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                                                                                        Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí
                                                                     Artigo submetido em 20/8/08; aceito para publicação em 22/12/08




Estudo Epidemiológico de Pacientes com Tumor de Ovário no
Município de Jundiaí no Período de Junho de 2001 a Junho de 2006
Epidemiological Study of Ovary Tumor Patients in the city of Jundiaí from
June, 2001 to June, 2006
Estudio Epidemiológico de Pacientes con Tumor de Ovario en el Municipio de
Jundiaí, durante el periodo de junio de 2001 a junio de 2006



         Bianca Mello Luiz1, Patrícia Frodl Miranda1, Edna Marina Cappi Maia2, Rogério Bonassi Machado3, Milzen Jessel Lavander Giatti4,
                                                 Armando Antico Filho5, João Bosco Ramos Borges6

Resumo
O estudo teve como objetivo avaliar o perfil sociodemográfico e reprodutivo de mulheres com diagnóstico de
câncer de ovário na cidade de Jundiaí, São Paulo, no período de junho de 2001 a junho de 2006. Foi realizado um
estudo descritivo, retrospectivo, através de inquérito, de todos os casos de tumores malignos do Laboratório de
Anatomia Patológica do Sistema Único de Saúde (SUS) de Jundiaí e do Ambulatório de Saúde da Mulher da
Secretaria de Saúde do Município de Jundiaí, a fim de identificar o perfil dos casos de tumor de ovário maligno.
As características sociodemográficas das pacientes portadoras de tumor de ovário evidenciaram que: a média de
idade no momento do diagnóstico foi de 55 (± 13,5 anos); a média de nível educacional no momento do diagnóstico
foi de 5,8 (± 3 anos); e a maior prevalência foi de mulheres casadas e de raça branca. As características reprodutivas
das pacientes portadoras de tumor de ovário evidenciaram que: a média de idade da menarca foi de 13 (± 1,6 ano);
a maior prevalência foi de multiparidade; houve aumento de peso desde a idade do diagnóstico até a idade atual;
a média de tempo de amamentação foi de 8,6 meses (± 6,5 meses); e houve maior prevalência de mulheres que
fizeram uso de anticoncepcional hormonal oral.
Palavras-chave: Neoplasias Ovarianas; Fatores Socioeconômicos; Dados Demográficos; História Reprodutiva;
Epidemiologia Descritiva; Estudos Retrospectivos; Jundiaí, SP




1
  Aluna da Graduação do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí.
2
  Doutora em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e Professora Adjunta da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de
Medicina de Jundiaí.
3
  Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Medicina da UNIFESP e Professor Adjunto da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina
de Jundiaí.
4
  Mestre em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e Professora Assistente da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de
Medicina de Jundiaí.
5
  Médico Patologista e Professor Auxiliar da Disciplina de Patologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí.
6
  Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Medicina da USP e Professor Titular da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de
Jundiaí.
Este estudo fez parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq da Faculdade de Medicina de Jundiaí, ano de 2007.
Endereço para correspondência: João Bosco Ramos Borges. Av. Nove de Julho, 1.177 - Sala 11 - Jundiaí (SP), Brasil - CEP: 13.208-010.
E-mail: drbosco@terra.com.br



                                                                                                      Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253   247
Luiz, BM, et al.


                                    INTRODUÇÃO                             A etiologia do câncer de ovário parece ser
                                                                       multifatorial, incluindo fatores reprodutivos, hereditários
              O câncer de ovário é a oitava neoplasia maligna mais     e pessoais. Existem evidências consistentes a respeito
          diagnosticada em mulheres no Brasil e a quinta causa         do efeito protetor do uso de contraceptivos orais, da
          de morte por câncer em mulheres americanas1, além de         multiparidade9, não sendo significativa a quantidade de
          ser responsável por 6% dos cânceres que atingem as           filhos, nem a idade com que foram concebidos,
          mulheres. Sendo o terceiro mais incidente no aparelho        independentemente do subtipo histológico10.
          genital feminino em países desenvolvidos2,3, ficando              A dieta é um fator de influência significante no risco
          abaixo apenas do carcinoma do colo do útero e de             de desenvolver câncer ginecológico: frutas, vegetais
          endométrio 4 , corresponde a 1,8% dos cânceres               (particularmente os que contêm caroteno, como o tomate
          ginecológicos, sendo o que apresenta mais elevada            e a cenoura) e antioxidantes reduzem o risco, enquanto
          mortalidade5.                                                gordura animal aumenta esse risco. Já a atividade física
              Esse tumor pode ocorrer em qualquer faixa etária,        protege contra câncer de ovário, independentemente do
          mas acomete principalmente mulheres acima dos 40             Índice de Massa Corpórea.
          anos de idade, constituindo-se numa das clássicas                Os principais fatores de risco não modificáveis para
          neoplasias ocultas do abdômen.                               o câncer de ovário são a idade e a susceptibilidade
              Estudos americanos indicam que esse câncer pode          genética. Cerca de 10% dos casos de tumor ovariano
          ocorrer em uma a cada 69 mulheres ao longo da vida,          apresentam componente genético ou familiar, sendo a
          sendo que, anualmente, 20.000 mulheres são                   presença de casos na família o fator de risco isolado
          diagnosticadas com a doença e, destas, 15.000 morrem         mais importante 5. Também mulheres que carregam
          por ano. Das mulheres diagnosticadas com câncer de           mutações deletérias nos genes relacionados ao câncer
          ovário, 55 % morrem dentro de cinco anos, enquanto           de ovário (BRCA1 no cromossomo 17q12-21 e BRCA2
          que entre as mulheres negras apenas 40% sobrevivem           no cromossomo 13q12-13) possuem aumento do risco
          cinco anos ou mais6. A estimativa de novos casos de          de desenvolver essa doença8,11,12.
          morte por câncer ovariano nos Estados Unidos em 2007             A neoplasia maligna de ovário representa desafio;
          era de 22.430 casos novos e 15.280 mortes7. Durante          pois, apesar dos avanços da terapia oncológica, a
                                                                       sobrevida das pacientes não se alterou muito nas últimas
          toda a vida, a mulher apresenta o risco de 1,48% de
                                                                       décadas1. A sobrevida global é de apenas 30% a 40%
          chance de desenvolver a doença e a incidência aumenta
                                                                       em cinco anos. Isso ocorre, em parte, porque a maioria
          com a idade, de 1,4 casos por 100.000 em mulheres
                                                                       das pacientes tem a doença diagnosticada em estágios
          abaixo dos 40 anos até 45 casos por 100.000 em
                                                                       avançados, depois que o câncer já se estendeu além dos
          pacientes acima dos 60 anos8.
                                                                       limites do ovário 8, situação em que as opções de
              Sendo os ovários órgãos duplos e pequenos situados
                                                                       tratamento são restritas à cirurgia citorredutora e a
          na pélvis feminina, os tumores iniciais são difíceis de
                                                                       quimioterapia baseada nos derivados da platina. Essas
          diagnosticar através do exame clínico na consulta            modalidades terapêuticas são apenas parcialmente
          ginecológica2.                                               efetivas e, consequentemente, a maioria das pacientes
              O câncer de ovário geralmente não causa                  apresentará recorrência e óbito em função da doença, o
          sintomatologia, tornando o tumor ginecológico mais           que reafirma a importância da detecção precoce.
          difícil de ser diagnosticado e, quando se manifesta, é            Nos Estados Unidos, apenas 20% dos casos são
          muito provável que a doença esteja num estado avançado       diagnosticados precocemente. Quando diagnosticada em
          ou tenha se expandido além dos ovários e, por isso,          estágios mais avançados, a sobrevida de cinco anos
          70% dos diagnósticos são tardios4. Outro fator que           diminui em cerca de 30%6.
          dificulta o diagnóstico é que não há um método                   Baseado na morbiletalidade dessa doença e no pouco
          diagnóstico confiável, fácil de executar e que possa ser     conhecimento da epidemiologia desse tumor no
          realizado em todas as mulheres, e os sintomas                município de Jundiaí, resolveu-se fazer este estudo. A
          apresentados na doença já avançada são facilmente            integração da universidade e da saúde é hoje diretriz
          confundidos com os de outras patologias.                     curricular do Ministério da Educação e do Ministério
              Sendo assim, a única maneira de interferir na história   da Saúde na busca de melhores resultados em saúde
          natural do câncer do ovário é o estabelecimento precoce      pública. Uma base de dados para os gestores de saúde
          de seu diagnóstico e a correta abordagem terapêutica.        municipal em Jundiaí é fundamental para que medidas
          O fato de que, mesmo em países desenvolvidos, pouco          de diagnóstico precoce de doença mortal possam ser
          se avançou em termos de diagnóstico precoce tem              implantadas e, com isso, modificar o resultado do
          colaborado para a manutenção de uma taxa de                  diagnóstico e do tratamento dessa grave patologia no
          mortalidade por essa doença em níveis bastante elevados.     Estado de São Paulo.


