mundial
no setor de energiaSUMÁRIO
3Brasil é referência
mundial no setor de 		
	 energia
4Etanol: o pioneirismo
brasileiro em 			
	 agroenergia
	 5Biodiesel: os caminhos
para a expansão
6Até 2012, Petrobras
investirá US$ 1,5 bi em 	
	 biocombustíveis
	 7Plano de Investimentos
2009-2013
A
produção de biocombustíveis vem conso-
lidando a liderança do Brasil no mercado
mundial de energias renováveis. Este foi
o ponto comum aos debates do Seminário
Biocombustíveis – Energia do Século XXI, re-
alizado pelo jornal O Globo, que reuniu em dezembro
de 2008, no Rio de Janeiro, representantes das prin-
cipais entidades e empresas do setor agroenergético.
Durante o encontro, foram discutidas as tendências
do mercado de biocombustíveis, os impactos causados
pela crise econômica mundial e as questões sociais e
ambientais ligadas à agroenergia.
Apesar do atual momento econômico, os exposito-
res compartilharam um tom otimista em suas apre-
sentações. O presidente da Petrobras Biocombustível,
Alan Kardec Pinto, assegurou que a crise não reduziu
o interesse dos investidores internacionais. De fato,
segundo o diretor de Abastecimento da Petrobras,
Paulo Roberto Costa, as exportações brasileiras de
biocombustíveis em 2008 cresceram mais de 400% em
relação ao ano anterior.
O Brasil é o segundo maior produtor de etanol no
mundo, ficando atrás somente dos EUA. As fontes
renováveis de energia representam 46% da matriz
energética brasileira, enquanto a média mundial é
de apenas 13%. Há muito o que crescer neste mer-
cado, segundo a Petrobras, que planeja investir US$
1,5 bilhão no setor até 2012.
O Brasil passou a ser reconhecido como uma das
principais referências mundiais, não apenas em bio-
combustíveis, mas no setor de energia, afirmou o se-
cretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Reno-
váveis do Ministério de Minas e Energia, José Lima. Já
o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Manoel Vi-
cente Bertone, avalia que o País é atualmente o único
a apresentar clara viabilidade econômica na produção
sustentável de biocombustíveis, sem afetar a oferta de
alimentos ou ameaçar áreas de preservação ambien-
tal. Esta posição é endossada pelo secretário do Grupo
Intergovernamental sobre Grãos da Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO),
Abdolreza Abbassian.
As vantagens sócio-econômicas dos biocombustíveis
também foram discutidas, principalmente o fortaleci-
mento da agricultura familiar no cultivo das matérias-
primas. Isso se deve, em parte, à inclusão de exigências
sócio-ambientais na agenda de desenvolvimento econô-
mico brasileiro, conforme lembrou a secretária executi-
va do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. “A
concessão de licenças estará condicionada à compensa-
ção ambiental pelos empreendimentos”, garantiu.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ener-
gia, Indústria e Serviços do estado do Rio de Janeiro,
Júlio Bueno, representou o governador Sérgio Cabral
no encontro. Dois grandes desafios do setor agroener-
gético brasileiro mostram-se especialmente impor-
tantes para Bueno. O primeiro é transformar o etanol
numa commodity internacional. O segundo é aumen-
tar a participação do Rio de Janeiro no setor – o esta-
do é líder na produção de petróleo, mas responde por
apenas 0,5% da produção nacional de etanol.
Depois que a crise financeira mundial passar, os
investimentos em biocombustíveis levarão o Brasil a
um outro patamar, assegurou o diretor da Infoglobo,
Agostinho Veira, na abertura do seminário. Também
participaram das palestras e debates o diretor da
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom-
bustíveis (ANP), Victor Martins; o diretor de Relações
Internacionais e Comércio Exterior da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Roberto
Giannetti da Fonseca; o diretor Comercial da Cosan,
Carlos Murillo Mello; a secretária de Ambiente do es-
tado do Rio de Janeiro, Marilene Ramos; o chefe adjun-
to de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agro-
energia, Esdras Sundfeld; o diretor de Comunicação
Corporativa da União da Indústria da Cana-de-açúcar
(Unica), Adhemar Altieri; e o presidente da Tecnobio
e inventor do processo de fabricação do biodiesel, Ex-
pedito Parente. O encontro foi mediado pelo jornalista
George Vidor, do Globo.
Da esq. para a dir.: George Vidor (mediador), Agostinho Vieira (O Globo), Alan Kardec (Petrobras), José Lima (MME), Júlio Bueno (Governo do Estado), Manoel Bertone
(MAPA), Paulo Roberto Costa (Petrobras) e Victor Martins (ANP)
EXPEDIENTE
Coordenação geral: NEWSDAY Consultoria de Comunicação e Marketing – (21) 2294-7470/newsday@newsday.com.br
Textos/Edição: VIA TEXTO / NEWSDAY
Fotografia: Agência GLOBO, Banco de Imagens Petrobras e Arquivo empresas
Projeto Gráfico: MARACA DESIGN
12Etanol não ameaça
áreas verdes nem
		 produção de 		
		 alimentos
14FAO: produção
brasileira não
	 provoca alta no preço 	
	 dos alimentos
15Brasil é exemplo
positivo de
		 desenvolvimento 		
		 sustentável
16Amazônia: peça
central no debate
		 sobre o clima
17Área ambiental deve
seguir agenda de
	 desenvolvimento
17MMA: Brasil quer
aumentar uso do
etanol na matriz
	 energética
20Embrapa põe o Brasil
na ponta do negócio 	
		 de agroenergia
22O futuro da energia
está nos
		 biocombustíveis de 	
		 segunda geração
23Bioetanol com
bagaço de cana e 	
	 resíduo de mamona
24Setor sucroalcoleiro
é movido pela força 	
		 empresarial
25Do plantio na terra
ao posto de 		
	 distribuição
26Flex fuel: indústria
vai divulgar a
		 experiência
		 brasileira no exterior
27GM quer levar carros
flex para a China
28De olho no futuro,
Brasil investe na
		 diversificação de
		 fontes
29Paraná: o celeiro
do biodiesel
30BNDES investirá
15% a mais em 2009
		 no setor
		 sucroalcooleiro
31Cinco novas usinas
são financiadas pelo
	 banco
32Biocombustíveis: de
mãos dadas com a
		 inclusão social
33Trabalho formal
em alta no etanol
34Biocombustíveis: a
promessa energética
		 mundial
35Barreiras ainda
a superar
36A matriz energética
do futuro no Brasil
		 e no mundo
8Não há crescimento
sem consumo de 		
	 energia
10É preciso
diversificar as 		
		 fontes energéticas e 	
		 de suprimento
11Meta é produzir 938
milhões de litros de 	
	 biodiesel em 2012
As matérias se baseiam nas declarações feitas durante o
Seminário “Biocombustíveis – Energia do Século XXI”, realizado
pelo jornal O Globo, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2008.
4 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 5Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
T
rês décadas depois de
ter inserido o álcool de
cana-de-açúcar em sua
matriz energética, o
Brasil é exemplo mun-
dial na produção e uso de biocom-
bustíveis, uma das bases do desen-
volvimento sustentável no século
XXI. Além da larga experiência tec-
nológica e logística na utilização da
energia de origem vegetal, outras
vantagens competitivas fortalecem
ainda mais a liderança brasileira,
como a fartura de terras, a abun-
dância de água e o clima tropical,
propício ao cultivo das principais
matérias-primas.
O pioneirismo do país em agro-
energia remonta aos anos 1920,
quando o etanol passou a ser mis-
turado à gasolina importada. Mas
o grande marco desta escalada foi
a criação do Programa Nacional do
Álcool (Proálcool), em 1975, como
resposta à primeira crise mundial
do petróleo. Ao lançar o maior e
mais amplo programa de utiliza-
ção de biomassa para a geração de
energia no mundo, o Brasil buscou
se proteger da alta vertiginosa dos
preços da gasolina, decorrente da
decisão da Organização dos Países
Produtores de Petróleo (Opep) de re-
duzir, em 1973, a oferta mundial do
energético fóssil.
A produção de etanol em gran-
de escala minimizou o impacto do
aumento dos preços do petróleo
sobre as contas externas nacio-
nais. Para estimular a oferta e a
demanda de álcool combustível,
o governo brasileiro concedeu in-
centivos à lavoura canavieira e à
construção de usinas; fixou cotas
de produção e comercialização do
produto; e estimulou a indústria
automobilística a fabricar veículos
movidos a etanol. Em 1979, para
eliminar o problema da corrosão
de motores, o programa foi apri-
morado, resultando nas primeiras
especificações do álcool hidrata-
do, vendido nos postos, e do ani-
brasileiras produziram mais de 6,2
milhões desses automóveis, entre
janeiro de 2005 e outubro de 2008.
Dos 3,1 milhões de veículos fabri-
cados no país nos primeiros onze
meses de 2008, cerca de 70% deti-
nham a nova tecnologia – um re-
corde, de acordo com a Associação
Nacional de Fabricantes de Veícu-
los Automotores (Anfavea).
O aumento da frota flex fuel vem
garantindo a expansão contínua do
mercado nacional de etanol. Atual-
mente o biocombustível é oferecido
em 33 mil postos de serviço espa-
lhados por todo o país. De acordo
com a União da Indústria de Cana-
de-açúcar (Unica), representante
das empresas sucroalcooleiras das
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oes-
te, o etanol respondeu por 40% dos
combustíveis utilizados por veícu-
los leves no Brasil em 2007.
Produção recorde
Com 417 usinas, consumo as-
cendente e investimentos empre-
sariais em curso, o Brasil fechou
2007 com a produção recorde de
22 milhões de m3 de etanol, nú-
mero quarenta vezes maior que a
primeira safra do Proálcool. Pas-
sados 33 anos, a produção de eta-
nol significou uma poupança de
US$ 85,8 bilhões em divisas para
a economia nacional. O programa
brasileiro de etanol também trou-
xe benefícios sócio-ambientais,
ao oferecer milhares de postos de
trabalho e reduzir as emissões de
gases poluentes e material parti-
culado na atmosfera.
Reconquistado o mercado do-
méstico, o etanol tem ampliado sua
participação na balança comercial
brasileira. De abril a novembro de
2008, foram exportados 3,68 mi-
lhões de m3 de álcool combustível.
Pelas expectativas da Unica, até
março de 2009, as exportações da
safra devem totalizar 4,2 milhões de
m3. A difusão do etanol em outros
países alça o produto à condição de
commodity, fortalecendo a vocação
do Brasil para tornar-se grande pro-
dutor de biocombustíveis no merca-
do internacional.
Etanol: o pioneirismo
brasileiro em agroenergia
Biodiesel: os caminhos
para a expansão
➔ Para a
economia nacional,
a produção de
etanol significou
uma poupança de
US$ 85,8 bilhões
em divisas entre
1975 e 2007
A cana-de-açúcar é a matéria-prima mais rentável para a produção de etanol.
Para cada unidade de energia fóssil usada no processo, são geradas até 9,3
unidades de energia renovável. Além disso, emite menos gases poluentes
que as outras fontes de energia.
BALANÇO ENERGÉTICO DAS PRINCIPAIS
MATÉRIAS-PRIMAS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL
Trigo
Milho
Mandioca
Beterraba
Cana-de-açúcar
Matéria-prima Energia renovável
produzida energia
fóssil consumida
Emissões de CO2
evitadas em relação
ao ciclo da gasolina
0,97 a 1,11
0,6 a 2,0
1,6 a 1,7
1,2 a 1,8
8,3 a 9,3
19% a 47%
-30% a 38%
63%
35% a 56%
89%
T
M
B
C
M
Fontes: IEA , MAPA (2008)
Produção brasileira de etanol (volume em m3)
Safra
Álcool
hidratado
Álcool
anidro
Total
Variação em relação
ao ano anterior
1997-1998 9.722.534 5.699.719 15.422.253 6,87%
1998-1999 8.246.821 5.679.998 13.926.819 -9,70%
1999-2000 6.936.996 6.140.769 13.077.765 -6,10%
2000-2001 4.932.805 5.584.730 10.517.535 -19,58%
2001-2002 4.988.608 6.479.187 11.467.795 9,04%
2002-2003 5.476.363 7.009.063 12.485.426 8,87%
2003-2004 5.872.025 8.767.898 14.639.923 17,26%
2004-2005 7.035.421 8.172.488 15.207.909 3,88%
2005-2006 8.144.308 7.662.622 15.806.930 3,94%
2006-2007 9.853.835 8.077.816 17.931.651 13,44%
2007-2008 13.857.858 8.380.811 22.238.669 24,02%
2008-2009* 5.474.782 2.797.321 8.272.103 -62,80%
(*) Posição em 9/2008
Fonte: MAPA (2008)
Produção nacional de biodiesel
Ano Volume (em m3)
2005 736
2006 69.002
2007 402.154
2008* 918.340
* Posição em 10/2008
Fonte: ANP (2008)
dro, misturado à gasolina.
A queda na cotação do petróleo,
no fim dos anos 1980, e a eleva-
ção dos preços internacionais do
açúcar, na década seguinte, deses-
tabilizaram o Proálcool. A oferta
irregular do álcool hidratado nos
postos de serviço derrubou a con-
fiança dos motoristas em relação à
continuidade do programa, o que
por sua vez se refletiu nas vendas
de carros movidos a etanol. Entre
1991 e 1999, a desregulamentação
do setor extinguiu os subsídios às
usinas e aos consumidores, mas,
em contrapartida, em 1993, o go-
verno tornou obrigatória a mistura
de 22% de álcool anidro à gasolina,
garantindo mercado ao produto.
O lançamento dos carros flex
fuel (movidos a gasolina ou a ál-
cool, em quaisquer proporções),
em 2003, deu novo fôlego ao se-
tor. O sucesso de venda dos veícu-
los bicombustíveis demonstrou a
viabilidade do etanol para a frota
automobilística. Estimuladas pela
aceitação popular, as montadoras
Seguindo a trajetória bem-sucedida do etanol de cana-de-açúcar, o
biodiesel vem sendo incorporado gradativamente à matriz energética
brasileira. Desde janeiro de 2008, o diesel de origem vegetal é adicio-
nado de forma compulsória ao diesel de petróleo, oferecido nos postos
de serviço – a princípio, na proporção de 2% (diesel B2); e, desde 1°
de julho do ano passado, 3% (diesel B3). Esta nova mistura elevou a
produção do biocombustível para 1,4 milhão de m3 anuais (podendo
crescer até 3 milhões de m3), considerando-se a capacidade instalada
das 62 usinas de biodiesel autorizadas pela ANP em todo o país.
Assim como acontecera décadas antes com o etanol, o uso mais am-
plo do biodiesel faz parte de um esforço integrado do Governo Federal.
Em dezembro de 2004, foi lançado o Programa Nacional de Produção
e Uso de Biodiesel (PNPB) e, em janeiro do ano seguinte, a Lei 11.097
estabeleceu o marco regulatório do biocombustível e as regras para a
sua introdução na matriz energética brasileira. Em três anos – desde
a sanção da lei até o início da mistura compulsória ao diesel mineral
– o Brasil lançou as bases da cadeia produtiva; abriu linhas de finan-
ciamento para a construção de usinas e infra-estrutura logística; e
consolidou a tecnologia de fabricação do produto.
O uso da mistura B3 corresponde para os brasileiros a uma econo-
mia de US$ 410 milhões em importações de diesel mineral, de acordo
com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP). Para ajudar o novo mercado a se estruturar, a ANP realiza pe-
riodicamente leilões de compra de biodiesel. Desde novembro de 2005
foram organizadas 12 sessões, responsáveis por ajustar a demanda à
oferta do produto.
O Brasil foi um dos primeiros países a registrar uma patente sobre o
processo de produção de biodiesel, requerida em 1980 pelo engenheiro
químico Expedito Parente. Desde os anos 1970, Parente vinha realizan-
do pesquisas com o diesel de origem vegetal, na Universidade Federal
do Ceará, utilizando sementes de algodão. O novo biocombustível foi
testado com sucesso em veículos, mas não teve acolhida acadêmica
nem empresarial na época, devido à queda dos preços do petróleo e à
concentração de esforços nacionais no programa de etanol.
O biodiesel provoca menos impacto ambiental que o diesel de ori-
gem mineral, ao emitir menos gases causadores do efeito estufa. O
biocombustível também gera milhares de empregos no campo, prin-
cipalmente no cultivo de soja, algodão, girassol, mamona, babaçu,
dendê, pinhão-manso e outras oleaginosas utilizadas como matéria-
prima. A atividade não concorre com a produção de alimentos, já que o
Brasil possui vastas áreas agricultáveis. Para estimular a inserção dos
agricultores familiares na cadeia produtiva, o PNPB instituiu o Selo
Combustível Social, que garante vantagens fiscais e linhas de finan-
ciamento às indústrias que adquirirem matérias-primas de pequenos
lavradores.
Após consolidar-se no mercado nacional, os produtores brasileiros
de biodiesel enfrentarão dois grandes desafios. Um deles será atender
o mercado interno, que, em 2012, adotará a mistura compulsória de
5% de biodiesel no diesel de petróleo, elevando para 2,4 milhões de m3
anuais o consumo doméstico do combustível verde. O outro desafio,
externo, vem dos EUA e da União Européia, que deverão ter excesso de
demanda na próxima década. Desde já, o governo brasileiro e empre-
sários do setor estão atentos às oportunidades de difundir o biodiesel
brasileiro pelo mundo.
6 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 7Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Até 2012, Petrobras
investirá US$ 1,5 bi
em biocombustíveis
O
s biocombustíveis brasi-
leiros despontam como
uma importante alter-
nativa energética mun-
dial e têm sido tratados
com grande destaque em fóruns reali-
zados no Brasil e no exterior. A estra-
tégia da Petrobras nesse contexto, se-
gundo o diretor de Abastecimento da
empresa, Paulo Roberto Costa, é “atuar
globalmente na comercialização e lo-
gística de biocombustíveis, tendo uma
participação expressiva na produção
nacional de biodiesel e ampliando sua
participação no negócio de etanol”.
Para fazer frente aos novos desa-
fios e tornar-se referência mundial
em biocombustíveis, a Petrobras está
investindo cerca de US$ 1,5 bilhão no
setor, recursos previstos no Plano de
Negócios 2008-2012. “O Brasil apre-
senta muitas vantagens comparati-
vas neste promissor mercado. Além
disso, os biocombustíveis são uma
excelente oportunidade de cresci-
mento sócio-econômico em regiões
agrícolas pouco exploradas e possibi-
litam, ao mesmo tempo, o fortaleci-
mento da agricultura familiar numa
estrutura de desenvolvimento sus-
tentável”, disse o diretor da estatal na
abertura do seminário.
Costa garantiu ainda que a Petro-
bras vai continuar investindo no de-
senvolvimento dos biocombustíveis,
independentemente das oscilações no
preço do petróleo. “A alternativa para a
matriz energética mundial são os com-
bustíveis mais limpos, com prioridade
para o etanol e o biodiesel”, apontou.
Mudanças no mercado
A mistura de 25% de etanol na
gasolina e a crescente utilização
de veículos flex fuel vêm causando
mudanças no mercado brasileiro de
combustíveis. “Para termos uma idéia
mais concreta, no estado de São Pau-
lo, maior mercado de combustíveis no
Brasil, vendemos hoje mais etanol do
que gasolina”, destacou.
De olho nesse potencial, está em
estudos a criação de cerca de 20 no-
vos complexos bioenergéticos (CBios),
frutos de parcerias entre empresas
do setor sucroalcooleiro com a Petro-
bras e a japonesa Mitsui. Estas unida-
des produzirão etanol para exporta-
ção, além de gerar energia elétrica a
partir do bagaço da cana-de-açúcar.
Cada CBio poderá contar ainda com
uma unidade de produção de biodie-
sel para abastecer tratores, cami-
nhões e colheitadeiras.
Para comercializar a produção bra-
sileira do CBio Itarumã, no mercado
japonês, foi criada a empresa PB Bio
Trading, sediada em Cingapura e com
controle acionário dividido igualita-
riamente entre Petrobras e Mitsui.
Nesse modelo de negócios, em
parceria com empresas internacio-
nais e produtores brasileiros, a meta
é atingir, em 2015, a produção e ex-
portação anual de 4,75 milhões de
m3 anuais de etanol.
A largada já foi dada. De 2007 a
2008, cresceu 404% a exportação de
etanol pela Petrobras, que começa o
ano de 2009 abrindo novos mercados: a
partir de janeiro, a companhia faz seu
primeiro fornecimento à Costa Rica.
Segundo consultorias especializadas,
a estimativa de exportação de etanol
brasileiro em 2008 foi de aproximada-
mente 4,2 milhões de m3. Desse total,
o sistema Petrobras comercializou 605
mil m3 para os EUA, Europa e Ásia.
Sinal verde
Além de aprimorar as tecnologias
já utilizadas, a Petrobras está inves-
tindo no desenvolvimento dos com-
bustíveis de segunda geração. “Outra
rota promissora é a do bioetanol ou
etanol de lignocelulose, álcool com-
bustível produzido com a ação de en-
zimas”, anuncia Costa.
No caso do biodiesel, o diretor de
Abastecimento da Petrobras revela que
houve incerteza no primeiro semestre
de 2008 devido ao aumento dos preços
das matérias-primas, mas “a atuação
da empresa, disponibilizando seus es-
toques estratégicos quando necessário,
permitiu avançar com o programa”.
Em janeiro de 2008, teve início a
adição obrigatória de 2% de biodie-
sel ao diesel mineral (mistura B2),
que corresponde a um mercado de
440 mil m3 no semestre. Em julho, o
percentual passou para 3% (mistura
B3), aumentando para 660 mil m3 o
volume semestral.
“Ao final de 2008 o mercado esteve
plenamente atendido e funcionando
normalmente, demonstrando o amadu-
recimento do programa”, avalia Costa.
A Petrobras ainda planeja imple-
mentar duas novas plantas-piloto de
biodiesel no Rio Grande do Norte, que
terão tecnologia para o aproveita-
mento de vários tipos de oleaginosas,
de forma a adaptar a produção às cul-
turas típicas de cada região.
Paulo Roberto Costa
➔ “Os
biocombustíveis
são uma excelente
oportunidade de
crescimento sócio-
econômico em regiões
agrícolas pouco
exploradas, o que
fortalece a agricultura
familiar numa estrutura
de desenvolvimento
sustentável”
DISTRIBUIÇÃO POR SEGMENTO DE NEGÓCIOS
Período 2008-12 US$ 112,4 bilhões
O setor de biocombustíveis
receberá US$ 1,5 bi, cerca
de 1% dos investimentos
totais da Petrobras
previstos para os próximos
quatro anos.
G&E
6% (6,7)
Petroquímica
4% (4,3)
Distribuição
2% (2,6)
Caorporativo
2% (2,6)
Biocombustível
1% (1,5)
Dowstream (RTC)
26% (29,6)
E&P
58% (65,1)
US$ 65,1 bilhões destinados ao E&P:
•Exploração: US$ 11,6 bilhões
•Produção: US$ 53,5 bilhões
DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM
BIOCOMBUSTÍVEIS – US$ 1,5 BI
HBio
4%
Outros
21%
Biodiesel
29%
Outros e
alcooldutos
29%
Cerca da metade dos investimentos em biocombustíveis
será destinada para a melhoria do escoamento da produção.
Investimentos da Petrobras – Plano de Negócios 2008-2012
Fonte: Petrobras (2008)
8 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 9Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Não há crescimento sem
consumo de energia
N
ão há forma de
crescimento co-
nhecida que não
passe pelo aumen-
to do consumo de
energia. Esta é a questão cen-
tral do debate sobre a inclu-
são de fontes alternativas na
matriz energética mundial, na
avaliação do secretário de Pe-
tróleo, Gás Natural e Combus-
tíveis Renováveis do Ministério
de Minas e Energia (MME), José
Lima, que participou do semi-
nário representando o ministro
Edison Lobão. “Continuar cres-
cendo cada vez mais, melho-
rando a matriz energética, é o
maior desafio que enfrentamos
hoje”, afirmou.
De acordo com o secretário,
embora o petróleo continue
sendo a principal fonte de ener-
gia no mundo nos próximos 30
anos, os biocombustíveis vão ga-
nhar importância progressiva.
E é neste contexto que o Brasil
se destaca: 46% da energia con-
sumida no País vêm de fontes
renováveis, contra apenas 13%
observada na média mundial e
7% nos países da OCDE (Orga-
nização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico),
que reúne as economias mais
ricas do planeta.
Atualmente, os biocombustí-
veis estão no topo das discus-
sões da agenda brasileira de
energia. Segundo o secretário
do MME, a segurança energé-
tica é fonte de preocupação até
mesmo para os países produto-
res e exportadores de petróleo –
seja com o preço do produto em
alta, como no passado recente,
ou em queda acentuada, como
ocorreu no final de 2008. “O
mundo estava preocupado com
a alta do preço do petróleo, que
chegou a US$ 140 o barril, re-
presentando um risco de ruptu-
ra para o crescimento mundial.
Assustava até os produtores.
Agora, se discute na OPEP o que
fazer para que não continue a
cair tanto”, comparou.