248 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253
Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí


    Foi com base nessa realidade que se resolveu                 entrevistada, iniciou-se o inquérito através de
estabelecer o perfil das mulheres que tiveram câncer de          questionário estruturado, codificado e pré-testado, que
ovário no município de Jundiaí e, assim, avaliar as              foi aplicado por alunos da Faculdade de Medicina de
características sociodemográficas e reprodutivas; a              Jundiaí, após treinamento na fase de pré-teste. Os dados
presença de história pessoal e familiar nos casos de câncer      coletados foram digitados em planilha do programa
ovariano; bem como a que tipo de investigação médica             Microsoft Excel. Os resultados foram consolidados e
anterior ao diagnóstico haviam sido submetidas essas             apresentados em forma de tabelas e gráficos. Os dados
mulheres (exames subsidiários e sintomas); e o tipo de           foram descritos através de médias, desvio-padrão e
tratamento a que se submeteram.                                  frequências absolutas (n) e relativas (%). O nível de
                                                                 significância assumido foi de 5% e o software utilizado
              CASUÍSTICA E MÉTODO                                para análise foi o SAS versão 8.2.

    Estudo descritivo, retrospectivo, por meio de                                      RESULTADOS
inquérito a todos os casos de tumores malignos, aplicado
às pacientes que compareceram ao Ambulatório de                      Foram avaliadas no total 455 mulheres com tumores
Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde do Município              de ovário, entre as quais 398 (87,47%) apresentaram
de Jundiaí. Foram incluídas todas as mulheres com                tumores benignos e 57 (12,53%) tumores malignos,
diagnóstico confirmado de câncer de ovário, baseando-            objeto deste estudo (Tabela 1). A média de idade no
se em resultados de anatomopatologia; os dados                   momento do diagnóstico do câncer ovariano foi de 55
histopatológicos foram obtidos através do cadastro das           anos (±13,5 anos) e a maioria das mulheres possuía nível
pacientes que compareceram ao Laboratório de                     educacional de 5,8 (±3 anos), em média (ensino
Anatomia Patológica do Sistema Único de Saúde (SUS)              primário). Entre as pacientes estudadas, em média, a
de Jundiaí, no período de 30 de junho de 2001 a 30 de            idade da menarca foi de 13 (±1,6 ano), e eram mulheres
junho de 2006, e que foram diagnosticadas com tumor              multíparas, sendo que todas tiveram aumento de peso
de ovário maligno. O Laboratório de Anatomia                     do momento do diagnóstico até o momento do estudo
Patológica do SUS de Jundiaí centraliza todos os exames          (Tabela 2). A maioria das mulheres estudadas (40%)
histopatológicos do município. Foram excluídas as                tinha até 50 anos no momento do diagnóstico, pertencia
mulheres cujo diagnóstico histopatológico foi                    à raça branca e era casada. Das pacientes analisadas,
indeterminado ou trazia dúvida. O estudo foi aprovado            65% fizeram uso de anticoncepcional hormonal oral por
pela Comissão de Ética em Pesquisa da Faculdade de               algum período da vida e 90% delas amamentaram seus
Medicina de Jundiaí, seguindo as normas de pesquisa              filhos. Nenhuma delas possuía história familiar de câncer
em seres humanos e de acordo com a declaração de                 de ovário, 15% possuíam história familiar de câncer de
Helsinque revisada em 1983. Os sujeitos da pesquisa              mama e 40% relatavam história familiar de outros tipos
foram contatados via telefone e, após lido o termo de            de câncer que não o de mama ou de ovário. Das
consentimento pelo entrevistador e assinado pela                 pacientes estudadas, 35% possuíam ultrassonografia




Tabela 1. Tipos histológicos de tumores malignos de ovário encontrados na população feminina do município de Jundiaí, no período
de junho de 2001 a junho de 2006




                                                                                         Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253   249
Luiz, BM, et al.



          anterior ao diagnóstico, sendo que 25% dos exames                     Quanto ao efeito protetor da multiparidade sobre o
          foram realizados até um ano antes e 10% até dois anos             aparecimento do câncer, como descrito no trabalho de
          antes do diagnóstico; 65% das mulheres estudadas não              Titus-Ernstoff9, das 57 mulheres entrevistadas, apenas
          possuíam ultrassonografia anterior ao diagnóstico. Todas          duas (3,5%) eram nuligestas, enquanto 55 pacientes
          as pacientes que responderam ao questionário realizaram           (96,5%) tiveram uma ou mais gestações. É conhecido
          cirurgia como tratamento, sendo que nenhuma delas se              que nas mulheres com baixo nível educacional é comum
          submeteu à radioterapia e sete delas (35%), além da               o maior número de gestações, e os resultados deste
          cirurgia, fizeram quimioterapia.                                  estudo apresentaram média de nível educacional baixa,
                                                                            de 5,8 anos (ensino primário).
                                                                                Das mulheres multíparas encontradas, apenas duas
          Tabela 2. Características das variáveis intervalares analisadas   não amamentaram e 17 apresentaram um ou mais
          entre as mulheres diagnosticadas com tumor maligno de ovário no
                                                                            abortos. Labbok e Rosenblatt relatam que o risco da
          município de Jundiaí, no período de junho de 2001 a junho de
          2006                                                              doença é maior em mulheres que amamentam13,14.
                                                                                Estudos de Kurian 10 afirmam a existência de
                                                                            evidências consistentes da influência do uso de
                                                                            contraceptivo oral na proteção contra a incidência do
                                                                            tumor de ovário, independentemente do subtipo
                                                                            histológico. Hulka15 e LaVecchia e Franceschi16 afirmam
                                                                            que o uso de contraceptivo oral reduz pela metade o
                                                                            risco de desenvolver o câncer, sendo um benefício que
                                                                            cresce pelo seu uso contínuo e que continua por 15
                                                                            anos ou mais após cessar o seu uso. Das pacientes deste
                                                                            estudo, 37 (65%) fizeram uso de anticoncepcional oral,
                                                                            com tempo de uso variando de dois meses a dois anos.
                                                                            Das 57 pacientes estudadas que fizeram uso do
                                                                            anticoncepcional oral, apenas uma o fez por mais de
                                                                            seis meses (dois anos), sendo o tempo de uso das outras
                                                                            pacientes variável entre um e seis meses.
                                                                                Cutler e Young17 verificaram que a prevalência do
                                                                            câncer de ovário era de 30 por 100.000 mulheres aos 40
                                                                            anos de idade, elevando-se para 70 por 100.000 aos 60
                                                                            anos de idade. Estudos de DeLand et al.18 mostraram
                                                                            que a média de idade das portadoras de câncer do ovário
                                                                            era de 50 anos, contra 34 anos das portadoras de neoplasias
                                                                            benignas. Esses achados são confirmados pelos resultados
                                                                            deste estudo, o qual verificou que a média etária das
                                                                            mulheres acometidas por tumor de ovário foi de 55 anos.
                                                                                A incidência e a mortalidade do câncer de ovário
                                                                            aumentam com a idade. Mundialmente, a taxa de
          *IMC - Índice de Massa Corpórea                                   incidência torna-se um "platô" após os 70 anos, o qual
                                                                            está relacionado à exaustão dos oocistos na menopausa19.
                                                                            Nos dados deste estudo, a idade média de menarca foi
                                       DISCUSSÃO                            de 13 anos e a de menopausa, 46,2 anos, lembrando
                                                                            que a maioria das mulheres até o momento do
              A proposta deste estudo foi traçar um perfil das              diagnóstico encontrava-se na pré-menopausa ou
          pacientes diagnosticadas com tumor maligno de ovário              perimenopausa20. As pacientes foram castradas devido
          no município de Jundiaí. O objetivo de identificar                à cirurgia para remoção do tumor, e daí essa variável
          fatores que possam ser considerados predisponentes para           reflete mais a idade no momento da cirurgia que
          o aparecimento desse câncer como uma forma de                     propriamente a idade na menopausa, dificultando a
          fornecer dados epidemiológicos sobre as pacientes do              comparação desses achados com os de outros estudos.
          município de Jundiaí e região e ajudar a Secretaria                   História familiar de câncer de mama, de cólon ou
          Municipal de Saúde a implantar ações no rastreamento              endometrial de primeiro grau de parentesco (mãe ou
          dessa doença estimulou o levantamento desses dados.               irmã) é considerada fator de risco21. A estimativa citada


250 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253
Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí


pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) é de que             rastreamento, a fim de que os casos de tumor, quando
cerca de 10% dos casos de tumor ovariano apresentam           existirem, sejam diagnosticados em estádio mais precoce
componente genético ou familiar, sendo a presença dos         possível. A atenção básica deve se capacitar para o
casos na família o fator de risco isolado mais importante7.   encaminhamento mais precoce das mulheres acometidas
Elit22 afirma que a história familiar de câncer de ovário     por câncer, garantindo melhor prognóstico e qualidade
está presente em 20% dos cânceres ovarianos. Neste            de vida a essas pacientes. Devem-se também estabelecer,
estudo, embora nenhuma das mulheres entrevistadas             além de educação médica continuada, programas de
tenha apresentado história pessoal de câncer de mama e        promoção da saúde para que a paciente recorra
história familiar de câncer de ovário, nove mulheres (15%)    anualmente aos serviços de atendimento para a realização
apresentaram história familiar de câncer de mama e 23         dos exames preventivos. O conhecimento sobre tumor
(40%), história pessoal de outros tipos de câncer que não     de ovário no município, bem como dos fatores de risco
de mama ou de ovário. Apesar da ausência de história          para o mesmo, deverão fazer com que as mulheres
pessoal de câncer de mama, a história familiar desse tipo     fiquem alertas e procurem espontaneamente serviços
de câncer não pode ser descartada, e pode ter influenciado    de atenção básica, não recorrendo ao médico apenas
o aparecimento do tumor de ovário nessas pacientes pelo       em estádio já avançado de doença, conseguindo, com
risco maior de apresentarem mutações deletérias em genes      isso, melhorar a morbiletalidade dessa agressiva doença.
relacionados ao câncer de ovário e de mama8,11,12. Das
que não possuíam história pessoal e nem familiar do câncer    Declaração de Conflito de Interesses: Nada a Declarar.
mamário, outros fatores de risco encontrados, como
ausência de exercícios físicos regulares10, excesso de peso                          REFERÊNCIAS
e uso de anticoncepcional oral21, podem ter influenciado
no aparecimento do tumor.                                     1. Silva-Filho AL, et al. Cirurgia não ginecológica em pacientes
    Há dificuldade no diagnóstico apropriado do tumor            com câncer de ovário. Rev Bras Ginecol Obstet 2004 jun;
ovariano pelo fato de os seus sintomas serem facilmente          26(5): 411-6.
confundidos com os de outras doenças e, além disso,           2. Hospital do Câncer. [acesso: 2007 Jun 20]. Disponível em:
não existir método diagnóstico confiável, fácil de executar      URL: http://www.hcanc.org.br/outrasinfs/ensaios/
e que possa ser realizado em todas as mulheres2. Neste           ovar1.html.
estudo, a principal manifestação que motivou a procura        3. Torres JCC, et al. Risk-of-Malignancy Index in preoperative
do sistema de saúde foi dor abdominal (75% das                   evaluation of clinically restricted ovarian cancer. Sao Paulo
pacientes), seguido do aparecimento de ultrassonografia          Med J 2002 maio; 120(3):72-6.
suspeita (20%) e corrimento avermelhado (5%). A dor           4. Pinotti JA, Fonseca AM, Bagnoli ZB. Tratado de
abdominal é sintoma normalmente associado ao estádio             Ginecologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p. 792-8 , p.
avançado do tumor, principalmente no caso de o órgão             833-7.
acometido ser o ovário. Aqui, mais uma vez, fica clara        5. Insituto Nacional de Câncer. Estimativa da incidência e
a necessidade de diagnóstico precoce, que poderia mudar          mortalidade por câncer no Brasil 1999. [acesso: 2007 Jun
a morbiletalidade da doença.                                     20]. Rio de Janeiro: INCA / Conprev; 1999. Disponível
                                                                 em: URL: http://www.inca.gov.br.
                    CONCLUSÃO
                                                              6. U.S. Cancer Statistics Working Group. United States Cancer
                                                                 Statistics: 2003 Incidence and Mortality Web-based Report.
    Deve-se sempre lembrar a importância do                      Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services,
diagnóstico precoce em saúde da mulher. O município              Centers for Disease Control and Prevention and National
de Jundiaí é onerado ao atender à demanda em                     Cancer Institute; 2006. [acesso: 2007 Jun 20]. Disponível
tratamento de alta complexidade, e o alto custo com o            em: URL: htttp://www.cdc.gov/cancer/npcr/uscs.
atendimento de pacientes dos municípios vizinhos não
                                                              7. Ries LAG, Eisner MP Kosary CL, et al., editors. SEER Cancer
                                                                                        ,
é seguido de repasse financeiro das cidades da
                                                                 Statistics Review, 1975-2002. Bethesda, Md: National
microrregião. A saúde é custeada pela verba disponível
                                                                 Cancer Institute, 2005. v 10. [acesso: 2007 Jun 20].
pela gestão plena, que é insuficiente. E já é sabido em
                                                                 Disponível em: URL: http://www.cancernet.nci.nih.gov
saúde pública que os gastos com o tratamento são muito
maiores que aqueles com a prevenção. Esse levantamento        9. Titus-Ernstoff L, Perez K, Cramer DW, Harlow BL, Baron JA,
de dados de câncer ovariano deve estimular a                     Greenberg ER. Menstrual and reproductive factors in relation
implementação de novas políticas públicas na área da             to ovarian cancer risk. Br J Cancer 2001; 84(5):714-21.
saúde da mulher em Jundiaí, estimulando a busca ativa         10. Kurian AW, et al. Histologic types of epithelial ovarian cancer:
das mulheres que compõem a faixa de risco para tumor              have they different risk factors? Gynecol Oncol 2005;
maligno de ovário e nelas realizando os exames de                 96(2):520-30.