Liderança em agroenergia
Na avaliação de Lima, 2008
foi um ano muito importante
para a trajetória dos biocom-
bustíveis no Brasil, principal-
mente devido a dois fatores:
o aumento expressivo do con-
sumo de etanol, que superou
o consumo de gasolina neste
período (impulsionado pelo au-
mento de vendas de veículos
flex fuel), e a adição obrigató-
ria de 2% de biodiesel ao die-
sel mineral, ampliada para 3%
em julho passado. Este desem-
penho por si só, acrescentou o
secretário, levou o Brasil à lide-
rança mundial no setor.
Lima também chamou a aten-
ção para a maturidade do eta-
nol brasileiro e disse que seria
injusta uma eventual compa-
ração com o programa de bio-
diesel, que ainda está na infân-
cia. “O programa do álcool, na
vertente da agricultura, contou
com o desenvolvimento de pes-
quisas, e hoje a produtividade é
muito maior, com ganhos tam-
bém no processamento. Isso
trouxe competitividade para
o álcool, como deve acontecer
também com o biodiesel. Ainda
não tivemos tempo para fazer
todos os testes das possíveis ro-
tas tecnológicas que levarão ao
aumento da produtividade das
oleaginosas”.
Desafios para o futuro
O governo brasileiro, res-
saltou o secretário, defende a
queda das barreiras tarifárias
impostas pelos Estados Unidos
e alguns países da Europa e re-
afirmou essa posição durante
um recente fórum realizado
em São Paulo, do qual parti-
ciparam mais de 90 países e
cerca de 30 instituições. “Se
o mundo precisa de energia,
por que os países ricos conti-
nuam impondo barreiras? Eles
deveriam promover a inclusão
daqueles que estão à margem,
e o Brasil tem provocado essa
discussão”, afirmou.
Além de ser imprescindível
derrubar as barreiras tarifárias,
há uma série de medidas que de-
veria nortear o mercado de fon-
tes alternativas de energia, se-
gundo Lima. A primeira delas é
transformar os biocombustíveis
em commodities internacionais
– tese igualmente defendida no
seminário pelo secretário de Es-
tado de Desenvolvimento Eco-
nômico do Rio de Janeiro, Júlio
Bueno. É preciso também au-
mentar a base de consumidores
e incentivar a entrada de outros
países no processo de produção.
“Os biocombustíveis já integram
a realidade brasileira, mas é pre-
ciso rever estas questões mun-
diais para formar um mercado
mais amplo, pois todos ganham
com as mudanças na matriz
energética”, garantiu.
Lima ainda destacou que é
necessário investir mais em
desenvolvimento tecnológico,
especialmente no etanol de se-
gunda geração. Segundo ele, as
pesquisas são fundamentais
para reduzir os custos de produ-
ção, garantindo competitividade
aos biocombustíveis brasileiros.
“Não se deve medir competiti-
vidade pelo preço, mas sim pelo
custo de produção”, concluiu.
José Lima
➔ “Se o mundo
precisa de energia, por
que os países ricos
continuam impondo
barreiras? Eles
deveriam promover a
inclusão daqueles que
estão à margem e o
Brasil tem provocado
essa discussão”
➔ “Os biocombustíveis
já integram a realidade
brasileira, mas é preciso
rever estas questões
mundiais para formar
um mercado mais amplo,
pois todos ganham com
as mudanças na matriz
energética”
MATRIZ ENERGÉTICA
BRASILEIRA 2007
Lenha
12%
Petróleo e
derivados
37,4%
Gás natural
9,3%
Carvão mineral
6%
Nuclear
1,4%
Cana-de-
açúcar
15,9%
Outras
biomassas
3,2%
Hidroeletricidade
14,9%
ENERGIARENOVÁVE
L
Na matriz
energética
brasileira, 46%
correspondem a
recursos
renováveis
(hidroeletricidade,
cana-de-açúcar,
lenha e outras
biomassas)
Fonte: MME (2007)
MATRIZ ENERGÉTICA
MUNDIAL 2007
Petróleo e
derivados
35%
Gás natural
20,7%
Carvão mineral
25,3%
Nuclear
6,3%
Biomassa
10%
Outras
renováveis
0,5%
Hidroeletricidade
2,2%
ENERGIA
RENOVÁVEL
Apenas 12,7%
das fontes de
energia na matriz
energética
mundial são
renováveis
(hidroeletricidade,
biomassa e
outros)
Fonte: MME (2007)
10 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 11Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
É preciso diversificar
as fontes energéticas
e de suprimento
A
segurança no suprimen-
to de energia, ao lado
das questões ambien-
tais, deve ser o vetor da
introdução dos biocom-
bustíveis na matriz energética mun-
dial. A opinião do presidente da mais
nova subsidiária da Petrobras – a Pe-
trobras Biocombustível (PBio) – tem
o peso da preocupação que hoje se
abate sobre os países que ainda de-
pendem da importação de combustí-
veis para garantir o consumo interno.
Alan Kardec Pinto começou sua pa-
lestra ressaltando a vulnerabilidade
dos Estados Unidos, que dependem
da importação de 2/3 do petróleo que
consomem – a maior parte prove-
niente dos países do Oriente Médio.
“É uma dependência complicada. Se
houver uma ruptura no fornecimen-
to, dá para imaginar o tamanho do
problema”, alertou.
Para ele, a solução está na diversi-
ficação das fontes energéticas, con-
dição que coloca o Brasil em situa-
ção privilegiada por ser o país que
tem mais capacidade de produzir
biocombustíveis sem competir com
a produção de alimentos. “O Brasil
produz petróleo e biocombustíveis
de maneira sustentável. É um privi-
légio ter grandes reservas de petró-
leo e terra produtiva para o cultivo
da cana-de-açúcar e de oleaginosas”,
ressaltou.
Kardec também alertou para a
importância dos investimentos cres-
centes que têm sido feitos para que o
Brasil não perca a corrida tecnológi-
ca disputada hoje com outros países,
especialmente os Estados Unidos e
o Canadá, para a produção de eta-
nol de segunda geração. “Os esforços
do Brasil e da Petrobras, através de
seu centro de pesquisa e desenvol-
vimento, Cenpes, têm sido no sen-
tido de promover um investimento
crescente em tecnologia, para pelo
menos chegar junto com estes dois
países na corrida pela produção de
etanol”, afirmou. Segundo Kardec,
a PBio espera que o presidente eleito
dos Estados Unidos, Barack Obama,
promova a sustentabilidade da ma-
triz energética local e retire os sub-
sídios à produção de milho, principal
matéria-prima do etanol americano.
Na sua avaliação, o programa bra-
sileiro de biodiesel deve ser consi-
derado altamente vitorioso, pois em
apenas três anos já tem produção
superior à demanda (decorrente da
adição compulsória de 3% de biodie-
sel ao diesel mineral) e ainda gera
emprego e renda no campo. A Petro-
bras tem um programa de fortaleci-
mento de cooperativas de agriculto-
res familiares, e trabalha com uma
meta de 80 mil agricultores para o
fornecimento de parte da matéria-
prima para as três usinas de biodie-
sel já instaladas. “Produzimos muito
mais do que uma energia limpa e
renovável. Produzimos qualidade de
vida e cidadania”, declarou.
Segundo o presidente da PBio, as
energias renováveis responderão por
75% do consumo mundial em 2100.
“Está para nascer o dia em que vai
faltar mercado para quem produz
energia”, previu.
“A cada mês, somos procurados
em média por quatro delegações in-
ternacionais para conhecer as con-
dições tecnológicas e a nossa visão
de produção e comercialização dos
biocombustíveis”, informou ele, ob-
servando que essa procura demons-
tra o grande interesse pelo programa
brasileiro. “O mundo está fervilhan-
do na busca por fontes alternativas
de energia e países que forneçam os
combustíveis de maneira sustentá-
vel”, comentou.
Alan Kardec
➔ “Em 2100, as
energias renováveis
responderão por 70% do
consumo mundial. Está
para nascer o dia em
que vai faltar mercado
para quem produz
fontes de energia”
➔ “Somos uma
empresa de energia
e é nossa obrigação
aproveitar a
oportunidade que temos
aqui. Poucos países no
mundo reúnem tantas
condições favoráveis
como o Brasil”
Meta é produzir 938 mil m3
cúbicos de biodiesel em 2012
A Petrobras Biocombustí-
vel (PBio) foi criada em julho
de 2008 para integrar os es-
forços do sistema Petrobras
no setor de agroenergia. A
nova subsidiária, respon-
sável pelo desenvolvimento
de projetos de produção e
gestão de etanol e biodiesel,
prevê investimentos de US$
1,5 bilhão até 2012. A meta
é liderar a produção nacio-
nal de biodiesel e ampliar a
participação no negócio de
etanol, com foco no merca-
do internacional.
A PBio tem dois objetivos
fundamentais, segundo o
diretor Alan Kardec Pinto.
O primeiro é a produção
de energia respeitando o
equilíbrio ambiental, uma
contribuição direta da Pe-
trobras para a redução do
aquecimento global. A se-
gunda, de cunho estraté-
gico, é atender a crescente
demanda mundial por bio-
diesel. “Somos uma em-
presa de energia e é nossa
obrigação aproveitar as
oportunidades que temos
aqui. Poucos países reúnem
Atualmente o sistema Petrobras possui três unidades produtoras de biodiesel, das quais duas já estão em pleno funcionamento
biocombustível. A entrega fez parte do acor-
dado nos leilões promovidos pela Agência Na-
cional de Petróleo, Gás Natural e Biocombus-
tíveis (ANP), em que foram comercializados
mais de oito mil m3 de biodiesel.
A PBio conta ainda com uma usina em Qui-
xadá, no Ceará, que entregou sua primeira
produção, de 73 m3 de biodiesel, também em
outubro do ano passado. Uma terceira usina,
localizada em Montes Claros, em Minas Ge-
rais, está em fase final de montagem.
A capacidade total de produção das três
usinas será de 170 mil m3 por ano. A meta
é chegar em 2012 à liderança na produção
nacional de biodiesel, com 938 mil m3 pro-
duzidos anualmente. A matéria-prima para
as usinas virá prioritariamente da agricul-
tura familiar, gerando emprego e renda no
campo para mais de 55 mil pessoas. O in-
vestimento por parte da Petrobras é de R$
295 milhões.
tantas condições favoráveis como o Brasil.
Terra, água, sol, mão-de-obra, tecnologia,
tudo o que é essencial para se ter sucesso no
segmento. Sem falar na função social que va-
mos desenvolver a partir da agricultura fa-
miliar”, explica Kardec.
Atualmente o sistema Petrobras possui
três unidades produtoras de biodiesel, das
quais duas já estão em pleno funcionamento.
A primeira fica em Candeias, na Bahia, e tem
capacidade instalada de produção de até 57
mil m3 de biodiesel por ano. Além da enorme
flexibilidade no uso de matérias-primas, a
unidade apresenta diferenciais importantes,
com destaque para os sistemas de instru-
mentação e controle totalmente automatiza-
dos, e o inovador sistema de processamento
de óleos vegetais brutos.
Em outubro de 2008, a Usina de Candeias
entregou o primeiro carregamento comercial
de biodiesel da PBio, com cerca de 45 m3 do
No segmento de etanol, a companhia criou
um modelo de negócio baseado na busca de
parcerias com empresas sucroalcooleiras
nacionais e investidores internacionais que
possuam mercado para exportação. Recen-
temente a Petrobras fechou um acordo com
a japonesa Mitsui para a construção de 20
novos complexos bioenergéticos (CBios),
voltados principalmente para produção de
etanol para o mercado externo. Com este
modelo, espera-se atingir em 2012 a produ-
ção e exportação anual de 4,75 milhões de
m3 de etanol.
A nova subsidiária da Petrobras assume o
desafio de crescer observando sempre a sus-
tentabilidade empresarial, social e ambiental.
A empresa está igualmente comprometida
com a obtenção do Selo Combustível Social
e com as premissas do Programa Nacional de
Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), lançado
pelo Governo Federal em 2005.
12 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 13Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Biocombustíveis não
ameaçam áreas verdes nem
produção de alimentos
O
Brasil é o único país a
apresentar clara via-
bilidade econômica na
produção de biocom-
bustíveis sem amea-
çar áreas de proteção ambiental ou
a segurança alimentar. As lavouras
de cana-de-açúcar, principal maté-
ria-prima do etanol, estão situadas
entre 2 mil e 2,5 mil quilômetros de
distância da floresta amazônica e
compreendem apenas 1% do territó-
rio nacional, enquanto a Amazônia,
o Pantanal e outras áreas protegidas
somam mais de 50% do território
brasileiro. Outros tipos de lavoura
utilizam apenas 7,6% das terras do
País. Já as pastagens ocupam 20%.
ra em ambiente sustentável, nego-
ciando, ao mesmo tempo, as quedas
de barreiras de exportação”.
Em relação ao programa brasilei-
ro de biodiesel, Bertone o considera
o mais completo e abrangente do
planeta. Além de melhorar as condi-
ções de vida do trabalhador rural e
respeitar o meio ambiente, aumenta
o grau de independência energética
do país ao buscar diversificar as ma-
térias-primas. “O objetivo do minis-
tério é a produção com sustentabi-
lidade, no âmbito social, ambiental
e econômico. Se não atender a estes
requisitos e o custo de produção não
for reduzido, o programa não vai pra
frente”, avisou.
Oportunidade em meio à crise
Bertone defendeu a política bra-
sileira de agroenergia e criticou os
países que impõem barreiras ta-
rifárias ao etanol. “O mundo pre-
cisa fazer negócios de forma mais
limpa. As barreiras sempre foram
combatidas pelo governo brasileiro,
que defende a liberdade para oferta
e demanda”.
O representante do MAPA previu
que os “fatos andam divergindo
das versões”. Citando o exemplo
dos norte-americanos, ponderou:
“Os Estados Unidos estão com cla-
ro problema de produção, e não
falam mais em fome do mundo.
O empresariado passou a ter mais
importância que a sociedade.”
Bertone salientou também que a
cana-de-açúcar continua sendo um
produto extremamente rentável,
embora o setor se encontre atual-
mente em franca dificuldade para
manter seus investimentos devi-
do à crise. Segundo o secretário, a
produção de biocombustíveis não
só representa uma excelente opor-
tunidade para obter ganhos finan-
ceiros, como pode ajudar o país a
garantir sua independência energé-
tica, promovendo ainda a redução
da emissão de CO2 na atmosfera.
O representante do MAPA obser-
vou também que não cabe ao gover-
no certificar as commodities agrí-
colas, sendo esta tarefa exclusiva
ao setor privado. Isso, no entanto,
não significa que o Estado deva ab-
dicar de mecanismos de controle.
a redução da área plantada e a que-
da no volume de produção de eta-
nol, por causa da crise econômica
mundial, mas reafirmou sua crença
de que a cana-de-açúcar continua-
rá sendo a segunda mais importan-
te fonte de energia no Brasil, atrás
apenas do petróleo e à frente das
hidrelétricas. “Vai ser difícil alijar o
Brasil desse processo. Temos tecno-
logia, marco regulatório, terra fértil
e sol e água em abundância. Não
podemos errar no uso de nossos re-
cursos naturais”.
O secretário ressaltou que as
commodities agrícolas perderam
preço depois de deflagrada a crise,
em setembro passado, e levaram os
críticos do programa brasileiro a
esquecer o problema da fome mun-
dial. “O Brasil tem um claro recado
a dar ao mundo: vamos produzir
etanol e alimento de forma sus-
tentável e com excedente”, avisou,
informando que há 20 milhões de
pessoas comendo melhor no país.
Na sua avaliação, a polêmica
em torno dos biocombustíveis e da
produção de alimentos se dá por-
Segundo o Secretário de Produção
e Agroenergia do Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), Manoel Vicente Bertone,
não há projetos agrícolas que pos-
sam ser instalados em regiões de
preservação ambiental, nem o go-
verno federal permitirá a constru-
ção de usinas de álcool em regiões
destinadas à produção de alimen-
tos. “Temos uma das legislações de
proteção ambiental mais rigorosas
do mundo. Não existe qualquer ris-
co de se levar a produção de cana
para a Amazônia ou para o Panta-
nal, tampouco de se utilizarem re-
giões onde se cultivam alimentos.
Se a cana tiver que ocupar alguma
área, poderia chegar até as regiões
de pecuária, substituindo pastagens
subutilizadas”, afirmou Bertone.
O etanol produzido a partir da
cana-de-açúcar é, atualmente, o
único biocombustível verdadeira-
mente sustentável no mundo, mas a
liderança neste mercado só virá com
um planejamento político adequado,
advertiu o Secretário de Produção e
Agroenergia. Para isso, o governo re-
aliza um zoneamento agro-ecológi-
co responsável, investe em pesquisa
e tecnologia, apóia o pequeno pro-
dutor, gera emprego e desenvolve a
infra-estrutura e logística no País,
reduzindo o Custo Brasil. “Nosso de-
safio é produzir energia e agricultu-
Manoel Vicente Bertone
➔ “Nosso desafio
é produzir energia
e agricultura em
ambiente sustentável,
negociando, ao mesmo
tempo, as quedas
de barreiras de
exportação”
➔ “O Brasil tem
um claro recado a dar
ao mundo: vamos
produzir etanol e
alimento de forma
sustentável e com
excedente”
DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS NO BRASIL
Áreas verdes e/ou
protegidas
Floresta Amazônica
Áreas protegidas
Florestas plantadas
Pastagens
Lavouras anuais
Lavouras perenes (exceto cana)
Cultivo de cana-de-açúcar
Outros usos
Áreas urbanas
Áreas não exploradas
TOTAL
Áreas produtivas
Outras
Uso Área ocupada
42,0%
8,3%
0,7%
20,0%
6,5%
1,1%
0,9%
4,5%
2,5%
13,5%
100,0%
O
Fonte: MAPA (2008)
Á
Á
p
As áreas verdes e protegidas somam 51% do território nacional, enquanto as
áreas produtivas ocupam apenas 33%.
14 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 15Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
FAO: produção brasileira
não provoca alta no
preço dos alimentos
A
produção de etanol deri-
vado da cana-de-açúcar
no Brasil não teve qual-
quer influência sobre o
brusco aumento que se
registrou nos preços dos alimentos
a partir de 2007. Quem assegura é o
secretário do Grupo Intergoverna-
mental sobre Grãos da Organização
das Nações Unidas para Agricultu-
ra e Alimentação (FAO), Abdolreza
Abbassian, um dos palestrantes do
evento. “Acabou a era da comida
barata, à qual estávamos tão acos-
tumados. Trabalho neste setor há 18
anos e nunca vi tantos problemas
em países exportadores”, comentou
o secretário.
Segundo Abbassian, o uso pro-
gressivo do milho para a produção
de etanol nos Estados Unidos é ape-
nas um dos vários fatores respon-
sáveis pelo impacto no preço dos
alimentos. “Se a produção norte-
americana de etanol fosse inter-
rompida, certamente haveria uma
queda no preço do milho. Mas, no
caso do Brasil, o etanol da cana-de-
açúcar não compete com a produ-
ção de alimentos”, explicou.
Estudos elaborados pela FAO
demonstram que, nos últimos 30
anos, o valor da cesta básica global
caiu pela metade, registrando uma
queda anual média de 2 a 3%. A co-
mida jamais havia sido tão barata,
até começarem os problemas nos
países produtores de grãos. Entre
2006 e 2007, os preços dos alimen-
tos subiram drasticamente. Mu-
danças climáticas prejudicaram
as colheitas em muitas regiões do
mundo. O medo da falta de comida
disponível para o consumo interno
reduziu as exportações. Enquanto
a oferta de cereais diminuía, a de-
manda não parava de crescer. “Mas
não foi só isso. Houve uma conjun-
ção de fatores e nenhum deles está
relacionado diretamente ao uso
mais amplo dos biocombustíveis”,
afirmou Abbassian.
O representante da FAO explicou
que a súbita elevação dos preços dos
alimentos foi seguida de uma queda
igualmente vertiginosa em 2008. As
condições climáticas favoreceram a
produção de cereais dos principais
exportadores. Em algumas regiões
desenvolvidas, como União Euro-
péia, Austrália e Canadá, houve au-
mentos superiores a 11% no ano. A
eliminação de restrições às expor-
tações em alguns países também
aumentou a oferta. A recente crise
econômica mundial só agravou este
quadro, com a queda do preço do
petróleo, o fortalecimento do dólar
e a contração da demanda por gê-
neros agrícolas.
Abbassian explicou também que
a volatilidade nos preços dos ali-
mentos é extremamente perigosa
para a economia mundial, pois to-
dos os setores produtivos estão in-
terligados, transformando a crise
num fenômeno cíclico, em cadeia.
“Se os preços continuarem baixos
e as colheitas nas safras seguintes
forem afetadas, verificaremos um
aumento ainda mais forte nos pre-
ços dos alimentos em 2009 e 2010,
desencadeando crises ainda mais
severas do que a atual“, frisou o
especialista, observando ainda que
Abdolreza Abbassian
➔ “Se a produção
norte-americana de
biocombustível de milho
fosse interrompida,
certamente haveria
uma queda no preço do
milho. Mas, no caso do
Brasil, o etanol da cana-
de-açúcar não compete
com a produção de
alimentos”
Brasil é exemplo positivo
de desenvolvimento
sustentável
O Brasil tem sido poupado das críticas da Organização das Nações Uni-
das para a Agricultura e a Alimentação (FAO) quanto aos riscos que a pro-
dução de biocombustíveis pode representar para a segurança alimentar.
Ao contrário, o País é apontado por diversos dirigentes da entidade como
exemplo positivo de desenvolvimento sustentável, já que o etanol de cana-
de-açúcar, além de reduzir as emissões de CO2 na atmosfera, não afeta o
preço da matéria-prima nem de outros gêneros agrícolas.
Ao longo de 2008, a FAO expressou diversas vezes sua preocupação em
relação à escassez de alimentos nos países pobres pela destinação de cul-
tivos agrícolas para a produção de biocombustíveis. Os relatórios da insti-
tuição enfatizaram a necessidade de todos os países produtores de agro-
energia cuidarem também da segurança alimentar, a fim de não agravar
problemas sociais já conhecidos.
Entre os riscos que podem surgir com o aumento dos biocombustíveis es-
tão os conflitos pelo uso de terras, mais agudos em países com menos áreas
agricultáveis destinadas à produção de alimentos, como a China ou a Índia.
De acordo com o relatório anual A situação da agricultura e da alimenta-
ção, divulgado pela FAO em outubro de 2008, a competição entre cultivos
agrícolas para alimentação ou para energia deve se acirrar, uma vez que
a produção de biocombustíveis triplicou entre 2000 e 2007 e já responde
por quase 2% do consumo mundial de combustíveis para o transporte. En-
quanto o etanol americano, de milho, contribui para a carência alimentar,
o etanol de cana brasileiro é apontado como um correspondente competi-
tivo de combustíveis fósseis, daí sua crescente aceitação.
Segundo o documento, os biocombustíveis apresentam riscos e oportu-
nidades, mas as políticas têm que ser bem gerenciadas para que os benefí-
cios sejam mais relevantes. Até agora, no parecer da FAO, a agroenergia já
provocou pressões sobre o preço dos alimentos e não necessariamente con-
tribuiu para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.
A instituição indaga se o desmatamento para expansão de lavouras de
matérias-primas para biocombustíveis teria efeito negativo sobre a qua-
lidade do ar. O principal temor, no entanto, está em que os incentivos ao
plantio de milho e de sementes oleaginosas para a indústria de biocom-
bustíveis venham a incidir ainda mais sobre os preços de alimentos e
reduzam progressivamente as plantações voltadas para a alimentação.
A previsão da FAO é que a demanda por suprimentos agrícolas para
biocombustíveis continue crescendo na próxima década. Os altos preços
das commodities agrícolas já causaram impacto negativo em países em de-
senvolvimento que são muito dependentes das importações para suprir
suas necessidades alimentares.
Na ocasião, o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, afirmou que os
biocombustíveis gerados a partir de sementes de cereais têm contribuí-
do para o aumento da fome no mundo. Nos últimos anos, o número dos
que passam fome no planeta aumentou de 848 milhões para 923 milhões
de pessoas. Para impedir o agravamento da situação, Diouf pediu que as
políticas para biocombustíveis sejam revistas, exceto no caso do Brasil,
considerado um modelo no setor.
O diretor da FAO disse ainda que o investimento em pesquisa e de-
senvolvimento da próxima geração de biocombustíveis – com madeira,
gramíneas ou resíduos de lavouras – “tem mais potencial em termos de
redução de emissões de gases de efeito estufa, com menos pressão na base
de recursos naturais”.
➔ Nos últimos 30
anos, o valor da cesta
básica global caiu pela
metade. A comida
jamais havia sido tão
barata, até começarem
os problemas nos países
produtores de grãos
apesar das altas e baixas, em ter-
mos nominais, os preços das com-
modities agrícolas atingiram um
recorde histórico e continuarão re-
lativamente elevados no futuro.
Em raciocínio oposto ao dos crí-
ticos que alertam para riscos de
aumento no preço de produtos ali-
mentícios por causa dos biocom-
bustíveis, o representante da FAO
argumentou: “O aumento do preço
de energia pressiona para cima os
custos de insumos agrícolas, mas
uma oferta maior de energia, inclu-
sive por meio de fontes alternativas,
poderia reduzir o preço desses insu-
mos e, consequentemente, provoca-
ria queda no valor dos grãos.”