                                                                                        Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253   251
Luiz, BM, et al.


          11. Struewing JP, Hartge P, Wacholder S, et al.: The risk of      17. Cutler SL, Young JL. Third national cancer survey: incidence
              cancer associated with specific mutations of BRCA1 and            data. Natl Cancer Inst Monogr 1975; 41:1-454.
              BRCA2 among Ashkenazi Jews. N Engl J Med 1997; 336            18. DeLand M, et al. Ultrasonography in the diagnosis of tumors
              (20): 1401-8.                                                     of the ovary. Surg Gynecol Obstet 1979; 148: 346-8.
          12. Easton DF, Ford D, Bishop DT. Breast and ovarian cancer       19. Weiss NS, et al. Ovarian cancer. In: Schottenfeld D,
              incidence in BRCA1-mutation carriers. Breast Cancer               Fraumeni Jr JF, editors. Cancer epidemiology and
              Linkage Consortium. Am J Hum Genet 1995; 56 (1):                  prevention. 2nd ed. New York: Oxford University Press,
              265-71.                                                           1996. p.1040-57.
          13. Labbok MH. Effects of breastfeeding on the mother. Pediatr    20. Jaszmann L. Epidemiology of climateric and postclimateric
              Clin North Am 2001; 48: 143-58.                                   complaints. In: Van Keep PA, Lauritzen C, editors. Ageing
          14. Rosenblatt KA, Thomas DB. WHO collaborative study of              and estrogens: front hormone research. Basel: Karger; 1973.
              neoplasia and steroid contraceptives. Int J Epidemiol 1993;       p. 22-4.
              22: 192-7.                                                    21. Averette HE, Nguyen H. Gynecologic cancer. In: Murphy
          15. Hulka BS. Epidemiologic analysis of breast and gynecologic        GP, Lawrence Jr W, Lenhard Jr RE, editors. American
              cancers. Progress in Clinical Biology and Research 1997;          Cancer Society textbook of clinical oncology. 2nd ed.
              396: 17-29.                                                       Atlanta: American Cancer Society; 1995. p. 552-79.
          16. La Vecchia C, Franceschi S. Oral contraceptives and ovarian   22. Elit L. Familial ovarian cancer. Canadian Family Physician
              cancer. Eur J Cancer Prev 1999; 8: 297-304.                       2001; 47:778-84.




252 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253
Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí


Abstract
The objective of this study was to evaluate the socio-demographic and reproductive profiles of women diagnosed
with ovarian tumor in the city of Jundiaí, São Paulo, Brazil, from June 2001 to June 2006. A descriptive and
retrospective questionnaire was applied in the Anatomopathology Laboratory of the Sistema Único de Saúde
(SUS, Unified Health Care System) in Jundiaí and in the Women Health Outpatient Clinic of Jundiaí Health
Department. The socio-demographic profiles of the women with ovarian tumor were as follows: the average age
at the moment of diagnosis was 55 years-old (± 13.5 years-old); the average level of education at the moment of
diagnosis was 5.8 years (± 3 years); and most women were white and married. The reproductive profiles of these
women were as follows: the average age at menarche was 13 years-old (± 1.6 year); most women were multiparas;
there was a weight increase from the age at diagnosis to the age in the occasion of this study; the average
breastfeeding period was 8.6 months (± 6.5 months); and most women used oral hormonal contraceptive
methods.
Key words: Ovarian Neoplasms; Socioeconomic Factors; Demographic Data; Reproductive History; Epidemiology,
Descriptive; Retrospective Studies; Jundiaí city, SP


Resumen
El objetivo del estudio fue evaluar el perfil sociodemográfico y reproductivo de mujeres diagnosticadas con
cáncer de ovario en el municipio de Jundiaí, São Paulo, durante el periodo de junio de 2001 a junio de 2006.
Se llevó a cabo un estudio descriptivo, retrospectivo, a través de una averiguación, de todos los casos de
tumores malignos del Laboratorio de Anatomía Patológica del Sistema Único de Salud (SUS) de Jundiaí y del
Ambulatorio de Salud de la Mujer de la Secretaría de Salud del Municipio de Jundiaí, a fin de identificar el
perfil de los casos de tumor de ovario maligno. Las características sociodemográficas de los pacientes con
tumor de ovario evidenciaron que: la edad promedio en el momento del diagnóstico fue de 55 (± 13,5 años); el
nivel promedio educativo en el momento del diagnóstico fue de 5,8 (± 3 años) y la mayor prevalencia se observó
en mujeres casadas y de raza blanca. Las características reproductivas de las pacientes con tumor de ovario
evidenciaron que: la edad promedio de la menarquia fue de 13 (± 1,6 años), la mayor prevalencia fue de
multiparidad, hubo aumento de peso desde la edad del diagnóstico hasta la edad actual, el tiempo promedio de
lactancia materna fue de 8,6 meses (± 6,5 meses) y hubo mayor prevalencia en mujeres que utilizaron
anticonceptivos hormonales orales.
Palabras clave: Neoplasias Ováricas; Factores Socioeconómicos; Datos Demográficos; Historia Reproductiva;
Epidemiología Descriptiva; Estudios Retrospectivos; Jundiaí, SP