A VOLATILIDADE DOS PREÇOS DOS CEREAIS
POR QUE SUBIRAM
(2006-2007):
EXCESSO DE DEMANDA
POR QUE DESCERAM
(2008-2009):
EXCESSO DE OFERTA
Fonte: FAO/ONU (2008)
Queda significativa na produção
dos maiores exportadores, a
maioria devido ao clima.
Esgotamento dos estoques
internos e redução das
exportações nos países
produtores.
Aumento progressivo da
produção de etanol de milho
nos EUA, o maior exportador do
cereal.
Mudanças no comércio externo,
tais como medidas restritivas à
exportação.
Aumento das importações de
milho e sorgo pela União
Européia
Outros fatores: desvalorização do
dólar e aumento do preço do
petróleo, dos insumos e dos
custos de transporte.
Recuperação da produção dos
maiores exportadores, devido ao
clima favorável e ao aumento da
área de cultivo.
Crescimento dos estoques
internos e volumes disponíveis
para exportação nos países
produtores.
Comercialização de grandes
volumes em função de uma
perspectiva de preços menores.
Abolição de medidas restitivas à
exportação em vários países.
Crise financeira mundial: retração
da demanda, valorização do dólar
e queda do preço do petróleo,
dos insumos e dos custos de
transporte.
Q
d
m
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i
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p
A
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16 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 17Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Amazônia é peça central
no debate sobre o clima
O
Brasil é um dos países
que mais contribuem
para o aquecimento glo-
bal, lançando por ano
na atmosfera o equiva-
lente a 1 bilhão de toneladas de dió-
xido de carbono (CO2), 13 milhões de
toneladas de metano (CH4) e 550 mil
toneladas de óxido nitroso (N2O). Os
números foram divulgados pelo pri-
meiro inventário nacional de emissão
de gases de efeito estufa, publicado
em 2004 pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT).
Embora seja responsável por 6%
dos gases do efeito estufa, o Brasil
está isento de cumprir metas com-
pulsórias de redução estipuladas
pelo Protocolo de Kyoto, por ser uma
região em desenvolvimento. A partir
de 2012, no entanto, o País, ao lado de
outros emergentes como a Índia e a
China, terá de intensificar seu com-
promisso de reduzir as emissões.
A Amazônia é peça central nesse
debate, já que aproximadamente 75%
das emissões de CO2 do Brasil são ori-
ginadas pelo desmatamento, trans-
formando áreas de floresta e cerrado
em pastos e plantações. Qualquer re-
dução das emissões brasileiras passa
obrigatoriamente, portanto, por uma
redução dessa atividade.
O petróleo queimado nos Esta-
dos Unidos e o carvão incinerado na
China ainda são os maiores respon-
sáveis pelo agravamento do efeito
estufa, mas a devastação das flores-
tas não fica muito atrás, responden-
do por quase um quinto de todas as
emissões de dióxido de carbono do
mundo.
Em dezembro de 2007, teve início
uma nova rodada de negociações in-
ternacionais para conter a emissão
de gases causadores do efeito estufa.
No encontro, realizado em Bali, na In-
donésia, o governo brasileiro propôs
a criação de um fundo mundial para
ajudar a proteger a floresta amazôni-
ca. Desta forma, o Brasil busca arre-
cadar R$ 1 bilhão em contribuições
voluntárias, mas até agora somente a
Noruega deu sinais de que está dis-
posta a participar.
Um dos pontos defendidos forte-
mente pelo governo brasileiro nas
novas rodadas de negociação é que
os países emergentes não podem
simplesmente abrir mão do progres-
so. “A equação é como estabelecer
um processo capaz de fazer o país
reduzir suas emissões sem que isso
signifique impedi-lo de ter acesso
ao atendimento de infra-estrutura
e energia para seu desenvolvimento
econômico e social”, disse à revista
Exame a ex-ministra do Meio Am-
biente, Marina Silva.
Os demais países acreditam que a
solução mais razoável é criar um sis-
tema de créditos que remunere quem
ajudar a evitar o desmatamento no
Brasil. Apesar de ainda não haver
uma sinalização clara de quem vai
pagar a conta, os avanços são notá-
veis: o índice anual de devastação das
áreas de floresta caiu mais de 50% e
o governo brasileiro passou a estabe-
lecer limites precisos e rígidos para o
desmatamento.
Do ponto de vista financeiro, as
oportunidades do mercado de crédi-
tos de carbono, que tem no Brasil um
dos países mais ativos, devem ficar
muito mais atraentes a partir de 2009.
No primeiro trimestre, entra em ope-
ração a Green Exchange, uma nova
bolsa mundial para a negociação da
moeda verde. Pertencente à New York
Mercantile Exchange, maior mercado
mundial de opções e futuros, a em-
preitada conta também com o apoio
de grandes nomes do setor financeiro
mundial, como Morgan Stanley, Cre-
dit Suisse, JPMorgan e Merrill Lynch.
De acordo com especialistas, a Green
Exchange tem o potencial de movi-
mentação imediata de mais de US$
60 bilhões no mercado de créditos de
carbono. Como se vê, o verde – das
florestas e do dinheiro – continuará a
ser cor da moda por algum tempo.
A agenda brasileira de desenvolvi-
mento econômico deve andar junto
com a área ambiental. O recado foi
dado pela secretária Executiva do
Ministério de Meio Ambiente (MMA),
Izabella Teixeira, que representou o
ministro Carlos Minc no seminário.
Izabella explicou que as licenças se-
rão concedidas, mas condicionadas a
exigências para que as empresas pa-
guem a compensação ambiental pe-
los seus empreendimentos.
Na área de biocombustíveis, espe-
cialmente no mercado de etanol, a
atuação do MMA não será diferente.
“A ordem é incentivar a instalação de
usinas de álcool ao longo do alcool-
duto que a Petrobras está construin-
do no estado de São Paulo”, disse ela,
acrescentando que o licenciamento
para esses projetos não pode ignorar
o sistema de escoamento do produto.
A secretária informou que o MMA
também está empenhado em elimi-
nar as queimadas nas plantações de
cana-de-açúcar, que geram poluição
ambiental e desperdício de energia.
MMA: Brasil quer aumentar uso
do etanol na matriz energética
Clima seco provoca varios focos de incêndio no Rio - Reserva de Guaratiba na av das
Americas sendo consumida pelo fogo
Durante a Sessão Intergoverna-
mental I – Biocombustíveis e Mu-
danças Climáticas, realizada em
São Paulo, em novembro de 2008,
o ministro do Meio Ambiente, Car-
los Minc, anunciou o compromis-
so do Brasil em aumentar o uso do
etanol na matriz energética na-
cional em 11% ao ano. A medida
evitará a emissão de 508 milhões
de toneladas de CO2 na atmosfera,
em dez anos.
Os planos do governo brasileiro,
segundo Minc, incluem a transfe-
rência de tecnologia de produção
de biocombustíveis para nações
pobres da América Latina, Caribe,
África e Ásia. No plano domésti-
Área ambiental deve seguir
agenda de desenvolvimento
A redução deve ser gradual e passa
pela mecanização das lavouras de
cana. Izabella destacou ainda que no
Rio de Janeiro e em São Paulo, prin-
cipalmente, há legislações estaduais
que tratam da eliminação das quei-
madas e que devem servir de mode-
los a serem seguidos pelos demais
estados brasileiros. No caso do Rio, a
erradicação da atividade ainda deve
demorar 12 anos, segundo o Termo
de Ajustamento de Conduta (TAC) as-
sinado em dezembro do ano passado
entre o governo estadual e os usinei-
ros do Norte Fluminense.
De acordo com a secretária estadu-
al do Ambiente, Marilene Ramos, que
também participou do seminário,
as usinas precisam de tempo para
que as queimadas possam ser total-
mente eliminadas, pois é necessário
adequar as plantações e investir na
mecanização da lavoura. No painel
– em que também foram discutidas
barreiras não-tarifárias aos biocom-
bustíveis, impostas por alguns países
– Marilene disse que os compradores
que fazem exigências ambientais e
trabalhistas dos produtores têm de
estar dispostos a pagar mais pelos
produtos. “Está certo não querer com-
prar biocombustível de quem devasta
a natureza e não respeita os direitos
trabalhistas. Mas esses compradores
têm de concordar em pagar mais por
isto”, concluiu.
➔ O petróleo
queimado nos Estados
Unidos e o carvão
incinerado na China
ainda são os maiores
responsáveis pelo
agravamento do
efeito estufa, mas a
devastação das florestas
não fica muito atrás
Marilene Ramos
➔ “Está certo não querer
comprar biocombustível de
quem devasta a natureza
e não respeita os direitos
trabalhistas. Mas estes
compradores têm de
concordar em pagar
mais por isso”
Carlos Minc
➔ “O Brasil se
compromete a aumentar
em 11% ao ano o uso
do etanol na matriz
energética brasileira, o
que representará a não-
emissão de 508 milhões
de toneladas de CO² em
dez anos”
co, se buscará reduzir os custos
da cadeia produtiva, utilizando
subprodutos, como a palha da
cana-de-açúcar, para geração de
combustível, e o vinhoto, na com-
posição de biogás e biofertilizan-
tes.
O ministro também ressaltou a
relevância do papel do consumidor
nesta luta. De acordo com Minc, é
preciso ter consciência ambiental
até mesmo em atos considerados
de menor valor, como a regula-
gem do motor do veículo. Estudos
comprovam que um motor des-
regulado consome 50% a mais de
combustível, acelerando o aqueci-
mento global.
sendo
providenciada
foto de
desmatamento
na amazônia
18 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 19Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
100%
Fonte: MAPA (2008)
PRODUÇÃO NACIONAL DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS DO ETANOL E DO BIODIESEL
ZONEAMENTO AGRO-ECOLÓGICO E ENERGÉTICO
NORTE
Cana-de-açúcar
Soja
Girassol
Caroço de algodão
Amendoim
Mamona
Volume (Ton.)
1.101.400
1.256.100
0
2.200
0
0
Part. na Prod. Nac.
0,3%
2,2%
0%
0,1%
0%
0%
NORDESTE
Cana-de-açúcar
Soja
Girassol
Caroço de algodão
Amendoim
Mamona
Volume (Ton.)
52.149.300
3.826.200
0
659.400
13.100
144.400
Part. na Prod. Nac.
12,3%
6,8%
0%
30,3%
5,4%
94,8%
CENTRO-OESTE
Cana-de-açúcar
Soja
Girassol
Caroço de algodão
Amendoim
Mamona
Volume (Ton.)
40.954.649
26.457.900
86.100
1.385.700
32.800
0
Part. na Prod. Nac.
9,6%
47,0%
71,8%
63,7%
13,5%
0%
SUDESTE
Cana-de-açúcar
Soja
Girassol
Caroço de algodão
Amendoim
Mamona
Volume (Ton.)
299.243.912
3.908.600
3.300
108.400
178.900
6.900
Part. na Prod. Nac.
70,3%
6,9%
2,8%
5,0%
73,8%
4,5%
SUL
Cana-de-açúcar
Soja
Girassol
Caroço de algodão
Amendoim
Mamona
Volume (Ton.)
32.086.500
20.867.500
30.600
19.800
17.600
1.000
Part. na Prod. Nac.
7,5%
37,1%
25,5%
0,9%
7,3%
0,7%
BRASIL
Cana-de-açúcar
Soja
Girassol
Caroço de algodão
Amendoim
Mamona
Volume (Ton.)
425.535.761
56.316.300
120.000
2.175.500
242.400
152.300
RELAÇÃO DAS UNIDADES SUCROALCOOLEIRAS CADASTRADAS NO
DEPARTAMENTO DE CANA-DE-AÇÚCAR E AGROENERGIA DO MAPA - 2008
Região
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
BRASIL
Açúcar
Unds.
0
8
1
6
0
15
%
0
53,3
6,7
40,0
0
100,0
Fonte: MAPA (2008)
Álcool
Unds.
2
24
28
87
13
154
%
1,3
15,6
18,2
56,5
8,4
100,0
Mista
Unds.
3
43
25
156
21
248
%
1,2
17,3
10,1
62,9
8,5
100,0
Total
Unds.
5
75
54
249
34
417
%
1,2
18,0
12,9
59,7
8,2
100,0
2.500 km
F l o r e s t a A m a z ô n i c a
2.000 km
BALANÇO DE EMISSÕES DO CICLO DO ETANOL
–
1. Cultivo e colheita
Emissão de 2.961 kg de CO2
pelos tratores, colheitadeiras, insumos
agrícolas e colheita manual
(queima da palha da cana).
3. Processamento
Emissão de
3.604 kg de CO2 na
fermentação e
queima do bagaço.
4. Co-geração
225 kg de CO2 deixam
de ser emitidos com a
geração de energia a partir
do bagaço da cana.
6. Combustão
Emissão de 1.520 kg
de CO2 pelos veículos
com motores flex fuel
ou a álcool.
SALDO FINAL
Apenas 260 kg de CO2
lançados na atmosfera (contra
2.280 kg emitidos pelo ciclo
completo da gasolina).
Fonte: Unica (2007)
RS
SC
PR
SP
MG
RJ
ES
BA
GO
DF
MS
MT
ROAC
AM PA
TO
PI
MA
CE RN
PB
PE
AL
SE
PLANTAS AUTORIZADAS PELA ANP PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL
Fonte: MAPA (2008)
Região
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Biodiesel
Unidades
6
8
27
14
7
BRASIL: 62 unidades9,7%
12,9%
22,6%
11,3%
43,5%
70%
Fonte: MME (2008)
Região
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Brasil
Biodiesel
Volume
27
143
125
36
43
374
7,2%
(em mil m3)
38,2%
9,6%
11,5%
33,4%
2. Crescimento
Absorção de 7.650 kg
de CO2 no processo
de fotossíntese.
5.Transporte
Emissão de 50 kg de
CO2 pelos caminhões-
tanque movidos a
diesel mineral.
Fonte: Mapa/Unica (2007)
A produção brasileira
de etanol não
ameaça áreas
protegidas como o
Pantanal e a
Amazônia. As
principais regiões
produtoras de
cana-de-açúcar, nas
regiões
Norte-Nordeste e
Centro-Sul, estão
situadas a 2 mil e 2,5
mil km da floresta
amazônica,
respectivamente.
PRODUÇÃO NACIONAL DE ETANOL E BIODIESEL EM 2007
Região
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Brasil
Etanol
Volume
48
1.902
2.902
15.782
1.923
22.257
0,2%
(em mil m3)
8,4%
8,5%
12,9%
100%
Fonte: MME (2008)
O ciclo completo do etanol de
cana-de-açúcar emite 89% menos CO2
que o da gasolina. A seguir, as
quantidades de gás carbônico emitidas,
reabsorvidas e evitadas para cada m3 de
etanol produzidos e consumidos.
+ – + + =
precisamos
de mais
esclarecimentos
para fazer
as alterações
sugeridas para
esta parte do
info
20 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 21Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Embrapa põe o Brasil
na ponta do negócio
de agroenergia
P
rimeiro relato escrito sobre
as terras brasileiras, a car-
ta que o escrivão Pero Vaz
de Caminha enviou ao Rei
de Portugal mencionava as
áreas aparentemente férteis e clima
propício ao plantio, no território que
os descobridores portugueses ima-
ginavam ser uma ilha, pronta para
ocupação. Cinco séculos mais tarde,
apesar das mudanças climáticas no
planeta e das agressões à natureza,
o agronegócio brasileiro comprova
o que Caminha previa. A produção
agrícola é responsável por 30% do PIB
nacional, 40% das exportações e 37%
dos empregos gerados no País.
Há mais de 30 anos, o setor desco-
briu sua importância na geração de
energias renováveis com o Proálco-
ol, e atualmente experimenta – sem
comprometer a produção de alimen-
tos – um novo momento de expansão
com a produção dos biocombustíveis.
Menos conhecido que o Proálcool,
porém de importância similar, o uso
energético de óleos vegetais no Brasil
foi proposto em 1980, no Programa
Nacional de Produção de Óleos Vege-
tais para Fins Energéticos (Pró-Óleo).
Na época, previa-se uma mistura de
30% de óleo vegetal ao óleo diesel,
com perspectivas de sua substituição
integral a longo prazo.
Três décadas mais tarde, embora
ainda não tenha surgido um substitu-
to comercialmente viável para o die-
sel mineral, os resultados obtidos com
uma variedade de cultivos alternati-
vos têm chamado a atenção de diver-
sas instituições de incentivo à pesqui-
sa, como a Embrapa Agroenergia.
A entidade, criada em 2006, coor-
dena pesquisas de abrangência na-
cional, voltadas principalmente para
a descoberta de novas fontes ener-
géticas e aperfeiçoamento dos pro-
cessos de produção e escoamento de
biocombustíveis. Embora o setor seja
dominado pela cana-de-açúcar e pela
soja, um dos objetivos da Embrapa é
incentivar pesquisas que aproveitem
cultivos alternativos, como o dendê, o
coco, o girassol, a mamona e o pinhão,
beneficiando os pequenos produtores.
“O Brasil é ponta no negócio de
agroenergia e líder em tecnologia
agrícola nos trópicos. Estamos à
frente do mundo inteiro na produção
de etanol de cana-de-açúcar, assim
como nas pesquisas de bioetanol, e
não corremos risco de desabasteci-
mento alimentar algum, pois o Brasil
é um dos poucos países do mundo a
ter produção excedente de alimentos”,
afirma o chefe-adjunto da Embrapa
Agroenergia, Esdras Sundfeld.
Território continental
Maior país tropical do mundo, o
Brasil apresenta importantes vanta-
gens competitivas em relação a ou-
tros produtores de biocombustíveis.
O território continental oferece a pos-
sibilidade de incorporação de novas
áreas destinadas à agroenergia, que
não competem com o plantio de ali-
mentos. Segundo dados do Plano Na-
cional de Agroenergia 2006-2011, do
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA), a fronteira
agrícola soma cerca de 200 milhões de
hectares. O Plano também aponta que
um dos benefícios gerados pela cultu-
ra voltada para os biocombustíveis é a
geração de dez a vinte vezes mais em-
pregos do que na alternativa fóssil.
Outra vantagem competitiva bra-
sileira, segundo o MAPA, viria da
possibilidade de múltiplos cultivos
ao longo do ano, com grandes e pe-
quenas safras de diferentes produtos
concomitantemente, algo que já vem
sendo adotado na produção nacional
de grãos. A diversidade climática é
outro fator que favorece o plantio de
diferentes espécies para a produção
de biocombustíveis, reduzindo o ris-
co de desabastecimento por perdas
de colheita. O clima europeu, por ou-
tro lado, só é propício para o cultivo
de colza e de beterraba, enquanto os
Estados Unidos focam em culturas de
soja e de milho.
Estima-se que até 2020, serão in-
vestidos US$ 15 bilhões na pesquisa e
produção de biocombustíveis em todo
o mundo. Além da expectativa do
aumento do consumo de etanol pelo
mercado externo, as projeções são de
que, até 2013, o Brasil tenha uma de-
manda de, pelo menos, 2 milhões de
m3 de biodiesel por ano.
Otimização de processos
Os projetos coordenados pela Embra-
paabordamtodososaspectosdonegócio.
Além de minimizar o impacto ambien-
tal, há preocupação com a otimização de
todos os processos, recomendando-se,
inclusive, que o óleo produzido seja apro-
veitado regionalmente, o que elimina os
custos de logística e de distribuição, por
exemplo. “Uma característica da empre-
saéquesempreseprocuroufechartodos
os ciclos de produção. Vamos do plantio
ao processamento industrial. O desafio é
aproveitar ao máximo as potencialida-
des regionais e obter o maior benefício
social na produção do biocombustível”,
diz Sundfeld.
Na corrida mundial pelo aprimora-
mento dos biocombustíveis, a Embra-
pa tem procurado aplicar tecnologia
tanto às culturas tradicionais quanto
às novas, como pinhão-manso, nabo-
forrageiro, pequi e buriti, entre outras.
Pesquisar o aproveitamento de resídu-
os também é considerado prioritário.
“Já se pode produzir etanol das sobras
de madeira utilizada para móveis, que
no Brasil vêm de florestas cultivadas.
Além disso, tudo o que gera resíduo
pode ser aproveitado, como o bagaço
da cana, o algodão, o pinhão e a tor-
ta da soja. A idéia é aproveitar como
energético todo o subproduto, incluin-
do até materiais poluentes, entre eles
dejetos animais”, informa.
A Embrapa, assim como instituições
congêneres nos EUA e no Canadá, tam-
bém tem priorizado pesquisas em ál-
cool combustível de segunda geração,
incluindo o etanol de lignocelulose,
feito a partir de lascas de madeira, fo-
lhas e resíduos de cana-de-açúcar, en-
tre outros subprodutos orgânicos. Em
agosto de 2008, associações de produ-
tores de álcool no Brasil anunciaram
seu interesse em financiar estudos co-
ordenados pela Embrapa sobre etanol
celulósico, apontado como o principal
biocombustível do futuro.
“Contudo a terra em si
é de muito bons ares
frescos e temperados (...).
Águas são muitas;
infinitas.
Em tal maneira
é graciosa que,
querendo-a aproveitar,
dar-se-á nela tudo; por
causa das águas que
tem!”
Carta de Pero Vaz de
Caminha ao Rei D. Manoel,de
Portugal, maio de 1500.
➔ O território
continental oferece
a possibilidade de
incorporação de novas
áreas à agricultura
de energia que não
competem com o plantio
de alimentos e que
somariam cerca de 200
milhões de hectares
➔ A diversidade
climática, que também
reduz o risco de
desabastecimento por
perdas de colheita, é
outro fator favorável
ao plantio de diferentes
espécies para a produção
de biocombustíveis
Esdras Sundfeld
➔ “O desafio é
aproveitar ao máximo
as potencialidades
regionais e obter
o maior benefício
social na produção do
biocombustível”
PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR
(Em milhões de toneladas)
200820072006200520042003200220012000199919981997
ÁREA DE CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR
Fonte: MAPA (2008)
(Em milhões de hectares)
200820072006200520042003200220012000199919981997
331,6
4,9
4,8 4,8 4,8 4,9
5,1
5,4
5,6
5,8
6,1
6,7
7,6
345,2
333,8 326,1
344,3
364,4
396
415,2 422
457,2
515,3
589,5
ÁREA DE CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR
Em milhões de hectares)
4,9
4,8 4,8 4,8 4,9
5,1
5,4
5,6
5,8
6,1
6,7
alterações
sendo feitas
GRÁFICO DE USO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
Defensivos agrícolas nas principais culturas brasileiras
(em kg de ingrediente ativo por hectare)
Fungicida
Inseticida
Acaricida
Outros
Produto Café
0,66
0,26
0,07
0,14
Cana
0,00
0,12
0,00
0,04
Laranja
3,56
0,72
10,78
1,97
Milho
0,01
0,18
0,00
0,09
Soja
0,16
0,46
0,01
0,51
SojaMilhoLaranjaCanaCafé
Fonte: IEA (2008)
22 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 23Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Biocombustíveis
de segunda geração:
o futuro da energia
R
esíduos agroindustriais,
lixo doméstico, serragem
e gordura animal podem
ser algumas das muitas
fontes de energia do fu-
turo. Cientistas do mundo inteiro se
empenham na busca de novas maté-
rias-primas para a produção de bio-
combustíveis em escala industrial,
que minimizem o impacto ambien-
tal, reduzindo as emissões de dióxido
de carbono na atmosfera. No Brasil,
a Petrobras tem liderados esses estu-
dos, com apoio de diversas universi-
dades e centros de pesquisa.
O País, referência internacional
em etanol, tem sido alvo do interes-
se de diversas empresas estrangeiras
que pretendem investir em biocom-
bustíveis. Uma delas é a dinamar-
quesa Novozymes, maior produtora
mundial de enzimas industriais. A
companhia assinou recentemente
convênio com o Centro de Tecnologia
Canavieira (CTC), em São Paulo, para
selecionar a enzima mais adequada
para a hidrólise do bagaço da cana-
de-açúcar, processo que permite pro-
duzir mais etanol sem necessidade de
ocupar novas áreas agrícolas.
Em 2010, a Votorantim e a Usi-
na Santa Elisa, em Sertãozinho (SP),
passarão a utilizar tecnologia de-
senvolvida pela empresa americana
Amyris, que aproveita o mesmo caldo
da cana, utilizado como matéria-pri-
ma de açúcar e álcool, para produzir
diesel. A meta é atingir 400 mil m3 no
primeiro ano de parceria e 1 milhão
de m3 em 2012.
Progresso movido a álcool
Os estudos sobre biodiesel remon-
tam à década de 1930, mas ainda há
muito caminho a percorrer. Embora os
custos de produção de biodiesel de soja
no Brasil continuem relativamente ele-
vados, estudos e testes com diferentes
oleaginosas, igualmente abundantes
na flora brasileira, têm se mostrado
promissores. De acordo a Petrobras
Biocombustível, subsidiária da estatal
voltada para agroenergia, os biocom-
bustíveis de segunda geração devem
entrar em produção comercial até 2015.