                                                                             Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253   253

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  • 1. Artigo Original Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí Artigo submetido em 20/8/08; aceito para publicação em 22/12/08 Estudo Epidemiológico de Pacientes com Tumor de Ovário no Município de Jundiaí no Período de Junho de 2001 a Junho de 2006 Epidemiological Study of Ovary Tumor Patients in the city of Jundiaí from June, 2001 to June, 2006 Estudio Epidemiológico de Pacientes con Tumor de Ovario en el Municipio de Jundiaí, durante el periodo de junio de 2001 a junio de 2006 Bianca Mello Luiz1, Patrícia Frodl Miranda1, Edna Marina Cappi Maia2, Rogério Bonassi Machado3, Milzen Jessel Lavander Giatti4, Armando Antico Filho5, João Bosco Ramos Borges6 Resumo O estudo teve como objetivo avaliar o perfil sociodemográfico e reprodutivo de mulheres com diagnóstico de câncer de ovário na cidade de Jundiaí, São Paulo, no período de junho de 2001 a junho de 2006. Foi realizado um estudo descritivo, retrospectivo, através de inquérito, de todos os casos de tumores malignos do Laboratório de Anatomia Patológica do Sistema Único de Saúde (SUS) de Jundiaí e do Ambulatório de Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde do Município de Jundiaí, a fim de identificar o perfil dos casos de tumor de ovário maligno. As características sociodemográficas das pacientes portadoras de tumor de ovário evidenciaram que: a média de idade no momento do diagnóstico foi de 55 (± 13,5 anos); a média de nível educacional no momento do diagnóstico foi de 5,8 (± 3 anos); e a maior prevalência foi de mulheres casadas e de raça branca. As características reprodutivas das pacientes portadoras de tumor de ovário evidenciaram que: a média de idade da menarca foi de 13 (± 1,6 ano); a maior prevalência foi de multiparidade; houve aumento de peso desde a idade do diagnóstico até a idade atual; a média de tempo de amamentação foi de 8,6 meses (± 6,5 meses); e houve maior prevalência de mulheres que fizeram uso de anticoncepcional hormonal oral. Palavras-chave: Neoplasias Ovarianas; Fatores Socioeconômicos; Dados Demográficos; História Reprodutiva; Epidemiologia Descritiva; Estudos Retrospectivos; Jundiaí, SP 1 Aluna da Graduação do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí. 2 Doutora em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e Professora Adjunta da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. 3 Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Medicina da UNIFESP e Professor Adjunto da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. 4 Mestre em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e Professora Assistente da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. 5 Médico Patologista e Professor Auxiliar da Disciplina de Patologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. 6 Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Medicina da USP e Professor Titular da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Este estudo fez parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq da Faculdade de Medicina de Jundiaí, ano de 2007. Endereço para correspondência: João Bosco Ramos Borges. Av. Nove de Julho, 1.177 - Sala 11 - Jundiaí (SP), Brasil - CEP: 13.208-010. E-mail: drbosco@terra.com.br Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253 247
  • 2. Luiz, BM, et al. INTRODUÇÃO A etiologia do câncer de ovário parece ser multifatorial, incluindo fatores reprodutivos, hereditários O câncer de ovário é a oitava neoplasia maligna mais e pessoais. Existem evidências consistentes a respeito diagnosticada em mulheres no Brasil e a quinta causa do efeito protetor do uso de contraceptivos orais, da de morte por câncer em mulheres americanas1, além de multiparidade9, não sendo significativa a quantidade de ser responsável por 6% dos cânceres que atingem as filhos, nem a idade com que foram concebidos, mulheres. Sendo o terceiro mais incidente no aparelho independentemente do subtipo histológico10. genital feminino em países desenvolvidos2,3, ficando A dieta é um fator de influência significante no risco abaixo apenas do carcinoma do colo do útero e de de desenvolver câncer ginecológico: frutas, vegetais endométrio 4 , corresponde a 1,8% dos cânceres (particularmente os que contêm caroteno, como o tomate ginecológicos, sendo o que apresenta mais elevada e a cenoura) e antioxidantes reduzem o risco, enquanto mortalidade5. gordura animal aumenta esse risco. Já a atividade física Esse tumor pode ocorrer em qualquer faixa etária, protege contra câncer de ovário, independentemente do mas acomete principalmente mulheres acima dos 40 Índice de Massa Corpórea. anos de idade, constituindo-se numa das clássicas Os principais fatores de risco não modificáveis para neoplasias ocultas do abdômen. o câncer de ovário são a idade e a susceptibilidade Estudos americanos indicam que esse câncer pode genética. Cerca de 10% dos casos de tumor ovariano ocorrer em uma a cada 69 mulheres ao longo da vida, apresentam componente genético ou familiar, sendo a sendo que, anualmente, 20.000 mulheres são presença de casos na família o fator de risco isolado diagnosticadas com a doença e, destas, 15.000 morrem mais importante 5. Também mulheres que carregam por ano. Das mulheres diagnosticadas com câncer de mutações deletérias nos genes relacionados ao câncer ovário, 55 % morrem dentro de cinco anos, enquanto de ovário (BRCA1 no cromossomo 17q12-21 e BRCA2 que entre as mulheres negras apenas 40% sobrevivem no cromossomo 13q12-13) possuem aumento do risco cinco anos ou mais6. A estimativa de novos casos de de desenvolver essa doença8,11,12. morte por câncer ovariano nos Estados Unidos em 2007 A neoplasia maligna de ovário representa desafio; era de 22.430 casos novos e 15.280 mortes7. Durante pois, apesar dos avanços da terapia oncológica, a sobrevida das pacientes não se alterou muito nas últimas toda a vida, a mulher apresenta o risco de 1,48% de décadas1. A sobrevida global é de apenas 30% a 40% chance de desenvolver a doença e a incidência aumenta em cinco anos. Isso ocorre, em parte, porque a maioria com a idade, de 1,4 casos por 100.000 em mulheres das pacientes tem a doença diagnosticada em estágios abaixo dos 40 anos até 45 casos por 100.000 em avançados, depois que o câncer já se estendeu além dos pacientes acima dos 60 anos8. limites do ovário 8, situação em que as opções de Sendo os ovários órgãos duplos e pequenos situados tratamento são restritas à cirurgia citorredutora e a na pélvis feminina, os tumores iniciais são difíceis de quimioterapia baseada nos derivados da platina. Essas diagnosticar através do exame clínico na consulta modalidades terapêuticas são apenas parcialmente ginecológica2. efetivas e, consequentemente, a maioria das pacientes O câncer de ovário geralmente não causa apresentará recorrência e óbito em função da doença, o sintomatologia, tornando o tumor ginecológico mais que reafirma a importância da detecção precoce. difícil de ser diagnosticado e, quando se manifesta, é Nos Estados Unidos, apenas 20% dos casos são muito provável que a doença esteja num estado avançado diagnosticados precocemente. Quando diagnosticada em ou tenha se expandido além dos ovários e, por isso, estágios mais avançados, a sobrevida de cinco anos 70% dos diagnósticos são tardios4. Outro fator que diminui em cerca de 30%6. dificulta o diagnóstico é que não há um método Baseado na morbiletalidade dessa doença e no pouco diagnóstico confiável, fácil de executar e que possa ser conhecimento da epidemiologia desse tumor no realizado em todas as mulheres, e os sintomas município de Jundiaí, resolveu-se fazer este estudo. A apresentados na doença já avançada são facilmente integração da universidade e da saúde é hoje diretriz confundidos com os de outras patologias. curricular do Ministério da Educação e do Ministério Sendo assim, a única maneira de interferir na história da Saúde na busca de melhores resultados em saúde natural do câncer do ovário é o estabelecimento precoce pública. Uma base de dados para os gestores de saúde de seu diagnóstico e a correta abordagem terapêutica. municipal em Jundiaí é fundamental para que medidas O fato de que, mesmo em países desenvolvidos, pouco de diagnóstico precoce de doença mortal possam ser se avançou em termos de diagnóstico precoce tem implantadas e, com isso, modificar o resultado do colaborado para a manutenção de uma taxa de diagnóstico e do tratamento dessa grave patologia no mortalidade por essa doença em níveis bastante elevados. Estado de São Paulo. 248 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253
  • 3. Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí Foi com base nessa realidade que se resolveu entrevistada, iniciou-se o inquérito através de estabelecer o perfil das mulheres que tiveram câncer de questionário estruturado, codificado e pré-testado, que ovário no município de Jundiaí e, assim, avaliar as foi aplicado por alunos da Faculdade de Medicina de características sociodemográficas e reprodutivas; a Jundiaí, após treinamento na fase de pré-teste. Os dados presença de história pessoal e familiar nos casos de câncer coletados foram digitados em planilha do programa ovariano; bem como a que tipo de investigação médica Microsoft Excel. Os resultados foram consolidados e anterior ao diagnóstico haviam sido submetidas essas apresentados em forma de tabelas e gráficos. Os dados mulheres (exames subsidiários e sintomas); e o tipo de foram descritos através de médias, desvio-padrão e tratamento a que se submeteram. frequências absolutas (n) e relativas (%). O nível de significância assumido foi de 5% e o software utilizado CASUÍSTICA E MÉTODO para análise foi o SAS versão 8.2. Estudo descritivo, retrospectivo, por meio de RESULTADOS inquérito a todos os casos de tumores malignos, aplicado às pacientes que compareceram ao Ambulatório de Foram avaliadas no total 455 mulheres com tumores Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde do Município de ovário, entre as quais 398 (87,47%) apresentaram de Jundiaí. Foram incluídas todas as mulheres com tumores benignos e 57 (12,53%) tumores malignos, diagnóstico confirmado de câncer de ovário, baseando- objeto deste estudo (Tabela 1). A média de idade no se em resultados de anatomopatologia; os dados momento do diagnóstico do câncer ovariano foi de 55 histopatológicos foram obtidos através do cadastro das anos (±13,5 anos) e a maioria das mulheres possuía nível pacientes que compareceram ao Laboratório de educacional de 5,8 (±3 anos), em média (ensino Anatomia Patológica do Sistema Único de Saúde (SUS) primário). Entre as pacientes estudadas, em média, a de Jundiaí, no período de 30 de junho de 2001 a 30 de idade da menarca foi de 13 (±1,6 ano), e eram mulheres junho de 2006, e que foram diagnosticadas com tumor multíparas, sendo que todas tiveram aumento de peso de ovário maligno. O Laboratório de Anatomia do momento do diagnóstico até o momento do estudo Patológica do SUS de Jundiaí centraliza todos os exames (Tabela 2). A maioria das mulheres estudadas (40%) histopatológicos do município. Foram excluídas as tinha até 50 anos no momento do diagnóstico, pertencia mulheres cujo diagnóstico histopatológico foi à raça branca e era casada. Das pacientes analisadas, indeterminado ou trazia dúvida. O estudo foi aprovado 65% fizeram uso de anticoncepcional hormonal oral por pela Comissão de Ética em Pesquisa da Faculdade de algum período da vida e 90% delas amamentaram seus Medicina de Jundiaí, seguindo as normas de pesquisa filhos. Nenhuma delas possuía história familiar de câncer em seres humanos e de acordo com a declaração de de ovário, 15% possuíam história familiar de câncer de Helsinque revisada em 1983. Os sujeitos da pesquisa mama e 40% relatavam história familiar de outros tipos foram contatados via telefone e, após lido o termo de de câncer que não o de mama ou de ovário. Das consentimento pelo entrevistador e assinado pela pacientes estudadas, 35% possuíam ultrassonografia Tabela 1. Tipos histológicos de tumores malignos de ovário encontrados na população feminina do município de Jundiaí, no período de junho de 2001 a junho de 2006 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253 249
  • 4. Luiz, BM, et al. anterior ao diagnóstico, sendo que 25% dos exames Quanto ao efeito protetor da multiparidade sobre o foram realizados até um ano antes e 10% até dois anos aparecimento do câncer, como descrito no trabalho de antes do diagnóstico; 65% das mulheres estudadas não Titus-Ernstoff9, das 57 mulheres entrevistadas, apenas possuíam ultrassonografia anterior ao diagnóstico. Todas duas (3,5%) eram nuligestas, enquanto 55 pacientes as pacientes que responderam ao questionário realizaram (96,5%) tiveram uma ou mais gestações. É conhecido cirurgia como tratamento, sendo que nenhuma delas se que nas mulheres com baixo nível educacional é comum submeteu à radioterapia e sete delas (35%), além da o maior número de gestações, e os resultados deste cirurgia, fizeram quimioterapia. estudo apresentaram média de nível educacional baixa, de 5,8 anos (ensino primário). Das mulheres multíparas encontradas, apenas duas Tabela 2. Características das variáveis intervalares analisadas não amamentaram e 17 apresentaram um ou mais entre as mulheres diagnosticadas com tumor maligno de ovário no abortos. Labbok e Rosenblatt relatam que o risco da município de Jundiaí, no período de junho de 2001 a junho de 2006 doença é maior em mulheres que amamentam13,14. Estudos de Kurian 10 afirmam a existência de evidências consistentes da influência do uso de contraceptivo oral na proteção contra a incidência do tumor de ovário, independentemente do subtipo histológico. Hulka15 e LaVecchia e Franceschi16 afirmam que o uso de contraceptivo oral reduz pela metade o risco de desenvolver o câncer, sendo um benefício que cresce pelo seu uso contínuo e que continua por 15 anos ou mais após cessar o seu uso. Das pacientes deste estudo, 37 (65%) fizeram uso de anticoncepcional oral, com tempo de uso variando de dois meses a dois anos. Das 57 pacientes estudadas que fizeram uso do anticoncepcional oral, apenas uma o fez por mais de seis meses (dois anos), sendo o tempo de uso das outras pacientes variável entre um e seis meses. Cutler e Young17 verificaram que a prevalência do câncer de ovário era de 30 por 100.000 mulheres aos 40 anos de idade, elevando-se para 70 por 100.000 aos 60 anos de idade. Estudos de DeLand et al.18 mostraram que a média de idade das portadoras de câncer do ovário era de 50 anos, contra 34 anos das portadoras de neoplasias benignas. Esses achados são confirmados pelos resultados deste estudo, o qual verificou que a média etária das mulheres acometidas por tumor de ovário foi de 55 anos. A incidência e a mortalidade do câncer de ovário aumentam com a idade. Mundialmente, a taxa de *IMC - Índice de Massa Corpórea incidência torna-se um "platô" após os 70 anos, o qual está relacionado à exaustão dos oocistos na menopausa19. Nos dados deste estudo, a idade média de menarca foi DISCUSSÃO de 13 anos e a de menopausa, 46,2 anos, lembrando que a maioria das mulheres até o momento do A proposta deste estudo foi traçar um perfil das diagnóstico encontrava-se na pré-menopausa ou pacientes diagnosticadas com tumor maligno de ovário perimenopausa20. As pacientes foram castradas devido no município de Jundiaí. O objetivo de identificar à cirurgia para remoção do tumor, e daí essa variável fatores que possam ser considerados predisponentes para reflete mais a idade no momento da cirurgia que o aparecimento desse câncer como uma forma de propriamente a idade na menopausa, dificultando a fornecer dados epidemiológicos sobre as pacientes do comparação desses achados com os de outros estudos. município de Jundiaí e região e ajudar a Secretaria História familiar de câncer de mama, de cólon ou Municipal de Saúde a implantar ações no rastreamento endometrial de primeiro grau de parentesco (mãe ou dessa doença estimulou o levantamento desses dados. irmã) é considerada fator de risco21. A estimativa citada 250 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253