A estratégia é continuar investindo em
tecnologia, buscando reduzir a depen-
dência da soja como principal matéria-
prima de biodiesel e construindo par-
cerias empresariais para o escoamento
da produção de etanol.
Embora o álcool tenha sido o centro
das atenções do programa brasileiro de
biocombustíveis, o biodiesel é a verda-
deira chave para o desenvolvimento
nacional, acredita o cientista Expedito
Parente, inventor do processo de fabri-
cação do diesel vegetal. “Enquanto o
etanol é um combustível elitista, volta-
do apenas para os carros de passeio e
veículosleves,obiodieselédemocrático,
destinado ao transporte de massas. Daí
a importância de haver diversidade nas
fontes, barateando custos e, em algum
momento, transformar o biocombustí-
vel em indutor da produção de alimen-
tos”, diz o pesquisador, que atualmente
preside a Tecbio, empresa especializada
em tecnologia do setor. “Vai chegar o
dia em que o biocombustível será sub-
produto do cultivo de alimentos”, prevê.
Parente também realiza pesqui-
sas pioneiras com bioquerosene para
aviação, criado por sua equipe ainda
na década de 1970. O primeiro teste
foi em 1984, numa aeronave da Em-
braer, que voou de São José dos Cam-
pos (SP) até Brasília.
De acordo com o especialista, o
bioquerosene será liberado para o
uso comercial em cinco anos, aproxi-
madamente. Antes disso precisa ser
testado exaustivamente, homologado
e passar por normatizações técnicas
de forma a atender as exigências das
montadoras de aeronaves, fabricantes
de turbinas e agências reguladoras.
Alternativas energéticas são mais do
que bem-vindas no setor, já que os
combustíveis representam atualmen-
te os maiores custos operacionais das
companhias aéreas comerciais.
“Chegamos à segunda onda da era
dos biocombustíveis. A primeira foi o
etanol, que, em seu lançamento, há
mais de 20 anos, em 1973, teve como
meta estabelecida uma produção de 2
milhões de m3 de álcool por ano. Hoje,
passamos de 22 milhões, ou seja, onze
vezes a meta inicial. O álcool é a loco-
motiva que está orientando as ondas
seguintes”, afirma Parente.
Além de testes com bioquerose-
ne, Parente acompanha o processo
de instalação de pequenas unidades
produtoras de biodiesel na Amazônia.
“É uma experiência voltada para pe-
quenas comunidades, que deixarão de
desmatar para obter energia renová-
vel. Daqui a cinco anos, este projeto
atrairá a mesma atenção que o bio-
querosene atrai hoje. Tecnologia nova
precisa de um tempo hábil para ser
testada e aprovada”, diz o cientista.
Cenpes lidera pesquisas
em bioetanol e biodiesel
Há um ano, o Centro de Pesquisas e Desenvolvi-
mento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes),
da Petrobras, produz experimentalmente o etanol de
lignocelulose. Conhecido também como bioetanol, o
combustível é gerado a partir de resíduos agroindus-
triais, como o bagaço de cana-de-açúcar ou de ma-
mona, através da ação de enzimas. Os testes, realiza-
dos em conjunto com a Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), foram promissores, demonstrando
rendimento atual equivalente a 220 litros de etanol
por tonelada de matéria-prima.
Os resultados servirão de base para a implantação
de uma unidade de demonstração em maior escala,
a partir de 2010, com capacidade de processamento
de dez toneladas de bagaço e produção de 2,8 m3 de
etanol por dia. O projeto será implantado com o apoio
da UFRJ, além de contar com a parceria da Universi-
dade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do
Amazonas (Ufam).
O Cenpes também realiza pesquisas envolvendo
processos de gaseificação de biomassa e produção
de biodiesel a partir de algas. Originalmente, a tec-
nologia de gaseificação consistia em converter o gás
natural em gás de síntese, um produto orgânico in-
termediário do qual se obtinha o combustível sinté-
tico. Hoje se sabe que o gás de síntese também pode
ser gerado usando a biomassa, levando à produção de
diesel e outros combustíveis e lubrificantes de exce-
lente qualidade e de origem renovável.
As pesquisas sobre o desenvolvimento de biodiesel
a partir de microalgas foram iniciadas em feverei-
ro de 2006, no Rio Grande do Norte. Os estudos são
conduzidos pelo Cenpes em parceria com a Fundação
Universidade do Rio Grande (Furg) e a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante o proje-
to, os pesquisadores identificaram 40 espécies nati-
vas de microalgas que poderiam ser utilizadas como
matéria-prima de biocombustível.
O Rio Grande do Norte também conta com usinas-
piloto em Guamaré, onde a Petrobras conduz testes
com outros tipos de oleaginosas para a produção de
biodiesel. A meta é encontrar um substituto compe-
titivo para a soja. As duas unidades já produziram
mais de 50 m3 de biodiesel provenientes de óleo de
mamona ou de misturas de mamona com soja. O bio-
combustível tem sido testado em seis veículos, dentro
de um convênio do Cenpes com empresas do setor au-
tomotivo como Ford, Siemens e Michelin.
Expedito Parente
➔ “Enquanto o etanol
é um combustível
elitista, voltado apenas
para os carros de
passeio e veículos
leves, o biodiesel é
democrático, destinado
ao transporte de
massas. Daí a
importância de haver
diversidade nas fontes,
barateando custos”
O Cenpes, da Petrobras, também realiza pesquisas envolvendo processos de gaseificação de biomassa e produção de
biodiesel a partir de algas
24 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 25Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
Setor sucroalcoleiro
é movido pela força
empresarial
O
modelo de produção
do etanol no Brasil al-
çou a iniciativa privada
ao primeiro plano no
mercado de energia do
país. Em contraste com a indústria
do petróleo, o setor sucroalcooleiro é
movido pela força empresarial desde
os primórdios do Programa Nacional
do Álcool (Proálcool), criado em 1975.
“São dois ambientes muito diferentes.
Enquanto a Petrobras é praticamente
a única a oferecer gasolina pura no
Brasil, há 380 produtores concorren-
do no mercado do etanol”, destaca o
diretor-técnico da União da Indústria
da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio
de Pádua Rodrigues.
Com produção recorde de 24 mi-
lhões de m3 em 2008, o setor pre-
vê investimentos de US$ 33 bilhões
para o período 2005-2012. Segundo
a Única, que congrega empresas
sucroalcooleiras do Sudeste, Sul e
Centro-Oeste, além das 29 usinas
que entraram em operação no ano
passado, mais de 40 estão em obras.
Ao contrário de outros setores, a
produção de açúcar e álcool aparen-
ta sofrer menos com a crise global.
Um exemplo é a Cosan, maior pro-
dutora de etanol do país, que está
construindo três usinas em Goiás.
“Continuamos investindo. Só esta-
mos adequando a velocidade dos in-
vestimentos à liberação de recursos
do BNDES”, diz o vice-presidente do
grupo, Pedro Mizutani.
De acordo com o executivo da
Cosan, o grande obstáculo à ex-
pansão do setor está fora do Brasil.
“Nosso principal desafio é tornar o
etanol uma commodity, de forma
que possa ser misturada à gasolina
no mundo todo”, assinala. Mais do
que demonstrar a eficácia energé-
tica e as vantagens ambientais do
álcool combustível, as empresas e o
22% a 25%. Com a extinção do IAA,
a fiscalização das especificações
técnicas e das regras de concorrên-
cia é exercida pela Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocom-
bustíveis (ANP). “O compromisso do
setor é produzir etanol e vender aos
distribuidores dentro dos padrões
estabelecidos pela agência”, resume
o diretor da Unica.
A lei define papéis claros para
cada agente do setor. O fornecimen-
to do álcool só pode ser feito por pro-
dutor credenciado pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (MAPA) e pela ANP. A venda
no atacado é restrita aos distribui-
dores, sendo proibido ao produtor
negociar diretamente com os postos
de serviço. É nesse contexto de divi-
são de funções que ganha relevância
a recente aquisição da Esso no Brasil
pela Cosan. O grupo é o primeiro do
setor sucroalcooleiro a controlar em-
presas que vão do plantio da cana à
venda de etanol ao consumidor, pas-
sando pela distribuição.
O setor também acumula inicia-
tivas bem-sucedidas em pesquisa.
Mantido por 177 empresas sucroal-
cooleiras e orçamento anual de R$
40 milhões, o Centro de Tecnologia
Canavieira (CTC) desenvolve, há
três décadas, variedades de cana e
inovações tecnológicas que resul-
tam em ganhos de produtividade
nos canaviais e usinas.
Graças ao avanço tecnológico, o
negócio está no limiar de uma nova
era em que o etanol passará a ser
produzido também com resíduos
agrícolas, como a palha e o bagaço
da cana. Este combustível de se-
gunda geração, também chamado
de bioetanol ou etanol de lignocelu-
lose, vai elevar a produção sem au-
mentar a área plantada com cana.
Com a inovação, o setor sucroalco-
oleiro será capaz de atender o cres-
cimento do mercado nacional e das
vendas externas.
O futuro parece promissor. De
acordo com a Empresa de Pesqui-
sa Energética (EPE), entidade ligada
ao Ministério das Minas e Energia
(MME), a demanda pelo etanol bra-
sileiro chegará a 64 milhões de m3
anuais em 2017, estimulada pela ex-
pansão da frota dos carros flex fuel
e pelo aumento das exportações.
Cosan: do plantio ao
posto de distribuição
Uma das mais contunden-
tes demonstrações de força
do setor privado no mercado
de agroenergia foi a compra
da Esso pela Cosan, em abril
de 2008. Por US$ 826 milhões,
a gigante brasileira de etanol
arrematou uma rede com 1,5
mil postos de serviço espa-
lhados por 20 estados, infra-
estrutura para a distribuição
de combustíveis, uma plan-
ta industrial e um terminal
de lubrificantes no Rio de
Janeiro. A aquisição incluiu
também o fornecimento de
querosene de aviação para
os sete principais aeroportos
brasileiros.
O negócio pôs sob o co-
Pedro Mizutani
➔ “Hoje
estamos numa
situação ímpar
em relação a
outras empresas
do setor. Os
ativos da Esso
nos trouxeram
ganhos de
sinergia e
logística”
a outras empresas do setor. Os ativos da Esso nos
trouxeram ganhos de sinergia e logística”, desta-
ca o vice-presidente da Cosan, Pedro Mizutani.
A fim de alcançar a liderança nacional na pro-
dução de etanol, a empresa lançou-se a várias
aquisições de usinas nos últimos anos. Com 18
unidades em São Paulo, além de dois terminais
portuários, a Cosan emprega atualmente 43 mil
trabalhadores, tendo produzido 1,6 milhão de
m3 de etanol na safra 2007-2008. O grupo, que
já tinha lançado ações na Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa), iniciou suas atividades na
Bolsa de Nova York (NYSE) em meados de 2007.
governo brasileiro têm pela frente a
missão de desmistificar os estigmas
de que os canaviais tomam espaço
dos alimentos e de que as lavouras
são mantidas à base de condições
de trabalho precárias.
Na safra 2007-2008, as empresas
sucroalcooleirasnacionaisfaturaram
R$ 42 bilhões. Deste total, R$ 6 bi-
lhões correspondem somente a ven-
das externas, transformando o setor
no quinto maior exportador brasilei-
ro. A produção e a comercialização de
açúcar e álcool no país geram ainda
cerca de um milhão de empregos di-
retos, movimentando uma cadeia de
70 mil fornecedores de cana e mais
de mil indústrias de suporte.
Demanda interna
Desafios internos ao crescimen-
to do mercado do etanol também
não faltam. Uma das expectativas
da Unica é a definição governamen-
tal do papel reservado ao álcool na
matriz energética brasileira. Apesar
do apoio declarado do governo fede-
ral aos biocombustíveis, encabeçado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, os empresários temem que re-
viravoltas de preços possam conter o
avanço da demanda interna, estimu-
lada nos últimos anos pelo sucesso
dos carros bicombustíveis (flex fuel).
“Existe insegurança devido às
muitas mudanças na participação
dos combustíveis líquidos na ma-
triz energética nos últimos 40 anos”,
observa o diretor-técnico da Unica.
Uma dessas alterações, enumera
Rodrigues, foi o estímulo ao diesel
no transporte rodoviário, em lugar
da gasolina. Na década de 1970, o
País descobriu o etanol, que per-
deu prestígio no fim dos anos 1980.
Em seguida, o gás natural veicular
(GNV) tomou espaço dos combus-
tíveis líquidos, até que o álcool foi
reabilitado graças aos flex fuel. Em
tempos de petróleo em baixa, o se-
tor tem receio de que o consumo de
etanol seja afetado por uma eventu-
al queda do preço da gasolina.
As empresas sucroalcooleiras na-
cionais produzem em regime de li-
vre mercado desde 1998, quando foi
concluída a desregulamentação do
setor. O marco desse processo foi a
extinção do Instituto do Açúcar e do
Álcool (IAA), em 1990. A entidade,
criada em 1933, procurava estimu-
lar a produção e o consumo regular
dos dois produtos, ditando cotas de
produção, regras para as relações
entre usinas e fornecedores de cana
e limites às exportações de açúcar.
O instituto também foi responsável
por avalizar o financiamento para
o crescimento do mercado por mais
de seis décadas.
Reserva de mercado
A liberalização da atividade, po-
rém, não eliminou a reserva de mer-
cado para o etanol, que ainda é mis-
turado à gasolina nas proporções de
Antônio de Pádua Rodrigues
➔ “Enquanto
a Petrobras é
praticamente a única
a oferecer gasolina
pura no Brasil, há 380
produtores concorrendo
no mercado do etanol”
➔ Com produção
recorde de 24 bilhões
de litros neste ano, o
setor está à frente de
investimentos de US$
33 bilhões no período
2005-2012. Além das 29
usinas que entraram em
operação em 2008, mais
de 40 estão em obras
mando da Cosan o quinto maior varejista de com-
bustíveis do Brasil, com participação de 7,2% no
mercado de distribuição. Na comercialização de
álcool e gasolina, os postos Esso detêm, respecti-
vamente, 9% e 9,7% do total no País. Para fechar
a operação, que contou com a Petrobras entre os
concorrentes, a Cosan utilizou US$ 310 milhões
resultantes de aumento de capital efetuado três
meses antes e assumiu dívidas de US$ 163 mi-
lhões. No saldo final, tornou-se a primeira empre-
sa de energia renovável a atuar em toda a cadeia
econômica, do canavial à venda no varejo.
“Hoje estamos numa situação ímpar em relação
26 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 27Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
A China, possuidora da segunda maior frota de automóveis no
mundo, poderá receber seus primeiros modelos de veículos flex
fuel em 2009. Em outubro do ano passado, a General Motors (GM)
anunciou que, devido à preocupação com a qualidade do ar, além
da alta dos preços do petróleo, introduziria a tecnologia dos moto-
res bicombustível no mercado chinês.
A GM, maior montadora de automóveis do mundo, já fabricou 5 mi-
lhões de veículos flex fuel, entre os quais 3 milhões para o mercado
norte-americano. Até 2012, metade da produção da empresa contará
com este tipo de tecnologia. Os custos da gasolina e as medidas ado-
tadas em diversos países para reduzir as emissões de gases poluentes
foram determinantes para a GM expandir sua produção de carros flex.
A empresa ainda estima que o crescimento da população mundial esti-
mule um aumento de 22% na frota de automóveis em todo o planeta.
Na China, os automóveis respondem por cerca de 50% do consu-
mo de petróleo. Segundo o vice-presidente da GM chinesa, David S.
Chen, o início da fabricação de carros flex no país depende de um
abastecimento adequado de etanol. A meta de misturar 10% de eta-
nol à gasolina em seis regiões chinesas dificilmente será cumprida.
Previa-se que 2 milhões de toneladas de etanol fossem misturadas
à gasolina até 2010 e que, em 2020, a mistura fosse cinco vezes
maior. Entretanto, a capacidade de produção de etanol no país é ex-
tremamente limitada, não ultrapassando as 1,5 toneladas anuais.
Experiência brasileira
em flex fuel será
divulgada no exterior
P
ara que o etanol seja uti-
lizado em escala global, a
indústria brasileira pre-
tende criar um ambiente
favorável à exportação da
tecnologia de produção do biocom-
bustível e de carros flex fuel (mo-
vidos a álcool ou a gasolina, em
quaisquer proporções). Segundo o
diretor de Relações Internacionais
e Comércio Exterior da Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti
da Fonseca, no início de 2009 será
iniciada uma campanha interna-
cional desta tecnologia. “Em dois
ou quatro anos, quando outros
países tomarem a decisão de pro-
duzir etanol, já haverá centenas de
milhares de veículos flex fuel no
mundo”, acredita Giannetti.
Em dezembro do ano passado,
a frota brasileira chegou à mar-
ca de 6,5 milhões de automóveis
flex. Atualmente, os carros com
este tipo de tecnologia represen-
tam 87% das vendas por atacado
de veículos leves no mercado bra-
sileiro, que, até setembro registra-
va um crescimento acumulado de
27%. Apesar da queda registrada
a partir de outubro, a indústria
fechou 2008 com 2,82 milhões de
unidades vendidas – 2,33 milhões
de flex fuel. A produção geral foi
de 3,2 milhões de veículos.
“São recordes históricos”, afir-
ma o presidente da Associação
Nacional de Fabricantes de Veícu-
los Automotores (Anfavea), Jack-
son Schneider. O executivo vê um
grande potencial nas exportações
de carros flex fuel a partir de um
crescente interesse internacional
a respeito da experiência brasilei-
ra com a tecnologia.
Segundo Schneider, muitos paí-
ses têm anunciado sua disposição
de incluir o álcool combustível em
sua matriz energética, como mistu-
ra à gasolina, para melhorar a qua-
lidade do ar. “Nesse quadro, o Brasil
tem boas oportunidades de expor-
tar sua competência na produção
de etanol, pela venda de pacotes
tecnológicos, ou por associações
com empresários locais”, diz. O
presidente da Anfavea acredita no
crescimento da motorização flex da
frota brasileira de automóveis e veí-
culos comerciais leves, enquanto os
veículos pesados, como caminhões
e caminhonetes abastecidos a die-
sel, aguardam o aprimoramento
tecnológico do biodiesel.
“Produzimos automóveis a die-
sel e a gasolina para exportação, e
também importamos automóveis
movidos a gasolina. Dessa forma,
pode-se concluir que ainda convi-
verão veículos a gasolina, veículos
flex fuel, e veículos a diesel. Além
disso, temos também o gás natu-
ral veicular (GNV). Mas, no cam-
po dos automóveis brasileiros, os
passos dos flex mostram firme-
mente essa crescente tendência
dos motores bicombustível”, afir-
ma Schneider.
Aceitação internacional
Em 2003, quando foram lança-
dos, os veículos flex fuel corres-
pondiam a apenas 4% das vendas
por atacado no país. A excelente
aceitação do mercado deve-se à
qualidade do produto aliada ain-
da a dois outros fatores: o cuida-
do ambiental e o baixo custo do
combustível, diz o presidente da
Anfavea. “O brasileiro aderiu ao
veículo flex porque tem um olho
no ambiente e outro no bolso. Ou
seja, alia-se a vantagem ambiental
de se utilizar um combustível re-
novável à economia de abastecer
com álcool, cujo preço, em relação
à gasolina, é atrativo para o con-
sumidor e assim deve continuar”.
Segundo Giannetti da Fonseca,
a campanha de popularização dos
veículos flex será definida a par-
tir de um acordo entre a Fiesp, a
Anfavea, a União da Indústria de
Cana-de-açúcar (Unica) e a Agên-
cia Brasileira de Promoção de Ex-
portação e Investimentos (Apex).
Para o representante da Fiesp, esta
iniciativa tem que ser do setor pri-
vado, com as montadoras levando
a experiência brasileira para suas
filiais em outros países. “Quando
a demanda precede a oferta, es-
tamos criando uma base de con-
sumo. Se os carros flex entrassem
no mercado internacional hoje, os
países que os importassem esta-
riam preparando suas frotas para
a mudança de combustível, o que
é previsível não apenas pela alta
Jackson Schneider
➔ “O Brasil tem boas oportunidades de
exportar sua competência na produção de
etanol, pela venda de pacotes tecnológicos, ou
por associações com empresários locais”
do preço do petróleo, mas também
pelo agravamento dos problemas
climáticos. A experiência brasilei-
ra foi tão bem-sucedida que não
tenho a menor dúvida sobre sua
aceitação no mundo inteiro”, diz
Giannetti.
Futuro promissor
Um estudo do World Business
Council for Sustainable Deve-
lopment (Conselho Mundial de
Empresas pelo Desenvolvimen-
to Sustentável) prevê que a frota
mundial de veículos saltará dos
atuais 800 milhões de unidades
para 2 bilhões em 2050. Até lá, a
presença de fontes alternativas
nas matrizes energéticas deverá
crescer 160 vezes, com 6% do total
de combustíveis consumidos no
mundo sendo produzidos a par-
tir de biomassa. Outras possíveis
mudanças são a introdução de ve-
ículos de alta eficiência energética
(híbridos e alta tecnologia diesel)
e até mesmo veículos movidos a
células de hidrogênio, que apre-
sentam emissão zero. A entidade
também espera um aumento do
transporte de massa via ferrovia
e o desenvolvimento de aeronaves
mais eficientes.
GM quer levar carros
flex para a China
Veículos flex fuel: a indústria comemora 2008 como um bom ano: as vendas internas
alcançaram 2,85 milhões de unidades, com uma produção de 3,2 milhões
VENDAS DE VEÍCULOS NO BRASIL (2005-2008)
Fonte: Anfavea (2008)
2005 2006 2007 2008
Milhõesdeunidades
0
1
2
3
4
5
6
Flex fuel
0,85
1,71
1,42
1,93 2,03
2,49 2,23
2,71
Total
Roberto Gianetti
➔ “Em dois ou
quatro anos, quando
outros países
tomarem a decisão
de produzir etanol, já
haverá centenas de
milhares de veículos
flex fuel no mundo”
foto
em baixa
resolução
somente para
aprovaçãodo
cliente
28 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 29Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009
De olho no futuro,
Brasil investe na
diversificação de fontes
E
nquanto a produção bra-
sileira de biodiesel ainda
não atende todo o mer-
cado interno, o País in-
veste em pesquisas de
diversificação de fontes de óleo,
aguardando um eminente aumen-
to da demanda européia. “Quase
todos os países estão estipulando
mandatos legais para a mistura
de biocombustíveis dentro de seus
combustíveis fósseis”, lembra o
presidente da Petrobras Biocom-
bustível, Alan Kardec Pinto, apon-
tando a oportunidade de expansão
para o produto brasileiro. Entre-
tanto, para entrar na Europa, um
dos destinos preferenciais de ex-
portação do óleo, a competitivida-
de do biodiesel nacional precisa ser
aprimorada. Cientistas já realizam
testes misturando à soja diferentes
oleaginosas, como a mamona.
Projeções da Food and Agricul-
tural Policy Research Institute (Fa-
pri, sigla em inglês) mostram que
em 2010 o consumo de biodiesel na
União Européia deve chegar a 2,2
milhões de m3 anuais. A produção
no continente, no entanto, não ul-
trapassaria a ordem de 1,8 milhão
de m3, abrindo um mercado poten-
cial de cerca de 400 mil m3.
No mercado interno brasileiro,
o biodiesel também tem um cam-
po promissor. Dos 45 milhões de
m3 de diesel mineral consumidos
atualmente, 5 milhões são impor-
tados. A Petrobras espera alcançar
em 2012 uma participação de 40%
no mercado nacional, estimado
em 938 mil m3 por ano.
O biodiesel entrou na matriz
energética brasileira em 2005, mas
sua mistura ao diesel de origem
mineral – primeiro na proporção de
2% (mistura B2) e posteriormente
na proporção de 3% (mistura B3) –
tornou-se obrigatória somente três
anos depois. Em 2013, quando o
percentual de biodiesel adicionado
ao diesel chegar a 5% (mistura B5),
estima-se que haja uma demanda
de 2 milhões de m3 por ano.
O Brasil conta atualmente com
mais de 60 unidades produtoras de
biodiesel registradas na Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (ANP), principal
órgão regulador do setor. A agên-
cia está analisando ainda mais de
30 solicitações de licenciamento.
Associações de produtores já têm
sinalizado que são capazes de for-
necer o biodiesel necessário para
a fabricação do B5 bem antes do
início do prazo legal. “As usinas
hoje poderiam colocar no merca-
do até 3 milhões de m3 por ano,
enquanto a demanda pelo B3 é
de 1,4 milhão de m3”, compara o
presidente da União Brasileira do
Biodiesel (Ubrabio), Odacir Klein.
Outras entidades do setor defen-
dem abertamente a adição de 5%
a partir de janeiro deste ano.
A disposição dos produtores em
crescer no próprio país estimula a
economia nacional e melhora os
indicadores sociais. De olho neste
potencial, o Governo Federal lan-
çou, em 2005, o Programa Nacio-
nal de Produção e Uso de Biodiesel
(PNPB). “O Programa tem o objeti-
vo de utilizar o potencial de produ-
ção para fazer a inclusão social por
meio da geração de emprego e ren-
da no campo”, lembra o presidente
da Petrobras Biocombustível.
Especificações do mercado
Um dos principais emissores de
poluentes na atmosfera, o diesel está
na mira dos países signatários do
Protocolo de Kyoto. No Brasil, além
de tornar obrigatória a mistura de
biodiesel ao combustível de origem
mineral, o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama) estabe-
leceu novos limites de emissões de
enxofre no diesel a partir de janeiro
deste ano. A Petrobras já se compro-
meteu em fornecer um diesel me-
nos poluente, com concentração de
50 partículas por milhão de enxofre
(S-50), que deverá ser utilizado pe-
las frotas de ônibus urbanos do Rio
de Janeiro e São Paulo. Ao longo de
2009, o S-50 estará disponível nas
regiões metropolitanas das outras
grandes capitais brasileiras.
Para crescer no mercado interno
de biodiesel, a Petrobras investe
pesado em infra-estrutura. A es-
tatal possui atualmente três uni-
dades produtoras: duas em pleno
funcionamento, localizadas em
Quixadá (CE) e Candeias (BA), e
outra em Montes Claros (MG), pre-
vista para entrar em atividade este
ano. Em setembro de 2008, a Petro-
bras anunciou ainda que estava
analisando a construção de sua
quarta usina de biodiesel, a pri-
meira de grande porte. A capaci-
dade de produção ficará em torno
de 295 mil m3 por ano, valor cinco
vezes superior aos 57 mil m3 anu-
ais produzidos pelas três unidades
já instaladas. A nova usina proces-
sará biodiesel com 30% de óleo de
mamona misturado ao de soja.
A utilização da mamona como
fonte de biodiesel permitiria que a
Petrobras atingisse os padrões eu-
ropeus de especificação, o que não
é obtido quando o combustível é
feito apenas com soja. A mescla
de mamona e soja melhora o de-
sempenho do biodiesel a frio, algo
essencial aos veículos durante o
inverno nos países da Europa.
O município de Irati, na região Centro-Sul do Pa-
raná, foi escolhido pela Companhia Brasileira de
Energias Alternativas e Renováveis (CBEAR) para
receber o empreendimento que está sendo anun-
ciado como a maior usina de biodiesel do mundo.
Com um investimento da ordem de 300 milhões, a
usina pretende produzir 600 mil toneladas de bio-
diesel anuais, destinados à exportação. O volume
só se compara ao produzido pela usina espanhola
Infinita Renovables e equivale à soma de todos os
projetos já anunciados no Paraná.
Segundo a vice-presidente da CBEAR, Christian-
ne Fullin, três empresas nacionais e um fundo in-
ternacional de investimento financiam o empreen-
dimento. A construção da usina será iniciada em
janeiro de 2009, em um terreno de 3 km2. As ope-
rações de produção e exportação começariam em
fevereiro de 2010, para um comprador já definido
– um país estrangeiro, “não-europeu”, que também
não é revelado em razão de uma cláusula de sigilo
no contrato.
Durante os dois primeiros anos de funcionamen-
to, a usina produziria biodiesel a partir de soja, que
seria complementada eventualmente por outras
matérias-primas. A CBEAR pretende estimular e
financiar os agricultores locais a cultivarem cano-
municípios da região do Centro-Sul paranaense
onde a empresa está instalada. A usina precisa
somente de metade dessa área para alcançar sua
meta anual, o que já permite sonhar em duplicar
ou até triplicar a produção para 2011. De acordo
com Christianne, o Paraná tem espaço e condi-
ções para abrigar oito usinas do mesmo porte da
que será construída em Irati.
➔ Com um
investimento
da ordem de
300 milhões de
euros, a usina
tem a meta de
produzir 600
mil toneladas de
biodiesel anuais,
destinados à
exportação
la, girassol e tungue, uma
oleaginosa asiática pouco
conhecida no país. O plantio
dessas espécies seria limi-
tado à época em que as la-
vouras ficam ociosas. “Será
uma alternativa às cultu-
ras de verão, como o fumo.
Não estamos entrando para
competir com as coopera-
tivas e nem para mudar as
culturas do agricultor local”,
garantiu Christianne.
A CBEAR estima que
haja 10 mil km2 ociosos,
que podem ser utilizados
na cultura das oleagino-
sas para o biodiesel, nos 68
Paraná: o celeiro do biodieselOdacir Klein
➔ “As usinas hoje
poderiam colocar no
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  • 2. 2 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 3Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Brasil é referência mundial no setor de energiaSUMÁRIO 3Brasil é referência mundial no setor de energia 4Etanol: o pioneirismo brasileiro em agroenergia 5Biodiesel: os caminhos para a expansão 6Até 2012, Petrobras investirá US$ 1,5 bi em biocombustíveis 7Plano de Investimentos 2009-2013 A produção de biocombustíveis vem conso- lidando a liderança do Brasil no mercado mundial de energias renováveis. Este foi o ponto comum aos debates do Seminário Biocombustíveis – Energia do Século XXI, re- alizado pelo jornal O Globo, que reuniu em dezembro de 2008, no Rio de Janeiro, representantes das prin- cipais entidades e empresas do setor agroenergético. Durante o encontro, foram discutidas as tendências do mercado de biocombustíveis, os impactos causados pela crise econômica mundial e as questões sociais e ambientais ligadas à agroenergia. Apesar do atual momento econômico, os exposito- res compartilharam um tom otimista em suas apre- sentações. O presidente da Petrobras Biocombustível, Alan Kardec Pinto, assegurou que a crise não reduziu o interesse dos investidores internacionais. De fato, segundo o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, as exportações brasileiras de biocombustíveis em 2008 cresceram mais de 400% em relação ao ano anterior. O Brasil é o segundo maior produtor de etanol no mundo, ficando atrás somente dos EUA. As fontes renováveis de energia representam 46% da matriz energética brasileira, enquanto a média mundial é de apenas 13%. Há muito o que crescer neste mer- cado, segundo a Petrobras, que planeja investir US$ 1,5 bilhão no setor até 2012. O Brasil passou a ser reconhecido como uma das principais referências mundiais, não apenas em bio- combustíveis, mas no setor de energia, afirmou o se- cretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Reno- váveis do Ministério de Minas e Energia, José Lima. Já o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Manoel Vi- cente Bertone, avalia que o País é atualmente o único a apresentar clara viabilidade econômica na produção sustentável de biocombustíveis, sem afetar a oferta de alimentos ou ameaçar áreas de preservação ambien- tal. Esta posição é endossada pelo secretário do Grupo Intergovernamental sobre Grãos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian. As vantagens sócio-econômicas dos biocombustíveis também foram discutidas, principalmente o fortaleci- mento da agricultura familiar no cultivo das matérias- primas. Isso se deve, em parte, à inclusão de exigências sócio-ambientais na agenda de desenvolvimento econô- mico brasileiro, conforme lembrou a secretária executi- va do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. “A concessão de licenças estará condicionada à compensa- ção ambiental pelos empreendimentos”, garantiu. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ener- gia, Indústria e Serviços do estado do Rio de Janeiro, Júlio Bueno, representou o governador Sérgio Cabral no encontro. Dois grandes desafios do setor agroener- gético brasileiro mostram-se especialmente impor- tantes para Bueno. O primeiro é transformar o etanol numa commodity internacional. O segundo é aumen- tar a participação do Rio de Janeiro no setor – o esta- do é líder na produção de petróleo, mas responde por apenas 0,5% da produção nacional de etanol. Depois que a crise financeira mundial passar, os investimentos em biocombustíveis levarão o Brasil a um outro patamar, assegurou o diretor da Infoglobo, Agostinho Veira, na abertura do seminário. Também participaram das palestras e debates o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom- bustíveis (ANP), Victor Martins; o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Roberto Giannetti da Fonseca; o diretor Comercial da Cosan, Carlos Murillo Mello; a secretária de Ambiente do es- tado do Rio de Janeiro, Marilene Ramos; o chefe adjun- to de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agro- energia, Esdras Sundfeld; o diretor de Comunicação Corporativa da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Adhemar Altieri; e o presidente da Tecnobio e inventor do processo de fabricação do biodiesel, Ex- pedito Parente. O encontro foi mediado pelo jornalista George Vidor, do Globo. Da esq. para a dir.: George Vidor (mediador), Agostinho Vieira (O Globo), Alan Kardec (Petrobras), José Lima (MME), Júlio Bueno (Governo do Estado), Manoel Bertone (MAPA), Paulo Roberto Costa (Petrobras) e Victor Martins (ANP) EXPEDIENTE Coordenação geral: NEWSDAY Consultoria de Comunicação e Marketing – (21) 2294-7470/newsday@newsday.com.br Textos/Edição: VIA TEXTO / NEWSDAY Fotografia: Agência GLOBO, Banco de Imagens Petrobras e Arquivo empresas Projeto Gráfico: MARACA DESIGN 12Etanol não ameaça áreas verdes nem produção de alimentos 14FAO: produção brasileira não provoca alta no preço dos alimentos 15Brasil é exemplo positivo de desenvolvimento sustentável 16Amazônia: peça central no debate sobre o clima 17Área ambiental deve seguir agenda de desenvolvimento 17MMA: Brasil quer aumentar uso do etanol na matriz energética 20Embrapa põe o Brasil na ponta do negócio de agroenergia 22O futuro da energia está nos biocombustíveis de segunda geração 23Bioetanol com bagaço de cana e resíduo de mamona 24Setor sucroalcoleiro é movido pela força empresarial 25Do plantio na terra ao posto de distribuição 26Flex fuel: indústria vai divulgar a experiência brasileira no exterior 27GM quer levar carros flex para a China 28De olho no futuro, Brasil investe na diversificação de fontes 29Paraná: o celeiro do biodiesel 30BNDES investirá 15% a mais em 2009 no setor sucroalcooleiro 31Cinco novas usinas são financiadas pelo banco 32Biocombustíveis: de mãos dadas com a inclusão social 33Trabalho formal em alta no etanol 34Biocombustíveis: a promessa energética mundial 35Barreiras ainda a superar 36A matriz energética do futuro no Brasil e no mundo 8Não há crescimento sem consumo de energia 10É preciso diversificar as fontes energéticas e de suprimento 11Meta é produzir 938 milhões de litros de biodiesel em 2012 As matérias se baseiam nas declarações feitas durante o Seminário “Biocombustíveis – Energia do Século XXI”, realizado pelo jornal O Globo, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2008.
  • 3. 4 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 5Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 T rês décadas depois de ter inserido o álcool de cana-de-açúcar em sua matriz energética, o Brasil é exemplo mun- dial na produção e uso de biocom- bustíveis, uma das bases do desen- volvimento sustentável no século XXI. Além da larga experiência tec- nológica e logística na utilização da energia de origem vegetal, outras vantagens competitivas fortalecem ainda mais a liderança brasileira, como a fartura de terras, a abun- dância de água e o clima tropical, propício ao cultivo das principais matérias-primas. O pioneirismo do país em agro- energia remonta aos anos 1920, quando o etanol passou a ser mis- turado à gasolina importada. Mas o grande marco desta escalada foi a criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975, como resposta à primeira crise mundial do petróleo. Ao lançar o maior e mais amplo programa de utiliza- ção de biomassa para a geração de energia no mundo, o Brasil buscou se proteger da alta vertiginosa dos preços da gasolina, decorrente da decisão da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) de re- duzir, em 1973, a oferta mundial do energético fóssil. A produção de etanol em gran- de escala minimizou o impacto do aumento dos preços do petróleo sobre as contas externas nacio- nais. Para estimular a oferta e a demanda de álcool combustível, o governo brasileiro concedeu in- centivos à lavoura canavieira e à construção de usinas; fixou cotas de produção e comercialização do produto; e estimulou a indústria automobilística a fabricar veículos movidos a etanol. Em 1979, para eliminar o problema da corrosão de motores, o programa foi apri- morado, resultando nas primeiras especificações do álcool hidrata- do, vendido nos postos, e do ani- brasileiras produziram mais de 6,2 milhões desses automóveis, entre janeiro de 2005 e outubro de 2008. Dos 3,1 milhões de veículos fabri- cados no país nos primeiros onze meses de 2008, cerca de 70% deti- nham a nova tecnologia – um re- corde, de acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Veícu- los Automotores (Anfavea). O aumento da frota flex fuel vem garantindo a expansão contínua do mercado nacional de etanol. Atual- mente o biocombustível é oferecido em 33 mil postos de serviço espa- lhados por todo o país. De acordo com a União da Indústria de Cana- de-açúcar (Unica), representante das empresas sucroalcooleiras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oes- te, o etanol respondeu por 40% dos combustíveis utilizados por veícu- los leves no Brasil em 2007. Produção recorde Com 417 usinas, consumo as- cendente e investimentos empre- sariais em curso, o Brasil fechou 2007 com a produção recorde de 22 milhões de m3 de etanol, nú- mero quarenta vezes maior que a primeira safra do Proálcool. Pas- sados 33 anos, a produção de eta- nol significou uma poupança de US$ 85,8 bilhões em divisas para a economia nacional. O programa brasileiro de etanol também trou- xe benefícios sócio-ambientais, ao oferecer milhares de postos de trabalho e reduzir as emissões de gases poluentes e material parti- culado na atmosfera. Reconquistado o mercado do- méstico, o etanol tem ampliado sua participação na balança comercial brasileira. De abril a novembro de 2008, foram exportados 3,68 mi- lhões de m3 de álcool combustível. Pelas expectativas da Unica, até março de 2009, as exportações da safra devem totalizar 4,2 milhões de m3. A difusão do etanol em outros países alça o produto à condição de commodity, fortalecendo a vocação do Brasil para tornar-se grande pro- dutor de biocombustíveis no merca- do internacional. Etanol: o pioneirismo brasileiro em agroenergia Biodiesel: os caminhos para a expansão ➔ Para a economia nacional, a produção de etanol significou uma poupança de US$ 85,8 bilhões em divisas entre 1975 e 2007 A cana-de-açúcar é a matéria-prima mais rentável para a produção de etanol. Para cada unidade de energia fóssil usada no processo, são geradas até 9,3 unidades de energia renovável. Além disso, emite menos gases poluentes que as outras fontes de energia. BALANÇO ENERGÉTICO DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL Trigo Milho Mandioca Beterraba Cana-de-açúcar Matéria-prima Energia renovável produzida energia fóssil consumida Emissões de CO2 evitadas em relação ao ciclo da gasolina 0,97 a 1,11 0,6 a 2,0 1,6 a 1,7 1,2 a 1,8 8,3 a 9,3 19% a 47% -30% a 38% 63% 35% a 56% 89% T M B C M Fontes: IEA , MAPA (2008) Produção brasileira de etanol (volume em m3) Safra Álcool hidratado Álcool anidro Total Variação em relação ao ano anterior 1997-1998 9.722.534 5.699.719 15.422.253 6,87% 1998-1999 8.246.821 5.679.998 13.926.819 -9,70% 1999-2000 6.936.996 6.140.769 13.077.765 -6,10% 2000-2001 4.932.805 5.584.730 10.517.535 -19,58% 2001-2002 4.988.608 6.479.187 11.467.795 9,04% 2002-2003 5.476.363 7.009.063 12.485.426 8,87% 2003-2004 5.872.025 8.767.898 14.639.923 17,26% 2004-2005 7.035.421 8.172.488 15.207.909 3,88% 2005-2006 8.144.308 7.662.622 15.806.930 3,94% 2006-2007 9.853.835 8.077.816 17.931.651 13,44% 2007-2008 13.857.858 8.380.811 22.238.669 24,02% 2008-2009* 5.474.782 2.797.321 8.272.103 -62,80% (*) Posição em 9/2008 Fonte: MAPA (2008) Produção nacional de biodiesel Ano Volume (em m3) 2005 736 2006 69.002 2007 402.154 2008* 918.340 * Posição em 10/2008 Fonte: ANP (2008) dro, misturado à gasolina. A queda na cotação do petróleo, no fim dos anos 1980, e a eleva- ção dos preços internacionais do açúcar, na década seguinte, deses- tabilizaram o Proálcool. A oferta irregular do álcool hidratado nos postos de serviço derrubou a con- fiança dos motoristas em relação à continuidade do programa, o que por sua vez se refletiu nas vendas de carros movidos a etanol. Entre 1991 e 1999, a desregulamentação do setor extinguiu os subsídios às usinas e aos consumidores, mas, em contrapartida, em 1993, o go- verno tornou obrigatória a mistura de 22% de álcool anidro à gasolina, garantindo mercado ao produto. O lançamento dos carros flex fuel (movidos a gasolina ou a ál- cool, em quaisquer proporções), em 2003, deu novo fôlego ao se- tor. O sucesso de venda dos veícu- los bicombustíveis demonstrou a viabilidade do etanol para a frota automobilística. Estimuladas pela aceitação popular, as montadoras Seguindo a trajetória bem-sucedida do etanol de cana-de-açúcar, o biodiesel vem sendo incorporado gradativamente à matriz energética brasileira. Desde janeiro de 2008, o diesel de origem vegetal é adicio- nado de forma compulsória ao diesel de petróleo, oferecido nos postos de serviço – a princípio, na proporção de 2% (diesel B2); e, desde 1° de julho do ano passado, 3% (diesel B3). Esta nova mistura elevou a produção do biocombustível para 1,4 milhão de m3 anuais (podendo crescer até 3 milhões de m3), considerando-se a capacidade instalada das 62 usinas de biodiesel autorizadas pela ANP em todo o país. Assim como acontecera décadas antes com o etanol, o uso mais am- plo do biodiesel faz parte de um esforço integrado do Governo Federal. Em dezembro de 2004, foi lançado o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e, em janeiro do ano seguinte, a Lei 11.097 estabeleceu o marco regulatório do biocombustível e as regras para a sua introdução na matriz energética brasileira. Em três anos – desde a sanção da lei até o início da mistura compulsória ao diesel mineral – o Brasil lançou as bases da cadeia produtiva; abriu linhas de finan- ciamento para a construção de usinas e infra-estrutura logística; e consolidou a tecnologia de fabricação do produto. O uso da mistura B3 corresponde para os brasileiros a uma econo- mia de US$ 410 milhões em importações de diesel mineral, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Para ajudar o novo mercado a se estruturar, a ANP realiza pe- riodicamente leilões de compra de biodiesel. Desde novembro de 2005 foram organizadas 12 sessões, responsáveis por ajustar a demanda à oferta do produto. O Brasil foi um dos primeiros países a registrar uma patente sobre o processo de produção de biodiesel, requerida em 1980 pelo engenheiro químico Expedito Parente. Desde os anos 1970, Parente vinha realizan- do pesquisas com o diesel de origem vegetal, na Universidade Federal do Ceará, utilizando sementes de algodão. O novo biocombustível foi testado com sucesso em veículos, mas não teve acolhida acadêmica nem empresarial na época, devido à queda dos preços do petróleo e à concentração de esforços nacionais no programa de etanol. O biodiesel provoca menos impacto ambiental que o diesel de ori- gem mineral, ao emitir menos gases causadores do efeito estufa. O biocombustível também gera milhares de empregos no campo, prin- cipalmente no cultivo de soja, algodão, girassol, mamona, babaçu, dendê, pinhão-manso e outras oleaginosas utilizadas como matéria- prima. A atividade não concorre com a produção de alimentos, já que o Brasil possui vastas áreas agricultáveis. Para estimular a inserção dos agricultores familiares na cadeia produtiva, o PNPB instituiu o Selo Combustível Social, que garante vantagens fiscais e linhas de finan- ciamento às indústrias que adquirirem matérias-primas de pequenos lavradores. Após consolidar-se no mercado nacional, os produtores brasileiros de biodiesel enfrentarão dois grandes desafios. Um deles será atender o mercado interno, que, em 2012, adotará a mistura compulsória de 5% de biodiesel no diesel de petróleo, elevando para 2,4 milhões de m3 anuais o consumo doméstico do combustível verde. O outro desafio, externo, vem dos EUA e da União Européia, que deverão ter excesso de demanda na próxima década. Desde já, o governo brasileiro e empre- sários do setor estão atentos às oportunidades de difundir o biodiesel brasileiro pelo mundo.