  • 5. Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) é de que rastreamento, a fim de que os casos de tumor, quando cerca de 10% dos casos de tumor ovariano apresentam existirem, sejam diagnosticados em estádio mais precoce componente genético ou familiar, sendo a presença dos possível. A atenção básica deve se capacitar para o casos na família o fator de risco isolado mais importante7. encaminhamento mais precoce das mulheres acometidas Elit22 afirma que a história familiar de câncer de ovário por câncer, garantindo melhor prognóstico e qualidade está presente em 20% dos cânceres ovarianos. Neste de vida a essas pacientes. Devem-se também estabelecer, estudo, embora nenhuma das mulheres entrevistadas além de educação médica continuada, programas de tenha apresentado história pessoal de câncer de mama e promoção da saúde para que a paciente recorra história familiar de câncer de ovário, nove mulheres (15%) anualmente aos serviços de atendimento para a realização apresentaram história familiar de câncer de mama e 23 dos exames preventivos. O conhecimento sobre tumor (40%), história pessoal de outros tipos de câncer que não de ovário no município, bem como dos fatores de risco de mama ou de ovário. Apesar da ausência de história para o mesmo, deverão fazer com que as mulheres pessoal de câncer de mama, a história familiar desse tipo fiquem alertas e procurem espontaneamente serviços de câncer não pode ser descartada, e pode ter influenciado de atenção básica, não recorrendo ao médico apenas o aparecimento do tumor de ovário nessas pacientes pelo em estádio já avançado de doença, conseguindo, com risco maior de apresentarem mutações deletérias em genes isso, melhorar a morbiletalidade dessa agressiva doença. relacionados ao câncer de ovário e de mama8,11,12. Das que não possuíam história pessoal e nem familiar do câncer Declaração de Conflito de Interesses: Nada a Declarar. mamário, outros fatores de risco encontrados, como ausência de exercícios físicos regulares10, excesso de peso REFERÊNCIAS e uso de anticoncepcional oral21, podem ter influenciado no aparecimento do tumor. 1. Silva-Filho AL, et al. Cirurgia não ginecológica em pacientes Há dificuldade no diagnóstico apropriado do tumor com câncer de ovário. Rev Bras Ginecol Obstet 2004 jun; ovariano pelo fato de os seus sintomas serem facilmente 26(5): 411-6. confundidos com os de outras doenças e, além disso, 2. Hospital do Câncer. [acesso: 2007 Jun 20]. Disponível em: não existir método diagnóstico confiável, fácil de executar URL: http://www.hcanc.org.br/outrasinfs/ensaios/ e que possa ser realizado em todas as mulheres2. Neste ovar1.html. estudo, a principal manifestação que motivou a procura 3. Torres JCC, et al. Risk-of-Malignancy Index in preoperative do sistema de saúde foi dor abdominal (75% das evaluation of clinically restricted ovarian cancer. Sao Paulo pacientes), seguido do aparecimento de ultrassonografia Med J 2002 maio; 120(3):72-6. suspeita (20%) e corrimento avermelhado (5%). A dor 4. Pinotti JA, Fonseca AM, Bagnoli ZB. Tratado de abdominal é sintoma normalmente associado ao estádio Ginecologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p. 792-8 , p. avançado do tumor, principalmente no caso de o órgão 833-7. acometido ser o ovário. Aqui, mais uma vez, fica clara 5. Insituto Nacional de Câncer. Estimativa da incidência e a necessidade de diagnóstico precoce, que poderia mudar mortalidade por câncer no Brasil 1999. [acesso: 2007 Jun a morbiletalidade da doença. 20]. Rio de Janeiro: INCA / Conprev; 1999. Disponível em: URL: http://www.inca.gov.br. CONCLUSÃO 6. U.S. Cancer Statistics Working Group. United States Cancer Statistics: 2003 Incidence and Mortality Web-based Report. Deve-se sempre lembrar a importância do Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, diagnóstico precoce em saúde da mulher. O município Centers for Disease Control and Prevention and National de Jundiaí é onerado ao atender à demanda em Cancer Institute; 2006. [acesso: 2007 Jun 20]. Disponível tratamento de alta complexidade, e o alto custo com o em: URL: htttp://www.cdc.gov/cancer/npcr/uscs. atendimento de pacientes dos municípios vizinhos não 7. Ries LAG, Eisner MP Kosary CL, et al., editors. SEER Cancer , é seguido de repasse financeiro das cidades da Statistics Review, 1975-2002. Bethesda, Md: National microrregião. A saúde é custeada pela verba disponível Cancer Institute, 2005. v 10. [acesso: 2007 Jun 20]. pela gestão plena, que é insuficiente. E já é sabido em Disponível em: URL: http://www.cancernet.nci.nih.gov saúde pública que os gastos com o tratamento são muito maiores que aqueles com a prevenção. Esse levantamento 9. Titus-Ernstoff L, Perez K, Cramer DW, Harlow BL, Baron JA, de dados de câncer ovariano deve estimular a Greenberg ER. Menstrual and reproductive factors in relation implementação de novas políticas públicas na área da to ovarian cancer risk. Br J Cancer 2001; 84(5):714-21. saúde da mulher em Jundiaí, estimulando a busca ativa 10. Kurian AW, et al. Histologic types of epithelial ovarian cancer: das mulheres que compõem a faixa de risco para tumor have they different risk factors? Gynecol Oncol 2005; maligno de ovário e nelas realizando os exames de 96(2):520-30. Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253 251
  • 6. Luiz, BM, et al. 11. Struewing JP, Hartge P, Wacholder S, et al.: The risk of 17. Cutler SL, Young JL. Third national cancer survey: incidence cancer associated with specific mutations of BRCA1 and data. Natl Cancer Inst Monogr 1975; 41:1-454. BRCA2 among Ashkenazi Jews. N Engl J Med 1997; 336 18. DeLand M, et al. Ultrasonography in the diagnosis of tumors (20): 1401-8. of the ovary. Surg Gynecol Obstet 1979; 148: 346-8. 12. Easton DF, Ford D, Bishop DT. Breast and ovarian cancer 19. Weiss NS, et al. Ovarian cancer. In: Schottenfeld D, incidence in BRCA1-mutation carriers. Breast Cancer Fraumeni Jr JF, editors. Cancer epidemiology and Linkage Consortium. Am J Hum Genet 1995; 56 (1): prevention. 2nd ed. New York: Oxford University Press, 265-71. 1996. p.1040-57. 13. Labbok MH. Effects of breastfeeding on the mother. Pediatr 20. Jaszmann L. Epidemiology of climateric and postclimateric Clin North Am 2001; 48: 143-58. complaints. In: Van Keep PA, Lauritzen C, editors. Ageing 14. Rosenblatt KA, Thomas DB. WHO collaborative study of and estrogens: front hormone research. Basel: Karger; 1973. neoplasia and steroid contraceptives. Int J Epidemiol 1993; p. 22-4. 22: 192-7. 21. Averette HE, Nguyen H. Gynecologic cancer. In: Murphy 15. Hulka BS. Epidemiologic analysis of breast and gynecologic GP, Lawrence Jr W, Lenhard Jr RE, editors. American cancers. Progress in Clinical Biology and Research 1997; Cancer Society textbook of clinical oncology. 2nd ed. 396: 17-29. Atlanta: American Cancer Society; 1995. p. 552-79. 16. La Vecchia C, Franceschi S. Oral contraceptives and ovarian 22. Elit L. Familial ovarian cancer. Canadian Family Physician cancer. Eur J Cancer Prev 1999; 8: 297-304. 2001; 47:778-84. 252 Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253
  • 7. Epidemiologia do Câncer de Ovário em Jundiaí Abstract The objective of this study was to evaluate the socio-demographic and reproductive profiles of women diagnosed with ovarian tumor in the city of Jundiaí, São Paulo, Brazil, from June 2001 to June 2006. A descriptive and retrospective questionnaire was applied in the Anatomopathology Laboratory of the Sistema Único de Saúde (SUS, Unified Health Care System) in Jundiaí and in the Women Health Outpatient Clinic of Jundiaí Health Department. The socio-demographic profiles of the women with ovarian tumor were as follows: the average age at the moment of diagnosis was 55 years-old (± 13.5 years-old); the average level of education at the moment of diagnosis was 5.8 years (± 3 years); and most women were white and married. The reproductive profiles of these women were as follows: the average age at menarche was 13 years-old (± 1.6 year); most women were multiparas; there was a weight increase from the age at diagnosis to the age in the occasion of this study; the average breastfeeding period was 8.6 months (± 6.5 months); and most women used oral hormonal contraceptive methods. Key words: Ovarian Neoplasms; Socioeconomic Factors; Demographic Data; Reproductive History; Epidemiology, Descriptive; Retrospective Studies; Jundiaí city, SP Resumen El objetivo del estudio fue evaluar el perfil sociodemográfico y reproductivo de mujeres diagnosticadas con cáncer de ovario en el municipio de Jundiaí, São Paulo, durante el periodo de junio de 2001 a junio de 2006. Se llevó a cabo un estudio descriptivo, retrospectivo, a través de una averiguación, de todos los casos de tumores malignos del Laboratorio de Anatomía Patológica del Sistema Único de Salud (SUS) de Jundiaí y del Ambulatorio de Salud de la Mujer de la Secretaría de Salud del Municipio de Jundiaí, a fin de identificar el perfil de los casos de tumor de ovario maligno. Las características sociodemográficas de los pacientes con tumor de ovario evidenciaron que: la edad promedio en el momento del diagnóstico fue de 55 (± 13,5 años); el nivel promedio educativo en el momento del diagnóstico fue de 5,8 (± 3 años) y la mayor prevalencia se observó en mujeres casadas y de raza blanca. Las características reproductivas de las pacientes con tumor de ovario evidenciaron que: la edad promedio de la menarquia fue de 13 (± 1,6 años), la mayor prevalencia fue de multiparidad, hubo aumento de peso desde la edad del diagnóstico hasta la edad actual, el tiempo promedio de lactancia materna fue de 8,6 meses (± 6,5 meses) y hubo mayor prevalencia en mujeres que utilizaron anticonceptivos hormonales orales. Palabras clave: Neoplasias Ováricas; Factores Socioeconómicos; Datos Demográficos; Historia Reproductiva; Epidemiología Descriptiva; Estudios Retrospectivos; Jundiaí, SP Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 247-253 253