  • 4. 6 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 7Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Até 2012, Petrobras investirá US$ 1,5 bi em biocombustíveis O s biocombustíveis brasi- leiros despontam como uma importante alter- nativa energética mun- dial e têm sido tratados com grande destaque em fóruns reali- zados no Brasil e no exterior. A estra- tégia da Petrobras nesse contexto, se- gundo o diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, é “atuar globalmente na comercialização e lo- gística de biocombustíveis, tendo uma participação expressiva na produção nacional de biodiesel e ampliando sua participação no negócio de etanol”. Para fazer frente aos novos desa- fios e tornar-se referência mundial em biocombustíveis, a Petrobras está investindo cerca de US$ 1,5 bilhão no setor, recursos previstos no Plano de Negócios 2008-2012. “O Brasil apre- senta muitas vantagens comparati- vas neste promissor mercado. Além disso, os biocombustíveis são uma excelente oportunidade de cresci- mento sócio-econômico em regiões agrícolas pouco exploradas e possibi- litam, ao mesmo tempo, o fortaleci- mento da agricultura familiar numa estrutura de desenvolvimento sus- tentável”, disse o diretor da estatal na abertura do seminário. Costa garantiu ainda que a Petro- bras vai continuar investindo no de- senvolvimento dos biocombustíveis, independentemente das oscilações no preço do petróleo. “A alternativa para a matriz energética mundial são os com- bustíveis mais limpos, com prioridade para o etanol e o biodiesel”, apontou. Mudanças no mercado A mistura de 25% de etanol na gasolina e a crescente utilização de veículos flex fuel vêm causando mudanças no mercado brasileiro de combustíveis. “Para termos uma idéia mais concreta, no estado de São Pau- lo, maior mercado de combustíveis no Brasil, vendemos hoje mais etanol do que gasolina”, destacou. De olho nesse potencial, está em estudos a criação de cerca de 20 no- vos complexos bioenergéticos (CBios), frutos de parcerias entre empresas do setor sucroalcooleiro com a Petro- bras e a japonesa Mitsui. Estas unida- des produzirão etanol para exporta- ção, além de gerar energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Cada CBio poderá contar ainda com uma unidade de produção de biodie- sel para abastecer tratores, cami- nhões e colheitadeiras. Para comercializar a produção bra- sileira do CBio Itarumã, no mercado japonês, foi criada a empresa PB Bio Trading, sediada em Cingapura e com controle acionário dividido igualita- riamente entre Petrobras e Mitsui. Nesse modelo de negócios, em parceria com empresas internacio- nais e produtores brasileiros, a meta é atingir, em 2015, a produção e ex- portação anual de 4,75 milhões de m3 anuais de etanol. A largada já foi dada. De 2007 a 2008, cresceu 404% a exportação de etanol pela Petrobras, que começa o ano de 2009 abrindo novos mercados: a partir de janeiro, a companhia faz seu primeiro fornecimento à Costa Rica. Segundo consultorias especializadas, a estimativa de exportação de etanol brasileiro em 2008 foi de aproximada- mente 4,2 milhões de m3. Desse total, o sistema Petrobras comercializou 605 mil m3 para os EUA, Europa e Ásia. Sinal verde Além de aprimorar as tecnologias já utilizadas, a Petrobras está inves- tindo no desenvolvimento dos com- bustíveis de segunda geração. “Outra rota promissora é a do bioetanol ou etanol de lignocelulose, álcool com- bustível produzido com a ação de en- zimas”, anuncia Costa. No caso do biodiesel, o diretor de Abastecimento da Petrobras revela que houve incerteza no primeiro semestre de 2008 devido ao aumento dos preços das matérias-primas, mas “a atuação da empresa, disponibilizando seus es- toques estratégicos quando necessário, permitiu avançar com o programa”. Em janeiro de 2008, teve início a adição obrigatória de 2% de biodie- sel ao diesel mineral (mistura B2), que corresponde a um mercado de 440 mil m3 no semestre. Em julho, o percentual passou para 3% (mistura B3), aumentando para 660 mil m3 o volume semestral. “Ao final de 2008 o mercado esteve plenamente atendido e funcionando normalmente, demonstrando o amadu- recimento do programa”, avalia Costa. A Petrobras ainda planeja imple- mentar duas novas plantas-piloto de biodiesel no Rio Grande do Norte, que terão tecnologia para o aproveita- mento de vários tipos de oleaginosas, de forma a adaptar a produção às cul- turas típicas de cada região. Paulo Roberto Costa ➔ “Os biocombustíveis são uma excelente oportunidade de crescimento sócio- econômico em regiões agrícolas pouco exploradas, o que fortalece a agricultura familiar numa estrutura de desenvolvimento sustentável” DISTRIBUIÇÃO POR SEGMENTO DE NEGÓCIOS Período 2008-12 US$ 112,4 bilhões O setor de biocombustíveis receberá US$ 1,5 bi, cerca de 1% dos investimentos totais da Petrobras previstos para os próximos quatro anos. G&E 6% (6,7) Petroquímica 4% (4,3) Distribuição 2% (2,6) Caorporativo 2% (2,6) Biocombustível 1% (1,5) Dowstream (RTC) 26% (29,6) E&P 58% (65,1) US$ 65,1 bilhões destinados ao E&P: •Exploração: US$ 11,6 bilhões •Produção: US$ 53,5 bilhões DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM BIOCOMBUSTÍVEIS – US$ 1,5 BI HBio 4% Outros 21% Biodiesel 29% Outros e alcooldutos 29% Cerca da metade dos investimentos em biocombustíveis será destinada para a melhoria do escoamento da produção. Investimentos da Petrobras – Plano de Negócios 2008-2012 Fonte: Petrobras (2008)
  • 5. 8 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 9Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Não há crescimento sem consumo de energia N ão há forma de crescimento co- nhecida que não passe pelo aumen- to do consumo de energia. Esta é a questão cen- tral do debate sobre a inclu- são de fontes alternativas na matriz energética mundial, na avaliação do secretário de Pe- tróleo, Gás Natural e Combus- tíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), José Lima, que participou do semi- nário representando o ministro Edison Lobão. “Continuar cres- cendo cada vez mais, melho- rando a matriz energética, é o maior desafio que enfrentamos hoje”, afirmou. De acordo com o secretário, embora o petróleo continue sendo a principal fonte de ener- gia no mundo nos próximos 30 anos, os biocombustíveis vão ga- nhar importância progressiva. E é neste contexto que o Brasil se destaca: 46% da energia con- sumida no País vêm de fontes renováveis, contra apenas 13% observada na média mundial e 7% nos países da OCDE (Orga- nização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que reúne as economias mais ricas do planeta. Atualmente, os biocombustí- veis estão no topo das discus- sões da agenda brasileira de energia. Segundo o secretário do MME, a segurança energé- tica é fonte de preocupação até mesmo para os países produto- res e exportadores de petróleo – seja com o preço do produto em alta, como no passado recente, ou em queda acentuada, como ocorreu no final de 2008. “O mundo estava preocupado com a alta do preço do petróleo, que chegou a US$ 140 o barril, re- presentando um risco de ruptu- ra para o crescimento mundial. Assustava até os produtores. Agora, se discute na OPEP o que fazer para que não continue a cair tanto”, comparou. Liderança em agroenergia Na avaliação de Lima, 2008 foi um ano muito importante para a trajetória dos biocom- bustíveis no Brasil, principal- mente devido a dois fatores: o aumento expressivo do con- sumo de etanol, que superou o consumo de gasolina neste período (impulsionado pelo au- mento de vendas de veículos flex fuel), e a adição obrigató- ria de 2% de biodiesel ao die- sel mineral, ampliada para 3% em julho passado. Este desem- penho por si só, acrescentou o secretário, levou o Brasil à lide- rança mundial no setor. Lima também chamou a aten- ção para a maturidade do eta- nol brasileiro e disse que seria injusta uma eventual compa- ração com o programa de bio- diesel, que ainda está na infân- cia. “O programa do álcool, na vertente da agricultura, contou com o desenvolvimento de pes- quisas, e hoje a produtividade é muito maior, com ganhos tam- bém no processamento. Isso trouxe competitividade para o álcool, como deve acontecer também com o biodiesel. Ainda não tivemos tempo para fazer todos os testes das possíveis ro- tas tecnológicas que levarão ao aumento da produtividade das oleaginosas”. Desafios para o futuro O governo brasileiro, res- saltou o secretário, defende a queda das barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos e alguns países da Europa e re- afirmou essa posição durante um recente fórum realizado em São Paulo, do qual parti- ciparam mais de 90 países e cerca de 30 instituições. “Se o mundo precisa de energia, por que os países ricos conti- nuam impondo barreiras? Eles deveriam promover a inclusão daqueles que estão à margem, e o Brasil tem provocado essa discussão”, afirmou. Além de ser imprescindível derrubar as barreiras tarifárias, há uma série de medidas que de- veria nortear o mercado de fon- tes alternativas de energia, se- gundo Lima. A primeira delas é transformar os biocombustíveis em commodities internacionais – tese igualmente defendida no seminário pelo secretário de Es- tado de Desenvolvimento Eco- nômico do Rio de Janeiro, Júlio Bueno. É preciso também au- mentar a base de consumidores e incentivar a entrada de outros países no processo de produção. “Os biocombustíveis já integram a realidade brasileira, mas é pre- ciso rever estas questões mun- diais para formar um mercado mais amplo, pois todos ganham com as mudanças na matriz energética”, garantiu. Lima ainda destacou que é necessário investir mais em desenvolvimento tecnológico, especialmente no etanol de se- gunda geração. Segundo ele, as pesquisas são fundamentais para reduzir os custos de produ- ção, garantindo competitividade aos biocombustíveis brasileiros. “Não se deve medir competiti- vidade pelo preço, mas sim pelo custo de produção”, concluiu. José Lima ➔ “Se o mundo precisa de energia, por que os países ricos continuam impondo barreiras? Eles deveriam promover a inclusão daqueles que estão à margem e o Brasil tem provocado essa discussão” ➔ “Os biocombustíveis já integram a realidade brasileira, mas é preciso rever estas questões mundiais para formar um mercado mais amplo, pois todos ganham com as mudanças na matriz energética” MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA 2007 Lenha 12% Petróleo e derivados 37,4% Gás natural 9,3% Carvão mineral 6% Nuclear 1,4% Cana-de- açúcar 15,9% Outras biomassas 3,2% Hidroeletricidade 14,9% ENERGIARENOVÁVE L Na matriz energética brasileira, 46% correspondem a recursos renováveis (hidroeletricidade, cana-de-açúcar, lenha e outras biomassas) Fonte: MME (2007) MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL 2007 Petróleo e derivados 35% Gás natural 20,7% Carvão mineral 25,3% Nuclear 6,3% Biomassa 10% Outras renováveis 0,5% Hidroeletricidade 2,2% ENERGIA RENOVÁVEL Apenas 12,7% das fontes de energia na matriz energética mundial são renováveis (hidroeletricidade, biomassa e outros) Fonte: MME (2007)
  • 6. 10 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 11Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 É preciso diversificar as fontes energéticas e de suprimento A segurança no suprimen- to de energia, ao lado das questões ambien- tais, deve ser o vetor da introdução dos biocom- bustíveis na matriz energética mun- dial. A opinião do presidente da mais nova subsidiária da Petrobras – a Pe- trobras Biocombustível (PBio) – tem o peso da preocupação que hoje se abate sobre os países que ainda de- pendem da importação de combustí- veis para garantir o consumo interno. Alan Kardec Pinto começou sua pa- lestra ressaltando a vulnerabilidade dos Estados Unidos, que dependem da importação de 2/3 do petróleo que consomem – a maior parte prove- niente dos países do Oriente Médio. “É uma dependência complicada. Se houver uma ruptura no fornecimen- to, dá para imaginar o tamanho do problema”, alertou. Para ele, a solução está na diversi- ficação das fontes energéticas, con- dição que coloca o Brasil em situa- ção privilegiada por ser o país que tem mais capacidade de produzir biocombustíveis sem competir com a produção de alimentos. “O Brasil produz petróleo e biocombustíveis de maneira sustentável. É um privi- légio ter grandes reservas de petró- leo e terra produtiva para o cultivo da cana-de-açúcar e de oleaginosas”, ressaltou. Kardec também alertou para a importância dos investimentos cres- centes que têm sido feitos para que o Brasil não perca a corrida tecnológi- ca disputada hoje com outros países, especialmente os Estados Unidos e o Canadá, para a produção de eta- nol de segunda geração. “Os esforços do Brasil e da Petrobras, através de seu centro de pesquisa e desenvol- vimento, Cenpes, têm sido no sen- tido de promover um investimento crescente em tecnologia, para pelo menos chegar junto com estes dois países na corrida pela produção de etanol”, afirmou. Segundo Kardec, a PBio espera que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, promova a sustentabilidade da ma- triz energética local e retire os sub- sídios à produção de milho, principal matéria-prima do etanol americano. Na sua avaliação, o programa bra- sileiro de biodiesel deve ser consi- derado altamente vitorioso, pois em apenas três anos já tem produção superior à demanda (decorrente da adição compulsória de 3% de biodie- sel ao diesel mineral) e ainda gera emprego e renda no campo. A Petro- bras tem um programa de fortaleci- mento de cooperativas de agriculto- res familiares, e trabalha com uma meta de 80 mil agricultores para o fornecimento de parte da matéria- prima para as três usinas de biodie- sel já instaladas. “Produzimos muito mais do que uma energia limpa e renovável. Produzimos qualidade de vida e cidadania”, declarou. Segundo o presidente da PBio, as energias renováveis responderão por 75% do consumo mundial em 2100. “Está para nascer o dia em que vai faltar mercado para quem produz energia”, previu. “A cada mês, somos procurados em média por quatro delegações in- ternacionais para conhecer as con- dições tecnológicas e a nossa visão de produção e comercialização dos biocombustíveis”, informou ele, ob- servando que essa procura demons- tra o grande interesse pelo programa brasileiro. “O mundo está fervilhan- do na busca por fontes alternativas de energia e países que forneçam os combustíveis de maneira sustentá- vel”, comentou. Alan Kardec ➔ “Em 2100, as energias renováveis responderão por 70% do consumo mundial. Está para nascer o dia em que vai faltar mercado para quem produz fontes de energia” ➔ “Somos uma empresa de energia e é nossa obrigação aproveitar a oportunidade que temos aqui. Poucos países no mundo reúnem tantas condições favoráveis como o Brasil” Meta é produzir 938 mil m3 cúbicos de biodiesel em 2012 A Petrobras Biocombustí- vel (PBio) foi criada em julho de 2008 para integrar os es- forços do sistema Petrobras no setor de agroenergia. A nova subsidiária, respon- sável pelo desenvolvimento de projetos de produção e gestão de etanol e biodiesel, prevê investimentos de US$ 1,5 bilhão até 2012. A meta é liderar a produção nacio- nal de biodiesel e ampliar a participação no negócio de etanol, com foco no merca- do internacional. A PBio tem dois objetivos fundamentais, segundo o diretor Alan Kardec Pinto. O primeiro é a produção de energia respeitando o equilíbrio ambiental, uma contribuição direta da Pe- trobras para a redução do aquecimento global. A se- gunda, de cunho estraté- gico, é atender a crescente demanda mundial por bio- diesel. “Somos uma em- presa de energia e é nossa obrigação aproveitar as oportunidades que temos aqui. Poucos países reúnem Atualmente o sistema Petrobras possui três unidades produtoras de biodiesel, das quais duas já estão em pleno funcionamento biocombustível. A entrega fez parte do acor- dado nos leilões promovidos pela Agência Na- cional de Petróleo, Gás Natural e Biocombus- tíveis (ANP), em que foram comercializados mais de oito mil m3 de biodiesel. A PBio conta ainda com uma usina em Qui- xadá, no Ceará, que entregou sua primeira produção, de 73 m3 de biodiesel, também em outubro do ano passado. Uma terceira usina, localizada em Montes Claros, em Minas Ge- rais, está em fase final de montagem. A capacidade total de produção das três usinas será de 170 mil m3 por ano. A meta é chegar em 2012 à liderança na produção nacional de biodiesel, com 938 mil m3 pro- duzidos anualmente. A matéria-prima para as usinas virá prioritariamente da agricul- tura familiar, gerando emprego e renda no campo para mais de 55 mil pessoas. O in- vestimento por parte da Petrobras é de R$ 295 milhões. tantas condições favoráveis como o Brasil. Terra, água, sol, mão-de-obra, tecnologia, tudo o que é essencial para se ter sucesso no segmento. Sem falar na função social que va- mos desenvolver a partir da agricultura fa- miliar”, explica Kardec. Atualmente o sistema Petrobras possui três unidades produtoras de biodiesel, das quais duas já estão em pleno funcionamento. A primeira fica em Candeias, na Bahia, e tem capacidade instalada de produção de até 57 mil m3 de biodiesel por ano. Além da enorme flexibilidade no uso de matérias-primas, a unidade apresenta diferenciais importantes, com destaque para os sistemas de instru- mentação e controle totalmente automatiza- dos, e o inovador sistema de processamento de óleos vegetais brutos. Em outubro de 2008, a Usina de Candeias entregou o primeiro carregamento comercial de biodiesel da PBio, com cerca de 45 m3 do No segmento de etanol, a companhia criou um modelo de negócio baseado na busca de parcerias com empresas sucroalcooleiras nacionais e investidores internacionais que possuam mercado para exportação. Recen- temente a Petrobras fechou um acordo com a japonesa Mitsui para a construção de 20 novos complexos bioenergéticos (CBios), voltados principalmente para produção de etanol para o mercado externo. Com este modelo, espera-se atingir em 2012 a produ- ção e exportação anual de 4,75 milhões de m3 de etanol. A nova subsidiária da Petrobras assume o desafio de crescer observando sempre a sus- tentabilidade empresarial, social e ambiental. A empresa está igualmente comprometida com a obtenção do Selo Combustível Social e com as premissas do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), lançado pelo Governo Federal em 2005.
  • 7. 12 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 13Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Biocombustíveis não ameaçam áreas verdes nem produção de alimentos O Brasil é o único país a apresentar clara via- bilidade econômica na produção de biocom- bustíveis sem amea- çar áreas de proteção ambiental ou a segurança alimentar. As lavouras de cana-de-açúcar, principal maté- ria-prima do etanol, estão situadas entre 2 mil e 2,5 mil quilômetros de distância da floresta amazônica e compreendem apenas 1% do territó- rio nacional, enquanto a Amazônia, o Pantanal e outras áreas protegidas somam mais de 50% do território brasileiro. Outros tipos de lavoura utilizam apenas 7,6% das terras do País. Já as pastagens ocupam 20%. ra em ambiente sustentável, nego- ciando, ao mesmo tempo, as quedas de barreiras de exportação”. Em relação ao programa brasilei- ro de biodiesel, Bertone o considera o mais completo e abrangente do planeta. Além de melhorar as condi- ções de vida do trabalhador rural e respeitar o meio ambiente, aumenta o grau de independência energética do país ao buscar diversificar as ma- térias-primas. “O objetivo do minis- tério é a produção com sustentabi- lidade, no âmbito social, ambiental e econômico. Se não atender a estes requisitos e o custo de produção não for reduzido, o programa não vai pra frente”, avisou. Oportunidade em meio à crise Bertone defendeu a política bra- sileira de agroenergia e criticou os países que impõem barreiras ta- rifárias ao etanol. “O mundo pre- cisa fazer negócios de forma mais limpa. As barreiras sempre foram combatidas pelo governo brasileiro, que defende a liberdade para oferta e demanda”. O representante do MAPA previu que os “fatos andam divergindo das versões”. Citando o exemplo dos norte-americanos, ponderou: “Os Estados Unidos estão com cla- ro problema de produção, e não falam mais em fome do mundo. O empresariado passou a ter mais importância que a sociedade.” Bertone salientou também que a cana-de-açúcar continua sendo um produto extremamente rentável, embora o setor se encontre atual- mente em franca dificuldade para manter seus investimentos devi- do à crise. Segundo o secretário, a produção de biocombustíveis não só representa uma excelente opor- tunidade para obter ganhos finan- ceiros, como pode ajudar o país a garantir sua independência energé- tica, promovendo ainda a redução da emissão de CO2 na atmosfera. O representante do MAPA obser- vou também que não cabe ao gover- no certificar as commodities agrí- colas, sendo esta tarefa exclusiva ao setor privado. Isso, no entanto, não significa que o Estado deva ab- dicar de mecanismos de controle. a redução da área plantada e a que- da no volume de produção de eta- nol, por causa da crise econômica mundial, mas reafirmou sua crença de que a cana-de-açúcar continua- rá sendo a segunda mais importan- te fonte de energia no Brasil, atrás apenas do petróleo e à frente das hidrelétricas. “Vai ser difícil alijar o Brasil desse processo. Temos tecno- logia, marco regulatório, terra fértil e sol e água em abundância. Não podemos errar no uso de nossos re- cursos naturais”. O secretário ressaltou que as commodities agrícolas perderam preço depois de deflagrada a crise, em setembro passado, e levaram os críticos do programa brasileiro a esquecer o problema da fome mun- dial. “O Brasil tem um claro recado a dar ao mundo: vamos produzir etanol e alimento de forma sus- tentável e com excedente”, avisou, informando que há 20 milhões de pessoas comendo melhor no país. Na sua avaliação, a polêmica em torno dos biocombustíveis e da produção de alimentos se dá por- Segundo o Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agri- cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Manoel Vicente Bertone, não há projetos agrícolas que pos- sam ser instalados em regiões de preservação ambiental, nem o go- verno federal permitirá a constru- ção de usinas de álcool em regiões destinadas à produção de alimen- tos. “Temos uma das legislações de proteção ambiental mais rigorosas do mundo. Não existe qualquer ris- co de se levar a produção de cana para a Amazônia ou para o Panta- nal, tampouco de se utilizarem re- giões onde se cultivam alimentos. Se a cana tiver que ocupar alguma área, poderia chegar até as regiões de pecuária, substituindo pastagens subutilizadas”, afirmou Bertone. O etanol produzido a partir da cana-de-açúcar é, atualmente, o único biocombustível verdadeira- mente sustentável no mundo, mas a liderança neste mercado só virá com um planejamento político adequado, advertiu o Secretário de Produção e Agroenergia. Para isso, o governo re- aliza um zoneamento agro-ecológi- co responsável, investe em pesquisa e tecnologia, apóia o pequeno pro- dutor, gera emprego e desenvolve a infra-estrutura e logística no País, reduzindo o Custo Brasil. “Nosso de- safio é produzir energia e agricultu- Manoel Vicente Bertone ➔ “Nosso desafio é produzir energia e agricultura em ambiente sustentável, negociando, ao mesmo tempo, as quedas de barreiras de exportação” ➔ “O Brasil tem um claro recado a dar ao mundo: vamos produzir etanol e alimento de forma sustentável e com excedente” DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS NO BRASIL Áreas verdes e/ou protegidas Floresta Amazônica Áreas protegidas Florestas plantadas Pastagens Lavouras anuais Lavouras perenes (exceto cana) Cultivo de cana-de-açúcar Outros usos Áreas urbanas Áreas não exploradas TOTAL Áreas produtivas Outras Uso Área ocupada 42,0% 8,3% 0,7% 20,0% 6,5% 1,1% 0,9% 4,5% 2,5% 13,5% 100,0% O Fonte: MAPA (2008) Á Á p As áreas verdes e protegidas somam 51% do território nacional, enquanto as áreas produtivas ocupam apenas 33%.
  • 8. 14 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 15Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 FAO: produção brasileira não provoca alta no preço dos alimentos A produção de etanol deri- vado da cana-de-açúcar no Brasil não teve qual- quer influência sobre o brusco aumento que se registrou nos preços dos alimentos a partir de 2007. Quem assegura é o secretário do Grupo Intergoverna- mental sobre Grãos da Organização das Nações Unidas para Agricultu- ra e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian, um dos palestrantes do evento. “Acabou a era da comida barata, à qual estávamos tão acos- tumados. Trabalho neste setor há 18 anos e nunca vi tantos problemas em países exportadores”, comentou o secretário. Segundo Abbassian, o uso pro- gressivo do milho para a produção de etanol nos Estados Unidos é ape- nas um dos vários fatores respon- sáveis pelo impacto no preço dos alimentos. “Se a produção norte- americana de etanol fosse inter- rompida, certamente haveria uma queda no preço do milho. Mas, no caso do Brasil, o etanol da cana-de- açúcar não compete com a produ- ção de alimentos”, explicou. Estudos elaborados pela FAO demonstram que, nos últimos 30 anos, o valor da cesta básica global caiu pela metade, registrando uma queda anual média de 2 a 3%. A co- mida jamais havia sido tão barata, até começarem os problemas nos países produtores de grãos. Entre 2006 e 2007, os preços dos alimen- tos subiram drasticamente. Mu- danças climáticas prejudicaram as colheitas em muitas regiões do mundo. O medo da falta de comida disponível para o consumo interno reduziu as exportações. Enquanto a oferta de cereais diminuía, a de- manda não parava de crescer. “Mas não foi só isso. Houve uma conjun- ção de fatores e nenhum deles está relacionado diretamente ao uso mais amplo dos biocombustíveis”, afirmou Abbassian. O representante da FAO explicou que a súbita elevação dos preços dos alimentos foi seguida de uma queda igualmente vertiginosa em 2008. As condições climáticas favoreceram a produção de cereais dos principais exportadores. Em algumas regiões desenvolvidas, como União Euro- péia, Austrália e Canadá, houve au- mentos superiores a 11% no ano. A eliminação de restrições às expor- tações em alguns países também aumentou a oferta. A recente crise econômica mundial só agravou este quadro, com a queda do preço do petróleo, o fortalecimento do dólar e a contração da demanda por gê- neros agrícolas. Abbassian explicou também que a volatilidade nos preços dos ali- mentos é extremamente perigosa para a economia mundial, pois to- dos os setores produtivos estão in- terligados, transformando a crise num fenômeno cíclico, em cadeia. “Se os preços continuarem baixos e as colheitas nas safras seguintes forem afetadas, verificaremos um aumento ainda mais forte nos pre- ços dos alimentos em 2009 e 2010, desencadeando crises ainda mais severas do que a atual“, frisou o especialista, observando ainda que Abdolreza Abbassian ➔ “Se a produção norte-americana de biocombustível de milho fosse interrompida, certamente haveria uma queda no preço do milho. Mas, no caso do Brasil, o etanol da cana- de-açúcar não compete com a produção de alimentos” Brasil é exemplo positivo de desenvolvimento sustentável O Brasil tem sido poupado das críticas da Organização das Nações Uni- das para a Agricultura e a Alimentação (FAO) quanto aos riscos que a pro- dução de biocombustíveis pode representar para a segurança alimentar. Ao contrário, o País é apontado por diversos dirigentes da entidade como exemplo positivo de desenvolvimento sustentável, já que o etanol de cana- de-açúcar, além de reduzir as emissões de CO2 na atmosfera, não afeta o preço da matéria-prima nem de outros gêneros agrícolas. Ao longo de 2008, a FAO expressou diversas vezes sua preocupação em relação à escassez de alimentos nos países pobres pela destinação de cul- tivos agrícolas para a produção de biocombustíveis. Os relatórios da insti- tuição enfatizaram a necessidade de todos os países produtores de agro- energia cuidarem também da segurança alimentar, a fim de não agravar problemas sociais já conhecidos. Entre os riscos que podem surgir com o aumento dos biocombustíveis es- tão os conflitos pelo uso de terras, mais agudos em países com menos áreas agricultáveis destinadas à produção de alimentos, como a China ou a Índia. De acordo com o relatório anual A situação da agricultura e da alimenta- ção, divulgado pela FAO em outubro de 2008, a competição entre cultivos agrícolas para alimentação ou para energia deve se acirrar, uma vez que a produção de biocombustíveis triplicou entre 2000 e 2007 e já responde por quase 2% do consumo mundial de combustíveis para o transporte. En- quanto o etanol americano, de milho, contribui para a carência alimentar, o etanol de cana brasileiro é apontado como um correspondente competi- tivo de combustíveis fósseis, daí sua crescente aceitação. Segundo o documento, os biocombustíveis apresentam riscos e oportu- nidades, mas as políticas têm que ser bem gerenciadas para que os benefí- cios sejam mais relevantes. Até agora, no parecer da FAO, a agroenergia já provocou pressões sobre o preço dos alimentos e não necessariamente con- tribuiu para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa. A instituição indaga se o desmatamento para expansão de lavouras de matérias-primas para biocombustíveis teria efeito negativo sobre a qua- lidade do ar. O principal temor, no entanto, está em que os incentivos ao plantio de milho e de sementes oleaginosas para a indústria de biocom- bustíveis venham a incidir ainda mais sobre os preços de alimentos e reduzam progressivamente as plantações voltadas para a alimentação. A previsão da FAO é que a demanda por suprimentos agrícolas para biocombustíveis continue crescendo na próxima década. Os altos preços das commodities agrícolas já causaram impacto negativo em países em de- senvolvimento que são muito dependentes das importações para suprir suas necessidades alimentares. Na ocasião, o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, afirmou que os biocombustíveis gerados a partir de sementes de cereais têm contribuí- do para o aumento da fome no mundo. Nos últimos anos, o número dos que passam fome no planeta aumentou de 848 milhões para 923 milhões de pessoas. Para impedir o agravamento da situação, Diouf pediu que as políticas para biocombustíveis sejam revistas, exceto no caso do Brasil, considerado um modelo no setor. O diretor da FAO disse ainda que o investimento em pesquisa e de- senvolvimento da próxima geração de biocombustíveis – com madeira, gramíneas ou resíduos de lavouras – “tem mais potencial em termos de redução de emissões de gases de efeito estufa, com menos pressão na base de recursos naturais”. ➔ Nos últimos 30 anos, o valor da cesta básica global caiu pela metade. A comida jamais havia sido tão barata, até começarem os problemas nos países produtores de grãos apesar das altas e baixas, em ter- mos nominais, os preços das com- modities agrícolas atingiram um recorde histórico e continuarão re- lativamente elevados no futuro. Em raciocínio oposto ao dos crí- ticos que alertam para riscos de aumento no preço de produtos ali- mentícios por causa dos biocom- bustíveis, o representante da FAO argumentou: “O aumento do preço de energia pressiona para cima os custos de insumos agrícolas, mas uma oferta maior de energia, inclu- sive por meio de fontes alternativas, poderia reduzir o preço desses insu- mos e, consequentemente, provoca- ria queda no valor dos grãos.” A VOLATILIDADE DOS PREÇOS DOS CEREAIS POR QUE SUBIRAM (2006-2007): EXCESSO DE DEMANDA POR QUE DESCERAM (2008-2009): EXCESSO DE OFERTA Fonte: FAO/ONU (2008) Queda significativa na produção dos maiores exportadores, a maioria devido ao clima. Esgotamento dos estoques internos e redução das exportações nos países produtores. Aumento progressivo da produção de etanol de milho nos EUA, o maior exportador do cereal. Mudanças no comércio externo, tais como medidas restritivas à exportação. Aumento das importações de milho e sorgo pela União Européia Outros fatores: desvalorização do dólar e aumento do preço do petróleo, dos insumos e dos custos de transporte. Recuperação da produção dos maiores exportadores, devido ao clima favorável e ao aumento da área de cultivo. Crescimento dos estoques internos e volumes disponíveis para exportação nos países produtores. Comercialização de grandes volumes em função de uma perspectiva de preços menores. Abolição de medidas restitivas à exportação em vários países. Crise financeira mundial: retração da demanda, valorização do dólar e queda do preço do petróleo, dos insumos e dos custos de transporte. Q d m E i e p A p n c M t e A m E A O d p c C d e d R m c á A e C v p C i p p C
  • 9. 16 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 17Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Amazônia é peça central no debate sobre o clima O Brasil é um dos países que mais contribuem para o aquecimento glo- bal, lançando por ano na atmosfera o equiva- lente a 1 bilhão de toneladas de dió- xido de carbono (CO2), 13 milhões de toneladas de metano (CH4) e 550 mil toneladas de óxido nitroso (N2O). Os números foram divulgados pelo pri- meiro inventário nacional de emissão de gases de efeito estufa, publicado em 2004 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Embora seja responsável por 6% dos gases do efeito estufa, o Brasil está isento de cumprir metas com- pulsórias de redução estipuladas pelo Protocolo de Kyoto, por ser uma região em desenvolvimento. A partir de 2012, no entanto, o País, ao lado de outros emergentes como a Índia e a China, terá de intensificar seu com- promisso de reduzir as emissões. A Amazônia é peça central nesse debate, já que aproximadamente 75% das emissões de CO2 do Brasil são ori- ginadas pelo desmatamento, trans- formando áreas de floresta e cerrado em pastos e plantações. Qualquer re- dução das emissões brasileiras passa obrigatoriamente, portanto, por uma redução dessa atividade. O petróleo queimado nos Esta- dos Unidos e o carvão incinerado na China ainda são os maiores respon- sáveis pelo agravamento do efeito estufa, mas a devastação das flores- tas não fica muito atrás, responden- do por quase um quinto de todas as emissões de dióxido de carbono do mundo. Em dezembro de 2007, teve início uma nova rodada de negociações in- ternacionais para conter a emissão de gases causadores do efeito estufa. No encontro, realizado em Bali, na In- donésia, o governo brasileiro propôs a criação de um fundo mundial para ajudar a proteger a floresta amazôni- ca. Desta forma, o Brasil busca arre- cadar R$ 1 bilhão em contribuições voluntárias, mas até agora somente a Noruega deu sinais de que está dis- posta a participar. Um dos pontos defendidos forte- mente pelo governo brasileiro nas novas rodadas de negociação é que os países emergentes não podem simplesmente abrir mão do progres- so. “A equação é como estabelecer um processo capaz de fazer o país reduzir suas emissões sem que isso signifique impedi-lo de ter acesso ao atendimento de infra-estrutura e energia para seu desenvolvimento econômico e social”, disse à revista Exame a ex-ministra do Meio Am- biente, Marina Silva. Os demais países acreditam que a solução mais razoável é criar um sis- tema de créditos que remunere quem ajudar a evitar o desmatamento no Brasil. Apesar de ainda não haver uma sinalização clara de quem vai pagar a conta, os avanços são notá- veis: o índice anual de devastação das áreas de floresta caiu mais de 50% e o governo brasileiro passou a estabe- lecer limites precisos e rígidos para o desmatamento. Do ponto de vista financeiro, as oportunidades do mercado de crédi- tos de carbono, que tem no Brasil um dos países mais ativos, devem ficar muito mais atraentes a partir de 2009. No primeiro trimestre, entra em ope- ração a Green Exchange, uma nova bolsa mundial para a negociação da moeda verde. Pertencente à New York Mercantile Exchange, maior mercado mundial de opções e futuros, a em- preitada conta também com o apoio de grandes nomes do setor financeiro mundial, como Morgan Stanley, Cre- dit Suisse, JPMorgan e Merrill Lynch. De acordo com especialistas, a Green Exchange tem o potencial de movi- mentação imediata de mais de US$ 60 bilhões no mercado de créditos de carbono. Como se vê, o verde – das florestas e do dinheiro – continuará a ser cor da moda por algum tempo. A agenda brasileira de desenvolvi- mento econômico deve andar junto com a área ambiental. O recado foi dado pela secretária Executiva do Ministério de Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, que representou o ministro Carlos Minc no seminário. Izabella explicou que as licenças se- rão concedidas, mas condicionadas a exigências para que as empresas pa- guem a compensação ambiental pe- los seus empreendimentos. Na área de biocombustíveis, espe- cialmente no mercado de etanol, a atuação do MMA não será diferente. “A ordem é incentivar a instalação de usinas de álcool ao longo do alcool- duto que a Petrobras está construin- do no estado de São Paulo”, disse ela, acrescentando que o licenciamento para esses projetos não pode ignorar o sistema de escoamento do produto. A secretária informou que o MMA também está empenhado em elimi- nar as queimadas nas plantações de cana-de-açúcar, que geram poluição ambiental e desperdício de energia. MMA: Brasil quer aumentar uso do etanol na matriz energética Clima seco provoca varios focos de incêndio no Rio - Reserva de Guaratiba na av das Americas sendo consumida pelo fogo Durante a Sessão Intergoverna- mental I – Biocombustíveis e Mu- danças Climáticas, realizada em São Paulo, em novembro de 2008, o ministro do Meio Ambiente, Car- los Minc, anunciou o compromis- so do Brasil em aumentar o uso do etanol na matriz energética na- cional em 11% ao ano. A medida evitará a emissão de 508 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, em dez anos. Os planos do governo brasileiro, segundo Minc, incluem a transfe- rência de tecnologia de produção de biocombustíveis para nações pobres da América Latina, Caribe, África e Ásia. No plano domésti- Área ambiental deve seguir agenda de desenvolvimento A redução deve ser gradual e passa pela mecanização das lavouras de cana. Izabella destacou ainda que no Rio de Janeiro e em São Paulo, prin- cipalmente, há legislações estaduais que tratam da eliminação das quei- madas e que devem servir de mode- los a serem seguidos pelos demais estados brasileiros. No caso do Rio, a erradicação da atividade ainda deve demorar 12 anos, segundo o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) as- sinado em dezembro do ano passado entre o governo estadual e os usinei- ros do Norte Fluminense. De acordo com a secretária estadu- al do Ambiente, Marilene Ramos, que também participou do seminário, as usinas precisam de tempo para que as queimadas possam ser total- mente eliminadas, pois é necessário adequar as plantações e investir na mecanização da lavoura. No painel – em que também foram discutidas barreiras não-tarifárias aos biocom- bustíveis, impostas por alguns países – Marilene disse que os compradores que fazem exigências ambientais e trabalhistas dos produtores têm de estar dispostos a pagar mais pelos produtos. “Está certo não querer com- prar biocombustível de quem devasta a natureza e não respeita os direitos trabalhistas. Mas esses compradores têm de concordar em pagar mais por isto”, concluiu. ➔ O petróleo queimado nos Estados Unidos e o carvão incinerado na China ainda são os maiores responsáveis pelo agravamento do efeito estufa, mas a devastação das florestas não fica muito atrás Marilene Ramos ➔ “Está certo não querer comprar biocombustível de quem devasta a natureza e não respeita os direitos trabalhistas. Mas estes compradores têm de concordar em pagar mais por isso” Carlos Minc ➔ “O Brasil se compromete a aumentar em 11% ao ano o uso do etanol na matriz energética brasileira, o que representará a não- emissão de 508 milhões de toneladas de CO² em dez anos” co, se buscará reduzir os custos da cadeia produtiva, utilizando subprodutos, como a palha da cana-de-açúcar, para geração de combustível, e o vinhoto, na com- posição de biogás e biofertilizan- tes. O ministro também ressaltou a relevância do papel do consumidor nesta luta. De acordo com Minc, é preciso ter consciência ambiental até mesmo em atos considerados de menor valor, como a regula- gem do motor do veículo. Estudos comprovam que um motor des- regulado consome 50% a mais de combustível, acelerando o aqueci- mento global. sendo providenciada foto de desmatamento na amazônia
  • 10. 18 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 19Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 100% Fonte: MAPA (2008) PRODUÇÃO NACIONAL DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS DO ETANOL E DO BIODIESEL ZONEAMENTO AGRO-ECOLÓGICO E ENERGÉTICO NORTE Cana-de-açúcar Soja Girassol Caroço de algodão Amendoim Mamona Volume (Ton.) 1.101.400 1.256.100 0 2.200 0 0 Part. na Prod. Nac. 0,3% 2,2% 0% 0,1% 0% 0% NORDESTE Cana-de-açúcar Soja Girassol Caroço de algodão Amendoim Mamona Volume (Ton.) 52.149.300 3.826.200 0 659.400 13.100 144.400 Part. na Prod. Nac. 12,3% 6,8% 0% 30,3% 5,4% 94,8% CENTRO-OESTE Cana-de-açúcar Soja Girassol Caroço de algodão Amendoim Mamona Volume (Ton.) 40.954.649 26.457.900 86.100 1.385.700 32.800 0 Part. na Prod. Nac. 9,6% 47,0% 71,8% 63,7% 13,5% 0% SUDESTE Cana-de-açúcar Soja Girassol Caroço de algodão Amendoim Mamona Volume (Ton.) 299.243.912 3.908.600 3.300 108.400 178.900 6.900 Part. na Prod. Nac. 70,3% 6,9% 2,8% 5,0% 73,8% 4,5% SUL Cana-de-açúcar Soja Girassol Caroço de algodão Amendoim Mamona Volume (Ton.) 32.086.500 20.867.500 30.600 19.800 17.600 1.000 Part. na Prod. Nac. 7,5% 37,1% 25,5% 0,9% 7,3% 0,7% BRASIL Cana-de-açúcar Soja Girassol Caroço de algodão Amendoim Mamona Volume (Ton.) 425.535.761 56.316.300 120.000 2.175.500 242.400 152.300 RELAÇÃO DAS UNIDADES SUCROALCOOLEIRAS CADASTRADAS NO DEPARTAMENTO DE CANA-DE-AÇÚCAR E AGROENERGIA DO MAPA - 2008 Região Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul BRASIL Açúcar Unds. 0 8 1 6 0 15 % 0 53,3 6,7 40,0 0 100,0 Fonte: MAPA (2008) Álcool Unds. 2 24 28 87 13 154 % 1,3 15,6 18,2 56,5 8,4 100,0 Mista Unds. 3 43 25 156 21 248 % 1,2 17,3 10,1 62,9 8,5 100,0 Total Unds. 5 75 54 249 34 417 % 1,2 18,0 12,9 59,7 8,2 100,0 2.500 km F l o r e s t a A m a z ô n i c a 2.000 km BALANÇO DE EMISSÕES DO CICLO DO ETANOL – 1. Cultivo e colheita Emissão de 2.961 kg de CO2 pelos tratores, colheitadeiras, insumos agrícolas e colheita manual (queima da palha da cana). 3. Processamento Emissão de 3.604 kg de CO2 na fermentação e queima do bagaço. 4. Co-geração 225 kg de CO2 deixam de ser emitidos com a geração de energia a partir do bagaço da cana. 6. Combustão Emissão de 1.520 kg de CO2 pelos veículos com motores flex fuel ou a álcool. SALDO FINAL Apenas 260 kg de CO2 lançados na atmosfera (contra 2.280 kg emitidos pelo ciclo completo da gasolina). Fonte: Unica (2007) RS SC PR SP MG RJ ES BA GO DF MS MT ROAC AM PA TO PI MA CE RN PB PE AL SE PLANTAS AUTORIZADAS PELA ANP PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL Fonte: MAPA (2008) Região Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Biodiesel Unidades 6 8 27 14 7 BRASIL: 62 unidades9,7% 12,9% 22,6% 11,3% 43,5% 70% Fonte: MME (2008) Região Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil Biodiesel Volume 27 143 125 36 43 374 7,2% (em mil m3) 38,2% 9,6% 11,5% 33,4% 2. Crescimento Absorção de 7.650 kg de CO2 no processo de fotossíntese. 5.Transporte Emissão de 50 kg de CO2 pelos caminhões- tanque movidos a diesel mineral. Fonte: Mapa/Unica (2007) A produção brasileira de etanol não ameaça áreas protegidas como o Pantanal e a Amazônia. As principais regiões produtoras de cana-de-açúcar, nas regiões Norte-Nordeste e Centro-Sul, estão situadas a 2 mil e 2,5 mil km da floresta amazônica, respectivamente. PRODUÇÃO NACIONAL DE ETANOL E BIODIESEL EM 2007 Região Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil Etanol Volume 48 1.902 2.902 15.782 1.923 22.257 0,2% (em mil m3) 8,4% 8,5% 12,9% 100% Fonte: MME (2008) O ciclo completo do etanol de cana-de-açúcar emite 89% menos CO2 que o da gasolina. A seguir, as quantidades de gás carbônico emitidas, reabsorvidas e evitadas para cada m3 de etanol produzidos e consumidos. + – + + = precisamos de mais esclarecimentos para fazer as alterações sugeridas para esta parte do info
  • 11. 20 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 21Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Embrapa põe o Brasil na ponta do negócio de agroenergia P rimeiro relato escrito sobre as terras brasileiras, a car- ta que o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou ao Rei de Portugal mencionava as áreas aparentemente férteis e clima propício ao plantio, no território que os descobridores portugueses ima- ginavam ser uma ilha, pronta para ocupação. Cinco séculos mais tarde, apesar das mudanças climáticas no planeta e das agressões à natureza, o agronegócio brasileiro comprova o que Caminha previa. A produção agrícola é responsável por 30% do PIB nacional, 40% das exportações e 37% dos empregos gerados no País. Há mais de 30 anos, o setor desco- briu sua importância na geração de energias renováveis com o Proálco- ol, e atualmente experimenta – sem comprometer a produção de alimen- tos – um novo momento de expansão com a produção dos biocombustíveis. Menos conhecido que o Proálcool, porém de importância similar, o uso energético de óleos vegetais no Brasil foi proposto em 1980, no Programa Nacional de Produção de Óleos Vege- tais para Fins Energéticos (Pró-Óleo). Na época, previa-se uma mistura de 30% de óleo vegetal ao óleo diesel, com perspectivas de sua substituição integral a longo prazo. Três décadas mais tarde, embora ainda não tenha surgido um substitu- to comercialmente viável para o die- sel mineral, os resultados obtidos com uma variedade de cultivos alternati- vos têm chamado a atenção de diver- sas instituições de incentivo à pesqui- sa, como a Embrapa Agroenergia. A entidade, criada em 2006, coor- dena pesquisas de abrangência na- cional, voltadas principalmente para a descoberta de novas fontes ener- géticas e aperfeiçoamento dos pro- cessos de produção e escoamento de biocombustíveis. Embora o setor seja dominado pela cana-de-açúcar e pela soja, um dos objetivos da Embrapa é incentivar pesquisas que aproveitem cultivos alternativos, como o dendê, o coco, o girassol, a mamona e o pinhão, beneficiando os pequenos produtores. “O Brasil é ponta no negócio de agroenergia e líder em tecnologia agrícola nos trópicos. Estamos à frente do mundo inteiro na produção de etanol de cana-de-açúcar, assim como nas pesquisas de bioetanol, e não corremos risco de desabasteci- mento alimentar algum, pois o Brasil é um dos poucos países do mundo a ter produção excedente de alimentos”, afirma o chefe-adjunto da Embrapa Agroenergia, Esdras Sundfeld. Território continental Maior país tropical do mundo, o Brasil apresenta importantes vanta- gens competitivas em relação a ou- tros produtores de biocombustíveis. O território continental oferece a pos- sibilidade de incorporação de novas áreas destinadas à agroenergia, que não competem com o plantio de ali- mentos. Segundo dados do Plano Na- cional de Agroenergia 2006-2011, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a fronteira agrícola soma cerca de 200 milhões de hectares. O Plano também aponta que um dos benefícios gerados pela cultu- ra voltada para os biocombustíveis é a geração de dez a vinte vezes mais em- pregos do que na alternativa fóssil. Outra vantagem competitiva bra- sileira, segundo o MAPA, viria da possibilidade de múltiplos cultivos ao longo do ano, com grandes e pe- quenas safras de diferentes produtos concomitantemente, algo que já vem sendo adotado na produção nacional de grãos. A diversidade climática é outro fator que favorece o plantio de diferentes espécies para a produção de biocombustíveis, reduzindo o ris- co de desabastecimento por perdas de colheita. O clima europeu, por ou- tro lado, só é propício para o cultivo de colza e de beterraba, enquanto os Estados Unidos focam em culturas de soja e de milho. Estima-se que até 2020, serão in- vestidos US$ 15 bilhões na pesquisa e produção de biocombustíveis em todo o mundo. Além da expectativa do aumento do consumo de etanol pelo mercado externo, as projeções são de que, até 2013, o Brasil tenha uma de- manda de, pelo menos, 2 milhões de m3 de biodiesel por ano. Otimização de processos Os projetos coordenados pela Embra- paabordamtodososaspectosdonegócio. Além de minimizar o impacto ambien- tal, há preocupação com a otimização de todos os processos, recomendando-se, inclusive, que o óleo produzido seja apro- veitado regionalmente, o que elimina os custos de logística e de distribuição, por exemplo. “Uma característica da empre- saéquesempreseprocuroufechartodos os ciclos de produção. Vamos do plantio ao processamento industrial. O desafio é aproveitar ao máximo as potencialida- des regionais e obter o maior benefício social na produção do biocombustível”, diz Sundfeld. Na corrida mundial pelo aprimora- mento dos biocombustíveis, a Embra- pa tem procurado aplicar tecnologia tanto às culturas tradicionais quanto às novas, como pinhão-manso, nabo- forrageiro, pequi e buriti, entre outras. Pesquisar o aproveitamento de resídu- os também é considerado prioritário. “Já se pode produzir etanol das sobras de madeira utilizada para móveis, que no Brasil vêm de florestas cultivadas. Além disso, tudo o que gera resíduo pode ser aproveitado, como o bagaço da cana, o algodão, o pinhão e a tor- ta da soja. A idéia é aproveitar como energético todo o subproduto, incluin- do até materiais poluentes, entre eles dejetos animais”, informa. A Embrapa, assim como instituições congêneres nos EUA e no Canadá, tam- bém tem priorizado pesquisas em ál- cool combustível de segunda geração, incluindo o etanol de lignocelulose, feito a partir de lascas de madeira, fo- lhas e resíduos de cana-de-açúcar, en- tre outros subprodutos orgânicos. Em agosto de 2008, associações de produ- tores de álcool no Brasil anunciaram seu interesse em financiar estudos co- ordenados pela Embrapa sobre etanol celulósico, apontado como o principal biocombustível do futuro. “Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados (...). Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!” Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manoel,de Portugal, maio de 1500. ➔ O território continental oferece a possibilidade de incorporação de novas áreas à agricultura de energia que não competem com o plantio de alimentos e que somariam cerca de 200 milhões de hectares ➔ A diversidade climática, que também reduz o risco de desabastecimento por perdas de colheita, é outro fator favorável ao plantio de diferentes espécies para a produção de biocombustíveis Esdras Sundfeld ➔ “O desafio é aproveitar ao máximo as potencialidades regionais e obter o maior benefício social na produção do biocombustível” PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR (Em milhões de toneladas) 200820072006200520042003200220012000199919981997 ÁREA DE CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR Fonte: MAPA (2008) (Em milhões de hectares) 200820072006200520042003200220012000199919981997 331,6 4,9 4,8 4,8 4,8 4,9 5,1 5,4 5,6 5,8 6,1 6,7 7,6 345,2 333,8 326,1 344,3 364,4 396 415,2 422 457,2 515,3 589,5 ÁREA DE CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR Em milhões de hectares) 4,9 4,8 4,8 4,8 4,9 5,1 5,4 5,6 5,8 6,1 6,7 alterações sendo feitas GRÁFICO DE USO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Defensivos agrícolas nas principais culturas brasileiras (em kg de ingrediente ativo por hectare) Fungicida Inseticida Acaricida Outros Produto Café 0,66 0,26 0,07 0,14 Cana 0,00 0,12 0,00 0,04 Laranja 3,56 0,72 10,78 1,97 Milho 0,01 0,18 0,00 0,09 Soja 0,16 0,46 0,01 0,51 SojaMilhoLaranjaCanaCafé Fonte: IEA (2008)
  • 12. 22 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 23Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Biocombustíveis de segunda geração: o futuro da energia R esíduos agroindustriais, lixo doméstico, serragem e gordura animal podem ser algumas das muitas fontes de energia do fu- turo. Cientistas do mundo inteiro se empenham na busca de novas maté- rias-primas para a produção de bio- combustíveis em escala industrial, que minimizem o impacto ambien- tal, reduzindo as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. No Brasil, a Petrobras tem liderados esses estu- dos, com apoio de diversas universi- dades e centros de pesquisa. O País, referência internacional em etanol, tem sido alvo do interes- se de diversas empresas estrangeiras que pretendem investir em biocom- bustíveis. Uma delas é a dinamar- quesa Novozymes, maior produtora mundial de enzimas industriais. A companhia assinou recentemente convênio com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em São Paulo, para selecionar a enzima mais adequada para a hidrólise do bagaço da cana- de-açúcar, processo que permite pro- duzir mais etanol sem necessidade de ocupar novas áreas agrícolas. Em 2010, a Votorantim e a Usi- na Santa Elisa, em Sertãozinho (SP), passarão a utilizar tecnologia de- senvolvida pela empresa americana Amyris, que aproveita o mesmo caldo da cana, utilizado como matéria-pri- ma de açúcar e álcool, para produzir diesel. A meta é atingir 400 mil m3 no primeiro ano de parceria e 1 milhão de m3 em 2012. Progresso movido a álcool Os estudos sobre biodiesel remon- tam à década de 1930, mas ainda há muito caminho a percorrer. Embora os custos de produção de biodiesel de soja no Brasil continuem relativamente ele- vados, estudos e testes com diferentes oleaginosas, igualmente abundantes na flora brasileira, têm se mostrado promissores. De acordo a Petrobras Biocombustível, subsidiária da estatal voltada para agroenergia, os biocom- bustíveis de segunda geração devem entrar em produção comercial até 2015. A estratégia é continuar investindo em tecnologia, buscando reduzir a depen- dência da soja como principal matéria- prima de biodiesel e construindo par- cerias empresariais para o escoamento da produção de etanol. Embora o álcool tenha sido o centro das atenções do programa brasileiro de biocombustíveis, o biodiesel é a verda- deira chave para o desenvolvimento nacional, acredita o cientista Expedito Parente, inventor do processo de fabri- cação do diesel vegetal. “Enquanto o etanol é um combustível elitista, volta- do apenas para os carros de passeio e veículosleves,obiodieselédemocrático, destinado ao transporte de massas. Daí a importância de haver diversidade nas fontes, barateando custos e, em algum momento, transformar o biocombustí- vel em indutor da produção de alimen- tos”, diz o pesquisador, que atualmente preside a Tecbio, empresa especializada em tecnologia do setor. “Vai chegar o dia em que o biocombustível será sub- produto do cultivo de alimentos”, prevê. Parente também realiza pesqui- sas pioneiras com bioquerosene para aviação, criado por sua equipe ainda na década de 1970. O primeiro teste foi em 1984, numa aeronave da Em- braer, que voou de São José dos Cam- pos (SP) até Brasília. De acordo com o especialista, o bioquerosene será liberado para o uso comercial em cinco anos, aproxi- madamente. Antes disso precisa ser testado exaustivamente, homologado e passar por normatizações técnicas de forma a atender as exigências das montadoras de aeronaves, fabricantes de turbinas e agências reguladoras. Alternativas energéticas são mais do que bem-vindas no setor, já que os combustíveis representam atualmen- te os maiores custos operacionais das companhias aéreas comerciais. “Chegamos à segunda onda da era dos biocombustíveis. A primeira foi o etanol, que, em seu lançamento, há mais de 20 anos, em 1973, teve como meta estabelecida uma produção de 2 milhões de m3 de álcool por ano. Hoje, passamos de 22 milhões, ou seja, onze vezes a meta inicial. O álcool é a loco- motiva que está orientando as ondas seguintes”, afirma Parente. Além de testes com bioquerose- ne, Parente acompanha o processo de instalação de pequenas unidades produtoras de biodiesel na Amazônia. “É uma experiência voltada para pe- quenas comunidades, que deixarão de desmatar para obter energia renová- vel. Daqui a cinco anos, este projeto atrairá a mesma atenção que o bio- querosene atrai hoje. Tecnologia nova precisa de um tempo hábil para ser testada e aprovada”, diz o cientista. Cenpes lidera pesquisas em bioetanol e biodiesel Há um ano, o Centro de Pesquisas e Desenvolvi- mento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras, produz experimentalmente o etanol de lignocelulose. Conhecido também como bioetanol, o combustível é gerado a partir de resíduos agroindus- triais, como o bagaço de cana-de-açúcar ou de ma- mona, através da ação de enzimas. Os testes, realiza- dos em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram promissores, demonstrando rendimento atual equivalente a 220 litros de etanol por tonelada de matéria-prima. Os resultados servirão de base para a implantação de uma unidade de demonstração em maior escala, a partir de 2010, com capacidade de processamento de dez toneladas de bagaço e produção de 2,8 m3 de etanol por dia. O projeto será implantado com o apoio da UFRJ, além de contar com a parceria da Universi- dade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O Cenpes também realiza pesquisas envolvendo processos de gaseificação de biomassa e produção de biodiesel a partir de algas. Originalmente, a tec- nologia de gaseificação consistia em converter o gás natural em gás de síntese, um produto orgânico in- termediário do qual se obtinha o combustível sinté- tico. Hoje se sabe que o gás de síntese também pode ser gerado usando a biomassa, levando à produção de diesel e outros combustíveis e lubrificantes de exce- lente qualidade e de origem renovável. As pesquisas sobre o desenvolvimento de biodiesel a partir de microalgas foram iniciadas em feverei- ro de 2006, no Rio Grande do Norte. Os estudos são conduzidos pelo Cenpes em parceria com a Fundação Universidade do Rio Grande (Furg) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante o proje- to, os pesquisadores identificaram 40 espécies nati- vas de microalgas que poderiam ser utilizadas como matéria-prima de biocombustível. O Rio Grande do Norte também conta com usinas- piloto em Guamaré, onde a Petrobras conduz testes com outros tipos de oleaginosas para a produção de biodiesel. A meta é encontrar um substituto compe- titivo para a soja. As duas unidades já produziram mais de 50 m3 de biodiesel provenientes de óleo de mamona ou de misturas de mamona com soja. O bio- combustível tem sido testado em seis veículos, dentro de um convênio do Cenpes com empresas do setor au- tomotivo como Ford, Siemens e Michelin. Expedito Parente ➔ “Enquanto o etanol é um combustível elitista, voltado apenas para os carros de passeio e veículos leves, o biodiesel é democrático, destinado ao transporte de massas. Daí a importância de haver diversidade nas fontes, barateando custos” O Cenpes, da Petrobras, também realiza pesquisas envolvendo processos de gaseificação de biomassa e produção de biodiesel a partir de algas
  • 13. 24 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 25Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Setor sucroalcoleiro é movido pela força empresarial O modelo de produção do etanol no Brasil al- çou a iniciativa privada ao primeiro plano no mercado de energia do país. Em contraste com a indústria do petróleo, o setor sucroalcooleiro é movido pela força empresarial desde os primórdios do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado em 1975. “São dois ambientes muito diferentes. Enquanto a Petrobras é praticamente a única a oferecer gasolina pura no Brasil, há 380 produtores concorren- do no mercado do etanol”, destaca o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues. Com produção recorde de 24 mi- lhões de m3 em 2008, o setor pre- vê investimentos de US$ 33 bilhões para o período 2005-2012. Segundo a Única, que congrega empresas sucroalcooleiras do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, além das 29 usinas que entraram em operação no ano passado, mais de 40 estão em obras. Ao contrário de outros setores, a produção de açúcar e álcool aparen- ta sofrer menos com a crise global. Um exemplo é a Cosan, maior pro- dutora de etanol do país, que está construindo três usinas em Goiás. “Continuamos investindo. Só esta- mos adequando a velocidade dos in- vestimentos à liberação de recursos do BNDES”, diz o vice-presidente do grupo, Pedro Mizutani. De acordo com o executivo da Cosan, o grande obstáculo à ex- pansão do setor está fora do Brasil. “Nosso principal desafio é tornar o etanol uma commodity, de forma que possa ser misturada à gasolina no mundo todo”, assinala. Mais do que demonstrar a eficácia energé- tica e as vantagens ambientais do álcool combustível, as empresas e o 22% a 25%. Com a extinção do IAA, a fiscalização das especificações técnicas e das regras de concorrên- cia é exercida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom- bustíveis (ANP). “O compromisso do setor é produzir etanol e vender aos distribuidores dentro dos padrões estabelecidos pela agência”, resume o diretor da Unica. A lei define papéis claros para cada agente do setor. O fornecimen- to do álcool só pode ser feito por pro- dutor credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- mento (MAPA) e pela ANP. A venda no atacado é restrita aos distribui- dores, sendo proibido ao produtor negociar diretamente com os postos de serviço. É nesse contexto de divi- são de funções que ganha relevância a recente aquisição da Esso no Brasil pela Cosan. O grupo é o primeiro do setor sucroalcooleiro a controlar em- presas que vão do plantio da cana à venda de etanol ao consumidor, pas- sando pela distribuição. O setor também acumula inicia- tivas bem-sucedidas em pesquisa. Mantido por 177 empresas sucroal- cooleiras e orçamento anual de R$ 40 milhões, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) desenvolve, há três décadas, variedades de cana e inovações tecnológicas que resul- tam em ganhos de produtividade nos canaviais e usinas. Graças ao avanço tecnológico, o negócio está no limiar de uma nova era em que o etanol passará a ser produzido também com resíduos agrícolas, como a palha e o bagaço da cana. Este combustível de se- gunda geração, também chamado de bioetanol ou etanol de lignocelu- lose, vai elevar a produção sem au- mentar a área plantada com cana. Com a inovação, o setor sucroalco- oleiro será capaz de atender o cres- cimento do mercado nacional e das vendas externas. O futuro parece promissor. De acordo com a Empresa de Pesqui- sa Energética (EPE), entidade ligada ao Ministério das Minas e Energia (MME), a demanda pelo etanol bra- sileiro chegará a 64 milhões de m3 anuais em 2017, estimulada pela ex- pansão da frota dos carros flex fuel e pelo aumento das exportações. Cosan: do plantio ao posto de distribuição Uma das mais contunden- tes demonstrações de força do setor privado no mercado de agroenergia foi a compra da Esso pela Cosan, em abril de 2008. Por US$ 826 milhões, a gigante brasileira de etanol arrematou uma rede com 1,5 mil postos de serviço espa- lhados por 20 estados, infra- estrutura para a distribuição de combustíveis, uma plan- ta industrial e um terminal de lubrificantes no Rio de Janeiro. A aquisição incluiu também o fornecimento de querosene de aviação para os sete principais aeroportos brasileiros. O negócio pôs sob o co- Pedro Mizutani ➔ “Hoje estamos numa situação ímpar em relação a outras empresas do setor. Os ativos da Esso nos trouxeram ganhos de sinergia e logística” a outras empresas do setor. Os ativos da Esso nos trouxeram ganhos de sinergia e logística”, desta- ca o vice-presidente da Cosan, Pedro Mizutani. A fim de alcançar a liderança nacional na pro- dução de etanol, a empresa lançou-se a várias aquisições de usinas nos últimos anos. Com 18 unidades em São Paulo, além de dois terminais portuários, a Cosan emprega atualmente 43 mil trabalhadores, tendo produzido 1,6 milhão de m3 de etanol na safra 2007-2008. O grupo, que já tinha lançado ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), iniciou suas atividades na Bolsa de Nova York (NYSE) em meados de 2007. governo brasileiro têm pela frente a missão de desmistificar os estigmas de que os canaviais tomam espaço dos alimentos e de que as lavouras são mantidas à base de condições de trabalho precárias. Na safra 2007-2008, as empresas sucroalcooleirasnacionaisfaturaram R$ 42 bilhões. Deste total, R$ 6 bi- lhões correspondem somente a ven- das externas, transformando o setor no quinto maior exportador brasilei- ro. A produção e a comercialização de açúcar e álcool no país geram ainda cerca de um milhão de empregos di- retos, movimentando uma cadeia de 70 mil fornecedores de cana e mais de mil indústrias de suporte. Demanda interna Desafios internos ao crescimen- to do mercado do etanol também não faltam. Uma das expectativas da Unica é a definição governamen- tal do papel reservado ao álcool na matriz energética brasileira. Apesar do apoio declarado do governo fede- ral aos biocombustíveis, encabeçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os empresários temem que re- viravoltas de preços possam conter o avanço da demanda interna, estimu- lada nos últimos anos pelo sucesso dos carros bicombustíveis (flex fuel). “Existe insegurança devido às muitas mudanças na participação dos combustíveis líquidos na ma- triz energética nos últimos 40 anos”, observa o diretor-técnico da Unica. Uma dessas alterações, enumera Rodrigues, foi o estímulo ao diesel no transporte rodoviário, em lugar da gasolina. Na década de 1970, o País descobriu o etanol, que per- deu prestígio no fim dos anos 1980. Em seguida, o gás natural veicular (GNV) tomou espaço dos combus- tíveis líquidos, até que o álcool foi reabilitado graças aos flex fuel. Em tempos de petróleo em baixa, o se- tor tem receio de que o consumo de etanol seja afetado por uma eventu- al queda do preço da gasolina. As empresas sucroalcooleiras na- cionais produzem em regime de li- vre mercado desde 1998, quando foi concluída a desregulamentação do setor. O marco desse processo foi a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1990. A entidade, criada em 1933, procurava estimu- lar a produção e o consumo regular dos dois produtos, ditando cotas de produção, regras para as relações entre usinas e fornecedores de cana e limites às exportações de açúcar. O instituto também foi responsável por avalizar o financiamento para o crescimento do mercado por mais de seis décadas. Reserva de mercado A liberalização da atividade, po- rém, não eliminou a reserva de mer- cado para o etanol, que ainda é mis- turado à gasolina nas proporções de Antônio de Pádua Rodrigues ➔ “Enquanto a Petrobras é praticamente a única a oferecer gasolina pura no Brasil, há 380 produtores concorrendo no mercado do etanol” ➔ Com produção recorde de 24 bilhões de litros neste ano, o setor está à frente de investimentos de US$ 33 bilhões no período 2005-2012. Além das 29 usinas que entraram em operação em 2008, mais de 40 estão em obras mando da Cosan o quinto maior varejista de com- bustíveis do Brasil, com participação de 7,2% no mercado de distribuição. Na comercialização de álcool e gasolina, os postos Esso detêm, respecti- vamente, 9% e 9,7% do total no País. Para fechar a operação, que contou com a Petrobras entre os concorrentes, a Cosan utilizou US$ 310 milhões resultantes de aumento de capital efetuado três meses antes e assumiu dívidas de US$ 163 mi- lhões. No saldo final, tornou-se a primeira empre- sa de energia renovável a atuar em toda a cadeia econômica, do canavial à venda no varejo. “Hoje estamos numa situação ímpar em relação
  • 14. 26 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 27Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 A China, possuidora da segunda maior frota de automóveis no mundo, poderá receber seus primeiros modelos de veículos flex fuel em 2009. Em outubro do ano passado, a General Motors (GM) anunciou que, devido à preocupação com a qualidade do ar, além da alta dos preços do petróleo, introduziria a tecnologia dos moto- res bicombustível no mercado chinês. A GM, maior montadora de automóveis do mundo, já fabricou 5 mi- lhões de veículos flex fuel, entre os quais 3 milhões para o mercado norte-americano. Até 2012, metade da produção da empresa contará com este tipo de tecnologia. Os custos da gasolina e as medidas ado- tadas em diversos países para reduzir as emissões de gases poluentes foram determinantes para a GM expandir sua produção de carros flex. A empresa ainda estima que o crescimento da população mundial esti- mule um aumento de 22% na frota de automóveis em todo o planeta. Na China, os automóveis respondem por cerca de 50% do consu- mo de petróleo. Segundo o vice-presidente da GM chinesa, David S. Chen, o início da fabricação de carros flex no país depende de um abastecimento adequado de etanol. A meta de misturar 10% de eta- nol à gasolina em seis regiões chinesas dificilmente será cumprida. Previa-se que 2 milhões de toneladas de etanol fossem misturadas à gasolina até 2010 e que, em 2020, a mistura fosse cinco vezes maior. Entretanto, a capacidade de produção de etanol no país é ex- tremamente limitada, não ultrapassando as 1,5 toneladas anuais. Experiência brasileira em flex fuel será divulgada no exterior P ara que o etanol seja uti- lizado em escala global, a indústria brasileira pre- tende criar um ambiente favorável à exportação da tecnologia de produção do biocom- bustível e de carros flex fuel (mo- vidos a álcool ou a gasolina, em quaisquer proporções). Segundo o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, no início de 2009 será iniciada uma campanha interna- cional desta tecnologia. “Em dois ou quatro anos, quando outros países tomarem a decisão de pro- duzir etanol, já haverá centenas de milhares de veículos flex fuel no mundo”, acredita Giannetti. Em dezembro do ano passado, a frota brasileira chegou à mar- ca de 6,5 milhões de automóveis flex. Atualmente, os carros com este tipo de tecnologia represen- tam 87% das vendas por atacado de veículos leves no mercado bra- sileiro, que, até setembro registra- va um crescimento acumulado de 27%. Apesar da queda registrada a partir de outubro, a indústria fechou 2008 com 2,82 milhões de unidades vendidas – 2,33 milhões de flex fuel. A produção geral foi de 3,2 milhões de veículos. “São recordes históricos”, afir- ma o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veícu- los Automotores (Anfavea), Jack- son Schneider. O executivo vê um grande potencial nas exportações de carros flex fuel a partir de um crescente interesse internacional a respeito da experiência brasilei- ra com a tecnologia. Segundo Schneider, muitos paí- ses têm anunciado sua disposição de incluir o álcool combustível em sua matriz energética, como mistu- ra à gasolina, para melhorar a qua- lidade do ar. “Nesse quadro, o Brasil tem boas oportunidades de expor- tar sua competência na produção de etanol, pela venda de pacotes tecnológicos, ou por associações com empresários locais”, diz. O presidente da Anfavea acredita no crescimento da motorização flex da frota brasileira de automóveis e veí- culos comerciais leves, enquanto os veículos pesados, como caminhões e caminhonetes abastecidos a die- sel, aguardam o aprimoramento tecnológico do biodiesel. “Produzimos automóveis a die- sel e a gasolina para exportação, e também importamos automóveis movidos a gasolina. Dessa forma, pode-se concluir que ainda convi- verão veículos a gasolina, veículos flex fuel, e veículos a diesel. Além disso, temos também o gás natu- ral veicular (GNV). Mas, no cam- po dos automóveis brasileiros, os passos dos flex mostram firme- mente essa crescente tendência dos motores bicombustível”, afir- ma Schneider. Aceitação internacional Em 2003, quando foram lança- dos, os veículos flex fuel corres- pondiam a apenas 4% das vendas por atacado no país. A excelente aceitação do mercado deve-se à qualidade do produto aliada ain- da a dois outros fatores: o cuida- do ambiental e o baixo custo do combustível, diz o presidente da Anfavea. “O brasileiro aderiu ao veículo flex porque tem um olho no ambiente e outro no bolso. Ou seja, alia-se a vantagem ambiental de se utilizar um combustível re- novável à economia de abastecer com álcool, cujo preço, em relação à gasolina, é atrativo para o con- sumidor e assim deve continuar”. Segundo Giannetti da Fonseca, a campanha de popularização dos veículos flex será definida a par- tir de um acordo entre a Fiesp, a Anfavea, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) e a Agên- cia Brasileira de Promoção de Ex- portação e Investimentos (Apex). Para o representante da Fiesp, esta iniciativa tem que ser do setor pri- vado, com as montadoras levando a experiência brasileira para suas filiais em outros países. “Quando a demanda precede a oferta, es- tamos criando uma base de con- sumo. Se os carros flex entrassem no mercado internacional hoje, os países que os importassem esta- riam preparando suas frotas para a mudança de combustível, o que é previsível não apenas pela alta Jackson Schneider ➔ “O Brasil tem boas oportunidades de exportar sua competência na produção de etanol, pela venda de pacotes tecnológicos, ou por associações com empresários locais” do preço do petróleo, mas também pelo agravamento dos problemas climáticos. A experiência brasilei- ra foi tão bem-sucedida que não tenho a menor dúvida sobre sua aceitação no mundo inteiro”, diz Giannetti. Futuro promissor Um estudo do World Business Council for Sustainable Deve- lopment (Conselho Mundial de Empresas pelo Desenvolvimen- to Sustentável) prevê que a frota mundial de veículos saltará dos atuais 800 milhões de unidades para 2 bilhões em 2050. Até lá, a presença de fontes alternativas nas matrizes energéticas deverá crescer 160 vezes, com 6% do total de combustíveis consumidos no mundo sendo produzidos a par- tir de biomassa. Outras possíveis mudanças são a introdução de ve- ículos de alta eficiência energética (híbridos e alta tecnologia diesel) e até mesmo veículos movidos a células de hidrogênio, que apre- sentam emissão zero. A entidade também espera um aumento do transporte de massa via ferrovia e o desenvolvimento de aeronaves mais eficientes. GM quer levar carros flex para a China Veículos flex fuel: a indústria comemora 2008 como um bom ano: as vendas internas alcançaram 2,85 milhões de unidades, com uma produção de 3,2 milhões VENDAS DE VEÍCULOS NO BRASIL (2005-2008) Fonte: Anfavea (2008) 2005 2006 2007 2008 Milhõesdeunidades 0 1 2 3 4 5 6 Flex fuel 0,85 1,71 1,42 1,93 2,03 2,49 2,23 2,71 Total Roberto Gianetti ➔ “Em dois ou quatro anos, quando outros países tomarem a decisão de produzir etanol, já haverá centenas de milhares de veículos flex fuel no mundo” foto em baixa resolução somente para aprovaçãodo cliente
  • 15. 28 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 29Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 De olho no futuro, Brasil investe na diversificação de fontes E nquanto a produção bra- sileira de biodiesel ainda não atende todo o mer- cado interno, o País in- veste em pesquisas de diversificação de fontes de óleo, aguardando um eminente aumen- to da demanda européia. “Quase todos os países estão estipulando mandatos legais para a mistura de biocombustíveis dentro de seus combustíveis fósseis”, lembra o presidente da Petrobras Biocom- bustível, Alan Kardec Pinto, apon- tando a oportunidade de expansão para o produto brasileiro. Entre- tanto, para entrar na Europa, um dos destinos preferenciais de ex- portação do óleo, a competitivida- de do biodiesel nacional precisa ser aprimorada. Cientistas já realizam testes misturando à soja diferentes oleaginosas, como a mamona. Projeções da Food and Agricul- tural Policy Research Institute (Fa- pri, sigla em inglês) mostram que em 2010 o consumo de biodiesel na União Européia deve chegar a 2,2 milhões de m3 anuais. A produção no continente, no entanto, não ul- trapassaria a ordem de 1,8 milhão de m3, abrindo um mercado poten- cial de cerca de 400 mil m3. No mercado interno brasileiro, o biodiesel também tem um cam- po promissor. Dos 45 milhões de m3 de diesel mineral consumidos atualmente, 5 milhões são impor- tados. A Petrobras espera alcançar em 2012 uma participação de 40% no mercado nacional, estimado em 938 mil m3 por ano. O biodiesel entrou na matriz energética brasileira em 2005, mas sua mistura ao diesel de origem mineral – primeiro na proporção de 2% (mistura B2) e posteriormente na proporção de 3% (mistura B3) – tornou-se obrigatória somente três anos depois. Em 2013, quando o percentual de biodiesel adicionado ao diesel chegar a 5% (mistura B5), estima-se que haja uma demanda de 2 milhões de m3 por ano. O Brasil conta atualmente com mais de 60 unidades produtoras de biodiesel registradas na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), principal órgão regulador do setor. A agên- cia está analisando ainda mais de 30 solicitações de licenciamento. Associações de produtores já têm sinalizado que são capazes de for- necer o biodiesel necessário para a fabricação do B5 bem antes do início do prazo legal. “As usinas hoje poderiam colocar no merca- do até 3 milhões de m3 por ano, enquanto a demanda pelo B3 é de 1,4 milhão de m3”, compara o presidente da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), Odacir Klein. Outras entidades do setor defen- dem abertamente a adição de 5% a partir de janeiro deste ano. A disposição dos produtores em crescer no próprio país estimula a economia nacional e melhora os indicadores sociais. De olho neste potencial, o Governo Federal lan- çou, em 2005, o Programa Nacio- nal de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). “O Programa tem o objeti- vo de utilizar o potencial de produ- ção para fazer a inclusão social por meio da geração de emprego e ren- da no campo”, lembra o presidente da Petrobras Biocombustível. Especificações do mercado Um dos principais emissores de poluentes na atmosfera, o diesel está na mira dos países signatários do Protocolo de Kyoto. No Brasil, além de tornar obrigatória a mistura de biodiesel ao combustível de origem mineral, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabe- leceu novos limites de emissões de enxofre no diesel a partir de janeiro deste ano. A Petrobras já se compro- meteu em fornecer um diesel me- nos poluente, com concentração de 50 partículas por milhão de enxofre (S-50), que deverá ser utilizado pe- las frotas de ônibus urbanos do Rio de Janeiro e São Paulo. Ao longo de 2009, o S-50 estará disponível nas regiões metropolitanas das outras grandes capitais brasileiras. Para crescer no mercado interno de biodiesel, a Petrobras investe pesado em infra-estrutura. A es- tatal possui atualmente três uni- dades produtoras: duas em pleno funcionamento, localizadas em Quixadá (CE) e Candeias (BA), e outra em Montes Claros (MG), pre- vista para entrar em atividade este ano. Em setembro de 2008, a Petro- bras anunciou ainda que estava analisando a construção de sua quarta usina de biodiesel, a pri- meira de grande porte. A capaci- dade de produção ficará em torno de 295 mil m3 por ano, valor cinco vezes superior aos 57 mil m3 anu- ais produzidos pelas três unidades já instaladas. A nova usina proces- sará biodiesel com 30% de óleo de mamona misturado ao de soja. A utilização da mamona como fonte de biodiesel permitiria que a Petrobras atingisse os padrões eu- ropeus de especificação, o que não é obtido quando o combustível é feito apenas com soja. A mescla de mamona e soja melhora o de- sempenho do biodiesel a frio, algo essencial aos veículos durante o inverno nos países da Europa. O município de Irati, na região Centro-Sul do Pa- raná, foi escolhido pela Companhia Brasileira de Energias Alternativas e Renováveis (CBEAR) para receber o empreendimento que está sendo anun- ciado como a maior usina de biodiesel do mundo. Com um investimento da ordem de 300 milhões, a usina pretende produzir 600 mil toneladas de bio- diesel anuais, destinados à exportação. O volume só se compara ao produzido pela usina espanhola Infinita Renovables e equivale à soma de todos os projetos já anunciados no Paraná. Segundo a vice-presidente da CBEAR, Christian- ne Fullin, três empresas nacionais e um fundo in- ternacional de investimento financiam o empreen- dimento. A construção da usina será iniciada em janeiro de 2009, em um terreno de 3 km2. As ope- rações de produção e exportação começariam em fevereiro de 2010, para um comprador já definido – um país estrangeiro, “não-europeu”, que também não é revelado em razão de uma cláusula de sigilo no contrato. Durante os dois primeiros anos de funcionamen- to, a usina produziria biodiesel a partir de soja, que seria complementada eventualmente por outras matérias-primas. A CBEAR pretende estimular e financiar os agricultores locais a cultivarem cano- municípios da região do Centro-Sul paranaense onde a empresa está instalada. A usina precisa somente de metade dessa área para alcançar sua meta anual, o que já permite sonhar em duplicar ou até triplicar a produção para 2011. De acordo com Christianne, o Paraná tem espaço e condi- ções para abrigar oito usinas do mesmo porte da que será construída em Irati. ➔ Com um investimento da ordem de 300 milhões de euros, a usina tem a meta de produzir 600 mil toneladas de biodiesel anuais, destinados à exportação la, girassol e tungue, uma oleaginosa asiática pouco conhecida no país. O plantio dessas espécies seria limi- tado à época em que as la- vouras ficam ociosas. “Será uma alternativa às cultu- ras de verão, como o fumo. Não estamos entrando para competir com as coopera- tivas e nem para mudar as culturas do agricultor local”, garantiu Christianne. A CBEAR estima que haja 10 mil km2 ociosos, que podem ser utilizados na cultura das oleagino- sas para o biodiesel, nos 68 Paraná: o celeiro do biodieselOdacir Klein ➔ “As usinas hoje poderiam colocar no mercado até 3 milhões de m3 por ano, enquanto a demanda pelo B3 é de 1,4 milhão de m3” novo gráfico cronologia do biodiesel está sendo feito foto de descarga de soja em porto sendo providenciada A usina de Irati (PR) será a maior unidade produtora de biodiesel de soja no mundo